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DERRUBADA DE VETOS AO

PACOTE ANTICRIME

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AULA DO PROF. RENATO BRASILEIRO: COMENTÁRIOS AOS VETOS PRESIDENCIAIS AO
PACOTE ANTICRIME REJEITADOS PELO CONGRESSO NACIONAL

Aula gravada em: 29/04/2021

Obs: dos 24 vetos do Presidente da República ao Pacote Anticrime, o Congresso Nacional derrubou 16.

1. Breve histórico do “singelo” processo legislativo da Lei 13.964/19

A Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime – PAC) é resultado de 3 forças:


i) Projeto Moro (janeiro de 2019);
ii) Projeto Moraes;
iii) Substitutivo à apresentado por expressiva maioria do Congresso Nacional, introduziu diversos dispositivos legais
com viés muito mais garantista, extraídos, em sua maioria, do Projeto de Lei 8.045/2010, destinado à criação de
um novo CPP.

A lei é, portanto, resultado dessas 3 forças. Por isso, muitas vezes, em uma mesma lei, existem contradições.
A Lei 13.964/19 é publicada em 24 de dezembro de 2019. Sua vacatio legis foi de 30 dias, ou seja, sua vigência
ocorreu em 23/01/2020. Detalhe: uma lei desse porte ter uma vacatio legis de apenas 30 dias é muito pouco.
Quando a lei foi encaminhada ao Presidente da República, este vetou 24 dispositivos à 16 vetos de matéria
criminal = CP, CPP, LEP e Lei de Interceptação Telefônica e Ambiental; e 8 vetos referentes à Lei de Improbidade Administrativa.
Os vetos são encaminhados ao Congresso Nacional.
A Lei 13.964/12, programada para entrar em vigor no dia 23/01/2020, é surpreendida com decisões do STF, que,
no dia 15 de janeiro de 2020, suspendeu a eficácia de alguns dispositivos (na ocasião, a suspensão se deu por decisão do Min.
Dias Toffoli).
Esta decisão do Min. Dias Toffoli não dura muito tempo, pois, menos de uma semana depois (22/01/2020, véspera
da entrada em vigor do PAC), há uma nova decisão, agora do Min. Luiz Fux, revogando a decisão do Min. Dias Toffoli e
suspendendo, grosso modo, a eficácia de, ao menos, 4 blocos da Lei 13.964/19:
i) juiz das garantias (arts.3º-A a 3º-F);
ii) §5º do art.157, que prevê que o juiz que tiver contato com prova ilícita será excluído do processo;
iii) nova sistemática do arquivamento do inquérito policial (art.28);
iv) art.310, §4º, que prevê que a não realização da audiência de custódia, em até 24h, acarretará a ilegalidade da
prisão.

O Congresso Nacional só veio a apreciar os vetos do Presidente no dia 19/04/2021, derrubando os 16 vetos
referentes à matéria criminal (detalhe: não derrubou nenhum referente à lei de improbidade administrativa).

2. (In)constitucionalidade formal da rejeição dos vetos do Presidente da República ao Pacote Anticrime

O veto, quando foi devolvido ao Congresso Nacional, ganhou o número “56” (veto 56/2019).
A tramitação do veto 56/2019 foi, no mínimo, inusitada. Chamam a atenção 2 pontos:
i) não apreciação dos vetos presidenciais dentro de 30 dias, a contar de seu recebimento;
* os vetos presidenciais foram recebidos em 26/12/2019;
* sobrestamento da pauta em 04/03/2020;
* o CN deveria deliberar sobre os vetos em até 30 dias, a partir do dia 04/03/2020;
* a deliberação dos vetos só veio a ocorrer em 16/04/2021 (quase 15 meses depois da publicação da lei).
Indaga-se, então, se a inobservância desse prazo de 30 dias teria (ou não) o condão de acarretar a
inconstitucionalidade formal dos vetos derrubados. Para Renato Brasileiro, não há que se falar em
inconstitucionalidade formal, pois segundo a CF (art.66, §6º), esgotado o prazo, sem deliberação do CN, o veto
será colocado na ordem do dia, sobrestadas as demais proposições, até a sua votação final. Então, a própria CF
estabelece a consequência da inobservância do prazo (sobrestamento das demais proposições), sem fazer
ressalva quanto a uma possível inconstitucionalidade formal.

ii) não apreciação dos vetos presidenciais em SESSÃO CONJUNTA da Câmara dos Deputados e do Senado Federal:
de acordo com informação extraída do sitio do Senado, houve uma sessão conjunta remota para apreciar os vetos.
Na prática, o que houve foi uma sessão separada, leia-se: a Câmara dos Deputados apreciou primeiro; depois, o
Senado Federal fez sua apreciação, em sessões separadas. Isso se deu por problemas operacionais, de tecnologia,
de sistema de cada uma das Casas, que acabou não permitindo a realização de sessão conjunta.

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Primeiro, a apreciação se deu na Câmara dos Deputados, em 17/03/2021; depois, o Senado Federal apreciou em
outra sessão, no dia 19/03/2021.
Aqui, o problema é muito mais grave, pois contraria o art.57, §3º, inc.IV, c/c art.66, §4º, todos da CF.
Para Renato Brasileiro, não há qualquer problema em se realizar sessões remotas. O problema é que as sessões
foram separadas. O que vale mais: a CF ou problemas operacionais do Congresso Nacional? Se, futuramente, o STF
entender que a derrubada dos vetos foi inconstitucional, isso, consequentemente, gerará a inconstitucionalidade
dos 16 dispositivos.

Agora, vamos analisar cada um dos 16 vetos.

3. Homicídio qualificado pelo emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido

CP, Art.121. (...)


(...)
§2º Se o HOMICÍDIO é cometido:
(...)
VIII – com emprego de arma de fogo de uso RESTRITO ou PROIBIDO.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao prever como qualificadora do crime de homicídio o emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido, sem qualquer ressalva, viola o PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE entre o tipo penal descrito e a
pena cominada, além de gerar INSEGURANÇA JURÍDICA, notadamente aos AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA, tendo em vista
que esses servidores poderão ser severamente processados ou condenados criminalmente por utilizarem suas armas, que são
de uso restrito, no exercício de suas funções para defesa pessoal ou de terceiros ou, ainda, em situações extremas para a
garantia da ordem pública, a exemplo de conflito armado contra facções criminosas”.

