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ACTA PSICOSSOMÁTICA, São Paulo, n. 1, p.

90-100, Jul/Dez 2018

ENREDANDO-SE PELAS TEIAS DO OUTRO: UM CASO NA


CLÍNICA TRANSCULTURAL PSICANALÍTICA

¹Gabriel Inticher Binkowski,


²Nadia Jorge Berriel.
¹Universidade de São Paulo,
²Universidade de São Paulo.

gabriel.binkowski@gmail.com

Resumo

Discutimos neste artigo o atendimento a um imigrante de Guiné-Bissau escutado em um dispositivo clínico


psicanalítico orientado por balizadores epistemológicos da clínica transcultural. O trabalho clínico com mi-
grantes surge como um desafio ético e técnico para a psicanálise na atualidade, por colocar em jogo suas
concepções sobre cultura e civilização e por levar cada clínico a se deparar com a alteridade naquilo que pode
haver de mortífero na submissão e na sublimação de cada sujeito em relação ao que vive para com a alteri-
dade, naquilo em que ele se submete ou resiste nas teias do Outro. Privilegiamos em nossa leitura do caso a
questão da melancolização dos laços sociais e dos sintomas de sujeitos em migração, que correm o risco de
errância em diferentes discursos a fim de encontrar nomes que possam bordear suas experiências de limite e
de encontro com o sem sentido e o inominável. Consideramos que a melancolia acaba sendo uma categoria
clínica e epistemológica interessante para pensar tanto na experiência de sujeitos excluídos e vulneráveis e
também para a própria composição de uma clínica que deve operar pelo descentramento de suas práticas,
dispositivos e registros teóricos.
Palavras-chave : clínica transcultural ; migração ; melancolia ; etnopsicanálise; psicossomática.

Struggling through the webs of the Other: a case in the transcultural psychoanalytic clinic

Abstract

In this article we discuss the consultation of an immigrant patient from Guinea Bissau listened to in a psycho-
analytic clinical device oriented by epistemological guidelines from the transcultural clinic. The work with mi-
grants emerges as an ethical e technical challenge for psychoanalysis today because it puts its conceptions
about culture and civilization at stake and leads each clinician to encounter alterity in that which can be mor-
tiferous about submission and sublimation in each subject according to how one relates to alterity, what one
abides or resists to when facing the webs of the Other. In our reading of this case we privilege the matter of
melancolization of social bonds e of the symptoms of migrating people, who are at risk of wandering in different
discourses in order to find names that can border their experiences of limit and encounter with the senseless
and the nameless. We consider that melancholia is an interesting clinical and epistemological category to think
about both the experience of excluded and vulnerable subjects as also the very composition of a clinic that must
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operate through the decentering of its practices, devices and theoretical registers.
Keywords : transcultural clinic ; migration ; melancholy ; ethnopsychoanalysis; psychosomatics.
Enredándose por las telas del Otro: un caso en la clínica transcultural psicoanalítica

Resumen

Discutimos en este artículo la atención a un inmigrante de Guinea-Bissau escuchado en un dispositivo clínico


psicoanalítico orientado por balizadores epistemológicos de la clínica transcultural. El trabajo clínico con mi-
grantes surge como un desafío ético y técnico para el psicoanálisis en la actualidad, por poner en juego sus
concepciones sobre cultura y civilización y por llevar a cada clínico a encontrarse con la alteridad en lo que
puede haber de mortífero en la sumisión y en la sublimación de cada sujeto en relación al que vive para con la
alteridad, en aquello en que él se somete o resiste en las telas del Otro. Privilegiamos en nuestra lectura del
caso la cuestión de la melancolización de los lazos sociales y de los síntomas de sujetos en migración, que cor-
ren el riesgo de errar en diferentes discursos a fin de encontrar nombres que puedan bordear sus experiencias
de límite y de encuentro con el sin sentido y el inominable. Consideramos que la melancolía termina siendo
una categoría clínica y epistemológica interesante para pensar tanto en la experiencia de sujetos excluidos y
vulnerables y también para la propia composición de una clínica que debe operar por el descentramiento de
sus prácticas, dispositivos y registros teóricos.
Palabras clave : clínica transcultural ; migración ; melancolía ; etnopsicoanálisis, psicosomática.

