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Receitas

e sabores
dos territórios
rurais
Receitas
e sabores
dos territórios
rurais
TÍTULO
Receitas e Sabores dos Territórios Rurais

Edição
MINHA TERRA – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local
Rua Bartolomeu Dias, 172 D 1.º Esq.
1400-031 Lisboa
Telefone 217819230
www.minhaterra.pt

Coordenação editorial
Luís Chaves

Edição de conteúdos
Paula Matos dos Santos

Pesquisa, redação e revisão de conteúdos


Associação para o Estudo e Promoção das Artes Culinárias As Idades dos Sabores

Fotografia
As imagens foram gentilmente cedidas pelos GAL/ADL e seus parceiros territoriais.
Os créditos encontram-se listados no final da publicação.

Design e Paginação
Empower

Impressão e acabamento
Europress

Tiragem
2 000 exemplares

Depósito Legal

ISBN
978-989-98813-0-3

Impresso em 2013
Receitas
e sabores
dos territórios
rurais
Índice por territórios

Terras do sousa terra fria transmontana


Lampreia à de Entre-os-Rios, 16 Caldo de Cascas, 52
Basulaque, 16 Butelo com Cascas, 52
Capão à Freamunde, 17 Posta Mirandesa, 53
Sopa seca, 18 Javali no Pote com Castanhas, 54
Beijinhos de amor, 18 Bola Mirandesa, 55
Pão de Ló de Margaride, 19
terra quente
Alto Tâmega Pasta ou Pastada de Azeitonas, 58
Caldo de Feijão Vermelho, 22 Laranja Azeitada, 58
Trutas à Moda de Boticas, 22 Alheira de Mirandela com Grelos Salteados, 59
Guisado de Míscaros ou Tortulhos, 23 Lebrada das Vindimas ou Lebrada Castelhana, 60
Milhos à Moda de Chaves, 23 Tordos Fritos ou Fritada dos Passarinheiros, 61
Cozido Barrosão, 24
Pudim de Castanha, 25 douro verde
Bacalhau à Zé Calçada, 64
montemuro, arada e gralheira Arroz de Favas com Frango Alourado, 64
Caldo Caldinho ou Conduto, 28 Anho Assado com Arroz de Forno, 65
Trutas de Escabeche do Rio Paiva, 28 Naco de Vitela Arouquesa, 66
Sável no Forno, 29 Amarantinos, 66
Vitela Arouquesa Assada à Regional com Arroz de Forno, 29 Cavacas de Resende, 67
Feijoada no Forno, 30
Morcelas Doces, 30 douro superior
Castanha Doce de Arouca, 31 Cogumelos Grelhados, 70
Omelete de Espargos Silvestres, 70
vale do minho Sopas de Tomate, 71
Caldo Verde, 34 Migas de Peixe do Rio, 71
Bacalhau à Minhota, 34 Ensopado de Borrego Terrincho, 72
Lampreia do Minho Fumada Recheada, 35 amêndoa coberta de moncorvo, 72
Cabrito Assado com Arroz de Cabrito, 36 Canelões do PeNedo dos Castelhanos, 73
Leite-Creme, 37
terras de basto
terras de santa maria Caldo Verde com Feijão Amarelo, 76
Caldo de Nabos de Gondomar, 40 Bacalhau à Freixieiro, 76
Papas de S. Miguel, 40 Bacalhau com Batata a Murro, 77
Vitela Assada no Forno a Lenha, 41 Couves com Feijões, 77
Arroz de Cabidela, 41 Milhos Ricos, 78
Pudim de Pão, 42 Posta Barrosã ou Maronesa, 78
Sopas Secas, 42 Cabrito Assado no Forno, 79
Fogaça da Feira, 43
vale do ave
Terras Altas do Homem, Cávado e Ave Vitela Assada à Moda de Fafe, 82
Caurdo ou Caldo à Lavrador, 46 Couves com Feijão Amarelo, 82
Bacalhau à S. Julião, 46 Barquilhos, 83
Cozido de Terras de Bouro, 46 Pão de Ló de Fafe, 84
Arroz de Cabidela de Pica-no-Chão, 47 Toucinho do Céu de Guimarães, 84
Cabritinho das Encostas de Mixões da Serra, 48 Tortas de Guimarães, 85
Papas de Sarrabulho, 48
Pudim do Abade de Priscos, 49
bairrada e mondego Trutas de Escabeche, 133
Sopa Gandaresa, 90 Feijoca Serrana com Arroz de Carqueja, 134
Arroz de Lampreia, 90 Arroz de Carqueja, 134
Peixes do Rio e Enguias Fritas, 91 Bolo Negro de Loriga, 135
Camarão da Costa da Figueira, 91 Requeijão com Doce de Abóbora, 135
Leitão da Bairrada, 92
Pastéis de Tentúgal, 93 pinhal interior sul
Achigã Grelhado, 138
alta estremadura Arroz de Lampreia, 138
Morcela de Arroz de Leiria, 96 Cabrito Estonado, 139
Sopa do Vidreiro, 97 Maranho, 140
Chícharos com Bacalhau Assado Regado com Azeite, 97 Bucho Recheado, 140
Arroz de Marisco, 98 Cartuchinhos de Cernache do Bonjardim, 141
Leitão Assado à moda da Boa Vista, 98 Tigelada de Mel, 141
Brisas do Lis, 99
raia centro norte
Dão, lafões e alto paiva Caldo de Grão, 144
Migas com Filetes de Polvo, 102 Cabrito Assado, 144
Trutas de Escabeche, 102 Morcela da Guarda, 145
Rancho à Moda de Viseu, 103 Bucho Raiano, 146
Vitela à Manhouce, 103 Requeijão com Doce de Abóbora, 147
Nacos de Vitela de Lafões, 104 Doce de Abóbora, 147
Manjar de Oliveira de Frades, 104
Pastéis de Vouzela, 105 raia histórica
Papas Laberças, 150
estrela-sul Lagarada, 150
Cherovias Fritas, 108 Carneiro à Beirão, 151
Caldudo, 108 Cavacas de Pinhel, 152
Bacalhau com Cereja, 109 Sardinhas Doces de Trancoso, 153
Arroz de Zimbro, 109
Cabrito Recheado, 110 cova da beira
Lebre com Feijão, 110 Pastel de Molho da Covilhã, 156
Papas de Carolo de Milho Branco, 111 Cabrito Assado na Brasa, 157
Ensopado de Cabra do Fundão, 157
beira serra Panela do Forno, 158
Trutas à Moda do Rio Ceira, 114 Papas de Carolo, 159
Bucho Recheado à Moda de Folques, 115 Bolacha de Cerveja, 159
Chanfana, 116
Tigelada de Torrozelas, 117 ribatejo norte
Carolo, 117 Sopa Verde, 164
Sopa de Peixe do Rio Tejo, 164
aguieira, dão e caramulo Migas de Bacalhau, 165
Peixe do Rio com Molho de Escabeche, 120 Cabrito de Torres Novas, 165
Lampantana, 120 Fatias de Tomar, 166
Carolos em Vinho e Alho, 121 Tigeladas, 167
Cabrito Assado à Moda da Serra do Caramulo, 121
Coelho à Caçador, 122 península de setúbal
Bolo de Cornos, 123 Sopa de Saramagos, 170
Torta de Laranja, 123 Caldeirada de Sesimbra, 170
Carne de Porco com Enguias, 171
beira interior sul Ostras de Setúbal, 172
Acelgas Fritas, 126 Pombo Estufado, 173
Sopa de Feijão-Frade, 126 Fogaças de Alcochete, 173
Miga de Peixe do Rio com Poejo, 127
Arroz de Fressura, 128 ribatejo
Feijoada de Lebre de Monfortinho, 128 Sopa de Peixe do Rio, 176
Papas de Carolo, 129 Tiborna de Bacalhau, 176
Fataça na Telha, 177
serra da estrela Cabrito Assado no Forno, 178
Tosta de Pão de Centeio com Queijo Serra e Mel de Urze, 132 Celestes de Santa Clara, 178
Canja de Borrego, 132 Pão de ló de Rio Maior, 179
charneca ribatejana Boleima, 222
Sopa da Pedra, 182 Bolo de Mel, 223
Ensopado de Enguias, 182 Bolos de Folha, 223
Fritada de Camarão com Açorda, 183
Naquinhos de Vitela Brava com Carqueja, 184 alentejo central
Pica-Pau, 184 Cilarcas com Ovos, 226
Coelho Bravo Frito, 185 Caspacho com Carapaus Fritos, 226
Patudos, 185 Cação Alimado (Coentrada), 227
Lombo de Porco com Amêijoas, 228
oeste Perdiz de Escabeche, 229
Caldeirada de Peniche, 188 Fatias do Céu, 229
Choquinhos à Lagoa de Óbidos, 189
Frango na Púcara, 189 margem esquerda do guadiana
Pastéis de Feijão, 190 Sopa de Beldroegas, 232
Cavacas das Caldas, 190 Açorda de Bacalhau, 233
Areias Brancas, 191 Migas de Carne, 233
Ensopado de Borrego, 234
norte alentejo Queijadas de Requeijão, 235
Cabeça de Xara, 196
Sarapatel, 196 Centro Alentejo
Assada de Peixe, 197 Açorda de Beldroegas, 238
Arroz Amarelo com Galinha, 198 Açorda de Peixe do Rio, 238
Sopa de Lebre, 198 Arroz de Pombo, 239
Sericaia com Ameixas d’Elvas, 199 Coelho Panado com Esparregado de Rama de Nabo, 240
Bolo Conde de Alcáçovas, 241
litoral alentejano Bolo Real, 241
Sopa de Lebre, 202
Ensopado de Enguias, 202 terras do baixo guadiana
Arroz de Lagosta, 203 Sopas de Tomate, 246
Miolos de Porco à Alentejana, 204 Ensopado de Enguias, 246
Ensopado de Borrego, 204 Papas com Conquilhas, 247
Alcomonias, 205 Fritada de Porco, 248
Perdiz Estufada, 248
Baixo alentejo Torta de Alfarroba, 249
Açorda à Alentejana, 208
Cozido de Grão, 209 interior algarve central
Migas com Entrecosto, 210 Mioleira de Porco, 252
Ensopado de Borrego, 210 Sopa de Grão com Acelgas, 252
Trouxas de Ovos, 211 Papas de Milho com Sardinhas, 253
Galo de Cabidela, 254
alentejo sudoeste Perdiz Cerejada, 254
Tiborna de Presunto de Porco Alentejano, 214 Delícia de Abóbora, 255
Sopa de Espinafres com Queijo Fresco, 215
Carrasquinhas com Feijão Branco e Bacalhau, 215 sudoeste
Bochechas de Porco Alentejano à Caçador, 216 Tiborna, 258
Doce de Gila, 217 Papas de Milho com Mexilhões, 258
Folhados de Gila, 217 Lombo de Porco na Banha, 259
Couve à Monchique, 259
Alto Alentejo Milhos com Feijão, 260
Arroz de Lampreia, 220 Pudim de Mel, 260
Migas de Espargos com Carne Frita, 221 Bolo do Tacho, 261
Cabrito Assado no Forno, 222
apresentação

A gastronomia portuguesa, reconheci- promovendo a candidatura de receitas


damente de elevada qualidade, constitui dos seus territórios de intervenção ao
uma parte importante do património cul- concurso das “7 Maravilhas da Gastrono-
tural do nosso país. mia” e realizando ações de dinamização
Os pratos típicos de cada região são re- da economia local, criando roteiros gas-
sultado da história desses territórios e das tronómicos, festivais, concursos e outras
populações que neles vivem, assim como, atividades que animaram os restaurantes
de um modo muito particular, das carac- e a população.
terísticas edafoclimáticas, da agricultura, A edição deste livro é o corolário desse
da pecuária e da pesca que aí vêm sendo processo, que envolveu as Associações de
realizadas ao longo dos tempos. Desenvolvimento Local, mas também as
Constituindo um relevante ativo eco- suas redes locais de associados, desde res-
nómico, a gastronomia portuguesa tem taurantes, escolas, cozinheiros profissio-
sido também um fator de desenvolvimen- nais e amadores, detentores de receitas e
to, valorizando os produtos locais com de fotografias. Nele se apresentam receitas
que os pratos são confecionados e dina- de 40 territórios rurais, áreas de interven-
mizando modelos de exploração turística ção das Associações de Desenvolvimento
que respeitem o ambiente e o património. Local que aderiram à iniciativa. A parce-
Por estes motivos, a Minha Terra – ria com a Associação para o Estudo e Pro-
Federação Portuguesa de Associações moção das Artes Culinárias As Idades dos
de Desenvolvimento Local não poderia Sabores permitiu concretizar um trabalho
deixar de se associar à iniciativa “7 Ma- que junta o conhecimento gastronómico à
ravilhas da Gastronomia”, que divulgou sua inserção no contexto de cada um dos
e valorizou muitas das boas receitas da territórios e dos seus costumes.
gastronomia nacional, trazendo maior vi- O resultado dessa parceria e de um
sibilidade pública aos pratos tradicionais envolvente trabalho em rede é este livro,
e estimulando a população e os restauran- que esperamos ser um contributo para
tes a recolocarem estes pratos no centro valorizar o património gastronómico e
da alimentação nacional. trazer os paladares mais apetitosos para as
A maioria das Associações de Desen- mesas portuguesas.
volvimento Local associadas na Minha
Terra tiveram também, por seu lado, Regina Lopes
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um papel ativo em todo este processo, Presidente da Federação Minha Terra



RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Nota introdutória

Decido começar por onde deveria, talvez, que, revelando as identidades locais, inte-
terminar: sublinhar as palavras de Stefa- gra um processo de desenvolvimento po-
no Padulosi – “levar um garfo ou uma co- tencial e sustentável de produção agrícola
lher à boca é a última etapa dum percurso de cada território. Sendo a gastronomia
demarcado pela história e pela geografia”. sinónimo de excelência e especificidade
E eu acrescentaria: pelas tradições, pelas dos produtos utilizados, estimula neces-
crenças, pela carência ou pela abundân- sariamente o desejo de produzir mais e de A alimentação
cia, pela necessidade ou pela festa, pela melhor qualidade. cimenta
partilha. De facto, a identificação dos produtos
Julgo que esta formulação enquadra locais, da sua especificidade e dos modos o território.”
bem o lugar da cozinha no contexto dum próprios da sua confeção e consumo são Stéphen Bernary
território, porque aqui a cozinha não se tarefas urgentes face à obrigatoriedade
dissocia do seu meio mas é nele que se de os Estados-Membros da UE cumpri-
inspira e se alimenta. A noção de territó- rem regulamentos e normas rígidas que,
rio implica uma interação, uma dialética frequentemente, não consideram as exce-
entre a paisagem, o clima, as atividades ções para pequenos agricultores, de modo
dos homens, as suas práticas, o seu saber- a garantir a preservação de tesouros gas-
-fazer, e ainda o resultado dessas mesmas tronómicos assentes em técnicas ances-
práticas: os produtos agrícolas locais. trais e tradições que não podem obedecer
A propósito, Laurence Berard afirma: a padrões uniformizados.
“Existe uma grande familiaridade entre O mais importante é, assim, o traba-
os produtos e as pessoas. Importa identi- lho de estudo e análise que permite fazer
ficar estas produções para as dar a conhe- reconhecer uma cultura gastronómica
cer e melhor as valorizar: assim podemos que reflete um conhecimento e uma práti-
contribuir para voltar a dar sentido ao ca de séculos de adaptação a um território
território”. e ambiente específicos. Só esse trabalho
Digamos, pois, que cada território é pode servir de fundamento a uma defesa
um espaço socialmente decifrado, apro- intransigente dum património gastronó-
priado e construído. mico local.
Neste livro é o conceito de território Acresce que o desconhecimento e a
que ganha destaque, entendido que deve não valorização de cada um destes pa-
ser como um campo complexo que obriga trimónios conduz a que outros produtos

11
a um método de análise e de interpretação e outras variedades, consideradas mais
multidimensional: recursos ambientais, rentáveis a curto prazo, venham a substi-


economia, cultura, política, história e tuir as culturas tradicionais, destruindo
identidade, tradições e saberes, informa- a diversidade e os equilíbrios ambien-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
ção e divulgação. tais. Mas destruindo também a autoes-
É neste contexto que a gastronomia tima das comunidades rurais e dos seus
local recupera algumas das ideias que a recursos.
devem nortear. A cultura alimentar en- São estes recursos que importa pre-
contra a sua diversidade na manutenção servar e, sobretudo, divulgar e promover
e valorização do território, na especifici- para servirem de pilares duma dinâmica
dade e qualidade dos seus produtos, na económica e social, reforçando simulta-
promoção do que é genuíno ao mesmo neamente, a autoestima e o sentimento de
tempo que desenvolve estratégias para a pertença.
sua inserção num espaço mais amplo. Lembro tempos, não muito recuados,
Todo o trabalho de pesquisa e registo em que os produtos e as receitas mais
da cultura alimentar é a base de demons- populares dum território não mereciam
tração da credibilidade desse património figurar na mesa de quem vinha de fora.
Escondia-se o que era específico e carac- pertença, bem como a consciência de que
terístico das gentes ditas do povo e ofe- as mais-valias das sua compras vão ficar
recia-se antes, como sendo melhor, o que naquele território.
era igual em toda a parte. Tempos em que Parece-nos interessante referir aqui
o conceito e a imagem dum território ti- um projecto “que começou a ser recen-
nham sido escamoteados dos cânones que temente desenvolvido pela Universidade
então configuravam o chamado “desen- de Ciências Gastronómicas de Pollenzo,
volvimento”. Nova e compensadora é a em Itália, ligada ao movimento Slowfood,
atual visão duma gastronomia local que se e a que foi dado o nome de “Celeiros da
revela fundamentalmente como um gesto Memória”, onde está implícito o facto de
de identidade, mas também de partilha e os “celeiros terem sido tradicionalmente
de entrega, que desperta, promove e refor- as reservas rurais onde se armazenavam
ça as sociabilidades. os frutos do trabalho de todo um ano….
Como afirma Stéphen Bernary, “A ali- Agora, no século XXI, converteram-se
mentação cimenta o território”. num depósito virtual de vozes, histórias e
Mas a diversidade e a qualidade dos conhecimentos, armazenados para as ge-
produtos alimentares, contribuindo rações futuras”.
para a reputação duma cozinha regional, Acreditamos que este livro poderá
contribui igualmente para aumentar o constituir também um celeiro vivo onde
turismo e a exportação desses mesmos podemos ir buscar alimento que servirá
produtos, permitindo aos consumidores não só de memória para as gerações futu-
reconhecer alternativas seguras e saboro- ras mas também, para o desenvolvimento
sas que se contrapõem a uma produção de e o conhecimento mais vasto, mais rigo-
massa frequentemente mundializada. roso e mais surpreendente desta nossa
É evidente que os produtos dum terri- cultura alimentar e património gastronó-
tório não podem substituir integralmente mico. E é desde já que o poderemos valo-
o mercado dos produtos ditos “de mas- rizar, divulgar e partilhar.
sas”, mas o desenvolvimento da sua pro-
dução e consumo traduzem também uma Lisboa, 2013
nova relação que o consumidor estabelece
com a alimentação local, atribuindo-lhe Maria Proença
um significado cultural e um valor de Associação As Idades dos Sabores
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RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Região Norte
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 13
território
TERRAS DO SOUSA

agricultura continua a desempenhar um resultando a sua tipicidade e originali-


papel complementar na economia das dade das características do solo, clima
famílias, com expressão especialmente e fatores socioeconómicos da região, e
significativa na pecuária, silvicultura e também das peculiaridades das castas au-
vitivinicultura. tóctones da região e do modo de cultivo
Na produção agrícola, a par dos hor- da vinha.
tícolas de cultivo tradicional, assiste-se à O Capão de Freamunde – IGP cons-
valorização de produtos que respondem a titui um dos produtos gastronómicos
uma nova procura por parte dos consumi- mais emblemáticos do território, parti-
dores, tais como cogumelos, kiwi e sumo cularmente na freguesia de Freamunde,
de uva, e também à introdução de novos concelho de Paços de Ferreira. Esta é o
modos de produção, designadamente, o berço da muito antiga tradição referida já
biológico. em documentos do século XV: castra-se o
Intimamente ligado ao mundo rural galo ainda jovem, com três meses de vida,
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destaca-se o artesanato, verificando-se depois de jejuar dia e meio. Esta opera-


que, só no bordado, também ele agora ção, tradicionalmente feita apenas por
certificado, encontramos mais de 600 mulheres, confere à carne do galo uma
artesãos em atividade, que conferem às textura particularmente tenra e torna-a
Terras do Sousa outra forte característica muito saborosa. O capão constitui, pois,
rural. um alimento requintado e muito aprecia-
do, que serve frequentemente de oferta e
PatrimóniO
Caracterização Gastronómico
históricA E O setor vitivinícola tem grande impor-
Geográfica tância na economia deste território, que
é o maior exportador de toda a Região
O território das Terras do Sousa corres- dos Vinhos Verdes. Desempenha ain-
ponde à zona de intervenção do GAL da um papel significativo no setor tu-
ADER-SOUSA – Associação de Desen- rístico, através do enoturismo. O vinho
volvimento Rural das Terras do Sousa. verde, naturalmente leve, fresco e de
Este território localiza-se na área meri- baixo teor alcoólico, é único no mundo,
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dional do Entre Douro e Minho, a nor-


deste da Área Metropolitana do Porto, e

integra os concelhos de Felgueiras, Lou-


sada, Paços de Ferreira, Paredes e Pena-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

fiel.
A região possui grandes poten-
cialidades em termos de património
histórico e arquitectónico-religioso,
cujas igrejas e mosteiros, datando dos
séculos XII e XIII, integram a Rota
do Românico.
No património natural há que assina-
lar elementos identitários da paisagem,
como os cursos de água dos rios Sousa,
Ferreira, Mesio e Vizela.
Ainda que se registe um acentua-
do crescimento do setor secundário, a
que ocupa o lugar do mais comum peru
de Natal na mesa da Consoada. O Melão Casca de
O Melão Casca de Carvalho do Vale Carvalho do Vale do
do Sousa constitui uma variedade distin-
ta, decorrendo a sua especificidade das Sousa constitui uma
condições climáticas e características do variedade distinta,
solo do Vale do Sousa e também da pre-
servação das práticas e saberes de mui- decorrendo a sua
tas gerações de agricultores da região. É especificidade das
muito sumarento, de sabor apimentado e condições climáticas
pouco doce, apresenta uma casca de cor
cinzenta com manchas verdes escuras, e características
tem uma textura reticulada fina a média designado por “milhão”, em que se in- do solo do Vale
e apresenta uma polpa de cor salmão. De cluem as variedades locais Pigarro, Ver-
produção sazonal, é muito procurado em dial de Aperrela e Verdial de Cete, que do Sousa.”
festejos, feiras e romarias da região. lhe conferem características específicas
A Broa do Vale do Sousa constitui na textura do seu miolo. A sua massa Antes de construídas as barragens ha-
um produto endógeno com autenticida- contém também centeio e um tipo es- via grande quantidade de lampreias nos
de cujo processo de qualificação como pecífico de fermento, ou isco. É cozida rios, particularmente no Douro e Tâme-
DOP se encontra em curso. É confecio- em forno de lenha. De modo mais co- ga, o que representava uma mais-valia
nada com variedades tradicionais de mi- mum, tem a forma circular, ligeiramente económica para os residentes. Atualmen-
lho existentes na região, popularmente achatada. te, em Entre-os-Rios (concelho de Pena-
fiel), local de confluência daqueles rios,
já não se pesca lampreia, mas o modo de
a confecionar passou de geração em ge-
ração. Hoje, a famosa Lampreia à Moda
de Entre‑os‑Rios é muito apreciada por
visitantes de todo o país. Os restaurantes
da zona mantiveram o saber nos prepara-
tivos que antecedem a sua confeção.
Também o Pão de Ló de Margaride,
típico de Margaride, concelho de Fel-
gueiras, merece especial destaque. Terá as

15
suas origens nas cozinhas dos monges da
ordem de Cluny, sucessora da ordem de


S. Bento. Começou a ser produzido para
venda no século XVIII, e com tal quali-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
dade que conquistou os paladares da Casa
Real Portuguesa, tornando-se um forne-
cimento oficial. Continua a fabricar-se,
nas belíssimas instalações fundadas no
século XIX por Leonor Rosa e mantidas
até hoje pela família. A excelência do pro-
duto, aliada à técnica e à receita de ori-
gem, garantiu-lhe o sucesso ao longo de
dois séculos e meio.
Peixe carne
Lampreia à moda Basulaque
de entre-os-rios

INGREDIENTES Pica-se a cebola para um tacho e leva- INGREDIENTES


-se ao lume com o azeite. Deixa-se alourar
Para 6 pessoas: muito ligeiramente e junta-se o presunto e Azeite
1 lampreia o salpicão cortados em bocados e um pou- Cebola
500 g de arroz co de líquido da marinada da lampreia. Vinho branco
5 dl de vinho maduro tinto Miúdos e bucho de carneiro
4 dentes de alho Deixa-se apurar um pouco e introduz-se Galinha caseira
1 limão a lampreia. Presunto
1 folha de louro Salpicão
1 cebola Vai-se adicionando a marinada à medi- Pimenta
1,5 dl de azeite da que for preciso. Hortelã
150 g de presunto entremeado
2 rodelas de salpicão Depois de bem apurado, adiciona-se a
Salsa pouco e pouco a água que for necessária PREPARAÇÃO
Sal e pimenta para a calda do arroz.
Num tacho faz-se um refoga-
Quando a calda for a suficiente, junta-se do com cebola e azeite. Quan-
PREPARAÇÃO o arroz, que se deixa cozer. Adiciona-se o do estiver alourado, junta-se
sangue e serve-se imediatamente. um pouco de vinho branco.
Depois de arranjada a lampreia, de que
se aproveita o sangue, abre-se de alto a Colocam-se as carnes e dei-
baixo, retira-se-lhe a cabeça e corta-se em RITOS E HÁBITOS xa-se refogar até tudo estar
postas. bem tenro e apurado.
A lampreia ocupa um lugar de destaque
Coloca-se num alguidar de barro com em todas as ementas no início da prima- Antes de retirar do lume,
o vinho, os dentes de alho cortados ou vera e no período da Páscoa, sobretudo acrescenta-se pimenta a gosto
esmagados, o limão cortado às rodelas, o durante os dias em que se realiza o Festi- e hortelã. Serve-se com batatas
louro, a salsa, sal e pimenta. val da Lampreia de Entre-os-Rios. cozidas.

SUGESTÃO
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Podem adicionar-se sopas de


pão de trigo às carnes.

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

RITOS E HÁBITOS

Característico de algumas fre-


guesias de Lousada, nomeada-
mente de Meinedo, este prato
é degustado, sobretudo, em
dias festivos, designadamente
por altura das Festas de São
Miguel, que se realizam em
setembro.

Receita cedida pela Câmara


Municipal de Lousada.
carne
Capão à Freamunde Dicas e
Truques
Saber escolher um bom ca-
pão exige saberes específicos,
porque um animal mal capado
perde o seu valor, sendo então
chamado “rinchão”.
A compra e escolha de um bom
INGREDIENTES capão faz-se sobretudo na Feira
dos Capões em Freamunde, que
1 capão se realiza todos os anos no dia
Vinho do Porto 13 de dezembro, dia de Santa
Vinho branco Luzia. Esta feira foi oficialmente
Sal, pimenta e piripíri instituída por D. João V em
Limão 1719.
Alhos
Cebolas
Azeite
Manteiga ou gordura animal
Farófia
Salpicão
Presunto
Chouriço de carne
Carne de vaca
Louro e Salsa

PREPARAÇÃO Sabia que...


Na Idade Média o capão já era
No dia anterior embriaga-se o capão Refoga-se este preparado que, depois de considerado iguaria digna de ir
com um cálice de vinho do Porto e, 30 mi- guisado, é picado e bem misturado com à mesa do rei, como tal sendo
nutos depois, mata-se, depena-se, abre-se “farófia” no resto do molho de o guisar, referida por historiadores,
e lava-se. para ligar bem. cronistas e outros autores como
D. Francisco Manuel de Melo e Gil
Coloca-se o capão em água fria com ro- Enche-se a barriga do capão com este Vicente.
delas de limão durante cerca de 1 hora. picado e cose-se com agulha e linha para Mas a origem desta prática
Depois, escorre-se muito bem e mergu- a fechar bem. remonta ao tempo dos romanos
lha-se em “vinha d’alhos” (vinho bran- que, no ano de 162 a.C., terão
co, azeite, sal, pimenta e vários dentes de Coloca-se na assadeira, de preferên- proibido o consumo de carne
alho esmagados), virando-o várias vezes e cia uma “pingadeira” de barro, e leva-se de galinha, para pouparem nos

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esfregando-o por dentro e por fora. Dei- ao forno a assar durante 3 horas, coberto cereais em grão.
xa-se marinar assim durante 24 horas. com papel de alumínio para não queimar. Os criadores de aves descobriram


Deve picar-se com um garfo de vez em que, após a castração, os
Põe-se ao lume uma caçarola com azei- quando, ao mesmo tempo que se rega com galos duplicavam de peso,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
te, gordura de porco e cebolas cortadas às o molho da assadeira e vinho do porto. A possibilitando a diminuição do
rodelas. Quando a cebola estiver estalada, operação de picar com o garfo deve ser consumo de cereais.
deita-se uma colher de sopa de manteiga, cuidadosa para não ferir a pele que deve
meio quartilho (2,5 dl) de vinho branco, ficar estaladiça e loura. E 30 minutos an-
vinho do porto e sal q.b. tes, tira-se o papel para alourar.

Escorre-se o capão, esfrega-se com este


novo molho e prepara-se o seguinte re-
Acompanha-se com batatas assadas e
grelos.
Glossário
cheio: azeite, cebola, alho, os miúdos do Farófia ou farofa – Farinha de
capão, presunto, salpicão, chouriço de Receita cedida pela Câmara Municipal de mandioca torrada ou escaldada
carne, um pouco de carne de vaca tempe- Paços de Ferreira e Junta de Freguesia de com manteiga ou banha, às
rada com vinho branco, piripíri, louro e Freamunde. vezes misturada com ovos,
salsa. carne, etc.
DOCES DOCES
Sopa seca Beijinhos
de amor

INGREDIENTES Por fim, rega-se tudo com o caldo res- INGREDIENTES


tante e polvilha-se com açúcar louro.
Pão de Ovelhinha (também conhecido 18 ovos
por Pão de Padronelo) Coloca-se o alguidar no forno, de prefe- 300 g de açúcar
1 coxa de frango caseiro rência de lenha, durante 30 minutos, co- 275 g de farinha
1/4 de kg de presunto berto com papel de alumínio, para apurar. 1 colher de chá de fermento
1/4 de kg de carne de vaca limão q. b.
Mel q.b. Quando o preparado estiver a ferver, re- 1 pitada de sal
Açúcar louro a gosto tira-se o papel de alumínio e deixa-se fi- açúcar em ponto
1 rodela de limão sem casca car mais um pouco no forno para ganhar
Canela q.b. cor.
PREPARAÇÃO

PREPARAÇÃO SUGESTÃO Batem-se os ovos (3 inteiros e 15 ge-


mas) com o açúcar e a pitada de sal du-
Depois de se cozerem as carnes (porco, Acompanhe a sopa seca doce com um rante cerca de 40 minutos, com a mão. A
vaca e galinha) com que se prepara um cálice de vinho do Porto. Serve-se bem massa deve ficar muito bem batida.
cozido à portuguesa, retira-se o caldo de quente, depois de se comer um cozido à
cozedura e adiciona-se bastante mel, bas- portuguesa. Junta-se o fermento e a raspa do limão.
tante açúcar louro, uma rodela de limão No fim junta-se a farinha, envolvendo
sem casca e canela q.b. Receita cedida pela Câmara Municipal bem, mas sem bater.
de Paredes e Câmara Municipal de Paços
Corta-se o pão em fatias, em quantidade de Ferreira – Prof.ª Glória Meireles. Prepara-se um tabuleiro enfarinha-
proporcional à quantidade de água/caldo do e deita-se a massa dentro às colheres,
que se quer preparar. separadas umas das outras. Vai ao forno

No fundo de um alguidar de barro dei-


ta-se uma boa camada de açúcar louro e
canela.

Colocam-se, alternadamente, camadas


de pão e camadas de caldo (o pão tem de
18

ficar bem ensopado com o caldo).



RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Glossário
Açúcar Louro – o mesmo que
açúcar amarelo.

Pão de Padronelo – pão de


trigo de 4 cantos que era
tradicionalmente produzido
no lugar da Ovelhinha, em
Gondor.
DOCES
Pão de ló
de Margaride

(temperatura levemente superior à do pão INGREDIENTES de 50 minutos. Retira-se o pão de ló do


de ló) durante 3 ou 4 minutos. forno e deixa-se arrefecer.
Para um Pão de Ló de 500 g:
Entretanto, leva-se o açúcar ao lume 15 ovos
com uma chávena de água e deixa-se fer- 200 g de açúcar RITOS E HÁBITOS
ver. 100 g de farinha
De consumo tradicional por altura da
Com o açúcar em ponto, quente, e a Páscoa, período em que é muito procu-
massa referida, fria (para não queimar as PREPARAÇÃO rado, este doce pode acompanhar-se com
mãos), cobrem-se as cavaquinhas. queijos e um cálice de Porto ou licor.
Partem-se os ovos, colocando 10 gemas
e 5 ovos inteiros na batedeira, juntamente Receita cedida pela Casa de Pão de Ló
RITOS E HÁBITOS com 200 g de açúcar. de Margaride e Câmara Municipal de
Felgueiras.
Este doce típico do concelho de Lousada Bate-se a massa durante cerca de 40
é muito apreciado e procurado no Natal, minutos e envolve-se com 100 g de fari-
Páscoa e épocas festivas. Acompanhe este nha. Coloca-se a massa em formas de bar-
doce com um copo de vinho verde ou li- -ro forradas com papel.
cor.
Aquece-se previamente o forno a 250 ºC Sabia que...
Receita cedida pela Câmara e introduzem-se as formas durante cerca
Municipal de Lousada. No ano de 1888, Leonor Rosa da
Silva, proprietária da Fábrica de
Pão de Ló situada em Margaride,
passou a deter o privilégio de
ser fornecedora da Real e Ducal
casa de Bragança.
Esse privilégio foi posteriormen-
te reforçado por alvará do Rei D.
Carlos, de 22 de abril de 1893,
nomeando Leonor Rosa da Silva
como fornecedora da Casa Real e

19
autorizando-a a colocar as Armas
Reais Portuguesas no frontespí-


cio do seu estabelecimento.
Durante mais de 50 anos de tra-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
balho porfiado, Leonor Rosa da
Silva conseguiu tornar conhecido
em Portugal e no Brasil o seu
Pão de Ló. Os privilégios reais
concedidos são o testemunho da
qualidade e prestígio histórico
que o Pão de Ló de Margaride,
fabricado naquela localidade
desde, pelo menos, 1730, alcan-
çou enquanto produto gastronó-
mico de excepção e que ainda
hoje faz as delícias dos seus
numerosos apreciadores.
território
ALTO TÂMEGA

apropriada para a atividade florestal e escura ou avermelhada escura, a carne


criação de animais em pastoreio. é extraordinariamente suculenta, po-
A preservação do património ambien- dendo ser grelhada ou assada no espeto.
tal é comprovada através da existência de Algumas peças são utilizadas para con-
três espaços protegidos: a Zona Ecológica fecionar receitas mais elaboradas como
das Margens do Rio Tâmega, o Parque estufados, cozidos à portuguesa ou bolas
Natural do Alvão e o Parque Nacional da de carne.
Peneda-Gerês. A castanha, que durante muito tempo
Aliado à riqueza natural e paisagística, foi uma das principais fontes alimentares
destaca-se o enorme capital aquífero da locais, continua a ser um dos produtos
região, com elevado potencial turístico, mais valiosos de Trás-os-Montes, consi-
realçando-se, além das águas para consu- derada mesmo como o petróleo ou o ouro
mo, as estâncias termais de Chaves, Vida- da montanha, já que a sua exportação re-
go, Carvalhelhos e Pedras Salgadas. presenta um papel importante na econo-
Trata-se, portanto, de uma região favo- mia local. Esta região faz parte da Rota da
rável à atividade agrícola que continua a Castanha em Trás-os-Montes no percurso
WWW.ADRAT.PT

ser uma importante fonte de empregabi- das variedades judia e longal, de excelente
lidade dos seus habitantes. Destacam-se a qualidade, com a Castanha da Padrela –
produção de vinho, mel, castanha, cereais, DOP.
azeite, batata e hortícolas. A qualidade das Também as nozes e a cereja se encon-
pastagens permite a criação de animais de tram entre os mais afamados produtos
raça bovina, ovina e caprina e, consequen- deste território.
temente, a produção do queijo de cabra e
Caracterização ovelha. Também a criação de suínos, espe-
históricA E cialmente da raça Bísara, contribui para
a existência de um fumeiro abundante,
Geográfica donde resulta o magnífico cozido.

O território do Alto Tâmega corresponde


à zona de intervenção do GAL ADRAT PatrimóniO
– Associação de Desenvolvimento da Re- Gastronómico
gião do Alto Tâmega.
Situado na região do Alto Trás-os- Um dos ex libris gastronómicos do Alto
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-Montes, faz fronteira com a Galiza (a Tâmega é a Posta Barrosã, proveniente


norte), com o agrupamento de municí- da Carne Barrosã – DOP. A carne para

pios do Vale do Douro Norte (a sul), com confeção da posta, retirada da rabada da
a Terra Fria e Terra Quente Transmonta- vitela com uma espessura de três a quatro
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

na (a este) e com os municípios dos agru- centímetros, é suculenta, tenra e apurada,


pamentos do Vale do Lima, Alto Cávado o que possibilita uma confeção quase des-
e Alto Ave (a oeste). Compreende os con- provida de condimentos, sendo tempe-
celhos de Boticas, Chaves, Montalegre, rada apenas com sal na altura de grelhar
Valpaços e Vila Pouca de Aguiar. O eixo sobre brasas de carvão.
central do Alto Tâmega é a denominada É também de salientar a Carne Ma‑
zona verde, rica em solos com excelente ronesa – DOP, proveniente de bovinos
capacidade agrícola, formada pelas veigas criados num sistema de agricultura tra-
de Chaves e Vila Pouca de Aguiar. Situ- dicional, numa região montanhosa onde
ados a poente, os concelhos de Boticas os tratores dificilmente entrarão. Os ani-
e Montalegre formam uma zona de pla- mais alimentam-se de pastagens e for-
nalto, propícia a pastagens e cultivo de ragens oriundas de parcelas de terra em
cereais, e uma zona de montanha, mais pousio e de lameiros. De coloração rosa
Mel e o “Vinho dos Mortos”. Durante cujas variedades são maioritariamente co-
as invasões francesas os habitantes des- mestíveis. Surgindo no início do outono
ta região esconderam o vinho debaixo e primavera, ocupam tradicionalmente
da terra, para que não fosse encontrado um lugar importante nas mesas trans-
pelos invasores. Tendo constatado que a montanas, dizendo-se que “no tempo dos
qualidade do vinho aumentava quando cogumelos não há más cozinheiras”. Ser-
este envelhecia debaixo do solo, passaram vem-se como acompanhamento de pra-
desde então a integrar esta prática crian- tos de carne, sobretudo de caça, ou como
do, assim, o chamado Vinho dos Mortos. substituto da própria carne.
A Aguardente de Mel é um digestivo Amassado à mão e cozido em forno de
feito a partir de favos de mel da região, lenha, há ainda a salientar o excelente pão
A gastronomia local distingue-se espremidos e fermentados. de centeio.
igualmente pela riqueza do seu fumeiro Nos hábitos alimentares da região há Interessa também referir a produção
de que se destacam o presunto de Cha- que considerar a Batata de Trás‑os‑Mon‑ hortícola da região, destacando-se a Cou-
ves, o salpicão, a linguiça, a bexiga, o tes – IGP, conhecida por “castanha da ve Penca de Chaves, o pimento de Cam-
gaiteiro, os azedos e também as alheiras. terra” e introduzida em Portugal a partir bedo e os grelos, bem como a crescente
Igualmente famoso é o folar tradicional de meados do século XVIII. É um tubér- produção de flores.
e macio (especialmente em Chaves e Val- culo de forma aproximadamente cilíndri-
paços), confecionado com ovos, farinha e ca, de tom branco a branco-amarelado,
vários tipos de carnes. mais rosada na periferia.
Em Boticas destacam-se as Trutas São também conhecidos e muito apre-
à Moda de Boticas, a Aguardente de ciados na região os cogumelos silvestres,

Trata-se de uma
região favorável
à atividade
agrícola, que

21
continua a ser uma


importante fonte
de empregabilidade RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

dos seus habitantes.


Destacam-se
o vinho, o mel,
a castanha,
os cereais, o azeite
e a batata.”
sopaS Peixe
Caldo de feijão Trutas à moda
vermelho de Boticas

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 couve troncha Trutas


1 cebola 1 naco de presunto
1 cenoura Azeite ou banha de porco
Feijão vermelho
Naco de presunto
Batatas para cozer PREPARAÇÃO
Azeite
Sal Lavam-se, muito bem lavadas, as
trutas, sem serem escamadas. Dá-se-lhes
um pequeno golpe junto às guelras para
PREPARAÇÃO as limpar.

Na véspera devem demolhar-se 10 Depois de bem limpas, coloca-se na


punhados de feijão vermelho e um naco barriga um naco de presunto, que deverá
de presunto. ser entremeado.

Põe-se o feijão a cozer. Depois, numa Fritam-se em azeite ou banha de por-


panela alta, coloca-se água, o naco de pre-
sunto e algumas batatas descascadas, para
Glossário co até ficarem loirinhas. Servem-se com
batatas cozidas e um pouco de salada de
fazer um bom puré. Couve troncha – designação alface ou agrião.
local para o produto
Quando estas estiverem cozidas, amas- comummente conhecido por
sam-se com ajuda de uma escumadeira e couve portuguesa, também
um garfo, juntando-se o feijão vermelho já chamada de “tronchuda”.
cozido e a água da sua cozedura. Distingue-se facilmente de
outras variedades devido às
Parte-se, de seguida, uma cebola às ro- suas folhas grandes mas tenras,
delas e uma cenoura aos quadradinhos verde-escuras, com nervuras.
que se junta à cozedura. No caso de que-
rer engrossar mais o caldo, junta-se um
22

punhado de massa miúda, corrigindo-se


o tempero.

Lava-se muito bem uma couve troncha


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

(por ela deverá ter passado geada para a


tornar tenra). Parte-se grosseiramente
e coloca-se no caldo para cozer. Rega-se
com um fio de azeite e deixa-se ferver.
Sabia que...
SUGESTÃO Durante as invasões francesas
os habitantes desta região
A sopa é servida em malgas, tendo a par- colocaram presunto dentro das
ticularidade de ser mais saborosa no dia trutas que pescavam, levando
seguinte! os franceses a desprezar tal
peixe, por julgarem que não era
estripado.
Carne Carne
Guisado de Milhos à moda
míscaros ou de Chaves
tortulhos

ao tacho, e acrescentando-se água sempre


INGREDIENTES INGREDIENTES que necessário porque os milhos devem
manter-se soltos.
Míscaros 500 g de milhos
Azeite 1 linguiça Servem-se os milhos, bem quentes,
Alho 1/2 salpicão numa travessa, colocando-se à parte as
Cebola 1/4 kg de peituga carnes partidas aos pedaços e uma chou-
1 colher de sopa de pimentão 1/4 kg de carne de vitela riça de sangue aquecida à parte (para não
vermelho 1 chouriça de sangue dar gosto ativo à calda).
Carne de vitela 1 cebola
Linguiça 1 l de água
Toucinho ou carne entremeada SUGESTÃO
da pá de porco
PREPARAÇÃO Este prato pode acompanhar-se com ba-
tatas cozidas.
PREPARAÇÃO Num tacho faz-se um estrugido com
azeite e uma cebola média picada.
Limpam-se muito bem os míscaros,
retirando-lhes toda a terra, com ajuda Depois de a cebola alourar acrescen-
de uma faca, e lavam-se rapidamente em ta-se 1 litro de água e as carnes e deixa-se
muitas águas. As duas últimas deverão ser ferver.
de água a ferver, para os míscaros perde- Glossário
rem o resto da terra. Entretanto, lavam-se os milhos em 4 ou
5 águas para lhes tirar as cascas (que vêm Milhos – nome que se dá no
Prepara-se um estrugido com azeite, ao cimo da água). Norte aos grãos de milho que
alho e cebola picados e uma colher de se mandam moer ou antes
sopa de pimentão vermelho. Quando as carnes estiverem cozidas, “traçar” grosseiramente ficando
retiram-se da calda, juntamente com a ce- com o aspeto de arroz. Para
Juntam-se bocados de vitela, de lingui- bola. os preparar devem pôr-se
ça e toucinho ou carne entremeada da pá de molho em bastante água
de porco. Colocam-se os milhos na calda e dei- retirando-lhes todas as cascas.
xam-se cozer lentamente, mexendo-se Cozem durante muito tempo.
Partem-se os míscaros aos quadradi- constantemente, para que não peguem

23
nhos médios, aproveitando tudo, desde o Estrugido – nome usado
pé à “carapuça”. frequentemente no norte do


país para designar um refogado.
Quando a vitela e o toucinho estiverem
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
refogados, adicionam-se os míscaros na
panela, mantendo o refogado pouco agua-
do, pois os próprios cogumelos libertarão
líquido.
Sabia que...
Temperam-se os míscaros com sal e Os milhos pobres confecionam-
tapa-se a panela para apurarem. Deixam- -se apenas com carne gorda. Os
-se cozer e corrigem-se os temperos, milhos ricos são confecionados
acrescentando-se água se tal for necessá- com várias carnes: os corna-
rio. dos levam carne de vitela; os
esfoçados levam carne de porco;
Acompanha-se este guisado com batata os esgravatados levam carne de
cozida. galinha.
Carne
Cozido barrosão

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

2 bucheiras Na noite anterior colocam-se as carnes Glossário


2 linguiças com meia cura, de molho, em água fria.
1 salpicão Arroz de “nada” – designação
3 sangueiras ou chouriças de sangue Cozem-se as carnes todas juntas, exceto local para o arroz branco,
1 orelha de porco com meia cura as sangueiras, que são escaldadas à parte, apenas cozido.
1 pedaço de focinho de porco com para que o seu gosto ativo não estrague o
meia cura paladar dos demais ingredientes. Cortar em camponesa – cortar
2 pés de porco com meia cura ao meio e depois em tiras
2 pernis de porco Durante a cozedura, verifica-se o sal transversais.
2 rabos de porco com meia cura das carnes.
1/2 kg de carne da peituga entremeada Peituga – o peito do porco
com meia cura Corta-se a couve e coze-se na água das ou das aves.
1/2 kg de vitela carnes, para ficar macia. Cozem-se as ba-
1 frango caseiro tatas a as cenouras à parte. Bucheiras – nome que se dá
Batata aos enchidos feitos com sangue
1 couve troncha ou repolho Cortam-se as carnes em pedaços e ser- de porco, coração e carne com
Cenoura vem-se, bem quentes, em travessas. Ser- gordura.
Arroz de “nada” q.b. vem-se à parte as batatas, as cenouras, a
couve e o arroz, também a fumegar. Meia cura – estádio intermédio
do método dito de “curar”,
significando o processo de
secagem de queijos, carnes,
chouriços e outras iguarias.
Dicas e
Truques
Se possível, devem cozer-se
as couves, as batatas
e as cenouras em
panela de ferro.
24

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
DOCES
Pudim de castanha

INGREDIENTES a canela em pó, o vinho fino branco, as 8


gemas de ovos e, por fim, envolvem-se as
600 g de castanhas 4 claras batidas em castelo. Glossário
Sal
Erva-doce Coloca-se toda a massa numa forma de Vinho fino – vinho generoso;
Meia chávena de leite pudim (forma redonda) barrada de man- vinho tratado. Designação dada,
4 colheres de sopa de manteiga teiga e polvilhada de farinha. principalmente na região do
2 chávenas de açúcar Douro, ao vinho fortificado,
1 colher de chá de canela em pó Leva-se ao forno a cozer, avaliando-se o cuja fermentação foi
2 colheres de sopa de nível de cozedura da mesma forma que se interrompida pela adição
vinho fino branco faz nos outros pudins. de aguardente vínica.
8 ovos

PREPARAÇÃO

Cozem-se as castanhas, deitando-se na


água da cozedura uma pitada de sal e erva-
-doce.

Depois de bem cozidas, descascam-se,


esmagam-se e passa-se o polme assim ob-
tido através de uma peneira. A castanha é um dos produtos mais valiosos
de Trás-os-Montes, a sua exportação representa
Liga-se o polme (que deverá pesar cerca
de 500 g) com o leite, a manteiga, o açúcar, um papel importante na economia local.”

25

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
MONTEMURO, ARADA
E GRALHEIRA
e ao contexto económico favorável, e
apesar da vocação fortemente rural do
território, a atividade industrial, em-
presarial e comercial conheceu um
período de expansão. Atualmente, a po-
pulação ativa distribui-se em maior nú-
mero pelo setor terciário onde se destaca
o comércio e os serviços públicos. O rio Paiva, um
O turismo tem vindo a crescer, devi- afluente do Douro,
do ao vasto património natural, cultural
e gastronómico, promovendo atividades contribuiu para a
como a caça e pesca, o termalismo, o tu- sobrevivência de
rismo de natureza, turismo em espaço ru-
muitas gerações, ao
WWW.ADRIMAG.COM.PT

ral e o geoturismo.
longo de séculos e
Património milénios, oferecendo
Gastronómico grande abundância
de peixe.”
Entre o variado património gastronó-
mico local destaca-se o Cabrito da Gra‑
lheira – IGP, proveniente de animais
da raça Serrana, que se alimentam de
Caracterização pastagens espontâneas à base de urze,
históricA E carquejas, giestas e tojo, o que obriga a
grandes e frequentes deslocações. Este
alimentar”, de onde não se extrai o leite,
que serve apenas para alimentar as crias.
Geográfica tipo de alimentação confere à carne um A criação destes animais é feita em
sabor bastante característico e aprecia- comunidade.
O território de Montemuro, Arada e Gra- do. Aquilino Ribeiro, na sua obra Estudo Em Arouca é famosa a Carne Arou‑
lheira corresponde à zona de intervenção Etnográfico de Portugal Continental, es- quesa – DOP, proveniente de bovinos da
do GAL ADRIMAG – Associação de De- creve sobre estas “cabras do monte, que raça homónima, ligeiramente húmida e
senvolvimento Rural Integrado das Ser- caminham com os pastores vários qui- suculenta e muito apreciada quando assa-
ras do Montemuro, Arada e Gralheira. lómetros, diariamente, para se poderem da na brasa (posta Arouquesa e costeleta),
26

Engloba os concelhos de Arouca, Castelo


de Paiva, Castro Daire, Sever do Vouga e

Vale de Cambra e algumas freguesias de


Cinfães e S. Pedro do Sul.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

É predominantemente uma área de


montanha, com zonas de forte densida-
de florestal, contrastando por vezes com
alguns planaltos e a formação de nume-
rosos vales. A altitude média é de 600
m, atingindo os 1100 m nas serras da
Freita e Arestal e os 1382 m nos pontos
mais altos da Serra de Montemuro. A re-
gião é atravessada pelos rios Paiva, Arda,
Bestança (afluentes do Douro) e Caima
(afluente do Vouga) e distingue-se pela
sua traça agrícola. Nos últimos anos,
graças à melhoria das acessibilidades
Sabia que...
As cabras são utilizadas na
confeção da chanfana. O cabrito,
uma tradição do Natal e da
Páscoa, é geralmente assado no
forno, recheado com as miude-
zas e com os enchidos da região.

grelhada na chapa (bifes de Alvarenga),


assada no forno (vitela Arouquesa) ou em
estufados e cozidos. Estes animais eram
utilizados para o trabalho, a produção de
leite e a produção de carne.
O rio Paiva, um afluente do Douro,
contribuiu para a sobrevivência de mui-
tas gerações, ao longo de séculos e mi-
lénios, oferecendo grande abundância
de peixe que vive nas suas águas: bogas,
barbos, enguias, bordalos e, com particu-
lar destaque, as ainda atualmente famosas
trutas.
A broa caseira, confecionada com re-
curso aos ingredientes genuínos da região
e cujo tradicional processo de confeção
passa de pais para filhos, merece igual- O Bolo Podre, outra das iguarias cas- conjunto de saberes ancestrais que se per-
mente destaque. Desde 2010, inserido na trenses, é o doce regional que se destaca petuaram até aos dias de hoje.
Feira das Colheitas, realiza-se o concurso no município. Com uma forte tradição Outra das especialidades desta re-
“A Melhor Broa Caseira”, que premeia familiar, a sua confeção está intimamente gião é a doçaria conventual de Arouca
a melhor broa do concelho de Arouca ligada à Páscoa. que é uma das mais requintadas doçarias
confecionada de forma tradicional. Este Em Castelo de Paiva destacam-se monásticas. São exemplos a Castanha
concurso e o ponto de venda da broa, lo- o Pão de Ló de Serradelo e de Sardou- Doce de Arouca, as Roscas de Amên-
calizado na Cerca do Mosteiro de Arouca, ra e ainda o afamado vinho verde tinto doa, as Barrigas de Freira, o Manjar de
valorizam cada vez mais a programação de Paiva, premiado várias vezes a nível Língua, o Pão de S. Bernardo, as Mor‑
do certame. nacional. celas Doces (também conhecidas como
Pelo Carnaval, em Castro Daire, co- Macios e delicados, os Matulos ou Morcelas de Amêndoa ou Morcelas de
mem-se Carolas com Feijão e Cabeça de Doces de Manteiga de Cinfães sempre ti- Santa Mafalda) e os Charutos. Ainda
Porco. Carola, nome que também se dá ao veram um lugar de destaque nas grandes no município de Arouca, há que refe-
carolo, farinha de milho moída grosseira- festividades da comunidade. rir o requintado Pão de Ló que poderá
mente, o qual, por ficar com um granula- Em S. Pedro de Sul a doçaria regio- ser degustado em bola ou em fatias bem
do grosso, é conhecido ainda por “arroz nal é representada, essencialmente, pelo húmidas.
do pobre”. Pão de Ló de Sul que encerra todo um

27

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Em Arouca é famosa
a Carne Arouquesa
– DOP, proveniente
de bovinos da raça
homónima.”
sopaS peixe
Caldo Caldinho TRUTAS DE
ou Conduto ESCABECHE
DO RIO PAIVA

INGREDIENTES INGREDIENTES

Carne do sal Glossário 8 trutas com 150 g cada


Feijão Sal q.b.
Batatas aos cubos Carne do sal – carnes gordas 8 cabeças de alho
Couve-galega de porco, tradicionalmente 8 dl de azeite virgem
Massa conservadas em áreas com sal 4 dl de vinagre de vinho
(salgadeiras). tinto
4 folhas de louro
PREPARAÇÃO 1 raminho de salsa

Coloca-se um bocado de carne do sal a


cozer com feijão numa panela de ferro ao PREPARAÇÃO
lume.
Limpam-se muito bem as
Quando a carne e o feijão estiverem co- trutas, polvilham-se com sal e
zidos, põe-se as batatas aos cubos, a cou- deixam-se a marinar durante
ve-galega cortada fina e um pouco de mas- 12 horas.
sa. Deixa-se cozer tudo.
De seguida fritam-se no azei-
Tira-se o conduto para o prato e serve-se te em lume brando.
assim.
Na frigideira onde se frita-
A água que sobra do cozido serve-se Receita cedida por Alice Maria Bruçó Marques ram as trutas coloca-se um pre-
como uma sopa ou, então, junta-se farinha Mendes, restaurante Quinta do Barco. parado (alho esmagado, azeite
de milho e fazem-se umas papas. e vinagre), as folhas de louro,
salsa.

Mexe-se durante 5 minutos e


retira-se do lume.

Deixa-se o molho arrefecer e


28

coloca-se por cima das trutas.


Guarda-se este prato em local


seco e fresco, sem necessitar de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

ir ao frio.

Deve ser consumido 4 dias


ou mais depois da confeção.

Receita cedida pelo município de


Castro Daire.
Peixe carne
Sável VITELA AROUQUESA ASSADA À
no Forno REGIONAL com arroz de forno
EM FORNO DE LENHA

INGREDIENTES INGREDIENTES INGREDIENTES (ARROZ)

Sável fresco 1 cebola grande 1 cebola média


Sal q.b. 2 dentes de alho Azeite
Alho q.b. 4 folhas de louro 100 g de salpicão
Colorau q.b. 20 cl de azeite 600 g de arroz
Piripíri q.b. Sal grosso q.b. Salsa
Louro q.b. 1 malagueta Louro
Cebola 2 colheres de sopa de banha 1 l de água
Azeite q.b. 500 g de pá ou nispo
Vinho branco de vitela Arouquesa
Batatas aos gomos 750 g de costela mindinha PREPARAÇÃO (ARROZ)
2 gemas de ovo (para o molho) de vitela Arouquesa
25 cl de vinho maduro branco Faz-se um estrugido com cebola e azei-
1 kg de batatas novas pequenas te. Deixa-se alourar, junta-se sal, salsa,
PREPARAÇÃO salpicão em rodelas finas e um pouco de
água. Deixa-se ferver por 5 minutos. En-
Tempera-se o sável, depois de amanha- PREPARAÇÃO tretanto, lava-se e coa-se o arroz.
do e limpo, com sal, alho, colorau, piri-
píri e louro, coloca-se numa assadeira de Numa assadeira de barro, deita-se o lou- Retira-se o salpicão e reserva-se. Dei-
barro onde já deve ter sido colocada uma ro, a cebola em rodelas finas, a malagueta ta-se o preparado num recipiente de ir ao
camada de cebola, alho, salsa e cenoura. e os alhos cortados. Por cima, coloca-se a forno. Junta-se o arroz e 1 litro de água e
carne de vitela em pedaços grandes. mexe–se. Dispõem-se as rodelas de salpi-
De seguida, rega-se o peixe com azeite, cão por cima e leva-se ao forno durante
vinho branco e um pouco de água, leva-se Deita-se o azeite por cima da carne. 20 minutos.
a assar no forno mais ou menos durante Junta-se sal grosso. Dispõem-se as bata-
30 minutos. tas à volta da carne até a assadeira ficar Receita cedida por José Luís Júlio,
completa. restaurante Parlamento.
Ao fim desse tempo, vira-se e acrescen-
tam-se batatas cortadas em gomos para Rega-se com vinho e leva-se ao forno
assar juntamente com o sável. já quente a 200 ºC, durante 2 horas.
Vira-se a carne e as batatas após 1

29
No final, rega-se com molho de ovo e hora.
vai mais 5 minutos ao forno, servindo-se


de seguida. Quando a vitela estiver bem
assadinha, retira-se do forno
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Receita cedida por Alice Maria Bruçó Marques e corta-se em nacos
Mendes, restaurante Quinta do Barco. com cerca de 100
gramas. Coloca-se
de novo a vitela na
assadeira, regando
com o molho.
Glossário
Serve-se acompa-
Molho de ovo – molho de assar nhada de arroz de for-
o peixe ao qual se acrescentam no ou arroz branco.
2 gemas de ovo, batendo-se
tudo muito bem até engrossar
um pouco.
Carne DOCES
Feijoada no Forno Morcelas
Doces

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

Feijão catarino Põe-se o feijão catarino de molho pelo Pão ralado (especialmente
Cebola menos durante 12 horas. confecionado para o efeito)
Alho Amêndoa pelada e moída
Várias carnes de porco (frescas) No fundo duma assadeira de barro, co- Açúcar
Enchidos loca-se cebola e alho picados, o feijão de- Manteiga
Sal q.b. molhado e várias carnes de porco (frescas) 1 pitada de canela
Colorau q.b. e ainda alguns enchidos.
Malagueta
Folha de louro Envolve-se tudo e tempera-se com sal, PREPARAÇÃO
1 ramo de salsa colorau, malagueta, folha de louro, um
Cominhos ramo de salsa, um pouco de cominhos, Faz-se um ponto de açúcar a que se mis-
Vinho branco refresca-se com vinho branco e outra tura a amêndoa moída, a manteiga, a ca-
Banha de porco tanta quantidade de água. Acrescenta- nela e o pão ralado.
Azeite q.b. -se uma boa colher de banha e um pouco
de azeite. Feita a massa, introduz-se em tripa
seca, natural, previamente preparada e
Receita cedida por Alice Maria Bruçó Marques Leva-se ao forno de lenha bem quente formam-se pequenos enchidos seme-
Mendes. e vai-se mexendo de vez em quando. De- lhantes a alheiras comuns e que lhe dão
mora mais ou menos 1 hora a 1 hora e 30 o nome.
minutos a cozer, conforme a temperatura
do forno. Este doce tem a particularidade de
apresentar dois paladares bem distintos,
O feijão fica tostadinho por cima com se consumido tal como se apresenta, ou
um sabor muito agradável. aquecido em frigideira em lume brando
(tal como quem prepara uma alheira mas
sem gordura).

