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SEXTO EMPÍRICO, Contra os lógicos, I 60-61

Alguns colocaram igualmente Protágoras de Abdera no coro dos filósofos que


suprimiram o critério, porque ele afirma que todas as representações e todas as opiniões
são verdadeiras, e que a verdade faz parte dos relativos, na medida em que tudo que
aparece a alguém ou tudo sobre o que ele forma uma opinião se lhe torna imediatamente
real. É assim que no começo dos seus Discursos demolidores ele proclama que “o homem
é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não
são”.

SEXTO EMPÍRICO, Esboços pirrônicos, I 216-219


E Protágoras, que quer que o homem seja a medida de todas as coisas, das que são
enquanto são e das que não são enquanto não são, chama de “medida” o critério e de
“coisas” as realidades, a tal ponto que ele quase chega a afirmar que o homem é o critério
de todas as realidades, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são. É
que ele não admite senão o que aparece ao indivíduo particular e introduz assim o
princípio do relativo. É por isso que ele parece ter qualquer coisa em comum com os
pirrônicos. Mas na verdade ele se distingue deles e nós perceberemos a diferença tão logo
tivermos exposto convenientemente sua doutrina.
Este autor diz que a matéria é qualquer coisa que flui e que, fluindo de maneira
ininterrupta, adições continuamente ocorrem para compensar as perdas; quanto às
sensações, elas variam e se transformam segundo as diferenças de idade e segundo os
diferentes estados do corpo. Ele afirma em seguida que as razões de todos os fenômenos
estão contidas na matéria, de tal sorte que a matéria tem a propriedade de ser tudo que ela
parece ser a todos. Também os homens percebem diferentes coisas em diferentes
momentos segundo suas disposições: aquele que se encontra numa disposição conforme
a natureza apreende aquelas coisas da matéria que são suscetíveis de aparecer a quem se
encontra numa disposição conforme a natureza; e aquele que se encontra numa disposição
contra a natureza apreende aquelas que são suscetíveis de aparecer a quem se encontra
numa disposição contra a natureza. O mesmo raciocínio se aplica então às diferenças de
idade, aos períodos de vigília e de sono, bem como a todas as outras espécies de
disposição. Protágoras fala do modo em que o homem é o critério das coisas que são, pois
todas as coisas que aparecem aos homens existem também, enquanto aquelas que não
aparecem a nenhum dos homens não existem. Mas nós vemos, todavia, que ele dogmatiza,
na medida em que ele afirma que a matéria é qualquer coisa que flui e que nela residem
as razões de todos os fenômenos, porque essas são questões obscuras, sobre as quais, de
nossa parte, suspendemos o juízo.

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