O Congresso Nacional rejeitou esse veto. Por isso, o dispositivo supracitado foi incluído no CP.
Renato Brasileiro CONCORDA com a derrubada do veto, pois:
• a própria Lei 13.964/19 alterou o CP para incluir uma majorante no crime de ROUBO, na hipótese de ele ter sido
praticado com arma de fogo de uso restrito ou de uso proibido (art.157, §2º-B, CP). Assim, se o emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido é majorante do crime de roubo (quando a pena pode ser aplicada em dobro), por que
não dispensar o mesmo tratamento ao crime de homicídio, o qual, aliás, é um crime mais grave?
• policiais militares, em regra, não usam, no dia a dia do trabalho, armas de fogo de uso restrito ou proibido. Na grande
maioria dos casos, os militares usam armas de fogo de uso PERMITIDO, como os calibres .40 e 9mm.

ATENÇÃO! O Pacote Anticrime também passou a considerar o crime do art.121, §2º, inc.VIII, como CRIME HEDIONDO (art.1º,
inc.I, in fine, da Lei 8.072/90).

4. Causa de aumento de pena para crimes contra a honra cometidos ou divulgados em quaisquer modalidades das redes
sociais da rede mundial de computadores

Código Penal Código Penal


(antes do Pacote Anticrime) (redação dada pelo Pacote Anticrime)
Art.141. (...) Art.141. (...)
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou §1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. recompensa, aplica-se a pena EM DOBRO.
§2º Se o crime é COMETIDO ou DIVULGADO em quaisquer
modalidades das redes sociais da rede mundial de
computadores, aplica-se EM TRIPLO a pena.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao promover o incremento da pena no triplo quando o crime for cometido ou
divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, viola o PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE entre o tipo penal descrito e a pena cominada, notadamente se considerarmos a existência de
LEGISLAÇÃO ATUAL JÁ TUTELA SUFICIENTEMENTE os interesses protegidos pelo Projeto, ao permitir o agravamento da pena
em 1/3 na hipótese de qualquer dos crimes contra a honra ser cometido por meio que facilite a sua divulgação. Ademais, a
substituição da lavratura de termo circunstanciado nesses crimes, em razão da pena máxima ser superior a 2 anos, pela
necessária abertura de inquérito policial, ensejaria, por conseguinte, SUPERLOTAÇÃO DAS DELEGACIAS, e, com isso, redução do
tempo e da força de trabalho para se dedicar ao combate de crimes mais graves, tais como homicídio e latrocínio”.

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Renato Brasileiro CONCORDA com as razões do veto, pois a pena aplicada ao triplo realmente VIOLA O PRINCÍPIO
DA PROPORCINALIDADE.
No material de atualização que Renato Brasileiro disponibilizou gratuitamente, ele fez uma comparação. Vejamos.

Calúnia “simples” Calúnia majorada


(art.138, caput) (art.138 c/c art.141, §2º,)
• Pena: 6 meses a 2 anos • Pena: 18 meses a 6 anos
à JECRIM; ATENÇÃO! Neste caso, o crime contra a honra tem
à Termo circunstanciado; pena mais grave do que o crime de homicídio
à Cabe transação penal; culposo, pena quase idêntica ao do infanticídio,
à Cabe sursis processual; pena maior que a da lesão corporal leve;
à Não se admite acordo de não persecução penal à JECRIM à não cabe transação penal, nem sursis
(art.28-A, §2º, I, CPP). processual, admitindo-se, todavia, o acordo de não
persecução penal;
à Não cabe fiança pelo delegado de polícia;
à Inquérito policial.

Para Renato Brasileiro, o STF deveria reconhecer a inconstitucionalidade dessa majorante, por conta da violação
ao princípio da proporcionalidade (proibição de excesso). Recentemente, o STF decidiu desta forma, porém em relação a outro
crime. Vejamos.

É inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, I, do CP, devendo ser aplicada a pena prevista antes da Lei 9.677/98,
qual seja, de 1 a 3 anos
É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do art. 273 do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 9.677/98
(reclusão, de 10 a 15 anos, e multa), à hipótese prevista no seu § 1º-B, I, que versa sobre a importação de medicamento sem
registro no órgão de vigilância sanitária. Para esta situação específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na
redação originária (reclusão, de 1 a 3 anos, e multa). STF. Plenário. RE 979962/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
24/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 1003) (Info 1011).

5. (Im)possibilidade de realização da audiência de custódia (ou de apresentação) por viodeconferência

CPP (Depois do Pacote Anticrime)


Art.3º-B (...) à Juiz das Garantias
(...)
§1º. O preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias no
prazo de 24h, momento em que se realizará audiência com a presença do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de
advogado constituído, vedado o emprego de videoconferência.

Quais são as prisões que se sujeitam às audiências de custódia? STF (Edson Fachin) à TODAS AS MODALIDADES
DE PRISÃO: prisões em flagrante, preventiva, temporária e definitiva (resultante de sentença condenatória transitada em
julgado).
Como o objetivo precípuo da audiência de custódia é coibir eventuais excessos como maus-tratos e/ou torturas,
verificando-se o respeito aos direitos e garantias individuais do preso, sempre houve controvérsia acerca da possibilidade de
realização do ato por meio de videoconferência.
Para uma primeira corrente, não é possível, nunca, fazer audiência de custódia por videoconferência, pois isso
vem na contramão do escopo da audiência de custódia. Como poderá se verificar eventuais maus tratos contra o preso se este
não está diante fisicamente da autoridade judiciária? Como é que o preso vai relatar uma tortura, estando no presídio?
Para uma segunda corrente (posição de Renato Brasileiro), em situações excepcionalíssimas, não há como se
negar a possibilidade de realização da audiência de custódia por videoconferência. Ex: locais onde não há autoridade judiciária.
Apesar deste dispositivo falar apenas em “audiência” e não mencionar a expressão “audiência de custódia”, é
óbvio que esse dispositivo está se referindo à audiência de custódia.
Detalhe: a Lei 12.964/19 tratou da audiência de custódia no art.310 do CPP, mas vedou a sua realização por
audiência de custódia no §1º do art.3º-B do CPP, que trata do juiz das garantias. Essa vedação deveria ter sido prevista no
art.310 do CPP.
Este dispositivo não entrou em vigor de forma imediata, pois o Presidente da República o vetou.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao suprimir a possibilidade da realização da audiência de custódia por
videoconferência, gera INSEGURANÇA JURÍDICA ao ser INCONGRUENTE com outros dispositivos do mesmo código, a exemplo
do art.185 e 222 do CPP, os quais permitem a adoção do sistema de videoconferência em atos processuais de procedimentos e