Receita cedida por Alice Maria Bruçó Marques


Mendes.
30

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
DOCES
castanha DOCE
de Arouca

INGREDIENTES

Ovos
Amêndoa pelada e moída
Sabia que...
Açúcar Confecionada pelas monjas,
a doçaria era o ex libris do
Mosteiro de Arouca. Com ela se
PREPARAÇÃO presenteavam entidades civis
e eclesiásticas, merecedoras de
Prepara-se uma calda com água e açú- proventos de tão reais monjas.
car e leva-se ao lume até ponto de cabelo. Com a extinção das monjas, foi
Junta-se a amêndoa e as gemas. Deixa-se preservada a sua continuidade,
a descansar durante 24 horas. através da criadagem e por
transmissão familiar, até aos
É então moldada em forma de casta- nossos dias, continuando esta
nhas e volta a descansar. doçaria a ter o cariz e fórmula
primitivos, o que faz dela um
As castanhas vão depois a assar, uma marco na cultura dos arouquen-
por uma, aplicadas num espeto, sobre fo- ses e um documento vivo da
gareiro a carvão. Este processo confere- vida do Mosteiro, continuando
-lhes o aspeto de castanhas assadas. a depender a sua confeção de
uma boa escolha das matérias
Receita cedida por Alice Maria Bruçó Marques primas, bem como o uso dos
Mendes. métodos ancestrais então utili-
zados.

31

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
VALE DO MINHO
WWW.ADRIMINHO.PT

Caracterização Coura) e três concelhos de litoral (Cami- finas, rega-se depois com um fio de azeite,
históricA E nha, Vila Nova de Cerveira e Valença), a
atividade agrícola continua a ser funda-
deixando levantar fervura. Assim se come
o caldo, acompanhado com broa e rodelas
Geográfica mental na manutenção da identidade do finas de chouriço que se vão cortando com
território. A atividade agrícola tem sido a faca. “Em tempos de menos abundância
O território Vale do Minho corres- especialmente valorizada ao nível da pro- foi prato principal para os menos abasta-
ponde à zona de intervenção do GAL dução de vinhos verdes, em particular o dos. Sempre ali, junto ao fogo da lareira,
ADRIMINHO – Associação de Desen- Vinho Alvarinho. naquela panela de ferro pronto para a par-
volvimento Rural Integrado do Vale do O turismo contribui igualmente para tilha.” Comia-se à noite, mas também de
Minho. o desenvolvimento da região, aproveitan- manhã, antes de partir para os campos.
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Localizado no extremo noroeste do do a sua integração no Parque Nacional Embora de origem minhota, a sua fama e
continente português, trata-se de um ter- da Peneda-Gerês e a existência de outros confecão espalhou-se por todo o país, e foi

ritório de fronteira, limitado a norte pela espaços protegidos e de edifícios de eleva- descrito na literatura em obras de escri-
Galiza e a oeste pelo Atlântico e integra os do valor histórico e arquitetónico. tores como Camilo Castelo Branco, Júlio
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

concelhos de Melgaço, Monção, Paredes Dinis, Eça de Queiroz ou Ramalho Orti-


de Coura, Valença, Vila Nova de Cerveira Património gão, entre outros. Foi nomeado uma das 7
e Caminha. Maravilhas da Gastronomia de Portugal.
Apesar dos decréscimos populacionais Gastronómico O rio Minho e o rio Coura têm pro-
nas últimas décadas, a crescente perme- piciado, ao longo dos tempos, o desen-
abilidade transfronteiriça tem vindo a Este território enquadra alguns dos pratos volvimento da atividade piscatória, útil
oferecer um interessante potencial de mais emblemáticos da cozinha minhota. à economia e à gastronomia desta região.
desenvolvimento, sobretudo ao nível do O Caldo Verde, uma das bandeiras Destes rios são retirados alimentos como
eixo Porto/Vigo, com forte dinamismo da gastronomia nacional, ocupa marcado o sável, o salmão, a lampreia ou a truta. O
económico. destaque na gastronomia da região: pre- salmão foi outrora um peixe abundante
Formado por três concelhos de inte- parado com um caldo feito de cebola e no rio Minho, onde chegaram a desovar
rior com características marcadamente alho e batatas esmagada a que se junta a peixes com mais de 20 kg. Esta abundân-
rurais (Melgaço, Monção e Paredes de couve-galega cortada em ripinhas muito cia de salmões grandes (hoje em dia há
A Lampreia do Minho
é um dos ex libris
da gastronomia
do Vale do Minho,
onde a sua confeção
tem pergaminhos
e um receituário
tradicional.”

português à sua terra – é muito frequente


nesta região, tanto em romarias e festi-
vidades, como nas merendas das tarefas
agrícolas. Esta região possui várias recei-
tas típicas de bacalhau, sendo o Bacalhau
à Minhota uma das mais populares e uma
“especialidade” de muitos restaurantes da
região.
O Cabrito das Terras Altas do Mi‑
nho – IGP constitui outro ex libris gastro-
muito menos salmões) levou a que este povo “lampreia não é peixe nem é carne, nómico desta região, presente em todo o
se tornasse um peixe muito consumido ou se adora ou se odeia”. Dela se abaste- tipo de celebrações. Contudo, é na Páscoa
na região, tendo-se desenvolvido receitas, ciam conventos e mosteiros por altura dos que esta iguaria tem mais significado
como o Salmão cozido à Moda de Valen- jejuns quaresmais. Costuma subir ao rio sendo consumido por muitas famílias no
ça. Também o sável é pescado desde tem- Minho em princípios do inverno e a sua almoço de domingo, preparado segundo
pos remotos. Em Cerveira os pescadores pesca é autorizada normalmente a partir uma receita ancestral passada de geração
pescavam-no e as mulheres vendiam-no de janeiro, sendo consumida até ao iní- em geração, sempre acompanhado por
às postas, de porta em porta. Normal- cio da primavera (anunciada pelo canto “arroz de alguidar”. Depois de assado o
mente só conseguiam vender as postas do cuco). A abundância de lampreias na animal vai para a mesa inteiro onde será
maiores, ficando com as pequenas, a ca- sua época própria levou a população a de- cortado e repartido. Segundo a tradição o

33
beça, o rabo e as ovas. A necessidade de senvolver métodos de conservação, para arroz é também cortado à faca.
cozinhar estas partes, denominadas de- que fosse possível consumi-la fora dessa O leite‑creme é uma das sobremesas


bulho, deu origem à receita do Debulho época. A Lampreia Fumada tornou-se mais populares em todo o Vale do Mi-
de Sável, muito conhecida em Vila Nova um prato típico desta região, embora a nho, com forte expressão nas famílias e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
da Cerveira. Tempera-se o debulho com prática de fumar a lampreia remonte ao restaurantes. É confecionado à base de
sal, salsa, louro, pimenta, cravinhos e vi- tempo dos romanos. Nos dias de hoje a leite, ovos, açúcar, amido de milho, casca
nho verde tinto, sendo depois cozinhado “lampreia fumada recheada” é iguaria de de limão e pau de canela. A conjugação
com arroz. Destaca-se também o Arroz de excelência que bem pode competir com destes ingredientes deu origem a uma so-
Sável, cozinhado com especiarias e ervas os grandes fumados dos países nórdicos. bremesa simples mas consistente, de sa-
aromáticas. Servida em muitos restaurantes e em di- bor subtil, suave e aveludado, com a sua
A lampreia é um dos ex libris da gastro- versos festins pantagruélicos familiares e crocante camada de açúcar queimado e
nomia do Vale do Minho, onde a sua con- populares, é uma ótima entrada, popular caramelizado, que a tornam apetecível e
feção tem pergaminhos e um receituário mas requintada, que faz a delícia dos que sempre presente em qualquer festim.
tradicional, como a Lampreia à Moda do visitam o Vale do Minho. Existem imensas variedades de leite-
Minho, o Arroz de Lampreia, à Bordalesa, O consumo do bacalhau – iguaria que -creme e há até quem diga que existem
de Escabeche, assada na brasa, Lampreia o escritor Ferreira de Castro considerou tantas receitas quantas as pessoas que as
Seca frita com ovos, etc. Sobre ela diz o como o mais importante laço que liga um confecionam.
sopas Peixe
Caldo verde Bacalhau
à minhota

INGREDIENTES INGREDIENTES
PREPARAÇÃO
Cerca de 2 l de água 4 postas de bacalhau
1 dl de azeite Deita-se a água numa panela com o 3 cebolas
750 g de batatas azeite, as batatas descascadas e cortadas 4 dentes de alho
1 cebola ao meio, a cebola e os dentes de alho. 1 colher de chá de pimentão
3 dentes de alho doce
1 couve-galega tenra Tempera-se com sal e deixa-se cozer. Vinho verde branco
1 chouriço Logo que esteja cozido, tira-se do caldo Azeite q.b.
Sal q.b. e passa-se pela trituradora, voltando ao Batatas
lume para apurar.

Cortam-se as couves o mais fino possí- PREPARAÇÃO


vel, lavam-se e deitam-se na panela 15 mi-
nutos antes de a sopa ir para a mesa, dei- Fritam-se as postas do baca-
xando-as ferver com a panela destapada. lhau em azeite.

Serve-se o caldo verde em tigelas de Cortam-se as batatas às ro-


barro, com uma rodela de chouriço no delas finas, temperadas com
fundo e um bocadinho de broa. um pouco de sal e fritam-se no
azeite onde já se fritou o baca-
lhau.

Cortam-se, também, as ce-


bolas às rodelas e picam-se os
dentes de alho.

Levam-se ao lume em 1,5 dl


de azeite e logo que estejam le-
vemente alouradas, regam-se
com um pouco de vinho e dei-
xam-se ferver mais um pouco.
34

Retiram-se do lume e, de-


pois de arrefecerem levemen-


te, junta-se-lhes o colorau.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Coloca-se o bacalhau no cen-


tro duma assadeira de barro,
dispõem-se as batatas em volta
e cobre-se com a cebolada.

Leva-se ao forno durante 10


minutos. Serve-se de imedia-
to, enfeitado com azeitonas.
Peixe
lampreia do Minho
fumada recheada

INGREDIENTES

1 lampreia fumada com lenha de


carvalho do norte Dicas e Sabia que...
Presunto de porco Bísaro com alguma Truques A lampreia nasce em água
gordura cortado em fatias finas doce e aí vive durante os
4 ovos cozidos cortados às rodelas finas Como fazer lampreia fumada? primeiros 4 a 5 anos, até atingir
1 pimento vermelho assado na brasa e Depois de amanhada, segundo 20 cm de comprimento. Nessa
sem pele os procedimentos corretos, esca- altura emigra para o mar,
Endro seco ou em verde la-se a lampreia e dá-se-lhe três onde permanece até atingir
cortes longitudinais interiores; a maturidade sexual; nesta
Para a preparação: um ao meio, a todo comprimen- fase, totalmente adulta, chega
Folhas de couve-galega to, mais concretamente naquela a medir entre 80 cm e 1 m e
Agulha de sapateiro parte gelatinosa também conhe- a pesar entre 1,2 kg e 1,5 kg.
Fio de vela cida como espinha (sem o ser), É um alimento de consumo
e um de cada lado. Estende-se sazonal, muito procurado entre
na salgadeira onde o sal ainda janeiro e abril, por muitas
PREPARAÇÃO está fresco da última matança pessoas que se deslocam a esta
do porco que Santo António pro- região propositadamente para a
Demolha-se a lampreia durante 4 horas tegeu para fartura dar. Deixa-se degustar.
em água bem fria, seca-se com um pano e a lampreia repousar coberta
estende-se sobre a banca. de sal, de um dia para o outro.
Sacode-se bem o sal e, de 15 em
No interior da lampreia colocam-se fa- 15 cm, colocam-se bocadinhos
tias de presunto, rodelas de ovo cozido, de cana, com o fim de a manter
polvilha-se com endro e, a todo compri- bem aberta. Leva-se a fumar Glossário
mento, estende-se uma tira de pimento em lenha de carvalho do norte,
assado; voltando a colocar fatias de pre- durante 3 dias, com 8 horas de Endro – planta aromática,
sunto. fumo cada dia, em lume muito também conhecida por aneto.
lento mas certo.
Começa a coser-se a abertura com uma A lampreia fumada conserva-se
agulha enfiada com o fio de vela, no senti- durante vários meses e come-se

35
do da cauda para a cabeça. demolhada e cozida com batatas
e verdura, assada na brasa e no


Finda esta operação enrola-se a lam- espeto.
preia em folhas de couve-galega também
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
com a ajuda de fio de vela, pincela-se
com azeite e dá-se-lhe a forma de re-
gueifa, circular, para facilitar a entrada
no forno.

Coloca-se num tabuleiro e leva-se ao


forno, a 200 ºC, cerca de 20 minutos. Re-
tira-se, deixa-se arrefecer e conserva-se
no frigorífico.

Serve-se cortada em rodelas finas, como


entrada, acompanhada de broa cortada
fina, frita em azeite.
Carne
Cabrito assado
COM arroz de Cabrito

INGREDIENTES formando uma papa com a qual se esfre- INGREDIENTES (ARROZ)


ga o cabrito, deixando-o ficar assim até ao
1 cabrito pequeno dia seguinte. 1 kg de arroz
3 dentes de alho 300 g de presunto gordo
1 cebola No dia de se assar, fazem-se vários gol- Miúdos do cabrito
Salsa pes no cabrito nos quais se introduzem ti- 1 chouriço de carne
2 dl de vinagre de vinho verde tinto rinhas de toucinho. 1 colher de chá de açafrão
3 colheres de sopa de sal grosso 2 cebolas
4 colheres de sopa de banha Atam-se as patas da frente às de trás e Salsa
1 colher de sopa de colorau barra-se com a banha. 1 folha de louro
1 colher de chá de pimenta 2 colheres de sopa de banha
200 g de toucinho Põe-se o cabrito sobre uma grelha de
paus de loureiro armada na boca do algui-
dar do arroz e leva-se a assar no forno (de PREPARAÇÃO (ARROZ)
PREPARAÇÃO preferência em forno de lenha de cozer
pão). Faz-se um refogado pouco apurado
Na véspera, esfola-se o cabrito, reti- com uma cebola e a banha, ao qual se jun-
ram-se os miúdos e, depois de muito bem Deixa-se assar o cabrito, primeiro de ta água, o presunto, os miúdos do cabrito
lavado, pendura-se para escorrer. um lado, durante 1 hora, e depois do ou- e o chouriço e deixam-se a cozer.
tro lado durante o mesmo tempo.
Entretanto, esmagam-se os dentes de Entretanto, introduz-se o açafrão no
alho e junta-se a cebola picada, o vina- Nota: À medida que a rês vai assando, vai forno, embrulhado num papel para torrar
gre, o sal grosso, o colorau e a pimenta, soltando algum molho para o arroz. ligeiramente.

Mede-se o arroz, lava-se e enxuga-se.

Retiram-se as carnes do caldo que se


mede – 2 vezes o volume do arroz – e que
se deita num alguidar de barro caracterís-
tico (em forma de chapéu).
Sabia que... Junta-se ao caldo a cebola cortada às
36

Em Monção, o cabrito, antes rodelas, o açafrão, o ramo de sal-


de ir a assar, é recheado sa, a folha de louro e o arroz

com um picado preparado que vai a cozer no forno ao


com os miúdos do cabrito, mesmo tempo que se assa
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

vitela, presunto, pão o cabrito.


ralado, azeitonas descaro-
çadas, banha, limão, sal e Serve-se o arroz numa
pimenta. travessa contornado pelas
rodelas de chouriço, tirinhas
de presunto e os miúdos corta-
dos aos bocados.
DOCES
Leite-creme

INGREDIENTES

1 l de leite gordo
200 g de açúcar
Sabia que...
6 gemas Amido de milho é o nome que
Casca de limão se dá à farinha feita do milho,
1 pau de canela O leite-creme é uma e usada na culinária como
30 g de amido de milho
das sobremesas mais substituto da farinha de trigo ou
para o preparo de cremes, como
populares em todo espessante. Usa-se também
PREPARAÇÃO o Vale do Minho, a palavra maisena, derivada
do taíno (língua indígena das
Aquece-se o leite com o pau de canela e com forte expressão Antilhas) maís, pelo espanhol
a casca de limão. nas famílias e maíz, significando “milho

restaurantes. É graúdo”.
Juntam-se, numa tigela, as gemas, o Para a sua confecção os grãos
açúcar e o amido de milho (farinha fina confecionado à base de milho são molhados e têm
de milho). de leite, ovos, açúcar, retiradas a casca e a plântula
embrionária. Após secagem, o
Mexe-se muito bem até ficar um creme amido de milho, casca grão remanescente, quase todo
sedoso, mas sem espuma. de limão e pau de de amido, é triturado e moído

canela. A conjugação até se transformar num pó bem


Junta-se o leite, aos poucos, mexendo fino.
sempre rapidamente de modo que o aque- destes ingredientes Fonte: pt.wikipedia.org

cimento seja gradual para que a gema coza deu origem a uma
lentamente, a fim de evitar a coagulação e
para que o calor se distribua igualmente sobremesa simples
por toda a mistura. mas consistente, de
sabor subtil, suave e
Deve usar-se um tacho de fundo espes-
so que permita uma melhor distribuição aveludado, com a sua
do calor. crocante camada de

37
Sobre lume brando e sempre a mexer, açúcar queimado e
caramelizado, que a

deixa-se engrossar o creme mas tendo
cuidado para que não ferva. tornam apetecível e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Deve retirar-se do lume mal se veja que sempre presente em
se forma uma camada espessa sobre a co- qualquer festim.”
lher de pau, ou se observe que a colher
deixa um trilho no fundo do tacho.

Serve-se em travessa ou prato indi-


vidual. No momento de ir para a mesa,
já frio, polvilha-se com uma camada
de açúcar e queima-se com ferro bem
quente de modo a conseguir uma crosta
caramelizada.
território
TERRAS DE SANTA MARIA

e pequenos terrenos agrícolas, este territó- Lampreia, o Sável no Espeto e a Açorda


rio é rendilhado por abundantes recursos de Milharas.
hídricos que determinaram o seu patri- A abundância de água dos cursos dos
mónio e a excelência da sua gastronomia, rios Leça e Ferreira e a fertilidade do solo
associado aos moinhos e à panificação, à contribuíram, desde os tempos mais re-
lampreia e ao sável do Douro e do Vouga. motos, para a fixação de povos na região
de Valongo, e para um significativo au-
Património mento demográfico posterior, que deu
origem ao desenvolvimento da economia
Gastronómico local. Aí se inscreve o aproveitamento
económico dos cursos de água, através
É neste cenário, em que parte integra dos moinhos, base duma relevante indús-
a área geográfica onde se produz a Car‑ tria panificadora tradicional. Esta é uma
ne Arouquesa – DOP, que encontramos atividade que remonta à Baixa Idade Mé-
hortas e campos de cereais, que a par dos dia, tendo-se desenvolvido ao longo dos
WWW.ADRITEM.PT

bovinos de raça Arouquesa, completam a tempos de forma constante. A quantida-


variada gastronomia das Terras de Santa de e qualidade do fabrico de pão de trigo
Maria. fez Valongo ser conhecida como a Terra
A carne arouquesa, sendo muito sucu- do Pão, tendo abastecido o Porto entre os
lenta, torna-se particularmente apta para séculos XVI e XX.
ser assada na brasa (em posta ou costele- Um dos ex libris da região é o Pão de
ta), grelhada em bifes ou ainda assada em Ul, nome que lhe advém da freguesia de
forno de cozer pão. Ul, concelho de Oliveira de Azeméis. Tra-
Caracterização A Vitela Assada no Forno a Lenha, ta-se de uma região com vários riachos, o
históricA E acompanhada com arroz no forno, cons-
titui uma das especialidades mais aprecia-
que a tornou propícia à existência de moi-
nhos de água utilizados para moer o trigo,
Geográfica das da zona, designadamente em Alberga- propiciando o posterior aparecimento de
ria-a-Velha. padarias. Atualmente já não existe muito
O território Terras de Santa Maria cor- Gondomar, para além da sua notável trigo na região, sendo parte dos moinhos
responde à zona de intervenção do GAL indústria de ourivesaria, apresentou sem- utilizada para descascar arroz. Mas o Pão
ADRITEM – Associação de Desenvol- pre um significativo desenvolvimento na de Ul continua a ser fabricado de acordo
vimento Rural Integrado das Terras de área da pecuária e do cultivo de produtos com as técnicas ancestrais. É precisamente
Santa Maria. É delimitado a norte e a sul hortícolas tradicionalmente exportados a técnica de confeção que o torna um pro-
38

por Sítios da Rede Natura e engloba os para o Porto. O seu solo fertilíssimo per- duto único, que tem despertado a curio-
concelhos de Valongo, Gondomar, Santa mitiu a valorização dos produtos da terra, sidade de inúmeros turistas que visitam

Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e com especial destaque para os nabos com a freguesia, embora a sua produção atual
Albergaria-a-Velha. que tradicionalmente se prepara um caldo tenha atualmente uma dimensão reduzida.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

As Terras de Santa Maria inscrevem-se que constituía um “alimento natural que Em Valongo, a produção excessiva
numa longa e faixa no norte do país, entre fortalecia os trabalhadores nos longos e para o consumo ou as quebras na venda
o litoral marcadamente urbano e o inte- árduos dias de trabalho nos campos”. O podem estar na origem de criações culi-
rior profundo rural. É um território onde Caldo de Nabos de Gondomar é um pra- nárias locais que utilizam o pão seco. Em
se verificam algumas debilidades ao nível to energético, outrora muito consumido Valongo são particularmente tradicionais
do contexto demográfico. Contudo, tra- pelos lavradores da região. as Sopas Secas e o Pudim de Pão.
ta-se de uma zona com características am- Mas este é um território também for- A Fogaça da Feira é um pão doce,
bientais e naturais, aliadas ao património temente marcada pela presença do rio típico de Santa Maria da Feira. As pri-
rural, que potenciam o desenvolvimento Douro, onde no período compreendido meiras referências conhecidas a este doce
do território ao nível do turismo, cultura entre janeiro e abril se pesca o sável e a aparecem nas inquirições de D. Afonso
e lazer. lampreia, dando lugar a especialidades III, no século XIII, onde é indicado que
Atravessado por montanhas e vales, gastronómicas locais de que se desta- se utilizavam as fogaças para pagamento
revestidos de grandes manchas florestais cam a Lampreia à Bordalesa, o Arroz de de foros.
O Pão de Ul
continua a ser
fabricado de
acordo com as
técnicas ancestrais.
É precisamente a
técnica de confeção
que o torna um
produto único, que
tem despertado a
curiosidade.”

39

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

O formato da fogaça estiliza a torre de


menagem do castelo com os seus quatro
coruchéus. A fogaça é cozida diariamen-
te em várias casas de fabrico do concelho,
sendo a respetiva massa preparada à base
de água, fermento, farinha, ovos, mantei-
ga, açúcar e sal.
sopas sopas
Caldo Papas de S. Miguel
de Nabos
de Gondomar

INGREDIENTES INGREDIENTES Quando o feijão estiver cozido, jun-


tam-se os coiratos escorridos e os ossos
Nabo cortado em quartos 250 g de feijão branco manteiga de suã.
Rama de nabo ou, à falta desta, nabiça 250 g de vinha d’alho (coiratos de
Feijão vermelho porco em vinho tinto, sal e alhos Deixa-se cozer bem, juntando de segui-
Chouriço de carnes e morcela durante 2 dias) da as nabiças.
Orelha de porco e chispe 1 molho de nabiças
Salpicão e presunto 2 ossos da suã (ossos da espinha do Usando a água de cozer os coiratos, as
Carne de vaca porco) nabiças e o feijão (em parte ou na totali-
Sal Farinha de milho q.b. dade), engrossa-se com farinha de milho,
Azeite Sal q.b. deixando-a cair em forma de chuva, até
se obter a espessura desejada, pois estas
papas podem ser ralas (leinas) como es-
PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO pessas, conforme o gosto de cada um, não
esquecendo o sal.
Demolha-se o feijão, coze-se à parte e Dois dias antes, põe-se de molho, em
reserva-se, juntamente com a água da co- vinho tinto, 250 g de coiratos de porco, Assim que a farinha estiver cozida, ser-
zedura. Cozem-se as carnes e reservam-se, com sal e alguns dentes de alho cortados. ve-se em malgas de barro.
juntamente com o caldo da respetiva co-
zedura. No próprio dia, coze-se, em panela de Aguarda-se 5 a 10 minutos antes de as
ferro de 3 pés, ao lume, o feijão (colocado comer, de forma a ganhar uma capa um
Numa panela com água, cozem-se os na- de molho desde o dia anterior). pouco dura.
bos partidos em quartos, junta-se o feijão,
a água da sua cozedura e também água da Entretanto, cortam-se as nabiças, como Receita cedida pela Câmara Municipal
cozedura das carnes, para dar mais sabor se fosse para o caldo verde. de Oliveira de Azeméis.
ao caldo. Verificam-se os temperos, acres-
centa-se um pouco de azeite de boa quali-
dade e deixa-se ferver mais um pouco.

À hora da refeição, vão para a mesa as


carnes partidas num prato de barro. O
caldo de nabos é, também, servido em
40

malgas de barro.

RITOS E HÁBITOS
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Trata-se de uma iguaria ainda hoje mui-


to apreciada pelos gondomarenses, espe-
cialmente durante as Festas em Honra de
Nossa Senhora do Rosário (setembro/ou-
tubro). A autarquia local promove anual-
mente, além da Festa do Sável e da Lam-
preia, o Festival Gastronómico “Hoje há
Caldo de Nabos”, que atraem muitos tu-
ristas.
carne carne
Vitela Arroz de Cabidela
Assada
no Forno
a Lenha Sabia que...
O Arroz de Cabidela, muito
difundido na região minhota,
INGREDIENTES INGREDIENTES prende-se com as longínquas
raízes de uma economia agrícola
800 g carne de vitela 1 frango caseiro (de preferência galo) associada à criação de aves de
arouquesa 2 cebolas grandes capoeira e pequena pecuária,
400 g batata 3 a 4 colheres de sopa de azeite utilizado como “mimo gastronó-
500 g arroz Alho q.b. mico” em dias de festa, ou para
Cebola q.b. Sal q.b. superar dificuldades económicas
Alho q.b. Pimenta q.b. através da sua troca entre vizi-
Sal q.b. 1/2 tigela de vinagre e vinho tinto nhos, por produtos que estives-
Colorau q.b. 1 a 2 folhas de louro sem em falta doméstica ou em
Salsa q.b. Tiras de presunto venda nas feiras e mercados
Banha de porco q.b. mais próximos. A produção dos
Vinho branco q.b. ovos era um importante recurso
PREPARAÇÃO complementar à criação avícola.
A grande divulgação do arroz
PREPARAÇÃO Mata-se o frango na véspera e aprovei- de cabidela deve-se também
ta-se o sangue para a tigela com o vinagre ao facto de ser um prato de
Numa taça coloca-se cebola, e o vinho tinto. fácil execução, que chega para
alho e salsa picados, colorau e muitos comensais, sobretudo
sal, pisando tudo de modo a Parte-se em pedaços, só depois de frio quando é “malandro” e por não
obter-se uma pasta com a qual e tempera-se com bastante alho, sal e o exigir a compra de ingredientes
se unta a carne homogenea- louro. dispendiosos, já que bastava ir
mente. ao quintal para se ter acesso ao
Faz-se o refogado com o azeite e a cebo- galináceo.
Coloca-se depois a carne la, junta-se o frango, as tiras de presunto
numa assadeira de barro, jun- e deixa-se alourar. Vai-se acrescentando
ta-se um pouco de banha de água, pouco a pouco.
porco, de vinho branco e de
água. Quando o frango estiver a ficar cozido,
junta-se a água necessária, previamente
Vai ao forno quente, de pre- aquecida, e depois o arroz. Coze durante
ferência num de cozer pão, du- 10 minutos, adicionando então o sangue e

41
rante cerca de 1 hora e 30 mi- deixa-se cozer durante aproximadamente
nutos. 5 minutos ou menos.


Ao fim deste tempo, vira-se Retificam-se os temperos – sal e pimen-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e dispõem-se as batatas em ta – e serve-se de imediato.
volta, deixando cozer durante
o tempo necessário para que
tudo fique bem macio.

Para o fazer o arroz, colo-


ca-se o arroz, salsa e banha de
porco numa caçarola de barro,
junta-se água a ferver, mistu-
ra-se tudo e vai ao forno du-
rante 1 hora e 30 minutos.
doceS doceS
Pudim de Pão Sopas Secas

INGREDIENTES Unta-se generosamente com manteiga INGREDIENTES


uma forma grande lisa, sem chaminé no
2 ovos inteiros centro, ou duas mais pequenas. Polvilha-se Pão seco (molete)
11 gemas com pão ralado e deita-se-lhe a massa. Água
2 chávenas almoçadeiras rasas Açúcar
de açúcar Vai ao forno aquecido a 230 ºC durante 5 Canela em pó
2 chávenas almoçadeiras a 10 minutos, até alourar a crosta. Casca de limão
rasas de leite 1 colher sopa de manteiga
Sumo e raspa de 1/2 limão Depois, tapa-se com papel de alumí- 1 colher de chá de sal
Miolo de 1 regueifa de 500 g nio, baixa-se a temperatura do forno para
180 ºC e deixa-se cozer durante mais 50
minutos. PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO
Desliga-se o forno, deixando aí ficar o Partir o pão às fatias. Ferver a água com
Ferve-se o leite e deixa-se depois arrefe- bolo até ao dia seguinte ou até arrefecer o açúcar, a canela, casca de limão, a man-
cer um pouco durante 5 minutos. completamente, e só depois se desenfor- teiga e o sal.
ma.
Junta-se o miolo da regueifa, tapa-se e Passar as fatias do pão na calda até amo-
deixa-se arrefecer. lecer muito bem.

Misturam-se as gemas e os ovos, mas Glossário Num alguidar de barro coloca-se,


sem as bater, com o açúcar até se obter uma em camadas alternadas, açúcar com ca-
massa homogénea. Molete – pão pequenino cuja nela e uma noz de manteiga, depois
designação tem origem em o pão.
Passa-se o pão pelo passe-vite (não usar Valongo onde, por ocasião das
a varinha mágica) e junta-se ao preparado, invasões francesas, era muito
adicionando o sumo e a raspa de limão. apreciado pelo general Moulet.
Mistura-se tudo. Por corruptela deste nome, o
pão passou a ser popularmente
chamado molete. Ainda hoje na
região do Porto se dá este nome
aos pequenos pães.
42

Regueifa – pão fabricado com


farinha de trigo e amassado


com menos quantidade de água
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

que o pão normal. Trata-se de


uma massa sovada (antigamente
batida com uma marreta uma
vez que as padeiras não tinham
força para alisar a massa,
operação que atualmente é feita
mecanicamente)

Tendal – Pano branco de linho,


sobre o qual se coloca ou com
que se cobre a massa do pão, até
levedar; tabuleiro forrado com
um pano polvilhado com farinha.
doces
Fogaça
da Feira

Começar e finalizar com uma cama- INGREDIENTES


da de açúcar com canela e manteiga. A
calda que sobrar verter por cima de
tudo. Vai ao forno alourar. O alguidar
Ovos
Açúcar
Sabia que...
não deve ficar muito cheio porque vai Canela A fogaça é comercializada
crescer. Fermento durante todo o ano e utiliza-
Manteiga da como voto na Festa das
Sal Fogaceiras, tradição que se
Limão cumpre anualmente a 20 de
Farinha janeiro e que completou cinco
séculos em 2005. Esta tradição
refere que, no início do século
PREPARAÇÃO XVI a região de Santa Maria da

Sabia que... Misturam-se os ovos, mexe-se a massa


Feira sofreu um surto de peste.
O povo prometeu a S. Sebastião
Em Valongo a produção ex- e espreme-se o limão. A massa é pesada a oferta de uma fogaça, se este
cessiva para o consumo ou as e puxada. o protegesse da peste. Passada
quebras na venda podem estar a peste, passou a realizar-se a
na origem de criações culinárias Enquanto o lume arde para aquecer o Festa das Fogaceiras (a primeira
locais que utilizam o pão seco. forno a lenha, vai-se trabalhando a fogaça. em 1505), onde os ofertantes se
Em Valongo são particularmente incorporavam numa procissão
tradicionais as Sopas Secas e o Formam-se bocados de massa do tama- em que as fogaças eram benzi-
Pudim de Pão. As sopas secas nho que se pretende fazer a fogaça, e mol- das e posteriormente divididas
eram consumidas especialmente dam-se num rolo comprido, semelhante a em fatias que seriam repar-
no fim das vindimas, no dia de uma serpente. tidas pelo povo. Atualmente,
Finados e no Carnaval. A forma mantém-se a procissão e a
de as confecionar varia de terra Depois, começa-se a enrolar pelo lado bênção das fogaças, mas estas
para terra, mas eram feitas mais largo, resultando uma pirâmide. são oferecidas às autoridades
essencialmente à base do apro- religiosas, políticas e militares
veitamento de fatias de pão de À medida que vão sendo enroladas, as presentes em Santa Maria da
trigo embebidas em água quente pirâmides vão sendo colocadas no tendal, Feira. Segundo a tradição, as
ou chá, que se polvilhavam ficando as fogaças a levedar. “fogaceiras” que participam na

43
com açúcar e canela (às vezes procissão são “crianças impú-
acrescentava-se mel e vinho do Colocam-se as fogaças em fila na pá do beres” provenientes de todo o


porto) e eram depois tostadas forno e pincelam-se com ovo batido. concelho, vestidas e calçadas
no forno. Nas freguesias de de branco, cintadas com faixas
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Campo e Sobrado passa-se o Com uma tesoura, dão-se quatro golpes coloridas, que levam à cabeça as
pão por ovo. no topo da pirâmide, de modo a dar forma fogaças do voto, coroadas de pa-
Nos casamentos rurais e nas aos quatro coruchéus da torre de mena- pel de prata de diferentes cores,
festas das vindimas a água ou o gem do castelo. recortado com perfis do castelo.
chá eram substituídos por caldo Por ocasião destas festas os ha-
de cozer carnes. Introduzem-se as fogaças em forno bem bitantes de Santa Maria da Feira
quente e, 15 minutos depois, puxam-se enviam fogaças aos familiares e
para fora com a ajuda da pá e, à mão, sepa- amigos que se encontram longe.
ram-se as “torres do castelo”, permitindo,
assim, que o calor penetre no interior das
fogaças, cozendo-as uniformemente. Vol-
tam a introduzir-se no forno até estarem
cozidas.
território
TERRAS ALTAS DO HOMEM,
CÁVADO E AVE
do território e um elemento fundamental acompanhadas por rojões à moda do Mi-
do património natural. nho e vinho verde tinto.
Nas últimas décadas a agricultura tem Póvoa de Lanhoso tem também gran-
vindo a perder importância económica na des tradições gastronómicas, como, por
região. Contudo, dadas as excelentes con- exemplo, os bifes que se comem na ro-
dições para a produção, assiste-se hoje a maria de Nossa Senhora de Porto D’ Ave:
um novo interesse pela atividade agrícola, enormes nacos de bifes da vazia (de boi
sobretudo da parte de jovens que estão a ou de vaca) temperados apenas com umas
apostar em projetos inovadores. pedras de sal e grelhados (há quem lhe
chame “o melhor bife do mundo”). À so-
bremesa, manda a tradição que se coma o
Património excelente Melão Casca de Carvalho.
Gastronómico Vila Verde é famosa pelo Caurdo,
nome atribuído às sopas tradicionais da
As atividades agrícolas com maior ex- região, que noutros tempos constituíam o
WWW.ATAHCA.PT

pressão local são a vinha (vinho verde), a sustento dos mais pobres e hoje são uma
horta familiar e o cultivo do milho e das especialidade muito procurada na região,
leguminosas, devendo ainda assinalar-se, sobretudo na Festa do Caurdo, que ocorre
no conjunto dos produtos deste território, em inícios de outubro. Nesta festa as as-
a importância da Carne Barrosã – DOP e sociações recreativas e grupos folclóricos
do Cabrito das Terras Altas do Minho – locais confecionam as versões mais anti-
IGP, que dispõem de proteção jurídica da gas e as receitas mais populares dos “caur-
União Europeia. dos”: nabiças, penca, feijão, à lavrador, je-
Caracterização O clima húmido desta região é pro- rimu, castanhas, couves, nabos, repolho,
históricA E pício ao desenvolvimento de pastagens,
que constituem a base da alimentação de
rabo de boi, couve-galega, cabaça, farinha
e caldo verde.
Geográfica gado, o que confere características par- Uma outra iguaria deste concelho é o
ticulares à carne dos animais. Nos dias Arroz de Cabidela de Pica‑no‑Chão –
O território do Alto Cávado, engloba as mais rigorosos do inverno, não saem dos prato emblemático, confecionado com os
Terras Altas do Homem, Cávado e Ave, currais e são alimentados com feno, palha animais criados ao ar livre, que se alimen-
que corresponde à zona de intervenção ou alimentos concentrados. O Cabriti‑ tam daquilo que “picam no chão”, dos
do GAL da ATAHCA – Associação de nho das Encostas de Mixões da Serra é quais já foram homologadas quatro raças
Desenvolvimento das Terras Altas do criado, como o próprio nome indica, nas autóctones. É possível comprar estes ani-
44

Homem, Cávado e Ave e integra os con- Encostas de Mixões, uma área de monta- mais na Feira de Vila Verde, que se realiza
celhos de Amares, Póvoa do Lanhoso, nha que vai desde o norte do concelho de quinzenalmente.

Terras de Bouro, Vila Verde, onze fregue- Vila Verde até ao limite do Parque Nacio- A gastronomia do Alto Cávado é tam-
sias do concelho de Barcelos e oito do de nal da Peneda-Gerês com a Serra Amare- bém assinalável pela sua doçaria, com
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Braga. la. É particularmente apreciado quando especial destaque para os doces de roma-
O Alto Cávado é um território mar- assado em forno de lenha. ria, as Rabanadas e para o famosíssimo
cado pela presença dos rios que o atra- O Cozido de Terras de Bouro, tam- Pudim Abade de Priscos, receita que
vessam – Ave, Cávado e Homem – mas bém conhecido por Cozido de Couves terá sido inventada pelo Abade Manuel
também pela orografia inconstante, com com Feijão, é um ex libris das Terras de Joaquim Machado Rebelo, nascido em
zonas de várzea (propícias à prática agrí- Bouro. Era outrora um prato tipicamente Vila Verde e que foi pároco da freguesia
cola), meia-encosta e montanha. É nes- rural, cuja especificidade reside na origi- de Priscos, concelho de Braga, durante 47
ta zona de montanha que se encontra o nalidade da escolha dos ingredientes e no anos. Em Terras de Bouro destaca-se ain-
Parque Nacional da Peneda-Gerês, criado modo da sua confeção. da o Mel das Terras Altas do Minho –
e classificado em 1971, pela União Inter- As Papas de Sarrabulho são um pra- DOP. Em dezembro realizam-se em Vila
nacional para a Conservação da Natureza, to típico confecionado maioritariamente Verde as festas em honra de Santa Luzia,
que ocupa 20 por cento da região Alto Cá- durante o inverno, na época da matan- com destaque para a Feira do Mel, das
vado e é, sem dúvida, um cartão de visita ça do porco, e servem-se como sopa, Maçãs e das Pinhas, onde os produtores
do concelho vendem os seus artigos junto
à capela de Santa Luzia.
Amares é conhecida por ser a terra da
laranja. As condições climatéricas dão
origem à laranja de casca fina, especial-
mente saborosa e suculenta entre maio
e agosto (nos meses sem “r”, como diz a Dadas as excelentes
sabedoria popular). Este citrino é muito condições para a
utilizado na confeção de doces, mas tam-
bém como acompanhamento de vários produção, assiste-se
pratos da região. hoje a um novo
Registe-se ainda que Amares tem pro-
fundas tradições no setor vitivinícola, es- interesse pela
pecialmente na produção de vinho verde, atividade agrícola,
muito utilizado para acompanhar a co- sobretudo dos
mida. Leve, aromático e medianamente
alcoólico, destaca-se pela sua frescura e jovens que estão a
qualidades especiais e únicas. Nos bran- apostar em projetos
cos, o Loureiro é a casta predominante.
Nos tintos, destacam-se o Vinhão e o Bor- inovadores.”
raçal.

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RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
SOPA peixe carne
Caurdo Bacalhau Cozido
ou caldo à S. Julião de terras
à lavrador de bouro

INGREDIENTES INGREDIENTES INGREDIENTES

Para 6 pessoas: Bacalhau Feijão amarelo


200 g de feijão vermelho Óleo para fritar Couves-galega
300 g de couve-galega Azeite Carne de porco
2 batatas brancas Alho Azeite
1 cebola Batata Vinagre
1 cenoura Alho
1 dente de alho
1 pernil de presunto
1 chouriço de carne PREPARAÇÃO
1 punhado de farinha de milho
Bagos de arroz O Cozido de Terras de Bou-
Sal e azeite q.b. ro é confecionado com feijão
amarelo e couves-galegas dos
quinteiros das terras altas e
PREPARAÇÃO expostas ao frio da região de
Bouro e carne de porco ali-
Deita-se num pote, cerca de 2 l de água, mentado com lavaduras gor-
o feijão, as batatas, a cenoura, a cebola, o das.
alho, as carnes e os troncos da couve-gale- PREPARAÇÃO
ga. Deixa-se cozer tudo muito bem e reti- Sem qualquer refogado, co-
ram-se as carnes. O bacalhau é previamente frito e depois zem-se as couves em abundân-
é colocado numa assadeira onde é regado cia com as carnes e fumeiro
Esmagam-se as batatas com uma colher, com azeite e alho, indo depois ao forno. É (cuja gordura serve de tempe-
trazendo para a malga os dotes das cozi- servido com batatas a murro. ro), cozendo-se o feijão amare-
nheiras do mundo rural. Passa-se, a cenou- lo à parte.
ra, a cebola e os feijões pelo passador mas Receita criada pelo Restaurante Torres, Vila
deixando de lado alguns inteiros. Parte-se Verde. No final junta-se tudo na
a carne e o chouriço e coloca-se tudo no mesma travessa e serve-se,
pote, juntamente com os feijões inteiros e temperando-se com azeite, vi-
as folhas da couve bem segadas ou esfarra- nagre e alho.
46

padas. Acrescenta-se, em chuva, um pouco


de farinha de milho, mexendo continua-
SUGESTÃO

mente e uns grãos de arroz. Deixa-se cozer


bem e tempera-se com azeite e sal.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Para melhor degustar esta


iguaria, pode ser acompanha-
RITOS E HÁBITOS da com um vinho verde tinto
da região.
As receitas de “caurdo” variam con-
soante cada especialidade, mas a
base é constituída por ingredien- RITOS E HÁBITOS
tes como couve, feijão, batata, car-
ne, farinha e uns grãos de arroz. O modo de confecionar este
Uma das mais populares é a Sopa prato é conhecido por “coze-
da Castanha, confecionada por mu- dura monumental”, pois as
lheres do Grupo Recreativo e Cultural carnes são colocadas a cozer
de Marrancos, e o Caurdo à Lavrador. num pote e, depois, é que se
carne
Arroz de cabidela
de pica-no-chão

lhe juntam as couves galegas INGREDIENTES Deixa-se refogar um pouco tendo o cui-
traçadas, frescas da horta, e o dado de não deixar queimar a cebola e o
feijão amarelo, também difí- Para 8 pessoas: alho, podendo juntar desde logo o salpi-
cil de encontrar, pois é origi- 1 frango cão.
nário das terras altas e frias, o Azeite q.b.
qual, também é cozido. O gos- 2 cebolas picadas Acrescenta-se depois o frango limpo e
to do azeite em abundância e 2 dentes de alho picados cortado aos bocados e vai-se refogando,
os dentes de alho, dão-lhe um 1 folha de louro lentamente e juntando, de vez em quan-
paladar especial. Sal a gosto do, um pouco de vinho e água, para não
Para 2 chávenas de arroz carolino, o torrar, ou queimar o frango, mexendo re-
triplo de água quente gularmente.
1 copo de vinho maduro tinto ou
branco Quando o frango está quase cozido jun-
4 rodelas de salpicão ta-se a água quente. Quando a água levan-
1 ramo de salsa tar fervura, junta-se o arroz.
Sangue do frango misturado com
um pouco de vinho tinto ou vinagre Coze um pouco e, na hora de servir,
(depende do gosto de cada um) junta-se o sangue coado, mexendo para
incorporar bem.

PREPARAÇÃO Mantém-se a fervura um pouco mais,


para cozer o sangue, e serve-se de imedia-
No fundo dum tacho com azeite, adi- to, pois este arroz, não se quer seco.
cionam-se as cebolas e alhos bem pica-
dos, a folha de louro e o ramo da salsa.

Sabia que...

47
Durante um fim de semana de
fevereiro, realiza-se anualmen-


te um festival chamado Cozido
de Terras de Bouro, promovido
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
pelo Município de Terras de
Bouro e pela Entidade Regional
de Turismo do Porto e Norte de
Portugal. Este evento é procurado
por muitas pessoas que desejam
degustar produtos oriundos da
horta e apreciar a vida campes-
tre. Aldeias rurais que mantêm
as suas características, tradições
ancestrais e um património natu-
ral ainda intacto, são os principais
motivos de uma visita para os
amantes da Natureza.
carne CARNE
Cabritinho das Encostas Papas de
de Mixões da Serra Sarrabulho

INGREDIENTES Enquanto assa, vai-se regando com o INGREDIENTES


molho que vai escorrendo para o tabulei-
1 cabrito da serra ro. Aproximadamente 24 doses:
Vinho verde branco 1 galinha (caseira de preferência)
Sal q.b. É acompanhado por um arroz feito com com cerca de 3 kg de carne limpa
5 cabeças de alho base num estrugido, os miúdos do cabri- 1,750 kg de carne da veia
4 folhas de louro to, presunto, chouriço e também com aça- 1 kg de fressura (ou colada) de porco
Pimenta q.b. frão, e em cuja calda se junta um pouco do 1 pernil fumado
1 ramo de carqueja, urze molho retirado do assado. 1 salpicão e 1 pedaço de presunto
ou rosmaninho 500 g de toucinho magro
Colorau 1 chouriça de carne
Toucinho RITOS E HÁBITOS 1 chouriça de sangue
Banha ou azeite 36 pães de trigo secos (+/- 4 dias )
O cabrito é habitualmente morto até um Vários limões
mês e meio de vida, tendo sido pratica- Bastantes cominhos
PREPARAÇÃO mente alimentado apenas pelo leite ma- Sal e pimenta branca
terno. A carne do Cabrito das Terras Al‑ “Boneca” de especiarias: 3 cravinhos
Deixa-se o cabrito temperado de véspe- tas do Minho – IGP, muito suculenta e da índia, pimenta branca/preta
ra, barrado por uma massa feita com ce- saborosa, de coloração avermelhada, é ob- em grão, noz-moscada, salsa, alho,
bola picada, alho esmagado, salsa picada, tida a partir das raças Bravia e Serrana e loureiro, hortelã-pimenta
vinagre, colorau, pimenta e sal grosso. dos seus cruzamentos. São animais de es- Sangue de porco esfarelado (opcional)
tatura média e corpo curto, pêlo de com-
No dia seguinte e antes de ir ao forno, primento mediano e cor castanha escura
enxuga-se e dão-se-lhe pequenos golpes ou preta. Esta raça desempenha um papel PREPARAÇÃO
onde são colocadas fatias de toucinho cor- importante na economia da região, for-
tadas fininhas. necendo carne, estrume para fertilizar os De véspera, colocam-se numa panela
campos e leite (embora em pouca quanti- todas as carnes, juntamente com a “bo-
Barra-se agora o cabrito com banha de dade) para produzir requeijão. O cabrito é neca”, deitando água até as cobrir e dei-
porco ou azeite e, querendo, um pouco particularmente apreciado quando assado xando cozer, até as mesmas ficarem muito
mais de colorau. no forno de lenha. bem cozidas.

Vai ao forno de lenha a assar inteiro. Esfiam-se as carnes muito fininhas e


48

tritura-se a fressura cozida.


Reservam-se os ossos e a pele com al-


guma gordura da galinha levando a fer-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

ver com água de modo a obter um caldo


para acrescentar às papas, se necessário;
A água da cozedura deve ser passada num
As pastagens, coador, para retirar qualquer bocado de
constituem a base osso.

da alimentação do Cortam-se os pães em pedacinhos mui-


gado, o que confere to pequenos e reservam-se.
características No dia de as papas serem servidas:
particulares à carne
dos animais.” Põe-se a ferver a água que foi coada;
adiciona-se o pão já partido e mexe-se
doce
Pudim do Abade de Priscos

com uma colher de pau; juntam-se depois INGREDIENTES


as carnes sem parar de mexer.
400 g de açúcar
Tempera-se com sal e retifica-se a pi- 3 dl de água
menta, se necessário. Deixa-se cozer du- 50 g de toucinho
rante, mais ou menos, 1 hora, até engros- (segundo o Abade, toucinho de bom
sar, e vai-se mexendo com um garfo de presunto de Lamego ou de Chaves)
dentes compridos para não emborbotar, Casca de um limão
até ficar com a consistência de sopa forte. 1 pau de canela
15 gemas
Junta-se sangue de porco cozido, esfa- 1 cálice de vinho do Porto
relado previamente num passe-vite e tem- 200 g de açúcar para Misturam-se as gemas e o vinho do
pera-se com cominhos, sumo de limão, caramelar a forma Porto e passa-se tudo por um passador de
mexendo sempre, e deixa-se ferver du- rede fina.
rante alguns segundos. Já na mesa, pode
polvilhar-se com bastantes cominhos e PREPARAÇÃO Sobre esta mistura deita-se a calda, em
sumo de limão, a gosto. fio.
Leva-se ao lume o açúcar, a água, o tou-
cinho (cortado em tiras muito finas), a Coloca-se o creme numa forma de bura-
casca de limão e o pau de canela. co, para pudim, previamente untada com
caramelo, põe-se-lhe a tampa e assa-se
Deixa-se ferver e até obter uma calda no forno 200 ºC em banho-maria (com
Glossário em ponto de fio (quando formar fio entre água já fervendo), por aproximadamente
o dedo polegar e o indicador). 1 hora.
Boneca — pedacinho de pano
fino no centro do qual se Retira-se a calda do fogo e passa-se por Deixa-se esfriar e desenforma-se.
colocam temperos, atando-o um coador para retirar o toucinho, a casca
depois como se fosse uma de limão e o pau de canela.
pequena trouxa, para
transmitirem os aromas ao Deixa-se esfriar e reserva-se.
cozinhado sem que apareçam no
prato depois de pronto (retira-
Sabia que...

49
-se no final da confeção). O Abade de Priscos, natural de
Santa Maria de Turiz (concelho


Carne da veia – também de Vila Verde), viveu entre 1834
chamada de óculo (peça de e 1930 e foi exímio na arte da
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne bovina, comprida e culinária. Sobre ele contam-se
achatada em forma oval, ainda hoje inúmeras histórias,
separada da aba delgada e que umas verdadeiras, outras míti-
depois de cozida fica aos fios) cas. Uma delas diz que terá co-
zinhado para o rei D. Luís. Outra
Colada ou fressura – vísceras diz que o Abade de Priscos
do animal (o baço, os pulmões, recusava dar receitas a quem
a traqueia, o esófago, a goela e lhas pedia, argumentando que o
as carnes ensanguentadas que segredo da boa cozinha reside
confinam com estes órgãos). no “artista” e não na receita.

Emborbutar – formar borbotos


ou grumos.
território
TERRA FRIA TRANSMONTANA

transição (norte de Vimioso) e o Planalto


Mirandês (Miranda do Douro e sul de Vi-
mioso).
O isolamento é um dos problemas que
mais atinge o território, que tem sofrido
um acentuado decréscimo populacional.

Património
Gastronómico
Destaca-se a Carne Mirandesa – DOP,
proveniente de bovinos da raçã homóni-
ma, que se alimentam em pastagens na-
turais da região, acima dos 500 m de alti-
WWW.CORANE.PT

tude. A carne é excecionalmente tenra e


suculenta e possui aromas e sabores que
a diferenciam de qualquer outra carne de da Terra Fria, é sobretudo no concelho
bovino. Como é referido no livro de Al- de Vinhais e Bragança que o cultivo da
fredo Saramago e António Monteiro, Co- castanha assume maior expressão, sendo
zinha Transmontana, “contrariamente ao a Longal e Judia as variedades regionais
que acontecia nas outras províncias, em características. Produto presente em vá-
Trás-os-Montes comia-se carne de vaca rias tradições transmontanas e receitas
Caracterização com abundância. E não eram só as comu- típicas da região, destaca-se a receita de
históricA E nidades mais providas de dinheiro que a
consumiam.(...) A posta mirandesa é um
Javali no Pote com Castanhas, onde se
testemunha a sua associação a pratos de
Geográfica exemplo do consumo de carne de vaca pe- caça grossa, presença natural neste terri-
las classes populares.” tório montanhoso. A castanha também
A Terra Fria Transmontana corres- Pode degustar-se a excelente posta é utilizada na engorda e acabamento dos
ponde à zona de intervenção do GAL mirandesa nos quatro concelhos da Terra suínos da raça Bísara.
CORANE – Associação de Desenvolvi- Fria: Vinhais, Bragança, Vimioso e Mi- Outra especialidade gastronómica da
mento dos Concelhos da Raia Nordestina randa do Douro. Terra Fria são os Cuscos de Vinhais. Os
e integra os concelhos de Vinhais, Bra- O castanheiro assume o papel de cuscos, denominação local para o cuscuz,
50

gança, Miranda do Douro e Vimioso. ex libris da paisagem local, sendo a produ- têm origem magrebina e já eram popu-
O elevado valor ecológico e natural é ção da castanha uma atividade estratégica lares no Portugal do século XV, como

confirmado pela diversidade faunística e para a economia do nordeste transmon- comprovam alguns textos de cronistas do
florística do Parque Natural de Montesi- tano. Estudos recentes confirmam que o século XVI. Eram utilizados nas aldeias
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

nho e do Parque Natural do Douro Inter- castanheiro europeu pode ter aparecido da zona de Vinhais desde o século XVIII,
nacional. Existem, só no parque de Mon- em Portugal em época bem remota, há como substituto do arroz, costume que
tesinho, 48 espécies de mamíferos (cerca largos milhares de anos, muito antes da terá sido herdado dos hábitos alimentares
de 70 por cento dos mamíferos terrestres chegada dos romanos à Península Ibé- dos judeus que por ali viveram.
de Portugal e 26 por cento das espécies rica. O castanheiro é caracterizado por Os grânulos podem ter diferentes
da Europa, algumas das quais ameaçadas, uma ampla variabilidade genética, com dimensões. O granulado mais miúdo é
como o lobo ibérico) e 155 espécies de numerosos ecotipos espalhados por Por- usado na preparação de caldos ou sopas,
aves (126 nidificantes). O clima é rigo- tugal, particularmente em Trás-os-Mon- com ou sem leite, e na confeção dos cus-
roso, com temperaturas muito baixas no tes, onde existem duas DOP: Castanha cos doces com passas de uvas, iguaria
inverno e muito altas no verão. da Terra Fria – DOP e Castanha dos semelhante ao arroz-doce. O granulado
Ao nível da geomorfologia, o territó- Soutos da Lapa – DOP. Nesta região graúdo é utilizado em várias receitas,
rio divide-se em três sub-regiões: a mon- localiza-se mais de 85 por cento da área destacando-se os Cuscos com Chouriça
tanha (Vinhais e Bragança), uma zona de de castanheiro em Portugal. No território (ou com bucheira). Triturando os cuscos,
Sabia que...
Logo que a batata desembar-
cou em Trás-os-Montes (fim do
século XVIII, principio do século
XIX), rapidamente destituiu a
castanha e, inclusive, muitas
hortaliças, como os nabos e as
abóboras (favas e lentilhas) na
maioria do receituário da região,
principalmente no das “Terras
Frias Transmontanas”.

Glossário
Adoba – termo regional também
usado para designar a marinada
com que se temperam os
enchidos.

A batata veio substituir o nabo e a cas-


tanha nas tradições alimentares de Trás-
-os-Montes, pelo que foi chamada “cas-
é possível criar uma pequena massa, que e coberto por vários alqueires de cereal. tanha da terra”, tendo então provocado
é posteriormente cozida, formando os Este método permitia conservá-lo durante grande transformação na dieta alimentar
Carolos, que se comem polvilhados com muito mais tempo, mantendo o sabor e to- regional. O cultivo da batata é extensível
açúcar ou mel e canela. das as características organoléticas. a todo o território da Terra Fria, no en-
Do fumeiro da Terra Fria salienta-se O Butelo de Vinhais – IGP é o es- tanto, nos últimos anos tem-se vindo a
a alheira, chouriça, salpicão, butelo e ou- tômago (bulho) do porco onde se intro- assistir a um decréscimo da respetiva área
tros enchidos que são produtos típicos duzem os ossos tenros da costela e do e da produção.
em todo este território. Sendo que em espinhaço, ainda bem cobertos de carne, Na Terra Fria Transmontana salien-
Vinhais vários são IGP: o Salpicão de Vi- depois de temperados em “adoba” (com ta-se também a existência de várias es-
nhais, a Chouriça de Carne de Vinhais a sal, alho, vinho, louro e colorau) durante pécies de cogumelos que localmente as-

51
Alheira de Vinhais o Butelo de Vinhais, três ou quatro dias. No fumeiro de Vinhais sumem diferentes nomes: “os frades ou
o Chouriço Azedo de Vinhais, a Chouriça salienta-se o tempero com vinho; em Mi- roques (os mais conhecidos); os chapéus


Doce de Vinhais e o Presunto de Vinhais. randa do Douro e Vimioso substituem de sol ou febras; os cardielos, cantarelos,
O salpicão é o enchido de carne do lombo o vinho por água; em algumas zonas do míscaros ou cristas de galo; as pinheiras,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e lombinho do porco bísaro, com a qual concelho de Bragança e Vinhais utilizam telheiras ou sanchas; as manitas de César,
se faz uma adoba de vinho, água, alho, sal, água e vinho. Com o butelo, prepara-se manitas laranja ou amarelo de ovo (um
loureiro e colorau, introduzida em tripa um prato muito típico em toda a região dos melhores e mais apreciados); os ce-
grossa de porco. Só se encontra na mesa da Terra Fria: o Butelo com Cascas. pes; e as geribóilas (que crescem nas vi-
das casas mais ricas e só em ocasiões espe- Os Pastéis do Entrudo de Vinhais são nhas, sobretudo em terras de Miranda)”.
ciais. Bem curado, cortado em rodelas fi- habitualmente confecionados no sábado Nos doces, a Bola Mirandesa cons-
nas, acompanha com pão de trigo caseiro de Entrudo e consumidos até à terça-feira titui uma referência na região, sendo es-
e vinho tinto e pode ser intervalado com de Carnaval. Na preparação da finíssima pecialmente consumida na Páscoa. Ao
azeitonas curadas. massa utiliza-se farinha de trigo, azeite e contrário da maioria dos folares, trata-se
Noutros tempos, quando os meios de sal. O recheio é preparado com carne de de um doce húmido. A massa é igual à do
conservação eram escassos, as pessoas vitela, presunto, chouriça de carne, ovos pão, mas mais fina e intercala-se com ca-
colocavam o salpicão num pote de barro, cozidos e salsa. Têm a forma de meia-lua e madas de açúcar e canela. No final a bola
mergulhado em azeite, no fundo da tulha assemelham-se aos pastéis de massa tenra. deve ser bem fechada.
sopas Carne
Caldo de Cascas butelo
com
cascas

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 kg cascas 1 kg de cascas
1 salpicão Sal
1 linguiça 1 butelo
1 chouriça Azeite
200 g presunto Presunto
Unto q.b. Orelheira
250 g macarrão Costelas
Sal
Azeite
Batatas PREPARAÇÃO

Coloca-se as cascas de molho


PREPARAÇÃO em água fria. No dia seguinte,
cozem-se com sal juntamente
Leva-se uma panela ao lume com as Deixa-se cozer cerca de 5 minutos, pro- com o butelo.
cascas, a linguiça, o salpicão, o presunto, va-se e, se estiver a gosto, serve-se bem
um pouco de unto; tempera-se com sal e quente. Quando tudo estiver bem
azeite e deixa-se cozer. cozido, escorrem-se as cascas
para uma terrina ou para uma
Depois de cozer um pouco, muda-se a travessa funda, dispondo por
água e deixa-se cozer de novo, aproxima- cima o butelo partido em pe-
damente 1 hora. daços e regando tudo com um
bom azeite cru.
Quando cozidas, retiram-se as carnes Glossário
da panela, desfiam-se e juntam-se algu- Pode acrescentar-se um bo-
mas batatas às cascas, deixando cozer. Cascas – vasas, palhoças, cado de presunto, orelheira e
palhadas ou casulas, são vagens umas costelas.
Quando cozidas, esmagam-se as batatas secas de feijão verde.
com um garfo e juntam-se as carnes devi-
damente desfiadas e o macarrão. Unto – gordura de porco; banha. RITOS E HÁBITOS
52

Na origem desta receita terá


estado a escassez de recursos,


que obrigava os mais pobres
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

a aproveitar todos os bens co-


mestíveis, transformando as
cascas e o espinhaço do por-
co, muitas vezes até à ponta do
rabo, para criar este prato bem
energético, consumido por al-
tura do Carnaval. Trata-se de
um prato popular no meio ru-
ral, mas igualmente presente
em todos os eventos gastronó-
micos.
Carne
posta mirandesa

INGREDIENTES

300 g de carne de vitela Mirandesa


Sal grosso

PREPARAÇÃO Contrariamente
ao que
O lume das brasas deve estar forte no O tempo que a posta está na brasa de-
início. As brasas incandescentes devem pende do gosto pessoal, consoante se pre- acontecia
estar distribuídas de forma regular no fo- fira a carne bem ou mal passada. nas outras
gareiro ou lareira de forma a proporciona-
rem uma distribuição uniforme do calor. Para conservar a suculência da carne, províncias, em
esta não pode ser picada. Ao voltar-se a Trás-os-Montes
A grelha deve ser colocada a uma altura posta, o lume deve estar forte, para que comia-se carne
de cerca de 10 cm das brasas. A carne deve se crie uma crosta que impeça a saída dos
ser cortada em postas com uma espessura sucos. Contudo, esta crosta não deve ser de vaca com
de 3 a 4 cm. espessa, porque senão o calor penetra na abundância. E
carne de forma deficiente e a posta acaba
Coloca-se a carne na grelha sem tem- por ficar queimada por fora e mal grelha- não eram só as
pero nenhum. Após esta operação, e caso da por dentro. comunidades
o deseje, tempere com sal grosso. Voltar mais providas
a carne, sem espetar, quando aparecerem Acompanhar com batata cozida com
pequenas pérolas de sangue na superfície casca ou assada, legumes e salada. de dinheiro que
superior. a consumiam…
A posta
mirandesa é
um exemplo
do consumo de
carne de vaca

53
pelas classes


populares.”
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
caça
Javali no pote com Castanhas

INGREDIENTES

Javali
Castanhas
Sabia que...
Vinho No início do século XIX, em
Louro algumas regiões do Norte, os
Cebola festejos associados à castanha
Colorau começavam no dia de S. Simão e
Alho S. Judas Tadeu (a 28 de outubro),
Limão nos quais se comiam castanhas
Pingo assadas à merenda.
Sal “Em dia de S. Simão,
Quem não faz magusto
Não é cristão”.
PREPARAÇÃO O dia de Todos-os-Santos, igual-
mente dedicado ao costume de
Corte o javali em pedaços e coloque-o a Dicas e pedir Pão por Deus, está também
marinar com um bom vinho, louro, cebo-
la, colorau, alho, limão, pingo e sal.
Truques ligado ao magusto. Em muitas
localidades transmontanas feste-
Se começar a ficar seco e java-se o “Magusto dos Santos”
Depois de bem marinado, cozinhe-o sem molho, vá acrescentando em romarias. Havia grupos que
num pote de ferro fundido, aconchegado um pouco de água durante a roubavam castanhas no campo
com saborosas castanhas, das variedades cozedura. e assavam-nas em fogueiras de
longal, judia ou boa-ventura. carqueja, chamiça e sargaço, im-
provisadas ao ar livre. O repasto
Deixe cozinhar em lume brando até que era acompanhado com vinho
a carne se apresente tenra, o que demora palhete ou água-pé de canjirão.
entre 1 hora e 30 minutos a 2 horas. “Dos Santos a S. Martinho
Glossário São onze dias de pão e vinho”.
Este magusto, bastante alegre,
Pingo – gordura de porco; banha. antecedia e contrastava com
a solenidade e a tristeza das
54

cerimónias religiosas do Dia dos


Finados.