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Introdução sá-los como imigração forçada (Debieux Rosa, 2016,
p.52).
Ousmane, 27 anos, oriundo de Guiné Bissau, Em relação a nossas disciplinas teóricas e
chegou ao Brasil oito meses antes do encontro clínico, nossos dispositivos de cuidado, estas situações nos
e passou a residir com sua irmã. Narrou um estranho colocam em xeque por nos retirarem do conforto que
mal-estar crônico que o atingia desde o final da ado- Nathan e Stengers (2004) chamam de sociedades
lescência. Por conta dele, não pôde continuar seus de sentido único. Com efeito, se nossa racionalidade
estudos, pois as dores e fraquezas que o acometiam ocidental tende a nos orientar a um constante movi-
não puderam ser diagnosticadas nem por médicos do mento centrípeto, insistindo em apenas uma dimen-
Brasil nem em seu país de origem. O mal de que sofria são dos fenômenos através de sua decodificação
permanecia inominável. científica, o confronto com outras racionalidades e
discursos – como é o caso em espaços de encontro
As situações de psicoterapia em contexto transcultural – nos remete a sociedades que seriam,
transcultural nos obrigam a examinar e encarar os conforme Nathan e Stengers, de universos múltiplos.
efeitos do pathos a partir dos desarranjos e rearran- Nelas, todo fenômeno de tipo psicopatológico (ou que
jos que as interações culturais e a globalização têm nós poderíamos reconhecer como tal) vem codificado
imposto a sujeitos e sociedades (Pastori & Nicolau, por significantes que remetem ao lugar do mítico e
2012). Vivemos um frenesi de transformações que do religioso num certo bolsão cultural, a seres invisí-
impõe a nossos sistemas de cuidado e de pensamen- veis dotados de uma intencionalidade bastante reve-
to um reposicionamento tanto dos dispositivos como ladora de aspectos da organização social e com as
dos conceitos e discursos que vínhamos produzindo quais, enquanto clínicos, precisamos negociar a fim
ao longo da história da psicopatologia, da psiquiatria, de estabelecermos passarelas discursivas passíveis
da psicanálise e das próprias teorias psicológicas de darem margens operatórias terapêuticas. São ele-
com as quais explicávamos a relação entre humanos, mentos finalmente centrífugos, que se afastam de um
seu ambiente e seu desenvolvimento. fenômeno psicopatológico cuja suposta centralidade
estaria no doente.
A prática clínica com indivíduos e famílias mi-
grantes, algo que habita o cerne da questão transcul- Como já afirmava Freud desde Os caminhos
tural, nos faz pensar nas mestiçagens, nas diferen- da terapia psicanalítica (1918), os sintomas e mani-
ças entre gêneros segundo registros da religião e da festações patológicas, como aliás todas as atividades
cultura, na variabilidade de noções como infância e anímicas, são de natureza composta. Nessa estrutu-
família, além dos próprios efeitos impostos pelas mais ração temos tanto elementos pulsionais como saídas
diversas formas de aculturação (Moro, 2006). Nisso, (sublimadas ou patológicas) que respondem a certos
navegamos desde os efeitos do colonialismo, com recalques, quanto engajamentos sociais e caminhos
a imposição de um pai postiço a um povo (Melman, comportamentais previstos num determinado enqua-
1992), até as incidências subjetivas das migrações dramento cultural (Devereux, 1956). Por isso, numa
atuais, onde questões de ordem econômica, ambien- modalidade de trabalho clínico com imigrantes, afir-
tal, bélica, conflitos étnicos pós-coloniais ou mesmo mar o valor de singularidade de um sintoma do sujei-
religiosos vêm submetendo grupos populacionais to remete a uma resistência do mesmo em se deixar
inteiros à obrigação de buscar novos horizontes vi- capturar na lógica abrasiva da globalização, onde os
sando uma sobrevivência mínima. São contextos de modos de ser se forjam a partir da precarização dos
exclusão social e econômica em que encontramos laços sociais (Douville, 2014, pg 243)
eventos violentos tão marcantes que devemos pen-

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Portanto, o que propomos e defendemos é que qual trabalhamos na cidade de São Paulo desde o
todo clínico deve compor sua práxis com o reconhe- final de 2017, no Centro de Referência e Atendimento
cimento da própria vulnerabilidade de seus sistemas ao Imigrante. O Projeto Veredas conta com uma tra-
de compreensão (Giraud, 2006), afinal, uma abertura jetória de quinze anos como atividade de extensão
para o campo do outro, como apregoam disciplinas e pesquisa universitária, dirigida pela professora Mi-
tais como as da etnopsicanálise e da clínica transcul- riam Debieux Rosa (Instituto de Psicologia - USP). Ao
tural, assenta-se num remanejamento dos próprios longo do tempo, práticas de eminente valor artesanal
nódulos culturais que parasitam nossa racionalidade. foram construídas, compondo com serviços, redes e
Nisso, é peremptório que possamos nos descentrar, atores sociais um panorama de diferentes modalida-
desalojando de nossas lógicas algumas balizas que des de intervenção com sujeitos atravessados pelas
são, no fundo, culturais e consequência de nosso et- experiências de exílio e migração (sejam migrações
nocentrismo. internacionais ou mesmo no interior do país).

