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Inspetor de Soldadura

2.25 – Ligações de materiais dissimilares.

Elmano Almeida
Maio 2017

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• Soldadura entre materiais dissimilares

- Materiais dissimilares são metais quimicamente diferentes (Al, Cu,


Ni, por exemplo) ou ligas de um elemento metalurgicamente
diferente (aço carbono e aço inoxidável por exemplo).

- Combinações dissimilares compreendem um ou mais metais de base


e um material de adição (dissimilar ou não), que após a fusao conjunta,
formam uma soldadura com propriedades mecânicas, físicas e
químicas distintas.

- Quando as ligações dissimilares são realizadas por soldadura por


fusão, a formação de compostos diferenciados entre o MB e MA e o
aspeto principal a considerar. Compostos inter-metálicos poderão não
permitir a soldadura.

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• O principal objetivo das ligações dissimilares e produzir uma
soldadura que responda aos requisitos de serviço previstos para os dois
tipos de materiais a soldar. Uma vez que as propriedades de cada
material de base são diferentes. Este tipo de ligação terá que ser
analisado tendo em vista futuras condições de serviço.

• As condições de serviço poderão ser:

Solicitação por ciclos térmicos (fadiga térmica);


Meios corrosivos diversos;
Cargas dinâmicas diferenciadas;
Diferentes resistencias mecânicas;
Outras…

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• A soldadura entre materiais similares apresenta já grandes
dissimilaridade de propriedades mecânicas e físicas (dissimilaridade
metalúrgica) devido aos diferentes tempos, temperaturas e velocidades
de arrefecimento registados na execução da soldadura; porem a
composição química dos materiais de base e materiais de adição /
materiais depositados são, tanto quanto possível, semelhantes.

• Esta dissimilaridade de propriedades mecânicas e físicas


(dissimilaridade metalúrgica) obriga a que sejam feitos ensaios de
qualificação de procedimento de soldadura, por forma a que o
processo esteja devidamente controlado. Ensaios posteriores, por mais
exaustivos que o sejam, não permitem comprovar com exatidão a
sanidade da soldadura.

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• A heterogeneidade de propriedades em soldaduras entre materiais
dissimilares (dissimilaridades de propriedades mecânicas e físicas
dissimilaridade metalurgica) devem-se a:

-Tempos de permanência a altas temperaturas (coalescência do grão


ou refinamento do grão);

- Diferentes temperaturas atingidas pela soldadura (coalescência do


Grão);

- Diferentes velocidades de arrefecimento registados na soldadura


(estruturas metaestáveis – martensíticas ou baniticas).

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Ligação de materiais dissimilares

• Considerações gerais

Na soldadura entre materiais dissimilares devera considerar-se o


seguinte:

- O material de adição ou o material resultante da soldadura não


poderão dar origem a formação de fases intermetálicas frágeis;

- Uma união entre dois materiais dissimilares não ira resultar numa
melhoria das características mecânicas ou de resistência à corrosão,
isto claro em comparação com material mais “fraco” – os aspetos de
resistência a corrosão e as características mecânicas deverão ser
estudadas previamente;

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Ligacao de materiais dissimilares

• Considerações gerais

Na soldadura entre materiais dissimilares devera considerar-se o


seguinte:

- De forma a evitar a fissuracao por hidrogenio do lado do aco,


recomenda-se habitualmente a utilizacao de electrodos basicos;

- Durante a soldadura de materiais dissimilares a temperatura de pre-


aquecimento devera ser adequada a cada um dos materiais a unir;

- Quando se utiliza o processo TIG (141) podera ser utilizado material


de adicao extraido a partir do material de base, devidamente limpo e
desengordurado → porem a implementacao desta solucao podera dar
origem a fases frageis intermedias, pelo que a sua utilizacao devera ser
baseada na experiencia do utilizador ;
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1 - Condições gerais na soldadura do aço-carbono,
aço baixa liga e
aço ferramenta

• A soldabilidade de um aço diminui com o aumento da dureza, que


pode ser facilmente avaliada através do carbono equivalente (CE):

• Quando se efetua soldadura entre materiais com diferentes valores de


CE, os parâmetros de soldadura deverão ser determinados com base no
material com o valor de CE mais elevado e o consumível selecionado
de acordo com os requisitos do material com o CE mais baixo.

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• O carbono equivalente tem igualmente influencia na determinação da
temperatura de pré-aquecimento.

• Em regra geral, a temperatura de pré-aquecimento devera ser


adequada ao material com o CE mais elevado.

• A temperatura de pré-aquecimento devera ser determinada através da


metodologia descrita na norma EN 1011-2.

• Na tabela em baixo apresentam-se algumas temperaturas de pré-


aquecimento.

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• O tratamento térmico de alivio de tensões devera ser realizado
sempre que possível após a soldadura, para aços com valores de CE
muito diferentes.

• Arrefecimento lento ou controlado poderão igualmente reduzir o


risco de fissuração em aços com CE muito diferentes.