“Não sei se cante, se chore,


Se qual melhor me será;
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

O cantar alivia penas,


O chorar as dobrará”.
Estas festividades terminavam a
11 de novembro.
“Em dia de S. Martinho,
Lume, castanhas e vinho”.
DOCES
bola mirandesa

INGREDIENTES

1,5 kg de massa de pão Estende-se uma folha de massa, polvi-


2 ovos inteiros lhando a mesa e o rolo com farinha.
4 gemas
1 dl de azeite Estica-se e com ela forra-se o fundo e os
50 g de manteiga lados do tabuleiro. Esta camada não pode
300 g de açúcar ficar com buracos, para evitar que o açú-
40 g de canela em pó car e canela escapem.
500 g de farinha
Sal q.b. Divide-se a canela em sete partes e o
açúcar em oito. Polvilha-se a massa com
uma parte de açúcar e outra de canela.
PREPARAÇÃO
Estende-se nova camada muito fina e
À massa de pão juntam-se os ovos coloca-se de modo a cobrir apenas o fun-
e a mistura das duas gorduras (azei- do, isto é, a cobrir apenas o açúcar e a ca-
te e manteiga) derretidas em banho- nela.
-maria.
Repetem-se estas operações até se obte-
Bate-se a massa com a ajuda de um pou- rem sete camadas.
co de farinha, de modo a ficar com a con-
sistência de uma massa que possa ser es- Quando se colocar a última camada,
tendida com o rolo. unem-se os bordos de modo a obter um
cordão. Polvilha-se a última camada com
Unta-se um tabuleiro com manteiga e a oitava parte do açúcar. Leva-se a cozer
polvilha-se com farinha. em forno a cerca de 190 ºC, durante 25 a
30 minutos.

55
A Bola Mirandesa

constitui uma
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
referência na região,
sendo especialmente
consumida na Páscoa.
Ao contrário da
maioria dos folares,
trata-se de um doce
húmido.”
território
TERRA QUENTE

contrariar esta tendência, constatam-se Igualmente importantes são o mel,


os contributos do investimento no ensino a batata e os queijos, nomeadamente o
superior e técnico, o dinamismo dos em- Queijo de Cabra Transmontano – DOP
preendedores e a aposta na diversificação e o Queijo Terrincho – DOP, queijo
das atividades económicas, destacando-se de ovelha terrincha: meia-cura (quei-
o setor primário, sobretudo ao nível de jo novo), curado ou de cura prolongada.
uma agricultura de minifúndio. Dos pro- “Simples e de cor amarela palha, prote-
dutos da terra desenvolve-se uma indús- gido por uma pasta de azeite pimentão e
tria agroalimentar que acrescenta à cultu- aguardente bagaceira, envelhecido e con-
ra gastronómica tradicional diversidade servado em talhões de azeite ou em arcas
de produtos de qualidade. de madeira repletas de grão de centeio,
acondicionado em frascos de azeite aro-
Património matizado de ervas e sabores picantes”.
Terra de uma das 7 Maravilhas da
Gastronómico
WWW.DESTEQUE.PT

Gastronomia de Portugal, este território


premeia uma longa história de saberes e
Produtos hortícolas e frutícolas, bem modos de fazer, de ritos construídos entre
como a vinha e o vinho – Região Demar- xistos e granitos por gentes que preser-
cada do Douro – assumem aqui relevan- vam o legado patrimonial natural, arque-
te importância económica e paisagística, ológico e construído com que escrevem a
mas é a oliveira e seus produtos que mar- sua identidade.
cam este território, onde, a par do vinho De acordo com as respetivas especi-
e do azeite, podemos encontrar produtos ficações, o “Azeite de Trás‑os‑Montes,
Caracterização de perfil mediterrânico, como o trigo e produto DOP, é de baixa e muito baixa
históricA E frutos como as amêndoas, os figos de dife-
rentes variedades e as cerejas, designada-
acidez, de cor amarela esverdeada, com
cheiro e sabor a fruto fresco, por vezes
Geográfica mente as de Alfândega da Fé. amendoado e com sabor algo adocicado,

O território de Terra Quente corres-


ponde à zona de intervenção do GAL
DESTEQUE – Associação para o Desen-
volvimento da Terra Quente.
Localiza-se na região de Trás-os-Mon-
56

tes e integra cinco concelhos do distrito


de Bragança: Alfândega da Fé, Carrazeda

de Ansiães, Macedo de Cavaleiros, Mi-


randela e Vila Flor.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Os rios Sabor e Tua atravessam esta


região e as serras de Bornes e Orelhão
(pontos mais elevados) são intercalados
por planaltos e extensões de baixa alti-
tude como o Vale da Vilariça. A área de
Paisagem Protegida da Albufeira do Azi-
bo – onde se encontra uma das sete praias
eleitas como Maravilhas de Portugal
(Praia da Ribeira) –, mais-valia paisagís-
tica e ecológica, é referência da excelência
ambiental deste território.
A quebra demográfica verifica-se
em todos os concelhos, mas, tendendo a
verde, amargo e picante. As va-
riedades de azeitona utlizadas são
a Verdeal Transmontana, Madural, Co-
brançosa e Cordovil.”
Nesta região, a tradição do consumo
de azeite remonta à Antiguidade, poden- A Alheira de Mirandela é o enchido
do constatar-se que a plantação de olivais regional mais consumido e conhecido no
em Mirandela data da primeira metade país, mais envolto em mistério e único no
do século XVI, tendo a sua produção mundo. É justa, por isso, a denominação
mantido um significado expressivo ao Alheira de Mirandela para designar este
longo dos séculos. A azeitona é desfolha- “enchido de pão trigo levedado em pouco
da e lavada após a sua receção, não de- fermento, carnes de capoeira e de corte-
vendo ficar mais de dois dias em tulhas, lho, às vezes abonados de um chichado Os espargos bravos
de modo a evitar o aumento da acidez e de caça miúda, com um bom aviamento ou espárragos,
outros defeitos sensoriais do azeite. de banha do reco, azeite bastante, cebola
O azeite e as azeitonas são largamen- nem sempre, alhos bem esmagados, rara- espontâneos por toda
te usados nas tradições alimentares desta mente salsa esfarrapada e pimenta branca a região da Terra
região, quer como ingrediente base de de tempero, sal e colorau doce ou pican-
muitas receitas, incluindo as da doçaria te” com que os transmontanos – (miran- Quente Transmontana
tradicional, quer como um tempero. Per- delenses ou vizinhos) – sempre fizeram e Douro, nascem
tence a esta região a Azeitona de Conser‑ questão de brindar os portugueses. debaixo das oliveiras,
va Negrinha de Freixo – DOP, consu- Relativamente aos cabritos, estes são
mida como acompanhamento de vários da raça Serrana Transmontana e prove- onde o arado não
pratos tradicionais ou como aperitivo. nientes de animais criados em pastoreio chegou, encostados
O fumeiro assume também uma de percurso ou em cabradas ganadeiras. É
grande importância na região. Enchido a raça mais representativa das raças capri- aos muros e muretes,
em tripa ou apenas de salga e fumo, quan- nas portuguesas. De pelagem comprida, nas carrasqueiras e

57
do não ia para as feijoadas e cozidos ou podendo ser preta, castanha e ruça, é um matagais, aqui e além.
quando não constituía só por si uma re- animal de estatura média e de vocação lei-
Apanham-se entre


feição de substância, servia também para teira.
prometer uma boa entrada aos melhores O modo mais usual de cozinhar os o fim do inverno e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
manjares festivos e domingueiros. pequenos cabritos é de assadura no espe-
Os enchidos mais propensos a esta to ou no forno ou à moda da serra (em- início da primavera.
utilização, onde o azeite tem um papel brulhados em folha de abóbora e assados São de sabor forte e
indiscutível, são as alheiras, termo que num buraco previamente aquecido), em acre, mas dão migas e
não era conhecido até ao século XIX. arroz de forno ou em caldeirada (dito à
Nas outras zonas transmontanas, Terras bruxa). omoletes, também de
Frias e Planalto Mirandês, as denomina- Na doçaria local destacamos algumas sabor memoriável”.
ções históricas e mais vulgarizadas até ao das especialidades mais marcantes onde o
prestígio comercial alcançado pela Alhei- azeite tem um lugar central como no caso António Monteiro
ra de Mirandela, seriam: tabafeia (errada- do Pudim Azeitado, os Bolos Económi‑
mente), larota, larona, azedo, farinhota, cos, a Compota de Azeitonas Doces e os
toucinheira, chouriça de pão, morcela de Papos de Anjo de Mirandela.
pão, morcela d’alho, vilão.
Entradas Entradas
Pasta ou pastada Laranja
de azeitonas azeitada

INGREDIENTES INGREDIENTES
RITOS E HÁBITOS
Azeitonas pretas sem caroço Laranjas
(de preferência) Esta pasta ou pastada de azeitonas foi uti- Alho
Sumo de limão lizada, essencialmente, pelos guardadores Sal grosso
Tomilho de gado nos seus pastoreios de percurso Azeite
Azeite das arribas da Póvoa e Picões até às Quin-
Miolo de pão fresco tas de Meirinhos, sempre à beira do Sa-
bor, ou de Abreiro até ao Candedo sem PREPARAÇÃO
deixar de vista as águas do Tua – e pelos
PREPARAÇÃO segadores que se ausentavam de casa por Apreste-se com umas laranjas e corte-
períodos mais ou menos longos – das Ter- -as às rodelas, deixando pequenas tiras de
Reduzem-se as azeitonas, preferencial- ras Quentes do trigo para as Terras Frias casca.
mente as pretas e sem caroço, a puré ou a Transmontanas do centeio – e as azeito-
uma pasta grosseira. nas novas ainda não tinham saído da ár- Retira-se-lhes o estorvo dos caroços e
vore ou, então, porque não estavam pron- salpicam-se com alho picado e um pouco
Mistura-se-lhes sumo de limão, tomi- tas para a “cura das alcaparras”. de sal grosso.
lho e azeite carregado de sabores a frutas
maduras e engrossa-se com miolo de pão De seguida, consoante a acidez das la-
fresco. ranjas, rega-se com azeite, azeite a raiar o
verde picante, ou o maduro bem frutado
e doce.
RITOS E HÁBITOS

Outrora feita quase sempre das azeitonas


sapateiras – azeitonas velhas e moles, com
um ligeiro sabor a “couro” –, era, basi- Sabia que...
camente, consumida em cadorno de pão Esta “laranja azeitada” foi
barrado e, raras vezes, como tempero nos merenda de meio-dia das
refogados ou nos assados de peru, borre- famílias menos remediadas, que
gos e leitões. acompanhava com um simples
cadorno de pão e azeitonas
58

de cura. Era o aproveitamento


das sobras das laranjas menos

sumarentas ou das mais


aciduladas. Posteriormente, com
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

a sua adopção pelas casas mais


abastadas, transformou-se na
“laranja dos ricos” e “laranja dos
fidalgos”, desde que levasse uns
pós de açúcar amarelo e tantinho
de picante ou, então, servisse
para adornar assados de capão,
cordeiro ou porco.
Atualmente, em alguma da nossa
restauração mais ambiciosa,
apresenta-se como salada, ou à
sobremesa quando acompanhada
por uma compota de azeitonas.
Carne
Alheira de Mirandela
com grelos salteados

INGREDIENTES

Alheira
Sabia que...
Grelos nabiceiros “A alheira é um enchido tradi-
Azeite cional transmontano, fumado,
Alho feito de carnes diversas (de por-
Miolo de pão co e de aves, podendo levar um
Sal pouco de carne de caça, de vaca,
salpicão ou presunto) cozidas e
condimentadas (sal, alho e colo-
PREPARAÇÃO Cozem-se primeiro as batatas e alou- rau doce e/ou picante), azeite de
ram-se depois na gordura da alheira. Trás-os-Montes e pão de trigo
A melhor maneira de as apreciar e a (máximo de 25 por cento do
mais popularizada na região continua a Migam-se os grelos (devem ser nabi- total de matérias primas). Tem
ser a de acompanhar as alheiras, depois ceiros) ainda tenros, cozem-se levemente formato de ferradura, cilíndrico
de assadas ou fritas, com batatas cozidas com pouco sal. e cor alaranjada.
alouradas na respetiva gordura e grelos O comprimento é variável (20
salteados na mesma gordura, ou com ar- Passam-se num estrugido de azeite e a 25 cm), o diâmetro vai de 2
roz de berdosas ou de espigos de couves. alho. a 3 cm e o peso de 150 a 200
g. O invólucro é constituído
Assam-se as alheiras no forno ou na Acrescentam-se à cozedura de acerto de por tripa seca de vaca ou de
brasa ou “fritam-se” numa pequena por- um migado de miolo de pão duro esfarela- porco. O sabor é característico
ção de azeite sobre lume muito brando. do e de uma colherada de vinagre. destacando-se a condimentação
com bastante alho que estará
na origem da sua designação de
alheira. A fumagem é feita com
lume brando de madeira de oli-
veira, ou de quercíneas, durante
um período inferior a 8 dias.”

59

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
caça
Lebrada das vindimas
ou lebrada castelhana

de alho esmagados e sal, onde a lebre fica


INGREDIENTES a macerar durante 2 dias.

Lebre Num tacho com azeite quente, refo-


3 copos de vinho tinto ga-se bem as hortaliças retiradas da ma-
Azeite rinada e a lebre cortada aos pedaços bem
O azeite e as Cebola escorridos.
Cenoura
azeitonas são
Nabo Passado mais ou menos 15 minutos,
largamente 2 folhas de louro junta-se um pouco de farinha, volteando
usados nas Tomilho constantemente.
Rosmaninho
tradições Salsa Acrescenta-se 1 copo de aguardente ve-
alimentares Sal lha e vinho tinto ou só de vinho do Porto
Pimenta
desta região, e do líquido da marinada.
Pimenta em grão
quer como 3 dentes de alho Deixa-se assim alguns minutos e dei-
ingrediente Farinha ta-se mais louro, tomilho e salsa.
1 copo de aguardente velha e vinho
base de muitas tinto ou vinho do Porto Tempera-se de sal e pimenta, ficando
receitas, Cogumelos em lume brando durante 2 horas.
Limão
incluindo as
Entretanto, preparam-se alguns cogu-
da doçaria melos, regando-os com sumo de limão.
tradicional, PREPARAÇÃO Salteiam-se em azeite numa sertã em con-
junto com a cebola.
quer como um Faz-se uma marinada com o sangue
tempero.” da lebre, 2 a 3 copos de vinho tinto, um Quando a cebola estiver alourada, jun-
pouco de azeite, cebola, cenoura e nabo ta-se tudo ao tacho da lebre.
cortados às rodelas, 2 folhas de louro, uns
cheiros de tomilho e rosmaninho, 1 rami- Retifica-se de sal e acrescenta-se de cal-
nho de salsa, pimenta em grão, 3 dentes do para acabar de ferver.
60

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
caça
tordos fritos
ou fritada dos passarinheiros

De seguida, fritam-se numa sertã com


INGREDIENTES bastante azeite.

Tordos Passam-se para um tacho de barro.


Sal grosso
Azeite No azeite da sertã, faz-se um refogado
Cebola de cebola às rodelas e presunto às tiras.
Presunto
Folhas de louro Ao refogado já apurado, juntam-se
Canela umas folhas de louro, a canela, a pimenta
Pimenta e a malagueta.
Malagueta
Deita-se este refogado sobre os tordos,
acrescentando água quente até ficarem
PREPARAÇÃO meio cobertos.

Limpam-se bem os tordos e abrem-se Deixa-se cozer um tantinho mais, em


ao meio. lume brando.

Temperam-se de sal grosso e põem-se a


repousar 1 hora e 30 minutos ou um pou-
co mais.

Sabia que...
“E os tordos assinalam o perpe-
tuar da apanha da azeitona…”
São as tordeiras ruivas, tordas
ou tordinhos brancos e as tur-
donhas quem mais se passeiam

61
pelos olivais regionais. Para o
agricultor são indesejáveis e la-


rápios; para o caçador, alvos de
prazer; e para os gastrónomos,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
conforto dionisíaco.
As fritadas e o arroz de tordos
são o correntio culinário desta
pequena ave migratória.
Muita outra caça de penas faz o
gosto ao gastrónomo e, por aqui,
ainda abunda, arreigando-se
desde sempre nos nossos hábi-
tos alimentares.
território
DOURO VERDE

na Região Demarcada dos Vinhos Ver-


des, que se estende por todo o Noroeste
de Portugal, na zona tradicionalmente
conhecida como Entre Douro e Minho.
Existem referências sobre a existência de
produção de vinho na Região Demarcada
dos Vinhos Verdes desde a época romana,
embora haja evidências de que a designa-
ção Vinho Verde tenha surgido no século
XVII. São reconhecidos como sendo vi-
nhos “macios, com aromas singulares”.
Existem também algumas manchas
de árvores de frutos: macieiras (designa-
damente pés de variedades regionais de
WWW.DOLMEN.CO.PT

maçãs como a verdeal, porta da loja e pipo


de Basto), laranjeiras (de que se destaca a
laranja da pala produzida em Baião, Mar-
co de Canaveses e Cinfães) e castanheiros.
A prática de pastorícia complementa
a atividade agrícola, estando a produção
de queijo associada à produção caprina,
sobretudo nas serras do Marão e da Abo-
boreira.
Caracterização Paris, comeu-o em Tormes com muito
históricA E Património apreço.
Refira-se ainda o Anho Assado com
Geográfica Gastronómico Arroz de Forno que era, e é, tradicional-
mente, um “prato de festa”, assumindo
O território do Douro Verde corresponde Muitos pratos são comuns à região do especial relevo na celebração dos casa-
à zona de intervenção do GAL DOLMEN Minho, designadamente, os que têm por mentos. No último dia das vindimas
– Cooperativa de Formação, Educação e base a Carne Arouquesa – DOP, sendo servia-se também esta iguaria aos traba-
Desenvolvimento do Baixo Tâmega e in- o Naco de Vitela Arouquesa um ex li- lhadores, normalmente vizinhos, que se
tegra os concelhos de Amarante, Baião, bris. Assam-se pequenos nacos de vitela entreajudavam nas tarefas agrícolas.
62

Marco de Canaveses, Cinfães, Penafiel e de Arouca (lombo, rabada ou posta falsa) A produção artesanal de fumeiro es-
Resende. A cerca de 50 km da área me- temperada de sal, e serve-se com batata tende-se a todos os concelhos do Douro

tropolitana do Porto, enquadrado entre o “charbonada” (batata de tamanho médio Verde. Um vasto leque de produtos é la-
Douro e o Tâmega, o território é limita- ou pequeno que sofre uma cozedura ligei- borado de forma tradicional e artesanal,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

do a norte e nordeste pela Serra do Ma- ra e acaba a sua confeção com uma fervu- destinando-se, sobretudo, ao autoconsu-
rão, que tem o seu prolongamento para o ra em azeite, alho, sal, louro, malagueta e mo. Não é fácil encontrar fumeiro local à
centro, na Serra da Aboboreira, ponto de salpicos de açúcar) e salada fresca. venda em lojas da região.
confluência dos concelhos de Amarante, Outra iguaria deste território é o Ar‑ Igualmente tradicional em toda a sub-
Baião e Marco de Canaveses, pertencen- roz de Favas, descrito por Eça de Queiroz -região do Baixo Tâmega é a atividade de
tes ao distrito do Porto. A sul, o rio Douro na obra “A Cidade e as Serras”. Quando fabrico de pão, destacando-se o Pão de
separa o maciço do Marão do de Monte- Jacinto, o protagonista do livro, chega, Padronelo, o Pão caseiro do Marco e a
muro. vindo de Paris, à aldeia que hoje se chama Broa Caseira (de milho, centeio ou mista).
O vinho verde é um dos produtos mais Tormes (concelho de Baião), ninguém o A DOP Mel das Terras Altas do Mi‑
emblemáticos deste território, assumindo esperava. Por esse motivo, preparam-lhe a nho estende-se aos seis concelhos que in-
particular importância nos concelhos de receita mais simples, a partir de favas que tegram o território do Douro Verde.
Baião, Amarante e Marco de Canaveses. se colhiam na terra (era o mês de maio). A doçaria deste território é mui-
Os vinhos do Douro Verde integram-se Jacinto, que não apreciaria tal prato em to diversa, especialmente a de origem
O vinho verde é
um dos produtos
mais emblemáticos Sabia que...
deste território, As Cavacas de Resende remon-
tam a tempos ancestrais e são
assumindo particular confecionadas com apenas três
importância nos ingredientes: ovos, farinha e

concelhos de Baião, açúcar. O seu fabrico continua a


ser artesanal em oito casas da
Amarante e Marco região de Resende e utilizam-se
de Canaveses. ovos muito frescos que provêm
das quintas das redondezas.
São reconhecidos Estas cavacas são amassadas
como sendo vinhos num aparelho artesanal movido

‘macios, com aromas à mão e que é conhecido por


“banco”. As cavacas comem-se
singulares’.” a qualquer hora do dia, princi-
palmente em feiras e romarias.
Aconselha-se que a degustação
seja acompanhada de um cálice
de vinho do Porto.
conventual, destacando-se os Doces a tradição de doçaria vendida em festas e
Conventuais de Amarante, designada- romarias, incluindo o incontornável Bis‑
mente as Lérias, os Amarantinos, os Pa‑ coito da Teixeira, de Baião e o Pão de
pos de Anjo, os Foguetes e as Brisas do Ló, do mesmo concelho, confecionado de
Tâmega. modo artesanal, batido à mão e cozido em
Deliciosos são também os famosos forno de lenha dentro de forma de barro
doces regionais do Marco de Canaveses própria. Era presente para os notáveis da
– Doces do Freixo –, as Cavacas de Re‑ terra ou para aqueles a quem se deviam
sende e as Falachas do mesmo concelho. favores, principalmente por alturas da Sabia que...
Em todo o território é ainda muito forte Páscoa. Os Doces do Freixo tiveram,

63
provalvelmente, origem no
século XVII, sendo fabricados


então, num convento de freiras.
No entanto aparecem verdadei-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
ramente referenciados a partir
do ano de 1819 (reinado de D.
João VI), data de construção da
casa dos Lenteirões, situada a
2,5 km da cidade do Marco de
Canaveses. De assinalar que já o
Rei D. Luís exigia que nos seus
banquetes os Doces do Freixo
estivessem sempre presentes.
A arte da sua fabricação tem
passado de geração em geração,
mantendo sempre a sua qualida-
de e variedade.
Peixe carne
bacalhau Arroz de favas
à zé com frango alourado
calçada

INGREDIENTES INGREDIENTES Para um tacho, pica-se cebola e alho,


que se levam ao lume com azeite a alourar.
Bacalhau (lombos) Arroz carolino
Farinha 2 cebolas De seguida incorpora-se um pouco de
Azeite 6 dentes de alho vinho branco.
Cebola 2 folhas de louro
Alho 1 linguiça Acrescenta-se o salpicão e a linguiça,
Louro 1 salpicão juntamente com água suficiente para fa-
Pimentos morrones 1 kg de favas zer uma calda para cozer o arroz.
Maionese 1 copo vinho branco
Puré de batata 1 frango do campo Enquanto ferve a calda, aloura-se o
Sal q.b Sal q.b. frango em azeite.
Pimenta q.b Pimenta q.b.
Azeite Quando a calda ferver acrescentam-se
as favas descascadas, deixando cozer apro-
PREPARAÇÃO ximadamente 15 minutos e estará pronto
PREPARAÇÃO para juntar o arroz.
Passam-se pela fritura do
azeite os lombos do bacalhau Prepara-se o frango de véspera e tem- Serve-se o frango com o arroz que deve
depois de envolvidos pela fa- pera-se com sal, alho, pimenta e vinho ficar malandro.
rinha. branco.

Frita-se, de seguida, a cebola


com alho, sal, pimenta e louro.

Coloca-se numa caçarola


o bacalhau frito, pondo por
cima a cebolada anteriormen-
te preparada.

Depois acrescenta-se uma


camada de maionese.
64

Para finalizar, cobre-se tudo


com uma camada de puré de


batata.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Leva-se ao forno durante


cerca de 10 minutos.

Retira-se e decora-se com


pimentos morrones.

Serve-se bem quente.


carne
Anho Assado com Arroz de Forno

INGREDIENTES

Arroz carolino
Anho
Toucinho de porco
Alho
Azeite
Cebola
Colorau q.b.
Vinho branco
Galinha
Salpicão
Presunto No último dia das vindimas servia-se esta iguaria
Carne de porco
aos trabalhadores, normalmente vizinhos, que se
Carne de vaca
Salsa entreajudavam nas tarefas agrícolas.”
Sal q.b.

PREPARAÇÃO

Tradicionalmente, a preparação é ini-


ciada de véspera. Na noite anterior, un-
ta-se o anho com uma massa obtida por
esmagamento de toucinho de porco, sal
q.b., alho, azeite, cebola, colorau e vinho
branco.

Prepara-se a calda para o arroz, come-


çando por cozer galinha, salpicão, pre-
sunto, carne de porco, carne de vaca, com
uma cebola e sal q.b.

65
Leva-se a calda a ferver o tempo sufi-


ciente até que fique branca; entretanto,
coloca-se o arroz no alguidar, pondo ro-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
delas de cebola, salsa e um fio de azeite,
mexendo tudo muito bem.

Acrescenta-se a calda, voltando a mexer


e, coloca-se uma grelha por cima do algui-
dar do arroz, pondo de seguida o anho por
cima desta, levando tudo ao forno.

Passada 1 hora de estar no forno, vira-se


o anho e deixa-se acabar de assar. Bem
tostadinho está pronto a saborear.
Carne DOCES
Naco de vitela Arouquesa Amarantinos

INGREDIENTES INGREDIENTES

Carne Arouquesa – DOP 200 g de farinha


(lombo, rabada ou posta falsa) 200 g de açúcar
Sal grosso 4 ovos
Canela
Guarnição: Raspa de Limão q.b.
Batata média
Azeite
Alho PREPARAÇÃO
Louro
Malagueta Batem-se as gemas com o açúcar e os
Açúcar aromas e depois com a farinha.

Verdes frescos: Juntam-se as claras em castelo.


Alface frisada
Cebola Vão ao forno em forminhas muito bem
Cenoura untadas. Desenformam-se e colocam-se
Tomate em caixinhas de papel plissado.

PREPARAÇÃO

Prepara-se um lume forte com brasas


incandescentes.

Coloca-se a grelha a cerca de 10 cm das


brasas.

A carne deve ser cortada em postas com


uma espessura de 3 a 4 cm (cerca de 300 g
por naco).
66

Coloca-se a carne na grelha e tempe-


ra-se na ocasião com sal grosso.


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Quando aparecerem pequenas gotas de


sangue na superfície superior, volta-se a
carne.

Tempera-se a parte superior, agora vol-


tada, e aguarda-se que a suculência se faça
notar novamente.

Retira-se de imediato e serve-se com as


batatas e salada fresca.
Doces
Cavacas de resende

INGREDIENTES

Sabia que... 16 ovos


480 g de farinha
A doçaria conventual de Açúcar
Amarante, com origem no
Convento de Santa Clara, é
conhecida por todo o país e PREPARAÇÃO RITOS E HÁBITOS
tem atraído muitos visitantes
a esta região. A Associação Batem-se bem, durante uma hora, 16 “Ó freguesinho, não vai meio arrátele?
Empresarial de Amarante rea- ovos com uma colher especial e com a Olhe que são de Resende!”, era desta for-
liza anualmente uma Feira de ajuda de correias. Juntam-se 480 g de ma que as doceiras do concelho aprego-
Doçaria Conventual, em maio, farinha e, nessa altura, não se deve ba- avam, no século XIX, um dos doces re-
com o objetivo de fazer reviver ter mais, mas sim envolver simplesmen- gionais mais deliciosos e apreciados nesta
as tradições, promover e vender te a farinha, que se deve deitar só de região duriense: as Cavacas de Resende.
os doces produzidos nesta um lado. Este relato é referido num jornal da épo-
região. ca, que ainda salienta o seguinte: “Logo
Unta-se um tabuleiro e polvilha-se com de manhã as doceiras estendiam sobre a
farinha, deita-se dentro a massa e vai ao toalha, toda franjada de rendas, vários do-
forno. ces muito cobertos de açúcar que desper-
tavam a gulodice dos romeiros”.
Depois da massa cozida, dão-se-lhe uns
golpes, partindo à mão. Deve ficar em fa-
tias.

Põe-se açúcar em ponto e vão-se co-


brindo as fatias com açúcar e farinha.
Faz-se esta operação da seguinte forma:
molha-se um pincel, primeiro em farinha
e depois em açúcar. Cobrem-se a cavacas,
levando-as depois a secar ao forno.

67

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
DOURO SUPERIOR

O património natural, profunda- qualidade na produção e divulgação dos


mente marcado pelo rio Douro e seus vinhos da região, tendo-se realizado, em
afluentes (Côa, Sabor e Tua) e o patri- outubro de 2012, em Vila Nova de Foz
mónio cultural são recursos que poten- Côa, o 1.º Festival do Vinho do Douro
ciam o desenvolvimento deste território. Superior.
Destacam-se o Alto Douro Vinhateiro Para além da vinha, a paisagem des-
e os Sítios de Arte Rupestre do Vale do ta região é marcada pela presença das
Côa, no Parque Arqueológico do Vale amendoeiras que, quando estão em flor,
do Côa, ambos classificados como Pa- constituem um espetáculo de extraordi-
trimónio Mundial da Humanidade pela nária beleza que pronuncia a primavera
UNESCO. no Douro, constituindo uma atração para
Igualmente atrativo é o Parque Na- grande número de visitantes e turistas. A
WWW.DOUROSUPERIOR.PT

tural do Douro Internacional, com uma produção de amêndoa aqui é muito sig-
área de 85.150 hectares distribuídos pelos nificativa, por exemplo, nos concelhos de
concelhos de Miranda do Douro, Moga- Freixo de Espada à Cinta e Mogadouro,
douro, Freixo de Espada à Cinta e Figuei- sendo os frutos de excelente qualidade e a
ra de Castelo Rodrigo. Amêndoa do Douro – DOP apresenta-se
como um ex libris da região. Trabalhadas e
Património adoçadas, as amêndoas tornam-se o ingre-
diente principal de variadas guloseimas,
Gastronómico particularmente no caso de um doce típi-
co desta região: a Amêndoa Coberta de
O Douro Superior insere-se na Região Moncorvo, produto artesanal de origens
Caracterização Demarcada do Douro, apresentando, remotas, e já premiado no século XIX
históricA E pois, condições propícias à produção vi-
nícola, situando-se aí adegas e coopera-
em Paris. São feitas pelas chamadas “co-
brideiras” e apesar de a sua confeção re-
Geográfica tivas que desenvolvem um trabalho de querer apenas dois ingredientes (miolo de

O território Douro Superior corresponde


à zona de intervenção do GAL Douro Su-
perior – Associação de Desenvolvimento
e integra os concelhos de Torre de Mon-
corvo, Vila Nova de Foz Côa, Freixo de
68

Espada à Cinta, Mogadouro. Este territó-


rio insere-se numa das zonas mais secas e

quentes de Trás-os-Montes e Alto Douro,


tendo no rio Douro o seu principal fator
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

de identidade.
As principais atividades económicas
da região são a agricultura e a pecuária
que constituem as fontes de sustento, de
sociabilização e o veículo dos saberes prá-
ticos tradicionais. O cultivo de vinha (in-
tegrada na Região Demarcada do Douro),
do olival e do amendoal predominam na
totalidade dos concelhos.
O setor secundário é constituído por
pequenas indústrias ligadas à área de
transformação agroalimentar (vinho, azei-
te, azeitona de conserva e enchidos).
amêndoa e uma calda de água e açúcar), hoje uma mais-valia turística
implica muitos dias de trabalho. e económica para a região.
A azeitona e o azeite deste territó- Os cogumelos de Mogadou-
rio contribuem decisivamente para a ex- ro são, há décadas, tidos como
celência dos produtos agroalimentares um alimento natural utilizado na
locais. Aí se produz biologicamente o subsistência de muitas famílias. Mo-
Azeite de Freixo de Numão e a Azeito‑ gadouro assume-se como a capital do
na de Conserva Negrinha de Freixo que cogumelo, tendo até um monumento em
obteve a classificação DOP. Esta azeitona granito alusivo ao cogumelo e à micolo-
tem “a polpa mais desenvolvida, é mais gia.
carnuda e com caroço mais pequeno”, o Os espargos (Asparagus), planta que
que a torna preferida para conserva. cresce espontaneamente, é conhecida
A Associação Nacional de Criadores desde tempos remotos pelas suas proprie-
de Ovinos de Raça Churra da Terra Quen- dades terapêuticas e gastronómicas. Nes-
te, situada em Torre de Moncorvo, tem
vindo a proteger a Ovelha de raça Churra,
te território podem ser encontrados em
olivais, junto aos muros e caminhos ou Sabia que...
o seu leite e derivados e também o Quei‑ mesmo em terrenos abertos não cultiva- O Queijo Terrincho é produzido
jo Terrincho que alcançou a qualificação dos. Na primavera existe a tradição de “ir exclusivamente por leite de
DOP. aos espargos”. Esta planta permite confe- ovelha de uma raça específica
Ao longo de várias gerações o princi- cionar uma grande variedade de receitas, – a Churra da Terra Quente. A
pal sustento de muitas famílias da Foz do como por exemplo as Migas de espargos área geográfica da sua produção
Sabor, concelho de Torre de Moncorvo, selvagens com ovos mexidos; os espargos abrange os concelhos de todo
foi a pesca de peixe do rio, cuja qualida- selvagens com ovo, pão, cogumelos e tou- o Douro Superior. É um quei-
de e quantidade se deve à confluência dos cinho fumado; a Sopa de espargos selva- jo curado, de pasta semimole
rios Douro e Sabor. As Migas de Peixe gens, os espargos grelhados com presunto branca e uniforme, ligeiramente
do Rio, inicialmente um prato de sub- e a omeleta de espargos selvagens. untuosa, obtida por esgotamen-
sistência, adquiriram fama e constituem As Sopas de Tomate de Freixo de to lento da coalhada, após a
Espada à Cinta são uma receita ancestral, coagulação do leite cru e puro.
cujas origens e autoria são desconhe- É um queijo de sabor suave,
cidas. Fáceis de preparar, substanciais, limpo e característico e mais
com ingredientes extraídos diretamente forte quando envelhecido. É um
dos campos, as Sopas de Tomate foram alimento que invariavelmente
um meio de subsistência em tempos di- entra na gastronomia portu-

69
fíceis. As sopas começaram por ser a guesa apimentando o início das
merenda de eleição dos segadores que refeições.


as transportavam em merendeiras para
os campos e que as comiam, novamen-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
te, à ceia. Atualmente as sopas de toma-
te de Freixo de Espada à Cinta consti-
tuem uma referência na gastronomia
freixenista.
Na gastronomia deste território de-
verá salientar-se também a importância
da caça, sobretudo o Arroz de Lebre com
Couves, tradicional de Freixo de Espada
à Cinta, bem como Lebrada com Feijão
branco, Coelho Bravo guisado, Perdiz es-
tufada com presunto, Guisado de Javali e
Tordos Assados.
entradas Entradas
cogumelos Omelete de espargos
grelhados sILVESTRES

INGREDIENTES INGREDIENTES

Cogumelos 1 molhinho de espargos selvagens


Sal 6 ovos
Alho moído Sal q.b.
Azeite Pimenta q.b.
Vinagre Azeite q.b.

PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO

Retira-se o pé do cogumelo. Lavam-se os espargos, de seguida cor-


tam-se em pedaços, deixando as cabeças
No interior coloca-se sal, alho moído, inteiras.
azeite e vinagre. Sabia que...
Levam-se a ferver durante 2 ou 3 minu- “O espargo é uma planta
Leva-se a grelhar. tos em água com um pouco de sal. Depois pertencente à família das
escorrem-se bem num passador. liláceas, espontâneo em toda a
Receita cedida pelo restaurante Kalifa Ok. bacia mediterrânica, conhecido
Batem-se muito bem os ovos com o sal desde tempos remotos pelas
e a pimenta, e adicionam-se os espargos, suas qualidades terapêuticas e
envolvendo muito bem. diversidade gastronómica. Os
seus rebentos, conhecidos como
Leva-se uma frigideira antiaderente ao turiões, emergem diretamente
lume com um pouco de azeite para aque- do solo (na primavera). São a
cer. parte mais apreciada do espargo
porque são tenros, carnudos e
Quando estiver quente deitam-se os comestíveis.”
ovos, que se deixam prender, começando Nesta região o espargo pode
lentamente a enrolar a omeleta, deixan- ser encontrado junto das
do-a cozinhar enquanto se enrola. espargueiras que crescem nos
olivais perto das oliveiras, junto
70

Serve-se simples com um bom pão ou aos muros e caminhos ou mesmo


com uma salada de alface, só levemente em terreno aberto que não

temperada. esteja cultivado. Ainda hoje, pela


primavera, se mantém a tradição
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

de “ir aos espargos”.


Sopas peixe
Sopas Migas de peixe do rio
de tomate

INGREDIENTES INGREDIENTES rega-se com 2 litros de água, tempera-se


com sal à medida e deixa-se levantar fer-
500 g de pão cortado às fatias finas 600 g de pão caseiro vura.
(pão de trigo com 2 ou 3 dias) 1 kg de peixe do rio
1 cebola média cortada (barbo, boga, muge, etc.) De seguida, introduz-se o peixe e a erva
1 dente de alho 1 raminho de poejo, também conhecido aromática (poejo), tapa-se e deixa-se co-
1 folha de louro por “erva peixeira” zer.
4 tomates médios bastante maduros 3 tomates maduros
6 colheres de sopa de azeite 6 colheres de sopa de azeite Depois de cozer, retira-se o peixe e jun-
1 colher de sopa de banha de porco 1 cebola tam-se ao caldo, os ovos previamente ba-
1 malagueta pequena (opcional) 4 ovos tidos para cozerem também.
Sal q.b. Sal q.b.
1 ramo de hortelã Corta-se o pão caseiro em fatias para
uma terrina.
PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO Deita-se o caldo em cima do pão, aba-
Corta-se a cebola às rodelas finas e co- fa-se durante algum tempo para que o cal-
Leva-se uma panela ao lume com o ze-se no azeite, sem deixar alourar. do se entranhe no pão.
azeite, alho, cebola, louro, banha de porco
e colorau. Junta-se o tomate partido e deixa-se O peixe pode servir-se à parte.
cozer. Quando o tomate já estiver macio,
Após 10 minutos ao lume, acrescenta-se
o tomate pelado e cortado aos cubos pe-
quenos. Deixa-se apurar durante 5 minu-
tos.

Acrescenta-se água q.b., sal a gosto e a


malagueta. Deixa-se ferver durante 5 mi-
nutos.

Com o lume desligado acrescenta-se o


pão e um ramo de hortelã e deixa-se re-

71
pousar cerca de 15 minutos. As sopas es-
tão prontas para servir.


Receita cedida por Helder Madeira.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
CARNE doceS
Ensopado amêndoa coberta
de Borrego de moncorvo
Terrincho

INGREDIENTES INGREDIENTES

Para 4 pessoas: Água


1,5 kg de Borrego Terrincho – DOP Açúcar
1 kg de batatas Amêndoa torrada
2 cebolas grandes
5 dentes de alho
1 folha de louro PREPARAÇÃO
1 ramo de salsa Sabia que...
2 tomates Num caco grande de barro colocam-se A amêndoeira e o seu fruto,
1 malagueta grande brasas, colocando por cima a bacia de co- originários da China ou da Ásia
2 colheres de sopa de azeite bre, separadas por madeira natural. Central, eram já cultivados nas
1 copo de vinho branco margens do Mediterrâneo desde
Pão saloio q.b. Na bacia de cobre é colocada a amêndoa a antiguidade remota. Os roma-
e regada com uma calda previamente pre- nos ofereciam-nas aos noivos
parada (água e açúcar), estando pronta a como símbolo do desejo de
PREPARAÇÃO ser trabalhada. fertilidade e felicidade conjugal.

Coloca-se tudo em cru dentro de um No caco de barro o calor é moderado,


tacho exceto as batatas, o pão e o vinho. aquecendo progressivamente a bacia de
Deixa-se apurar e rega-se com um copo cobre, onde o produto é trabalhado.
de vinho branco.
Nos dedos das mãos colocam-se dedais,
Quando o borrego estiver a meio cozer, e promovem-se movimentos com a amên-
mistura-se 1 kg de batatas aos cubos. doa de cima para baixo e de baixo para
cima.
Depois de pronto colocam-se fatias de
pão saloio no fundo da travessa, sobre o Adiciona-se progressivamente umas
qual se vai colocar a carne, as batatas e o colheres da calda previamente confecio-
caldo. nada.

Receita cedida por Taberna do Carró. A amêndoa é trabalhada 7 horas por dia
72

e ao longo de muitos dias.


Ao fim de 7 horas de trabalho já se en-


contra com uma carapinha, dando-se-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

-lhe o nome de amêndoa peladinha.

Passado um mês de trabalho ou por ve-


zes mesmo mais tempo, fica redonda e aos
biquinhos, denominando-se então amên-
doa coberta de Torre de Moncorvo.

Receita cedida por Arte, Sabor e Douro.


doces
Canelões do PeNedo
dos Castelhanos
Torre de Moncorvo

INGREDIENTES

6 ovos
250 g de açúcar
250 g de farinha
Canela q.b.
A paisagem desta Azeite q.b.
região é marcada
pela presença das PREPARAÇÃO
amendoeiras que,
Misturam-se os ingredientes, sem ne-
quando estão em cessitar de bater muito.
flor, constituem
um espetáculo de Deixa-se aquecer os ferros (ao lume ou
no bico do fogão) e unta-se com um pou-
extraordinária beleza co de azeite.
que prenuncia a
Deita-se uma colher de sopa da massa
primavera no Douro.” no meio dos ferros e fecha-se virando-se
sobre o fogo, de um lado e de outro.

A bolacha sai mole e enrola-se de ime-


diato numa caninha.

Depois de frios, guardam-se em reci-


pientes fechados onde se mantêm estala-
diços.

Receita cedida por Aida de Jesus Rodrigues.

73

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
TERRAS DE BASTO

Os concelhos que integram as Terras que antigamente) nas zonas de agricul-


de Basto são uma sub-região vitícola da tura marginal e de montanha, onde estão
Região dos Vinhos Verdes, denominada perfeitamente adaptadas. Alimentam-se
sub-região de Basto. de pastos de montanha (urzes, carqueja,
Numa região onde perduram tradi- tojos, etc.) e, quando estes escasseiam,
ções ancestrais, a terra ainda é medida em como no inverno, são colocadas a pastar
“carros de pão” e “pipas de vinho” que em lameiros, sendo a alimentação refor-
produz ou em “cabeças de gado” que ali- çada com feno produzido na exploração.
menta. Profundamente marcada pelo mi- A carne de cabrito, muito saborosa
nifúndio, as pessoas continuam a cultivar e suculenta, de coloração avermelhada e
cereais e leguminosas, batatas e pequenas sabor característico, devido à alimentação
hortas familiares com frutas e legumes, feita à base de leite materno, é tradicio-
destinados sobretudo ao consumo domés- nalmente consumida em dias festivos,
tico. principalmente no Natal e na Páscoa. O
WWW.PROBASTO.PT

seu preço relativamente elevado impede


Património que as pessoas a consumam com maior
frequência. Por outro lado, a sazonalidade
Gastronómico dos cios não permite uma oferta contínua
de carne de cabrito. O modo de produção
A gastronomia das Terras de Basto é mar- extensivo (recorrendo a técnicas tradicio-
cada pela existência de vários produtos nais), a especificidade das raças autócto-
certificados, como as carnes Barrosã – nes utilizadas (Bravia, Serrana e os seus
DOP e Maronesa – DOP, o Cabrito das cruzamentos) e a alimentação exclusiva à
Caracterização Terras Altas do Minho – IGP, o Mel das base de pastos de montanha contribuem
históricA E Terras Altas do Minho – DOP, os vinhos
verdes e outros não certificados, mas com
para que este cabrito possua característi-
cas únicas, que levaram à atribuição da
Geográfica grande tipicidade, como a broa (de milho classificação europeia da IGP Cabrito das
e/ou de centeio), o anho e o fumeiro. Terras Altas do Minho.
O território de Terras de Basto corres- A Posta Barrosã e a Posta Marone‑ No setor da pecuária, há ainda a refe-
ponde à zona de intervenção do GAL sa são confecionadas a partir dos bovinos rir como raça autóctone o porco Bísaro.
PROBASTO – Associação de Desenvol- de raças homónimas. Estas raças autóc- A Broa de Milho e/ou Centeio, cujo
vimento Rural de Basto e integra os con- tones são ainda hoje utilizadas para o consumo tinha vindo a diminuir nas
celhos de Cabeceiras de Basto, Celorico trabalho (embora em menor número do últimas décadas, tem sido novamente
74

de Basto, Mondim de Basto e Ribeira da


Pena.

As Terras de Basto estão localizadas


numa zona de transição entre o Litoral
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Norte e o Interior de Trás-os-Montes,


sendo o rio Tâmega o principal elemento
aglutinador do território. A água desem-
penha um papel fulcral nas atividades
rurais tradicionais, desde os vinhedos aos
lameiros, mas também é importante pela
beleza que confere à paisagem.
O setor primário continua a desempe-
nhar um papel importante na economia
deste território, representando a vinha,
nas zonas de várzea, e a produção animal
de raças autóctones, nas zonas de monta-
nha, as principais atividades.
muito procurada nos últimos anos, o que A existência de abelhas nas armas do
originou um novo aumento de produção concelho de Mondim de Basto comprova
e de cultivo do milho. Para o facto terá a importância ancestral que o mel desem-
contribuído o reconhecimento de que penha nesta região, destacando-se o Mel
esta broa é muito mais saudável do que de Montanha, cuja qualidade lhe permi-
o chamado pão branco. Este aumento da tiu ser reconhecido com a DOP Mel das
procura contribuirá para a manutenção Terras Altas do Minho. A Rota do Mel,
de métodos tradicionais de produção, realizada em maio, é já uma tradição na
presentes desde o cultivo do milho tra- região, que consiste num passeio de bi-
dicional até à sua cozedura em fornos cicleta pelas zonas mais bonitas de Mon-
de lenha. dim de Basto.
A broa tradicional é utilizada como Nas Terras de Basto produz-se igual-
acompanhamento de vários pratos, mas mente doçaria tradicional, destacando-se
também na confeção de receitas como o os doces de romaria – Cavacas, Rosqui-
Bacalhau à Freixieiro. Sendo o bacalhau lhos, Rebuçados de Açúcar e Galhofas
muito apreciado nesta região, destaca-se – e ainda o Pão de Ló, os Mexidos e o Sabia que...
igualmente o comummente designado Leite-Creme Queimado. Os alimentos que irão ser servi-
Bacalhau com Batata a Murro, muito No que se refere a práticas alimenta- dos na Festa das Papas – a broa,
procurado nas Terras de Basto. res que acompanham as tradições locais as papas, o entrecosto e o vinho
Os Milhos Ricos (ou simplesmen- não se pode deixar de referir a Festa das – são benzidos pelo Pároco,
te Milhos), mais comuns nos concelhos Papas realizada em anos alternados nos sendo que “com esta bênção
de Mondim e Ribeira de Pena, surgiram lugares de Samão e Gondiães (Cabeceiras se deseja obter um ano feliz
como forma de aproveitar o milho regio- de Basto), festa feita em honra do mártir para as colheitas e para a boa
nal existente em todas as casas agrícolas S. Sebastião a 20 de janeiro. saúde do gado, bens essenciais
para, juntamente com o fumeiro produ- Entre os vários eventos com potencial à sobrevivência dos homens.
zido a partir da matança do porco, criar turístico destacam-se ainda a Agro-Basto Enquanto o pão é feito pelas
uma nova iguaria gastronómica. em Cabeceiras de Basto, a Feira de Ar- afadigadas mulheres da aldeia
O feijão amarelo, cultivado ances- tesanato e Gastronomia em Celorico de nos dias que antecedem a festa,
tralmente no meio do milho regional, Basto, a Feira da Terra em Mondim de as papas são tarefa dos homens
é utilizado na confeção de vários pra- Basto e a Feira do Linho em Ribeira de e confecionam-se no dia da
tos, entre os quais se destacam o Cal‑ Pena, que decorrem durante o verão e festa, ainda a noite se faz sentir.
do Verde desta região e as Couves com atraem milhares de visitantes de todas as Em três enormes potes de ferro
Feijões. regiões do país. aquece-se a água com sal e

75
cozem-se os nacos de entrecos-
to ainda com o courato. Após a


cozedura, retira-se e reserva-se,
cozendo-se na água que daí re-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
sulta a farinha de milho branco,
que se vai mexendo de vez em
quando. As papas ficam bem
consistentes, ou não fossem
papas… Prontas, estas retiram-se
dos potes com enormes conchas
da sopa e enchem-se malgas de
barro vidrado, que se dispõem
em mesas à espera de serem
posteriormente benzidas.
Fonte: Isabel Fernandes,
saberescruzados.wordpress.com
sopaS peixe
Caldo verde Bacalhau à Freixieiro
com feijão
amarelo

INGREDIENTES INGREDIENTES Quando o bacalhau estiver alourado,


retira-se do forno.
Couve-galega cegada Bacalhau demolhado
Feijão amarelo Cebola Cobre-se o bacalhau com a massa, re-
Batata Alho ga-se com bastante azeite e vai novamen-
Cebola Azeite te ao forno até alourar também; de vez
Salpicão Louro em quando tem que se regar a broa com
Azeite Broa de milho (tradicional) o azeite.
Sal Ovos
Pode-se servir com grelos cozidos ou
feijão verde.
PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO

Põe-se uma panela com água a ferver Numa caçarola de ir ao forno coloca-se
com a batata, a cebola e o feijão. a cebola cortada às rodelas, alho e louro.

Depois de tudo cozido passa-se pelo Sobrepõe-se o bacalhau e rega-se com


passe-vite. bastante azeite.
A Broa tradicional é
Acrescentam-se as couves e tempera-se Leva-se ao forno previamente aquecido muito mais saudável
com sal e azeite. até alourar o bacalhau, retirando de vez
em quando para regar com azeite. do que o chamado
pão branco. ”
RITOS E HÁBITOS Desfaz-se a broa e amassa-se com os
ovos até fazer uma bola de massa.
O Caldo Verde, embora comum noutras
regiões de Portugal, tem no Minho e zo-
nas limítrofes uma grande tradição, como
acontece nas Terras de Basto. Aqui, tradi-
cionalmente, é feito com feijão amarelo, o
feijão semeado no meio do milho regional
destinado a broa.
76

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
peixe carne
Bacalhau com Couves
batata a murro com Feijões

INGREDIENTES INGREDIENTES

Bacalhau demolhado Sabia que... Couves galegas


Batatas novas pequenas Os feijões amarelos, junto com a Feijões amarelos
Alho couve-galega (e o fumeiro), que Orelha de porco
Azeite são a base das tão típicas e tra- Entremeada de porco
Sal dicionais “couves com feijões”, Chispe de porco
existiam em todas as casas Aba
agrícolas que produziam milho Chouriça de carne
PREPARAÇÃO regional e proporcionavam Chouriça de sangue
uma fonte proteica importante, Salpicão
Cozem-se as batatas com casca, em água numa altura em que a carne não Presunto
temperada com o sal; depois de cozidas, era muito abundante. Com a Alho
escorre-se a água e colocam-se as batatas introdução dos milhos híbridos, Azeite
sobre uma superfície dura, dando-lhes o feijão amarelo começou a ser Louro
um murro. uma raridade. Mas a sua procura Sal
e a do milho regional para broa;
Assa-se o bacalhau na brasa, e servem-se a que está associado no seu
juntamente as batatas regadas com azeite cultivo; provocou um aumento PREPARAÇÃO
e alho, e, opcionalmente, com legumes da exponencial de preço, incenti-
época salteados. vando os produtores a voltar No dia anterior, põem-se as carnes de
a produzir, garantindo assim a porco e a de vitela em sal, alho e louro.
continuidade destas iguarias
gastronómicas. Numa panela, põe-se água a ferver e
juntam-se depois as carnes já temperadas
e o fumeiro e deixa-se cozer.

Uma vez cozidas, retiram-se as carnes e


reservam-se.

Ainda na água da fervura das carnes,


juntam-se os feijões (já meio cozidos) e as

77
couves.


Retira-se do lume, coam-se bem as cou-
ves a que se junta alho e azeite q.b. e ser-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
vem-se com as carnes.
carne carne
Milhos Ricos Posta
Barrosã
ou Maronesa

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

Milhos Tempera-se a carne de porco com sal, Naco de posta (Barrosã ou Maronesa)
Cebola alho e louro no dia anterior. Batata
Alho Legumes da época: grelos, couve
Azeite Numa panela põem-se as carnes a cozer troncha ou galega, feijão verde, etc.
Sal juntamente com o fumeiro. Alho
Louro Azeite
Entremeada de porco Retiram-se e reservam-se as carnes e o Sal
Chispe de porco caldo da cozedura.
Orelha porco fumada
Chouriça de carne Num tacho pica-se cebola e alho, adi- PREPARAÇÃO
Chouriça de sangue ciona-se o azeite e deixa-se refogar.
Salpicão Assar a carne na brasa com sal. Pode ser
Presunto Depois de refogado, junta-se o caldo acompanhada por legumes da época salte-
da cozedura das carnes, deixa-se levantar ados em azeite e alho e com batata a mur-
fervura e deitam-se os milhos. ro ou batata cozida com casca alourada no
forno ou na grelha, regadas com azeite e
Depois de cozidos servem-se com as alho e, eventualmente, salsa ou outra aro-
carnes. mática a gosto picada com cebola.
78

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne
Cabrito assado no forno

INGREDIENTES Retira-se o cabrito da marinada e põe-se


a escorrer.
Cabrito
Batata Faz-se uma pasta com alho picado, um
Alho pouco de sal, vinho branco e azeite.
Louro
Os bovinos das Cebola Corta-se a cebola às rodelas para uma
Salsa
raças Barrosã assadeira e sobre elas coloca-se o cabrito
Limão já barrado com a pasta anteriormente pre-
e Maronesa Sal parada.
alimentam-se Vinho branco
Azeite Rega-se com vinho branco a gosto, azei-
de pastos de te q.b. e leva-se ao forno.
montanha”
PREPARAÇÃO
SUGESTÃO
No dia anterior, põe-se o cabrito a ma-
rinar em água, alho, louro, salsa, limão e Pode acompanhar com batata assada, ar-
sal. roz e grelos.