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ações penais, além de DIFICULTAR A CELERIDADE dos atos processuais e do regular funcionamento da justiça, em ofensa à
garantia da razoável duração do processo, nos termos da jurisprudência do STJ (RHC 77.580/RN, 5ª Turma, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, DJe 10/02/2017). Ademais, o dispositivo pode acarretar AUMENTO DE DESPESA, notadamente nos casos de
juiz de vara única, com apenas um magistrado, seja pela necessidade de pagamento de diárias e passagens a outros magistrados
para a realização de uma única audiência, seja pela necessidade premente de realização de concurso para a contratação de
novos magistrados, violando a regra do art.113 do ADCT, bem como dos arts.16 e 17 da LRF e ainda o art.114 da Lei de Diretrizes
Orçamentárias para 2019 (Lei 13.707, de 2018)”.

Quando a Lei 13.964/19 entrou em vigor, em 23/01/2020, este dispositivo havia sido vetado. E, então, passou a se
permitir a audiência de custódia por videoconferência. Sobre isso, temos um enunciado. Vejamos.

Enunciado nº 32 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos do Estados e da União (CNPG) e do
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): Em razão do veto presidencial ao §1º do art.3º-B
(que proibia a realização do ato por videoconferência), nos casos em que se faça inviável a realização presencial do ato
(devidamente fundamentada) faculta-se o uso de meios tecnológicos”.

DE OLHO NA JURIS! STJ, CC 168.522 à quando o indivíduo é preso em outra localidade (em relação àquela de onde foi
expedido o mandado de prisão), a audiência de custódia não pode se dar por videoconferência. A audiência de custódia, neste
caso, deve ser realizada perante o juízo da localidade onde ele foi preso.

Apesar desse julgado (CC 168.522) ser muito utilizado como precedente para se proibir a audiência por
videoconferência, é IMPORTANTÍSSIMO DIZER QUE ele é ANTERIOR AO PACOTE ANTICRIME! Então, CUIDADO ao fazer uso
desse precedente e afirmar que ele se refere a um posicionamento consolidado do STJ
Ocorreu o overruling em relação a este julgado, pois uma norma superior (o PAC) passou a disciplinar a matéria de
forma diferente.
Quando a pandemia começa, o CNJ fez uma recomendação para que NÃO fosse feita audiência de custódia. Daí
o professor pergunta: é melhor apontar a pandemia do corona vírus como motivo para não realização da audiência de custódia
ou fazer a audiência de custódia por videoconferência? A opção menos pior é fazer o ato por videoconferência.
É dentro desse contexto que temos uma nova Resolução do CNJ.

Resolução CNJ nº 329, de 30 de Julho, de 2020, com redação dada pela Resolução nº 357, de 26 de novembro de 2020:
Art. 19. Admite-se a realização por videoconferência das audiências de custódia previstas nos artigos 287 e 310, ambos do Código
de Processo Penal, e na Resolução CNJ nº 213/2015, quando não for possível a realização, em 24 horas, de forma presencial.
§1º Será garantido o direito de entrevista prévia e reservada entre o preso e advogado ou defensor, tanto presencialmente
quanto por videoconferência, telefone ou qualquer outro meio de comunicação.
§2º Para prevenir qualquer tipo de abuso ou constrangimento ilegal, deverão ser tomadas as seguintes cautelas:
I – deverá ser assegurada privacidade ao preso na sala em que se realizar a videoconferência, devendo permanecer sozinho
durante a realização de sua oitiva, observada a regra do §1º e ressalvada a possibilidade de presença física de seu advogado ou
defensor no ambiente;
II – a condição exigida no inciso I poderá ser certificada pelo próprio Juiz, Ministério Público e Defesa, por meio do uso
concomitante de mais de uma câmera no ambiente ou de câmeras 360 graus, de modo a permitir a visualização integral do espaço
durante a realização do ato;
III – deverá haver também uma câmera externa a monitorar a entrada do preso na sala e a porta desta; e
IV – o exame de corpo de delito, a atestar a integridade física do preso, deverá ser realizado ANTES do ato.

Quando a realização da audiência de custódia por videoconferência já havia se tornado uma rotina ao longo da pandemia,
em 19 de abril de 2021, o Congresso Nacional derruba o veto presidencial e resolver ressuscitar o §1º do art.3º-B do CPP, que,
agora, será introduzido ao CPP.
Aí perguntamos... O que vale mais: uma lei que alterou o CPP e que veda a realização da audiência de custódia por
videoconferência ou a Resolução nº 329 do CNJ? A lei, claro.
Portanto, em tese, a partir da entrada em vigor dos vetos anteriormente rejeitados, a videoconferência não poderia mais
ser realizada na audiência de custódia. Certo? Bem, devemos lembrar que o §1º do art.3º-B do CPP está com sua EFICÁCIA
SUSPENSA. Na condição de Relator das ADI’s 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305 (j. 22/01/2020), todas ajuizadas em face da Lei nº
13.964/19, o Min. Luiz Fux suspendeu sine die a eficácia, ad referendum do Plenário, da implantação do juiz das garantias e de
seus consectários (CPP, arts.3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E e 3º-F), afirmando, ademais, que a concessão dessa medida cautelar não
teria o condão de interferir nem suspender os inquéritos e processos em andamento, nos termos do art.10, §2º, da Lei 9.868/95.