Para discutir tais temas, apresentaremos nes- Nesse largo espectro de práticas, a constân-
se ensaio um encontro clínico bastante desafiador cia é de uma ética da escuta psicanalítica na qual o
que foi acolhido por nós num dispositivo de escuta analista se propõe a portar a palavra falada (Lacan,
psicanalítica proposto pelo Projeto Veredas – Psica- 1955). Cabe assim ao analista orientar-se na escuta
nálise e Imigração, um coletivo de pesquisadores, do sujeito em meio a toda a miríade de discursos que
clínicos (psicólogos, psicanalistas e acadêmicos de atravessam cada situação. Como na maior parte dos
psicologia) e colaboradores que atuam nos últimos casos tem-se pessoas em grande vulnerabilidade so-
15 anos na cidade de São Paulo, promovendo a es- cial e em situação de exílio, certo excesso de real mar-
cuta de migrantes em diferentes espaços de atenção ca um sujeito que muitas vezes aparece condenado
psicossocial. Localizamos nesse caso, de um rapaz a uma dessubjetivação operada pelo Outro mortífero,
oriundo de Guiné-Bissau, uma configuração sinto- que goza na submissão enquanto sujeito, a eventos
mática onde os sofrimentos psíquico e orgânico apa- potencialmente traumáticos e em experiências que o
reciam enredados numa teia discursiva em que uma colocam no lugar da abjeção.
sequência de eventos de luto eram enunciados numa
trama mágico-religiosa. Esta, num contexto migra- No dispositivo onde houve o encontro clínico
tório, manifestava-se enquanto queixa somática em que narraremos, a particularidade é a proposta de
que o paciente demandava um cuidado médico e uma uma suspensão, para a escuta da palavra, onde a
teoria científica que lhe explicasse o seu mal. Com fala do sujeito possa ser acolhida num serviço em que
este caso, ao pensar e ao buscar uma produção te- as demandas são quase exclusivamente marcadas
órica, tentamos nos descentrar de alguns de nossos por um tom de urgência. Na maioria das vezes, os
a prioris técnicos e conceituais, fazendo de nós mes- atendimentos visam auxiliar na regulação administra-
mos, clínicos, migrantes de cultura, de saberes e de tiva, englobando procedimentos ligados a pedidos de
posição. asilo, casos de trabalho escravo, famílias que preten-
dem se reagrupar depois de separações forçadas por
O dispositivo de atendimento e Ousmane, en- perseguições políticas, além dos mais diversos tipos
redado nas teias do Outro de orientação e de encaminhamentos em redes de
saúde, assistência psicossocial, etc.
O primeiro contato do Veredas com Ousmane
(nome fictício) ocorreu a pedido da assistente social A aposta dos clínicos do Veredas é em fazer
de um dispositivo para atendimento a imigrantes no algo que passa tanto pela oferta de abordagens es-