79

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
VALE DO AVE

O Vale do Ave é marcado por uma


dicotomia entre a atividade agrícola e a
atividade industrial, que se complemen-
tam. Após a grande crise dos anos 80 do
século XX, que provocou o encerramento
de inúmeras fábricas de têxteis e calçado,
o tecido empresarial tem oscilado entre a
reconversão (e até expansão) e o declínio.
Neste cenário de permanente mudança
e de alguma falta de empregabilidade, a
agricultura tem vindo a ganhar cada vez
mais peso na economia familiar e local, Sabia que...
revelando um forte vínculo da população “A vida rural representa um
às explorações agrícolas. No setor primá- elemento preponderante
rio de atividade verifica-se a existência de das paisagens e é um factor
sistemas agrícolas de planície, correspon- complementar da economia
dentes à paisagem das terras baixas, de po- familiar. Aí dominam a peque-
voamento disperso, e os sistemas agrícolas na e média propriedade e a
de montanha. pequena exploração; à cultura
intensiva do milho nas regiões

Património baixas, graças à rega abundante,


associam-se feijões e abóboras,
Gastronómico como culturas intercalares, e o
Caracterização centeio e os prados de gramí-

históricA E Este território integra-se na área geográ-


fica definida para a produção da Carne
neas com os quais alterna. As
pastagens cobrem as alturas
Geográfica Barrosã – DOP. Em Fafe destaca-se a desarborizadas onde pastam os
Vitela Assada à Moda de Fafe. Em Santo rebanhos de ovelhas e cabras.
O território de Vale do Ave corresponde Tirso, o Cozido à Portuguesa, o Cabrito As parreiras e as “vinhas de
à zona de intervenção do GAL SOL DO Assado no Forno, a Vitela Assada no For- enforcado” limitam ou dividem
AVE – Associação para o Desenvolvi- no, os Rojões, a Feijoada e o Arroz Pica os campos de milhos fora dos
mento Integrado do Vale do Ave. no Chão. Em Vieira do Minho, onde a quais se encontram pequenos
Integra os concelhos de Fafe, Guima- gastronomia está intimamente associa- olivais e sobretudo as matas,
80

rães, Santo Tirso, Vieira do Minho, Vila da à agricultura e à pecuária, através do onde sobreiros e eucaliptos se
Nova de Famalicão, Trofa e Vizela. Volta- aproveitamento dos produtos endógenos, misturam com pinheiros bravos

do para o mar, subindo até às serras da Pe- encontramos as Couves com Feijão. O ca- dominantes. Campos, hortas,
neda e do Gerês, o território insere-se na brito assado integra igualmente a gastro- plantações, prados, matas e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

parte interior de Entre Douro e Minho. nomia de Vila Nova de Famalicão. incultos, constituem peças dis-
O rio Ave é o elemento aglutinador da O vinho verde é outro dos produtos tintas e separadas da ocupação
região, permitindo individualizar o Vale emblemáticos deste território. De referir do solo, e aparecem aqui mis-
do Ave como um território com caracte- ainda o Pão de Milho cozido em forno de turadas e até confundidas por
rísticas próprias, nomeadamente ao nível lenha da Póvoa de Lanhoso diversas formas de transição. A
da organização do espaço, povoamento Ao nível da doçaria, destacam-se o ocupação do solo compreende
e economia. As áreas mais próximas do Toucinho‑do‑Céu e as Tortas de Guima‑ a policultura a que o campo de
litoral, do Baixo e Médio Ave, são mais rães, doces associados ao extinto Conven- milho serve de núcleo, o que
povoadas e industrializadas, enquanto as to de Santa Clara de Guimarães. levou Orlando Ribeiro (1986) a
terras do Alto Ave, no interior, são mais Particularmente famoso nesta região é designar aquelas parcelas por
rurais, despovoadas e menos desenvolvi- o Bolinhol um dos principais ex libris de “campos-prados”.”
das. Vizela, também chamado de Pão de Ló Francisco Silva da Costa, A.
Coberto, que já recebeu vários prémios e Bento
O Vale do Ave é
marcado por uma
dicotomia entre a
está presente em muitas feiras gastronó- balsâmicas e terapêuticas, é também um atividade agrícola
micas. Desconhece-se ao certo o início ex libris deste concelho. De Vieira do Mi-
da confeção desta sobremesa, mas sabe-se nho chega-nos uma outra especialidade – e a atividade
que em 1884 já estava presente na Expo- os Barquilhos, doces criados no seio de industrial, que se
sição Industrial Concelhia de Guimarães. uma família da Freguesia de Mosteiro, complementam.
O Bolinhol apresenta uma forma retangu- preparados à base dos tradicionais bar-
lar com uma suave cobertura de açúcar, quilhos das romarias. A particularidade Após a grande
residindo o segredo do seu sabor, na mas- desta iguaria reside no processo da sua crise dos anos
sa levemente húmida. cozedura artesanal que garante uma tex-
O Pão de Ló de Fornelos segue a tura finíssima e estaladiça, sendo cada 80 do século XX,
receita original e os métodos de fabrico Barquilho confecionado à lareira, num que provocou o
tradicionais, sendo a cozedura efetuada a recipiente em ferro previamente aqueci- encerramento
lenha em fornos de alvenaria (tijolo bur- do e untado com manteiga, e cozido em
ro). A doçaria de Fornelos foi fundada lume brando. Depois de cozido, é desen- de inúmeras
em 1948, por António de Freitas, que deu formado e, enquanto ainda está quente, é fábricas de
início à produção de Pão de Ló, utilizan- enrolado de forma a obter um cone. Po-
do a receita e o método de produção que dem ser degustados com mel, marmelada têxteis e calçado,
aprendeu com a mãe, Ermelinda de Frei- ou compotas caseiras. a agricultura tem
tas, que já antes o confecionava e vendia vindo a ganhar
na Páscoa e no Natal.
Famosos são também os doces de San- cada vez mais
to Tirso, particularmente os Pastéis Jesu‑ peso na economia
ítas e os Limonetes e ainda as magníficas
Bolachas do Mosteiro de Santa Escolás- familiar. ”
tica. O Licor do Mosteiro de Singeverga,
preparado por destilação direta de plantas
aromáticas de reconhecidas propriedades

81

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne carne
Vitela assada Couves
à moda de Fafe com
feijão
amarelo
INGREDIENTES INGREDIENTES

1,5 kg de vitela da pá, 1 kg de feijão


Sabia que... picadouro ou costela mindinha 2 kg de couves-galegas
A Vitela Assada à Moda de 4 cebolas 500 g de batatas
Fafe e o Pão de Ló de Fornelos, 1 kg de batatas pequenas 500 g de toucinho curado
são citados no livro Minho Vinho verde branco 1 kg de enchidos
Pittoresco de José Augusto 6 dentes de alho 500 g de entrecosto de porco
Vieira, publicado em 1886. Já 1 folha de louro fumado
no século XIX as vitelas de Fafe 1 ramo de salsa 500 g de orelha de porco
eram muito afamadas e ven- Sal q.b. fumada
didas para outras localidades, Azeite q.b. 500 g de pés de porco
sendo muito procuradas pelos Pimenta q.b. 500 g de presunto
“amadores da carne tenra e Azeite q.b.
branca”. A notoriedade que o 100 g de alhos
prato alcançou ao longo dos PREPARAÇÃO Vinagre vinho verde q.b.
tempos torna-o hoje a principal
escolha de inúmeros visitantes Coloca-se a vitela numa pingadeira e
de Fafe, principalmente aos tempera-se, de forma a ficar completa- PREPARAÇÃO
fins-de-semana e em eventos mente coberta, com sal, pimenta, 3 dentes
como as Feiras Francas de maio, de alho picado, cebola aos gomos, vinho, Cozem-se separadamente o
as Festas do Concelho em julho azeite, salsa e a folha de louro sem o veio. feijão e os enchidos.
e as feiras semanais de Fafe
(todas as quartas-feiras). Leva-se a assar, em forno de lenha, cer- Num outro tacho cozem-se
ca de 3 horas. as restantes carnes, que á me-
dida que vão ficando cozidas,
Retira-se a vitela e coloca-se num tacho. se retiram para um recipiente
á parte.
Dispõem-se, por cima, a cebola aos go-
mos e os alhos cortados em lascas. Enquanto as carnes cozem,
vão-se segando as couves bem
Rega-se com metade do molho que fi- finas, partindo também as ba-
82

cou na pingadeira. tatas aos cubos.


Tapa-se e leva-se ao forno 10 minutos. As carnes depois de cozidas


são todas trinchadas, à exceção
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Assam-se as batatas na pingadeira com dos enchidos: estes só são cor-


o restante molho. tados no momento em que se
está a empratar.

SUGESTÃO Depois, já com o feijão co-


zido, adicionam-se as couves
Acompanha-se com arroz de forno. com a batata.

Só depois, é que se juntam as


carnes e os enchidos, regados
de um bom azeite e polvilha-
dos com o alho picado e o vi-
nagre (opcional).
DOCES
Barquilhos

INGREDIENTES

Sabia que... Ovos


Farinha
As couves com feijão Açúcar
amarelo são tradicionalmente Canela
confecionadas nos meses de Limão
inverno, entre novembro e
março, após a matança do
porco e depois de os presuntos PREPARAÇÃO
e enchidos estarem secos e
curados. A preparação deste Cada barquilho é confecionado à larei-
prato requer carne de porco ra, num recipiente em ferro previamente
(orelha, pé, presunto, pá, barriga aquecido e untado com manteiga, e cozi-
e costela), enchidos (salpicão, do em lume brando.
chouriça de carne e chouriça de
sangue), couve-galega segada, Depois de cozido, é desenformado en-
feijão amarelo, batatas cortadas quanto ainda está quente e enrolado de
aos quadrados, bom azeite e forma a obter um cone.
alho picado. A Câmara Municipal
de Vieira do Minho, em
colaboração com os restaurantes SUGESTÃO
do concelho, promove vários
Fins de Semana Gastronómicos Podem ser degustados com mel, marmela-
ao longo do ano, o que tem da ou compotas caseiras.
levado inúmeros visitantes ao
concelho, especialmente nos fins
de semana dedicados às Couves
com Feijão.

83
A particularidade

desta iguaria reside
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
no processo da sua
cozedura artesanal
que garante uma
textura finíssima e
estaladiça.”
doces DOCES
Pão de ló Toucinho do Céu
de Fafe de Guimarães

INGREDIENTES
INGREDIENTES
500 g de açúcar
10 gemas 200 g de amêndoa
250 g de açúcar 3 colheres de doce de chila
250 g de farinha 18 gemas
2 claras
Farinha q.b.
Manteiga q.b.
Açúcar pilé q.b.

PREPARAÇÃO

Leva-se o açúcar ao lume em 2 dl de


água até atingir o ponto pérola. Adicio-
na-se a amêndoa pelada e ralada e o doce
de chila. Deixa-se ferver alguns minutos.

Misturam-se as gemas com as claras e Sabia que...


PREPARAÇÃO juntam-se ao preparado anterior depois
de este ter arrefecido um pouco. O Abade de Tagilde conta-nos
Bate-se o açúcar com as ge- que as freiras clarissas come-
mas durante 1 hora. Adicio- O preparo vai novamente ao lume, ape- çaram a confecionar doces para
na-se a farinha peneirada e nas para cozer as gemas, tendo cuidado vender, como forma de aumen-
envolve-se sem bater. para não deixar ferver. tarem os rendimentos, tendo os
doces alcançado rapidamente a
Este Pão de Ló é tradicional Retira-se do lume e, depois de arrefecer, fama que ainda hoje possuem.
do Minho e é cozido em for- deita-se numa forma untada com mantei- Com o tempo, a coisa assumiu
mas de barro não vidrado. Es- ga e polvilhada com muita farinha. foros de abuso. O Arcebispo de
tas formas são compostas de 3 Braga, no início de dezembro
peças, 2 iguais e 1 mais peque- Leva-se a cozer no forno, em lume de 1758, por lhe constar que
84

na, que se coloca, invertida, no brando, durante uma hora. as freiras de Santa Clara de
centro de uma das outras tige- Guimarães costumavam, pelo

las. Desenforma-se depois de frio, sacode-se Natal, gastar mais tempo a fazer
ou escova-se da farinha e polvilha-se com doces do que no serviço a Deus,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Com papel branco grosso, bastante açúcar pilé. interditou-lhes as artes paste-
cortado em quadrados e so- leiras desde o início do Advento
brepostos, forra-se uma das Receita do Convento de S.ta Clara de Guimarães. até 7 de janeiro. Em 1760 esta
formas. proibição seria renovada e
agravada, passando o período
Verte-se, nesta, a massa e vi- de interdito a iniciar-se no dia
ram-se os bicos do papel para de Santa Teresa (15 de outubro).
baixo para não se queimarem. Em Setembro de 1769, o mesmo
Arcebispo, D. Gaspar, proibiria
Tapa-se com a outra tigela as freiras de fazerem doces de
e leva-se a cozer em forno de forno para vender. A proibição
lenha. total deveria vigorar do dia de
Santa Teresa até aos Reis.
DOCES
tortas de guimarães

INGREDIENTES Este rolo assim formado, unta-se por


todos os lados com pingue e fica em des-
Farinha triga
Água fria
canso 1 noite ou algumas horas.
Glossário
Sal Passado este tempo, corta-se o rolo em Pingue de porco – banha de
Pingue de porco dos rojões fatias da largura de 1 dedo e principia-se porco.
1 arrátel de açúcar a alargar estas fatias, de maneira a que as
1 quartilho de água folhas fiquem bem separadas umas das Arrátel – Antiga unidade de peso
20 gemas outras. (459 gramas).
1 pau de canela
Cidrão picado Recheio para as tortas Quartilho – Porção
150 g de Amêndoa pisada correspondente a 0,35 l.
Deita-se num tacho um arrátel de açú-
car e um quartilho de água, e deixa-se Cidrão – nome que se dá ao
PREPARAÇÃO atingir o ponto de espadana baixo. citrino chamado cidra quando
cristalizado. A cidra (não
Amassa-se a farinha triga em água fria Depois tira-se do lume e põe-se a es- confundir com a bebida de
temperada de sal, de modo a que a massa friar. mesma designação) é um citrino
fique dura. muito antigo de casca bastante
Junta-se-lhe uma quarta de amêndoa rugosa e cor verde amarelado.
Depois de estar assim amassada a fari- pisada, 20 gemas de ovos batidos, 1 pau As suas sementes foram
nha, o que pode ser feito dentro de um de canela e um bocado de cidrão picado encontradas em escavações
alguidar, coloca-se em cima de uma tábua e torna-se a pôr o tacho ao lume até en- na Mesopotâmia, datando de
bem lisa e trabalha-se, amassando-a e es- grossar, não devendo o ponto ficar muito há mais de 4 000 anos. De
fregando-a, como se lava a roupa, até que subido. uso tradicional, sobretudo na
principie a fazer bolhas. região mediterrânica, a sua
Mete-se-lhe o recheio e dobra-se a mas- cultura em Portugal restringe-
Neste ponto, faz-se dela um rolo, que sa para que fique em forma de pastéis. se hoje a pequenas zonas,
se unta por todos os lados com pingue de designadamente na Madeira, por
porco dos rojões, frio, e deixa-se o rolo a Põem-se sobre uma folheta e metem-se ter sido proibida pela Inquisição,
descansar em cima da tábua durante 2 ho- à fornalha a cozer como os outros pastéis. dada a sua significativa
ras. presença nas cerimónias

85
Tem-se ao lume um tacho com açúcar judaicas.
Passadas estas 2 horas, toma uma pes- em ponto de espadana, metem-se as tortas


soa o rolo por um dos lados, e outra toma- dentro e tiram-se logo com uma escuma-
-o pelo lado oposto e, com um cilindro deira.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
de madeira, principia-se a estendê-lo em
fita, pouco a pouco. Depois de frias polvilham-se com açú-
car e canela.
Feito um pedaço de fita, alarga-se, pu-
xando-a para os lados com as mãos tanto Fonte: “Doçaria Vimaranense
quanto se puder. de Outros Tempos”.

Depois de estar assim alargada, unta-se


com pingue quente, e principia-se a en-
rolá-la com muito cuidado; e assim por
diante até se acabar a massa. Deste modo
fica a massa outra vez em rolo, formado
da massa que se estendeu em fitas largas.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 86
Região Centro
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 87
território
BAIRRADA E MONDEGO
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Caracterização Gândara e Gafanhas – principais espa- A primeira referência à receita do


históricA E ços protegidos do território. A par desta
riqueza paisagística e ambiental, o terri-
leitão assado surge numa compilação
de António de Macedo Mengo, de 1900,
Geográfica tório detém um interessante património sobre um manuscrito fradesco de 1743
edificado, nomeadamente monumentos – Caderno do Refeitório. No século
O território da Bairrada e Mondego cor- históricos, como conventos e mostei- XVIII, quando carros a cavalos faziam
responde à zona de intervenção do GAL ros, que reforçam o potencial turístico o transporte Lisboa – Porto, esta região
AD ELO – Associação de Desenvolvi- da região. era já um lugar de paragem obrigatória
mento Local da Bairrada e Mondego. onde se serviam leitões assados e vinhos
Localiza-se na região Centro Litoral, Património da Bairrada. Nessa época, o leitão era
88

compreendendo o Baixo Mondego e o já a principal iguaria servida em festas


Baixo Vouga e integrando os concelhos Gastronómico (casamentos, batizados e outras cerimó-

de Cantanhede, Mealhada, Mira, Monte- nias religiosas), tradição que perdura até
mor-o-Velho, Penacova e Vagos A região da Bairrada distingue-se pela hoje.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Este território beneficia de uma loca- forte produção vitivinícola. A designação A Mealhada é igualmente afamada
lização estratégica – entre Lisboa e Porto DOC Bairrada pode ser utilizada em vi- pela água e pelo pão. O pão da Mealha‑
e próximo de cidades de média dimen- nhos brancos, tintos, rosados, espuman- da começou por ser confecionado com a
são como Coimbra e Aveiro – o que tem tes e aguardentes bagaceiras. farinha mais grossa que resultava da moa-
contribuído para o número reduzido de Igualmente afamado é o Leitão Assa‑ gem do grão. Esta farinha era mais barata
migrações e para a consequente estabili- do da Bairrada, em especial na Mealhada e dava ao pão uma maior consistência e
dade demográfica. O setor primário (as- e em Cantanhede. Com bases remotas na uma cor um pouco mais escura. Atual-
sente no cultivo de arroz, milho, vinha produção pecuária da raça autóctone Bí- mente, este pão é um dos ex libris do con-
e na pecuária) tem bastante importância sara, o leitão sempre constituiu um dos celho, continuando a ser confecionado de
na economia da região. A paisagem é meios de subsistência das populações, acordo com a tradição.
marcada pela vinha (Bairrada), floresta e transformando-se numa iguaria em festas A Câmara Municipal da Mealha-
rio Mondego, a Mata do Buçaco, o Paul religiosas ou pagãs, cujo segredo reside no da criou uma marca registada –
de Quinhendros e as Dunas de Mira, modo próprio de o criar e de o assar. “Água|Pão|Vinho|Leitão – 4 Maravilhas
Sabia que...
Desde os finais do século XVI
S. Mameda te levede; desenvolveu-se no Convento da

S. Vincente te acrescente; Nossa Senhora da Natividade,


em Tentúgal, um saber fazer
Deus te ponha a virtude; muito específico que deu origem
Que da minha parte fiz o que pude.” a um doce singular.
Estes pastéis começaram a ser
Reza típica para o pão da Mealhada vendidos nas redondezas do
Convento, a partir de 1834,
em troca de algumas moedas,
lampreia pescada nos caneiros reais, que permitindo que as irmãs
possuía junto ao rio Mondego. A primeira Carmelitas mantivessem o apoio
lampreia do ano, pescada no dia 3 de feve- social à população de Tentúgal
reiro, era leiloada e oferecida a S. Brás. Os e arredores, numa altura em
habitantes desta região têm, ainda hoje, que a comunidade enfrentava
o hábito de oferecerem lampreia como adversidades económicas.
forma de gratidão. Uma das iguarias O pastel de Tentúgal ganhou
deste território é o Arroz de Lampreia rapidamente fama, atraindo
de Montemor‑o‑Velho, prato que já era ainda hoje várias pessoas à vila.
conhecido na Idade Média. Esta receita O Pastel de Tentúgal
utiliza o arroz carolino, produzido nos apresenta-se em quatro
arrozais do Baixo Mondego. formas diferentes: palito e
Igualmente importante é a Lampreia palito miniatura, meia-lua e
à Moda de Penacova, que tem um modo meia-lua em miniatura. O palito
de preparação bastante semelhante à de é um pastel de massa folhada
Montemor-o-Velho. em formato retangular com
Na Figueira da Foz, destaca-se o Ca‑ uma crista em cada uma das
marão da Costa da Figueira, geralmente extremidades, de cor entre
consumido ao natural, temperado apenas o amarelo palha e o amarelo
da Mesa da Mealhada”. Podem candi- com sal grosso proveniente das salinas fi- tostado. Pode ou não ser
datar-se a este concurso vários agentes gueirenses. A excelente qualidade da água polvilhado com açúcar em pó
económicos cujos produtos serão avalia- da costa dota os mariscos de magnífico sa- ou granulado. A meia-lua é
dos por um júri composto por entidades bor e de elevado valor nutricional. um pastel de massa folhada,
ligadas ao setor e presidido pela Escola A doçaria conventual está também fina, pregueada, de cor entre
de Hotelaria e Turismo de Coimbra. Se os presente neste território, especialmente o amarelo palha e o amarelo
produtos cumprirem os requisitos, passa- em Tentúgal, Lorvão e Penacova, desta- tostado, em forma de meia-lua
rão a usar uma bandeira ou um selo com cando-se o famoso Pastel de Tentúgal com cristas, mais ou menos
a marca, garantindo assim ao consumidor – IGP, legado pelas irmãs Carmelitas do pronunciadas. Pode ser, ou não,
que poderá adquirir produtos de qualida- Convento da Nossa Senhora da Nativida- polvilhado com açúcar em pó ou

89
de e autenticidade reconhecidas. de que ali viveram entre 1565 e 1898. granulado e canela.
A prática agrícola no território Bairra-


da e Mondego deu origem a receitas como
a Sopa Gandaresa, o Arroz malandro de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Cabidela, o Pato à moda do Mondego ou
as Papas Laberças. A Sopa Gandaresa é
confecionada com produtos da terra, mas-
sa e carne de porco.
As populações rurais aproveitam ain-
da a proximidade do rio como forma de
complementar a subsistência através da
pesca, o que permitiu a criação de receitas
como o Arroz de Lampreia e o Peixe do
Rio e Enguias Fritas.
A lampreia é muito apreciada nes-
ta região desde tempos imemoriais. Em
1423, D. João I usufruía de um décimo da
Sopas peixe
Sopa Arroz de lampreia
Gandaresa

INGREDIENTES INGREDIENTES louro, os alhos, a salsa fresca e as especia-


rias, durante 24 horas.
Feijão vermelho Lampreia
Batatas Cebola Faz-se um refogado de cebola e azeite,
Cenouras Arroz carolino junta-se um pouco de colorau e, de segui-
Carnes (cabeça de porco, Azeite da, a lampreia, mexendo-a suavemente.
chispe, entremeada e Salsa a gosto
chouriço) Alho Adiciona-se a calda da marinada e dei-
Azeite Vinho xa-se cozer cerca de 25 minutos.
Cebola Cravinho q.b.
Repolho Louro Quando estiverem prontas, retiram-se
Massa Malagueta ou pimenta moída a gosto do lume.
Sal q.b. Colorau doce
Sal Retiram-se as postas da lampreia para
uma caçoila de barro.
PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO Adiciona-se o arroz e deixa-se cozer
Coloca-se numa panela água cerca de 15 minutos.
suficiente para cozer o feijão Limpam-se e amanham-se muito bem
vermelho, as batatas, as cenou- as lampreias. Aproveitando o sangue, ao Verificam-se temperos e estando o arroz
ras, a cabeça de porco, o chis- qual se adiciona um pouco de vinho. pardo, adiciona-se um pouco de vinagre e
pe, a entremeada e o chouriço, desliga-se o lume.
juntamente com azeite e cebo- Cortam-se as lampreias às postas e co-
la picada. locam-se a marinar em vinho com o sal, o Serve-se a lampreia separada do arroz.

Depois de estar tudo cozi-


do, acrescenta-se o repolho,
a massa e o sal q.b., e leva-se
novamente ao lume deixando
cozer lentamente.
90

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
peixe marisco
Peixes do Rio Camarão
e Enguias Fritas da Costa
da Figueira

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Peixes do rio Arranjam-se e temperam-se os peixes


20 a 24 enguias pequenas com sal. Fritam-se os peixes do rio em
(cerca de 1,2 kg) óleo bem quente. Escorrem-se bem antes
Sal q.b. de servir.
Óleo para fritar
Azeite para fritar Cortam-se as cabeças, amanham-se, la-
vam-se as enguias e colocam-se de molho
Molho dos peixes: durante 1 hora, em água e sal. Seguida-
Colorau q.b. mente, escorrem-se e espetam-se em es-
Polpa de tomate q.b. petos de madeira, de maneira a ficarem INGREDIENTES
Vinho branco com o aspeto de uma mola e fritam-se em
Vinagre branco azeite. Camarão q.b.
Alho Sal grosso q.b.
1 folha de louro Para o molho dos peixes, colocam-se
Piripíri q.b. num tacho o colorau, a polpa de tomate, o
Sal e pimenta a gosto alho picado, o piripíri, uma folha de lou- PREPARAÇÃO
ro, uma pitada de sal e pimenta a gosto,
Molho das enguias: um pouco de vinagre e vinho branco. Le- Colocam-se os camarões num
2,5 dl de vinho branco va-se ao lume para ferver durante 20 mi- tacho e cobrem-se com água.
2,5 dl de vinagre branco nutos. Serve-se o molho à parte, regando Temperam-se de sal e levam-se
2 dentes de alho a gosto e acompanhando com broa. ao lume, desligando o lume
Louro logo que a água comece a ferver.
Sal e pimenta a gosto Para o molho das enguias, juntam-se
o vinagre, o vinho branco, os dentes de Escorrem-se os camarões e
alho, o louro, o sal e a pimenta e deixa-se colocam-se em água bem ge-
de infusão durante algumas horas. lada, deixando repousar uns
minutos.
Deita-se o molho sobre os peixes/en-
guias e serve-se algum tempo depois. Transferem-se os camarões
para uma travessa e servem-se.

91

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne
Leitão da Bairrada

INGREDIENTES introduzindo um pouco de tempero nes-


sas picadas.
Leitão limpo com cerca de 8 kg
2 cabeças de alhos Após a colocação dos temperos, co-
1 punhado de sal sem-se os rasgos da barriga e do pescoço
1 colher de sopa bem cheia com uma “agulha de leitão” e um fio de no interior do forno aquando da assadura.
de boa pimenta linho ou algodão, conhecido por fio car- Depois desta “sangria” coloca-se o leitão
Salsa q.b. rete, e pica-se totalmente a pele do leitão novamente no forno cerca de 10 minutos
50 g de toucinho para não enfolar e ficar estaladiça e para para enxugar um pouco.
50 g a 100 g de “unto” que saia parte da sua gordura durante a as-
(manteiga de porco) sadura. O Leitão da Bairrada é, tradicional-
1 folha de louro. mente, acompanhado de batatas peque-
O leitão está pronto a entrar no forno. nas cozidas com pele, salada simples e la-
O forno deverá ser muito bem aquecido ranja às rodelas.
PREPARAÇÃO com lenha, de preferência cascas ou ma-
deira de eucalipto ou vides, até à tempera-
Descascam-se e colocam-se os alhos tura de 300 ºC. RITOS E HÁBITOS
num almofariz de madeira juntamente
com os restantes ingredientes. Amassa-se Assa-se lentamente o leitão, durante O Leitão da Bairrada deve ser cortado ou
tudo dentro do recipiente até que todos cerca de duas horas, sendo a vara roda- trinchado em pequenos pedaços. com a
os ingredientes fiquem bem triturados e da manual e lentamente para que a assa- tradicional tesoura de podar, a mais utili-
misturados, fazendo uma pasta. dura seja uniforme. Durante a assadura, zada pelos assadores. Deve ser empratado
retira-se o leitão algumas vezes do forno e com a pele virada para cima para que man-
Depois de limpo e escorrido, enfia-se borrifa-se com vinho branco da Bairrada. tenha a textura estaladiça e crocante, sem
o leitão numa vara de inox (antigamente Estes borrifos periódicos feitos com um nunca sobrepor os pedaços, e para que o
era de eucalipto), e amarram-se as patas ramo de salsa ou louro não deixam que sabor do interior do leitão seja distinto do
traseiras com um arame fino. A vara de- a pele enfole ou rebente, tornando-a es- da pele.
verá ter um comprimento tal que depois taladiça, apetecível e sem queimaduras.
de metida até ao fundo do forno, deixe de A esta operação chama-se “constipar” A travessa deverá conter apenas leitão,
fora cerca de 1 m, pelo menos. o leitão. sendo composta por pedaços do cachaço,
das costelas e do pernil, de forma a con-
De seguida, barra-se muito bem o lei- O leitão está assado quando se solta da jugar os três sabores. De acordo com a
92

tão, tanto por fora como por dentro, com a vara e ao rodá-la não acompanha os seus tradição da Bairrada, acompanha-se com
mistura feita anteriormente, introduzin- movimentos. Retira-se então do forno e batata pequena cozida com pele. Deve

do o restante tempero na barriga e em to- faz-se um pequeno orifício no ventre para evitar-se o acompanhamento com batata
das as partes vazias. Dão-se picadas com a retirar do seu interior todas as gorduras e frita, pois a mistura de gorduras altera o
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

agulha de coser, nas coxas e nas espáduas, molho em excesso que não tenham caído sabor do leitão.
DOCES
Pastéis de Tentúgal

Sabia que...
Sabemos que a comunidade
carmelita de Tentúgal tinha uma
INGREDIENTES intensa atividade doceira que se
avalia não só pelos registos dos
Massa: Livros de Receitas e Despesas
Água q.b. do Convento onde se anotavam
Farinha tipo 55 q.b. de forma rigorosa todas as
entradas de matérias primas
Recheio: (farinha, açúcar, centeio, milho,
Açúcar q.b. arroz, mel, etc.) e saídas de
Ovos doces em ofertas ou como forma
Gemas de pagamento.
Água q.b. A atestar a importância
Manteiga q.b da cozinha, temos ainda a
existência de “trinta cazas
de cozinha com seus altos e
PREPARAÇÃO baixos” (AUC, 1858). Sabendo
de antemão que a entrada no
Amassa-se a farinha com a água durante Convento de algumas mulheres
20 minutos e deixa-se repousar. de alta condição social se
fazia acompanhar da entrada
De seguida, estica-se o bolo da massa de criadas e de um extenso
em cima de um estrado grande. A massa enxoval onde, muitas vezes,
deve ser esticada até ficar transparente. se incluía um trem de cozinha,
a existência de tal número de
Logo que esteja seca, corta-se em pe- cozinhas revela a importância
quenas folhas que serão posteriormente da atividade gastronómica
recheadas com doce de ovos. dentro do Convento.

Para o doce de ovos:

Coloca-se a água ao lume com o açú-


car e deixa-se ferver até obter o ponto
pérola. Glossário

93
De seguida, colocam-se as gemas e me- “Armar” o pastel – consiste


xe-se até engrossar. em dar forma ao pastel e em
envolver o recheio na massa.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Para armar o pastel, coloca-se uma fo- Esta operação revela o saber
lha de massa e no centro desta colocam- fazer das doceiras, exigindo
-se mais bocadinhos de massa. grande habilidade e destreza
manual para obter pastéis
Por cima, deposita-se o recheio, sendo a de dimensão uniforme, com
massa enrolada e as pontas dobradas após a massa intacta e com as
esta operação. características cristas bem
esticadas e de dimensão
Pincela-se o pastel com um pouco de apreciável.
manteiga usando uma pena de galinha de
forma a não exceder a quantidade neces-
sária.
território
ALTA ESTREMADURA

Património de suíno a criar, de forma a obter o “pon-


to” ideal do leitão.
Gastronómico Apesar de ser frequente o Leitão da
Boa Vista assado no espeto, é costume ser
Sendo a serra a característica dominante assado aberto, o que lhe confere uma tex-
desta região, compreende-se que ela de- tura mais estaladiça e diferenciada.
termine significativamente os hábitos O chícharo – uma leguminosa, se-
alimentares e as tradições gastronómicas melhante ao tremoço, de gosto macio
das suas gentes. É o caso do Cabrito Ser‑ e refinado que provém das sementes do
rano, cuja raça é considerada uma ver- Lathyrus sativus L – é tradicionalmente
dadeira especialidade. Criado nas Serras cultivado e consumido em Santa Catarina
de Aire e Candeeiros, alimentando-se de da Serra, considerada a capital do chícha-
plantas silvestres, levou a que a popula- ro. Todos os anos, em novembro, reali-
ção desenvolvesse uma forma própria de za-se nesta freguesia do concelho de Lei-
o cozinhar com um paladar inigualável. ria o Festival do Chícharo da Serra, cujo
Quer seja pela qualidade da carne, da principal objetivo passa pela promoção
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forma de a cozinhar ou pelos temperos desta leguminosa e da cultura da região.


empregues, distingue-se dos demais por Alimento de grande utilização na
ser assado em forno de lenha e usufruir culinária portuguesa, que caiu em desuso
das ervas aromáticas da serra. Confecio- em meados do século XX, o chícharo é,
nado com vinho branco, alho, banha de hoje em dia, um produto que começa a ter
porco, louro, colorau doce, ervas aromá- valor na gastronomia, podendo ser con-
ticas, cebola, sal, pimenta e salsa, acom- fecionado de inúmeras maneiras, sendo
Caracterização panhado com batata assada no molho emblemático o Chícharo com Bacalhau
históricA E da assadura do cabrito e com grelos, é
presença assídua nos restaurantes da re-
Assado.
Com fortes ligações às suas raízes e
Geográfica gião, sendo ainda figura principal no o seu valor claramente associado à sua
Festival Regional de Gastronomia de localização no litoral, a gastronomia da
O território do GAL da ADAE – Asso- Leiria. Praia da Vieira é rica e diversificada, com
ciação de Desenvolvimento da Alta Es- Boa Vista, a mais emblemática fregue- destaque para o Arroz de Marisco. Con-
tremadura centra-se na região de Leiria sianome do país no ramo da suinicultura, fecionado com lagosta, camarões grandes,
e tem a sua área de intervenção privile- com uma relevante importância no pa- amêijoas e arroz carolino (tradicional
giada nos concelhos da Batalha, Lei- norama económico e social da região, vê português), e servido num tacho de barro
94

ria, Marinha Grande, Ourém e Porto nascer um prato que é um verdadeiro íco- retirado do lume ainda a fervilhar, foi dis-
de Mós. ne e fator de atratividade de muita gente à tinguido como uma das 7 Maravilhas da

Rico em testemunhos valiosos do mesma: o Leitão Assado à Moda da Boa Gastronomia de Portugal.
património nacional, como o Mosteiro Vista. A Morcela de Arroz de Leiria é a
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

da Batalha classificado como Maravilha O leitão da Boa Vista caracteriza-se iguaria mais famosa da região, sendo úni-
de Portugal e as Grutas de Mira de Aire pelo sabor e pelas características próprias ca pelo modo de preparação e pela sua
classificadas como Maravilha Natural, e de um produto de qualidade, resultan- antiguidade. Surgida em tempos de crise,
o Santuário de Fátima – local de peregri- te dos métodos específicos de criar estes com o objetivo de reaproveitar todas as
nação religiosa de âmbito internacional –, animais, aliado aos métodos de os assar, partes do suíno, juntando arroz às aparas
o território apresenta ainda um conjunto dotam a carne de caraterísticas e sabores de carne, a fim de obter, por um lado uma
de paisagens diversificadas, desde as en- que os distinguem dos demais. Os leitões refeição pronta e por outro, conseguir uma
costas das Serras de Aire e Candeeiros usados são aqueles que, habitualmente, maior produção, com a introdução do ar-
até ao litoral oceânico onde se situam as não se destinam à engorda o que assegura roz no processo de produção, as Morcelas
praias de Vieira de Leiria, de S. Pedro de “as características de carne para atingir de Arroz podem ser encontradas com di-
Moel e de Pedrogão. o paladar que se pretende”. Atualmente, versos sabores, variando a proporção dos
para atingir plenamente este objetivo es- ingredientes na sua preparação. Existe
tuda-se profundamente qual a raça ideal ainda uma variante da morcela de arroz
O famoso Arroz de
Marisco da Praia da
Vieira, confecionado
com lagosta, uma Organização de Produtores, para a
sua divulgação, valorização e promoção.
camarões grandes, A Sopa do Vidreiro, também conheci-
amêijoas e arroz da por Canja de Bacalhau, é provavelmen-
carolino (tradicional te a tradição gastronómica mais antiga da
Marinha Grande. Trata-se de uma sopa
português), e servido substancial, confecionada com bacalhau,
num tacho de barro ovo, pão, broa e batata, que constituía o
almoço dos vidreiros.
retirado do lume Este prato, com pouco caldo, tem por
ainda a fervilhar, base o facto de as mulheres dos vidreiros
foi distinguido como terem de levar o almoço aos maridos às fá-
bricas de vidro, acondicionada em tachos
uma das 7 Maravilhas atados com um pano, transportando-o em
da Gastronomia de cestos do vidreiro à cabeça, pelo que não Sabia que...
podia ser uma sopa caldosa, para não ha- Por volta de 1930, foi montado
Portugal.” ver o perigo de se entornar. em Leiria um café que ainda
As Brisas do Lis adotaram o nome do hoje existe, chamado Colonial
rio que atravessa grande parte da região e que teve, como imagem de
de Leiria. A sua origem é polémica uma marca nos primeiros tempos,
vez que a voz mais corrente afirma que um africano à porta. Aí come-
– a “Branca” – confecionada sem sangue e nasceram no extinto Convento de Santa- çaram-se a fazer bolinhos da
apenas em algumas localidades. na em Leiria, enquanto que outros acei- especialidade a que se chama-
Esta especialidade tornou-se de tal tam a sua origem conventual mas de um ram Beijinhos e depois rebatiza-
maneira importante na gastronomia lo- convento cuja localização se desconhece dos com o nome atual de Brisas
cal, que foi criada a Confraria da Morcela e no qual terá sido aprendida a respetiva do Lis.
de Arroz da Alta Estremadura, a par de receita.

95

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
entradas
Morcela de arroz de Leiria

INGREDIENTES Junta-se também um pouco de água.

2 kg de carne magra de porco Mistura-se tudo muito bem com a mão


(preferencialmente carne entremeada mexendo sempre. Se necessário retifi-
da ponta da costela) cam-se os temperos.
1 pedaço do lenço ou do rissol
3 cebolas grandes Enchem-se as tripas, atam-se com uma A Morcela de
1 ramo grande de salsa guita e vão a cozer numa panela com bas- Arroz surge
1 l (aproximadamente) de sangue tante água.
Sal em tempos de
50 g de cominhos Quando estiverem meias cozidas ti- crise, tendo
25 g de cravo ram-se e picam-se com uma agulha ou al-
Colorau q.b. finete. Voltam a acabar de cozer. por objetivo
Pimenta ou piripíri em pó a gosto reaproveitar
1 kg de arroz de boa qualidade Nota: as tripas de porco foram previamente
todas as partes
lavadas, areadas com sal, laranjas e cebolas
cortadas aos bocados. do suíno,
PREPARAÇÃO juntando arroz
Miga-se a carne miúda para dentro de SUGESTÃO às aparas de
um alguidar, um bocado do lenço de pre- carne, a fim
ferência ou do rissol. Junta-se o sangue, o Depois de cozidas ou assadas podem ser- de obter, por
sal e os temperos. vir-se quentes, como entrada ou na con-
feção de diversos pratos, como a sopa de um lado uma
Com pouca água põe-se ao lume um ta- caldo de Morcela (concelho da Batalha), refeição pronta
cho e quando levantar fervura põe-se o podem acompanhar um cozido à portu-
arroz, a salsa e as cebolas picadas o mais guesa; são igualmente deliciosas fritas e por outro,
finamente possível. ás rodelas na famosa fritada, que é uma conseguir
outra iguaria desta região. A morcela e o uma maior
Quando o arroz estiver meio cozido ti- cabrito são considerados os “reis gastro-
ra-se do lume e deita-se no alguidar. nómicos” de Porto de Mós. produção, com
a introdução
96

do arroz no
processo de

produção.”
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Glossário
Lenço – redanho; véu de
gordura que envolve a cavidade
abdominal do porco.
sopaS peixe
Sopa do Chícharos com bacalhau
Vidreiro assado regado com azeite

INGREDIENTES INGREDIENTES

Bacalhau Cebola
Batatas Azeite
Ovos Ovos
Pão Chícharos
Broa Miolinhos de broa
2 dentes de alho Bacalhau assado
Azeite

PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO
Na véspera dos chícharos serem cozi-
Num tacho com água, junta-se o azeite nhados, são escolhidos para dentro de
e alho picado, e coze-se o bacalhau. um alguidar e cobrem-se de água abun-
dante e ficam de molho uma noite.
Depois de cozido, tira-se para fora, e
cozem-se as batatas às rodelas na mesma Em seguida cozem-se como se fos-
água. sem feijões e, depois de cozidos, dei-
tam-se num prato em camadas sendo
Quando estiverem quase cozidas, jun- a primeiro de broa de milho esfarelada,
ta-se-lhe bocados de pão, bocadinhos de depois uma outra de chícharos escor-
broa e ovos escalfados. Serve-se com as ridos e, por fim, a posta do bacalhau
postas de bacalhau. assado.

Por cima, espalha-se depois cebola e


salsa picada e, no final, regam-se todas
as camadas com bom azeite.

Sabia que...

97
Esta sopa é rica em hidratos de
carbono, permitindo aos vidrei-


ros a manutenção da energia ne-
cessária à realização das tarefas
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
árduas que a profissão requer. A
transpiração constante faz com
que os vidreiros percam muito
sódio, recuperado pelo consumo
de bacalhau, alimento rico neste
mineral.
Em 2008 foi criada a Confraria
da Sopa do Vidreiro para de-
fender, valorizar e divulgar esta
iguaria, bem como outros pratos
típicos da Marinha Grande.
Marisco carne
Arroz de Marisco Leitão Assado
à moda
da Boa Vista

INGREDIENTES INGREDIENTES

500 g arroz carolino 1 leitão (com 3 ou 4 kg)


Cebola picados 1 folha de louro
Alho picados q.b. 1 colher de sopa de piri-piri (opcional)
Azeite q.b 1 colher de sopa de pimenta
Polpa de tomate q.b. Vinho branco q.b
Sal q.b. Sal q.b
Piripíri q.b. Azeite
Marisco previamente cozido: lagosta, Um pouco de toucinho moído ou banha
camarão, amêijoa e patas de sapateira
Em seguida, logo que o arroz esteja
“meio cozido”, acrescenta-se o marisco PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO (que cozeu previamente em água tempe-
rada de sal e piripíri), mexe-se para envol- Depois de devidamente preparado,
Leva-se um tacho de barro ao lume para ver e deixa-se cozer mais um pouco. barra-se o leitão por dentro, com uma
fazer o refogado, utilizando um abundan- “massa” de alho, pimenta, sal, louro vi-
te fio de bom azeite, cebola (de preferên- nho branco e banha.
cia nacional) e alho picados e polpa de to-
mate maduro.

Deixa-se apurar o refogado e em segui-


da junta-se-lhe a água que resultou da
“abertura” das amêijoas (este é um deta- Dicas e
lhe importante), acrescentando-se depois
água corrente para obter a quantidade de
Truques
líquido necessária. Não esquecer que o tacho de
barro conserva o calor, pelo que
Quando a água levantar fervura, jun- se não deve deixar o arroz cozer Apesar de ser
ta-se o arroz carolino e deixa-se cozer demasiado… Ele acaba de cozer
frequente o Leitão
para que ele absorva todos os sabores. na mesa!
da Boa Vista assado
no espeto, este
98

ícone da região

tem ainda uma


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

particularidade
que é a opção
frequente de ser
assado aberto, o
que lhe confere
uma textura
mais estaladiça e
diferenciada.”
DOCES
Brisas do LiS

Enfia-se o leitão num espeto e leva-se INGREDIENTES


a assar no forno de lenha, colocando por
baixo um recipiente com algumas colhe- 400 g de açúcar
res de água, para recolher a gordura que 2 colheres de sopa de manteiga
escorre. derretida
8 ovos
O leitão deve ser retirado do forno com 200 g de amêndoa pelada picada não As Brisas do
muito fina
relativa frequência (de 30 em 30 minutos) Lis adotaram
e passa-se um pano na sua pele, para lim- Manteiga para untar
par o excesso de gordura. Açúcar para polvilhar o nome do rio
que atravessa
Depois de assado retira-se do espe-
to e serve-se acompanhado por verdura PREPARAÇÃO grande parte
e pela cabidela do leitão (batata roliça da região de
assada num tabuleiro onde vai caindo Pré-aquece-se o forno a 180 ºC e un- Leiria.”
o molho do leitão durante a assadura tam-se as forminhas metálicas com man-
conferindo-lhe um sabor e uma textura teiga e polvilham-se com açúcar.
diferenciada).
Numa taça mistura-se o açúcar com a
manteiga.

Juntam-se os ovos e mexem-se bem


com a vara de arames. Acrescenta-se a
amêndoa e mexe-se.

Enchem-se as forminhas até cima (a


massa não cresce) e levam-se ao forno a
170 ºC num tabuleiro em banho-maria,
durante 30 minutos, ou até a superfície
estar seca e acastanhada.

Retira-se do forno e do banho-

99
-maria e deixa-se arrefecer uns mi-
nutos.


Desenformam-se ain-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
da mornas e deixam-se
arrefecer.

Quando frias, apa-


ra-se a base e colo-
cam-se sobre formi-
nhas de papel plissado
(n.º 6).

Rende 20 unidade em
forminhas de 6 dl.
território
DÃO, LAFÕES E ALTO PAIVA

utilização das terras destacam-se as pro- onde tudo parece permanecer desde a ori-
duções de cereais para grão, os prados gem ou ainda o rural da base económica
temporários e culturas forrageiras, as hor- especializada.
tas familiares e a vinha.
A região tem ainda dois espaços que Património
integram a Rede Natura, como Sítios de
Importância Comunitária pertencentes à Gastronómico
região biogeográfica mediterrânica: o Sí-
tio do Rio Paiva (Vila Nova de Paiva) e o No que se refere à produção animal,
Sítio do Cambarinho (Campia – Vouzela) importa mencionar a Vitela de Lafões
que alberga uma das maiores populações – IGP e o Cabrito da Gralheira – IGP.
nacionais de loendros. Criado no concelho de São Pedro do
Neste território, encontra-se um dos Sul que faz parte da Serra da Gralheira, o
principais centros da rede urbana nacio- famoso Cabrito da Gralheira tem uma car-
nal e regional, a cidade de Viseu, com ne firme, dura e muito resistente ao cor-
WWW.ADDLAP.PT

fortes interdependências aos espaços en- te. A criação destes animais, em algumas
volventes rurais ou pela força das dinâmi- aldeias, ainda é feita em comunidade e os
cas urbanas que extravasam os limites da mesmos alimentam-se em prados espon-
cidade, e se assumem cada vez mais como tâneos, constituídos por urzes, carquejas,
“rurbanos”. A realidade aqui encontrada giestas e tojos. As cabras são utilizadas
é o exemplo evidente das novas lógicas de para confecionar chanfana e o cabrito é
organização e funcionalidade dos padrões geralmente assado no forno, recheado
de apropriação humana, nas quais se en- com as miudezas e com os enchidos da
Caracterização contram exemplos como o rural indus- região. Tradicionalmente consumia-se o
históricA E trializado, o rural não agrícola das áreas
de segunda ou de primeira residência dos
cabrito nas festas do Natal e da Páscoa.
Igualmente famosa é a Vitela de La‑
Geográfica que trabalham na cidade, o rural profundo fões – IGP. A abundância de vegetação

O território da ADDLAP – Associação


de Desenvolvimento do Dão, Lafões e
Alto Paiva abrange cinco concelhos per-
tencentes ao distrito de Viseu: Oliveira
de Frades, São Pedro do Sul, Vila Nova
100

de Paiva, Viseu e Vouzela, apresentando


um conjunto de fatores diferenciado-

res que concorrem para a sua afirmação


como espaço de múltiplas oportunidades.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Caracteriza-se por ser um território


de montanha, influenciado pela Serra
da Gralheira (concelho de São Pedro do
Sul), Serra de Leomil (Vila Nova de Pai-
va) e Serra do Caramulo a sul (Oliveira
de Frades), sendo por isso densamente
irrigado. Os rios Vouga, Paiva e Dão são
as linhas de água mais representativas. A
forte presença da água foi, desde sempre,
um factor determinante para a ocupa-
ção destas terras cuja fertilidade permi-
tia uma prática agrícola como principal
fonte de rendimento das populações. Da
da zona é muito propícia à criação de dos Vinhos Verdes. Os vinhos tintos são
gado bovino. A vitela de Lafões resulta cintilantes, encorpados, possuem elevada
do cruzamento das raças autóctones mi- acidez fixa e o envelhecimento torna-os
randesa e arouquesa e, graças à vegetação suaves e aveludados. Sabia que...
e ao microclima, a carne é muito macia, A riqueza e qualidade dos produtos O Folar de Vouzela – um bolo
saborosa e suculenta. Estes animais são endógenos desta zona são a base dum vas- lêvedo, muito rico em ovos e
criados em estábulos e alimentam-se de to e diversificado universo gastronómico. gordura obtida por mistura de
leite materno, podendo o seu sustento ser Este território apresenta uma vasta gama manteiga e banha, de forma
complementado com feno, pastos verdes e de variedades regionais de fruteiras das alongada, dobrado e sobreposto
concentrados à base de farinha de milho. quais se destaca a Maçã Bravo de Esmol‑ a meio, sobre açúcar que
As caraterísticas organoléticas da vitela de fe – DOP, produzida fundamentalmente derrete e carameliza no forno
Lafões tornam-na apetecível e presente nos concelhos de Viseu, São Pedro do Sul – era oferecido pelos afilhados
em vários pratos tradicionais da região, e Vila Nova de Paiva. Esta maçã tem uma aos seus padrinhos, por altura
com destaque para a Vitela Assada em procura elevada e sobre ela têm sido de- da Páscoa, recebendo em troca
forno de lenha, iguaria nacionalmente re- senvolvidos vários estudos. outras prendas.
conhecida. Referem-se ainda os citrinos de Sejães
Outro prato confecionado com vitela e de Valadares (S. Pedro do Sul) e a Pêra
é o Espeto à Lafões, sendo preparado da Passa de Viseu, preparada com a varie-
seguinte forma: a carne é passada por água dade de pêra de S. Bartolomeu que corre
e temperada com sal grosso. De seguida é atualmente o risco de extinção.
colocada num espeto de ferro e assada em Nas variedades de pão (de milho, de
brasas de vides ou lenha de azevinho. À mistura, de centeio) destacamos a Broa
medida que a vitela vai assando, roda-se o de Vil de Moinhos, tradicional em todo
espeto e salpica-se a carne com salsa mo- o distrito de Viseu, mas fabricada sobre-
lhada em vinho branco. Para evitar que tudo num local dos arredores desta cidade
a carne perca a sua suculência, deve ser também denominado Vil de Moinhos.
retirada do lume assim que estiver bem Para além dos enchidos regionais, dos
loura, acompanhando-se posteriormente queijos de cabra e ovelha e do mel de Pen-
com batatas (fritas ou cozidas) e rodelas dilhe (Vila Nova de Paiva), este território
de cebola crua. conserva ainda uma doçaria tradicio‑
O concelho de Oliveira de Frades pri- nal, com base em receitas antigas, como
ma pelo enraizamento do setor avícola, o Leite-creme, o Caldo de Abóbora com
nomeadamente na criação de frangos do Leite, o Arroz-Doce à Moda da Aldeia, o

101
campo, já que esta região possui carate- Pudim de Requeijão ou de Pão, as Papas
rísticas endógenas mais adaptáveis às exi- de Milho e uma diversidade de bolinhos e


gências deste frango que integra marcada- pastéis tradicionais onde se incluem Cas-
mente a gastronomia do concelho. tanhas de Ovos de Viseu, Caçoilinhos do
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Na vinicultura o Vinho do Dão – Vouga, Beijinhos, Cavacas, Pão de Ovos e
DOC é um dos produtos de destaque, Pastéis de Vouzela.
inserido na Região Demarcada do Dão, Referência especial merece a vila de
à qual pertence o concelho de Viseu Vouzela, situada na região de Lafões,
(parcialmente). perto de São Pedro do Sul e Oliveira de
A área geográfica do vinho de Lafões Frades, muito famosa pela sua doçaria,
correspondente à IGP Sub-região “Terras designadamente o Folar de Vouzela e,
de Lafões”, situa-se ao longo do Vale do sobretudo, os Pastéis de Vouzela, com
Vouga e abrange os concelhos de Olivei- formato similar ao do charuto, recheados
ra de Frades, São Pedro do Sul e Vouzela. com doces de ovos enrolados numa massa
Os vinhos brancos, com pouco álcool, são extremamente fina, mais fina do que fo-
frutados, ricos em acidez málica e pos- lhas de papel de seda.
suem características que os aproximam
peixe peixe
Migas com filetes trutas de
de polvo escabeche

INGREDIENTES INGREDIENTES

Polvo cozido 1 kg de trutas


Couve-galega cozida 1 limão
Feijão frade cozido 3 dentes de alho
Broa moída 3 folhas de louro
Óleo 5 dl de azeite
Azeite 5 dl de vinagre
Farinha Sal q.b.
Ovo
Alhos
PREPARAÇÃO

PREPARAÇÃO Limpam-se as trutas, temperam-se com


sal e limão e deixam-se repousar durante
Corta-se o polvo em filetes e passam-se 2 horas.
por ovo e farinha.
Coloca-se a frigideira com o azeite ao
Fritam-se em óleo. lume e, quando estiver quente, fritam-se
as trutas e colocam-se numa travessa para
Numa caçarola coloca-se o alho e o azei- arrefecer. Junta-se um pouco mais de
te que se deixam aquecer. azeite ao que sobrou da fritura, os alhos
cortados finos, o louro e um pouco de sal
Depois salteia-se o feijão-frade e a cou- e deixa-se ferver até os alhos estalarem.
ve, misturando a broa moída de seguida.
Retira-se a frigideira do lume e deita-se
o vinagre. Coloca-se de novo ao lume para
ferver um pouco e deixa-se arrefecer o
molho. Colocam-se as trutas numa terri-
na e cobrem-se com o molho, deixando-as
a marinar durante uns dias.
102

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne carne
Rancho à Vitela à
Moda de Viseu Manhouce

Sabia que...
O Rancho à Moda de Viseu é
uma receita que terá sido criada
no século XIX, aquando da guer- INGREDIENTES INGREDIENTES
ra entre liberais e absolutistas. O
quarteleiro de Viseu foi incum- Para 10 pessoas: Vitela da aba
bido de moralizar as tropas, Meia galinha Sal
dando-lhes comida de qualidade. 500 g de carne de vaca de cozer Vinho branco
Para cumprir tal missão, juntou (aba carregada) Cebola
grão-de-bico, batatas, hortaliças, 500 g de entrecosto Vinho do Porto
massa grossa e carnes de porco, 1 chouriço de carne Azeite
vitela e galinha, criando um pra- 200 g de toucinho entremeado Batata miúda
to que fez enorme sucesso entre 300 g de grão Colorau
os comensais, tendo aquela 1 kg de batatas Piripíri
comitiva vencido a batalha que 4 cenouras Alhos
se seguiu. 2 couves portuguesas Louro
Uma outra variante da história 400 g de macarrão ou de macarronete
diz-nos que o Rancho começou a Sal
ser confecionado no Quartel de Cominhos PREPARAÇÃO
Cavalaria que existia em Viseu. Azeite (opcional)
No tempo da guerra e do racio- Numa assadeira, coloca-se cebola, alho
namento, este quartel, situado picado, piripíri, sal e azeite e, de seguida,
na St.ª Cristina, recebia e distri- PREPARAÇÃO dispõe-se a carne cortada em nacos. Re-
buía matérias primas (oriundas ga-se depois a carne com o vinho branco
de vários locais) ao povo, culti- De véspera, põe-se o grão de molho e vinho do Porto e mistura-se todo o pre-
vava os campos envolventes e e, depois de escorrido, coze-se em água parado com colorau.
criava animais (galinhas, porcos, abundante temperada com sal juntamen-
e por vezes vacas). te com a carne de vaca. Procede-se da mesma forma com as ba-
Entre as matérias-primas que tatas.
recebia com mais abundância, Quando o grão começar a ficar macio,
estavam o grão-de-bico, vindo juntam-se o toucinho, o chouriço, o en- Levam-se estas preparações ao forno,
das terras situadas mais a sul e trecosto e a galinha, e deixam-se cozer. aquecido a 165 ºC, durante 2 horas.
as massas de segunda (manga de
capote) oferecidas pelas fábricas. Retiram-se todas as carnes e, em seu lu- Servem-se as batatas juntamente com a
Juntando estas matérias primas gar, introduzem-se as batatas descascadas carne.

103
com as carnes dos animais que e cortadas em cubinhos, as cenouras em
criavam e os produtos hortícolas rodelas e a couve esfarrapada.


dos campos, nasceu o Rancho à
Moda de Viseu, que alcançou tal Alguns minutos depois de estes legu-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
fama, que depressa se tornou mes começarem a cozer, junta-se a massa
um prato confecionado em todos e retifica-se o tempero.
os quartéis portugueses.
Nos anos 50 e 60 em Viseu, já Entretanto, cortam-se as carnes em bo-
no novo Quartel de Infantaria, cados e volta-se a introduzi-las na panela.
era hábito as pessoas da cidade O rancho deve ficar com bastante caldo,
irem ao Quartel comprar o famo- pelo que se deve juntar mais água sempre
so Rancho à Moda de Viseu para que for necessário.
levarem e comerem em casa.
Os restaurantes locais começa- Serve-se polvilhado com cominhos e
ram também a apresentar esse há quem adicione também um pouco de
prato nas suas ementas em dias azeite.
certos.
carne doceS
Nacos de Manjar de Oliveira
Vitela de de Frades
Lafões

INGREDIENTES INGREDIENTES Entretanto, coze-se o peito de galinha


em água temperada com um pouco de sal,
Lombo de Vitela de Lafões – IGP Para 10 pessoas: desfia-se e pisa-se muito bem no almofa-
Sal 1 peito de frango do campo riz.
Vinho branco 7,5 dl de leite
Pêra 300 g de açúcar Junta-se-lhe o leite, o açúcar, a casca de
Feijão catarino 250 g de farinha de arroz laranja ralada, 2,5 dl da água da cozedura
Louro Sal e casca de laranja q.b. da galinha e a farinha.
Cebola
Alho Base de biscoito crocante: Leva-se esta mistura ao lume, deixando
Azeite 187 g de açúcar ferver até formar uma papa consistente e
Polpa de tomate 300 g de manteiga gelatinosa.
450 g de farinha
Canela q.b. Retira-se do lume e sobre cada disco de
PREPARAÇÃO massa deitam-se duas colheradas sobre-
postas desta papa.
Faz-se o refogado com azeite, louro, ce- PREPARAÇÃO
bola, alho e polpa de tomate num tacho. Repete-se a operação até esgotar toda a
Trabalha-se bem o açúcar com a marga- massa.
Deixa-se ferver e junta-se o feijão ca- rina e junta-se a farinha que previamente
tarino cozido e água; de seguida, adicio- se envolveu com a canela. Finalmente, levam-se os doces ao forno
na-se o arroz e tempera-se com sal. muito forte para que a superfície superior
Dispõe-se esta massa num tabuleiro, escureça.
Temperam-se os nacos de vitela com sal, dando-lhe a forma de discos de diâmetro
vinho branco, louro e alho. Deixam-se idêntico, e leva-se ao forno.
marinar durante uns minutos e, de se-
guida, grelham-se juntamente com a pêra
cortada em rodelas.
104

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Sabia que...
Aquando da 3.ª Mostra
Gastronómica do Frango, o chef
João Moreira confecionou o
Manjar de Oliveira de Frades,
recriando uma receita con-
ventual da região de Coimbra,
utilizando o frango como
ingrediente, reforçando assim
o potencial gastronómico desta
ave, nomeadamente ao nível
das sobremesas.
doceS
Pastéis de Vouzela

INGREDIENTES
Sabia que...
Massa: De origem conventual, a receita
Meio litro de água terá chegado, por intermédio de
1 kg de farinha uma senhora que trabalhou num
convento, à família Castanheira,
Ovos-moles: que a confeciona há mais de
500 g de açúcar seis décadas. Os pastéis de
12 gemas de ovos Vouzela atingiram grande fama
e são muito procurados tan-
to pelos habitantes como por
PREPARAÇÃO pessoas que visitam a região,
podendo ser adquiridos nas
Meio litro água para 1 kg farinha. Mis- pastelarias e em grande parte
turam-se estes 2 ingredientes e deixa- dos cafés desta vila.
-se repousar a massa. Sobre o mármore,
estende-se uma toalha de algodão fina e
estica-se muito bem. Sobre esta deita-se
a massa que se irá estender até ficar da
espessura de uma folha de papel fino. A
preparação deste folhado finíssimo, esta-
ladiço e leve faz certamente a diferença,
que os torna inimitáveis.

Cortam-se pedaços retangulares de


aproximadamente 15 x 10 cm. Num tabu-
leiro dispõem-se estes pedaços, sobrepon-
do outras 5 folhas em cada um. Deita-se
uma porção de ovos-moles no centro, no
sentido do comprimento, e dobra-se a
massa como travesseiros, carregando su-
avemente com um pauzinho em ambas as

105
pontas para fechar corretamente.


O tabuleiro vai ao forno não muito
quente até alourar nas pontas. Retiram-se
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e, depois de frios, polvilham-se com açú-
car em pó.

Ovos-moles:

Conta-se 500 g de açúcar para cada dú-


zia de gemas de ovos. Leva-se ao lume o
açúcar e um pouco de água até atingir o
ponto de espadana. Quando tiver atingi-
do o ponto, vão-se deitando as gemas uma
a uma, mexendo rapidamente sempre na
mesma direção, até atingir a consistência
própria.
território
ESTRELA-SUL
Nos planaltos da Serra
da Estrela, acima dos
1500m, encontra-se
(a sul). Três áreas protegidas fazem parte o zimbro. As bagas
da Estrela-Sul: o Parque Natural da Serra
da Estrela; o Sítio da Gardunha e a Paisa- deste arbusto rasteiro
gem Protegida do Açor. Os cursos de água são utilizadas para
mais importantes são constituídos pelos produzir genebra e
rios Zêzere, Ocreza e seus afluentes.
alguns licores. Com
Património um agradável sabor
Gastronómico silvestre, podem
também ser utilizadas
O consumo e preparação de alimentos na culinária.”
neste terriório tem, pois, por base uma
WWW.ADERES.COM.PT

economia de montanha que convive com


o aproveitamento das terras mais férteis
dos vales e planícies. Entre vales e monta-
nhas movimentam-se rebanhos, num dos Baixa – DOP (Queijo de Castelo Branco,
mais marcantes processos de transumân- Queijo Amarelo da Beira Baixa, Queijo
cia do país, com o deslocamento sazonal Picante da Beira Baixa e ainda o Queijo
dos ovinos e caprinos dos vales mais pro- de Ovelha Serra da Estrela, puro ou de
fundos e planícies raianas para locais de mistura).
planaltos e montanha, em especial a Serra Importa ainda referir a importância
da Estrela que oferecem melhores condi- das azeitonas na alimentação local, con-
Caracterização ções durante uma parte do ano (primave- sumida em fruto, por vezes conservada
históricA E ra e verão).
Um dos ex libris da região é o Cabri‑
em salga, ou transformada em azeite, cuja
produção se integra na área geográfica de
Geográfica to da Beira – IGP proveniente das raças produção dos Azeites da Beira Interior –
Serrana. Os animais, que se alimentam DOP caracterizados por uma baixa a mui-
O território Estrela-Sul corresponde à de gramíneas e leguminosas espontâneas, to baixa acidez, de cor amarela levemente
zona de intervenção do GAL ADERES são especialmente utilizados para produ- esverdeada a amarelo-claro e com aroma
– Associação de Desenvolvimento Rural zir leite, posteriormente utilizado na pro- específico e sabor a fruto.
Estrela Sul. Integra 25 freguesias: 12 do dução de queijo. A carne dos cabritos, ali- A cherovia (também conhecida como
concelho de Covilhã, 6 do concelho de mentados quase exclusivamente de leite cherivia, cherívia, cheruvia, pastinaca ou
106

Fundão e 7 de Castelo Branco. materno, é cor-de-rosa pálida, muito ten- pastinaga), de cultivo ancestral e identi-
Em termos geomorfológicos não ra, clara e de gosto suavemente aleitado. ficada cientificamente em 1837, perten-

existem grandes diferenças entre os três Tradicionalmente são consumidos assa- cente à família das Apiaceae, é uma raiz
concelhos, tratando-se de uma área mui- dos ou fritos nas festividades das Semana que tem a forma de uma cenoura e a cor
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

to montanhosa, recortada por ribeiras Santa. As cabras velhas são normalmente do nabo.
e ribeiros de onde a água brota, mesmo utilizadas para a confeção de Chafana. O seu sabor é uma mistura de ambos
em épocas estivais. As grandes serras são A caça é, ainda, significativa na gas- os legumes, mas mais acentuado e até ado-
predominantes na parte norte e nordeste tronomia local, designadamente, os pra- cicado, de sabor único, anisado, intenso
do território. A parte sul é menos monta- tos de lebre – sendo a Lebre com Feijão e extremamente agradável. A vasta pro-
nhosa mas muito ondulada, com menores um dos mais apreciados – coelhos e tor- dução só é possível em terras frias, pois
altitudes. dos, mas também de perdiz e javali. necessita das geadas para desenvolver o
É delimitado pelo importante con- Algumas localidades deste territó- sabor, sendo abundante na Serra da Es-
junto das serras da Cordilheira Central rio, designadamente, Fundão e algumas trela, sobretudo no concelho da Covilhã,
– Serra da Estrela (a norte), Serra da Gar- freguesias do concelho da Covilhã, estão o que faz dela um ex libris da gastronomia
dunha e Campo Albicastrense (a sudes- integradas na área geográfica definida e local, podendo ser apresentada das mais
te), Serra do Açor e Serra de Alvéolos e registada para a produção de queijos mui- diversas formas: cozida, em guisados, em
Muradal (a oeste) e Campo Albicastrense to apreciados como os Queijos da Beira sopas ou fritas.
Sabia que...
A importância da cereja nesta
região tem levado à organização
de vários eventos, como por
exemplo as Cerejas no Museu,
passeios pedestres na Rota
da Cereja e o Festival Fundão,
Aqui Come-se Bem – Sabores
da Cereja, no qual participam
vários restaurantes e pastela-
rias da região. Registe-se que
a abundancia e a qualidade da
cereja tem levado a que alguns
empresários da restauração
tenham criado novos pratos
muitos procurados como é o
caso do Bacalhau com Cereja
muito apreciado e que se pode
degustar no restaurante “À
Pedra do Lagar” em Silvares.

