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Marcelina Acácio dos Santos

Curso: Licenciatura em Teatro /IFCE (Campus Fortaleza)


2º Semestre
Disciplina: Iniciação à Estética

Estudar ou analisar um texto clássico, e sendo este filosófico, pode ser por vezes
demasiado cansativo, para além do risco da má interpretação pela difícil
linguagem que nos é apresentada.
Aqui, tentarei me deter sobre a obra Poética (335 a.C) do filósofo grego
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), discípulo de Platão (427 a.C. – 347 a.C.).
O trecho a ser analisado versa sobre a Poesia, a Tragédia e a Comédia, onde
falarei mais detalhadamente sobre a Poesia, por afinidade ao tema.
Aristóteles, como já citado, fora discípulo de Platão, e deste discordara em
importantes pontos, como concordara em outros.
Acerca da imitação da Poesia, ou seja, da imitação do poeta, Aristóteles traz na
obra Poética e Platão na República, argumentos para definir as atribuições do
poeta e como este deve agir, para que não seja um mero conhecedor e aplicador
de métricas, não se diferenciando assim, de um médico ou historiador que se
utiliza das mesmas métricas para a elaboração de seus escritos.
Mas quais qualidades deve ter um poeta, diferentes das qualidades de um
médico ou historiador?
Para Aristóteles nada há de comum entre Homero (o mais reconhecido dos
poetas gregos) e Empédocles (fisiólogo grego) a não ser a metrificação.
Há que se ter um tanto mais que a métrica para se saber poeta.
Acerca da Poesia, melhor dizendo “Poesias” Aristóteles as distingue pelos
elementos e variações (ritmo, canto, metro) bem como pelos diferentes tipos de
imitação que cada uma apresenta. Assim também se diferenciam as artes,
segundo o filósofo, “quanto aos meios de imitação”.
No que diz respeito ainda à Poesia, o poeta pode se utilizar tanto da poesia
imitativa, assumindo uma personalidade que não é a sua, podendo ser esta
elevada ou não, como pode optar pela poesia narrativa, onde são narrados fatos
sem que o poeta assuma uma personagem. O poeta pode ainda se utilizar dos
dois meios para se expressar. O poeta pode, neste e nos sentidos que virão a
seguir, ser aquilo que desejar, pois uma das qualidades que Aristóteles aponta
para o poeta é a invenção.
Até este ponto temos concordado.
“A imitação é própria da natureza humana”, isto é verdade. O que me remete
também aos comportamentos estruturais, mais precisamente, que os filhos são
a imitação dos pais.
À primeira leitura deste trecho de Aristóteles, não pude absorver e raciocinar
sobre, só agora o faço, e penso nele aplicado às artes.
Há uma frase dita pelo poeta e escritor Ferreira Gullar e que se tornou um clichê,
mas os clichês têm seu valor “a arte existe porque a vida não basta”.
É preciso imitar a vida como nós gostaríamos que ela fosse, e não como de fato
é. Mais adiante Ferreira Gullar diz “a arte inventa a realidade”.
E não é um espetáculo teatral uma imitação perfeita da realidade?
Ou uma obra poética a invenção perfeita da realidade?
Ainda mais belo, porque se pode acrescentar à realidade aquilo que ainda não
fora vivido.
É verdade que nossas percepções são limitadas quanto ao real, no entanto, aqui
recorrerei a Hume, quanto mais sensíveis, porosos, e com o espírito sereno
estivermos, mais próximos da realidade chegaremos.
O poeta precisa de uma delicadeza de espírito a mais, de uma sensibilidade a
mais para inventar uma realidade possível.
Voltando a Aristóteles, o poeta se distingue não apenas pela perfeita imitação
que é capaz de fazer, mas também ao tipo que este recorre, entendo, posso
estar equivocada, que a métrica é o que menos importa, pois desta qualquer um
poderá se utilizar, e será igualmente chamado poeta, mas, o poeta se distingue
pela capacidade da invenção, de acrescentar mais vida à vida, seja por meio da
poesia trágica ou cômica, seja interpretando homens de boa ou má índole, seja
como for, o poeta pode, assim como a arte.
É claro que não há só concordância com o que diz o filósofo, por exemplo,
discordo que o melhor poeta será aquele que imitará homens de boa índole como
os poetas trágicos, e o poeta inferior será aquele que imitará homens de má
índole, como os poetas cômicos.
Para mim, o melhor poeta será aquele que conseguir melhor inventar a realidade
que desejar para si, a única possível.
Referências bibliográficas:
DUARTE, Rodrigo (O belo Autônomo Textos Clássicos de Estética, Autêntica,
Belo Horizonte, 2012).
Acessado em 22.02.21: https://www.youtube.com/watch?v=Zf71WNIt3gw

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