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Anti cênica: uma perspectiva insubmissa ao fazer-se teatro normativo

e, enganosamente, não normativo

Inicio este texto, ensaio ou coisa parecida, anunciando a possível e provável não
semelhança entre este texto e o conteúdo programático do curso deste semestre. Um turbilhão
de atravessamentos a partir sobretudo de questionamentos antigos e atuais acerca das artes
cênicas me levaram a traçar um caminho outro.
Há tempos venho às voltas com a inquietação de um não lugar dentro desta seara
artśtica na qual tenho um interesse inexplicável e pouco aplicado. Tateo possibilidades frente
a formas diversas do fazer-se teatro e com o amargor quase sempre característico da
insujeição, me frusto ao dar de cara com o mesmo modus operandi de sempre. Nem mesmo o
teatro da crueldade tão ovacionado - e pouco praticado, me brilha os olhos, afinal tenho
minhas críticas a Arthaud e suas propostas, como a ideia de um corpo sem órgãos que,
desprovido de interferências institucionalizadas - num âmbito social, político, cultural e etc…
produz uma matéria prima que é descaracterizada e de grande originalidade, devo dizer que
ao meu ver um corpo sem órgãos é um corpo morto, não que devêssemos carregar as amarras
sociais vigentes conosco, mas sim de que esta ideia tão visceral de criação sem considerar
fatores históricos e circunstanciais, muito se assemelha a um juízo de deus, visto isso, me
tomo de desconfianças.
Seguindo linhas dos “grandes” sobrenomes dado ao teatro, passo rapidamente por um
texto que li neste curso e que desencadeou em alguma medida a organização destas ideias
aqui compartilhadas, mas vou poupar argumento - até porque o que eu diria sobre este muito
se assemelha a sensação de incoerência que o teatro da crueldade me passa e sobre ele, o
teatro morto, direi apenas que as idas e vindas que não saem do lugar, no sentido de
manutenção do que se diz contrário, de Peter Brook são risíveis.
Mais à frente nas descobertas teatrais chego ao biodrama de Vivi Tellas que, para
mim, ao menos sob os cuidados de Vivi, segue sendo o mais pŕoximo de um possível lugar a
se habitar nas artes cênicas, porém acho de grande importância sinalizar meu desconforto
para com alguns modos de representações biodramáticas, tais como o filme Jogo de cena,
que para mim é um bom exemplo de biodrama no campo conceitual e me atravessa em duas
coisas: primeiro a crueldade tal qual as ações do que se chama biologia e sua respectiva
companheira a antropologia, em dissecar aquelas pessoas-objetos - não à toa no lugar de
figuras feminilizadas, num ato de extrema mesquinhez com boas mãos de verniz humanista
e/ou artístico; e a segunda coisa é o desconforto, às vezes bem marcado, de algumas atrizes
durante as gravações como um enjoo ao ver em si as marcas do bisturi fantasiado com as
vestes dos higienismos expositivos.
Os espectros do teatro mencionados e a condução antes de tudo patriarcal dos
mesmos, me fazem pensar em uma ciranda interminável para quem deseja ocupá-la ou não,
que com palavras muito bem escolhidas marcam mentirosas diferenciações no modo de fazer
essa tão distinta arte. Importante salientar que meus apontamentos não se debruçam de modo
geral ao fazer-se teatro e sim ao como comumente se faz, sob a batuta das mesmas figuras,
como uma sujeição programada que não há de se desfazer se as aspirações de saída deste
ciclo forem orquestradas pelos seus carrascos.

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