ATENÇÃO! à época em que o Min. Luiz Fux proferiu sua decisão, esse §1º-B do art.3º já tinha sido vetado e “não estava valendo”.
E aí poderão, certamente, surgir questionamento. Haverá quem defenda que, como o §1º não constava no art.3º-B e como a
audiência de custódia é tratada apenas no art.310 do CPP, a suspensão não deve abranger o §1º. Para Renato Brasileiro, não se
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pode retirar o dispositivo do art.3º-B e, se este está com sua eficácia suspensa em razão de decisão do STF, é de se concluir que
o §1º também está com sua eficácia suspensa. Logo, bem ou mal, pelo menos enquanto a matéria não for levada à apreciação
pelo Plenário do STF, há de se admitir, excepcionalmente, o emprego da via remota para a realização da audiência de
apresentação, tal qual disciplinado pela Resolução n.329 do CNJ.

6. Assistência jurídica em favor de servidores vinculados aos órgãos de segurança pública (CF, art.144) diante da instauração de
inquérito para fins de investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício funcional

CPP (Depois do Pacote Anticrime)


Art. 14-A. Nos casos em que SERVIDORES vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal (PF, PRF, PFF,
PC, PM, CORPO DE BOMBEIRO MILITAR + POLÍCIAS PENAIS FEDERAL, ESTADUAIS E DISTRITAL) figurarem como INVESTIGADOS
em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de
fatos relacionados ao uso da força letal praticados NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL, de forma consumada ou tentada, incluindo as
situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) - EXCLUDENTES DE ILICITUDE, o
indiciado poderá constituir defensor.
§1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser CITADO (TECNICAMENTE FALANDO à
NOTIFICAÇÃO) da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 horas a contar
do recebimento da citação.
§2º Esgotado o prazo disposto no §1º deste artigo (48h) com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade
responsável pela investigação deverá INTIMAR a INSTITUIÇÃO a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos
fatos, para que essa, no prazo de 48 horas, INDIQUE DEFENSOR para a representação do investigado.

Mesmo antes da entrada em vigor do PAC, parte da doutrina sempre sustentou que as investigações preliminares estão
sujeitas ao contraditório diferido e à ampla defesa, ainda que com um alcance mais limitado que aquele reconhecido na fase
processual. Dentro desse contexto crescente de proteção da ampla defesa no curso da investigação preliminar que surge o
art.14-A do CPP, incluído pelo PAC.
Isoladamente considerado, o caput do art.14-A não traz nenhuma grande novidade ao ordenamento jurídico, pois já
era possível extrair do Estatuto da OAB e da CF que qualquer pessoa que se encontre na condição de investigado tem direito de
ser assistido por um advogado.

ATENÇÃO! Mesmo sem a indicação desse defensor (pelo investigado ou pela instituição à qual ele pertença), as investigações
DEVEM CONTINUAR! Comentário do prof. Renato Brasileiro: como esses defensores não têm sido indicados pela respectiva
instituição, em razão da confusão de quem seria esse defensor, os inquéritos estão paralisados.

Quem é este defensor que será indicado pela instituição? Essa é a controvérsia sobre esse dispositivo. Vejamos os 3
dispositivos que foram inicialmente vetados pelo Presidente da República.

CPP, Art.14-A, §3º, Havendo NECESSIDADE DE INDICAÇÃO DE DEFENSOR nos termos do §2º deste dispositivo, a defesa caberá
preferencialmente à DEFENSORIA PÚBLICA, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação
correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar PROFISSIONAL para
acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do investigado.

§4º A indicação do PROFISSIONAL a que se refere o §3º deste artigo deverá ser PRECEDIDA DE MANIFESTAÇÃO DE QUE NÃO
EXISTE DEFENSOR PÚBLICO LOTADO NA ÁREA TERRITORIAL onde tramita o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese
em que poderá ser indicado PROFISSIONAL QUE NÃO INTEGRE OS QUADROS PRÓPRIOS DA ADMINISTRAÇÃO (DEFENSOR
DATIVO).

§5º Na hipótese de NÃO ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA, os custos com o patrocínio dos interesses dos investigados nos
procedimentos de que trata este artigo correrão por conta do ORÇAMENTO PRÓPRIO DA INSTITUIÇÃO a que esteja vinculado à
época da ocorrência dos fatos investigados.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao prever que os agentes investigados em inquéritos policiais por fatos relacionados
ao uso da força letal praticados no exercício profissional serão defendidos prioritariamente pela Defensoria Pública e, nos locais
em que não tiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente deverá disponibilizar profissional, viola o
disposto no art.5º, inciso LXXIV, combinado com o art.134, bem como os arts.132 e 133, todos da Constituição da República,
QUE CONFERE À ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO E ÀS PROCURADORIAS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL, também
função essencial à justiça, A REPRESENTAÇÃO JUDICIAL DAS RESPECTIVAS UNIDADES FEDERADAS, e destas competências
constitucionais deriva a competência de REPRESENTAR JUDICIALMENTE SEUS AGENTES PÚBLICOS, em consonância com a
jurisprudência do Supremo Tribunal (v.g., ADI 3.022, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 02/08/2004, DJ 04/03/2005)”.

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Renato Brasileiro CONCORDA com as razões do veto.
Será que posso outorgar à DP esta função? E ao servidor público? Não. Para o prof., por mais que os vetos tenham sido
derrubados pelo Congresso Nacional, especificamente em relação à atuação da DP em favor de servidores vinculados à
instituições dispostas no art.144 da CF, tais dispositivos padecem de FLAGRANTE INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. Não é
atribuição da DP prestar assistência jurídica a servidores públicos (atribuição esta que compete à AGU e às procuradorias),
tampouco a pessoas que não se enquadrem como necessitados.
Nos resta aguardar o posicionamento do STF.
7. Alterações da identificação do perfil genético no âmbito da Lei de Execução Penal

Lei 12.037/09 (Lei da identificação criminal)


Lei 12.037/09, Art. 3º EMBORA APRESENTADO DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO (CIVIL), poderá ocorrer identificação CRIMINAL
quando: (...)
IV – a identificação criminal for ESSENCIAL ÀS INVESTIGAÇÕES POLICIAIS, segundo despacho da autoridade judiciária
(TECNICAMENTE FALANDO, TRATA-SE DE UMA “DECISÃO INTERLOCUTÓRIA”) competente, que decidirá de ofício* ou mediante
representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa (+ O PRÓPRIO OFENDIDO, nos casos de ação penal
privada);

* Renato Brasileiro: esse agir “de ofício” revela-se incompatível com a garantia da imparcialidade e com o sistema acusatório.