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pecíficas na área dos cuidados psíquicos e da saúde em seu país de origem. O mal de que sofria permane-
mental quanto pela discussão com profissionais de cia inominável.
outros campos (assistentes sociais, juristas, educa-
dores e mediadores culturais) sobre os encaminha- Em seguida, relatou uma miríade de exames
mentos necessários em situações em que se detecta de imagem, sangue e urina, deixando em sua fala
um sofrimento mais intenso. Nisso, convida-se o pa- a impressão de um corpo que se oferecia para ser
ciente ou as famílias para um atendimento com um olhado, manipulado, invadido e possuído. Talvez aqui
profissional da equipe do Veredas com a finalidade se possa acrescentar: Ousmane falava de um corpo
de se promover uma escuta mais precisa. Tenta-se que não lhe pertencia, enredado num misto de estra-
sempre encaminhar o paciente para clínicos que do- nheza, descompasso e mal-estar. De acordo com ele,
minem alguma das línguas faladas por ele(s), o que todos os exames e investigações apresentaram re-
em si acolhe melhor o componente migrante e trans- sultado negativo, o que o perturbava não apenas pela
cultural que os próprios participantes do Veredas de- incapacidade diagnóstica dos recursos em saúde,
vem integrar à sua escuta. mas também pela impossibilidade de uma experiên-
cia de corpo que não fosse apenas a de dor, angústia
Em meio à crueza desses momentos delica- e preocupação.
dos e de submissão forçada a regras e às vicissitudes
do capitalismo avançado (Debieux Rosa, 2016), uma Num gesto composto de um misto de espe-
escuta psicanalítica passa por operar uma travessia rança e resignação, Ousmane estendeu um panfleto
da submissão à urgência para a emergência do sujei- do SUS que ele encontrou na sala de espera do ser-
to. Na experiência de exílio, o trabalho de remaneja- viço. Ele afirmou com determinação: “agora eu sei o
mento psíquico serve para ultrapassar uma clivagem que eu tenho, é isso aqui!”. Sem poder retirar o pan-
provocada pela quebra da confiança do sujeito nos fleto de sua mão, a psicanalista só pode ler que se
laços sociais, onde a vida se tornou opaca pelo esfa- tratava de um alerta do Ministério da Saúde para os
celamento das marcas singulares de um sujeito e de sintomas da hanseníase, doença infectocontagiosa
sua família numa história (Douville, 2014, p. 137). de origem bacteriana que acomete a pele e nervos
periféricos, com manchas em qualquer parte do cor-
Diante disso, passamos a contar sobre Ou- po, sensações de formigamento e de dor e choque
smane, 27 anos, proveniente de Guiné Bissau. Ele principalmente nos braços e pernas.
chegou ao Brasil oito meses antes do encontro clí-
nico, e passou a residir com uma de suas irmãs, que Quando perguntado se sentia a ponta dos de-
imigrara ao Brasil anos antes. Ao entrar na sala, sua dos, Ousmane respondeu afirmativamente. Naquele
angústia era visível por sua postura curvada, corpo momento, evidenciou-se que a demanda explícita do
franzino e combalido, o olhar fatigado e uma espécie paciente passava por um pedido de consulta médica,
de incômodo que parecia antecipar o contato com o que o levaria a mais um périplo por especialistas na
outro. O jovem se queixava de problemas de saúde tentativa de obtenção de um diagnóstico. Porém, a
dos mais variados. passagem do jovem por um serviço de apoio a imi-
grantes também evidenciava uma possibilidade para
Ousmane nos narrou um estranho mal-estar se escutá-lo ali onde o mal-estar parecia residir, como
crônico que o atingia desde o final da adolescência. veríamos em seguida. Questionado sobre os supos-
Por conta dele, não pôde continuar seus estudos, pois tos sintomas que sentia, como febre, Ousmane infor-
as dores e fraquezas que o acometiam não puderam mou que desde a época da escola tinha episódios fe-
ser diagnosticadas nem por médicos do Brasil nem bris, particularmente durante a noite. Dizia ainda que

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não dormia uma noite inteira desde o fim da adoles- clivadora para o sujeito, ou até mesmo traumática,
cência, ou seja, mais ou menos pelos últimos 10 anos. como debatido por Tobie Nathan (1994).

Como qualquer pergunta relacionada a sinto- Ao narrar o que aconteceu com a irmã, Ous-
ma seria respondida com uma afirmação, optou-se mane abre uma porta a todo um modo discursivo en-
por uma pergunta de mais fácil verificação e que po- contrado em sociedades tradicionais, especialmen-
deria ser indicativa de hanseníase, hipótese até então te naquelas do continente africano. É um mundo de
não excluída. Questionado sobre o aparecimento de seres invisíveis, onde os sonhos, em vez de serem
manchas na pele, Ousmane respondeu afirmativa- expressão de desejo, são tanto prenúncios de uma
mente, que tinha muitas manchas, e levantou a ca- realidade porvir quanto um campo de batalha entre
misa para mostrar todas as manchas “imaginárias” seres que habitam diferentes mundos. Numa noite,
presentes em seu abdômen. nos conta com precisão e ênfase, sua irmã sonhou
com uma aranha em seu peito. Pela manhã, ao des-
Pediu-se a Ousmane que contasse um pou- pertar, ela estava doente e foi ao hospital. Ali ela vem
co sobre sua família. O paciente teve muitos irmãos, a falecer. De acordo com Ousmane, desde o sonho e
sendo que a maioria faleceu jovem, num curto espaço do falecimento da irmã, a aranha nunca mais o aban-
de tempo. Seu pai morreu quando o jovem tinha ape- donou.
nas 11 anos, e uma irmã, de quem ele fora mais pró-
ximo, morreu quando ele tinha 16 anos, pouco antes Ao associar sobre o que sentiu naquele pe-
do período de aparecimento dos primeiros “sintomas ríodo de sua vida, o jovem migrante insiste reitera-
indiagnosticáveis”. Quando perguntado se ele via al- damente que não tinha como ir contra a vontade de
guma associação entre a perda da irmã e o adoeci- Deus. Portanto, ele não podia sentir tristeza ou raiva:
mento, Ousmane ficou confuso, e respondeu que a esses sentimentos seriam pecados, de acordo com
família tivera “doença de preto”. Por “doença de preto” sua concepção religiosa de vida. Ele deveria aceitar
se referia a “doenças que só aconteciam com preto”, seu destino de perecer pelo mal que lhe foi transmiti-
e que aqui no Brasil não se conhecia essas coisas, do. “Sinto medo de sonhar com os aracnídeos como
portanto não haveria como alguém daqui saber sobre ocorreu com minha irmã, mas, por Deus, não devo
ela. ter medo”. Por sua fé religiosa, Ousmane se encontra
impossibilitado de elaborar o luto pela perda dos fami-
Apesar do estranhamento que uma expressão liares, em especial pelas perdas marcantes do pai e
desse gênero causa num terapeuta ocidental, havia da irmã.
uma experiência de encontro com um mal, da parte de
Ousmane, que ia muito além de uma simples crença O encontro clínico com Ousmane foi breve
delirante, pois toda teoria que um paciente faz sobre e pontual. Nessa entrevista, sua extrema angústia
aquilo do qual sofre responde a uma realidade cultural parecia apontar uma conexão íntima entre ele e os
(Nathan, 2001). Recusar a inscrição dessas teorias membros de sua família através da religião (islamis-
em nossas práticas advindas de um campo cultural mo, embebida de um caldo animista, como é comum
ocidental não é apenas um sintoma de etnocentrismo, na África) e da doença. Contudo, seu discurso não era
mas também uma resposta que insiste em colonizar muito claro quanto às condições de sua saída do país
alguém cuja alteridade, por vezes, nos é insuportável. de origem nem da instalação no Brasil. Apesar de o
Ao fazer isso, insistimos em agir como Outro do pa- acolhimento da irmã com quem vive no país signifi-
ciente, numa racionalidade de tipo científica que pode car uma ponte entre Brasil e Guiné-Bissau, Ousma-
até constituir uma nova experiência potencialmente ne, contudo, enfrenta uma experiência de incompre-

