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C/ CENÁRIOS DE RESPOSTA
CRISTALIZAÇÕES
Cesário Verde
1
Apresenta, de forma clara, fundamentada e bem estruturada, as tuas respostas aos itens.
2. Mostra que, na última estrofe, está presente a deambulação psicológica, por parte do eu
poético.
3. Demonstra que a deambulação do sujeito poético pelo espaço é suportada por impressões ou
sensações de diferentes tipos.
CENÁRIOS DE RESPOSTA:
1. No excerto apresentado, o sujeito poético tem como alvo da sua atenção os calceteiros (v. 3),
os quais são apresentados em plena laboração, no momento em que, “de cócoras” (v. 3),
“calçam” (v. 5) a toda a largura “uma longa rua” (v. 5). O sujeito descreve -os diretamente,
como “terrosos e grosseiros” (v .4), “rapagões morosos, duros, baços” (v. 16), de “barba
agreste” (v. 21); mas também indiretamente, através do trabalho que vão desenvolvendo
“com lentidão” (v. 4), por ser pesado, duro e muito custoso. Com efeito, trata-se de um
trabalho em que a “coluna nunca se endireita” (v. 17), se “Partem penedos” (v. 18) com “grossos
maços” (v. 19) que “pesam enormemente” (v. 19) e em que “Valadores / Atiram terra com as
largas pás” (vv. 29-30), sendo, portanto, uma atividade fisicamente muito exigente e
desgastante, levada a cabo em condições atmosféricas muito difíceis, em pleno inverno, com
baixas temperaturas (“Faz frio”, v. 1) e “as poças de água” (v. 9) se transformaram em “chão
vidrento” (v. 9), devido à geada da noite.
2. Na última estrofe transcrita, o eu poético evolui da sua deambulação física pelo espaço da
cidade para a deambulação psicológica, ao transfigurar as “árvores despidas” (v. 28) em
elementos náuticos (“Mastros, enxárcias, vergas”, v. 29), passando, assim, do real objetivo –
as árvores sem folhagem - para um real imaginário – os navios de guerra (“a esquadra”, v. 27)
com as suas vergas e mastros.
O recurso ao verbo fundear (“Fundeiam”, v. 27), que corresponde a um termo próprio da
linguagem náutica, contribui igualmente para sugerir o processo de transfiguração da
realidade em imaginação. Deste modo, as árvores são percecionadas pela imaginação do eu
poético como navios alinhados ancorados no rio (que não existem, mas que o poeta imagina
existirem).
- sensações visuais: “uma imensa claridade” (v.2); “poças de água” (v. 9); “cruzam-se
estilhaços” (v. 18); “grossos maços” (v. 19); “árvores despidas” (v. 28); “Sóbrias cores!” (v. 28);
2
- sensações auditivas: “Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!” (v. 11); “o ferro e a
pedra/Retinem alto” (vv. 13-14); “choques cantantes” (v. 15); “Partem penedos” (v. 18);
“batem a calçada” (v. 20);
- sensações táteis: “Faz frio” (v. 1); “terrosos” (v. 4); “o sol abafa” (v. 7); “a molhada casaria”
(v. 10); “Pesam enormemente” (v. 19); “espessos forros” (v. 22) ;
- sensações gustativas: talvez a referência à “água” (v. 9) possa configurar uma sensação gusta-
tiva, embora não seja tão óbvia como as restantes e possa não gerar consenso.
Numa marca estilística bastante comum em Cesário Verde, registam-se, no poema, bastantes
exemplos de sinestesia, através da qual o poeta sugere simultaneamente duas ou mais
sensações ou impressões. São disso exemplo as expressões: “Calçam de lado a lado a longa
rua.” (v. 5) auditiva + visual; “Refletem a molhada casaria” (v. 10): visual + tátil; “batem a
calçada” (v. 20) : auditiva + visual; “choques rijos, ásperos, cantantes”: visual + tátil + auditiva.