ATENÇÃO! Enquanto os demais incisos deste art.3º referem-se à identificação criminal para fins de individualização e distinção
do agente, este inciso IV funciona como verdadeira MEDIDA CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA.

Lei 12.037/09, Art. 5º A identificação criminal incluirá o PROCESSO DATILOSCÓPICO e o FOTOGRÁFICO, que serão juntados aos
autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3o, a identificação criminal poderá incluir a COLETA DE MATERIAL GENÉTICO
PARA A OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO. à aqui, há um crime pretérito que está sendo investigado.

Lei de Execução Penal

Lei de Execução Penal Lei de Execução Penal


(redação ANTERIOR ao PAC) (redação POSTERIOR ao PAC)
Art.9º-A. Os condenados por crime praticado, Art.9º-A. O CONDENADO (APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO) por crime
dolosamente, com violência de natureza GRAVE doloso praticado com violência GRAVE* contra a pessoa, bem como por
contra a pessoa, ou por qualquer dos crimes crime contra a VIDA*, contra a LIBERDADE SEXUAL** ou por CRIME
previstos no art.1º da Lei 8.072/1990 (CRIMES SEXUAL CONTRA VULNERÁVEL***, será submetido, obrigatoriamente*,
HEDIONDOS), serão submetidos, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA (ácido
obrigatoriamente, à identificação do perfil desoxirribonucleico), por técnica adequada e indolor, por ocasião do
genético, mediante extração de DNA – ácido INGRESSO no estabelecimento prisional.
desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. * Crime doloso praticado mediante violência grave é aquela do qual
decorre lesão corporal grave, gravíssima ou a morte.
Obs1: quanto aos demais crimes (abaixo indicados nos asteriscos
verdes), podem ser dolosos ou culposos.
Obs2: a identificação genética deixa de ser obrigatória para indivíduos
condenados por qualquer dos crimes hediondos previstos no art.1º da
Lei 8.072/90.
* Crimes contra a vida = arts.121 a 126 do CP.
** Crimes contra a liberdade sexual = arts.213 a 216-A do CP.
*** Crimes sexuais contra vulnerável = arts.217-A, 218, 218-A, 218-B e
218-C.
* Na LEP, a identificação do perfil genético é OBRIGATÓRIA, ou seja, NÃO
DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.

§5º A amostra biológica coletada SÓ poderá ser utilizada para o ÚNICO


e EXCLUSIVO fim de permitir a identificação pelo perfil genético, NÃO
estando autorizadas as práticas de fenotipagem genética ou de busca
familiar. à Dado o caráter invasivo da identificação do perfil genético,
não se pode admitir sua utilização para outros fins.

§6º Uma vez identificado o perfil genético, a amostra biológica recolhida


nos termos do caput deste artigo deverá ser correta e imediatamente
DESCARTADA, de maneira a impedir a sua utilização para qualquer

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outro fim. à Para Renato Brasileiro, este dispositivo está em
consonância com o anterior §5º e seu veto foi corretamente derrubado
pelo Congresso Nacional. Obs: trata-se de norma especial, pois, em
regra, o vestígio deve ser preservado (cadeia de custódia).

§7º A COLETA da amostra biológica e a ELABORAÇÃO do respectivo


laudo serão realizados por PERITO OFICIAL. à Quanto à realização do
laudo, não há dúvida acerca de necessidade de ser elaborado por um
perito oficial. A novidade diz respeito à coleta da amostra biológica, que
também precisa ser feita por perito oficial.
ATENÇÃO! Não houve nenhuma alteração no art.5º, parágrafo único, da
Lei 12.037/09. Por isso, para Renato Brasileiro, na Lei de Identificação
Criminal, a coleta da amostra biológica NÃO precisa ser feita por perito
oficial.

SE LIGA! Essa diferenciação se dá, pois:


i) no caso da LEP, o preso já foi condenado com trânsito em julgado e
está entrando no estabelecimento prisional, onde deve ter um perito
oficial.
ii) no caso da Lei 12.037/09, a coleta é feita no local do crime, onde é
mais difícil que esteja presente um perito oficial.

Obs: Trata-se de norma especial em relação ao art.158-C, caput, do CPP,


segundo o qual a coleta de vestígios deverá ser realizada
preferencialmente por perito oficial.

8. Reaquisição do bom comportamento para fins de progressão de regimes

LEP, Art.112, §7º O BOM COMPORTAMENTO É READQUIRIDO após 1 ano da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento
do requisito temporal exigível para obtenção do direito.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao dispor que o bom comportamento, para fins de progressão de regime, é
readquirido após 1 ano da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do
direito, CONTRARIA O INTERESSE PÚBLICO, tendo em vista que a concessão da progressão de regime depende da satisfação de
requisitos não apenas objetivos, mas, sobretudo de ASPECTOS SUBJETIVOS, consistindo este em BOM COMPORTAMENTO
CARCERÁRIO, a ser comprovado, a partir da análise de TODO O PERÍODO DA EXECUÇÃO DA PENA, pelo diretor do
estabelecimento prisional. Assim, EVENTUAL PRETENSÃO DE OBJETIVAÇÃO DO REQUISITO VAI DE ENCONTRO À PRÓPRIA
NATUREZA DO INSTITUTO, já pré-concebida pela Lei 7.210/84, além de poder gerar a percepção de impunidade com relação às
faltas e ocasionar, em alguns casos, o cometimento de injustiças em relação à concessão de benesses aos custodiados”.

Renato Brasileiro CONCORDA com as razões do veto. Mas este veto foi derrubado, então vamos entender melhor esse
dispositivo!
O art.112 da LEP – que trata da progressão de regime - foi alterado drasticamente pelo Pacote Anticrime. Os requisitos
objetivos para a progressão de regime estão previstos nos incisos do art.112 (incs.I ao VIII). Mas, para progredir, também é
necessário a presença do requisito SUBJETIVO (lembrar da juris do STF que diz que, em situações excepcionais, o juiz pode
determinar o exame criminológico – SV 26 e Súmula 439 do STJ), que é o bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento.