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ensão contínua de seu mal-estar: não encontrou na num desbloqueio do processo fisiológico que o aco-
África um nome para o que sente, e os esforços aqui meteu.
no Brasil também não lhe pareciam suficientes para
nomeá-lo. Os elementos anímicos revelados na fala de
Ousmane, em particular o medo da aranha sonhada
Nesse primeiro e único atendimento não foi pela irmã, animal este dotado de poder sobre a vida,
possível avançar tanto naquilo que é de praxe em morte e adoecimento de sua irmã e dele, nos deram
situações de clínica transcultural, a exploração mais pistas sobre a relação interior e anterior entre a cren-
sistemática e insistente de elementos culturais, de ça mítica e o adoecimento do paciente. O islamismo,
toda a espuma social e mágico-religiosa que ofere- religião à qual a família de Ousmane se converteu há
ce tanto significantes quanto molduras simbólicas em poucas décadas, representa um conjunto de crenças
certas sociedades. No caso de Ousmane, poderia a e de regras posteriores e exteriores a seu processo
produção de sintomas estar relacionada a uma ne- de simbolização. A proibição da tristeza, medo e raiva
cessidade de ser semelhante a seus irmãos, ou seria perante a morte dos parentes, proibição esta provinda
talvez resultante de uma culpa por ter sobrevivido? da religião muçulmana, o impediu de elaborar o luto,
Na verdade, a hipótese delineada, como será explo- mantendo-o num estado melancólico do qual nem os
rado logo mais, tangencia algo daquilo que o etnólogo ensinamentos da religião de adoção, nem o atendi-
africanista e psicanalista Charles-Henry Pradelles de mento psicanalítico num país estrangeiro seriam ca-
Latour demarca em sua leitura cruzada de psicanálise pazes de retirá-lo.
e terapias tradicionais: o aspecto terapêutico do ritual
praticado por curandeiros tradicionais e sacerdotes No caso relatado, a busca por um diagnósti-
passa pela reinserção do paciente, que viveria num co médico, um nome de valência com potencial tanto
estado patológico de frustração, numa ordem social simbólico quanto imaginário, aparece como tentativa
através da castração, essa sendo a perda do valor do de encontrar nesse nome um contorno para o sofri-
gozo que reatualiza a dívida simbólica - a falta consti- mento indizível e não elaborado. Assumir-se triste ou
tutiva do desejo (Pradelles de Latour, 2014, p. 40). enlutado significaria, nesses termos, uma afronta aos
desígnios divinos. Ainda, como se trata de um sujei-
Para Ousmane a dificuldade em delinear um to em migração, é relevante salientar esse risco de
direcionamento terapêutico no país de acolhimento errância que existe na tentativa de deslizar entre dis-
foi complicada pela fusão religiosa do paciente. Se, cursos que, no final, são incapazes de operar naqui-
como afirma Lévi-Strauss (1949), “Os espíritos pro- lo que Lévi-Strauss definiu como eficácia simbólica
tetores e os espíritos malfazejos, os monstros sobre- (Lévi-Strauss, 1949).
naturais e os animais mágicos, fazem parte de um
sistema coerente que fundamenta a concepção indí- A eficácia simbólica age especialmente pela
gena de universo” (p. 228), a presença de um xamã via da imago do corpo próprio (Lacan, 1949). Sobre
ou curandeiro pertencente à comunidade poderia, por isso, com Lévi-Strauss, pode-se afirmar que um do-
meio de rituais tradicionais, reintegrar o sujeito em ente submetido a uma cura tradicional, operada por
sofrimento, num conjunto onde elementos estranhos um curandeiro, recebe significantes que o ajudam a
– patologias descritas pela medicina ocidental - e ele- dar nexo para um sofrimento que, no final das contas,
mentos conhecidos – mitos -, se apoiam mutuamente. como todo sofrimento, é sem sentido. Logo, o resul-
O xamã forneceria uma linguagem na qual Ousmane tante da eficácia simbólica é dar sentido ao que se vive
poderia exprimir estados não formulados - o luto pela no corpo (no sofrimento físico) e na vida psíquica. Ao
perda do pai e irmãos, que acarretaria, espera-se, aceitar uma narrativa carregada de fundamento cultu-