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2 - Condições gerais na soldadura do aço-carbono
a aço inoxidável

• A ligação entre estes materiais poderá resultar na formação de


estruturas frágeis.

• A determinação destas estruturas metalúrgicas resultantes da ligação


entre estes materiais poderá ser realizada através do diagrama de
Schaeffler/De-Long.

• O diagrama de Schaeffler/De Long baseia-se na composição dos


materiais de base e de adição para determinar as estruturas resultantes
da sua ligação.

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• Como utilizar o diagrama de Schaeffler/ De-Long:

- Inicialmente deverão determinar-se o Cr e o Ni equivalentes para


cada um dos materiais de base e de adição;
- De seguida devera estabelecer-se um valor para a contribuição
(diluição) de cada um dos materiais de base na junta;
- Definir qual a contribuição do material de adição na junta;
- Marcar no gráfico cada um dos materiais de base e de adição de
acordo com o Ni e o Cr equivalente.
- Unir os pontos dos materiais de base e marcar na reta o ponto
correspondente a diluição;
- Traçar uma reta entre o consumível e o ponto do paragrafo anterior e
definir o ponto resultante de acordo com a diluição do material de
adição.

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• Exemplo prático:

Soldadura de aço inoxidável 1.4301 a um aço carbono P265GH


(composição química de acordo com a tabela em baixo). Assumindo
que cada um dos materiais base contribui com 50% e o material de
adição com 70% na diluição total da soldadura. O material utilizado
foi o AWS A5.1 E7018 com uma composição após deposito de acordo
a tabela em baixo.

Determine qual a estrutura resultante e se este material e adequado


para esta ligação?

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13,013 24,012

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70% MA

Soldaduras 100% austeniticas são mais susceptiveis à fissuração a quente


dos que as soldaduras contendo entre 5% e 10% de Ferrite.
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Em resumo:

• A soldadura de um aço inoxidável a um aço carbono não ligado ou de


baixa liga é normalmente realizada com um consumível com um teor
em elementos liga superior ao aço inoxidável a ligar.

• Para ligações entre aços inoxidáveis e aços de baixa liga Cr-Mo, para
aplicações sujeitas a temperaturas superiores a 200ºC, deverá ser
utilizado um consumível á base de Ni (desta forma evita-se a migração
de C).

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Fissuração:

• Uma incorreta seleção do consumível poderá dar origem a problemas


de fissuração, normalmente associada a fenómenos de fissuração por
hidrogénio ou a quente durante a solidificação.

• A fissuração por hidrogénio esta normalmente associada a elétrodos


com elevados teores de hidrogénio ou quando os materiais a unir na
região da junta apresentam contaminantes tais como tinta, humidade,
produtos de corrosão, gorduras, etc. A soldadura realizada em
condições ambientais adversas poderá ser outra causa possível para a
ocorrência deste fenómeno.

• Não obstante a influencia dos fatores mencionados, a incorreta


seleção do consumível e a sua influencia na estrutura resultante é o
fator preponderante para que seja despoletado o fenómeno de
fissuração a frio.
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Fissuração (continuação):

• Durante a soldadura ocorre a diluição entre o material de adição e o


material da junta do lado do aço carbono ou do aço de baixa liga e do
lado do aço inoxidável;

• Na eventualidade do material de adição de alta liga, geralmente um


aço inoxidável, não ser suficiente ligado poderá ocorrer a formação de
martensite do lado do aço não ligado ou do aço de baixa liga;

• Este risco pode então ser minimizado pela utilização de consumíveis


com teores de liga mais elevados ou com elétrodos de Ni que
permitem compensar os efeitos da diluição do lado do aço carbono ou
do aço de baixa liga.

• A formação de martensite irá ocorrer, porem a faixa onde esta irá


formar-se e muito estreita, tendo um efeito negligenciável na
suscetibilidade á fissuração.
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Fissuração (continuação):

• Normalmente o material de adição utilizado nestas ligações deposita


um material com estrutura maioritariamente ou totalmente austenitica;

• Esta estrutura apresenta uma boa capacidade de solubilização do


hidrogénio, minimizando desta forma o aparecimento de fissuração
por hidrogénio.

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Fissuração (continuação):

• A fissuração a quente durante a solidificação ocorre devido a


impurezas, normalmente do lado do material de baixa liga ou não
ligado, que se concentram entre os cristais formados durante a
solidificação da soldadura;

• Estas regiões são enfraquecidas pela maior concentração de


impurezas, tornando-se mais suscetíveis a nucleação de fissuras
decorrentes das tensões originadas durante o arrefecimento;

• A austenite é mais suscetível ao aparecimento de fissuração a quente


do que a ferrite, razão pela qual normalmente os aços austeniticos
apresentam alguma ferrite (5-8%) para minimizar este risco;

• Para os aços inoxidáveis totalmente austeniticos este efeito é


contrariado pela adição de Mn.

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3 - Ligação entre o ferro fundido e o aço:

• A seleção de consumíveis e dos parâmetros de soldadura na


soldadura entre este dois materiais é limitada pela reduzida
soldabilidade do ferro fundido.