LEP, Art.112, §1º Em TODOS os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar BOA CONDUTA
CARCERÁRIA, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

Progressão de regime à requisitos objetivos + requisito objetivo. Dito isto, após lermos novamente o §7º do art.112 da
LEP, percebemos que este dispositivo causa uma confusão, pois a sua redação é muito ruim. Numa primeira leitura, este §7º nos
passa a ideia de que o bom comportamento é adquirido automaticamente com o decurso de 1 ano contado da ocorrência do
fato ou, antes, desde que tenha cumprido o requisito temporal para obtenção do direito. Assim, ao “automatizar”, fica
parecendo que está se afastando o próprio requisito subjetivo em si.
Para Renato Brasileiro, esta não é a melhor interpretação a ser dada ao §7º do art.112 da LEP. Se interpretarmos da
forma explicada no parágrafo anterior, estaremos retirando a análise do mérito do condenado – que é algo inerente à própria
noção de progressão da pena – violando, assim, o princípio da individualização da pena, em sede de execução penal.

@dicas.exconcurseira 8
Então, como devemos, finalmente, entender este §7º? Para Renato Brasileiro, este §7º trata da
caducidade/decadência/reabilitação para eventuais faltas (leves, médias ou graves) cometidas pelo condenado. Quando a lei
fala “o bom comportamento é readquirido”, ela está, na verdade, concedendo um PRAZO DE REABILITAÇÃO, ou seja, um prazo
de caducidade para eventual falta pretérita por ele cometida, sem prejuízo da necessidade de se analisar o mérito do
condenado para ter direito à progressão.
Um argumento para confirmar que a interpretação do prof. Renato Brasileiro realmente é a melhor: topograficamente,
observe que o §6º, que vem logo antes do §7º (óbvio), trata do cometimento de falta grave. Vejamos.

LEP, Art.112, §6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o prazo para a
obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo terá
como base a pena remanescente.

Obs: este §6º consolida a orientação jurisprudencial estampada na Súmula 534 do STJ.

Na prática, o “bom comportamento” deixa de ter por objeto a análise da integralidade do período de execução da
pena, focando tão somente, pelo menos em tese, no período de 1 ano imediatamente anterior à concessão do benefício, ou até
mesmo antes desse período de 1 ano, se acaso tiver havido o cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do
direito (e desde que o bom comportamento carcerário seja comprovado pelo diretor do estabelecimento).

9. (Im)possibilidade de instalação de dispositivos de captação ambiental na CASA DO INVESTIGADO

O Pacote Anticrime positivou, dentro do art.8º-A da Lei 9.296/96, a chamada INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL. Apesar de
existir controvérsia a respeito, para Renato Brasileiro, o art.8º-A da Lei 9.296/96 abrange não apenas a INTERCEPTAÇÃO
AMBIENTAL, como também a ESCUTA AMBIENTAL.

Obs1: CUIDADO à o art.8º-A NÃO abrange a gravação ambiental clandestina.

Obs2: a captação ambiental, antes do PAC, estava (e ainda é) prevista como meio de obtenção de prova na Lei de Organizações
Criminosas, mas esta não disciplinava o seu regramento.

INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL ESCUTA AMBIENTAL GRAVAÇÃO AMBIENTAL CLANDESTINA


É a captação feita por um TERCEIRO, no É uma captação que também é feita É feita por um dos INTERLOCUTORES
ambiente em que ocorre a por um TERCEIRO, porém COM O (sem interferência de terceiro), SEM A
comunicação/ação, sem o CONHECIMENTO DE UM DOS CIÊNCIA do outro interlocutor.
conhecimento NENHUM dos interlocutores.
interlocutores.

Lei 9.296/96, Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser AUTORIZADA PELO JUIZ, a requerimento da
autoridade policial ou do Ministério Público, a “CAPTAÇÃO AMBIENTAL” DE SINAIS ELETROMAGNÉTICOS, ÓPTICOS ou
ACÚSTICOS, quando:
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 anos ou em infrações penais conexas.
§1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o LOCAL E A FORMA DE INSTALAÇÃO* do dispositivo de captação
ambiental.

Para Renato Brasileiro, como já dito:

INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL
EM SENTIDO ESTRITO
CAPTAÇÃO AMBIENTAL
(art.8º-A da Lei 9.296/96)

ESCUTA AMBIENTAL

* É aqui que surge o problema: será que eu posso instalar os dispositivos eletrônicos no interior da casa do indivíduo?
Sobre este tema, temos o §2º do art.8º-A da Lei 9.296/96. Vejamos.

@dicas.exconcurseira 9
Lei 9.296/96, Art.8º-A, §2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária, por meio
de OPERAÇÃO POLICIAL DISFARÇADA ou no PERÍODO NOTURNO, EXCETO NA CASA, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º
da Constituição Federal (INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO).

Este §2º foi vetado pelo Presidente, mas este veto foi posteriormente derrubado pelo Congresso Nacional.

Razões do veto: “A propositura legislativa gera INSEGURANÇA JURÍDICA, haja vista que, ao mesmo tempo em que admite a
instalação de dispositivo de captação ambiental, ESVAZIA O DISPOSITIVO ao retirar do seu alcance a ‘casa’, nos termos do inciso
XI do art.5º da Lei Maior. Segundo a doutrina e a jurisprudência do STF, o conceito de ‘casa’ deve ser entendido como qualquer
compartimento habitado, até mesmo um aposento que não seja aberto ao público, utilizado para moradia, profissão ou
atividades, nos termos do art.150, §4º, do CP (v.g. HC 82.788, Relator Min. Celo de Mello, 2ª Turma, j. 12/04/2005)

O §2º do art.8º-A da Lei 9.296/96 agora está valendo! Então, qual a interpretação deve ser dada a ele? É possível ou
não instalar dispositivo de captação ambiental na casa do indivíduo? Se for possível, será à noite ou somente durante o dia
durante operação policial disfarçada?
Já dá para antever o surgimento de, ao menos, 3 correntes sobre este §2º.
1ª corrente: impossibilidade de instalação de dispositivos de captação ambiental no interior da casa, inclusive durante o dia.
Interpretação pro reo. Quando a lei excetua “a casa”, ela está excetuando a casa como um todo, ou seja, jamais é possível
instalar um dispositivo de captação ambiental dentro da casa, seja por operação policial disfarçada, seja no período diurno ou
noturno. Esta interpretação tutela a inviolabilidade do domicílio, da intimidade e da vida privada dos cidadãos.
Para Renato Brasileiro, esta não parece ser a melhor orientação. Não é possível interpretar a lei de modo a se chegar a
conclusões absurdas. Adotando-se a interpretação da 1ª corrente, conclui-se que a Lei 9.296/96 passou a regulamentar a
interceptação ambiental (ótimo), mas não a permite que seja feita no interior do domicílio (complicado, pois é justamente no
interior do domicílio onde mais se precisa ser feita interceptação ambiental). Obs: em tese, se o local é público ou privado,
mas aberto ao público, não há necessidade de autorização judicial prévia.