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ral, como aquela descrita por Lévi-Strauss no referido e discursos que o carregam, o circundam e que ele
texto, em que um xamã ajuda uma parturiente em difi- enuncia como sua propriedade. Isso é, stricto sensu,
culdades em dar à luz, o doente aceitaria inscrever no a tensão da prática clínica, na medida em que indu-
próprio corpo, e em sua experiência, todo um sistema zimos passarelas no hiato entre a verdade subjetiva
simbólico-imaginário carregado de cosmologia, em de cada um (parte amordaçada que tece e mascara o
suma, de uma visão de mundo extremamente com- sintoma) e o que o sujeito herdou em termos de estru-
plexa. Nisso, a parturiente se enreda numa alterida- turas de parentesco, registros de história e narração
de, por uma via de efeitos de inscrição simbólica. No de memória coletiva (Douville, 2004).
entanto, e é essa a hipótese de leitura para o caso de
Ousmane, tanto a experiência migratória quanto as Não é à toa que acompanhamos um reflo-
dificuldades de inscrição de lutos vividos no país de restamento amplo e criativo (por vezes arriscado)
origem o deixam à mercê das teias de um Outro que o dos diálogos entre psicanálise e antropologia, espe-
enreda de forma mortífera. cialmente. Mesmo que haja toda uma complexidade
epistemológica, ética e de filiação teórica e política
Do valor da melancolia: passagens e opera- (política também da psicanálise, da psicologia e da
ções numa clínica transcultural psicanalítica psiquiatria) em termos como etnopsiquiatria, etnopsi-
canálise, psicologia intercultural, clínica transcultural,
A clínica contemporânea coloca todo psicana- antropologia psicanalítica, psiquiatria transcultural,
lista ou profissional da clínica e do cuidado diante dos entre outros, escolhemos defender, ao menos aqui no
impasses do laço social, das violências e de toda a Brasil, a composição clínica transcultural psicanalíti-
variação de configurações subjetivas e psicossociais ca. Nela, insistimos no sintagma clínica, privilegian-
que navegam pelos tempestuosos mares da atualida- do esse movimento de modelização de pontes entre
de. Como provoca Olivier Douville (2004), tivemos de culturas (seja cultura no sentido antropológico como
abandonar a quimera do paciente padrão, aquele que nas diferentes culturas profissionais de escuta e inter-
busca um tratamento vislumbrando com certa clareza venção clínica e psicossocial). Na sequência, apostar
o que espera dos efeitos do dispositivo ao qual preten- no interesse da filiação psicanalítica abre todas essas
de se submeter. Os pacientes, logo, estariam, em sua composições e travessias em sua dimensão incons-
maioria, de passagem, podendo se beneficiar com a ciente, ali onde a tensão da alteridade habita no su-
situação psicanalítica (mais do que de um tratamento pracitado hiato entre singularidade e cultura, socieda-
psicanalítico propriamente dito), para retomar o gosto de e política.
pela palavra e por suas travessias, uma vez que a
psicanálise se interessa sobremaneira pela passa- Na prática clínica com sujeitos migrantes, salta
gem do sujeito e de sua palavra pelas travessias da aos olhos a pregnância da expressão melancólica de
alteridade e da linguagem. Isso se dá principalmente, sintomas, aliada a uma operatoriedade bastante acin-
reitera ainda Douville, com pacientes em errância ou tosa dos laços sociais. Deve-se insistir no valor desse
exclusão. tópico: a melancolia, porque essa categoria da clínica
psicanalítica nos oferece todo um leque de operado-
Lacan reuniu no vocábulo Outro (L’Autre) a al- res não apenas descritivos das manifestações sub-
teridade tanto da linguagem quanto do inconsciente jetivas com as quais nos deparamos, mas também,
(Pradelles de Latour, 2014), que se recobrem nesse particularmente, da própria tessitura da transferência
efeito paradoxal que encontramos em cada sujeito possível no espaço clínico com imigrantes.
escutado: ser ao mesmo tempo marcado e identifi-
cado, e também perder-se por aqueles significantes Em Freud, a “melancolia é caracterizada, do