Deve ser colhida com muito cuidado, Napoleão Pé Comprido, Espanhola e B.


pois é fácil de confundir com a Conium Burlat, Bing, Van e Hedelfingen. Esta ce-
Maculatum, espécie venenosa e eventual- reja sempre conhecida pela sua qualidade
mente fatal. resultante do cultivo em solos de carac-

107
Nos planaltos da Serra da Estrela, aci- terísticas específicas, com condições de
ma dos 1500m, encontra-se o zimbro. As altitude, exposição solar e clima especiais.


bagas deste arbusto rasteiro são utilizadas São frutos, de forma arredondada, de cor
para produzir genebra e alguns licores. vermelho vivo na face exposta ao sol e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Com um agradável sabor silvestre, podem alaranjada na face oposta, com pequenas
também ser utilizadas na culinária. Um pontuações escuras e brilho intenso.
exemplo é o Arroz de Zimbro, receita As Papas de Carolo são também mui-
criada no Restaurante Varanda da Estrela to populares nesta região. O carolo é o mi-
Penhas da Saúde, Cortes do Meio, da au- lho triturado mais grosseiro que a farinha
toria do Chefe Rui Costa. de milho, e pode ser utilizado na prepa-
A região do Fundão regista forte im- ração de várias receitas. As Papas de Ca-
plantação de cultura de cereja. Chamada a rolo são semelhantes ao arroz-doce, com
capital da cereja, representa 60 por cento a particularidade de serem confecionadas
da produção nacional. A Cereja da Cova com milho, cereal muito abundante nesta
da Beira – IGP é produzida fundamen- região.
talmente pelas cerejeiras das variedades
regionais Saco da Cova da Beira, Roxa,
entradas sopas
cherovias CalduDo
fritas

INGREDIENTES INGREDIENTES
Sabia que... Cherovias Castanhas piladas moídas
Se bem que hoje a cherovia Ovos Água
seja uma desconhecida para Farinha Sal
a maioria das pessoas a sua Sumo de limão Leite
apreciação como elemento da Sal
dieta humana tem uma longa
história. As cherovias surgiram PREPARAÇÃO
como plantas nativas na Europa, PREPARAÇÃO
na região do Mediterrâneo, e Ponha as castanhas piladas de molho,
foram consideradas um alimento Começa-se por descascar as cherovias, de um dia para o outro.
de luxo entre a aristocracia temperando-as levemente com sal e sumo
da Antiga Roma... O seu sabor de limão. Depois de retirar todas as pelezinhas,
inigualável, ligeiramente que tenham ficado agarradas às castanhas,
adocicado, levou a que fosse Cozem-se depois inteiras em água com introduza-as em água e leve-as ao lume.
servida com mel ou em bolos sal, mas evitando que cozam demasiado
com frutas. Durante a Idade para não ficarem moles. Experimente com um garfo para ver se
Média a cherovia continuou a estão cozidas e escorra então a água.
ser apreciada e utilizada em Escorrem-se e cortam-se em fatias fi-
pratos doces, na ausência de nas, no sentido longitudinal. Regue-as com leite quente e deixe cozer
açúcar. Foi nessa época que mais um pouco, em lume brando.
surgiram novas variedades. Mas Passam-se por um polme feito com ovo
até à Renascença a história das e farinha fritam-se como se fossem peixi- Esmague algumas castanhas com um
cherovias confunde-se com a nhos da horta. garfo e coma o caldudo bem quente pol-
das cenouras. vilhando com açúcar e, querendo, canela.
Autora: Ana Marques Pereira
108

As castanhas foram

de grande importância
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

na alimentação
tradicional desta
região até, pelo
menos, meados do
século XX, devido à
sua abundância, ao
seu alto valor calórico
e à versatilidade do
seu uso.”
peixe carne
Bacalhau com cereja Arroz
de zimbro

INGREDIENTES INGREDIENTES

Posta de lombo de bacalhau Carne de vitela estufada


Cebola Enchidos regionais
Cerejas Toucinho
Vinagre Cogumelos frescos
Açúcar Arroz carolino
Ervas aromáticas
Sal
PREPARAÇÃO Chá de zimbro

Para este prato deve usar-se uma boa


posta de lombo de bacalhau que, depois PREPARAÇÃO
de frita, é coberta com uma cebolada.
O Arroz de Zimbro é um prato de cria-
Antes de servir, rega-se com um molho ção recente, confecionado com carne de
agridoce preparado com cerejas, vinagre vitela estufada, enchidos regionais, tou-
e açúcar e, querendo, com alguns outros cinho, cogumelos frescos, arroz carolino,
frutos. ervas aromáticas, sal e chá de zimbro.

109

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne caça
cabrito recheado lebre
com feijão

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

Miúdos do cabrito muito picadinhos Faz-se um recheio com os ingredien- Lebre


Arroz tes referidos, estufando ligeiramente um Feijões
Manjerona pouco de cebola e azeite, os enchidos e Couves
Salsa uma tira de toucinho também picados, Cebola
Enchidos e “outros condimentos adicionando depois as ervas e os condi- Alho
da zona” mentos a gosto, que podem incluir aça- Colorau
Cebola frão, vinho, pimenta, miolo de pão e ge- Louro
Sal mas de ovos. Azeite
Azeite Ervas aromáticas
2 tiras de toucinho Depois de frio, coloca-se o recheio na Vinho tinto
barriga do cabrito, cosendo-a posterior-
Opcional: mente com fio de linho para ficar bem
Açafrão fechada. PREPARAÇÃO
Vinho
Pimenta Unta-se o cabrito por fora com uma Para a preparação deste prato, a lebre
Miolo de pão pasta preparada com sal, alhos e uma tira deve ficar a marinar em água ou vinho
Gemas de ovo de toucinho gordo triturado. tinto e sal durante um dia.

Leva-se ao forno bem quente e, depois O feijão demolhado é cozido em forno


de bem tostado, serve-se partido e acom- a lenha e adicionam-se-lhe as couves pre-
panhado com o recheio. paradas grosseiramente.

Depois, guisa-se a lebre com cebola,


Sabia que... alho, colorau, louro, azeite, ervas aromá-
O Cabrito Recheado é uma ticas e vinho tinto, podendo acrescen-
receita que tornou famoso o tar-se um pouco da água de cozedura dos
Restaurante São e João (na feijões.
freguesia da Erada, Covilhã),
onde atrai gente de todo o país No final, estando a lebre bem cozida,
e que apenas pode ser comido acrescentam-se por cima as couves e o fei-
110

mediante marcação prévia jão e deixa-se ferver tudo em lume brando


e para grupos mínimos de 8 para apurar.

pessoas. Esta receita foi criada


há mais de 40 anos por “João
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

da Erada”.
doceS
Papas de carolo
de milho branco

INGREDIENTES que se depositam no fundo, operação que RITOS E HÁBITOS


se repete as vezes necessárias.
150 g de Carolo branco Sobremesa muito popular nesta zona, na
(milho branco partido) Tem-se ao lume uma panela com água época de inverno, é confecionada à base
7,5 dl de Leite temperada com sal e casca de laranja (para de milho moído, amarelo ou branco e tan-
200 g de açúcar cada chávena de carolo, devem usar-se 4 to pode ser servida quente como fria.
Sal chávenas de água).
Raspa de laranja
Canela Quando a água levantar fervura, in-
troduz-se o carolo, tendo o cuidado de o
mexer de vez em quando no princípio e
PREPARAÇÃO constantemente assim que o preparado se
torne mais espesso.
Lava-se o carolo num alguidar com bas-
tante água fria e agita-se de modo a trazer Quando o milho estiver a meia coze-
ao de cima o farelo. dura, começa a juntar-se o leite a pouco e As Papas de Carolo
pouco, mexendo sempre. são semelhantes ao
Retira-se o farelo e muda-se a água tan-
tas vezes quantas as necessárias para que Por fim, adiciona-se o açúcar, deixa-se arroz-doce, com a
o carolo fique bem lavado. cozer um pouco mais. particularidade de
Quando o carolo estiver limpo de fare- Serve-se em travessas ou pratos indivi- serem confecionadas
lo, muda-se a pouco e pouco para outro al- duais enfeitados com canela. com milho, cereal
guidar com água, para o libertar das areias muito abundante
nesta região.”

111

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
BEIRA SERRA

espécies como o carvalho, o medronheiro,


o loureiro, o castanheiro e, mais recente-
mente, o eucalipto.

Património
Gastronómico
Fruto das condições naturais, a região
oferece diversos produtos tradicionais de
qualidade, cujo ex libris é o Queijo Ser‑
ra da Estrela – DOP, uma vez que a área
geográfica de produção regulamentada
inclui o concelho de Oliveira do Hospital,
bem como algumas freguesias de Arganil
WWW.ADIBER.PT

e Tábua. Resultado dos esforços e saberes


de muitas gerações, este queijo constitui
o produto nobre da pastorícia da região. o nome de fusca. A Chanfana também é
É confecionado com leite cru exclusiva- conhecido como Carne de Matrimónio,
mente de ovelhas de raça bordaleira Serra visto ser servido em todos os casamentos.
da Estrela (considerada a raça nacional Quanto melhor for a qualidade do vi-
de melhor aptidão leiteira) que nos me- nho tinto, mais saborosa fica a chanfana.
ses de verão são criadas nas serranias com Este prato foi apresentado ao concurso 7
Caracterização alimentação de plantas espontâneas, cujas Maravilhas da Gastronomia, numa can-
históricA E caraterísticas organoléticas determinam
a especificidade do leite. Nos meses de
didatura conjunta da Real Confraria da
Cabra Velha e dos concelhos de Mirando
Geográfica inverno pastam nas terras de baixa al- do Corvo, Vila Nova de Poiares, Góis e
titude, quando o tempo o permite, ou Lousã, tendo sido selecionado para figu-
O território da Beira Serra corres- permanecem em estábulos, onde comem rar entre os três finalistas da categoria de
ponde à zona de intervenção do GAL forragens. É um queijo de fabrico artesa- carne.
ADIBER – Associação de Desenvolvi- nal produzido apenas com o leite, coalho De forma a aproveitar bem todos os
mento Integrado da Beira Serra. Integra vegetal e sal. recursos, os restos da chanfana eram uti-
os concelhos de Arganil, Góis, Olivei- O Queijo Serra da Estrela – DOP foi lizados para fazer sopa e as vísceras da ca-
112

ra do Hospital e Tábua, todos perten- eleito uma das Maravilhas da Gastrono- bra eram utilizadas para confecionar ne-
centes ao distrito de Coimbra, região mia de Portugal. galhos, uma outra receita típica da região,

Centro. Os borregos são cozinhados segundo que não deve ser confundida com a dos
Trata-se genericamente de um territó- diversas receitas regionais, como Borrego maranhos. O bucho e as tripas são lavados
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

rio de montanha, caracterizado por uma de Escabeche, Arroz de Miúdos de Bor- e deixados durante algumas horas com li-
orografia muito acentuada, por onde ser- rego, Borrego Assado em forno de lenha, mão e sal. Depois são temperados com sal,
penteiam rios e ribeiras encimados por Borrego Estufado ou Costeletas de Borre- colorau e piripíri. Dentro de cada bocado
montanhas altas cobertas de vegetação ou go fritas. de bucho colocam-se pedaços de tripas e
de frondosas matas onde se revela a im- A Chanfana, prato típico da Beira In- de toucinho e uma folha de hortelã, fazen-
ponência das paisagens da Serra do Açor terior e Litoral, é confecionada com car- do-se uma “bola” que se cose com linha.
e a beleza natural dos Vales do Ceira, do ne de cabra velha, abatida apenas depois Cobrem-se posteriormente os negalhos
Alva, do Alvôco e do Mondego e a rus- de deixar de produzir leite. Este prato com vinho tinto e assam-se num forno a
ticidade das aldeias históricas de Aldeias cozinha-se com vinho tinto da freguesia lenha.
do Xisto. de Lamas, em fornos de lenha, durante No vasto património arquitectóni-
Com elevado valor patrimonial, a flo- quatro horas, utilizando-se antigas caçoi- co de Arganil, deve destacar-se o muito
resta é beneficiada por condições climá- las fabricadas pelos oleiros do Carapinhal. antigo Mosteiro de S. Pedro de Folques
ticas que favorecem o aparecimento de No concelho de Góis a esta iguaria toma cujo primeiro prior terá sido S. Goldrofe.
Este convento teve sempre uma grande Truta frita, a Truta no forno, a Truta gre-
importância agrícola na zona e os seus lhada ou a Truta no forno com Presunto.
religiosos, frades crúzios ligados ao Mos- Os restaurantes aderentes são ainda con-
teiro de Santa Cruz de Coimbra, deixa-
ram um importante conjunto de receitas,
vidados a participar num concurso de re-
ceitas originais de trutas.
Sabia que...
algumas das quais preservadas por pesso- A Sopa ou Saldo de Castanhas era Existem referências ao Queijo
as da terra e que integram ainda hoje o frequentemente confecionada, princi- Serra da Estrela que remontam
património gastronómico do concelho. palmente nas aldeias da serra, devido à à ocupação romana.
Temos, assim, por exemplo, a Sopa de abundância de castanheiros que havia Columela, oficial do exército
Castanhas, a Tigelada e o Arroz à Mos‑ nesta região. romano, descreve o seu fabrico
teiro, prato substancial, rico em carnes e As Tigeladas são uma das sobremesas naquele que é considerado
pedido muitas vezes para celebrações es- mais apreciadas nesta região. Estão sem- o primeiro Tratado de
peciais. Mas é particularmente famoso o pre presentes nas ementas dos casamentos, Agricultura.
Bucho Rechado, tradicionalmente con- dos batizados, ou nos dias festivos como o Em 1287, D. Dinis criou
sumido na Beira para festejar a matança Natal, a Páscoa ou a festa da aldeia. o primeiro mercado de queijo
do porco (nalgumas regiões do país era O Bolo Doce de Góis, feito à base de de Celorico da Beira.

113
colocado no fumeiro). Embora possam farinha, açúcar e ovos, corresponde a um Na Idade Média, Gil Vicente
existir variantes de aldeia para aldeia, a tipo de bolo folar que quase sempre existe refere-se desta forma ao


receita típica de Arganil consiste em re- em todas as terras e que se pode encontrar presente da Vila de Seia à
chear o bucho do porco com lombo, carne em padarias e pastelarias da Vila. Rainha D. Catarina, esposa de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
mais nobre, pão e ovos. Noutras zonas, Os Carolos são doces particularmen- D. João III: “Mandaraa a vila
como em Benfeita e Vila Cova de Alva, te tradicionais de Vila Nova de Oliveiri- de Sea quinhentos queyjos
recheia-se com arroz e sangue de porco. nha, concelho de Tábua. O milho é moído recentes todos feytos aa
A receita oriunda do Mosteiro, típica da grosseiramente, formando uns carolos uti- candea”.
aldeia de Folques, é particularmente rica lizados na confeção de uma iguaria seme-
em ovos. lhante ao arroz-doce.
As trutas pescadas no rio Ceira são
utilizadas em várias receitas do concelho
de Góis, tendo sido criado um Festival
da Truta, com o objetivo de valorizar os
produtos endógenos deste concelho. Os
visitantes terão oportunidade de degus-
tar iguarias como a Truta de Escabeche, a
peixe
Trutas à Moda do Rio Ceira

Quando a cebola ficar meio frita, jun-


INGREDIENTES ta-se o vinagre e a salsa, e regam-se as tru-
tas com este molho.
1 kg trutas
3 dentes de alho As trutas ficam de escabeche 8 dias.
1 folha de louro
1 cebola grande As trutas
3 colheres de sopa de vinagre SUGESTÃO pescadas no
1 ramo de salsa
Pimenta q.b. Pode ser servido simples: só com broa de rio Ceira são
Sal q.b. milho, ou com batatas cozidas, tanto ser- utilizadas em
vindo de petisco à merenda ou de refei-
ção. várias receitas
PREPARAÇÃO do concelho
de Góis, tendo
Amanham-se as trutas e temperam-se RITOS E HÁBITOS
com sal e pimenta. sido criado
Este prato era e ainda é utilizado pelas po- um Festival
Fritam-se em azeite que se aproveita pulações residindo mais próximo do rio
para a cebolada. Alva ou do rio Ceira. da Truta, com
o objetivo
de valorizar
os produtos
endógenos
deste concelho.
Podem ser
degustadas
como Truta
de Escabeche,
Truta Frita,
114

Truta no Forno,

Truta Grelhada
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

ou Truta no
Forno com
Presunto.”
carne
Bucho Recheado
à Moda de Folques

INGREDIENTES

1 bucho de porco
1 kg de lombo de porco
500 g de pão de primeira
12 ovos
1 ramo de salsa
4 dentes de alho
Sal q.b.
Pimenta q.b.
Cominhos q.b.
1/2 colher de café de piripíri
Noz-moscada q.b.

PREPARAÇÃO

Lava-se bem o bucho em água corrente, Quando estiver inchado, pica-se com
esfregando-o com sal e limão. uma agulha para extrair o ar e não o dei-
xar rebentar.
Deixa-se de um dia para o outro em li-
mão, sal e dentes de alho esmagados. Retira-se então o bucho da água a fer-
ver, embrulha-se num pano bastante fino
Corta-se a carne em bocadinhos peque- e ata-se a toda a volta com um cordel.
nos, tempera-se com sal, pimenta, noz-
-moscada, alhos picados, cominhos e pi- Volta a colocar-se no tacho com água a
ripíri. ferver e deixa-se cozer durante 2 horas a 2
horas e 30 minutos.
Deixa-se a marinar para o dia seguinte,
de preferência num recipiente de barro. Enquanto está a cozer deve picar-se o
bucho, de vez em quando, com a agulha,
No dia seguinte, corta-se o pão em pe- para que este não rebente.

115
dacinhos muito pequenos, juntam-se os
ovos completos batidos. Depois de cozido, serve-se cortado em


fatias podendo ser acompanhado com sa-
Acrescenta-se a carne e amassa-se tudo lada e batatas fritas.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
muito bem para que o pão fique desfeito.

Passa-se o bucho por água fria e re- SUGESTÃO


cheia-se com esta massa, de modo a que
não fique demasiado cheio. Há quem leve o bucho ao forno no fim de
cozido, para alourar, mas para isso deve ser
Cose-se a abertura do bucho com uma previamente untado com banha de porco.
agulha e linha de costura.

Coloca-se o bucho dentro de um tacho Receita cedida pela Confraria Gastronómica


com água a ferver . do Bucho de Arganil.
carne
Chanfana

INGREDIENTES

1 kg de carne de cabra Glossário


7,5 dl de vinho tinto de boa qualidade
(tradicionalmente, usava-se vinho Caçoila – o mesmo que caçoula
morangueiro) – vaso de barro cilíndrico de
100 g de toucinho (ou presunto) diâmetro maior do que a altura
3 colheres de sopa de azeite PREPARAÇÃO e que se destina a cozinhar.
1 colher de sopa de banha de porco
1 cálice de aguardente (no caso da Limpa-se a carne de cabra velha de pe- Fusca – escura, parda, trigueira.
carne ser muito rija) les e gorduras, escalda-se com água a fer- Diz-se do gado de pêlo escuro
2 dentes de alho ver e corta-se em pedaços. Corta-se o tou- ou preto.
1 folha de louro cinho em fatias finas ou pedacinhos.
3 cravinhos de cabecinha
Colorau q.b. Unta-se o fundo de uma caçoila de bar-
Sal q.b. ro e colocam-se aí os bocados de carne, o
Pimenta q.b. toucinho, o alho picado, o louro, os rami- No dia seguinte leva-se a cozer em for-
Salsa q.b. nhos de salsa, o colorau, o sal, a pimenta, no de lenha que já deve estar aquecido
os cravinhos de cabecinha e o azeite. (Se onde fica a cozer entre 3 e 4 horas.
a carne for muito rija, para a atenrar, adi-
ciona-se um cálice de aguardente). Quando a carne estiver bem cozida, ser-
ve-se da própria caçoila com uma colher
Rega-se tudo com o vinho tinto e dei- de pau, acompanhada com batatas cozi-
xa-se a marinar para o dia seguinte. das.
116

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces doces
Tigelada de carolo
Torrozelas

INGREDIENTES INGREDIENTES

12 ovos
1 l de leite
500 g de milho moído para carolos
1,5 l de leite
Sabia que...
1 colher de sopa de farinha (rasa) 1 casca de limão A Festa dos Carolos surgiu nesta
2 colheres de sopa de sumo 500 g de açúcar aldeia, por iniciativa de uma
de limão 1 pitada de sal senhora abastada chamada
Canela Pau de canela (opcional) Augusta. No mês de maio, altura
Cerca de 500 g de açúcar Canela para enfeitar em que a maioria da popula-
ção efetuava as sementeiras e
já quase não tinha que comer,
PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO esta senhora mandava confe-
cionar carolos e cozer broa. Os
Batem-se muito bem os ovos com o açú- Lava-se o milho em várias águas de carolos eram posteriormente
car (em maior ou menor quantidade, con- modo a obrigá-lo a largar as cascas mais levados em tabuleiros até a
forme o gosto) e o sumo de limão. duras. Igreja, onde eram benzidos e
distribuídos pelos pobres da
À parte, dissolve-se a farinha no leite Deixa-se o milho de molho durante 1 aldeia e das redondezas. Esta
frio e junta-se ao preparado anterior. a 2 horas. oferta era feita em louvor de
São Miguel, a quem era pedido
Deita-se esta mistura num tacho de Coloca-se uma panela ou um tacho ao que, no ano seguinte, os campos
barro (tradicionalmente de Molelos) e lume com água, a casca de limão e, que- fossem férteis e a produção
leva-se a forno (de preferência de lenha) rendo, um pau de canela. abundante. Esta tradição, que
que deve estar muito quente. O tacho não entretanto caíra em desuso, foi
deve ficar demasiado cheio para não vazar Logo que a água esteja a ferver, junte-se recuperada recentemente pela
o líquido. o milho para carolos, anteriormente lava- Associação Humanitária dos
do, deixa-se cozer durante alguns minu- Bombeiros Voluntários de Vila
Quando a tigelada estiver quase cozida, tos e vai-se mexendo. Nova de Oliveirinha. Os Carolos
polvilha-se com canela e deixa-se acabar são confecionados no Quartel da
de cozer. Quando o milho traçado estiver quase Associação, no Pátio do senhor
cozido, vai-se adicionando o leite a pouco Ribeiro da Silva, e levados em
Serve-se no tacho em que foi ao forno. e pouco, conforme o milho vai secando, o tabuleiros para a Igreja. Depois

117
açúcar e o sal e deixa-se apurar. de benzidos são novamente
levados para o Quartel, em pro-
RITOS E HÁBITOS


Retira-se do lume e coloca-se em pra- cissão, onde são divididos pelos
tos e travessas. Enfeita-se com canela e habitantes.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Nalgumas zonas a tigelada não é polvilha- serve-se frio.
da com canela.
Nota: O milho para fazer carolos é moído
grosseiramente e especialmente para este
efeito.
território
AGUIEIRA, DÃO
E CARAMULO
WWW.ADICES.PT

Caracterização Património de Raça Serrana, alimentado da vegetação


históricA E Gastronómico da Serra do Caramulo, e também na for-
ma da sua confecão, utilizando-se a assa-
Geográfica deira de barro negro para assar o cabrito
Várias freguesias do concelho de Tondela em forno de lenha. Atualmente este prato
O território da Aguieira, Dão e Caramu- integram a área geográfica de produção do pode ser degustado diariamente nos di-
lo corresponde à zona de intervenção do Borrego Serra da Estrela – DOP, ainda versos restaurantes existentes e protago-
GAL ADICES – Associação de Desenvol- que tradicionalmente se encontrem outras niza a Semana Gastronómica do Cabrito
vimento Local. raças ovinas e caprinas por todo o conce- e da Serra do Caramulo, que ocorre em
Localizado na região Centro, este ter- lho. junho e atrai muitos visitantes à região.
118

ritório integra os concelhos de Carregal do A Padela Serrana Caramulana obte- A excelente condição paisagística do
Sal, Mortágua, Santa Comba Dão e Ton- ve esta designação do recipiente utilizado, concelho de Tondela, nomeadamente a

dela, pertencentes ao distrito de Viseu. a Padela de Barro Negro de Molelos, que Serra do Caramulo e as encostas dos rios
A Serra do Caramulo, a Barragem e Albu- faz parte do artesanato típico de Tondela. Dão e Dinha, constitui o habitat ideal para
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

feira da Aguieira, a vasta rede hidrográfica, Uma das especialidades gastronómi- várias espécies de caça.
a mancha florestal, a vinha, as construções cas do concelho de Mortágua é, desde A confeção das Perdizes em Molho
em granito e xisto e a riqueza patrimonial tempos imemoriais, a Lampantana, con- de Vilão permite suavizar a sua textura,
constituem os principais elementos iden- fecionada com carne de ovino e Vinho mesmo as de mais idade, sendo cozidas
tificadores do território aparecendo, indu- Tinto do Dão – DOC, além de outros em lume brando, entre 25 e 45 minutos, e
bitavelmente, ligados ao turismo. ingredientes. posteriormente colocadas num recipiente
Na gastronomia local, destacam-se as A confeção do Cabrito Assado esten- com tampa, alternando a carne com cebo-
carnes de ovinos e caprinos, o queijo e o de-se por grande parte do território da la, salsa, pimentas preta e branca, azeite,
requeijão de ovelha, os enchidos, a caça e Serra do Caramulo. Este prato era tradi- alho, sal e vinagre. As perdizes servem-se
a lampreia. A maçã, o mel e a laranja de cionalmente consumido aquando das fes- frias, acompanhadas de pão e vinho tinto.
Besteiros são referências igualmente obri- tas dos padroeiros das aldeias, na Páscoa Nos invernos rigorosos que caracteri-
gatórias. e noutros momentos festivos. O segredo zam esta região, os pombos bravos sempre
desta iguaria reside no sabor do cabrito foram presença habitual nas matas típicas
completar a subsistência no quotidiano
rural, sobretudo quando o rio Mondego
ainda era navegável. Atualmente a pesca
constitui uma atividade com carácter de
lazer e de desporto, pescando-se habitu-
almente barbos, pimpões, carpas, achigãs,
percas, bogas e trutas. Pesca-se normal-
mente entre maio e setembro, sendo os
outros meses de defeso (período em que
os peixes se encontram recolhidos para
procriação).
O Bolo de Cornos, também conheci-
do por Bolo de 24 Horas ou Bolo Doce
da Páscoa é o doce mais característico do
concelho de Mortágua, associando-se às
tradições ancestrais de celebração da Pás-
coa. A originalidade destes nomes advém
da sua apresentação em formato de corno
e do facto de, em tempos idos, os bolos
serem confecionados com fermento tradi-
cional e demorarem cerca de 24 horas a
levedar.
A Torta de Laranja, doce bastante
das faldas da Serra do Caramulo e Vale de e sangue cozido. Tempera-se a carne com conhecido em Portugal, é muito confecio-
Besteiros. Estes pombos são capturados sal, alho, louro e vinho branco, deixa-se nada no concelho de Tondela, sobretudo
através da caça ou de armadilhas arte- a marinar e frita-se em banha no dia se- devido à predominância deste fruto na
sanais e o seu consumo tem sido, desde guinte. Num tacho de ferro, preferen- região.
tempos imemoriais, uma forma de com- cialmente em lume de lenha, salteia-se a A Tigelada do Caramulo constitui
plementar a alimentação das populações carne, com o fígado, a morcela e batatas uma das mais típicas sobremesas, confe-
das zonas rurais, onde tradicionalmente cozidas com a casca. Sobre este prepara- cionada tradicionalmente em períodos
se confeciona o Pombo d’Água. do, esfarela-se por fim o sangue previa- festivos, aproveitando-se o calor do for-
O Coelho à Caçador deve a sua desig- mente cozido. no onde se assavam os pratos de carne no
nação ao coelho bravo, espécie abundante Os Carolos em Vinho e Alhos é, ao forno a lenha. Os ovos, o leite, o açúcar, o

119
que se reproduz durante quase todo o ano, que se sabe, uma receita originária de mel, uma pitada de canela e algumas no-
ao ponto de se tornar uma praga para as Tondela, confecionada com os produtos zes são os ingredientes desta receita, con-


culturas agrícolas. A caça permitia, além existentes na região, e terá surgido duran- fecionada habitualmente num recipiente
da alimentação e da comercialização das te a I Guerra Mundial, como uma forma de barro negro de Molelos.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
peles, a proteção das colheitas. de fazer face à fome que assolou o país. Este território faz parte da Região
A Torresmada à S. Simão é um prato Trata-se de um prato forte e económico, Demarcada do Dão, sendo, portanto, as-
tradicional da aldeia de Lobão da Beira, confecionado apenas com milho, peque- sociado a prestigiados vinhos protegidos
onde se comemora anualmente, no últi- nas costelas de porco, coiratos e, nalguns com DOC. Os vinhos tintos possuem cor
mo domingo de outubro, a festa em hon- casos, tripas de porco. rubi e sabor aveludado. Os vinhos bran-
ra de São Simão. Por esta altura, muitas A tradição histórica da receita de cos são delicados, frescos e possuem cor
famílias faziam a matança do porco e Peixe do Rio com Molho de Escabe‑ citrina.
aproveitavam o sangue para fazer, não só che está diretamente relacionada com
as morcelas, mas também os torresmos, a presença dos rios Mondego, Dão, Di-
dando-lhes um sabor muito peculiar. nha e Criz e por uma miríade de outros
Este prato integra várias partes extra- pequenos percursos de água pelo que a
ídas do porco no dia da matança: barriga, pesca era uma atividade importante para
pá, carne gorda (de onde se faz a banha) as populações locais, permitindo-lhes
peixe carne
Peixe do Rio Lampantana
com Molho
de Escabeche

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 kg de peixe do rio 3 kg de carne de ovino


Sabia que...
3 dentes de alho 3 l vinho tinto Embora desconhecendo com
1 folha de louro 2 dentes de alho rigor científico a origem da
3 colheres de sopa de vinagre 1 cebola Lampantana, guardamos das
Pimenta q.b. 1 folha de louro anteriores gerações uma história
Piripíri q.b. 0,5 dl de azeite que a procura explicar e que re-
Sal q.b. 100 g de toucinho laciona o seu aparecimento com
Azeite para fritar 1 raminho de salsa as III Invasões Francesas, mais
Sal q.b. concretamente com a Batalha do
Piripíri q.b. Buçaco (1810) ocorrida maiorita-
riamente em terras de Mortágua.
Conta-se que, aquando da pas-
PREPARAÇÃO sagem das tropas napoleónicas
pela região, as populações teriam
Parte-se a carne aos pedaços e coloca-se envenenado as águas para matar
numa caçoila de louça negra. as tropas invasoras. Como era
preciso cozinhar a carne, terá
Tempera-se com os alho, a cebola, o sido utilizado, como recurso, o
louro, o azeite, o toucinho, a salsa, o sal e vinho. Da aliança entre estes
o piripíri. Deixa-se marinar durante algu- dois ingredientes de qualidade
mas horas (aproximadamente 12 horas). terá resultado este prato de ex-
celência, forte e suculento, cujo
Em seguida, acrescenta-se o vinho até segredo na confecão e no tem-
a carne ficar coberta e leva-se a cozer du- pero foi sabiamente guardado
rante cerca de 2 horas, em forno de cozer e perpetuado até nós e que, em
o pão, ou, em alternativa, no forno do fo- dias de festa, continua a ser, rei à
PREPARAÇÃO gão de lenha. mesa, por Terras de Mortágua.

Amanha-se o peixe e tempera-se com Serve-se com batata “fardada” (batata


sal. Coloca-se uma frigideira ao lume com cozida com a pele) e grelos.
120

o azeite que se deixa aquecer bem e fri-


ta-se o peixe do rio que depois se reser-

va a escorrer da gordura do azeite, sobre


papel.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

No fim do peixe todo frito, junta-se ao


azeite de fritar, o alho laminado, a folha
de louro, a pimenta, o vinagre e o piripíri.

Mexe-se sempre e deixa-se apurar, fi-


cando assim preparado o molho de esca-
beche.

Colocam-se os peixes do rio já fritos


numa travessa funda e regam-se com o
molho de escabeche. Pode ser servido
quente ou frio.
carne carne
carolos em Cabrito Assado à moda
vinho e alho da serra do caramulo

Coloca-se numa assadeira de barro pre-


to de Molelos e leva-se a assar.
INGREDIENTES INGREDIENTES
O processo de assar deve ser vigiado de
500 g de milho moído (carolos) 1 cabrito 3 a 5 kg forma que o cabrito fique bem tostado,
700 g de costelas de porco 6 dentes de alho para isso ter em atenção de regar o mes-
200 g de coiratos Folhas de louro mo com o molho acumulado na assadeira
1 chouriça moira 1,5 colher de sopa de colorau e na falta deste utilizar o restante vinho
Alhos 1 ramo de salsa branco que sobrou do tempero em cru.
Louro 3 piripíris pequenos
Piripíri Sal grosso q.b. Finalmente, depois de pronto deverá
Vinho tinto 0,75 dl de vinho branco maduro ser servido com batatinhas assadas, arroz
Cebola 1 dl azeite de miúdos (fressura) e grelos salteados.
Azeite 1,5 colher de sopa de banha de porco

RITOS E HÁBITOS
PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO
A confeção do Cabrito Assado estende-se
Cortam-se as costelas e os coiratos em Depois de limpo e retirada a fressura, por grande parte do território da Serra do
pequenos pedaços. desmancha-se o cabrito em pedaços gran- Caramulo. É prato com muita tradição
des em dias festivos, confecionado aquando
Temperam-se, separadamente, com da festa do Santo Padroeiro da aldeia,
alho, louro, sal, piripíri e vinho tinto, fi- Seguidamente barram-se com uma papa Páscoa e outros momentos festivos.
cando a marinar, em vinha-d’alhos, du- feita com os alhos esmagados, sal grosso,
rante 5 dias. Vai-se mexendo e acrescen- o colorau, o piripíri, o louro, o azeite e a Atualmente, é uma iguaria que se pode
tando vinho quando necessário. banha, junta-se o ramo de salsa e rega-se degustar todos os dias nos diversos res-
com algum vinho. taurantes existentes, e que protagoniza
Faz-se um refogado com cebola e azeite, a Semana Gastronómica do Cabrito e da
até a cebola ficar bem alourada (não quei- O cabrito deverá ficar assim de um dia Serra do Caramulo, ocorrido em junho,
mada). para o outro ou pelo menos 3 a 4 horas. evento muito procurado por apreciadores
desta especialidade
Junta-se a carne e os coiratos, inicial- O cabrito deverá ser assado em forno
mente, sem a marinada. de lenha, que deverá estar a temperatura
adequada.

121
Depois vai-se acrescentando a marina-
da, aos poucos, até a carne ficar cozida.


Lavam-se bem os carolos até saírem
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
as cascas. Acrescentam-se à carne e dei-
xam-se ferver cerca de 25 a 30 minutos,
até estarem cozidos. Se necessário vai-se
acrescentando água, de modo a ficarem
tipo “malandrinho”.

SUGESTÃO

Os sabores ficam mais apurados quando


confecionado em lume de lenha, numa
panela de ferro.
caça
coelho à caçador

INGREDIENTES

1 coelho
150 g de toucinho
2 cebolas grandes
1 cabeça de alhos
1 l de um bom vinho tinto
1 dl de azeite ou 4 colheres de banha
2 tomates maduros
2 folhas de louro
1 colher de sopa de alecrim
Azeite (para fritar)

PREPARAÇÃO

Coloca-se o coelho partido aos pedaços


numa tigela, tempera-se com sal e pimen-
ta, junta-se o louro e os alhos esmagados
(com casca) e rega-se com o vinho tinto,
cobrindo a carne e fica assim de um dia
para o outro.

Num tacho, derrete-se a banha e fritam-


-se as cebolas em rodelas finas e o touci-
nho em tiras.

De seguida juntam-se os tomates madu-


ros e, no fim, a carne da marinada.

Depois de ferver, baixa-se o lume e dei-


xa-se cozinhar (pode juntar-se o alecrim
122

antes de se baixar o lume).



RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Dicas e
Truques
Se precisar de liquido,
junta-se vinho, nunca
água.
doces doces
Bolo de torta de laranja
Cornos

INGREDIENTES INGREDIENTES Coloca-se a torta, já cozida, sobre o


pano e enrola-se aos poucos sem partir.
3 kg farinha trigo 350 g de açúcar
1 kg açúcar 120 g de margarina Decora-se com rodelas de laranjas.
1 copo de leite 80 g de farinha de trigo
1 pacote de margarina 12 ovos
24 ovos Sumo e raspas de 2 laranjas
100 g fermento de padeiro
0,5 dl de azeite
1 colher de sopa de sal PREPARAÇÃO
Sabia que...
10 a 15 limões A importância da laranja no
Folhas de couve Bate-se, à mão, os ovos com o açúcar. concelho de Tondela encontra-se
Sempre a bater, junta-se a margarina, pre- atestada na própria heráldica
viamente derretida, a farinha, o sumo e as do município, onde a laranjei-
PREPARAÇÃO raspas da laranja. ra ocupa lugar de destaque e
representa a grande importância
Coloca-se a farinha num al- Unta-se um tabuleiro com margarina e que os frutos têm na região,
guidar de barro, junta-se al- forra-se com papel vegetal, também unta- sendo também o símbolo do
guns dos ovos, a margarina do. valor agrícola. Os frutos de ouro
derretida, o leite, o sal e o fer- simbolizam a fidelidade, o poder
mento (dissolvido num pouco Deita-se o preparado no tabuleiro e vai e a liberdade e representam as
de água morna). ao forno a cozer durante cerca de 10 a 12 condições locais, correspondendo
minutos. A uma temperatura de 180 ºC. os vinte e seis frutos ao número
Amassa-se bem todos os in- de freguesias que integram o
gredientes com as mãos, jun- Estende-se um pano numa mesa e pol- concelho.
tando os restantes ovos (um a vilha-se com o açúcar.
um) até a massa fazer foles.

No fim de tudo amassado,


“aconchega-se” no alguidar,
unta-se com um bocadinho de
azeite e cobre-se com um len-

123
çol e um cobertor (deixando le-
vedar até crescer para o dobro).


Aquece-se o forno de lenha
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e tendem-se os bolos, colocan-
do-os sobre folhas de couve
polvilhadas com farinha.

Em seguida, varre-se o forno


e colocam-se os bolos (deixan-
do cozer 45 minutos).

Por fim, untam-se com um


pano embebido em manteiga
derretida ou azeite, ou uma
mistura de azeite com gema de
ovo e açúcar.
território
BEIRA INTERIOR SUL

O território integra ainda o Geopark


Naturtejo da Meseta Meridional, o pri-
meiro geoparque português, que desde
2006 faz parte das Redes Europeia e Glo-
bal de Geoparques, sob os auspícios da
UNESCO.

Património
Gastronómico
A agricultura da região caracteriza-se pela
predominância das culturas permanentes
e da policultura, destacando-se as produ-
ções de fruticultura e citrinos, olivicultu-
WWW.ADRACES.PT

ra, horticultura, cerealicultura e a criação


de ovinos, caprinos e bovinos.
A economia agropastoril predominan- restantes carnes eram utilizadas na confe-
te traduz o tipo de propriedades agríco- ção de ensopado e as fressuras e as miude-
las de grande dimensão que caracterizam zas eram refogadas e aproveitadas para a
Idanha-a-Nova, com destaque para as cul- confeção deste arroz, ao qual se juntava,
turas de regadio e a produção animal. O nalgumas freguesias, o sangue guardado
restante território caracteriza-se sobretu- aquando da matança.
Caracterização do por propriedades de pequena dimen- Do leite de caprinos e ovinos sempre
históricA E são. O setor agroalimentar tradicional
está aqui representado por produtos de
se prepararam excelentes queijos, como o
Queijo Amarelo da Beira Baixa, e o Quei-
Geográfica excelência como a produção certificada jo Picante da Beira Baixa, fabricados à
de carnes e enchidos, de azeite e de quei- cabreira a partir de leite de ovelha e de
O território de Beira Interior Sul, cor- jos, bem como por cereais, hortofrutícolas cabra, coalho animal, o Queijo de Castelo
respondendo à zona de intervenção do e plantas silvestres. Branco fabricado à ovelheira a partir de
GAL ADRACES – Associação de Desen- O consumo tradicional de carne de ca- estreme e coalho vegetal.
volvimento da Raia Centro-Sul, integra prinos e ovinos não se restringe à alimen- O queijo queimoso da Beira Baixa não
os concelhos de Castelo Branco, Idanha- tação quotidiana. É considerado como é picante por lhe ser adicionado qualquer
124

-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de prato obrigatório nos dias de trabalhos tipo de ingrediente (pimentas, picantes,
Ródão. agrícolas especiais e refeições que cele- etc.). Essa característica tão apreciada e

Localizado numa zona de transição bram datas assinaláveis da vida ou da his- única é conferida pelo tipo de tratamento
entre o Norte montanhoso e o Sul apla- tória local, nos dias santos dos padroeiros e cura. Este queijo apresenta característi-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

nado, o território é rico em contrastes e festas tradicionais ou de família, datas cas semelhantes ao queijo certificado pi-
geográficos e recursos naturais. Os vales em que era e é de rigor servir refeições cante da Beira Baixa.
encaixados do rio Tejo e Ocreza e dos seus melhoradas. O concelho de Idanha-a-Nova detém a
afluentes, especialmente do Erges, Aravil Um dos mais característicos pratos maior reserva de caça do país (50.223 ha).
e Ponsul, e as áreas planas adjacentes al- de carne da Beira Interior Sul são os Bo‑ Monfortinho é uma das freguesias prefe-
bergam um património natural valioso e relhões, Burulhões ou Burrilhões, fei- ridas pelos caçadores devido à grande di-
diversificado. tos a partir das tripas e bucho da cabra, versidade de espécies.
Na Beira Sul encontram-se duas im- e os ensopados e assados de cabrito ou A Feijoada de Lebre de Monfortinho
portantes zonas protegidas – o Parque borrego. é consumida, desde tempos imemoriais,
Natural do Tejo Internacional e a Reser- O Arroz de Fressura, prato típico de na época própria de caça desta espécie.
va Natural da Serra da Malcata – e duas Penamacor, consumia-se principalmente O rio Tejo sempre foi um recurso va-
das Aldeias Históricas de Portugal – Ida- em casamentos. As carnes mais tenras da lioso de Vila Velha de Ródão ara a ativida-
nha-a-Velha e Monsanto. cabra eram assadas em forno de lenha; as de piscatória. O tradicional provérbio das
gentes de Ródão, “Pescador de cana, fome
de esgana”, revela que a pesca à linha era
insuficiente para assegurar a sobrevivên-
cia da família, pelo que os pescadores ti-
nham de arriscar a vida no rio para ga-
rantir comida na mesa. Surgiram assim
as Sopas ou Migas de Peixe do Rio com A acelga é uma planta rica em carote-
Poejo, acompanhadas de peixe frito, que nos e vitamina C, utilizada em receitas tí-
continua a ser o prato mais tradicional do picas da vila de Penamacor, como as Acel‑
concelho de Vila Velha de Ródão. gas fritas, o Esparregado de Acelgas ou a Sabia que...
Este território situa-se também na Sopa de Acelgas. Sendo um alimento de Noutros tempos o feijão-frade
área geográfica da produção dos Azeites grande versatilidade, era também utiliza- era a base de sustento dos agri-
da Beira Interior – DOP, integrando o do como alternativa alimentar em alturas cultores locais (os solos pobres
tipo de Azeite Regional da Beira Baixa, de escassez de couves e outras hortaliças. eram apenas propícios ao cul-
que apresenta uma coloração amarela cla- A doçaria deste território integra es- tivo de feijão-frade e centeio),
ra levemente esverdeada, com aroma sui pecialidades de presença constante como sendo inclusivamente utilizado

125
generis e sabor a fruto. a Tigelada, os Borrachões, o Bolo de Fes- como moeda (“ganhões”) de
O feijão‑frade, sobretudo a espécie ta/Páscoa, os Biscoitos de Azeite, as Bicas pagamento aos trabalhadores


de cara verde, é um produto de excelente e as Papas de Carolo. As Papas de Carolo rurais, a par do toucinho e do
qualidade sobretudo na freguesia da Lar- são um doce tradicional típico de todo o centeio.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
dosa, concelho de Castelo Branco, devido território da Beira Interior Sul, principal- Sendo um alimento rico em
às condições edafo-climáticas excecionais mente em Alcains (concelho de Castelo potássio, fibras e proteínas
daquela zona. Branco). O milho é moído grosseiramen- vegetais, comia-se simplesmen-
São muitas as plantas silvestres que te, formando uns carolos que são utiliza- te cozido e temperado com um
eram utilizadas na alimentação das po- dos para confecionar uma papa de aspeto fio de azeite. As sobras eram
pulações locais, à semelhança do que se semelhante ao arroz-doce. A quantidade utilizadas para confecionar sopa
passava em muitas outras regiões: as acel- de açúcar é relativamente reduzida, o que de feijão-frade, em grandes
gas, os saramagos, as beldroegas, as leitu- o torna um doce saudável, equilibrado e panelas de ferro, que lhe confe-
gas, as merujas, as alabaças, os espargos, pouco calórico. riam melhor sabor. Para apurar
agriões e espinafres silvestres, e muitas Na gastronomia desta região importa o aroma, incluía-se uma rama de
variedades de cogumelos, sendo os mais salientar os tão apreciados borrachões, tí- cebola na preparação do caldo.
consumidos nesta zona os localmente picos bolos secos confecionados à base de
chamados criadilhas e tortulhos. vinho, azeite, açúcar e aguardente.
entradas sopas
Acelgas Sopa de Feijão-frade
fritas

INGREDIENTES INGREDIENTES

Caules de acelgas Feijão-frade (pequeno) Sabia que...


Azeite Batatas Na atualidade, este prato quase
Sal Couve desapareceu dos hábitos alimen-
Cebola (com a rama verde) tares diários, sendo-lhe atribuído
Para a polme: Azeite pouco valor, sobretudo entre os
Ovo Água mais novos. Contudo, a Junta de
Farinha Sal Freguesia da Lardosa tem vindo
Água a tentar recuperar a imagem
do feijão-frade como produto
PREPARAÇÃO tradicional de prestígio. Para tal,
realiza há vários anos a Feira do
Coloca-se o feijão a cozer em água tem- Feijão-Frade, que tem consegui-
PREPARAÇÃO perada com sal e com cebola cortada, in- do atrair centenas de visitantes
cluindo a rama. à região.
Lavam-se bem os caules das acelgas e
levam-se a cozer em água e sal. Quando o feijão estiver quase cozido,
acrescentam-se as batatas cortadas aos
Escorrem-se muito bem e envolvem-se quadradinhos e deixam-se cozer.
num polme feito com ovo, farinha é água.
Quando estas estiverem quase cozidas,
Levam-se a fritar em azeite. juntam-se as couves cortadas de forma
grosseira e rega-se com azeite. Mantém-
-se a cozedura até tudo estar macio.
SUGESTÃO

As folhas das acelgas podem ser aprovei-


tadas para fazer esparregado.

RITOS E HÁBITOS
126

As Acelgas fritas eram consumidas tradi-


cionalmente na segunda-feira seguinte ao


dia de Páscoa. Nesse dia as pessoas pre-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

paravam diversas iguarias que levavam


à Ermida de Nossa Senhora do Incenso
(Penamacor) onde, entre os respetivos
festejos religiosos, comiam as suas meren-
das. Entre essas iguarias estavam pastéis
e pataniscas de bacalhau, ovos verdes ou
omeleta de ovos com salsa, galinha corada
e doces como as filhós de forma, o pão de
ló e o bolo escuro de canela. Atualmen-
te estes cozinhados quase desapareceram
dos costumes alimentares desta festa e
poucas são as pessoas que ainda levam
merenda.
peixe
Miga de Peixe do Rio com Poejo

INGREDIENTES coloca-se por cima do pão que deverá es- Finalmente, serve-se levando a taça
tar num recipiente que possa ir à mesa. para a mesa, acompanhada de uma traves-
Postas grandes de barbo sa com o peixe frito.
Tomate pelado Retira-se o poejo da água e verte-se esta
Cebola cortadas às rodelas para dentro da taça que tem o pão e o pei-
Dentes de alho picados xe. RITOS E HÁBITOS
Pão da região, comprado de véspera, e
cortado em fatias fininhas À parte, frita-se o barbo ou lúcio-perca, Atualmente, é bastante comum a organi-
Raminhos de poejo bem fino, temperado com sal e passado zação de excursões ao concelho de Vila
Malagueta (opcional) por farinha. Velha de Ródão, com o intuito de degus-
Colorau tar tal ex libris nos restaurantes locais, sen-
Azeite para cobrir o fundo tacho Assim que esteja acabado de fritar, bor- do necessário fazer marcação prévia.
Sal q.b. rifa-se com uns pingos de vinagre.

Para o peixe frito:


Barbo ou lúcio-perca cortado
em postas finas
Farinha
Vinagre

PREPARAÇÃO

Num tacho, largo e alto, deita-se o azei-


te, as cebolas e os alhos e refoga-se, em
lume médio, até a cebola ficar trans-
parente.

Em seguida, junta-se o to-


mate, a malagueta, o colorau
e o sal e fica a apurar duran-
te cerca de 10 minutos.

127
Depois, junta-se água


suficiente para preencher
3/4 da capacidade do tacho
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e os raminhos de poejo e
retifica-se o sal.

Quando começar a ferver


junta-se o peixe que deverá
cozer durante cerca de 10 mi-
nutos.

Retira-se o peixe.

Quando a temperatura do peixe per-


mitir, tira-se-lhe a pele e as espinhas e
carne caça
Arroz de Feijoada de Lebre
Fressura de Monfortinho

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Miudezas de cabra ou cabrito 1 lebre Corta-se a lebre limpa em pedaços.


Arroz Cebola
Sangue da cabra ou do cabrito Couve lombarda Põe-se a marinar de um dia para o outro
Cebola e alho Cenouras com o alho, a cebola, o tomilho, o louro,
Folha de louro Azeite o vinho tinto, o sal, o azeite e o pimentão.
Azeite Sal
Vinho tinto Tomilho Leva-se depois a lume brando a estufar
Sal Vinho tinto tudo e, quando estiver quase cozida, jun-
Feijão-manteiga ta-se a couve lombarda e a cenoura.
Pimentão doce
Louro Adiciona-se o feijão previamente cozi-
do, retificam-se os temperos e serve-se.

RITOS E HÁBITOS

Hoje em dia, , esta receita continua a ser


confecionada por algumas pessoas da re-
gião e faz parte das ementas dos hotéis da
freguesia, a par de outros pratos típicos,
podendo assim ser apreciada por quem
visita o território.
PREPARAÇÃO

Faz-se um refogado com a cebola, o


alho, o azeite e as miudezas da cabra.
Tempera-se com vinho tinto e adiciona-se
uma folha de louro.

Deixa-se apurar e acrescenta-se o san-


128

gue previamente cozido e cortado aos pe-


dacinhos. Mexe-se e deixa-se guisar du-

rante mais algum tempo.


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Quando estiver bem apurado, acrescen-


ta-se água e tempera-se com sal. Quando
a água começar a ferver, junta-se o arroz e
deixa-se cozer.

RITOS E HÁBITOS

A receita que aqui se apresenta foi des-


crita na freguesia de Bemposta, mas fazia
parte dos costumes alimentares de todo
o concelho de Penamacor, especialmente
nos casamentos.
doces
Papas de Carolo

INGREDIENTES Coloca-se água temperada com sal e


azeite a ferver no lume. A quantidade
250 g de carolo
de açúcar é
1 l de leite Adiciona-se o carolo e deixa-se cozer
Água lentamente, mexendo sempre. relativamente
Sal reduzida, o
Azeite Depois de cozido, vai-se deitando o lei-
4 colheres de sopa de açúcar te aos poucos, mexendo sempre, até ficar que o torna um
bem cremoso. doce saudável,
equilibrado
PREPARAÇÃO No final, adiciona-se o açúcar e deita-se
para uma terrina de barro para arrefecer. e pouco
Lava-se o carolo 2 vezes em água limpa. calórico.”
Come-se frio, à colher.

129

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
SERRA DA ESTRELA

da indústria têxtil. A estratégia assenta


agora na valorização dos recursos locais
e do saber-fazer, como forma de atrair
visitantes e consolidar a Serra da Estrela
como destino turístico.
Detentor de condições naturais singu-
lares, o território é também (re)conhecido
pela fauna e flora existentes, pelos habi- A produção do Queijo
tats que conservam e preservam espécies Serra da Estrela
únicas em Portugal e que integram a área
protegida do Parque Natural da Serra da remonta ao século XII,
Estrela. é o mais antigo dos
queijos portugueses e
Património dos mais afamados de
Gastronómico
WWW.ADRUSE.PT

todo o Mundo. Esteve


A gastronomia tem neste território uma presente nas mesas
grande genuinidade e diversidade, encon- reais e foi mesmo
trando-se aí diversos produtos de quali-
dade reconhecida, alguns deles certifica- evocado por Gil
dos. Enquadrado pelo Parque Natural da Vicente no século XVI.”
Serra da Estrela, o ambiente desta zona
Caracterização permite a valorização dos recursos natu-
históricA E rais desenvolvendo atividades como a sil-
vopastorícia, a apicultura e a piscicultura,
Geográfica bem como o aproveitamento das ervas particularmente em períodos festivos.
medicinais e aromáticas e dos produtos O Borrego Assado em forno de lenha é
O território da Serra da Estrela corres- silvestres. uma das especialidades mais apreciadas.
ponde à zona de intervenção do GAL A pastorícia e atividades com ela re- A cabeça e a carne mais tenra das pás são
ADRUSE – Associação de Desenvolvi- lacionada conferem uma acentuada par- utilizadas na Canja de Borrego, uma das
mento Rural da Serra da Estrela. Integra ticularidade ao território. A pastorícia é sopas regionais típicas da gastronomia da
os concelhos de Celorico da Beira, Fornos uma atividade antiquíssima nesta região, região Serra da Estrela.
130

de Algodres, Gouveia, Manteigas e Seia tendo constituído o suporte da economia A confeção em panela de ferro e a uti-
num total de 93 freguesias. serrana durante séculos. lização de ingredientes típicos da região

A Serra da Estrela e o rio Mondego Podem referir-se como principais pro- (o borrego, o azeite, a cebola e a cenoura)
dominam este território de montanha, dutos locais, o Queijo Serra da Estrela, o conferem-lhe um sabor inigualável que a
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

que envolve o ponto mais alto do conti- requeijão, a carne de borrego, os enchi- transformam numa das sopas mais procu-
nente português (1993 m de altitude na dos, o centeio, as trutas, o mel, as casta- radas pelos habitantes da Serra da Estela
Torre). Na vertente norte da Serra, a Ca- nhas e os produtos silvestres. e por quem a visita.
beça do Velho, um monólito granítico a O Borrego Serra da Estrela – DOP O Queijo Serra da Estrela – DOP é
1300 m de altitude é um dos pontos mais surgiu como um subproduto da produção um recurso endógeno com enorme po-
altos e mais admirados do território. Do- do Queijo Serra da Estrela. Mantém-se a tencial e da maior importância para toda
minando o Vale do Mondego, o Castelo forma tradicional de maneio que confere esta vasta região. A sua produção remonta
de Linhares (a 850 m) é também um bom à carne características organolépticas di- ao século XII, é o mais antigo dos queijos
ponto para tirar partido dos encantos da ferenciadas: particularmente macia e sa- portugueses e dos mais afamados de todo
paisagem de montanha. borosa, de paladar muito suave. o Mundo. Esteve presente nas mesas reais
Num território onde se trabalha a lã A carne do Borrego Serra da Estre- e foi mesmo evocado por Gil Vicente no
há 800 anos, o setor secundário tem vindo la é utilizada na confeção de variadís- século XVI. É produzido com leite de ove-
a perder importância devido ao declínio simas receitas antigas das casas beirãs, lhas das raças Bordaleira Serra da Estrela
e/ou Churra Mondegueira e coalhado pela
flor do cardo, planta nativa da região. É
um queijo de fabrico artesanal produzido
apenas com o leite, coalho vegetal e sal.
Trata-se de um queijo de ovelha curado,
com crosta amarelo-palha e pasta semi-
-mole amanteigada e cor branco-marfim,
que possui a forma de um cilindro baixo
com abaulamento lateral, com bordos
indefinidos. O queijo é submetido a um
processo de certificação para poder ser
comercializado com a qualificação Queijo A feijoca é uma variedade de feijão princípios do século XX, pela semelhança
Serra da Estrela. O Queijo Serra da Estre- graúdo que, quando cultivada nas regiões com o típico bolo inglês e pelo facto de se
la foi nomeado uma das 7 Maravilhas da de montanha, adquire um sabor muito acompanhar com chá, bebida profunda-
Gastronomia de Portugal. aveludado. Na região da Serra da Estrela, mente enraizada no consumo local.
Os enchidos tradicionais desta zona a feijoca é branca e muito saborosa. Sen- O Requeijão Serra da Estrela – DOP
incluem o chouriço, a farinheira, a mor- do rica em proteínas, faz parte da dieta resulta do aproveitamento do soro sobran-
cela de sangue, o paio e a paiola. alimentar das populações das regiões de te do fabrico do queijo, podendo derivar
O Mel de Urze é fabricado pelas abe- montanha. Em Manteigas foi criada a do leite de ovelha das raças Bordaleira Ser-
lhas que recolhem o pólen das urzes pre- Confraria da Feijoca, Associação de Con- ra da Estrela e Churra Mondegueira ou da
dominantes nas zonas mais altas da Serra frades que adoptou a feijoca como talismã cabra raça Serrana.
da Estrela (como a queiró, a torga e a urze das especialidades regionais com singula-
branca), produzindo um mel com cor e res sabores de montanha, cuja produção
paladar característicos. local urge incentivar para as preservar.
O Pão de Centeio é tradicionalmen- A receita tradicional da Feijoca Serra‑
te amassado à mão, com farinha de cor na é um guisado ao qual se juntam carnes
escura (resultante do centeio cultivado de porco previamente cozidas, deixando-as

131
em terras serranas) e cozido em forno apurar. Acrescentam-se depois as feijocas,
de lenha. cozidas e não piladas, demolhadas de vés- Sabia que...