2ª corrente: possibilidade de instalação de dispositivos de captação ambiental no interior da casa, exclusivamente durante o
dia. Para Renato Brasileiro, esta parece ser a intenção do legislador.
Quando o legislador diz “exceto na casa”, ele está excepcionando o período noturno, ou seja, é possível instalar
dispositivos eletrônicos, inclusive na casa, mas, neste caso, não poderei fazer no período noturno (das 21h às 05h), apenas
durante o dia.

3ª corrente: possibilidade de instalação de dispositivos de captação ambiental no interior da casa, inclusive no período
noturno (posição de Renato Brasileiro).
O STF tem um entendimento importantíssimo, onde ele entendeu ser possível a chamada “exploração de local” (caso
concreto envolvendo escritório de advocacia, onde os advogados estariam envolvidos na prática de crimes). O Supremo
entendeu que, dada a situação excepcionalíssima (leia-se: durante o dia, as pessoas estariam, certamente, trabalhando no
local), estaria justificado o ingresso no escritório de advocacia no período noturno para a instalação dos dispositivos eletrônicos.
Aqui, o STF trabalhou em cima do princípio da proporcionalidade, sob a ótica da vedação à proteção deficiente. Vejamos o
julgado.

STF: “(...) PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia.
Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de equipamento. Medidas autorizadas por decisão
judicial. Invasão de domicílio. Não caracterização. Suspeita grave da prática de crime por advogado, no escritório, sob o
pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada pela inviolabilidade constitucional. Inteligência do art.5º, X e XI, da
CF, art.150, §4º, III, do CP e art.7º, II, da Lei 8.904/94. (...) Não opera a inviolabilidade do escritório de advocacia, quando o
próprio advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido e consumado no âmbito desse local de trabalho,
sob pretexto de exercício da profissão (...)”. (STF, Pleno Inq nº 2.424, Relator Min. Cezar Peluzo, DJe 26.3.2010).

O §2º do art.8º-A da Lei 9.296/96 é uma reação legislativa a essa orientação do STF.
Por mais que essa 3ª corrente seja extremamente controversa, a pergunta que fica é: se você adota a 2ª corrente e
entende que só é possível ingressar na casa durante o dia para instalação dos dispositivos eletrônicos, como isso será feito na
prática? Não tem como, pois o indivíduo vai ficar desconfiado da entrada de agentes policiais (caso estes não queiram dizer a
razão por que está adentrando em sua residência). Aliás, para entrar em uma casa durante o dia, o policial deverá mostrar o
mandado. Fica difícil não despertar na pessoa a suspeita de que ele está sendo alvo de investigação, mais especificamente de
captação ambiental.
Resta esperar o posicionamento do STF.

10. (Im) possibilidade de utilização da gravação ambiental clandestina exclusivamente em favor da defesa

Aqui está o ponto mais controverso de todos.


@dicas.exconcurseira 10
Lei 9.296/96, Art.8º-A, §4º, A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade
policial ou do Ministério Público PODERÁ SER UTILIZADA, em matéria de DEFESA, quando demonstrada a INTEGRIDADE DA
GRAVAÇÃO.

Lembrando: o art.8º-A, caput, cuida da interceptação ambiental e da escuta ambiental (opinião de Renato Brasileiro).
Aí vem o §4º, “de bobeira”, e trata da GRAVAÇÃO AMBIENTAL CLANDESTINA.

INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL ESCUTA AMBIENTAL GRAVAÇÃO AMBIENTAL CLANDESTINA


É a captação feita por um TERCEIRO, no É uma captação que também é feita É feita por um dos INTERLOCUTORES
ambiente em que ocorre a por um TERCEIRO, porém COM O (sem interferência de terceiro), SEM A
comunicação/ação, sem o CONHECIMENTO DE UM DOS CIÊNCIA do outro interlocutor.
conhecimento NENHUM dos interlocutores.
interlocutores.

INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL EM SENTIDO ESTRITO


Art.8º, caput
ESCUTA AMBIENTAL
Lei 9.296/96

Art.8º, §4º GRAVAÇÃO AMBIENTAL CLANDESTINA

Para Renato Brasileiro, quando o dispositivo fala “poderá ser utilizada, em matéria de defesa”, ele está se referindo à
DEFESA DO ACUSADO/A FAVOR DO ACUSADO. Assim, a gravação ambiental clandestina poderá ser utilizada exclusivamente
em favor da defesa.
Este §4º do art.8º-A da Lei 9.296/96 havia sido vetado pelo Presidente da República. Vamos ver as razões do veto.

Razões do veto: “A propositura legislativa, ao limitar o uso da prova obtida mediante a captação ambiental apenas pela defesa,
CONTRARIA O INTERESSE PÚBLICO uma vez que UMA PROVA NÃO DEVE SER CONSIDERADA LÍCITA OU ILÍCITA UNICAMENTE
EM RAZÃO DA PARTE QUE BENEFICIARÁ, sob pena de ofensa ao PRINCÍPIO DA LEALDADE, DA BOA-FÉ OBJETIVA E DA
COOPERAÇÃO entre os sujeitos processuais, além de representar um RETROCESSO LEGISLATIVO NO COMBATE AO CRIME.
Ademais, o dispositivo vai de encontro à jurisprudência do STF, que admite utilização como prova de infração criminal a
captação ambiental feita por um dos interlocutores, sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do Ministério Público,
quando demonstrada a integridade da gravação (v.g. Inq-QO 2.116, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Min. Ayres Britto,
publicado em 29/02/2012, Tribunal Pleno).