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ponto de vista anímico, por um humor depressivo seu corpo) pareciam nos apontar, numa leitura ingê-
profundamente doloroso, uma supressão do interes- nua, para algo que o colocaria do lado, a princípio, de
se pelo mundo exterior, pela perda da capacidade uma fenomenologia do tipo psicótica. Contudo, toma-
do amor, pela inibição de toda atividade e o rebaixa- mos como uma das chaves iniciais da compreensão
mento do sentimento de si” (Freud, 1915, p. 106, tra- do caso um pequeno pólen subjetivo que desenca-
dução nossa). A partir daí, com Lacan, a pista se dá deou o laço transferencial: Ousmane não largava o
pela aproximação a certos fenômenos elementares panfleto que apontaria seu mal, o panfleto que alerta-
das psicoses, com o sujeito ocupando uma posição va sobre a hanseníase, a lepra.
de “dor no estado puro”, dor de existir, onde a perda
ocupa a função simbólica da falta. O sujeito, então, Mesmo sendo incipiente, esse pequeno deta-
não mais se endereçando ao Outro, fica a ele sub- lhe marca esses divisores clínicos, tão comuns em
metido num laço mortífero que o condena a um de- primeiras sessões, que devemos olhar com bastante
-ser (désêtre), conforme aponta a psicanalista Brigitte atenção. Ousmane tentava se apegar a algum nome,
Balbure (Chemama & Vandermersch, 2009, p. 347). alguma borda, que lhe desse consistência de ser a
É importante demarcar que no exercício clínico com partir de um discurso em que poderia falar de si. Os
sujeitos em situação de grande vulnerabilidade ou de fenômenos patológicos que experimentava desde o
experiências mais extremas, como no caso da “migra- final da adolescência, com a aranha cuja picada o
ção forçada”, muito do sofrimento é revelado através espreitava, fazendo-o temer cada sonho, denuncia-
de modalidades que tangenciam fenômenos aparen- vam um mal-estar composto tanto de significantes
temente psicóticos, melancólicos e outras fenomeno- marcados culturalmente (codificados culturalmente,
logias que remetem a uma despersonalização do pró- como temos frequentemente na literatura da clínica
prio corpo. Considerar a pulsão como uma exigência transcultural) quanto arrendados de todo valor cultu-
ao psíquico imposta por sua ligação com o corporal ral a partir de uma experiência de exílio e errância.
(Lacan, 1985) aponta para que encaremos certas ma- Após errar entre dispositivos de cuidado tradicionais
nifestações, tais como as somáticas ou aquelas que (em Guiné-Bissau) e dispositivos de cuidado à saúde
corresponderiam ao campo da psicossomática, como (também no Brasil), Ousmane se apresentava como
expressões de um organismo doente da linguagem, que segurando com força alguma tentativa de inscre-
num “desperdício de gozo em virtude da atividade ver seu sofrimento em algum discurso (médico, da
pulsional limitar o gozo aos órgãos enquanto zonas saúde, científico) com o qual fosse possível traduzir
erógenas” (Merlet, 1990, p. 18). todo esse de-ser, esse desabonamento de incons-
ciente que o espreitava.
A apreciação clínica e metapsicológica de
um caso como o de Ousmane reside também nessa Citando o sujeito “desabonado de inconscien-
proximidade confusa entre aquilo que seria um cer- te”, a referência ao último Lacan fica bem explícita.
to efeito de melancolização de perdas, do exílio e da Recuperando o famoso texto anexo do seminário so-
inominabilidade de um sofrimento para com uma sin- bre o sintoma, Joyce o sintoma (Lacan, 1975, p. 166),
tomatologia que quase o aproximaria de um discurso temos o “desabonamento do inconsciente” como
delirante, psicótico, de um corpo possuído pelo gozo tentativa de circunscrever esse sujeito que fica num
do Outro. Logo quando do encontro com o paciente, gozo estrito na linguagem, numa língua (ou discurso)
tanto o tipo de encaminhamento realizado (a deman- que não é o seu, visto que aquela língua ou discursos
da de escuta proposta pelos profissionais parceiros) onde ele teria suas marcas foi apagado. Ousmane,
como a própria primeira aproximação do paciente mostrando suas marcas em todo tronco, tentava se
(mostrando as inúmeras manchas “imaginárias” em inscrever, melhor, oferecer seu próprio couro, sua