As águas frias e claras dos rios, lagoas pera. Servem-se com enchidos regionais
e barragens da Serra da Estrela são o local (chouriça, morcela, farinheira) e arroz de Até aos anos 50 do século XX o
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
privilegiado para as trutas fário, uma es- carqueja cozido na água da feijoca. requeijão era acompanhado com
pécie autóctone, que os pastores apanha- Atualmente, os restaurantes da região mel ou geleia de marmelo, ingre-
vam no rio Zêzere e preparavam enquan- servem a feijoca em inúmeras e variadas dientes que não aderiam bem e
to guardavam o rebanho. receitas, incluindo doçaria. “deslizavam”. Então uma senhora
Entre as possíveis formas de confecio- Na doçaria da região salienta-se o Bolo chamada Rosalina Camelo resol-
nar estas trutas, está a receita Trutas de Negro de Loriga, com mais de 150 anos, e veu cobrir o requeijão com com-
Escabeche, que acompanha com batata que segundo diversos testemunhos, é um pota de abóbora “porqueira” e
cozida e legumes. bolo exclusivo desta localidade, com sabor amêndoa. Surgiu assim um novo
De entre as matérias primas locais e textura especiais, que se distingue pelo conceito de sobremesa, cuja
destacamos, ainda, a feijoca, a castanha, a formato retangular e pela cor escura. fama se estendeu rapidamente a
abóbora, a cherovia (ou pastinaca), os bo- Aponta-se como origem provável a todo o país: Requeijão com Doce
letos, os frutos silvestres, o zimbro e a flor sua ligação à “colónia” inglesa residente de Abóbora e Amêndoa à moda
de sabugueiro. em Loriga entre meados do século XIX e da D. Rosalina.
entradas sopas
Tosta de pão de centeio com Canja de
queijo Serra e mel de urze borrego

INGREDIENTES INGREDIENTES

Pão de Centeio 500 g de borrego (preferencialmente


Queijo Serra cabeça e carne das pás)
Mel da Urze 100 g de massa pevide
5 grãos de pimenta
O Pão de centeio é 1 cenoura média
PREPARAÇÃO tradicionalmente 1 cebola
Hortelã q.b.
Levam-se ao forno a tostar amassado à mão, com Sal q.b.
as fatias de pão de centeio. farinha de cor escura
Depois de tostadas, coloca- (resultante do centeio PREPARAÇÃO
-se sobre cada uma delas, uma cultivado em terras
fatia de queijo serra e leva-se serranas) e cozido em Começa-se por limpar o borrego de
novamente no forno, para der- todo o sebo.
reter ligeiramente o queijo. forno
de lenha.” De seguida, leva-se ao lume a cozer em
No final, sobre a combina- 2 l de água, com uma pitada de azeite, a
ção do pão e do queijo coloca-
-se uma colher de mel de urze.

Receita cedida por Jorge Camelo.

A carne do Borrego
Serra da Estrela é
132

utilizada na confeção

de variadíssimas
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

receitas antigas
das casas beirãs,
particularmente em
períodos festivos. A
cabeça e a carne mais
tenra das pás são
utilizadas na Canja de
Borrego.
peixe
Trutas de
escabeche

que se adiciona também a pimenta, a ce- INGREDIENTES


bola, a cenoura e o sal.
Trutas
Deixa-se ferver em lume brando duran- Azeite
te cerca de 1 hora. Sal

Depois de cozida a carne, retira-se a Para o molho de Escabeche:


mesma e côa-se o caldo. Azeite
Louro
Vai novamente ao lume e, quando le- Alhos
vantar fervura, junta-se a massa pevide e Vinagre
deixa-se cozer durante mais 10 minutos.

Depois de cozido junta-se a carne do PREPARAÇÃO


borrego que pode ser, ou não, desfiada.
Amanham-se as trutas, temperam-se de
Na altura de servir retifica-se o sal e sal e fritam-se em azeite.
junta-se um raminho de hortelã das mar-
gens do Mondego. O molho de escabeche:

Receita cedida pela Confraria do Borrego. Numa caçarola, coloca-se o azeite, o


louro, os alhos e o vinagre. Leva-se ao
lume até ferver um pouco.

Numa travessa colocam-se as trutas e,


ainda quentes, regam-se com o molho de
escabeche.

São acompanhadas por batata cozida e


legumes.

Receita cedida pelo Restaurante Guarda Rios.

133

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne
Feijoca serrana com Arroz de
arroz de carqueja carqueja

INGREDIENTES INGREDIENTES

Feijoca Arroz agulha


Orelha e pé de porco Água da cozedura das feijocas
Entrecosto Cebola
Chouriça Alho
Cebola Azeite
Cenoura Carqueja
Alho Chouriça, morcela e farinheira
Louro Sal
Azeite
Vinho branco e brandy
PREPARAÇÃO

PREPARAÇÃO Refoga-se no azeite a cebola e o alho


picados e junta-se o arroz até absorver a
No dia anterior, põem-se as feijocas a a água da cozedura das carnes do dia an- gordura.
demolhar. Depois de demolhadas, co- terior.
zem-se em água temperada com sal. À Junta-se então a água de cozer as feijo-
parte cozem-se as carnes e a chouriça (não Junta-se um cálice de brandy e um copo cas, um raminho de carqueja e tempera-se
podem ficar muito cozidas) e cortam-se de vinho branco. Ficam as carnes a estu- com sal.
aos cubos. Reservam-se. far lentamente até atingirem o ponto.
Enquanto o arroz coze lentamente,
No dia seguinte, faz-se um picadinho de Acrescenta-se a restante água da coze- fritam-se morcela, farinheira e chouriça.
cebola, alho, louro, cenoura que vai a re- dura das carnes e a água onde foram cozi- Decora-se o arroz com os enchidos fritos
fogar em azeite. Aos poucos, adiciona-se das as feijocas. Deixa-se apurar. cortados às rodelas.

Receita cedida pelo Restaurante A Cascata.


134

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces doces
Bolo negro Requeijão
de Loriga com doce
de abóbora
à moda de D. Rosalina

INGREDIENTES Deve aquecer-se bem o forno antes de INGREDIENTES


colocar a forma.
3 ovos Requeijão da Serra da Estrela
250 g de açúcar O tempo de cozedura é cerca de 1 hora. Doce de abóbora
250 g de farinha Amêndoa triturada
1 colher de chá de bicarbonato
de sódio
1/2 colher de chá de canela RITOS E HÁBITOS PREPARAÇÃO
(bem cheia)
5 dl de leite gordo Consome-se habitualmente em momen- Coloca-se por cima do requeijão, doce
tos festivos (na Páscoa, na festa da Padro- de abóbora.
eira de Loriga, em casamentos, excursões
PREPARAÇÃO e romarias), por vezes acompanhado de Finaliza-se com amêndoa triturada.
queijo e requeijão. Faz parte da lista de
Batem-se, à mão, os ovos inteiros com o sobremesas dos restaurantes locais. A in- Receita cedida por Miguel Camelo.
açúcar e a canela. dústria panificadora local promove a sua
distribuição para todo o país e mesmo
Mistura-se a farinha com o bicarbona- para as comunidades loriguenses que re-
to, sem bater, e por fim o leite, até a massa sidem no estrangeiro.
o absorver e ficar fluida.

Leva-se a cozer em forma retangular e


alta, untada com manteiga e polvilhada
com farinha, colocando por cima também Receita cedida pela Confraria da Broa
um pouco de farinha. e do Bolo Negro de Loriga.

135

Sabia que...
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
O requeijão Serra da Estrela e
o tradicional doce de abóbora
porqueira passaram a fazer parte
da carta dos restaurantes locais,
permitindo a divulgação e o
escoamento destes dois produtos
genuínos. Hoje em dia é possível
comprar embalagens de requei-
jão acompanhado com doce de
abóbora, comprovando a exis-
tência de um nicho de mercado
para esta sobremesa inovadora.
território
PINHAL INTERIOR SUL

vez mais como uma atividade económica fresca e escura para não ficarem olhados
complementar. Ao nível de património por dentro. Depois de bem secos eram
natural, existem inúmeras praias fluviais colocados em pequenos potes de barro
como Açude Pinto, Álvaro, Cambas, Al- chamados asados, cobertos com azeite ou
deia Ruiva, Fróia e Malhadal. só abafados. Também se comiam frescos.
O queijo cabreiro, fabricado artesanal-
Património mente, é outro ex libris destes concelhos.
O melhor queijo é produzido nos meses
Gastronómico mais frios, altura em que existem melho-
res pastagens e o leite de cabra é mais rico.
A pastorícia e os produtos agroalimen-
tares daí derivados sempre tiveram um
papel relevante neste território. “Das ca-
WWW.PINHAL-MAIOR.PT

bras, na posse de quase todas as famílias,


os agricultores aproveitavam: as crias para
venda ou, mais recentemente, para servi-
rem de repasto pelos casamentos e outros
tempos festivos; o leite para beberem,
nem sempre, e para o fabrico artesanal de
queijos. Quando velhas ou maninhas as
cabras eram abatidas e consumidas, em
épocas especiais e em tempo de festa. (…)
Das ovelhas, para além dos borregos, do
Caracterização leite e da carne, utilizavam a sua lã (…) A
históricA E sua carne, como a de cabra, tinha um pa-
pel importante nos batizados, casamentos
Geográfica e outras festas, religiosas ou profanas.”
Destaca-se no concelho de Oleiros o
O território do Pinhal Interior Sul cor- famoso Cabrito Estonado cuja confeção
responde à zona de intervenção do GAL demora três dias. Trata-se de uma receita
PINHAL MAIOR – Associação de De- típica de cabrito assado no forno de lenha,
senvolvimento do Pinhal Interior Sul. com a particularidade de o cabrito não ser
Integra os concelhos de Mação, Oleiros, previamente esfolado, mas estonado, de-
136

Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei. O signação que advém de se extrair “o que


Pinhal Interior Sul, subregião da Pi- está à tona”, ou seja, é-lhe tirado o pelo

nhal Maior, cuja área foi já considerada a mas mantendo a pele que fica estaladiça.
maior mancha contínua de pinheiro bra- Assim, o cabrito não perde gordura e a
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

vo da Europa, é um território reclinado carne fica mais suculenta e mais saborosa.


sobre a albufeira do Zêzere, Tejo e Ocre- Infelizmente, as exigências específicas
za, homogéneo na morfologia e no clima. da confeção desta iguaria são incompatí-
A paisagem é constante e marcada por veis com algumas normas recentemente
pinhal, serra e água. Em termos económi- estabelecidas, o que coloca em perigo a
cos, o território encontra-se muito ligado preservação desta longa tradição. Tradi-
à floresta, com especial destaque para o cionalmente, é muito consumido na Pás-
setor da madeira e para os setores agroa- coa.
limentares. Beneficiando de uma posição As pessoas que possuem cabras e/ou
estratégica (o centro geodésico de Portu- ovelhas aproveitam também o respetivo
gal situa-se no Picoto da Melriça em Vila leite para consumo próprio, por vezes
de Rei), o território tem vindo a atrair para doces e para fazer queijos. Os queijos
visitantes, pelo que o turismo surge cada eram secos sobre uma tábua numa casa
Neste território quase toda a família enchidos e presuntos, produzindo-se em
criava pelo menos um porco que era ali- Mação 70 por cento de todo o presunto
mentado com castanha, restos de comida nacional.
e produtos da horta. O bucho de porco recheado é um pra- Sabia que...
O concelho de Mação destaca-se em to característico desta região, que na Bei- “As carnes do porco sabiamente
atividades como a olivicultura, a vinha, a ra se fazia sobretudo para consumir du- preparadas eram, parcimonio-
caprinocultura e a apicultura. É conheci- rante a festa da matança, e noutras regiões samente, consumidas ao longo
da como a “Terra dos 3 Ás” – Água, Ar do país costumava guardar-se no fumeiro. do ano, tanto em refeições do
e Azeite. As condições climáticas des- Hoje são poucas as famílias que continu- dia a dia, como nos repastos
te concelho são propícias à produção de am a matar o porco e a fazer o bucho, mas cerimoniais, como casamentos,
há pessoas que querem manter a tradição batizados e trabalhos agrícolas
e projetam construir pequenas unidades especiais. Os presuntos, quando
de produção de bucho. A receita varia de havia muita boca para sustentar,
localidade para localidade. eram vendidos ou trocados por
Também a gastronomia de Proen- mantas de toucinho, trazidas
ça-a-Nova é marcada pela caprinocultura pelos almocreves e toucinhei-
e pela agricultura. De entre as especiali- ros, vindos, especialmente, do
dades gastronómicas do concelho (como, concelho de Mação e do Alto
por exemplo, a Sopa de Peixe, o Bucho Alentejo. Também alguns traba-
Recheado, a Cacholada, as Morcelas de lhadores que iam para as ceifas
Erva-doce, a Salada de Almeirão com no Alentejo levavam consigo
Batata Cozida, os Nabos com Feijão, ou toucinho para poderem trazer
as Couves com Broa) é forçoso destacar a trigo que serviria para confecio-
excelente Tigelada de Mel que é a rainha nar o pão que se devia consumir
da doçaria local. em tempo de festa. “
Na gastronomia de Vila de Rei pode-
mos encontrar muitos dos pratos mais
emblemáticos da zona de Pinhal Maior,
mas devemos salientar o Bacalhau à Vila
de Rei, o Bacalhau à Cobra, o Achigã
Grelhado ou Frito, o Cozido à Vila de
Rei, o Arroz Doce e o Pudim de Vila de
Rei, rico em amêndoa e gemas de ovos, e

137
as Broas de Mel.
Os peixes dos rios são muito aprecia-


dos e com eles se prepararam diversas
receitas como saborosas sopas, peixe sim-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
plesmente frito ou de escabeche, grelhado
e a cabidela de lampreia.
O vinho callum é exclusivo de Oleiros
e provém de uma casta estabelecida ao
longo das margens da Ribeira de Oleiros.
Trata-se de um vinho branco, com baixo
teor alcoólico e muito ligeiro, frequente-
mente comparado ao vinho verde.
A Aguardente de Medronho da Sertã
pode ser servida como digestivo e é pro-
duzida em alambiques locais, aproveitan-
do a existência abundante de medronhei-
ros na região.
peixe peixe
Achigã Arroz de
grelhado lampreia

INGREDIENTES INGREDIENTES
Sabia que... 1 kg de peixe de rio (achigã ou barbo) Lampreia
O município de Vila de Rei 1 molho de coentros (ou poejos) Cebola
promove o prato típico Achigã Sal q.b. Alho
Frito com Molho de Vinagrete. O 1 malagueta (opcional) Louro
Festival Gastronómico anual do 3 dentes de alho Piripíri
Achigã é uma festividade orga- 2 dl de azeite Salsa
nizada pela Câmara Municipal 1 colher sopa de vinagre Poejo
para promover a receita mais Coentro
antiga da vila. O achigã pescado Azeite
no rio Zêzere tornou-se um ele- PREPARAÇÃO Sal
mento característico da gastro- Vinho tinto maduro
nomia local. Prepara-se o peixe tempera-se com sal, Vinagre
grelha-se e reserva-se numa travessa. Arroz
Sangue da lampreia
Enquanto o peixe grelha, prepara-se o
tempero: num almofariz, pisam-se as fo-
lhas de coentros, os dentes de alho, a ma- PREPARAÇÃO
lagueta e o sal e junta-se o azeite.
Limpa-se a lampreia com água quente.
Aquece-se levemente esta mistura ao Abre-se e aproveita-se o sangue.
lume e perfuma-se com o vinagre.
Juntam-se os temperos: cebola, alho,
Rega-se o peixe com esta mistura e ser- louro, piripíri, salsa, poejos e coentros,
ve-se com batatas cozidas e salada. azeite, sal, vinho tinto maduro, e vinagre,
tudo em cru.

Coze-se a lampreia e faz-se um arroz de


cabidela. Acrescenta-se hortelã.
138

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne
Cabrito estonado

INGREDIENTES Quando se tiver retirado a maior par- pele deverá ficar tostada e estaladiça como
te dos pelos, limpa-se o cabrito com um a do leitão.
1 cabrito (de preferência com 1 mês e pano grosso e raspa-se com uma faca até
meio) toda a pele ficar limpa e lisa, mas tendo o
200 g de banha cuidado de não a romper. SUGESTÃO
5 dentes de alho
2,5 dl de vinho branco Depois retiram-se-lhe as vísceras, la- Os miúdos do cabrito podem ser apro-
Pimenta q.b. va-se muito bem e põe-se a escorrer pen- veitados para fazer um arroz que serve
Sal q.b. durado, de um dia para o outro. de acompanhamento à carne assada ou
para rechear o cabrito. Neste último caso,
No dia seguinte barra-se o cabrito por misturam-se os miúdos com salsa, louro e
PREPARAÇÃO dentro e por fora com uma pasta feita presunto picado e introduz-se esta mistu-
com os dentes de alho, o vinho branco, ra na barriga do cabrito na altura em que
Escolhe-se um cabrito gordo, mas que sal suficiente e uma boa quantidade de este é temperado. Cose-se a abertura (que
não tenha mais de mês e meio. pimenta. deve ser pequena) com agulha e linha e
assa-se normalmente. À parte podem as-
Depois de morto, e sem demora, come- Coloca-se dentro de uma assadeira, no sar-se batatas pequenas num pouco do
ça a estonar-se, ou seja, a retirar-se todo fundo da qual se colocaram alguns paus de molho do assado e serve-se tudo acompa-
o pelo que o cobre. Para tal, mergulha-se loureiro cruzados, a fazer de grelha para nhado com grelos cozidos ou outra ver-
pouco a pouco o cabrito em água a ferver que, ao assar, o cabrito não fique em con- dura a gosto.
durante uns segundos e arrancam-se os tacto com o molho que se vai formando.
pelos com a mão.
Leva-se a assar em forno bem quente.
Repete-se a operação tantas vezes quan-
tas forem necessárias para soltar a pela- Quando estiver tostado de um dos la-
gem de todo o corpo. dos, vira-se e deixa-se assar do outro. A

139
Estonado, designação

que advém de se
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
extrair “o que está à
tona”, ou seja, é-lhe
tirado o pelo mas
mantendo a pele que
fica estaladiça.”
carne carne
Maranho Bucho
recheado

INGREDIENTES deve alternar com a fria, para evitar que INGREDIENTES


o bucho coza e perca parte da sua elasti-
1 bucho grande de carneiro ou borrego cidade. Bucho de porco
500 g de carne de borrego ou de Lombo de porco
cabrito Cortam-se as carnes em bocadinhos mi- Galinha
50 g de chourição údos e temperam-se com sal, alhos, horte- Presunto
1 tira de presunto lã (querendo, pode juntar-se um pouco de Chouriço magro
1 tira de toucinho entremeado salsa) bem picada, vinho branco, azeite e Ovos
180 g de arroz pimenta. Arroz
1 dl de vinho branco Pão
1 ramo grande de hortelã Junta-se arroz cru depois de lavado e Salsa picada
Salsa (opcional) mistura-se bem. Vinho branco
Sal q.b. Cebola e alho
Pimenta q.b. Deixa-se repousar cerca de 2 horas para Louro
Azeite q.b. as carnes tomarem o sabor dos temperos. Azeite, óleo e margarina
Cravinho de cabeça
Com uma tesoura, corta-se o bucho em Colorau
PREPARAÇÃO quadrados de tamanho idêntico com cer- Sumo de laranjas e limão misturado
ca de 10 cm de lado. com salsa picada, sal e cravinho
Mergulha-se o bucho numa panela de
água a ferver, raspa-se com uma faca e Com a ajuda de agulha e linha, co-
esfrega-se com limão até ficar completa- zem-se os bocados de bucho formando PREPARAÇÃO
mente limpo (em algumas zonas, o limão uma espécie de saquinhos que se enchem
é substituído por cal e água quente). só até meio com o recheio para evitar que Cortam-se as carnes em pedaços, tem-
rebentem quando o arroz coze. pera-se com alhos, sal e vinho branco.
A lavagem tem de ser cuidadosa e pa-
ciente, em várias águas, para eliminar to- Cose-se a abertura com agulha e linha. Faz-se um refogado com cebola picada,
talmente os resíduos do anterior conteú- azeite, óleo e margarina, cravinho de ca-
do do bucho e o sabor desagradável que Levam-se os maranhos ao lume numa beça, louro, salsa e alho.
os mesmos lhe conferem. A água quente panela com água, sal e hortelã.

Quando os saquinhos se apresentarem


140

louros e cheios, significa que estão bem


cozidos.

Regra geral, os maranhos cozem duran-


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

te 1 hora e 15 minutos, aproximadamente.

Retiram-se do tacho e untam-se com


azeite.

RITOS E HÁBITOS

Nalgumas localidades o recheio também


pode levar as tripas e as gorduras dos in-
testinos do carneiro, a pele da barriga do
cabrito ou a gordura dos rins do animal
escolhido.
doces doces
Cartuchinhos Tigelada
de Cernache de mel
do Bonjardim

Depois de refogado, mistu-


ram-se as carnes e deixam-se INGREDIENTES INGREDIENTES
guisar. Quando começam a
querer alourar, mistura-se a Para a massa: 1 l de leite (de preferência de cabra)
marinada. Tapa-se o tacho e 400 g de farinha 12 ovos
deixa-se cozer. Se começar a 100 g de manteiga 400 g de açúcar amarelo
secar, deita-se um pouco de vi- 3 ovos Colheres de mel a gosto
nho branco ou água. 1 ovo para pincelar Raspa de limão
Amêndoa ralada grossa 1 colher das de sopa de farinha
De seguida, as carnes cozi- Canela q.b.
das tiram-se para fora, coze-se Para o recheio: 1 pitada de sal
o arroz onde a carne guisou. 4 dl de água
Gemas
Após o arroz cozido, bem 300 g de açúcar PREPARAÇÃO
aberto, retira-se o tacho do Amêndoa ralada
lume e mistura-se o pão e, por Mistura-se a farinha com o açúcar, o sal
fim, os ovos bem batidos. e a canela.
PREPARAÇÃO
Vai de novo ao lume para co- De seguida, juntam-se os ovos, o mel, a
zer os ovos, mexendo sempre Amassa-se 400 g de farinha com 100 g raspa de limão e o leite morno.
para não agarrar. de manteiga derretida e 3 ovos. Cada um
dos ovos deve ser misturado separada- Mexe-se tudo muito bem e coloca-se
A seguir, mistura-se a salsa mente. em caçoilas/recipientes de barro untadas
picada, o sumo de laranja e li- com azeite.
mão. Estende-se a massa com o rolo e cor-
ta-se aos quadrados. Deve deixar-se uma margem de mais
Enche-se o bucho de por- ou menos 2 dedos até ao bordo da caçoila
co, previamente lavado e bem Forram-se com a massa, exteriormen- para a massa não verter para fora quando
seco com um pano, não muito te, formas em forma de cartucho, pince- estiver no forno. Coloca-se o preparado
para não rebentar. lam-se com ovo batido e polvilham-se no forno de lenha.
com amêndoa ralada grossa.
Cosem-se as aberturas com Serve-se frio sem polvilhar com ne-
agulha e linha. Vão ao forno a cozer, em formas de lata, nhum condimento ou especiaria.

141
assentes pela base.
Picam-se os dentes de alho,


junta-se colorau e azeite. Es- Para o recheio:
frega-se o bucho com esse
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
preparado e leva-se a tostar Fervem-se 4 dl de água com 300 g de
em forno bem quente cerca de açúcar até ficar em ponto de espadana.
meia hora. Vai-se picando com
a agulha para não rebentar. Junta-se amêndoa ralada e as gemas e
leva-se a lume brando, mexendo sempre,
até engrossar.

Quando pronto, recheiam-se os cartu-


chos que ficam prontos a servir.
território
RAIA CENTRO NORTE

Ao nível do património edificado, Património


no concelho das Guarda, destacam-se o
Castro histórico do Jarmelo, a Anta de
Gastronómico
Pêra do Moço, a Torre de Menagem, não
esquecendo a venerável Sé catedral. A re- Este território apresenta valores faunís-
cente classificação da janela manuelina ticos e florísticos ímpares, a que se asso-
existente nesta cidade assume inequívoca ciam produtos regionais com processos
atratividade para o território. No Sabugal, ancestrais de fabrico.
sobressaem os cinco castelos e pelouri- O clima frio e a presença tradicional
nhos do concelho, a Aldeia Histórica de de lareiras propiciam a confeção de pratos
Sortelha e numerosas estações arqueoló- assados na brasa, em especial os pratos de
gicas, como a de Sabugal Velho, na fre- borrego e de cabrito.
guesia de Aldeia Velha e Caria Talaya, na Quer o borrego quer o cabrito são
freguesia de Ruvina. oriundos de rebanhos locais, cujo pasto-
WWW.PRÓ-RAIA.PT

Este território é ainda cenário de gran- reio é feito em regime extensivo (utilizan-
des tradições, como a capeia, festa brava do técnicas tradicionais), o que se reflete
em que o touro é lidado com “forcão”, re- na qualidade da carne, que é tenra e mui-
alizada nas aldeias raianas do concelho de to saborosa.
Sabugal, elevada recentemente à catego- Da atividade da pastorícia resulta
ria de património cultural imaterial. ainda a produção de queijos com espe-
No artesanato, a riqueza do território cial relevância para o Queijo de Cabra da
continua viva na cestaria de Gonçalo e no Serra da Malcata, abundante em fregue-
cobertor de papa de Maçainhas, no conce- sias como Fóios e Vale de Espinho, bem
Caracterização lho da Guarda, onde se encontra a última como o Queijo Serra da Estrela – DOP
históricA E fábrica do país que ainda produz estes co-
bertores de lã de ovelha, com o seu carac-
e o Requeijão Serra da Estrela – DOP
presente em diversas freguesias do conce-
Geográfica terístico pêlo comprido e riscas coloridas. lho da Guarda.

Pertencente à Raia Centro Norte, a zona


de intervenção do GAL PRO-RAIA – As-
sociação de Desenvolvimento Integrado
da Raia Centro Norte integra os conce-
lhos da Guarda e Sabugal.
142

Dadas as características montanhosas


destes concelhos a pecuária e a silvicul-

tura assumem particular importância na


economia local. Não obstante a estrutura
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

económica de forte ruralidade, o territó-


rio regista um elevado número de peque-
nas e médias empresas e estabelecimentos
comerciais, localizados sobretudo nas se-
des de concelho. Com grande diversidade
de recursos naturais devido à presença do
Parque Natural da Serra da Estrela, Re-
serva Natural da Serra da Malcata, rios
Côa e Mondego, o setor turístico tem vin-
do a assumir protagonismo. A oferta de
alojamento e espaços de lazer têm vindo
a aumentar, reforçando a competitividade
do setor.
No que concerne aos pratos de peixe, Para além do bucho e da morcela,
a gastronomia do Sabugal deve a sua ori- chouriça e farinheira são igualmente
gem à presença do rio Côa, sendo a Truta apreciadas e dignas de menção em qual-
Sabia que... de Escabeche um ex libris local. Também
a caça tem a sua relevância sazonal, nos
quer receituário gastronómico.
No concelho da Guarda, o Caldo de
A especificidade do Mel da dois concelhos, sendo o coelho bravo, o Grão, composto por grão-de-bico, carne
Serra da Malcata deve-se ao javali, a perdiz e o Arroz de Lebre, alguns de porco (pé, barriga e orelha), louro, ce-
isolamento privilegiado da zona dos pratos preferido, quase sempre cozi- bola, azeite, alho, noz-moscada, presunto
e à riqueza em flores silvestres nhados ao lume, em panelas de ferro, uma ou chouriço e macarrão, é consumido tra-
– urze e rosmaninho – das vez mais devido à presença do fogo nos dicionalmente no S. João, uma das festas
quais as abelhas extraem méis lares beirãos, facto que a restauração local mais carismáticas da cidade da Guarda.
de excelentes sabores, dando valoriza e promove. O caldo de vagens secas temperado
origem a produtos como o mel Quanto a enchidos, o Bucho Raiano, com untura e farinheira cozida no interior
de queiró, o mel com pólen e no Sabugal, e a Morcela da Guarda as- é frequente à mesa em várias freguesias
com geleia real. Outrora, o mel sumem papel de relevo pela autenticidade raianas.
da região chegou a ser utilizado e enraizamento nos costumes da popula- A doçaria deste território é muito di-
como uma pomada que se ção. Em época carnavalesca decorrem ati- versa podendo citar-se as míticas filhós
aplicava em feridas. vidades gastronómicas ligadas às iguarias feitas à moda da Beira Alta, os Biscoitos
tradicionalmente cozinhadas pelo en- da Guarda e Esquecidos da Guarda, a
trudo nestas terras altas da beira, com o Bola Parda, o Bolo Folar da Guarda, o
objetivo de consolidar as potencialidades Pão Santoro de Pêga ou Bica de Azeite,
gastronómicas de ambos os concelhos. À vários doces à base de castanha e mel, Pa-
base destas iguarias simbólicas do territó- pas de Carolo e compotas, nomeadamente
rio, são realizados eventos gastronómicos o doce de abóbora e a marmelada.
em que a adesão da restauração local tem Sobremesa de eleição nestas terras é o
vindo a revelar-se numa oportunidade de Requeijão com Doce de Abóbora, união
evolução do setor de atividade. de sabores a apreciar.

143

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
SOPAs carne
Caldo de Grão Cabrito
assado

INGREDIENTES INGREDIENTES

Grão-de-bico Sabia que... 1 cabrito pequeno


Pé de porco As sopas tradicionais do terri- Banha
Barriga de porco tório são confeccionadas à base Colorau
Orelha de porco de feijão, batata e hortaliças Pimenta
Louro cozinhadas frequentemente Alho
Cebola na tradicional panela de ferro, Sal
Azeite sendo frequente a utilização de
Alho fritura do toucinho da barriga do
Noz-moscada porco, também designada banha PREPARAÇÃO
Presunto ou untura e adição de colorau,
Massas que lhes confere um toque No dia anterior, limpa-se e
Sal peculiar. parte-se o cabrito, temperan-
do-o com sal.

PREPARAÇÃO No dia, assa-se em brasas de


lenha.
Coze-se previamente o grão-de-bico e
separadamente as carnes temperadas com
sal. SUGESTÃO

Corta-se a cebola e o alho e refoga-se Faça um molho com banha,


juntamente com o louro num pouco de colorau, pimenta, alho e vai-se
azeite. pincelando o cabrito à medida
que vai assando.
Junta-se o grão, as carnes e parte das
águas das cozeduras ao refogado. Juntam-
-se as massas, que se deixam cozer. Reti-
fica-se o sal e tempera-se com noz-mos-
cada.
144

Quer o borrego

quer o cabrito
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

são oriundos
de rebanhos
locais de
pastoreio
em regime
extensivo, o
que se reflete
na qualidade
da carne.”
CARNE
Morcela da Guarda

INGREDIENTES Finalmente a morcela é submetida a


uma leve cozedura com água em lume
Sangue de porco brando, de forma a evitar que rebente.
Tripas grossas de porco
Pão de trigo assente Geralmente é utilizado um caldeiro co-
Cominhos locado nas cadeias da chaminé, dispon-
Colorau doce do-se as morcelas em canas ligeiramente O Bucho Raiano, no
Sal distanciadas, sendo ainda picadas lenta- Sabugal, e a Morcela
Gorduras de porco derretidas mente com agulha, para remover o ar das
Salsa tripas. da Guarda assumem
Cebola picada papel de relevo
Após cozedura, as morcelas estão pron-
tas para entrar nas varas e iniciar o pro- pela autenticidade
PREPARAÇÃO cesso de secagem. e enraizamento
nos costumes da
De qualidade reconhecida, a morcela Antes de encher as morcelas e para se
da Guarda é um enchido fumado obtido retificarem os gostos faz-se a “prova”, que população.”
a partir de sangue e gorduras de porco bem torrada à lareira é um dos manjares
finamente partidas, temperadas com sal, do dia da matança.
salsa, colorau doce, cebola picada e comi-
nhos.

Começa-se por tirar o miolo ao pão de


trigo assente: com 2 ou 3 dias de cozedu-
ra.

De seguida mistura-se o pão desfazen-


do-o com o sangue, adicionando uma
mão cheia e generosa de cominhos, colo-
rau doce, salsa finamente picada, cebola
e sal q.b.

145
Derrete-se de seguida ao lume a gordu-
ra previamente partida aos bocadinhos e


adiciona-se à massa anterior.

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS


As tripas de porco foram previamente
bem lavadas, deixando-as de molho de
um dia para o outro com sumo de limão.
Passando-as ainda por aguardente, para
remoção total de odores.

Enchem-se as tripas com o preparado.

Após enchimento manual, as tripas são


fechadas, atando-se firmemente com um
fio de algodão, após esvaziar-se o ar com
agulha.
carne
Bucho Raiano

INGREDIENTES RITOS E HÁBITOS

200 g de orelha de porco O Entrudo, em especial o Domingo


400 g de focinho de porco Gordo, era, e ainda é, a ocasião pro-
100 g de rabo de porco pícia a comer o bucho, sendo da
100 g de língua tradição que a família se reúna
300 g de entrecosto em convívio para o saborear.
Sal q.b
Alho
Colorau doce

PREPARAÇÃO

Fervem-se, limpam-se e
partem-se aos bocadinhos a
orelha, o focinho, o rabo e a
língua nas quantidades men-
cionadas para confecão de 1 kg
de bucho.

De seguida corta-se o entre-


costo aos bocadinhos, juntan-
do-se ao preparado anterior.

Envolve-se tudo e mexe-se


muito bem, adicionando sal,
alho finamente picado e colo-
rau.

Deixam-se as carnes tem-


peradas durante 3 dias, para
146

tomarem os gostos, findos os


quais o descomunal invólucro

é cheio e colocado a secar ao


calor da lareira.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doce doce
Requeijão com Doce de
Doce de Abóbora Abóbora

INGREDIENTES INGREDIENTES

Requeijão Serra da Estrela Abóbora


Doce de abóbora Açúcar
Sal

PREPARAÇÃO Sobremesa de eleição


nestas terras é o Requeijão PREPARAÇÃO
Coloque num prato 2 fatias generosas
de requeijão. com Doce de Abóbora, união Coze-se a abóbora em cubos
de sabores a apreciar.” em água com sal.
De seguida, acrescente o doce de abóbo-
ra por cima e sirva. Depois de cozida, deixa-se a
escorrer de um dia para o outro.

Junta-se igual peso de açú-


car ao da abóbora escorrida e
lava-se ao lume.

Deixa-se ferver até que o


doce fique translúcido.

147

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
RAIA HISTÓRICA

e rochas, sobretudo granito, ou ainda no


âmbito do turismo, graças às potenciali-
dades naturais e patrimoniais.
Este território integra parte do Parque
Natural do Douro Internacional, fazendo
ainda fronteira com o Parque Natural da
Serra da Estrela e conta com cinco Al-
deias Históricas – Almeida, Castelo Men- O património
do, Castelo Rodrigo, Marialva e Trancoso. gastronómico
Parte das gravuras e pinturas rupestres do
Parque Arqueológico do Vale do Côa tam- desta região
bém enriquecem o seu património. encontra as suas
WWW.RAIAHISTÓRICA.ORG

Principal fronteira terrestre de Portu-


gal com a Europa, é ainda porta de entra- principais raízes
da para as 11 fortalezas da Raia Histórica. na agricultura, na
produção animal
Património e na silvicultura.
Gastronómico A autenticidade
O património gastronómico desta região e preservação
encontra as suas principais raízes na agri- dos seus recursos
cultura, na produção animal e na silvicul- constituem
Caracterização tura. A autenticidade e preservação dos
o verdadeiro
históricA E seus recursos constituem o verdadeiro

Geográfica
potencial desta região. Com 50 por cen- potencial desta
to da zona vitivinícola da Beira Interior
integrada na zona de intervenção da Raia região.”
O território da Raia Histórica – corres- Histórica, o setor do vinho constitui uma
ponde à zona de intervenção do GAL aposta estratégica sobretudo pela qualida-
Castelos do Côa. Localiza-se na região do de possível (Douro, Pinhel e Figueira de
Nordeste da Beira e abrange uma área to- Castelo Rodrigo). Entre os produtos ali-
tal de cerca de 2.166 km2 distribuída por mentares de distinta qualidade, destaque
148

cinco concelhos: Almeida, Figueira de para a produção de Castanha dos Soutos


Castelo Rodrigo, Meda, Pinhel e Tranco- da Lapa – DOP, o olival, o centeio e o

so. Situado numa zona de fronteira, com milho, a pastorícia, o queijo, a amêndoa, a
uma altitude que varia entre os 400 e os caça, a pesca e os produtos silvestres.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

1000 m, é atravessado pelos rios Távora, As Papas Laberças comem-se como


Massueime, Águeda e Coa. É uma zona sopa, podendo ser mais ou menos espes-
com uma baixa densidade populacional, sas segundo o gosto de cada um, e são
assistindo-se a uma redução demográfica confecionadas com nabiças (cortadas fi- quando as couves abundavam e eram de
iniciada com os fluxos migratórios da dé- ninhas como se cortam as couves para o melhor qualidade.
cada de 1960. caldo-verde) que, depois de cozidas, se Também nesta região a matança do
A atividade agropecuária tem ainda misturam com farinha, cuja quantidade porco é uma festa com os seus rituais pró-
um peso decisivo na economia da região, varia em função da espessura desejada, prios. Em Trancoso, a marrã (toucinho
onde a industrialização não é muito sig- e cozem-se, formando uma papa. Podem fresco) é usada logo no dia da matança ou
nificativa. No entanto, existem bastantes também ser preparadas com couve serra- é salgada para se comer ao longo do ano.
recursos suscetíveis de serem aproveita- na ou galega. Tradicionalmente, esta sopa A Lagarada é um prato confecionado
dos, quer no domínio agrícola e silvícola, cozinha-se na altura das vindimas e no com bacalhau, batatas, alho, cebola e azei-
quer ao nível da exploração de minérios inverno, quando o frio apertava e também te. A sua origem remonta aos tempos em
que, apanhada a azeitona, os lavradores benéficas, há uma confiança das pes-
tinham de se deslocar ao lagar onde era soas que ao longo dos anos apanham os
fabricado o azeite, demorando-se alguns cogumelos”.
dias (as viagens eram longas e o fabrico De mencionar também o queijo pro- Sabia que...

149
de azeite também). Para se alimentarem duzido no território, o precioso mel, o As Sardinhas Doces de Trancoso,
durante este tempo os agricultores leva- azeite e os frutos como a castanhas, a são provavelmente originárias


vam bacalhau e cozinhavam-no junto do maçã e os enchidos variados (morcelas, do Convento de Freiras de Santa
próprio lagar, aproveitando a caldeira de chouriços, farinheiras, alheiras). Clara, em Trancoso.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
aquecimento do mesmo. Depois de confe- As Cavacas de Pinhel são bolos secos, Confecionadas com um recheio
cionada, a lagarada era regada com azeite ocos, envolvidos por uma cobertura bran- feito à base de gemas de ovo,
bem quente, acabado de fazer no lagar e ca e possuem uma forma circular. Trata-se açúcar e amêndoa, envolto numa
acompanhada com enchidos: bucho, fari- de um doce conventual, com origem no espécie de massa tenra, são
nheira e chouriça. Convento de Santa Clara de Pinhel, mui- fritas e cobertas com uma calda
Da flora local fazem parte diversas to apreciado ainda hoje. de chocolate.
plantas silvestres comestíveis. É o caso Deve-se ainda destacar o Bolo de Fo- Possuem um sabor requintado
dos meruges, que parecem agriões mais lhas de Trancoso e o Bolo de Castanhas, os e a forma de sardinha era uma
pequenos e que são utilizadas numa mui- Bolos de Escalhão e o requeijão com doce maneira de prestar “tributo” a
to tradicional salada, ou dos cogumelos de abóbora. esse peixe, que era muito raro
silvestres, “sobretudo míscaros dos pi- Uma outra especialidade da doçaria na região.
nhais e matas da região. Por existirem conventual deste território são as Sardi‑
muitas espécies, umas venenosas outras nhas Doces de Trancoso.
sopas peixe
Papas Lagarada
Laberças

INGREDIENTES INGREDIENTES Pica-se muito bem o alho e a cebola e


junta-se ao preparado de bacalhau com as
1 molho grande de nabiças Batatas (pequenas batatas .
3 colheres de sopa de azeite ou médias com casca)
1 chávena de farinha de Bacalhau demolhado É regado com o azeite quente, que sim-
milho Alho boliza ou representa o azeite acabado de
Sal Cebola fazer.
Pimenta Azeite da região

RITOS E HÁBITOS
PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO
Nos tempos em que os lavradores se ti-
Cortam-se as nabiças muito Assam-se as batatas no forno (anterior- nham que deslocar ao lagar de azeite, as
fininhas como se fossem para mente na caldeira de aquecimento do la- viagens eram longas e o fabrico do azeite
caldo verde e levam-se a cozer gar) e o bacalhau por sua vez é assado na igualmente demorado, sendo que a Laga-
em água com sal, pimenta e brasa. rada surge no lagar aproveitando o calor
metade da porção de azeite. das caldeiras e o azeite acabado de fazer.
Depois de cozinhados, desfaz-se o ba- Era acompanhada com enchidos: bucho,
Desfaz-se a farinha num calhau em lascas e as batatas prensadas farinheira e chouriça.
pouco de água fria e juntam-se com a mão e misturam-se numa tigela de
as nabiças quando estiverem barro.
cozidas.

Junta-se ainda o restante


azeite e deixa-se cozer a fari-
nha e engrossar, mexendo para
não ganhar grumos.
150

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Sabia que...
O milho é muito utilizado na
Beira Alta, em papas doces ou
salgadas feitas com nabiças ou
couves, conforme a época.
carne
Carneiro à Beirão

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

2 kg de carneiro Arranja-se o cabrito, parte-se aos boca- Feito isto, coloca-se a banha por cima,
4 cebolas dos, lava-se e escorre-se. rega-se com o azeite e tempera-se de sal e
4 tomates pimenta. Cobre-se com vinho tinto.
4 dentes de alho Num tacho, colocam-se em camadas
4 pimentos alternadas a cebola em rodelas, bocados Leva-se então a lume forte.
3 cravinhos de cabrito, tomate aos quartos (sem pele
1 folha de louro e sem sementes), pimento em tiras, alho Quando ferver, retifica-se temperos e
1 malagueta picado, louro partido, malagueta e cravi- reduz-se o calor.
4 dl de azeite nho.
Vinho tinto Deixa-se apurar lentamente e serve-se
25 g de banha Repete-se a operação até terminarem os acompanhado de batata frita ou a murro.
Sal e pimenta ingredientes.

151

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doceS
Cavacas de Pinhel

INGREDIENTES misturam-se os ingredientes e batem-se


durante 1 hora.
28 ovos
8 dl de azeite Untam-se as tigelas de barro com banha
1 cálice de aguardente de porco, antes de se juntar a massa já pre-
750 g de farinha parada.
15 g de sal
Colocam-se no forno pré-aquecido a
Para a calda de açúcar: 250 ºC durante 45 minutos.
3 claras de ovo
Açúcar em pó q.b Deixam-se arrefecer após tirar do forno.
3 colheres de vinagre
À parte, é feita uma cobertura à base de
açúcar em pó, juntamente com 3 colheres
PREPARAÇÃO de vinagre e 3 claras de ovos, que têm de
ser bem batidas para que a cobertura fi-
Batem-se os ovos com o azeite durante que espessa.
15 minutos.
Envolvem-se as cavacas, dando-lhes
Adiciona-se posteriormente 1 cálice de um aspeto de brancura de neve. Deixam-
aguardente, 750 g de farinha e 15 g de sal, -se secar.

Sabia que...
As Cavacas de Pinhel são bolos
secos, ocos, envolvidos por uma
152

cobertura branca e possuem


uma forma circular. Trata-se de

um doce conventual, com origem


no Convento de Santa Clara de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Pinhel, muito apreciado ainda


hoje.
doceS
Sardinhas doces
de Trancoso

INGREDIENTES As irmãs do
Convento de Santa
Para a massa:
250 g de farinha Clara, em Trancoso,
2 ovos eram detentoras
Água e sal q.b.
Raspa de laranja ou limão
de autênticas
Canela q.b. especialidades a nível
Meia chávena de azeite quente
de doçaria, como
Para o recheio: as morcelinhas de
Ovos-moles amêndoa, o folar da
Amêndoa ralada
Páscoa, o bolo doce
Para a calda de chocolate: que acompanhava
100 g de chocolate meio amargo
o queijo de ovelha
40 g de margarina
1 pitada de canela em pó amanteigado, as
50 g de açúcar cavacas e a bola de
folhas.”
PREPARAÇÃO

Massa:

À farinha juntam-se os ovos, um boca-


dinho de água e sal, raspa de laranja ou
limão, canela e meia chávena de azeite
quente.

Amassa-se tudo bem e estende-se a


massa sobre a qual se colocam espaçada-

153
mente colheres de recheio.


Dobram-se e cortam-se com a forma de
sardinha, unindo bem as bordas, e depois
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
levam-se a fritar em azeite bem quente.

Para o recheio juntar os ovos-moles e a


amêndoa a gosto.

A calda de chocolate:

Numa panela, coloque chocolate meio


amargo, margarina, canela em pó e açú-
car. Deixe os ingredientes derreterem e
formarem uma calda. Passe as sardinhas
(já fritas) nesta cobertura.
território
COVA DA BEIRA

Dada a riqueza natural e patrimonial pé de porco, a orelheira, toucinho entre-


do território, aliada à excelência dos pro- meado, presunto, chouriço e farinheiras,
dutos locais, gastronomia e artesanato, o obtendo-se assim um prato de sabor rico
turismo é uma atividade em crescimento. e característico.
A oferta de alojamento (designadamente O Pastel de Molho da Covilhã é um
em espaço rural) e as atividades de lazer pastel enrolado em forma de espiral, re-
e cultura têm vindo a atrair cada vez mais cheado de carne de vaca guisada. Pode ser
visitantes à região. servido com molho de açafrão ou chá pre-
to ou ser comido apenas como pastel. Foi
Património desenvolvido no ano de 1920 pelos ope-
rários fabris que, não dispondo de tempo
Gastronómico para confecionar sopa, a substituíram por
estes pastéis, que complementavam as re-
Ainda que a agricultura tenha vindo a per- feições e se podem conservar durante vá-
der peso nas últimas décadas, a Cova da rias semanas.
Beira continua a produzir essencialmente A Sopa de Grão é um prato tradi-
WWW.RUDE.PT

batata, milho, produtos hortícolas e fru- cional do concelho do Fundão. Coze-se


tícolas. A região é ainda uma importante o grão numa panela de ferro, temperado
produtora de vinho e azeite, bem como de com azeite, sal e uma cebola. Depois de
Queijo Serra da Estrela – DOP, enchi- cozido, retira-se o grão, que será poste-
dos tradicionais, aguardente de zimbro riormente utilizado na confeção de outros
e mel. O Cabrito da Beira – IGP é um pratos (por exemplo guisados) e aprovei-
ex libris de todo o território, proveniente ta-se o caldo para fazer a sopa com bata-
Caracterização das raças charnequeira e serrana e de os ta cortada em cubinhos, cebola picada e
históricA E cruzamentos entre ambas. Estes animais
alimentam-se em pastos constituídos por
massa “manga de capote”.
Referência obrigatória na gastrono-
Geográfica gramíneas e leguminosas espontâneas. mia da Cova da Beira é a cherovia. A
Nos períodos de escassez, os produtores vasta produção só é possível em terras
O território de Cova da Beira correspon- utilizam arbustos para criar forragens frias, pois necessita das geadas para de-
de à zona de intervenção do GAL RUDE que servem de suplemento alimentar. A senvolver o sabor, sendo abundante na
– Associação de Desenvolvimento Rural. carne dos cabritos, alimentados quase freguesia do Ferro, concelho da Covi-
Integra parte dos concelhos de Covilhã, exclusivamente de leite materno, é cor- lhã. Desenvolve-se melhor em terrenos
Belmonte e Fundão, abrangendo 49 fre- -de-rosa pálida, muito tenra, clara e de arenosos ou limosos, já que os terrenos
154

guesias. Entre os maciços das serras da gosto suavemente aleitado. Os cabritos


Estrela, Gardunha e Malcata, atravessada são consumidos assados ou fritos, prin-

pelo rio Zêzere e ribeiras afluentes, com cipalmente nas festividades da Semana
altitudes entre os 400 e os 500 m, a região Santa. Estes animais são utilizados para
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

caracteriza-se por uma forte aptidão agrí- produzir leite, posteriormente utilizado
cola. na produção de queijos. As cabras velhas
O setor agrícola continua a desempe- são normalmente utilizadas para a confe-
nhar um papel importantíssimo na econo- ção de chanfana.
mia da região (apesar de ter perdido algum No Fundão prepara-se o Ensopado
peso nas últimas décadas), nomeadamente de Cabra. A criação de cabras e ovelhas é
na produção de vinho, azeite e queijo. uma tradição muito antiga, devido à exis-
O setor secundário absorve a maior tência de ricos pastos, sendo estes animais
parte da população ativa da região, nome- largamente consumidos em datas festivas,
adamente a indústria têxtil, a construção sobretudo em casamentos.
civil, a serração de madeiras e a serralha- A Panela do Forno é um prato típi-
ria, embora se assista a um progressivo co da Covilhã, que junta numa só receita
crescimento do setor terciário. várias carnes de porco como a dobrada, o
argilosos ou pedregosos dificultam o seu
crescimento, provocando raízes deforma-
das e pequenas. A degustação da cherovia
contribui para uma alimentação saudável
e o seu cultivo permite preservar a biodi-
versidade.
Três frutas, reconhecidas através de
IGP – cereja, maçã e pêssego – são atuais
embaixadoras da Cova da Beira. A Cereja
Cova da Beira é uma das espécies frutei- mais frequentes a Golden delicious e a Red – DOP, outro ex libris da Covilhã. Quando
ras de maior peso na economia agrícola delicious. se confeciona queijo, há um soro que es-
regional da Cova da Beira. As Papas de Carolo, também cha- coa da francela. Este soro é aquecido até
De entre as muitas variedades de cere- madas Papas de Milho, muito populares à ebulição, deixando-se depois arrefecer
jeiras, existem algumas autóctones, como em todo o território, são semelhantes ao à temperatura ambiente. Obtém-se assim
a De Saco ou Saco da Cova da Beira, mais arroz-doce, distinguindo-se pela parti- um preparado líquido com pequenos flo-
representativa na região, e a Morengão” cularidade de serem confecionadas com cos brancos dispersos, que era tradicio-
bem adaptada à altitude. A Cereja Cova o carolo, que é o milho triturado fina- nalmente distribuído por pequenos cestos
da Beira – IGP é de consistência firme mente, mais grosseiro que a farinha, e de verga fina de castanheiro, hoje substi-
e carnuda e sabor muito doce, cuja colo- pode ser utilizado na preparação de várias tuídos por material higienizável, donde
ração vai do vermelho vivo ao vermelho receitas. escorre o líquido denominado “sorelho”
púrpura, podendo, no caso de algumas O Doce de Mogango é muito típico ou “rescaldão”. Depois de escorrido, a
variedades, ser do vermelho ao alaranja- na Covilhã e confeciona-se com abóbora, massa branca e espessa que resta constitui
do. O Pêssego da Cova da Beira – IGP é vulgarmente conhecida por mogango, bo- o requeijão, um produto de sabor fresco e
um fruto perfumado, com polpa amarela, bra, abóbora, abóbora-da-quaresma, mo- alto valor nutritivo.
muito sumarento e saboroso, satisfazen- ranga. Acrescenta-se açúcar, pau de cane- Outros doces típicos deste território
do o paladar mais exigente. A Maçã da la e miolo de nozes (opcional). Cortam-se são a Bolacha de Cerveja e os biscoitos
Cova da Beira – IGP é o fruto prove- os mogangos em quadrados pequenos, de leite.
niente de diversas variedades de macieira colocam-se numa panela, cobrem-se de
Malus Domestica Bokh, tradicionalmente açúcar e deixam-se a repousar. No dia se-
cultivadas entre as Serras da Gardunha, guinte, coze-se este preparado com canela
Estrela e Malcata, na zona designada por e, por fim, mistura-se-lhe miolo de nozes.
Cova da Beira. Esta maçã é proveniente Este doce é muitas vezes consumido jun-
de diversas variedades de macieira, sendo tamente com Requeijão Serra da Estrela

155

Sabia que...
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
A cherovia – também conhecida
como cherivia, cherívia,
cheruvia, pastinaca ou pastinaga
– foi identificada em 1837.
Em contacto com o ar, e para
não “secar”, lança novas raízes,
para se reproduzir. Pode ser
cozinhada e servida de várias
maneiras, em entrada, sopa,
sobremesa e servida com o prato
principal. É igual à cenoura, tem
a cor do nabo e sabe a anis.
entradas
Pastel de Molho da Covilhã

INGREDIENTES Estende-se, e enrola-se a massa mais 2 ve-


zes sem gordura.
Para a massa:
1 chávena de água Em seguida, com uma faca bem afiada e
2 ovos molhada em água, corta-se o rolo de mas-
500 g de farinha sa em rodelas grossas.
250 g de rilada ou de margarina para
folhados Untam-se com um pouco de azeite e
Sal espalmam-se com o rolo.

Para o recheio: Dispõe-se uma colher de recheio numa


500 g de carne de vaca das bordas da rodela e dobra-se de modo
1 cebola a cobrir o recheio.
2 colheres de sopa de azeite
Sal Levam-se a cozer em forno forte num
Pimenta tabuleiro untado, ficando a ponta dobra-
da em contacto com o tabuleiro.
Para o caldo e por pessoa:
3 dl de água Depois de frios, guardam-se em caixas
1 colher de sopa de vinagre de folha forradas com papel vegetal.
Sal
3 pés de salsa Na altura de servir os pastéis, leva-se ao
Alguns fios de açafrão lume a água com vinagre, açafrão, salsa e
sal e deixa-se ferver até estar bem amarelo.

PREPARAÇÃO Coloca-se um pastel em cada prato, e


rega-se com o caldo a ferver, depois de se
Bate-se muito bem a água com os ovos e ter retirado a salsa.
um pouco de sal.
Tapa-se um pouco com outro prato para
Em seguida, adiciona-se a farinha pou- o pastel abrir, e serve-se.
co a pouco, trabalhando a mistura.
156

Recheio:
Quando a massa se soltar da tigela, ti-

ra-se para a pedra da mesa e trabalha-se Coze-se a carne e passa-se pela máquina.
muito bem.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Pica-se uma cebola muito finamente e


Amassa-se à mão a gordura e divide-se aloura-se no azeite.
em 3 partes.
Junta-se a carne picada, deixa-se refo-
Depois de estendida a massa com o rolo gar um pouco e tempera-se com sal e pi-
e a ajuda de farinha, espalha-se por cima menta.
1/3 da gordura.

Enrola-se. Estende-se com o rolo de mas-


sa e cobre-se de novo com 1/3 da gordura.

Volta-se enrolar a massa, a esten-


Glossário
der e a espalhar-se a gordura que resta. Rilada – gordura animal.
carne carne
Cabrito Ensopado
Assado na de Cabra do
Brasa fundão

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 cabrito Carne de cabra


Sal q.b. Sal
Pimenta q.b. Azeite
Alho q.b. Colorau
Banha Louro
Colorau Salsa
Pimenta Alho
Alhos Vinho tinto
Batatas

PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO

Tempera-se o cabrito com o sal e deixa- Utiliza-se carne de cabra que se corta
-se assim para o dia seguinte. aos pedaços para um alguidar de barro vi-
drado.
Assam-se os bocados de cabrito em bra-
sas de lenha de carvalho. Junta-se o sal, azeite, colorau, louro,
alho e salsa. Mexe-se tudo muito bem e
Durante a assadura, vai-se besuntando deixa-se temperar durante 24 horas.
os pedaços de cabrito com um preparado
feito com banha, pimenta, alho e colorau. Coloca-se em caçoilos de barro e tapa-se
com folhas de couve, indo depois para o
Serve-se com batatas assadas a murro. forno.

157

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

A criação de cabras e ovelhas é uma tradição


muito antiga, devido à existência de ricos pastos,
sendo estes animais largamente consumidos em
datas festivas, sobretudo em casamentos.”
carne
Panela do forno

INGREDIENTES PREPARAÇÃO passam-se pelo passador as águas de cozer


a dobrada e as carnes.
1,5 kg de dobrada Coze-se a dobrada em sal. À parte, co-
1 pé de porco zem-se a orelheira, o pé de porco, o touci- Toma-se desta água o dobro do volume
500 g de orelheira de porco nho e o presunto. do arroz e deita-se sobre as carnes. Dei-
250 g de toucinho entremeado xa-se levantar fervura e junta-se o arroz.
125 g de presunto Faz-se um refogado com a cebola pica-
1 cebola da, o azeite e meio chouriço às rodelas. Mexe-se e assim que ferver novamente,
1 colher de sopa de azeite tapa-se hermeticamente e leva-se ao forno
3 chouriços de carne Cortam-se as carnes e juntam-se ao re- a cozer. Entretanto, cozem-se os chouri-
2 farinheiras fogado. Tempera-se com sal, pimenta e ços e as farinheiras.
1 kg de arroz cravinhos.
2 cravinhos Serve-se o arroz, que deve ficar húmi-
Sal Deixa-se ferver um pouco sobre lume do, enfeitado com os chouriços e as fari-
Pimenta brando. Mede-se o arroz. Misturam-se e nheiras cortados às rodelas.
158

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces doces
Papas Bolacha
de Carolo de Cerveja

INGREDIENTES INGREDIENTES Cortam-se em retângulos grandes.

Para 6-8 pessoas: 1 cerveja preta 33 cl No fim de cortadas, as bolachinhas pol-


150 g de carolo de milho 250 g de manteiga vilham-se com açúcar.
1 l de água Farinha
Casca de 1 limão Açúcar q.b. Vão a cozer em tabuleiro que não preci-
750 ml de leite sa ser untado.
150-200 g de açúcar
1 pitada de Sal PREPARAÇÃO Cozem muito rápido, é só esperar que
Canela comecem a ganhar uma corzinha doura-
Deita-se a cerveja numa taça grande e da, para ficarem mais estaladiças
junta-se a manteiga derretida.
PREPARAÇÃO
Em seguida, vai-se juntando farinha e
Leva-se ao lume a água com o carolo e mexe-se com uma colher de pau até se co-
a pitada de sal. meçar a descolar da taça.

Logo que ferver, reduz-se o lume para Depois, tem que se meter mão á obra, e
o mínimo e deixa-se cozinhar por cerca amassar. A quantidade da farinha é a sufi-
de 40 minutos, mexendo amiúde para não ciente para se conseguir estender a massa Sabia que...
deixar pegar, até que o carolo fique espes- muito fininha. As Bolachas de Cerveja talvez
so e as bolhas rebentem, pesadamente, à se possam considerar típicas da
superfície. Depois vão-se esticando porções de Covilhã, porque nunca se viram
massa com o rolo, o mais fino que se con- noutras localidades e sempre se
Junta-se então o leite e a casca de limão. seguir. venderam nas pastelarias como
bolo regional.
Baixa-se o lume assim que retomar fer-
vura e deixa-se cozer cerca de 20 minutos,
mexendo muitas vezes para não pegar ao
fundo, ao fim dos quais as papas estarão
de novo espessas e o carolo cozido.

159
Retira-se a casca de limão e junta-se o
açúcar.


Leva-se de novo ao lume, agora por bre-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
ves minutos, e vaza-se para a travessa de
servir.

Depois de frio, ou pelo menos morno,


decora-se com canela em pó.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 160
e Vale do Tejo
Região Lisboa
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 161
território
RIBATEJO NORTE
WWW.ADIRN.PT

Caracterização Património Torres Novas e em Tomar, no âmbito da


histórica E Gastronómico Feira de Santa Iria ou das Passas.
O solo calcário e o clima mediterrâ-
Geográfica nico deste território tornam-no também
O clima e o solo do Parque Natural das bastante propício ao cultivo da oliveira.
O território de intervenção do GAL Serras de Aire e Candeeiros são propícios Os Azeites do Ribatejo – DOP são obti-
ADIRN – Associação para o Desenvol- ao aparecimento de flora única, de reco- dos do fruto Olea Europaea L., gorduras
vimento Integrado do Ribatejo Norte in- nhecido interesse aromático e condimen- líquidas extraídas, por processos mecâni-
tegra os concelhos de Alcanena, Ferreira tar, que serve igualmente para a alimenta- cos, de azeitonas de olivais localizados no
do Zêzere, Tomar, Torres Novas, Ourém e ção dos caprinos da raça Serrana (ecotipo Ribatejo. Os azeites que integram a DOP
162

Vila Nova da Barquinha. ribatejano) desta região. É a partir da Azeites do Ribatejo apresentam excelentes
Enquadrado pelos rios Zêzere e Tejo e carne destes animais que é confecionado características, sendo de baixa e muito bai-

a Serra de Aire e Candeeiros, beneficia de o Cabrito de Torres Novas, uma especia- xa acidez, ligeiramente espessos, frutados,
um importante conjunto de valores am- lidade deste concelho. com cor amarela ouro, por vezes ligeira-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

bientais e patrimoniais. Outro dos produtos de referência mente esverdeada.