• A solução adotada passa pela utilização de elétrodos com um elevado


teor de Ni sempre que se pretenda uma junta com alguma resistência;

• Processos com elevada entrega térmica ou com banhos de fusão


muito grandes não são recomendados na soldadura destes materiais;

• Os ferros fundidos brancos não são soldáveis.

• A fim de se obter melhores características de ductilidade recomenda-


se a realização de um amanteigamento das faces da junta do lado do
ferro fundido com elétrodos de Ni antes de começar a soldar na junta.

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• A soldadura do ferro fundido pode ser realizada sem pré-
aquecimento, porem é recomendável, sempre que possivel, a
realização da soldadura a uma temperatura de 300ºC.

• Peças mais pequenas podem ser aquecidas na totalidade enquanto


que peças de maior dimensão poderão ser pré-aquecidas localmente na
região da soldadura e nas superfícies adjacentes.

• Como o ferro fundido apresenta uma baixa ductilidade e um baixo


coeficiente de dilatação térmico é fundamental reduzir as tensões
residuais resultantes da contração durante o arrefecimento, por este
motivo recorre-se a martelagem com um ferramenta de pontas
redondas imediatamente após a realização da soldadura.

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• Deverão ainda ser utilizados elétrodos de menor dimensão e cordões
com balanceamento reduzido (3-5 cm) ou sem balanceamento.

• Durante a soldadura é fundamental que o escorvamento do arco seja


realizado sobre o cordão de soldadura anterior e nunca sobre o
material de base.

• Normalmente o processo de soldadura utilizado é o processo de


soldadura manual com elétrodo revestido, contudo o TIG e igualmente
utilizado.

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4 - Ligação entre aço não ligado com aço de baixa liga

• Os parâmetros de soldadura deverão ser selecionados para o aço de


baixa liga, enquanto que os consumíveis deverão ser os adequados
para o aço não ligado.

• A contribuição dos elementos liga do aço de baixa de liga para o


endurecimento é considerado reduzido e, portanto, negligenciável.

• E possível utilizar os consumíveis para o aço de baixa liga, porem os


elementos liga não representam qualquer vantagem na resistência da
junta.

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5 - Ligação entre aços de baixa liga diferentes

• Os consumíveis utilizados nesta ligação deverão ser similares aos


aços a serem ligados, devendo contudo ter-se o cuidado de selecionar
um material com CE idêntico ao do material com menores
características de endurecimento.

• Quanto maior for a facilidade de endurecimento de um dado material


mais difícil é a sua ligação por soldadura.

• A soldadura deverá ser realizada com parâmetros que permitam a


utilização de entregas térmicas mais baixas de forma a reduzir a
dimensão da ZTA, o que poderá aumentar o risco de fissuração →
evitar velocidades de soldadura muito reduzidas.

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• Muitos aços CrNi(Mo) de alta resistência e facilmente endureciveis,
que requerem temperaturas de pré-aquecimento muito elevadas ou
tratamentos térmicos de relaxamento de tensões poderão ser soldados
recorrendo a materiais austeniticos (aço inoxidável) com temperaturas
de pré-aquecimento mais baixas e, pela sua maior ductilidade, evitar a
realização de tratamento térmico.

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6 - Ligação entre aços inoxidáveis.

• A ligação entre diferentes tipos de aços inoxidáveis pode ocorrer em


diversas construções e geralmente não é muito difícil obter soldaduras
com características satisfatórias;

• Porem recomenda-se que sejam considerados os seguintes aspetos:

- Efetuar um estudo da combinação dos vários materiais envolvidos


através do diagrama de Schaeffler;

- Evitar que o material resultante fique em áreas com martensite


devido a problemas de fragilização a frio, ou na região totalmente
austenitica, neste caso devido a um elevado risco de fissuração a
quente (exceto para materiais com percentagens de Mn ≥ 4%);

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- Quando se efetua soldadura de materiais estabilizados (ligados com
Ti ou Nb) a materiais não estabilizados, os consumíveis deverão ser
estabilizados ou com teor de C reduzido (identificado na designação
AISI pela letra L);

- A soldadura devera ser realizada com uma entrega térmica limitada.

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7 - Soldadura entre aços desconhecidos.

• Este tipo de problema ocorre em contexto de reparações de


equipamentos ou estruturas metálicas antigas sem qualquer informação
sobre os materiais utilizados durante o fabrico;
• Quando se desconhecem as características dos materiais a soldar,
deverá por principio assumir que está na presença de um aço de difícil
soldabilidade;
• Deverão ser utilizados consumíveis do tipo E312-17 ou o E307-15,
devendo em situações de difícil soldabilidade optar por elétrodos à
base de Ni.
• Sempre que possível deverá optar-se pelo processo SER;
• Evitar a utilização de pré-aquecimento em aços não ferromagnéticos;
• Todos os aços com composição química desconhecida, com exceção
dos referidos anteriormente, deverão ser pré-aquecidos a
aproximadamente 300ºC;
• Evitar a utilização de banhos de fusão muito grandes e manter a
diluição baixa.
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