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pele, para ser manchado por um discurso que lhe des- de forma excessivamente psicanalítica e etnocêntrica
se um espaço de estabelecimento de algum laço, no formações culturais (regras de filiação, parentesco e
caso, laço social de transferência, como devemos ler trocas) que são diferentes daquelas em que somos
em cada um e em todo encontro clínico. A pele, lem- inscritos e que conhecemos.
bramos, é um órgão relacional e que marca o limite
entre o corpo e o outro, o dentro e o fora, ou até mes- Preza-se então o valor da melancolia presen-
mo entre o ser e o de-ser. A “mostração” de Ousmane te tanto no sofrimento quanto na modalidade de apre-
marcava essa falta de inscrição de um sofrimento que sentação existencial que temos num caso como o de
acabava por escorrer pelas bordas, espreitando-o Ousmane: a melancolia, aqui, é guia dessa sombra
em sua existência e deixando-o sem recursos para do objeto que ombreia o sujeito. Tentamos sustentar
demais enlaces com o outro. O gesto de não largar uma prática, enquanto clínicos, psicanalistas, dispos-
o panfleto parecia denotar esse sobrevivente que se tos a arrefecer as próprias convicções ao nos arrisca-
agarra a um fio de esperança, mesmo que o mais fino, mos por dispositivos e possibilidades de escuta que
para não ser consumido pelo Outro em todo seu po- nos guiam por hipóteses nas quais nos enredamos
tencial aniquilador. por sombras da cultura e da civilização, de processos
coloniais e pós-coloniais, nos espaços tão rarefeitos
Citamos aqui novamente Douville em seu arti- em que trafegam migrantes. O que nos cabe, dessa
go de 2004 sobre a melancolização do laço social: “O forma, é descentrar nossas práticas e disciplinas até
psicanalista que trabalha com as palavras dos sujei- seus limites epistemológicos, ali onde nossa ética
tos, com as condições de formulações, de construção pode apenas avançar naquilo que é o encontro com
e de recepção desta palavra, seus efeitos, suas impo- toda subjetividade resistente que insiste em continuar
tências e seus poderes, é afetado pelo modo segundo viva e produzindo sintomas e resistências a todo pro-
o qual um sujeito vive e se constrói como um ser de cesso mortífero de enredamendo nas teias do Outro
cultura, em devir”. Na proposição feita de uma clínica mortífero e silenciador. Sem temer suas picadas.
transcultural psicanalítica, evidente e eminentemente
psicanalítica, a afetação da escuta insiste numa cons- Referências
trução de enquadre transferencial em que se busque
toda essa pluralidade de falas, discursos e mesmo Chemama, R. & Vandermersch, B. (2009). Dictionnai-
linguagens que atravessam e, as vezes, ameaçam a re de la Psychanalyse. Paris: Larousse.
existência subjetiva de um sujeito em migração.
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A ameaça entra nesse bojo a fim de sinalizar face da dimensão sociopolítica do sofrimento. São
que o enredamento pela alteridade, pelo Outro, é tan- Paulo : Fapesp/Escuta.
to o Outro do sintoma que submete quanto o Outro do
discurso que explica, que tenta resolver, que se pro- Devereux, G. (1956). “Normal et anormal”. In Deve-
move na exumação das labaredas do ser do sujeito no reux, G. (1970/1977). Essais d’ethnopsychiatrie gé-
intuito, ingenuamente, de livrá-lo de seu sofrimento. É nérale. (Terceira edição revista e corrigida). Paris :
por conta disso que evitamos trabalhar frontalmente Gallimard.
com expressões como etnopsiquiatria ou etnopsica-
nálise, uma vez que nelas há tanto o risco de cultu- Douville, O. (2004). “Uma melancolização do laço so-
ralizar sintomas e sofrimentos (buscando numa su- cial”, Ágora, v. VII, n. 2, jul/dez 2004, pp. 179-201.
posta origem cultural e tradicional o enquadre-chave
de compreensão clínica-antropológica) como de ler Douville, O. (2014). Les figures de l’Autre. Pour une

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