Além da Albufeira de Castelo de Bode obrigatória é o Figo de Torres Novas ou Em Alcanena destacam-se as Migas de
destacam-se: o Parque Natural da Serra Fruto dos Amores. São frutos pretos ou Bacalhau de Alcanena. Um prato outrora
de Aire e Candeeiros, a Reserva Natural brancos, designam-se por lampos (maio e consumido pelos mais pobres, sobretudo
do Paul do Boquilobo – zona húmida junho) e vindimos (julho e setembro). por agricultores, que as confecionavam
situada entre o Almonda e o Tejo, reco- O figo é consumido a qualquer hora com ingredientes oriundos da agricultura
nhecida pela importância ornitológica – do dia, por vezes acompanhado de pão. – batatas, azeite, alho, louro, coentros – e
classificada pela UNESCO como Reserva Também é utilizado como sobremesa ou bacalhau que, em tempos mais recuados
da Biosfera; e o Agroal, espaço natural como entrada, acompanhado por pre- era mais barato e mais acessível na região
integrado na Rede Natura 2000, guardião sunto. É essencial para a preparação de do que a maioria dos peixes. Por volta das
de espécies raras e ameaçadas. Aguardente de Figo. cinco da manhã as mulheres preparavam
Todos os anos, em outubro, realiza-se este prato e embrulhavam-no posterior-
a Feira dos Frutos Secos e Passados em mente em serapilheira, sendo degustado
Sabia que...
O Vinho Medieval de Ourém
tem a sua origem na fundação
de Portugal, quando D. Afonso
Henriques celebrou com os
Monges de Cister, também
conhecidos por monges
depois ao meio-dia pelas pessoas que tra- agricultores, vários acordos,
balhavam na apanha da azeitona. cedendo-lhes terras para que
Nos tempos mais antigos, para a con- fossem cultivadas. Pela sua
feção deste prato eram utilizadas panelas influência em toda a região,
de ferro. Atualmente, a cozedura das ba- estes monges terão transmitido
tatas e do bacalhau é feita numa panela de aos Oureenses o seu método de
alumínio, abafando-se posteriormente to- produção de vinho. Este é um
dos os ingredientes num tacho de barro. vinho palhete, “vinho branco
O património gastronómico de Vila pintado com uvas tintas”
Nova da Barquinha é caracterizado pela
sua diversidade de pratos. A história do
concelho está intimamente ligada à ativi-
dade piscatória, tendo no peixe do rio a
principal fonte de sabores da sua gastro-
nomia típica.
A fama dos vinhos do Ribatejo é ante- Sabia que...
rior à fundação da nacionalidade. Devido A produção de figo é uma ativi-
à importância da vinha na economia ru- dade bem enraizada e vital em
ral, bem como a diversidade das caracte- toda a região de Torres Novas.
rísticas organolépticas dos seus vinhos e Data do princípio do século
a qualidade que a terra e o homem lhes XIX a implantação dos vastos
confere, a designação Ribatejo foi oficial- figueirais de Torres Novas,
mente reconhecida como DOC. como alternativa à vinha,
A produção de vinhos na região do Ri- muito dizimada pela filoxera.
batejo Norte tem especial incidência em Face à boa adaptação ao meio,
Tomar, Ourém e Torres Novas. foi crescendo a importância
Refira-se ainda o Mel do Ribatejo socioeconómica desta cultura,
Norte – DOP, que apresenta os seguin- originando costumes e tradições
tes subtipos: Serra d’ Aire, Albufeira do que ainda hoje têm boa expres-
Castelo do Bode, Alto do Nabão. São méis são. Gradualmente o figo fresco
com intenso aroma e sabor floral, com alcançou projeção na diversifi-
características organolépticas típicas da cação de mercados, sendo hoje
composição florística da vegetação das um fruto de eleição.

163
quatro regiões, bem como combinações
muito enriquecidas em espécies caracte- consumida como sobremesa, bolo doce de


rísticas da flora mediterrânica. boas-vindas ou lanche.
A doçaria desta região é rica e variada. Como forma de preservação e valori-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Tomar tem uma longa tradição de doçaria zação desta iguaria realiza-se anualmente,
de inspiração conventual, realizando-se no início de fevereiro, no centro da vila, a
mesmo um evento designado “De Tomar Mostra da Tigelada, inserida na Feira Tra-
e dos Conventos – Doçaria Tomarense”. dicional de S. Brás, organizada pela Junta
Os doces mais conhecidos baseiam-se nos de Freguesia de Ferreira do Zêzere.
fios de ovos e nos doces de ovos e alguns Em Torres Novas, para além dos seus
têm nomes curiosos como Beija-me De- famosos figos, destaca-se o Bolo de Cabeça,
pressa e Doces de Cama, para além das de formato específico e curioso.
Fatias de Tomar, um ex libris do conce-
lho, e dos mais famosos doces no país.
A Tigelada é um dos doces característi-
cos de Ferreira do Zêzere, podendo ser
sopas sopas
Sopa Verde Sopa de Peixe do Rio Tejo

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Para 8 pessoas: Para 20 pessoas: Amanham-se todos os peixes, colo-


1 kg de fressura 2 kg de fataça cam-se a cozer com o ramo de cheiros e
3 dentes de alho 1 kg de barbo sal.
3 folhas de louro 500 g de enguia
2 dl de vinho branco 1 kg carpa Desfiam-se os peixes.
1 cebola 2 kg tomate
2 ou 3 tomates 5 kg cebolas Coloca-se a parte a cebola, tomate, azei-
Azeite Alho te a refogar. Junta-se-lhe o fumé de peixes
Sal Louro e passa-se no passe-vite. Junta-se o peixe
Pimenta Água devidamente desfiado.
Salsa Pão torrado
Colorau Coentros Retifica-se a textura por forma a ficar
Vinho branco Sal ligeiramente empapada. Retificam-se os
Pão alvo Azeite temperos.
Hortelã
Serve-se com coentros picados e pão
torrado
PREPARAÇÃO

Corta-se a fressura em pedaços e tempe- SUGESTÃO


ra-se com sal, pimenta, colorau, alho es-
magado, salsa picada, louro, vinho bran- Não sendo servida toda a sopa no mo-
co e azeite, deixando de seguida repousar mento em que foi confeccionada, abate-se
durante 2 horas. a temperatura e conserva-se no frio por
um período máximo de 2 dias.
Faz-se um refogado com a cebola e os to-
mates cortados aos cubos e, depois de apu- Receita cedida pelo Restaurante O Almourol.
rado, junta-se o preparado anterior dei-
xando que refogue com a panela tapada.
Rega-se com um pouco de vinho branco.
164

Quando tudo estiver cozido, junta-se


água q.b.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Corta-se então o pão em fatias peque-


nas e coloca-se numa terrina com bastan- Sabia que...
te hortelã. Esta sopa era feita pelos
pescadores, junto ao rio, daí
Por fim, despeja-se o preparado bem os poucos ingredientes que a
quente na terrina e está pronto a servir. compõem; os produtos da base
da sopa são produtos que têm
Receita cedida pela C. M. Ourém. a facilidade de ser colhidos
rapidamente, sem demoras, sem
viagens – “ está ali tudo à mão…
do pescador…”.
peixe carne
Migas de Cabrito de Torres Novas
Bacalhau

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Para 4 pessoas: Para 9 pessoas: Trincha-se o cabrito e amassam-se os


500 g de bacalhau 1 cabrito com cerca de 5 kg restantes ingredientes (à exceção da salsa
200 g de batatas 1 cabeça grande de alho e do vinho branco) até formar uma pasta.
200 g de broa 3 folhas de louro
4 ovos 1 ramo de salsa De seguida, barra-se a carne com a mas-
Coentros q.b. Sal sa, salpica-se com o vinho e a salsa picada
Alhos q.b. Colorau e leva-se ao forno a assar.
Azeitonas pretas q.b. Azeite
Banha Acompanha-se com grelos cozidos e ba-
Massa “catalão” tatas assadas no forno. Estas últimas pre-
PREPARAÇÃO Piripíri param-se do seguinte modo: dispõem-se
Vinho branco as batatas num tabuleiro, em conjunto
Coze-se o bacalhau mais as com cebola picada, alhos, louro, azeite,
batatas às rodelas e os ovos. massa de pimentão, colorau, sal, água e
um pouco de vinho branco. Levam-se ao
Esfarela-se a broa, coloca-se forno até ficarem lourinhas.
numa tigela de barro juntam-se
as batatas, o bacalhau desfiado Receita cedida pela C. M. Torres Novas.
e os ovos às rodelas.

Rega-se tudo com azeite de


boa qualidade e por fim adicio-
nam-se azeitonas.

Abafa-se a tigela com um


pano, até ao momento do prato
ser servido.

Receita cedida pelo Restaurante


O Malcozinhado.
Sabia que...

165
José Saramago escreveu na
sua obra Viagem a Portugal:


“O viajante pode aqui declarar
que em Torres Novas conheceu,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
e disso se aproveitou, o mais
maravilhoso cabrito assado de
toda a sua vida. Como se chega
a tal obra-prima de culinária não
sabe o viajante, que nisso não é
entendido. Porém, confia no seu
paladar, que tem discernimentos
de sábio infalível, se os há” (cit.
por CMTN, 2010).
doces
Fatias de Tomar

INGREDIENTES Em seguida deita-se água a ferver na pa- Num tacho põe-se o açúcar e junta-se a
nela onde a forma irá a cozer. água e a baunilha e leva-se ao lume a fer-
16 gemas ver muito lentamente durante 5 minutos.
2 ovos inteiros Unta-se abundantemente o interior da
Manteiga q.b. forma com manteiga e deita-se dentro o Retira-se a vagem.
batido, colocando-a imediatamente den-
Para a calda: tro da panela. Colocam-se as fatias numa travessa e re-
1 kg de açúcar gam-se com a calda até que fiquem muito
1 vagem de baunilha Tapa-se e deixa-se cozer em lume mode- bem embebidas.
1 l de água rado, durante 1 hora e 30 minutos, tempo
durante o qual convém não mexer. Receita cedida pela C. M. Tomar.

PREPARAÇÃO Depois verifica-se se está cozida espe-


tando um palito. Depois de cozida, reti-
Para a execução desta receita é necessá- ra-se, deixa-se arrefecer um pouco e cor-
rio uma panela e forma especial. ta-se em fatias com a espessura de 2 mm.

Numa taça com a batedeira, batem-se as Enquanto a massa arrefece e antes de


gemas e os ovos inteiros durante 15 mi- ser cortada, prepara-se a calda.
nutos.

Sabia que...
As Fatias de Tomar, segundo
uma lenda, eram os doces
preferidos dos clérigos do
Convento de Cristo. Sendo
feitas apenas com ovos e
açúcar, como era frequente na
166

doçaria conventual, o processo


de confeção torna-as distintas,

únicas no sabor, na textura


e na forma. Para a cozedura,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

utiliza-se obrigatoriamente
uma panela de folha de
formato ovalado, utensílio de
características peculiares que,
dita a tradição, era produzido
somente pelos latoeiros
tomarenses, e que permite
efetuar uma cozedura em
banho-maria a temperatura
constante.
doces
Tigeladas
A Tigelada é um dos
doces característicos
de Ferreira do Zêzere,
podendo ser consumida
INGREDIENTES Deita-se tudo numas tigelinhas de bar- como sobremesa, bolo
ro (não vidrado), previamente aquecidas doce de boas-vindas ou
Para 12 tigeladas: e bem quentes. lanche.
500 g de açúcar
200 g de farinha de trigo Vai ao forno a cozer. Como forma de
12 de ovos
preservação e
1 l de leite Retiram-se estando loirinhas.
Raspa da casca de limão – opcional valorização desta
iguaria realiza-se
SUGESTÃO
PREPARAÇÃO anualmente, no início
Como gosto especial pode adicionar-se de fevereiro, no centro
Mistura-se o açúcar e a farinha. canela ou limão. da vila, a Mostra da
Juntam-se os ovos e bate-se tudo muito Receita cedida pela J. F. Ferreira do Zêzere. Tigelada, inserida na
bem batido num pote ou vasilha. Feira Tradicional de S.
Antes de ir ao forno, junta-se o leite. Brás.”

167

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
PENÍNSULA DE SETÚBAL

Riscadinha de Palmela – DOP, o mel, as


ostras de Setúbal e o peixe-espada preto
de Sesimbra.
Da forte herança cultural relaciona-
da com as atividades agrícolas e piscató-
rias, destacam-se eventos como as feiras
equestres e tauromáquicas dos concelhos
de Alcochete, Moita e Montijo, a festa das
Vindimas de Palmela, os Círios da Nossa
Senhora da Atalaia e os Círios Marítimos
de Setúbal e Sesimbra, que reforçam a
atratividade do território.
A par do património arquitetónico –
castelos de Palmela e Sesimbra, a Fortale-
za de São Filipe em Setúbal, o Convento
WWW.ADREPES.PT

da Arrábida, o Santuário do Cabo Espi-


chel – quintas, palácios e adegas conju-
gam os encantos rurais com as artes e os exploração de ostras. Na região de Setú-
ofícios tradicionais. bal, nos anos 50 do século XX, cerca de
2000 pessoas ainda viviam da apanha de
Património ostras. Atualmente, as Crassostrea Angula-
ta, variedade de ostras do estuário do rio
Gastronómico Sado em Setúbal, recomeçam lentamente
Caracterização a regressar aos mais requintados restau-
histórica E Em 1830, o beirão Gaspar Henriques de
Paiva instalou-se em Azeitão, para se
rantes de Portugal e França, onde pos-
suem a designação de “Les Portugaises”.
Geográfica dedicar à agricultura, levando consigo A tradição piscatória da vila de Se-
ovelhas leiteiras. Durante bastante tem- simbra levou a que a Caldeirada de Se‑
A Península de Setúbal corresponde à po passou a mandar vir todos os anos simbra se tornasse uma das iguarias deste
zona de intervenção do GAL ADREPES um queijeiro para produzir um queijo concelho. Em tempos remotos cozinha-
– Associação para o Desenvolvimento semelhante ao Queijo Serra da Estrela. va-se com “o peixe que houvesse” e esta
Rural da Península de Setúbal. A técnica de confeção foi transmitida às caldeirada chegou mesmo a ser confecio-
Localiza-se na região de Lisboa e Vale pessoas da terra, que passaram a aplicá-la, nada apenas com pata-roxa e peixe-espa-
168

do Tejo e integra os concelhos de Alco- tendo-se criado assim o ex libris que é o da. Atualmente cozinha-se com amêijoas,
chete, Moita, Montijo, Palmela, Setúbal e Queijo de Azeitão – DOP, cujas particu- tamboril, safio, raia e cherne.

Sesimbra, enquadrados por diversas áreas laridades se devem às pastagens da Serra O peixe-espada preto de Sesimbra é
naturais classificadas que lhe conferem da Arrábida de que se alimentam as ove- uma das espécies com maior reconheci-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

uma enorme diversidade ecológica: Estu- lhas e à variedade de flor de cardo (Cyna- mento nacional e cuja notoriedade tem
ário do Tejo (a norte), Estuário do Sado ra Cardunculus L., espontânea no sul do crescido ao nível da gastronomia. A cap-
e Serra da Arrábida (a sul), Lagoa de país) que se utiliza para coagular o leite. tura é feita de forma artesanal e tradicio-
Albufeira (a oeste) e diversos corredores O Queijo de Azeitão, com a forma de nal, utilizando a técnica do Palangre de
ecológicos que unem Canha à Marateca, um cilindro achatado, sem bordos defi- profundidade, uma forma de pesca, alta-
estendendo-se na direção de Sesimbra. nidos, é pequeno, curado, possui crosta mente seletiva onde se utiliza uma “caça-
O território possui um enorme poten- amarelada e pesa entre 100 e 250 g. Deve da” em corda e “pita” (fio de nylon) com
cial agrícola, florestal e pesqueiro, que se servir-se à temperatura ambiente. anzóis e isco (sardinha ou cavala), sendo
reflete na existência de vários produtos As Ostras de Setúbal são outro dos a maior parte dos indivíduos capturados
emblemáticos como os vinhos DOC Pal- ex libris da região. Refira-se, a título de com idade adulta.
mela, DOC Setúbal (o famoso Moscatel curiosidade, que o poeta setubalense Ma- A Sopa de Saramagos é confeciona-
de Setúbal), e IG Península de Setúbal, nuel Maria Barbosa du Bocage foi dos da a partir das folhas e do caule do sa-
o queijo de Azeitão – DOP, a Maçã primeiros a solicitar concessões para a ramago, uma planta que nasce de forma
Sabia que...
Quando se fala na origem das
Tortas de Azeitão tem de se
referir obrigatoriamente Manuel
Rodrigues, O Cego, que exercia
as atividades de hospedeiro e
aguadeiro ao domicílio na região
de Azeitão. Graças às preciosas
espontânea e pertence à família das crucí- um pé, um coração, um animal ou um mãos de sua esposa D. Maria
feras, cujas flores têm corola em forma de cacho de uvas. O produto da venda das Albina, e de sua filha, tornou-se
cruz, como o agrião. É conhecido noutras fogaças revertia para o culto de Santo um fabricante reputado de
regiões do país também como rábano-sil- Amaro. deliciosos bolos – os Esses,
vestre, rábano-bastardo ou cabresto. Importa ainda destacar a Maçã Ris‑ as Roscas e os Amores e as
A produção, abate e transformação de cadinha de Palmela que só cresce em Tortas de Azeitão – que desde o
suínos tem sido, ao longo dos anos, uma pomares na região envolvente a Palmela. princípio do século se tornaram
importante atividade económica no con- É achatada e apresenta manchas caracte- conhecidos e passaram a ser
celho do Montijo. A ligação ao rio Tejo rísticas na pele avermelhada, distinguin- mais um polo de atração da
levou à criação de várias receitas que con- do-se pelo seu intenso aroma e paladar região.
jugam a Carne de Porco com Enguias. doce, sendo muito sumarenta e de textura
A criação doméstica de pombos (bor- macia. As características singulares deste
rachos) era habitual no concelho de Pal- fruto conferem atualmente o reconheci-
mela, tendo dado origem à receita de mento da sua Denominação de Origem.
Pombo Estufado, que era consumido so- A abundância de plantas aromáticas
bretudo em dias de festa. Atualmente há (alecrim, murta, esteva, rosmaninho, to-
quem utilize pombo bravo para confecio- milho e tojo, entre outras), aliada ao ca-
nar este prato. ráter temperado dos invernos, oferece
Na doçaria merecem destaque as Tor- boas condições para a apicultura. O mel
tas de Azeitão, os Barquinhos de laranja da Arrábida tem um sabor aveludado e
de Setúbal, os Esses de Azeitão, as Foga- muito característico, com propriedades

169
ças de Palmela e Alcochete e a Farinha terapêuticas, sendo um produto muito
Torrada de Sesimbra. procurado.


A Fogaça de Palmela é o bolo tradi- Desde as grandes explorações domi-
cional da vila de Palmela. Era costume nadas pela casta Castelão até ao Moscatel,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
realizarem-se romarias para obtenção de um dos vinhos generosos nacionais, esta
fundos para a realização da festa princi- região sempre teve um lugar cimeiro na
pal nas quais, eram arrematados animais, história dos vinhos portugueses. A Re-
produtos agrícolas e uns bolos designados gião da Península de Setúbal desdobra-se
por Fogaças, que eram cozidas em cima em três denominações distintas: DO Pal-
do borralho da lareira ou do forno. mela (Denominação de Origem Palmela),
Desde então, festeja-se a 15 janeiro, DO Setúbal (Denominação de Origem
na Igreja Paroquial de Palmela, o dia de Setúbal) e Península de Setúbal (IG). A
Santo Amaro, cerimónia religiosa em qualidade destes vinhos é comprovada
que são benzidas as Fogaças. Estas cor- através dos prémios obtidos em concur-
respondiam a promessas formuladas ao sos nacionais e internacionais.
Santo variando a configuração do bolo em
função da promessa, assim aparecendo
sopas peixe
Sopa de Caldeirada de Sesimbra
Saramagos

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

1 molho de saramagos 1,2 a 1,5 kg de peixe (tamboril, safio, Colocam-se as amêijoas no fundo do ta-
200 g feijão branco raia e cherne) cho e vão-se pondo, às camadas, rodelas
0,5 dl azeite Amêijoas de cebola, de batata, de tomate, pimento
Sal 2 cebolas às tiras e os peixes aos bocados depois de
2 dentes de alho terem sido previamente amanhados, lava-
2 tomates maduros de bom tamanho dos e salgados.
PREPARAÇÃO 1 pimento
1,5 dl de azeite Deita-se o azeite e o vinho branco e dei-
Escaldam-se os saramagos previamente 3 dl vinho branco xa-se cozer em lume brando, rodando o
para lhes tirar o acre. 1 kg batatas tacho, em vez de mexer, para não desman-
1 ramo salsa char o peixe.
Coze-se o feijão branco, juntam-se os Louro
saramagos, o azeite e sal antes do feijão Quase no fim da cozedura junta-se o
estar cozido para permitir que os sarama- ramo de salsa.
gos cozam.
No caldo, depois de passado pelo passa-
dor e acrescentando água, coze-se a mas-
sinha.
170

Sabia que...
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Os saramagos eram utilizados


noutros tempos, para fazer
face à carestia de alimentos,
tendo vindo a cair em desuso.
Atualmente, contudo, assiste-se
a uma revalorização dos sa-
ramagos, bem como de outras
ervas espontâneas.
Nesta região, em particular no
concelho da Moita, é utilizado
em sopas, mas também na con-
feção de esparregado.
carne
Carne de Porco com Enguias

INGREDIENTES

500 g carne de porco


500 g enguias
1 limão
Farinha
Banha
Alhos
Vinho Branco
Pimenta
Colorau
Sal

Para o molho:
Margarina
Ketchup
Natas
Mostarda
Vinho do Porto

PREPARAÇÃO

Cortam-se as enguias, tem-


peram-se com sal, pimenta e
sumo de limão.

Passam-se por farinha e fri-


tam-se.

Corta-se a carne de porco,


tempera-se com sal, pimenta,

171
colorau, alhos esmagados e vi-
nho branco.


Frita-se em banha.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Em margarina alourada dei-
ta-se ketchup, natas, vinho do
Porto e mostarda.

Deixa-se apurar, misturan-


do-se depois as enguias e a car-
ne de porco.

Serve-se com arroz branco.


Marisco
Ostras de Setúbal

Sabia que...
“Ostras Vivas, ao Natural
É a melhor maneira de as comer,
INGREDIENTES por conservar inalteradas as sua
vitaminas e o seu delicado gosto
Ostras a marisco. Um pouco de sumo
Limão de limão, uma pitada de pimen-
ta, um pouco de manteiga para
quem apreciar, e teremos pre-
PREPARAÇÃO parado um prato delicioso que
acompanhado de um bom vinho
Modo de abrir as ostras: branco, seco e fresco, constitui
petisco capaz de satisfazer o
Para evitar magoar-se, convém agarrar paladar mais requintado.”
a ostra com um pano espesso. “As ostras na cozinha e na
saúde” – Compilação de José de
Para se abrirem podem seguir-se 2 pro- Brito, Lisboa 1957
cessos: por meio do calor – a seco, sobre
brasas ou no forno, ou em agua fervente;
a frio, por meio de canivete ou faca.

Para se abrirem a canivete, basta intro-


duzir a lâmina entre as 2 valvas e cortar
o músculo adutor, separando-se as valvas
imediatamente.

Para separar as ostras do corpo infe-


rior, desliza-se a ponta da navalha entre
as 2 superfícies de forma a separá-las, mas
permanecendo a ostra na concha com o
molho que a envolve a que se adiciona o
molho que eventualmente tenha caído.

Para servir as ostras:


172

Pica-se ou moi-se o gelo numa picadora,


ou introduz-se os cubos de gelo dentro de

um saco de plástico grosso e bate-se-lhes


com um rolo ou maço, até obter o gelo
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

mais ou menos picado, conforme o gosto,


que se coloca no fundo de uma travessa.

As ostras, bem lavadas e abertas, são


cuidadosamente colocadas sobre o gelo
para não perderem o líquido natural.

Deita-se em cada ostra 2 a 3 gotas de


sumo do limão e serve-se logo.
caça doces
Pombo Estufado Fogaças de
Alcochete

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 pombo 1 kg farinha
1 dl de azeite 700 g açúcar amarelo
1 cebola média 200 g raspa de limão
2 dentes de alho 25 g canela em pó
1 folha de louro A criação doméstica 250 g manteiga derretida
Pão de mistura 2 dl água
de pombos
(borrachos) era
PREPARAÇÃO habitual no concelho PREPARAÇÃO

Faz-se um estufado com o de Palmela. Num alguidar deita-se a farinha, o açú-


pombo, cebola cortada às ro- Atualmente, há quem car, a raspa dos limões e a canela em pó.
delas, alho cortado, louro e utilize pombo bravo
azeite. Amassa-se com a manteiga derretida e a
para confecionar o água, como se amassa o pão.
Seguidamente, abre-se um Pombo Estufado.”
pão de mistura ao meio, fican- Fazem-se bolas achatadas e barram-se
do um dos lados fechados, e com gema de ovo, dando-lhes pequenos
coloca-se o pombo dentro do golpes para enfeitar.
pão juntamente com os miú-
dos igualmente estufados. Vão ao forno a cozer.

Ata-se o pão para não abrir e


leva-se ao forno.

173

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
RIBATEJO

regadio, a estrutura fundiária favorável e feijão demolhado, repolho cortado e azei-


a grande acessibilidade e proximidade ao te, deixando cozer e apurar. No dia seguin-
maior mercado do país. te deita-se na sopa a farinha de milho sem
O olival e a vinha são culturas muito parar de mexer.
importantes na região, onde os inúmeros A carne de porco, galinha ou coelho,
vinhos com DOC, e os azeites de excelen- eram manjares que só entravam na dieta
te qualidade, inseridos na área geográfica do povo aos domingos ou em dias de festa.
definida para a produção dos Azeites do A Sopa de Peixe do Rio tem origem
Ribatejo – DOP, completam e aprimo- na cozinha tradicional das populações
ram a sua ementa gastronómica. avieiras (oriundas da Praia da Vieira de
A paisagem e a área vitivinícola, fa- Leiria) fixadas nas zonas ribeirinhas do
vorecidas pelo clima e pela riqueza dos rio Tejo, a partir de Santarém, numa época
solos, compreendem duas zonas com ca- em que o rio constituía a principal fonte
racterísticas distintas: o Campo, zona de de recursos.
WWW.APRODER.PT

castas predominantemente brancas, e o Esta sopa pode ser confecionada com


Bairro, onde predominam as castas tintas. uma ou várias espécies pescadas no rio:
No domínio do património cultural, carpa, sável, saboga, fataça ou barbo. Po-
Santarém é considerada a “capital do Gó- de-se acrescentar pão duro, simples ou
tico”, merecendo também destaque a ri- torrado.
queza da arquitetura popular e religiosa Originária de meios pobres, esta sopa
da região, para além do elemento patri- constitui hoje um ex libris que fica bem em
monial ímpar que são as Marinhas do Sal, qualquer “mesa rica”.
de Rio Maior, classificadas como Imóvel A Fataça na Telha também teve ori-
Caracterização de Interesse Público. gem nas populações da zona ribeirinha do
histórica E A forte tradição do território ligada ao
toiro, ao cavalo, ao campino e à Lezíria,
Tejo, concretamente na Aldeia das Canei-
ras, freguesia de São Nicolau, Santarém.
Geográfica é um elemento identitário que constitui A base deste prato é a fataça pescada no
um foco de grande atratividade turística. Tejo, assada no forno entre duas telhas de
É no Ribatejo que se insere o território canudo, de barro vermelho, com os topos
de intervenção do GAL APRODER – As- Património barrados com massa crua de pão (para im-
sociação para a Promoção do Desenvolvi- pedir a saída do molho).
mento Rural do Ribatejo, mais concreta- Gastronómico A Tiborna de Bacalhau faz parte da
mente na Lezíria Ribatejana, abrangendo cozinha tradicional das zonas rurais do
174

os concelhos de Azambuja, Cartaxo, Rio A gastronomia deste território tem uma Ribatejo e é frequentemente confecionada
Maior e Santarém (exceto o núcleo urba- forte ligação com a terra e com o rio Tejo. tanto na Lezíria como no Bairro. Trata-se

no). O pão, o azeite e o alho são ingredientes essencialmente de bacalhau assado acom-
Atravessado pelo rio Tejo e localiza- indispensáveis no receituário local, ao que panhado com broa de milho e grelos cozi-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

do entre Lisboa e Porto, este território se adicionam os produtos da horta. Da sua dos, regando-se tudo com azeite.
goza de uma grande centralidade geográ- ligação ao rio Tejo temos os peixes do rio Este prato era geralmente consumido
fica. De relevo pouco acentuado ou qua- como a fataça, a enguia, a lampreia, o sá- no outono e no inverno. Os trabalhadores
se nulo, é abrigado a Oeste pelo sistema vel, a saboga. rurais preparavam-no e consumiam-no
montanhoso Sintra-Montejunto-Aire e O pão de trigo ou de milho, quando em apenas uma hora, tempo que durava a
Candeeiros-Estrela. endurecia, era usado na confeção de va- pausa para o almoço.
O seu património natural e a sua pai- riados pratos – a manja, o torricado, com O Cabrito Assado no Forno, cria-
sagem são de grande riqueza e diversida- ou sem bacalhau, as migas, o requentado do nas Serras de Aire e Candeeiros di-
de. ou magusto, entre muitos outros. Com o ferencia-se dos restantes por pertencer
De profunda matriz rural, o Ribate- grão ou feijão preparam-se sopas a que se ao ecótipo “Serrano” e pelo sabor da sua
jo apresenta excelentes condições para acrescentam castanhas ou abóbora, touci- carne, que resulta em grande parte das
a agricultura, dada a riqueza dos so- nho e chouriços, as chamadas misturadas características únicas da flora, clima e
los, a existência de boas condições para de Valado dos Frades que se fazem com o solo do Parque Natural da Serra de Aire e
Sabia que...
Muitos são os pratos que neste
território se preparam com
os peixes que o Tejo oferece:
o ensopado de enguias, as
enguias fritas, a açorda de
sável, o arroz de lampreia e
Candeeiros. O Cabrito Assado no Forno é a caldeirada à ribatejana, que
tradicionalmente confecionado em forno o gastrónomo José Quitério
de lenha e temperado com ervas aromáti- considera como o “grande
cas da região. manjar da borda d’água”, em
Preciosidade gastronómica são tam- cujas matérias-primas são
bém os afamados queijos de cabra da Ma- indispensáveis fataças, enguias
çussa e outros pratos tradicionais que têm e muge de que se aproveitam
por base plantas silvestres da região, como os fígados e ovas, sendo depois
a Sopa de Cardos com Feijão Branco, a servida sobre fatias de pão.
Sopa de Pampostos com Feijão Seco e Ar-
roz e a Salada de Rabaças.
Os Celestes de Santa Clara são peque-
nos bolos de origem conventual. Foram as
monjas do Convento de Santa Clara de
Santarém que os inventaram e começaram
a fabricar, mantendo a receita em segredo
durante muitos anos.
São confecionados à base de miolo de
amêndoa, ovos e açúcar pilé com uma pro-
teção de folha de obreia (massa utilizada
no convento para fabrico das hóstias).
Há cerca de um século uma mercea-
ria de especialidades (hoje equivalente a
“mercearia gourmet”) de Santarém, de-
nominada Ajax Rato conseguiu adquirir
a receita, tendo iniciado a divulgação e a
comercialização desta especialidade con-
ventual. Atualmente, os Celestes de Santa
Clara são confecionados e vendidos em
vários estabelecimentos de Santarém, fa-
zendo as delícias dos escalabitanos e dos
visitantes.
O Pão de Ló de Rio Maior é a primei-

175
ra grande especialidade gastronómica do
concelho. A sua origem remonta aos anos


1960 e a sua confeção foi artesanal duran-
te mais de 40 anos. Contudo, o aumento
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
da fama e o aumento da procura fez com
que passasse a ser confecionado indus-
trialmente, utilizando as técnicas que lhe
conferem as características de origem.
Há ainda a referir os Arrepiados de
Santarém (bolinhos de amêndoa de ori-
gem conventual), ou as Queijadinhas de
Azambuja (com capa de massa estaladiça
e meia folhada e um recheio alimonado,
fresco e cremoso, enriquecido com peda-
ços de amêndoa crocantes), entre outras.
sopas peixe
Sopa de Peixe do Rio Tiborna de
Bacalhau

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

1 kg de peixe do rio (carpa, fataça, Amanha-se o peixe e tempera-se com 800 g de broa de milho
barbo) sal. 1 kg de bacalhau demolhado
1 kg de batatas 50 g de alho
1 l de água Cortam-se as batatas às rodelas. 1 kg de grelos
1 dl de azeite 1,5 dl de azeite
1 cebola grande Num tacho junta-se o azeite, a cebola, 1 dl de água-pé
1 pimento os alhos, o tomate limpo, a folha de louro, Sal q.b.
5 tomates maduros o pimento e o ramo de cheiros e leva-se
2 ovos ao lume.
1 ramo de salsa, coentros e hortelã PREPARAÇÃO
Pão torrado em fatias Quando o tomate estiver desfeito acres-
Alho centa-se a água. Com 10 g de alho, esfrega-se a broa in-
Louro teira e esfarela-se o miolo, com a mão, aos
Sal Junta-se o peixe e as batatas, volta a fer- bocados pequenos.
Piripíri q.b. ver e tempera-se com um pouco de piri-
píri a gosto. Aquece-se o forno.

De seguida escalfam-se os ovos e ser- Junta-se o restante alho picadinho e


ve-se enriquecida com fatias de pão tor- a água-pé ao miolo e leva-se ao forno a
rado. aquecer (temperatura de 150 ºC) durante
10 minutos.

Coloca-se a água com sal num tacho


ao lume e, quando a água estiver
a ferver, colocam-se os grelos,
que se deixam cozer.

Assa-se o bacalhau na
brasa e depois lasca-se
e retiram-se-lhe as
176

espinhas.

Junta-se o mio-
lo de broa de mi-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

lho, os grelos e
o bacalhau num
recipiente e re-
ga-se com azeite.

Recheia-se o
interior da broa
com a mistura ob-
tida, espalha-se o
restante miolo por
cima e leva-se ao forno
pré-aquecido cerca de 20
minutos.
peixe
Fataça na TelhA

INGREDIENTES Cortam-se as batatas aos quadrados e


temperam-se também com sal.
Sabia que... 2 fataças médias
A Fataça na Telha teve 1 cebola média À parte, numa tigela, pica-se a cebola e
origem nas populações da 2 dl de óleo juntam-se os restantes ingredientes, alho,
zona ribeirinha do Tejo, 1 colher de chá de colorau louro, colorau, azeite e malagueta (exceto
concretamente na Aldeia das 2 dentes de alho as batatas).
Caneiras, freguesia de São 1 folha de louro
Nicolau, Santarém. A Aldeia 1 dl vinagre Forra-se o fundo da telha com o peixe, e
das Caneiras surgiu em meados Colorau q.b. colocam-se os restantes ingredientes por
do século XIX, pela fixação de 1 ramo de salsa cima.
pescadores oriundos da zona 4 batatas médias
da praia da Vieira de Leiria Decora-se com as batatas cortadas em
e representa, com outras 6 cubos pequenos, com o molho e a salsa
aldeias das margens do Tejo, PREPARAÇÃO picada.
uma das últimas manifestações
de ocupação palafítica ainda Arranja-se o peixe, sem a cabeça, cor- Vai ao forno bem quente até corar.
existentes na Europa Ocidental. tando-o em quatro postas e tempera-se
com sal. Serve-se bem quente.

177

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne doces
Cabrito Assado no Forno Celestes
de Santa
Clara

INGREDIENTES Deixa-se a marinar para o dia seguinte. INGREDIENTES

Cabrito com cerca de 5 kg Numa assadeira colocam-se cebolas às 500 g de açúcar


3 cebolas grandes rodelas, por cima os bocados do cabrito e 250 g de água
3 cenouras grandes rega-se com a marinada. 450 g de miolo de amêndoa
2 kg batata 12 gemas
4 dentes de alho Leva-se ao forno a 180 ºC a assar du- Folhas de obreia
Azeite e margarina q.b. rante cerca de 2 horas e deixa-se alourar,
3,5 dl de vinho branco aumentando o calor do forno se for neces-
2 folhas de louro sário. PREPARAÇÃO
1 ramo de salsa
Piripíri Para acompanhamento, preparam-se as Põe-se o açúcar ao lume com
Massa de pimentão batatas fritas aos quadrados. a água, até estar em ponto de
Sal pérola.
1 couve lombarda grande Coze-se e salteia-se a couve com a fari-
1 farinheira regional nheira. Nessa altura deita-se a
amêndoa pelada e passada pela
Vai à mesa em travessa, onde o cabri- máquina; volta ao lume até
PREPARAÇÃO to é acompanhado pelas batatas fritas aos ferver um pouco.
quadrados e com couve salteada com fa-
Corta-se o cabrito em pedaços peque- rinheira.
nos e lava-se.

Depois de lavado e muito bem escorri-


do, tempera-se com vinho, alho, piripíri,
louro, sal e azeite.
178

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces
Pão de ló de Rio Maior

Deixa-se arrefecer e jun- Quando o pão de ló já estiver bem frio


tam-se as gemas, levemente INGREDIENTES retira-se da forma com o papel vegetal.
batidas.
4 ovos inteiros Separa-se o bolo do papel passando
Volta ao lume, mexendo 8 gemas uma espátula metálica e comprida por
sempre, até se ver o fundo ao 150 g de açúcar baixo deste.
tacho. 75 g de farinha

Depois de frio, formam-se


umas bolinhas do tamanho de PREPARAÇÃO SUGESTÃO
uma noz, que se colocam sobre
rodelas de obreia humedecida Pré-aquece-se o forno a 220-230 ºC. Deve ser comido após algumas horas já
e picotada. que, ao abater, vai formando as rugas e
Colocam-se os 4 ovos inteiros numa a espuma de ovos dá origem a uma calda
Aperta-se com os dedos, taça e batem-se energicamente durante 5 deliciosa.
para formar uma caixinha. a 10 minutos, até ficarem com uma colo-
ração esbranquiçada e bem fofos.
Levam-se a forno forte du-
rante alguns minutos, só para Acrescentam-se, pouco a pouco, as ge-
dourar. mas previamente desfeitas batendo sem-
pre durante mais uns 5 a 10 minutos.

Envolve-se a farinha que vai sendo pe-


neirada sobre a massa, polvilhando sem
bater, usando a batedeira na velocidade
mínima e apenas durante apenas alguns
segundos.

Forra-se uma forma que se possa abrir


(pois o bolo no final não se pode virar)
com papel vegetal untado de manteiga e
polvilhado de farinha.

179
Verte-se a massa para a forma e deixa-se
cozer durante 7 minutos.


Ao fim de 4 minutos, roda-se a forma
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
180 º. Não se deve deixar o bolo tempo a
mais no forno para o pão de ló não secar.

Retira-se a forma do forno e deixa-se


arrefecer.
território
CHARNECA RIBATEJANA

agroalimentares (tomate, arroz e hortíco-


las). Na floresta, destacam-se o sobreiro –
árvore nacional – e a indústria associada
da cortiça.
A região conta ainda com a Reserva
Natural do Paul do Boquilobo e a Reserva
Natural do Estuário do Tejo, integradas
num vastíssimo território florestal, em es-
pecial no sob coberto dos sobreirais com Sorraia. Nome de
touros e cavalos, e são garante de uma Rio. Se hoje a ele
grande qualidade ambiental e de preser-
vação de muitas espécies. arribassem cardumes
Na Ponte das Enguias, a 15 km de mananciosos de
Lisboa pela Ponte Vasco da Gama, e es-
sáveis de outros
WWW.CHARNECA.PT

tendendo-se numa área de mais de 3000


km2, entra-se na magia dos grandes es- tempo, logo lhes
paços – do homem, do cavalo e do touro. aproveitaríamos
A paisagem é deslumbrante de férteis e
planos campos a darem lugar, mais para as ovas opulentas
o interior, ao montado de sobro e outras que, incorporadas
florestas, na transição para os vales de
grande beleza do Sorraia e ribeiras. em açordas, iriam
rescendentes à mesa”
Caracterização Património
histórica E Gastronómico “Comeres de Coruche” – ed.
Associação para o estudo
Geográfica e defesa do património
O território da Charneca Ribatejana cor- Este território insere-se na área geográfica
responde à zona de intervenção do GAL de produção da Carne de Bravo do Riba‑ cultural e natural do
CHARNECA – Associação para a Promo- tejo – DOP cuja produção está intima- concelho de Coruche
ção Rural da Charneca Ribatejana. Inte- mente ligada e dependente do montado
gra os concelhos de Almeirim, Alpiarça, de sobro, azinho e carvalho, das pastagens
Benavente, Chamusca, Coruche, Golegã e naturais, da vegetação espontânea e das
180

Salvaterra de Magos. características xerófitas associadas a estes


O clima quente e seco e os solos áci- povoamentos arbóreos. A maciez, a con-

dos de baixa fertilidade, com exceção das sistência, a suculência e um gosto muito
baixas férteis do Tejo, Sorraia e zonas acentuado são características desta carne,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

baixas, caracterizam sete dos concelhos com a qual se preparam alguns dos pra-
do território: Almeirim, Alpiarça, Bena- tos típicos da região como o Pica‑Pau e
vente, Chamusca, Coruche e Salvaterra os Naquinhos de Vitela Brava com Car‑
de Magos, situados na margem esquerda queja e o Cozido Bravo. no rio eram os pampos, o sável, as enguias,
do Tejo. Um conjunto de rios e ribeiras consti- as lampreias, os barbos, entre outros. Para
Na margem direita, situa-se o conce- tuintes da bacia hidrográfica do Tejo co- as enguias eram também usados viveiros
lho da Golegã – capital do cavalo – com bre todo o Ribatejo e irriga cada uma das onde os pescadores promoviam a repro-
solos planos e de grande potencial agrí- suas zonas, criando oportunidades para a dução desta espécie sendo mais fácil a
cola. atividade da pesca e para a criação de mui- sua captura. Os pescadores normalmente
A agricultura tem um peso determi- tas especialidades gastronómicas locais. O coziam-no e faziam uma receita chamada
nante na região. Nas zonas mais próximas rio Sorraia, designadamente, teve ao lon- de “melhata”, confecionada com peixe
do rio, predominam as sementeiras de ar- go dos tempos um papel vital para a re- do rio, cebola e tomate. Desta herança
roz, milho, grão e tomate e as indústrias gião. As espécies de peixes predominantes podemos encontrar ainda, em diferentes
concelhos da zona, pratos como o Enso‑ Caldeirada de Feijão verde, a Sopa de Fei-
pado de Enguias, as Enguias fritas com jão-Frade do Couço, a Sopa de Feijão com
Arroz de Feijão ou de Caldeirada, a Açor- Couve, a Feijoada à Lavrador da Chamus-
da de Sável e a Sopa de Peixe.
Também aqui, como em todo o país, se
ca, o Chispe com Feijão Branco de Almei-
rim e a Sopa de Arroz com Feijoca. As Fa-
Sabia que...
utiliza o bacalhau na confeção de diversos vas com Azeite e as Papas de Abóbora são, “(…) Só raramente a vida de
pratos, acrescentando-lhe os produtos lo- também, especialidades locais. privações repleta permitia que à
cais – o Torricado com Bacalhau de Be- Famoso também é o excelente Melão cozinha viessem a mansa ovelha
navente, a Açorda de Bacalhau à moda de de Almeirim. ou o fugidio reco, engordados
Coruche, o Bacalhau Assado com Migas, a Para além da diversidade em pratos tí- sob o dossel dadivoso do
Couve a Soco com Bacalhau Assado. picos, a gastronomia da região é rica em montado e nos seus pastos
A Miga Fervida com Bacalhau Assa- excelentes vinhos com Denominação de abundantes.” – “Comeres de
do, especialidade de Alpiarça, era confe- Origem que os proprietários de quintas e Coruche” , ed. Associação para o
cionada pelos trabalhadores agrícolas, que adegas – organizados na rota da Vinha e estudo e defesa do património
misturavam couve a murro, batata, pão de do Vinho – orgulhosamente apresentam. cultural e natural do concelho de
milho, pão de trigo, alho e azeite com ba- Da doçaria regional, salientamos os Coruche.
calhau assado (ou com sardinha assada). Barretes de Salvaterra de Magos, Bolo de
Podemos também registar diversos Mel, os Bolos Brancos, o Arroz-Doce, as
pratos que resultam do ritual da matança Areias do Sorraia, as Azevias e o Nógado
do porco com os seus ritos e produtos: a de Pinhão e Mel, de Coruche, o Pão de Ló,
Sopa da Matança, as Migas com Entre- os Patudos e as Ferraduras, de Alpiarça.
costo, o Arroz de Entrecosto, as Migas de
batata com Carne de Porco, a Cachola (um
guisado com miudezas de porco – fressu-
ra, fígado, coração – e batatas).
Na gastronomia de Almeirim desta-
ca-se a famosa Sopa da Pedra.
O Carneiro Guisado à Moda de Al‑
piarça era consumido pelos convidados
dos casamentos ao pequeno-almoço. Esta
receita que, entretanto, caíra em desuso,
está novamente a ser recuperada. É cozi-
nhada em lume de lenha e pode acompa-

181
nhar com batata cozida ou, de acordo com
os costumes ancestrais, apenas com pão.


Esta é também uma zona de significa-
tiva atividade cinegética onde se destaca
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
a presença do coelho que se refugia prin-
cipalmente nas matas e matagais, saindo
ao anoitecer para se alimentar nos campos
agrícolas. Em Benavente prepara-se, tra-
dicionalmente, o Coelho Bravo Frito.
De entre os produtos hortícolas deste
território, sem esquecer o arroz, destaca-
mos o feijão que se encontra presente em
muitos dos pratos típicos da zona, como
por exemplo a Sopa de Feijão com Car-
ne, o Requentado (uma sopa com feijão
branco, broa de milho, farinha de milho,
alho, cebola e vários tipos de couve) e a
sopas peixe
Sopa da Pedra Ensopado de
Enguias

INGREDIENTES INGREDIENTES

Para 8 a 10 pessoas: Sabia que... 1,2 kg de enguias


1 l de feijão encarnado A famosa Sopa da Pedra, a 3 cebolas grandes
1 orelha de porco cuja origem se refere Teófilo 1,5 dl de azeite
1 chouriço de sangue Braga na sua recolha de contos 750 g de tomate
1 chouriço de carne populares, Contos Tradicionais 1 dente de alho
150 g de toucinho do Povo Português: um frade 1 folha de louro
entremeado mendigante bateu à porta de 1 ramo de salsa e hortelã
750 g de batatas um lavrador que lhe negou a 1 colher de sopa de colorau
2 cebolas esmola. Porque estava com Sal
2 dentes de alho muita fome, o frade resolveu Pimenta
1 folha de louro socorrer-se de imaginação 1,5 dl de vinho branco
1 molho de coentros e manha e pediu licença 2 pimentos
Sal e pimenta para fazer um “caldinho de 200 g de fatias de pão torrado
pedra” o que desde logo
causou estranheza e aguçou a
PREPARAÇÃO curiosidade da gente da casa. PREPARAÇÃO
Começando por meter uma
Se o feijão for do ano, não pedra a cozer dentro duma Amanham-se as enguias e cortam-se em
necessita de ser demolhado. panela d’água, o bom do frade bocados regulares. Temperam-se com sal.
Se for duro, põe-se de molho afirma que aquela é uma
durante algumas horas. deliciosa sopa e depois, pouco Cortam-se as cebolas em rodelas e alou-
a pouco, vai sugerindo alguns ram-se com o azeite.
Escalda-se e raspa-se a ore- ingredientes que a tornariam
lha de porco. ainda mais deliciosa: um pouco
de azeite, um pouco de feijão,
Leva-se o feijão a cozer em depois algumas couves, um naco
bastante água, juntamente de toucinho, outro de chouriço
com a orelha, os chouriços, o e de outro enchido, com um
toucinho, as cebolas, os alhos pouco de sal. Curiosos, os donos
e o louro. Tempera-se com sal da casa foram dando resposta a
182

e pimenta. Se for necessário, cada uma das sugestões. Tudo


junta-se mais água a ferver. ferveu demoradamente. O caldo

cheirava que era um regalo.


Quando a carne estiver cozi- Então, tirou do alforge um naco
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

da, retira-se e introduzem-se de pão e arranjou-se para comer


na panela as batatas cortadas com vagar. Depois de despejada
aos quadradinhos e os coen- a panela, ficou a pedra no fundo.
tros picados. Deixa-se cozer a A gente da casa, que estava com
batata. os olhos nele, perguntou-lhe:
– Ó senhor frade, então a pedra?
Assim que se retirar a pane- – A pedra... lavo-a e levo-a
la do lume, introduzem-se as comigo para outra vez.
carnes previamente cortadas
aos bocadinhos e uma pedra
bem lavada que deve ir na ter-
rina.
Marisco
Fritada de Camarão
com Açorda

Quando as cebolas estiverem bem lou- INGREDIENTES Leva-se o pão já demolhado ao lume
ras, junta-se o tomate cortado em rodelas muito brando com o molho de coentros
grossas, o dente de alho esmagado, o lou- 1 kg de camarão 40/60 cortados, sal e o alho fervido, durante cer-
ro, a salsa, o colorau, o sal e a pimenta. 4 dentes de alho ca de 40 minutos, tendo o cuidado de ir
4 colheres de sopa azeite virgem extra mexendo.
Deixa-se refogar um pouco e introdu- Coentros q.b.
zem-se as enguias, envolvendo-as bem no Fundo de camarão q.b. Quando estiver para ser servido, lami-
refogado. Sal q.b. nam-se os 4 dentes de alho que se fervem
Picante q.b. em azeite virgem extra, frita-se o cama-
Rega-se com o vinho branco e deixa-se 2 pães de mistura rão com os coentros, sal e picante a gosto,
cozer sobre lume brando; 10 minutos de- Água polvilham-se com farinha e junta-se um
pois de levantar fervura, adicionam-se os pouco do fundo do camarão.
pimentos cortados em tiras.
PREPARAÇÃO Junta-se algum molho desta fritura à
Deixa-se o ensopado apurar e serve-se açorda. Retificam-se os temperos e ser-
numa terrina sobre as fatias de pão tor- Coze-se o camarão com sal e picante. ve-se.
rado. Passa-se por água gelada.

Receita cedida Guarda-se a água da cozedura e descas- SUGESTÃO


pela C. M. Salvaterra de Magos. cam-se os camarões.
Não tenha a tentação de pôr o costumeiro
Parte-se o pão grosseiramente e deita- ovo.
-se parte da água de cozedura do camarão
para amolecer. Receita cedida pelo Restaurante
O Barrigas, Golegã.
Cortam-se os dentes de alho sem des-
cascar, levam-se a ferver nos 2 dl de azeite.

183

Glossário
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Fundo de camarão – é um
caldo que se prepara utilizando
as cascas e as cabeças dos
camarões, temperando com
alho, cebola, sal, pimenta em
grão e um ramo de cheiros
verdes. Deixa-se cozinhar por
aproximadamente 40 minutos
em fogo médio e passa-se por
uma peneira, aproveitando o
caldo daí resultante.
carne carne
Naquinhos de Vitela Pica-Pau
Brava com Carqueja

INGREDIENTES Num tacho coloca-se um pouco de azei- INGREDIENTES


te, banha e o preparado anterior e dei-
800 g rojões de vitela brava xam-se corar os rojões. Para 4 pessoas:
Sal 600 g de bife de vitela
Pimenta De seguida, adiciona-se a cebola picada, cortado em tirinhas
Colorau q.b. deixa-se corar novamente. 6 dentes de alho esmagados
8 dentes de alho picado 3 dl de cerveja branca
0,25 dl vinho branco e tinto Rega-se com a mistura dos vinhos e 50 g de margarina
(misturado) junta-se o ramo da carqueja. 3 colheres de sopa de óleo
0,4 dl azeite 2 folhas de louro partidas
Ramo de carqueja Tapa-se o tacho e deixa-se cozinhar até em pedaços
4 folhas de louro a carne ficar tenra. 4 colheres de chá de
100 g banha mostarda com grãos de
4 cebolas picadas mostarda
400 g batata roleira SUGESTÃO Azeitonas pretas q.b.
1 molho de grelos Pickles q.b.
Pode acompanhar com batata rolei- Picante q.b.
ra temperada com sal, alho picado, co- Sal q.b.
PREPARAÇÃO lorau e azeite assada no forno, e grelos
salteados.
Temperam-se os rojões com sal, alho pi- PREPARAÇÃO
cado, louro, um pouco de pimenta, e azei-
te o suficiente para ligar os ingredientes à Receita cedida Tempera-se a carne com sal
carne. Deixa-se este preparado de um dia pelo Restaurante O Farnel, Coruche. e picante a gosto. Juntam-se
para o outro. os pedaços de louro e mexe-se
bem. Acrescenta-se a cerveja e
deixa-se marinar durante 30
minutos.

Numa frigideira leva-se ao


lume o óleo, a margarina e
os alhos. Mexe-se e deixa-se
184

aquecer bem.

Junta-se aos poucos a car-


ne bem espremida. Mexe-se e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

deixa-se fritar até ganhar cor.

Adiciona-se a mostarda e
envolve-se bem.

De seguida acrescenta-se a
marinada e deixa-se ferver du-
rante 10 minutos até o molho
ficar apurado.

Por fim, apaga-se o lume e


juntam-se os pickles e as azei-
tonas.
caça doces
Coelho Patudos
Bravo
Frito

INGREDIENTES INGREDIENTES Unta-se com manteiga um tabuleiro e


deita-se o preparado.
1 coelho 500 g de açúcar
1 cebola grande 180 g de amêndoa Leva-se ao forno 50 minutos em tempe-
2 dentes de alho 60 g de doce de chila ratura média.
1 ramo de salsa 20 gemas
1,5 dl de vinho tinto 4 ovos Depois corta-se em quadradinhos e pol-
1,5 dl de azeite 1 colher de chá de pectina vilha-se com açúcar.
1 folha de louro Manteiga para untar
Sal q.b. Açúcar para polvilhar Receita cedidas pela C. M. Alpiarça.
Pimenta q.b.

PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO
Leva-se o açúcar ao lume até atingir
Corta-se o coelho em boca- ponto pérola, junta-se amêndoa, a pectina
dos. Tempera-se com sal, pi- e a chila.
menta e os dentes alhos pisa-
dos, a salsa, o louro e o vinho. Junta-se os ovos batidos com as gemas,
Fica assim temperado de um misturando bem, retira-se do lume.
dia para outro.

Leva-se ao lume o azeite e,


quando quente, frita-se o coe-
lho escorrido, até ficar bem
dourado. Vai-se tirando com
um garfo.

À gordura que ficou junta-se


a cebola cortada ás rodelas,
deixa-se alourar e mistura-se
a marinada.

185
Fervilha um pouco e dei-


ta-se sobre o coelho.

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS


Serve-se com batata frita aos
palitos.

Receita cedida
pela C. M. Benavente.
território
OESTE
O Oeste é uma das
mais importantes
regiões agrícolas do
O valioso património encontra-se em país. Vinha e pomares
harmonia com outros espaços de valor
ambiental reconhecidos tais como o Pro- de Pêra Rocha
montório da Nazaré, as Serras de Aire e destacam-se entre
Candeeiros, a Concha de S. Martinho do os diversificados
Porto, o Paúl de Tornada, a Lagoa de Óbi-
dos, a Serra de Montejunto, o Arquipéla- espaços rurais.
go das Berlengas (Reserva da Biosfera), Delimitados por
bem como toda uma extensa faixa litoral
de acessível usufruto natural. uma região litoral
Percorrer o Oeste é visitar de perto recheada de belas
vastos campos de grande riqueza agrícola, praias, baías e portos
que fazem desta região uma das mais im-
piscatórios, propiciam
WWW.LEADEROESTE.PT

portantes regiões agrícolas do país. É des-


cobrir a cada instante um motivo históri- imagens de grande
co de interesse. Igualmente relevantes são
muitos dos diversificados espaços rurais, valor paisagístico.”
tão famosos como a vinha e os pomares de
pêra rocha, delimitadas por uma região li-
toral recheada de belas praias, baías e por-
tos piscatórios, que propiciam imagens de
grande valor paisagístico.
O território é também caracterizado
Caracterização pela sua grande diversidade em recursos
histórica E naturais, com um forte caráter de rura-
lidade em que as técnicas ancestrais se
Geográfica fundem com a inovação na aplicação das
novas tecnologias, em prol de um desen-
O Oeste é um território que se estende do volvimento integrado e sustentável. A
Pinhal de Leiria, mandado plantar pelo sua elevada aptidão agrícola e as tradições
rei D. Dinis, até ao conjunto montanhoso piscatórias combinam-se com uma locali- os suculentos e fresquíssimos pargos e ro-
Montejunto, Aire e Candeeiros, região de zação estratégica que propicia o desenvol- balos de Peniche e da Nazaré (cozidos ou
intervenção do GAL LEADEROESTE vimento do turismo. assados no forno), as enguias e amêijoas
186

– Associação para o Desenvolvimento e da Lagoa de Óbidos e os mariscos dos vi-


Promoção Rural do Oeste. Integra 12 mu- Património veiros de Porto de Barcas, na Lourinhã,

nicípios: Alcobaça, Alenquer, Arruda dos onde, de entre outras iguarias, nos é ofe-
Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Gastronómico recido um manjar único – a Lagosta da
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peni- Costa Atlântica, “suada”.


che, Sobral Monte Agraço e Torres Vedras. A gastronomia tradicional da região Oes- Na Lagoa de Óbidos verifica-se a exis-
Uma região de gente hospitaleira, ro- te baseia-se numa forte ligação à terra e ao tência de uma rica fauna piscícola que
deada de um património histórico e cul- mar, no marisco e peixe local de grande permitiu o desenvolvimento da pesca ar-
tural, marcado pelo reconhecido interes- qualidade e em velhas receitas de pratos tesanal e da apanha de marisco. De entre
se nacional e internacional. camponeses das antigas quintas e casas as várias iguarias locais destacam-se os
No património histórico e cultural de lavoura. A gastronomia da região é va- Choquinhos à Lagoa de Óbidos, o Mexi-
destacam-se o Mosteiro de Alcobaça, o riada: dos ricos pratos derivados da “ma- lhão à Marinheiro, as Navalhas à Fisgote,
Hospital Termal de Caldas da Rainha, os tança do porco”, ao cabrito no forno e ao as Enguias Fritas à Galricho, a Caldeira-
Castelos de Óbidos, Torres Vedras e Alen- coelho guisado com arroz, passamos aos da de Enguias à Pescador, o Berbigão e o
quer, a Real Fábrica do Gelo no Cadaval, produtos do mar que marcam algumas Lingueirão.
os Dinossauros da Lourinhã e as fortifi- das tradições gastronómicas mais emble- Devido à sua evidente ligação do mar,
cações das Linhas de Torres. máticas do Oeste: as célebres caldeiradas, também em Peniche a atividade piscatória
sempre teve uma enorme importância na grande tradição no cultivo de cerejas e o gastronómico da região, destacando aqui:
economia e na gastronomia da região. Vale de Ribafria é, ainda agora, conhecido os Pastéis de Feijão de Torres Vedras, os
Nos inúmeros restaurantes da cidade pela produção de cerejas e pela imagem pães de ló do Landal, Painho e Alfeizerão,
ressaltam como especialidades locais a das cerejeiras em flor, na primavera. os Pastéis de Peniche, os Amigos de Peni-
Caldeirada de Peniche e a Sardinha A doçaria típica desta região traduz a che (semelhantes na forma aos pastéis de
Assada. forte presença de instituições religiosas feijão) e os Esses (bolos secos de amêndoa
Na gastronomia de Alcobaça desta- como o Mosteiro de Alcobaça, os con- com a forma de S), as Areias Brancas da
ca-se o Cherne à Frei João, receita criada ventos do Varatojo e da Graça (Torres Lourinhã, as Sardinhas Doces da Nazaré,
em 1955 pelos empregados do Restauran- Vedras), e as inúmeras igrejas medievais a compota de vinho chamada “Arrobe” e,
te Floresta em homenagem ao cozinhei- e renascentistas de Torres Vedras, Lou- mais recentemente, a doçaria criada a par-
ro-mor da Abadia. Tradicionalmente ser- rinhã, Peniche, Atouguia da Baleia, Óbi- tir da Pêra Rocha.
vido em pratos de barro, é acompanhado dos, Caldas da Rainha, Sobral de Monte O Oeste é uma das maiores regiões vi-
com puré de batata. Agraço, Arruda dos Vinhos, Bombarral, nícolas de Portugal. A sul, vinhos tintos
Mas um dos mais afamados pratos tí- Alenquer. Alcobaça é a “joia da coroa” encorpados, aromáticos e de precioso va-
picos da região é o Frango na Púcara. deste paraíso gastronómico, herdeira lor alcoólico (castas Camarate, Periquita
Resultante da tradicional matança do milenar do centro cultural que foi, e é, o e Tinta Miúda), vivos enquanto novos,

187
porco, encontramos, em Torres Vedras, Mosteiro. intensos e equilibrados, com um raro
o Arroz de Matança e a Cachola de Por- O Pudim de Ovos dos Frades do Con- bouquet enquanto velhos. A norte, vinhos


co, o Cozido à Portuguesa das Caldas da vento de Alcobaça é uma receita cuja brancos (castas Arinto, Fernão Pires e
Rainha e, um pouco por todo o território, origem está bem patente na sua própria Vital), deliciosamente frutados. Desta di-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
enchidos como os negritos, as farinheiras, designação. Devida à sua forte vocação versidade nasceram, em 1989, a Região
os chouriços, as morcelas de arroz e as pomícola, não é de admirar que um dos Vitivinícola de Óbidos, abrangendo qua-
migas que, características de toda a Alta mais extraordinários doces de frutas por- se toda a área dos concelhos de Bombar-
Estremadura, não são aqui, no entanto, tuguesas seja proveniente daqui: as De- ral, Cadaval, Óbidos e Caldas da Rainha,
menos importantes. Tal como as grossas e lícias de Frei João, verdadeiro festival e a Região Vitivinícola de Alenquer, Ar-
variadas sopas de feijão enriquecidas com de frutas de verão, bem maduras, a que ruda e Torres (concelho de Alenquer, Ar-
as muitas hortaliças que aqui abundam. se junta bastante açúcar e nozes picadas. ruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agra-
A região é marcada por uma elevada Por influência da cultura conventual, te- ço e Torres Vedras). Também a região se
aptidão agrícola, destacando-se a produ- mos também as trouxas e as lampreias de distingue pela produção dos vinhos leves,
ção da Pêra Rocha do Oeste – DOP e da ovos, as Barrigas de Freira, os Tachinhos de mais baixo teor alcoólico e pela exis-
Maçã de Alcobaça – IGP, ex libris da re- à Dom Abade e as Cavacas das Caldas tência, única no país, da Denominação de
gião que alcançaram já certificação e pres- da Rainha. Mas outros, muitos outros do- Origem Controlada de Aguardente Víni-
tígio internacional. Em Alenquer houve ces integram também o rico património ca da Lourinhã.
Peixe
Caldeirada de Peniche

INGREDIENTES pimento, e tomate em bocados. Tempe-


ra-se com azeite e pimenta.
4 kg de peixes vários: tamboril, safio,
pata-roxa, cação, raia, ruivo, cherne, Tapa-se o tacho, leva-se ao lume agitan-
robalo, corvina. do o tacho de vez em quando.
4 cebolas grandes A gastronomia
1 kg de batatas Entretanto preparam-se os peixes, tradicional da zona
4 tomates maduros cortando os maiores em pedaços e apro-
1,5 pimento veitando os fígados do tamboril e do Oeste baseia-se numa
2 dl azeite cação. forte ligação à terra
2 malaguetas picantes
Sal e pimenta q.b. Quando as batatas estiverem quase co- e ao mar, no marisco
zidas colocam-se os peixes em camadas. e peixe local de
grande qualidade. As
PREPARAÇÃO Tempera-se com sal e colocam-se as
malaguetas em pequenos pedaços deixan- célebres caldeiradas,
Cortam-se as cebolas às rodelas finas e do-se os peixes a cozer. os suculentos e
colocam-se num fundo de um tacho.
Serve-se a caldeirada no tacho em que fresquíssimos pargos
Dispõem-se por cima as batatas igual- se cozinhou sem nunca ter sido mexida, e robalos de Peniche
mente cortadas às rodelas, finas tiras de simplesmente agitada. e da Nazaré (cozidos
ou assados no forno),
as enguias e amêijoas
da Lagoa de Óbidos
e os mariscos dos
viveiros de Porto de
Barcas, na Lourinhã.”
188

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Peixe carne
Choquinhos Frango na Púcara
à Lagoa de
Óbidos

INGREDIENTES INGREDIENTES

Chocos da Lagoa de Óbidos 1 frango


Azeite 100 g de presunto
Alho 50 g de toucinho fumado (bacon)
Sal 4 tomates pelados cortados em
Piripíri pedaços
Pimenta 10 cebolinhas pequenas
Vinho branco 30 g de manteiga
Conhaque 2 colheres de sopa de mostarda
2 dentes de alho esmagados
2 cálices de vinho do Porto
PREPARAÇÃO 2 cálices de conhaque
Pimenta q.b.
Lavam-se e retira-se a tinta Sal q.b. Sabia que...
e a boca dos chocos. Vinho branco q.b. O Frango na Púcara terá surgido
como sucedâneo de uma antiga
Numa frigideira levam-se a receita de Perdiz na Púcara. Reza
estufar com azeite, alho, sal, PREPARAÇÃO a história que, no século XIX e
pimenta e piripíri. princípios do século XX, a Perdiz
Depois do frango convenientemente na Púcara era um prato regional,
No final adiciona-se tam- preparado, põe-se na púcara com todos os com muitos apreciadores. Mas,
bém um pouco de vinho bran- ingredientes. como as perdizes começaram a
co e conhaque. escassear, o cozinheiro António
Vai ao forno tapado com folha de alumí- de Sousa, mais conhecido por
nio até cozer (cerca de 40 minutos). chefe Bonzíssimo, do restau-
rante “Corações Unidos”, criou
De vez em quando vai-se regando o a receita de Frango na Púcara,
frango com o molho. adicionando-lhe os ingredien-
tes necessários para que o seu
Por fim deixar alourar cerca de 15 mi- sabor se aproximasse do sabor

Dicas e nutos. da Perdiz na Púcara. O resultado

189
foi uma receita que obteve ainda
Truques Receita cedida pela C. M. Alcobaça. mais sucesso.