Renato Brasileiro CONCORDA com as razões do veto.

A gravação ambiental clandestina é uma PROVA LÍCITA ou ILÍCITA?


1ª corrente (Luís Flávio Gomes): é prova ilícita, pois viola a boa-fé, afinal, o outro interlocutor não sabe da gravação.
2ª corrente: pelo menos em regra, trata-se de prova lícita, pois se o indivíduo pode ir a público ou a juízo relatar uma
conversa que teve com outra pessoa, por que ele não poderia documentar esta conversa, gravando-a? O que dizer de casos em
que o indivíduo é vítima de um delito e grava a conversa, em verdadeiro estado de necessidade justificante?
Esta segunda corrente é amplamente adotada pelos Tribunais Superiores.

Tese de Repercussão Geral fixada no tema n. 237: É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos
interlocutores sem conhecimento do outro. Paradigma: STF, Pleno, RE 583.937 QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 19.11.2009.

Trecho extraído da obra de Cleber Masson: Reputa-se lícita, pelo menos em regra, a gravação ambiental clandestina,
feita sem ciência do outro interlocutor, passível de utilização tanto em favor da acusação quanto em favor da defesa, mesmo
que desprovida de prévia autorização judicial, naquelas hipóteses já sedimentadas pela jurisprudência: a) como meio de defesa;
b) em razão de investida criminosa (v.g., vítima de concussão grava a conversa com o funcionário público); c) se não há reserva
da conversação, leia-se, obrigação de guardar segredo; d) quando não restar caracterizado violação de sigilo, não havendo de se
cogitar uma suposta (e inexistente) violação do direito à privacidade nesses casos.

@dicas.exconcurseira 11
Assim, é firme a doutrina e a jurisprudência em relação da licitude da gravação ambiental clandestina.
Mas, como o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional, a captação ambiental clandestina (que, para a maioria, é uma
prova lícita) só poderá ser utilizada pela defesa.
Questões controversas:
• Violação da vida privada ou da intimidade e (des)necessidade de prévia autorização judicial à não há tal violação,
pois a CF, em relação à vida privada e à intimidade – protegidas pelo art.5º, X, da CF -, nada fala a respeito da
necessidade de autorização judicial para sua violação (como faz no caso da interceptação telefônica, no art.5º, inc.XII,
da CF).

• Princípio da comunhão das provas à quando a prova é produzida pela parte, ela pode ser aproveitada por todas as
partes. Se estamos diante de uma prova lícita, como é possível que só se admita a utilização apenas em favor da
defesa? Isso viola o princípio da paridade de armas e da proporcionalidade.

• Princípio da proporcionalidade à a prova é lícita. Assim sendo, ela tem que valer para as duas partes. Se estivéssemos
falando de uma prova ilícita, aí sim (neste caso, à luz da proporcionalidade, a prova ilícita só é admitida pro reo).

• (Des)necessidade de conhecimento prévio da autoridade policial e do Ministério Público à o §4º do art.8º-A da Lei
9.296/96 é tão mal redigido que, fazendo uma interpretação a contrario senso, é como se ele dissesse que a captação
ambiental feita sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do MP NÃO PODE ser utilizada. Mas, se a
gravação ambiental sequer precisa de autorização judicial prévia, pra que preciso levar isso ao conhecimento do
delegado de polícia ou do MP? Pra que, se eles não têm nenhuma atribuição em relação a tal medida?

• Demonstração da integridade da gravação à isto é algo redundante, pois a cadeia de custódia deve ser observada
para toda e qualquer evidência, à luz dos arts.158-A a 158-F do CPP.

Para Renato Brasileiro, resta aguardar a manifestação do STF, de quem ele espera a declaração de inconstitucionalidade da
norma.

11. Vigência dos vetos derrubados pelo Congresso Nacional

A Lei 13.964/19 teve seus dispositivos sancionados pelo Presidente da República (tirando os 24 vetos).
A lei foi publicada no dia 24 de dezembro de 2019, com vacatio legis de 30 dias.
A vigência se deu em 23/01/2020.
Hoje, passados 15 meses da vigência dos dispositivos sancionados pelo Presidente da República, temos os vetos
derrubados.
Será que os dispositivos vetados, cujos vetos foram derrubados pelo Congresso Nacional, já entram em vigor de
imediato? Ou deve ser observada a vacatio legis de 30 dias? Ou será que devemos dar a eles efeitos retroativos (já estariam
valendo desde 23 de janeiro de 2020)? Vejamos esse julgado do STF para nos ajudar a responder.

STF: “(...) Quando há veto parcial, e a parte vetada vem a ser, por causa da rejeição dele, promulgada e publicada, ela se integra
na lei que decorreu do projeto. Em virtude dessa integração, a entrada em vigor da parte vetada SEGUE O MESMO CRITÉRIO
ESTABELECIDO PARA A VIGÊNCIA DA LEI A QUE ELA FOI INTEGRADA, considerando, porém, o dia de publicação DA PARTE
VETADA QUE PASSOU A INTEGRAR A LEI, e não, o desta”. (STF, 2ª Turma, RE 85.950/RS, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 31.13.1976)

É necessário aguardar a data da publicação da rejeição dos vetos pelo Congresso Nacional. A partir desta data é que a
derrubada dos vetos começará a valer. ATENÇÃO! A publicação da derrubada foi no dia 30/04/2021 (um dia após a aula do prof.
Renato Brasileiro). A partir do dia 30/04/21, começa a contar o prazo da vacatio legis de 30 dias.
30/04/2021 + 30 dias de vacatio à entrada em vigor em 29 DE MAIO DE 2021.

Concluindo: a lei 13.964/19 terá dois prazos de vigência:


1º prazo de vigência à 23/01/2020 à se aplica aos dispositivos sancionados pelo Presidente da República.
2º prazo de vigência à 29/05/2021 à se aplica aos dispositivos que entraram em vigor, após a derrubada dos vetos.

@dicas.exconcurseira 12

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