O segredo deste prato assenta “Presentemente, em qualquer
no excelente sabor e qualidade livro de cozinha, podemos en-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
dos chocos pescados na Lagoa contrar o frango na púcara, mas
de Óbidos. ninguém lhe acrescenta a origem.
Se dizemos amêijoas à Bulhão
Pato, Bacalhau à Gomes de Sá,
porque não dizer também frango
na púcara à “Corações Unidos”?
O conhecido restaurante, pela
sua idade e qualidade, bem o
merecia.” (Joaquim Soares –
Aldeia da Boavista)
doces doces
Pastéis de Feijão Cavacas
das Caldas

INGREDIENTES INGREDIENTES

Para a massa: Para a massa:


250 g de farinha 450 g de farinha de trigo
2 colheres de sopa de margarina 100 g de manteiga
1,5 dl de água 12 ovos
Sal q.b.
Para a calda:
Para o recheio: 800 g de açúcar
500 g de açúcar 400 ml de água
100 g de feijão branco cozido
125 g de miolo de amêndoa
12 gemas de ovo PREPARAÇÃO
1 pitada de sal
Sabia que... Num recipiente junta-se a farinha e os
Nos finais do século XIX, D. ovos batendo-se até obter uma mistura
Joaquina Rodrigues já possuía PREPARAÇÃO homogénea e consistente.
a receita destes pastéis, que
começou por confecionar para Deita-se a farinha numa tigela e jun- Junta-se a manteiga derretida.
os familiares e amigos e passou ta-se-lhe a manteiga derretida, uma pita-
posteriormente a fabricar e da de sal e a água. Trabalha-se muito bem Deita-se a mistura em formas de que-
a vender por encomenda. A até formar uma bola. ques previamente untadas e vão ao forno
receita foi divulgada entre os a cozer.
seus familiares, designada- Tapa-se a massa com um pano seco e so-
mente, uma parente chamada bre este coloca-se um outro molhado, mas
Maria Adelaide Rodrigues da bem espremido, e deixa-se a massa des-
Silva que aprendeu a fazê-los. cansar um pouco.
Mais tarde casou com o Sr.
Álvaro de Fontes Simões, que Entretanto, pelam-se e ralam-se as
decidiu explorar comercialmen- amêndoas. Passa-se o feijão pelo passador.
te os doces, nascendo assim Juntam-se as amêndoas ao puré de feijão
os pastéis de feijão da marca e adicionam-se os ovos inteiros e as gemas
190

“Maria Adelaide Rodrigues da passados por um passador de rede.


Silva” que alcançaram enorme

sucesso. As pastelarias de Torres Leva-se o açúcar ao lume com um pou-


Vedras começaram a fabricar e a co de água e deixa-se ferver até atingir
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

vender os famosos pastéis, com ponto assoprado.


receitas próprias, tendo sempre
a amêndoa e o feijão por base. Adiciona-se este xarope ao preparado
Por volta de 1940, Virgílio de feijão, amêndoa e ovos.
Simões, filho de Álvaro Simões,
criou uma fábrica destinada Enquanto o recheio arrefece formam-se
especificamente ao fabrico forminhas de queques com a massa pre-
dos pastéis. Nasciam os muito parada e estendida fina. Enchem-se com
conhecidos pastéis “Coroa”, o recheio, polvilham-se com um pouco de
marca registada desde o início farinha e depois com açúcar em pó.
da fábrica.
Levam-se a cozer em forno quente
(225 ºC) durante cerca de 25 minutos.
doces
Areias Brancas

Leva-se ao lume o açúcar, com a água, INGREDIENTES


até obter ponto de pasta fraco.
Miolo de amêndoa Sabia que...
Retira-se do lume e bate-se até ficar Gemas de ovos
opaco. Açúcar branco De cor amarela dourada e
Aromas polvilhados de açúcar, as Areias
Depois de frias passam-se as cavacas Brancas são bolos, confecionados
pela calda quente. com gemas de ovos, amêndoas
PREPARAÇÃO e açúcar, cuja receita constituiu
um segredo familiar de várias
Pisa-se muito finamente a amêndoa, gerações.
mistura-se o açúcar e as gemas de ovos. Eugénia Perdigão aprendeu
esta receita num convento
Deita-se a mistura em formas previa- de Freiras de Lisboa onde foi
Sabia que... mente untadas. educada e, mais tarde, ensinou-
A origem dos beijinhos e das -a à filha Maria Luísa Pereira
Cavacas das Caldas está ligada Vão ao forno a aloirar. A temperatura que se mudou de Lisboa para
à freguesia de S. Gregório, onde é determinante para a consistência final a Praia da Areia Branca onde,
nasceram as irmãs Rosalina e do bolo. em 1938, abriu um salão de
Gertrudes Carlota, que foram chá, conhecido como Pavilhão
doceiras na corte de D. Carlos. Por último, polvilha-se com açúcar. Verde, aí começando a fabricar
Depois do regicídio estas se- e a vender o bolo a que chamou
nhoras regressaram às Caldas “Areia Branca”. Elísio Pereira, o
da Rainha, tendo começado a mais novo dos seus três filhos,
vender doces junto ao Hospital aprendeu com a mãe a receita e,
Termal. mais tarde, já na década de 50
do séc. XX, juntamente com sua
mulher, Zélia Pereira, começou
a fabricar o doce em casa e a
vendê-lo para o café Belmar. O
registo da marca Areia veio a
ser aceite pelo Instituto Nacional

191
da Propriedade Industrial em
novembro de 1970. Mais tarde


Elísio e Zélia Pereira abriram
uma loja ao público, tendo vindo
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
a registar mais duas marcas de
doces: Paimogas em 1995 e
Delícias do Convento em 1977.
Atualmente é Flávio Carvalho o
detentor das respetivas marcas e
receitas secretas.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 192
Região Alentejo
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 193
território
NORTE ALENTEJO

A agricultura e a silvicultura ainda de-


sempenham um papel preponderante na
economia da região, com destaque para a A agricultura e a
vitivinicultura e outros produtos de qua- silvicultura ainda
lidade internacionalmente certificada. A
pecuária é um dos setores relevantes no desempenham um
norte alentejano, que tem vindo a desta- papel preponderante
car-se ao nível da produção de carne de
vaca, designadamente, da Carnalenteja‑ na economia da
na – DOP, suculenta e de sabor acentua- região, com destaque
do e muito apreciado. para a vitivinicultura
De salientar também o Azeite do Nor‑
te Alentejano – DOP, de baixa a muito e outros produtos
baixa acidez, ligeiramente espesso, fruta- de qualidade
do e de cor amarelo-ouro por vezes ligei-
internacionalmente
WWW.ADER-AL.PT

ramente esverdeado, e de perfume e gosto


suaves. certificada.”
Igualmente apreciadas são as tradicio-
nais Azeitonas de Elvas e Campo Maior
– DOP, que se apresentam graúdas, de cor
verde e inteiras com caroço ou recheadas.
Internacionalmente famoso é o Quei‑
jo de Nisa – DOP, “um queijo curado, destacando-se as Sopas de Tomate, de
Caracterização de pasta semidura, de tonalidade branco Batata, de Cação e de Cachola, bem como
histórica e amarela, fechada, com olhos pequenos,
obtido artesanalmente por esgotamento
as Migas de pão ou de batatas com Carne
de Porco frita, o Ensopado de Borrego, o
Geográfica lento da coalhada, após coagulação do lei- Gaspacho e os pratos de caça.
te cru de ovelha da raça regional Merina Entre as mais famosas especialidades,
O território do Norte Alentejo corres- Branca, por ação de uma infusão de car- deve referir-se o Sarapatel, um prato com
ponde à zona de intervenção do GAL do (Cynara Cardunculus, L.)”. Este queijo tradições ancestrais, cozinhado à base de
ADER-AL – Associação para o De- foi mesmo considerado por uma revista borrego ou cabrito, que tem designações
senvolvimento em Espaço Rural do norte-americana como um dos melhores diferentes em diversas zonas do país, sen-
Norte Alentejo. Integra os concelhos do mundo. do aqui característico, sobretudo da zona
194

de Arronches, Campo Maior, Caste- É também muito apreciada a Cereja de Castelo de Vide onde também se pre-
lo de Vide, Crato, Elvas (exceto as fre- de S. Julião‑Portalegre – DOP, cereja para o Cachafrito de Cabrito.

guesias de Alcáçova e de Assunção), de cor preta, de sabor muito doce e com No património gastronómico deste
Marvão, Monforte, Nisa, Portalegre acentuada pigmentação na polpa, e ainda território deve salientar-se os afamados
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

(excepto as freguesias da Sé e de S. Lou- a Castanha Marvão‑Portalegre – DOP, e certificados enchidos da salsicharia de


renço) e Sousel. cuja área geográfica abrange os concelhos Portalegre, nomeadamente, o chouriço, o
No limite da fronteira com Espa- de Marvão, Castelo de Vide e Portalegre e painho, o paio enguitado, o lombo engui-
nha, encontra-se numa área de transi- tem um sabor característico. tado, o paio branco, a farinheira, a cacho-
ção entre a peneplanície cerealífera e leira e a morcela.
seca do Alentejo e as Beiras, com relevos Património A gastronomia de Sousel apresenta
proeminentes e uma densa rede hidro- características distintivas marcadas pela
gráfica de superfície. Não obstante, o Gastronómico larga utilização de ervas e plantas bravias,
território reúne algumas especificida- pela importância do pão no cozinhar e
des, nomeadamente relacionadas com a Os sabores tradicionais como o porco, pela clara relação entre os doces regionais
presença do Parque Natural da Serra de o borrego e as ervas aromáticas ser- e as festividades.
São Mamede. vem de base a muitos dos pratos que Destacam-se as azeitonas temperadas
integram a gastronomia deste território com tomilho, orégãos, louro e sal, a açorda
com coentros, a cachola com cominhos, o cagarrinhos, as alabaças, os espargos e as Ovos de Portalegre, as Amêndoas Doces
gaspacho com orégãos, o cozido de grão acelgas. de Portalegre, o Bolo Teculameca, o Bolo
com hortelã, o coelho com salsa, a salada Com o pão confecionam-se muitas e da Sogra, o Leite Serafim de Portalegre,
de pepino com poejo e o assado de chispe diversas açordas, bem como gaspacho, o Pudim da Cruz de Malta do Crato, os
com manjerona e salva. migas e a boleima. Barquinhos de Nisa, a Boleima, o Folar
Existem também receitas confeciona- Este território é particularmente rico e as Queijadas de Castelo de Vide, entre
das a partir de plantas bravias comestíveis no que refere à doçaria, incluindo a con- muitos outros. De destacar as interna-
que os trabalhadores rurais apanhavam ventual. Particularmente famosos são o cionalmente famosas Ameixas Doces
no campo e levavam para cozinharem em Manjar Branco do Convento de Santa d’Elvas – DOP.
casa. Exemplos disso são os cogumelos, os Clara de Portalegre, os Rebuçados de Digno de salientar é também o café de
Campo Maior onde se situa a maior zona
industrial de torrefação de cafés da Penín-
sula Ibérica.

Sabia que...
Os doces tradicionais do
Concelho de Sousel consumiam-
-se sobretudo em épocas festi-
vas como o Natal, o Carnaval,
a Páscoa, casamentos ou por
altura da Feira de São Miguel.
No Natal e no Carnaval cozinha-
vam-se os chamados “fritos”:
filhós, azevias, borrachinhos e
nógados.
A Páscoa era a época das costas,
bolos que se preparavam para

195
o dia da Festa na Serra (romaria
em honra de Nossa Senhora do


Carmo). Para a feira anual de
São Miguel, os bolos começa-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
vam a ser preparados com uma
semana de antecedência. Por
vezes, com a própria massa do
pão, confecionavam-se bolos
com azeite, canela e açúcar por
cima, fazendo umas argolas de
pão.
entradas sopas
Cabeça de Xara Sarapatel

INGREDIENTES Retira-se com uma escumadeira, cor- INGREDIENTES


ta-se a carne em bocadinhos pequenos e
1 cabeça de porco fresca coloca-se novamente dentro do caldo, que Fressura de 1 cabrito ou borrego
3 cebolas entretanto foi coado. 1 colher de sopa de banha
3 ou 4 dentes de alho 1 colher de sopa de azeite
6 grãos de pimenta Leva-se ao lume, deixa-se ferver e, al- 2 dentes de alho
1 molho de salsa guns minutos depois, escorre-se. 1 cebola pequena
1 molho pequeno de salva Meia folha de louro
1 molho pequeno de manjerona Mete-se a carne dentro de um guarda- 1 colher de sopa de colorau
0,5 dl de vinagre napo grande e ata-se com uma guita forte. 1 ramo de salsa
3,5 dl de vinho branco 6 grãos de pimenta
Sal grosso Coloca-se sobre uma tábua e põe-se-lhe 2 cravinhos
um peso por cima. Deixa-se solidificar. 1 colher de chá de cominhos
1 copo de vinho branco (2 dl)
PREPARAÇÃO 500 g de costelas (peito) de cabrito
RITOS E HÁBITOS ou borrego
Retiram-se os miolos e salga-se a cabeça 2 colheres de sopa de vinagre
de porco durante 48 horas. A cabeça de Xara é uma iguaria tradicio- 1 ramo de hortelã
nal do Alentejo, também conhecida por sangue cozido
Em seguida, lava-se muito bem a ca- queijo de cabeça, achar e cabeça em achar. 750 g de pão caseiro duro
beça do porco, parte-se e coloca-se num Antigamente era uma especialidade con- Sal
tacho com todos os ingredientes citados, sumida sobretudo pelas famílias mais
sendo a cebola picada grosseiramente. abastadas, demorando 4 dias a ser confe-
cionada. Serve-se cortada em fatias muito
Junta-se a água necessária para que a finas, como entrada de uma refeição ou
carne fique bem coberta. em sandes.

Leva-se a cozer até que a carne se separe


dos ossos.
196

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
peixe
assada de peixe

PREPARAÇÃO INGREDIENTES

Faz-se um guisado com a banha, o azei- 1 kg de peixe do rio


te, a cebola picada, os dentes de alho, o (achigãs ou barbos) Sabia que...
louro, o colorau, a pimenta em grão, os 1 molho de poejos A Assada de Peixe é um prato
cravinhos, um ramo de salsa e a fressura 2 dentes de alho confecionado com peixes de
cortada aos bocadinhos. Malagueta água doce (barbos ou achigãs),
2 dl de azeite muito consumido pelas gen-
Depois de tudo bem refogado, rega-se 1 dl de vinagre tes do Pisão, Crato. O poejo
com o vinho branco e a água necessária Sal da ribeira dá-lhe um aroma
para a sopa. A água pode-se juntar pouco especial. O achigã, mesmo sendo
a pouco. uma espécie introduzida muito
PREPARAÇÃO recentemente em Portugal, foi
Juntam-se nesta altura as costelas aos muito bem acolhido, pelas suas
bocados. Depois de tudo cozido, tem- Amanha-se o peixe e dão-se-lhe uns características e sabor. O barbo
pera-se com os cominhos, o vinagre e golpes transversais. Grelham-se em lume tem um elevado número de
um ramo de hortelã. Deixa-se apurar de carvão e colocam-se numa travessa. espinhas, pelo que é costume
um pouco mais e adiciona-se o sangue, “retalhá-lo”, ou seja, dar-lhe
esfarelado. Num almofariz pisa-se as folhas de po- vários golpes transversais que
ejo, os dentes de alho, sal e malagueta (a cortam as espinhas em peque-
Entretanto, corta-se o pão às fatias (so- gosto). Deita-se esta papa noutro reci- nos fragmentos.
pas) para uma terrina ou para uma tigela piente e mistura-se com o azeite, o vina-
de cozinha, espalham-se por cima rami- gre e o molho que escorreu do peixe (o
nhos de hortelã e rega-se tudo com o sara- que está na travessa).
patel. Abafa-se um pouco.
Prova-se e deita-se o molho sobre o pei-
xe.
SUGESTÃO
Acompanha-se com batatas cozidas ou
Pode acompanhar-se com rodelas de la- fritas.
ranja.

197

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Sabia que...
Em meados do século XVII era
conhecido como “sarapetel”.
Mais tarde passou a chamar-se
sarapatel ou sopa de sarapatel.
Terá sido adotado ou mesmo
desenvolvido pela comunidade
judaica da região de Castelo
de Vide. Segundo a tradição é
consumido em Castelo de Vide
no dia de Páscoa.
carne caça
arroz amarelo com galinha Sopa de Lebre

INGREDIENTES INGREDIENTES

1 galinha 1 lebre
1 chouriço 150 g de banha ou 1,5 dl de azeite
3 chávenas almoçadeiras de arroz 2 cebolas
1 naco de toucinho (200 g 1 ramo de salsa
aproximadamente) 1 folha de louro
2 gemas de ovo 1 colher de sopa de colorau
2 dl de vinho branco
400 g de pão caseiro
PREPARAÇÃO Sal
Pimenta
Coze-se a galinha com o toucinho e o
chouriço. Coa-se o caldo obtido.
PREPARAÇÃO
Num tacho, deitam-se 6 chávenas al-
moçadeiras deste caldo e deixa-se levan- Esfola-se e arranja-se a lebre cuidado-
tar fervura. Nesta altura junta-se o arroz samente para não precisar de ser lavada.
previamente lavado e enxuto. Deixa-se
cozer. O arroz deve ficar bem cozido, mas Corta-se aos bocados para uma tigela,
não muito seco. recolhendo todo o sangue.

Entretanto, desossa-se e desfia-se a ga- Cobre-se o fundo de um tacho de barro


linha e corta-se. Corta-se o toucinho às ti- com gordura (azeite ou banha) e junta-se
ras e o chouriço às rodelas. a cebola picada finamente, o ramo de sal-
sa, o louro, o colorau e a lebre. Deixa-se
Num tabuleiro de barro vidrado dei- refogar bem.
ta-se uma camada com cerca de metade
do arroz. Em seguida adiciona-se o vinho, tem-
pera-se com sal e pimenta, tapa-se a caça-
Sabia que... Espalham-se por cima as carnes, que se
cobrem com o restante arroz.
rola e deixa-se cozer a lebre com o lume
muito brando, acrescentando água aos
198

Localizado no Parque Natural pinguinhos. O cozinhado tem de ficar


da Serra de S. Mamede, Marvão Pincela-se a superfície com as gemas e bem apurado, mas o molho deve ser sufi-

distingue-se gastronomicamente leva-se ao forno bem quente para alourar. ciente para ensopar o pão.
pelos pratos confecionados à Daqui lhe vem o nome.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

base de peças de caça a que se Estando tudo pronto, retira-se a lebre


associam frequentemente às Acompanha-se com salada de alface. e, se for necessário, junta-se nesta altura
excelentes castanhas da região. mais água ou mais vinho, de modo a ficar
Realiza-se anualmente em com o caldo necessário.
Marvão, durante o mês RITOS E HÁBITOS
de dezembro, a Quinzena Retificam-se os temperos.
Gastronómica da Caça, nos res- O Arroz Amarelo com Galinha era consu-
taurantes aderentes, organizada mido unicamente nas ocasiões especiais, Tem-se o pão partido às fatias numa ter-
pelo Município de Marvão, com como as festividades e os casamentos. A rina e deita-se-lhe por cima o molho da
o objetivo de promover este coloração amarela surge de o arroz ser lebre. Abafa-se.
concelho como destino gastro- pincelado com duas gemas de ovo antes
nómico e os produtos endóge- de ser tostado no forno.
nos do mesmo.
doces
Sericaia com ameixas d’Elvas

INGREDIENTES Adiciona-se o creme de gemas e açú- RITOS E HÁBITOS


car e mexe-se. Leva-se a engrossar sobre
1 l de leite lume brando até se ver o fundo do tacho. A sericaia terá tido origem no Convento
12 ovos Retira-se do calor e deixa-se arrefecer. das Chagas de Vila Viçosa. Contudo, este
125 g de farinha doce terá passado a confecionar-se de ou-
500 g de açúcar Batem-se as claras em castelo e jun- tra forma, em Elvas, no convento de Nos-
1 casca de limão tam-se cuidadosamente ao preparado an- sa Senhora da Conceição ou no de Santa
ou 1 pau de canela terior. Nessa altura, o creme deverá estar Clara, tendo-se-lhe então adicionado a
canela em pó frio ou ligeiramente morno. canela. Mas há quem afirme que a receita
(cerca de 2 colheres de sopa) terá sido trazida das Índias por D. Cons-
Sal Num prato de estanho ou barro (que tantino de Bragança, após a conquista de
possa ir ao forno) previamente aquecido, Malaca em 1510. Desde há algum tempo,
deita-se o doce às colheradas desencon- é comum acompanhá-la com Ameixas
PREPARAÇÃO tradas, isto é, uma ao alto e outra ao atra- d’Elvas, facto frequentemente contestado
vessado. Este aspeto é muito importante. pelos que defendem a sua apresentação
Batem-se as gemas com o açúcar até se original.
obter um creme bem fofo. À parte dissol- Polvilha-se abundantemente com ca-
ve-se a farinha com o leite, que foi pre- nela (deve ficar bem castanho) e leva-se
viamente fervido com o pau de canela, a a cozer em forno muito quente. O doce
casca de limão e o sal. deverá abrir fendas ao cozer, e abaterá ao
arrefecer.

Sabia que...
As Ameixas de Elvas,
provenientes da ameixeira
“Rainha-Cláudia Verde”,
são um dos doces mais
antigos e internacionalmente
reconhecidos da região do

199
Alto Alentejo. Inicialmente
confecionavam-se somente nos


conventos da região de Elvas e
eram consumidas apenas pelas
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
classes mais abastadas.
A partir de 1834 as “Ameixas
D’Elvas” começaram a ser
produzidas em pequenas
unidades industriais, sendo
então possível a expansão do
seu consumo, inclusivamente
além-fronteiras, principalmente
para Inglaterra, assumindo a sua
exportação uma significativa
expressão.
território
LITORAL ALENTEJANO

Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina –


e sítios incluídos na Rede Natura 2000 –
Estuário do Sado, Comporta-Galé, Costa
Sudoeste e Monchique, que se traduzem Sabia que...
numa enorme riqueza ao nível da biodi- Carne da Charneca: carne obtida
versidade. a partir de bovinos de raça
De grande valor ecológico e paisa- Bovina Preta, de cor rosa escuro
gístico, apresenta-se também a Serra de ou vermelha escura, gordura
Grândola, coberta de manchas de sobrei- de cor que varia entre a branca
WWW.ADL.LITORALALENTEJANO.PT

ros que se transformam em montados e a branca amarelada, com


mais abertos onde predomina a pecuária consistência firme. Possui fraca
extensiva. acumulação de gordura e de
cobertura. Consome-se grelhada

Património ou em diversas receitas tradi-


cionais, que aliam as condições
Gastronómico climatéricas propícias à criação
de pastagens e de bovinos ao
A gastronomia deste território apresenta ancestral saber-fazer das popu-
sabores do mar, da terra e do rio, em re- lações da região.
sultado das influências do Alentejo Inte-
rior e das atividades piscatórias da faixa
costeira.
Alcácer é conhecido pela predomi- a hortelã, o alho, o pimentão, a salsa e o
Caracterização nância do pinheiro manso e dos arrozais, louro.
histórica e sendo o pinhão, a par com o mel, o princi-
pal ingrediente da sua doçaria típica.
Comum aos concelhos de Alcácer do
Sal e Grândola é a produção de Carne da
Geográfica Nas serras de Odemira, Santiago do Charneca – DOP proveniente da raça
Cacém e Grândola, a mancha florestal bovina Preta, consumida grelhada ou em
O território do Litoral Alentejano cor- de sobro tem notoriedade e é onde se diversos pratos típicos.
responde à zona de intervenção do GAL encontram a maioria dos produtores de O porco, seus derivados, e o borrego
ADL – Associação de Desenvolvimento mel. são as carnes mais utilizadas na confe-
do Litoral Alentejano. Integra cinco con- À cultura de sequeiro, ainda que se ção dos pratos gastronómicos desta zona.
celhos: Alcácer do Sal, Grândola, Odemi- cultive também o olival, predomina o Aqui confeciona-se o Ensopado de Bor‑
200

ra, Santiago do Cacém e Sines. montado de sobro, está associada a explo- rego, o Borrego Assado no forno e as
Com uma extensa faixa costeira, que ração agrossilvopastoril, sobretudo a cria- Cabeças de Carneiro Assadas. Da carne

se estende da Península de Tróia (Grân- ção de gado bovino. do porco temos, entre outros, a Carne de
dola) ao limite do concelho de Odemira, Sines, cidade voltada para o mar, em Porco à Alentejana, o Arroz de Bucho de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

o Litoral Alentejano situa-se entre a Área que a pesca continua a fazer parte das Porco, as Migas de Carne, os Miolos de
Metropolitana de Lisboa e o Algarve. principais atividades da população resi- Porco à Alentejana e o Chispe de Co-
Aliando as potencialidades naturais e dente, tem uma lota conhecida pela quali- entrada, bem como o toucinho com que
ambientais, o património arquitetónico, dade do seu peixe. Em Santiago do Cacém se preparam os torresmos, utilizados na
as artes e os ofícios tradicionais, o terri- é conhecida a pesca da enguia na Lagoa confeção do Bolo de Torresmos. Os enchi-
tório tem vindo a evidenciar uma maior de Santo André e em Odemira são famo- dos da zona honram a fama do fumeiro
dinâmica do tecido económico através da sos os seus percebes. alentejano, com a linguiça, o chouriço e
localização de empresas, capacidade de Da conjugação destas formas diferen- a farinheira.
investimento e criação de emprego. ciadas de recursos naturais, resulta uma Ainda no capítulo das carnes têm par-
A região possui várias áreas protegi- gastronomia rica e variada, mas em que ticular expressão as carnes de caça como a
das – Reserva Natural das Lagoas de San- sempre estão presentes os tradicionais lebre, o coelho, a perdiz e o javali que se
to André e da Sancha, Reserva Natural temperos alentejanos como a banha de multiplicam numa grande variedade de
do Estuário do Sado, Parque Natural do porco, os coentros, os poejos, os orégãos, pratos e petiscos.
A gastronomia
deste território
apresenta sabores
do mar, da terra e
do rio, em resultado
das influências do
Alentejo Interior
e das atividades
piscatórias da faixa
costeira.”

Grândola, Santiago do Cacém (com a designadamente os queijos de ovelha da de Requeijão, e muitos outros de caráter
sua Lagoa de Santo André que anualmen- Mimosa (produzidos em Alvalade) que mais popular como as Popias Caiadas de
te se abre ao mar para garantir a conti- podem ser comprados simples ou barra- Alvalade ou o Bolo de Massa do Pão. As
nuidade do habitat desta reserva natural), dos com sal ou colorau e o Queijo Serpa Alconcoras (relacionadas com as festas
Sines e Odemira oferecem à região a ri- – DOP cuja área geográfica de produção dos Santos Populares, vendidas nos mas-
queza dos seus peixes que se integram em integra algumas freguesias dos concelhos tros, são confecionadas com mel, azeite e
caldeiradas e sopas de peixe, ensopados que constituem este território. canela) e as Cachamorras, variedade de
de Safio e de Enguias, Arroz de Tamboril, Um dos ex libris da doçaria desta re- bolos de noz aromatizados com canela
o Pitéu de Enguia e a Moreia dos Almo- gião são os doces de pinhão. O concelho característicos do Cercal do Alentejo e
creves. Também o marisco, proveniente de Alcácer do Sal é o principal produtor também associadas às festas dos Santos

201
em grande parte das lotas de Sines e de nacional de miolo de pinhão, de excelente Populares.
Odemira, serve a confeção de pratos como qualidade, e do qual se produz artesanal-


a Feijoada de Búzios, o Arroz de Caramu- mente um delicioso doce local: a Pinho-
jos, de Lapas, de Mexilhão ou de Maris- ada.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
co, a Salada de Búzios ou de Polvo e os Mas também com pinhão se confecio-
Percebes. Uma imensa variedade de espe- nam a tarte de pinhão e os rebuçados de
cialidades que, à boa maneira alentejana, pinhão ou de pinhão e mel.
se apresentam muito bem aromatizados Entre as iguarias mais autênticas e
com ervas aromáticas. requisitadas no que se refere a doçaria,
Muitos outros produtos chegam da destacamos as Alcomonias (associadas a
terra: arroz, feijão, azeite, pão e vinho, Santiago do Cacém onde costumam apa-
mel, o pinhão e espécies vegetais espontâ- recer em dias festivos, sobretudo na Fei-
neas como espargos selvagens, cogumelos ra do Monte e na Feira de Santo André,
bravos, túbaras, beldroegas, carrasqui- no dia 30 de novembro), o Bolo de San-
nhas, medronho e murtinhos. tiago (confecionado com amêndoa, gila,
Muito apreciados são os queijos canela e açúcar), os Rebuçados de Ovos,
de ovelha, de confeção tradicional, o Bolo Real, o Bolo de Mel, as Queijadas
sopas peixe
sopa de lebre Ensopado
de Enguias

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

2 a 3 lebres partidas aos bocados (se Coloca-se a lebre partida em bocados 600 g de enguias
possível aproveitar o sangue) num recipiente com os ingredientes para 2 dl de azeite
a marinada e deixa-se ficar por 1 hora. 1 cebola grande às rodelas
Para a marinada: 2 dentes de alho picados
Azeite Num tacho, coloca-se a lebre e a mari- 1 ramo de salsa picada
Louro nada, acrescenta-se a água até tapar a le- Sal q.b.
Alho bre, juntam-se os cominhos, o chourição Água
1 cebola partida em quatro e a cenoura e deixa-se cozer. Colorau
Sal Orégãos
1 l de vinho tinto Entretanto, esmaga-se parte do feijão- Pão frito ou torrado
Piripíri -manteiga e deixa-se a outra parte inteira.
Massa de pimentão da horta vermelho
Cravinho Quando a lebre estiver cozinhada, jun- PREPARAÇÃO
Pau de canela ta-se o feijão e deixa-se apurar.
Num tacho leva-se o azeite ao lume jun-
Para a sopa: Numa terrina de servir, coloca-se o pão tamente com a cebola.
Água às fatias, coentros picados e hortelã.
Cominhos Depois de esta estar alourada, junta-se a
Chourição Quando apurada a lebre, retira-se o cra- salsa picada, o alho e as enguias. Tempe-
Cenoura vinho e o pau de canela e deita-se, por ra-se com sal a gosto e envolve-se tudo.
Feijão-manteiga cozido cima do pão, a lebre com a água onde co-
Pão zeu e todos os ingredientes. Cobre-se com água e junta-se o colorau e
Coentros os orégãos, deixando apurar durante cerca
Hortelã Receita cedida por Deolinda Brito, de 20 minutos.
restaurante A Deolinda, Monte Cruz Alcaide
(Santiago do Cacém). Acompanha-se com pão frito ou torrado.

Receita cedida por Carlos Andrade,


restaurante Chez Daniel, Lagoa de Santo
André.
202

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Sabia que...
Em Santiago do Cacém os pesca-
dores orgulham-se da qualidade
das enguias, com as quais são
confecionados os tradicionais
ensopados e caldeiradas que
se comem nos restaurantes
da Costa de Santo André. As
enguias fritas são um petisco
muito apreciado, que pode ser
acompanhado com pão e vinho
da região.
Marisco
Arroz de lagosta

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

50 g de toucinho laminado Num tacho de barro derrete-se o touci-


1 dl de azeite nho e, depois, retira-se o torresmo.
1 kg de cebola
4 dentes de alho Pica-se a cebola, o alho, o tomate, o pi- Uma imensa
1 kg de tomate maduro fresco mento, a salsa e os coentros. variedade de
1 pimento vermelho
3 ou 4 pés de salsa Juntam-se todos estes ingredientes com especialidades
Coentros o azeite e deixa-se estufar, passando então (de marisco)
a mistura com a varinha.
Água ou caldo de peixe
que, à boa
A quantidade deve ser 3 vezes e meia Adiciona-se a água ou o caldo de peixe maneira
a quantidade do arroz em volume e deixa-se ferver. alentejana, se
400 g de arroz
Piripiri q.b. Corta-se a lagosta viva pelos anéis, apresentam
Lagosta viva (aproximadamente 1 kg) aproveitando o sangue. muito bem
Junta-se a lagosta e o arroz ao prepara- aromatizados
do anterior. com ervas
aromáticas.”
Deixa-se abrir o arroz que se aromati-
za com os coentros picados e serve-se de
imediato.

Receita cedida por Carlos Barros,


restaurante O Migas, Sines.

203

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne carne
Miolos de Porco Ensopado
à Alentejana de Borrego

INGREDIENTES INGREDIENTES

250 g de carne da pá 1 kg de borrego partido aos bocados


250 g de entrecosto Azeite
250 g de papada 2 cebolas picadas
Sal 2 dentes de alho picado
Alhos picados Louro
Vinho branco Salsa
Pimentão da horta Sal q.b.
Banha Pão frito
Batatas
Acompanhamento: Hortelã
1/2 kg de pão
1 mioleira
2 ovos PREPARAÇÃO
Sumo de 1 laranja
Sumo de 1 limão Lava-se muito bem o bor-
rego depois de se retirar
o excesso de sebo.
PREPARAÇÃO
Num tacho com
Temperam-se as carnes de porco com tampa coloca-se o
sal, os alhos picados, vinho branco e pi- azeite e todos os
mentão da horta e deixa-se a marinar de ingredientes, em
um dia para o outro. camadas.

Fritam-se as carnes em banha e reser- Fecha-se o tacho


vam-se. e leva-se a lume
médio, abanando-o
Para o acompanhamento, de vez em quando, até
esfarela-se o pão a que se o borrego estar bem co-
junta a mioleira desfei- zido, que será nunca menos
204

ta. de 1 hora.

Adicionam-se os À parte, cozem-se as batatas e frita-se


ovos e o sumo da o pão numa frigideira com um pouco de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

laranja e do limão óleo.


e envolve-se tudo
muito bem. Dispõe-se o borrego numa travessa
com as batatas cozidas e o pão frito.
Por fim, leva-se
esta mistura a fri- Decora-se com um raminho de hortelã.
tar na banha onde
se fritaram as car- Receita cedida por Maria Antónia Santos,
nes. Quinta da Cilha, Santiago do Cacém.

Receita cedida por Maria


Antónia Santos, Quinta da
Cilha, Santiago do Cacém.
doces
Alcomonias

INGREDIENTES Deixa-se ferver por 15 minutos.

2,5 kg de farinha de trigo peneirada Adiciona-se, então, pouco a pouco, a fa-


1 kg de mel ou 2 kg de açúcar amarelo rinha torrada, mexendo sempre com uma
1 l mal medido de água colher de pau.
0,25 l de pinhões
Quando a massa ficar ligeiramente gros-
sa, com uma certa consistência, estende-
PREPARAÇÃO -se muito bem sobre uma mesa polvilha-
da de farinha, com a ajuda de um rolo, até
Coloca-se a farinha de trigo num tabu- ficar uniformizada e com a espessura de-
leiro e leva-se ao forno a torrar. sejada.

Leva-se a água ao lume com o mel ou o Corta-se em pequenos losangos e dei-


açúcar amarelo. xam-se secar ao ar.

Quando estiver quase a ferver, adicio-


nam-se os pinhões.

Sabia que...
Tudo leva a crer que a origem
das Alcomonias remonta ao
período de ocupação árabe, quer
por se apresentar em forma de
losango, quer pelos ingredientes
usados e principalmente
pelo seu nome “Alcomonia”.

205
Confecionadas com uma massa
obtida a partir de farinha


torrada, pinhão e mel, são um
doce com uma longa tradição e
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
a sua presença não se restringiu
ao Alentejo. Encontra-se já o
vocábulo “alcomonia” registado
em documentos quatrocentistas
para referir um bolo ou doce
romboidal e também como
termo utilizado no Minho para
designar um tipo de doçaria
preparada com mel. Também há
notícia da sua venda ambulante
em Lisboa, pela “preta do
mexilhão” que também vendia
gergelim e alcomonias.
território
BAIXO ALENTEJO

O turismo apresenta-se também como


uma área económica com crescente im-
portância, registando-se um número cada
vez maior de alojamentos turísticos.
O território dispõe de uma forte com-
ponente histórica alicerçada nas presen-
ças de vários povos nestas paragens.
A sabedoria do povo alentejano tor-
na-o ímpar na sua mestria em relacio-
nar-se com a natureza, quer na cultura,
quer na gastronomia. O cante alentejano
define e identifica a alma deste povo – a
sua autenticidade é a maneira mais subli-
WWW.ALENTEJO-XXI.PT

me que o Alentejo tem de se mostrar ao


mundo.

Património
Gastronómico
Condicionada pela escassez de meios, a
gastronomia alentejana é paradoxalmen-
te rica e variada. Com sabores únicos que
Caracterização obedecem à mão centenária do saber fazer
histórica e das gentes campaniças, esta é uma cozi-
nha dos paladares da terra que reúne à
Geográfica mesa os produtos regionais, como o pão, o
azeite, as carnes e peixes do rio. O borrego
O território de intervenção do GAL e o porco alentejano são a base de muitos
PRO-RURAL – Dinamização Rural no pratos gastronómicos da região. Na cozinha regional alentejana exis-
Sul do Alentejo – ALENTEJO XXI – O pão tem especial relevância na cozi- tem alguns pratos em cuja confeção não
Associação de Desenvolvimento Inte- nha tradicional alentejana onde é um in- estão presentes nem carne nem peixe, ou
grado do Meio Rural abrange parte do grediente predominante e imprescindível em que estes podem ser abolidos. É o caso
206

Alentejo, contemplando os concelhos de em muitos dos pratos da região como açor- da Açorda à Alentejana, as Sopas de To-
Aljustrel, Castro Verde, Beja, Mértola das, migas, gaspacho, ensopados e muitos mate, entre outras em que se recorre, por

e Vidigueira. outros, incluindo alguma doçaria. Na re- vezes, apenas a um ingrediente de origem
Com uma vasta riqueza histórica, cul- gião da Vidigueira, que adquiriu recente- animal: os ovos.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

tural, patrimonial e gastronómica, o ter- mente a denominação de “A capital do pão As vastas pastagens e os campos de
ritório oferece um imenso olhar sobre a alentejano”, as culturas de trigo, centeio e montado oferecem duas espécies pecuá-
natureza, em pleno coração da planície milho produzem a matéria-prima de quali- rias de excelência: o borrego e o porco.
alentejana. dade essencial para manter o sabor e textu- O Borrego do Baixo Alentejo – IGP
A variedade de solos com diferentes ra do pão tradicional. Atualmente, devido é um produto certificado cuja produção
aptidões agrícolas é um dos pontos fortes ao aumento da procura deste produto re- se obtém a partir de borregos das raças
da região, apelidada no passado de “ce- gional, a panificação passou a ser cada vez autóctones Merino ou Campaniça, e dos
leiro de Portugal”. Atualmente, devido mais industrial. Mesmo assim, neste ter- seus cruzamentos com raças do tronco
a grandes empreendimentos como a bar- ritório ainda existem padarias familiares Merino. A sua carne é tenra e suculen-
ragem de Alqueva, a agricultura encon- que preservam a arte de amassar, tender e ta, com uma textura suave e com alguma
tra-se em transformação, quer nas forma cozer o pão em forno de lenha. O pão co- gordura intramuscular que lhe confere
de utilização do solo, quer na própria ti- zido em forno de lenha constitui, um dos um sabor característico não muito inten-
pologia de culturas a produzir. principais ex libris deste território. so. É utilizado em muitos pratos típicos
também se pode confecionar com carne A sabedoria do
de borrego. povo alentejano
A Carne de Porco Alentejano – DOP,
de grão fino, muito saborosa e suculenta, torna-o ímpar
é obtida a partir de animais da raça suína na sua mestria
alentejana, de pequeno porte, que se ca-
racterizam pela sua pele preta. A cor da em relacionar-se
carne varia entre o rosa pálido e o rosa com a natureza,
escuro, consoante a idade do animal, com quer na cultura,
gordura firme, não exsudativa. A carne
é extraordinariamente saborosa, decor- quer na
rente da alimentação do animal à base gastronomia. O
de bolota e erva, livremente pastada nos
montados de sobro e azinho do Alentejo. cante alentejano
É base de inúmeras receitas e utilizada no define e
fabrico de enchidos e presuntos, com um identifica a
sabor e qualidade excecionais decorrentes
da singularidade das carnes produzidas a alma deste
que se aliam os modos de produção ances- povo – a sua
trais. Elemento omnipresente na gastro-
nomia alentejana, podemos destacar, en- autenticidade é
tre muitos outros, os chouriços de carne a maneira mais
de Mértola, o palaio e as chouriças pretas sublime que o
de Mértola, a Linguiça do Baixo Alentejo
– IGP, o Paio de Beja – IGP, bem como o Alentejo tem de
presunto e Paleta do Alentejo – DOP. se mostrar ao
Na doçaria há que distinguir a de ori-
gem conventual, de que são exemplo em mundo.”
Beja as Trouxas de Ovos, doces seculares
da região, designadamente no tradicional criados pelas religiosas do antigo Con-
Ensopado de Borrego, degustado sobretu- vento de Nossa Senhora da Conceição,
do na época pascal. ocupado hoje pelo museu regional Rai-
Um dos ex libris desta zona é o Cozido nha D.ª Leonor, bem como os Pastéis de

207
de Grão, que faz parte do imaginário gas- Toucinho, os Pastéis de Santa Clara e o
tronómico da região de Beja. Surgiu, há Bolo de Bom Gosto todos do Convento


cinco anos, um evento que se tem vindo da Esperança, o Bolo Príncipe de Beja, as
a afirmar no panorama gastronómico re- Queijadas de Requeijão, bem como o Bolo
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
gional e nacional que se realiza em outu- de Amêndoa do Convento da Vidigueira.
bro, denominado “Festival Gastronómi- Mas são muitos os pequenos estabeleci-
co do Grão”. Este evento vem dar corpo mentos de cariz familiar que se dedicam
a uma tradição rural do consumo desta à produção de biscoitos e bolos regionais,
leguminosa na nossa região associado aos dos quais se destacam, entre os mais co-
trabalhos no campo. Mais recentemente nhecidos, costas, popias (simples, brancas
é habitual servir-se o Cozido de Grão em ou caiadas, ou de espécie), pastéis de grão,
eventos ligados aos grupos corais e que bolos de mel, bolos folhados, escarpiadas
acaba por servir de repasto para os inter- e o Porquinho de Doce.
venientes nesses convívios em torno do
cante coral alentejano.
O Cozido de Grão é confeciona-
do à base de carne de porco, sendo que
sopas
Açorda À Alentejana

INGREDIENTES

3 a 4 dentes de alho
1 molho pequeno de coentros ou poejos
Sal grosso q.b.
1,5 l de água
3 a 4 ovos O pão tem especial
1 dl de azeite
relevância na
Pão alentejano (duro)
cozinha tradicional
alentejana onde
PREPARAÇÃO Deitam-se os coentros ou os poejos e
alhos esmagados numa terrina ou tigela é um ingrediente
Esmagam-se os alhos com os coentros funda,. predominante e
ou poejos e o sal grosso num almofariz. imprescindível em
Junta-se o azeite e de seguida, mistu-
Coloca-se a água ao lume, com um pou- ra-se a água onde os ovos foram cozidos, muitos dos pratos da
co de sal, até ferver. ainda a ferver, ou bem quente. região como açordas,
Quando começar a ferver, deitam-se os Regam-se as fatias de pão alentejano migas, gaspacho,
ovos lá dentro com muito cuidado, para (duro), servem-se os ovos escalfados e, ensopados e muitos
não se desmancharem, e deixam-se escal- passados 3 a 5 minutos, está pronta a co- outros, incluindo
far durante 3 a 5 minutos. mer.
alguma doçaria.”
208

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne
Cozido de Grão

INGREDIENTES Noutra panela, põem-se as carnes e os


enchidos a cozer durante mais ou menos
250 g de grão 1 hora.
100 g de cenouras Sabia que...
50 g de batatas Depois das carnes estarem bem cozidas, O grão chegou a Portugal na
1 fatia de abóbora-menina tira-se um pouco de água das carnes e le- época dos descobrimentos e de-
200 g de carne de porco (ou borrego) vam-se aí a cozer as batatas cortadas aos sempenha um papel importante
100 g de toucinho quartos, a cenoura, e a abóbora-menina. na gastronomia desta região.
1 chouriço de sangue Antigamente era apanhado à
1 linguiça Junta-se o grão e um pouco de água do mão por um rancho de mulhe-
1 farinheira branca grão. Põe-se a hortelã para dar gosto. res pela madrugada, mas com a
200 g de pão caseiro chegada da mecanização essa
Sal grosso q.b. À parte, cortam-se as carnes e servem-se tarefa deixou de ser efetuada,
Hortelã da horta numa travessa. dando lugar às ceifeiras mecâ-
nicas que são utilizadas na ceifa
Corta-se o pão caseiro às fatias e põe-se dos trigais.
PREPARAÇÃO numa terrina a hortelã e o caldo por cima.
Este caldo com o pão come-se juntamente
Põe-se de molho o grão em água de um com as carnes.
dia para o outro. Coze-se o grão na panela
de pressão.

209

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne carne
Migas com Entrecosto Ensopado
de Borrego

INGREDIENTES INGREDIENTES
PREPARAÇÃO
800 g de entrecosto 1,5 kg de borrego
200 g de toucinho com febra No dia anterior, tempera-se o entrecos- (parte da mão e costelas)
Calda de pimentão to e o toucinho com calda de pimentão. Batatas q.b.
2 folhas de louro 2 cebolas
8 dentes de alho Numa frigideira frita-se o toucinho e 3 dentes de alho
Pão alentejano, duro, de 2 dias o entrecosto em azeite. Depois de frito, 1 molho de salsa pequeno
Sal grosso q.b. tira-se para uma travessa. 2 folhas de louro
Azeite q.b. Cravinho q.b.
No azeite onde se fritou a carne, colo- Pimenta q.b.
ca-se o pão em fatias finas. Sal grosso q.b.
Pimentão da horta
Acrescenta-se um pouco de sal e vai-se Azeite alentejano
colocando a água pouco a pouco. 1 cálice de vinho branco
alentejano
Com uma colher de pau vai-se amas- 1 colher de sopa de vinagre
sando o pão, enrolando-o para que tome Fatias de pão alentejano
a forma de rolo.

Serve-se no prato com o entrecosto e o PREPARAÇÃO


toucinho em volta.
Num tacho de barro colo-
ca-se o azeite q.b. e o borrego
já em bocados e, por cima, co-
locam-se todas as especiarias.
210

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces
Trouxas de ovos

Deixa-se refogar, junta-se 1 INGREDIENTES


cálice de vinho branco e água
q.b. 18 gemas
2 claras
Deixa-se cozer o borrego. 1 kg de açúcar
3 dl de água
Quando o borrego estiver
quase cozido misturam-se-lhe
as batatas aos quartos e 1 co- PREPARAÇÃO
lher de sopa de vinagre.
Leva-se o açúcar ao lume com 3 dl de Borrifa-se a calda com água fria, sempre
Depois é só deixar ferver em água e deixa-se ferver até fazer ponto de que for necessário para manter a densida-
fogo lento para que o borre- fio. de do xarope, e coze-se toda a mistura de
go e as batatas possam cozer e ovos do mesmo modo.
apurar. Entretanto, misturam-se as gemas com
as claras, apenas para ligar os 2 elementos Para armar as trouxas, sobrepõem-se
Está pronto a servir sobre e passam-se por um passador de rede fina. duas placas, ficando a parte brilhante vi-
fatias de pão alentejano. rada para baixo.
Estando o açúcar em ponto de fio, reti-
ra-se o tacho do lume, deita-se imediata- Aparam-se os lados com uma faca e co-
RITOS E HÁBITOS mente no meio um pouco de mistura de locam-se as aparas sobre o meio das pla-
ovos (um cálice pequeno). cas.
Na região de Beja é usual as
famílias irem comer o borrego Leva-se o tacho a lume forte, e com Enrolam-se as trouxas na forma tradi-
para o campo na 2.ª Feira de uma escumadeira espalha-se a mistura de cional.
Páscoa. modo a formar uma placa muito fina, com
o formato semelhante a um crepe. Servem-se regadas com calda de açúcar.

Retira-se a placa logo que os ovos te-


nham coagulado e coloca-se sobre uma
peneira, a escorrer.

211

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
ALENTEJO SUDOESTE

imagem de marca é o porco tradicional comunidades. Aqui se encontra a ovelha


alentejano. Campaniça, uma raça local, de extraordi-
A maioria das atividades rege-se por nária resistência às condições agrestes do
uma aposta na qualidade ambiental, meio, cuja carne é utilizada na confeção
mais-valia muito cotada atualmente, e a de diversos pratos típicos como o Enso-
estratégia de desenvolvimento estrutu- pado de Borrego.
ra-se em torno da preservação e melhoria O leite da ovelha Campaniça é de ele-
das características naturais, fator de iden- vado rendimento em queijo, sendo uti-
tidade e distinção do território. lizado tradicionalmente no fabrico do
queijo Serpa, sendo que este território se
Património integra na área geográfica de produção do
Queijo Serpa – DOP. Este queijo possui
Gastronómico aroma forte, sabor picante e característi-
cas únicas que se devem ao clima, aos so-
O pão, a carne de porco e seus derivados, los e às pastagens. Trata-se de um queijo
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a caça, os produtos hortícolas, bem como curado, com pasta semimole amanteigada
as plantas e frutos silvestres comestíveis e e poucos ou nenhuns olhos.
o mel constituem a matriz em que assenta Esta é a região portuguesa onde a cul-
a gastronomia desta região. tura cerealífera continua a ter maior ex-
Este território é propício à criação de pressão. Assim, a importância do pão na
suínos, destacando-se o Porco Alente‑ gastronomia do território está bem paten-
jano, raça com habitat natural a Sul de te em especialidades locais que integram
Portugal, abrangendo toda a região Alen- vários tipos de sopas e açordas, como a
Caracterização tejana. A exploração é feita em sistema de Açorda de alho, a Açorda de Beldroegas,
histórica e regime extensivo, sendo a engorda feita
no montado, onde as bolotas servem de
a Açorda de carrasquinhas, a Açorda de
perdiz, as famosas Migas e o Gaspacho.
Geográfica repasto, originando um tipo de gordura Na diversificada gastronomia do ter-
intramuscular saudável, o que dá origem ritório, há também a registar a Sopa de
O território do Alentejo Sudoeste cor- a produtos tradicionais únicos, qualifica- Beldroegas com Queijo Fresco que é
responde à zona de intervenção do GAL dos com DOP e IGP. Para além dos pratos um dos pratos mais apreciados de todo
Al Sud, gerido pela ESDIME – Agência típicos da região, o Porco Alentejano é uti- o Alentejo. A alimentação do Alentejo é
para o Desenvolvimento Local no Alen- lizado no fabrico de enchidos e presuntos, fundamentalmente sazonal pelo que, nas
tejo Sudoeste. Integra 32 freguesias de em cuja produção se utilizam os melho- épocas em que não há beldroegas, esta
212

seis concelhos – Aljustrel, Almodôvar, res “temperos” sigilosamente preserva- sopa pode ser confecionada com espina-
Castro Verde, Ferreira do Alentejo, Ode- dos como se de um tesouro se tratasse de fres ou mesmo com alface quando esta já

mira e Ourique – do Baixo Alentejo (26) e forma a manter os sabores tradicionais. não é muito tenra. É conhecida a expres-
Alentejo Litoral (6). Os tempos de “cura” também se revelam são “no Alentejo, com qualquer erva se
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Grande parte da região (mais de 3000 fundamentais para atingir a excelência de faz uma sopa”. Destaca-se a Sopa de Peixe
km2) é constituída por extensas planícies. cada produto. A fim de dar visibilidade com Ervas Aromáticas, também chamada
Aqui se situa a região de Campo Branco, a este produto realiza-se o evento “Ouri- caldo de peixe, que utiliza os temperos da
terras chãs claras que na primavera se que: Capital do porco alentejano” região, bem como variados peixes que se
cobrem de flores brancas. A agricultura, Este território integra uma vasta zona pescam nos caudais do Sado e Mira e suas
o comércio, a restauração e a constru- de caça pelo que a carne de caça está forte- ribeiras.
ção civil são os setores com maior peso mente representada na gastronomia local, Em tempos antigos as ervas comestí-
económico e maior empregabilidade. realizando-se mesmo uma Semana Gas- veis silvestres constituíam, a par do pão, a
O subsetor das indústrias alimentares tronómica da Caça. A título de exemplo, base alimentar dos mais pobres. Colhidas
apresenta uma forte heterogeneidade e é existe, em Almodôvar, a Sopa de Lebre e da terra pelos homens e mulheres do cam-
constituído principalmente por pequenas a Açorda de Perdiz. po, sustentavam famílias inteiras, garan-
empresas, destacando-se a produção de Tradicionalmente, a pastorícia ocu- tindo assim a sobrevivência num período
queijos e a produção de enchidos, cuja pa um lugar de destaque na vida destas em que o conduto era quase inacessível
aos estratos sociais mais baixos. Acelgas,
catacuzes, espargos e carrasquinhas são
algumas das espécies mais frequente-
mente usadas. Os talos das carrasquinhas
utilizam-se muito na cozinha tradicional
alentejana, na confeção de sopas, açordas
ou outras iguarias como as Carrasqui‑
nhas com Feijão Branco e Bacalhau.
A abóbora gila (ou chila) é também
muito frequente neste território e a sua
utilização na culinária confina-se à do-
çaria, estando o doce de gila presente em
inúmeras iguarias, como os Folhados de
Gila, característicos da zona de Castro
Verde. É também possível encontrar bo-
los de gila noutros locais da região como,
por exemplo, nos ferreirenses (bolos de
amêndoa e gila tradicionais de Ferreira
do Alentejo) ou nos bolos de gila de Al-
modôvar. Bolos confecionados com mel
ou com requeijão são também caracterís-
ticos desta zona.

213

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

No Alentejo,
com qualquer
erva se faz
uma sopa.”
entradas
Tiborna de Presunto
de Porco Alentejano

INGREDIENTES

Para 2 pessoas:
2 fatias de pão
Azeite q.b.
1 tomate médio
1 dente de alho
80 g de Presunto Santana da Serra – IGP

PREPARAÇÃO

Coloca-se um fio de azeite sobre o pão


previamente torrado e barra-se com um
dente de alho.

De seguida, esfrega-se com o tomate e


polvilha-se com orégãos secos.

Para terminar, coloca-se o presunto pi-


cado em cima da fatia de pão já preparada.

Receita cedida pelo Chef Sandro Martins.

O Porco Alentejano
214

é utilizado no
fabrico de enchidos

e presuntos, em
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

cuja produção
se utilizam os
melhores “temperos”
sigilosamente
preservados como
se de um tesouro se
tratasse de forma a
manter os sabores
tradicionais.”
sopas peixe
Sopa de Carrasquinhas com Feijão
Espinafres Branco e Bacalhau
com Queijo
Fresco
INGREDIENTES INGREDIENTES

8 dentes de alho picados 4 dl de feijão branco


1½ dl de azeite 4 postas de bacalhau
1 l de água 2 molhos de carrasquinhas
800 g de espinafres 1 cebola
1 molho de coentros picados 2 dentes de alho
6 queijos frescos 1 molhinho de coentros
Sal q.b. 2 dl de azeite
1 folha de louro
Sal q.b.
PREPARAÇÃO 1 dl de vinagre
Pão q.b.
Aloiram-se ligeiramente os
alhos no azeite e acrescenta-se
1 litro de água. PREPARAÇÃO

Quando a água começar a Depois de demolhado, coze-se o feijão à


ferver, juntam-se os espinafres parte; coze-se também o bacalhau à parte.
e deixam-se cozer ligeiramen-
te (cerca de 2 minutos). Depois de limpas e arranjadas, escal-
dam-se as carrasquinhas.
Tempera-se com sal e jun-
tam-se os coentros picados. De seguida, já com água limpa, jun-
tam-se os seguintes ingredientes: carras-
Antes de servir, juntam-se quinhas; cebola, alhos e coentros (pica-
os queijos frescos e aquece-se dos); azeite; louro; sal e deixe cozer.
a sopa sem a deixar ferver.
Junta-se depois o feijão, o bacalhau e o
Receita cedida vinagre, deixa-se sobre o lume para mais
por Isabel Bangula. uma ligeira cozedura para tomar gosto, e
está pronto a servir.
Sabia que...

215
“Carrasquinhas são cardos
rasteiros selvagens cujos talos
SUGESTÃO


(jovens e tenros) são, ainda,
muito usados na cozinha tra-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
O caldo serve-se junto ou à parte, se pre- dicional alentejana. Nascem de
ferir com sopas de pão. forma espontânea em campos
de searas ou de pousio. São hoje
Receita cedida por José João Cavaco. mais comuns em terrenos de
pousio devido à aplicação atual
de produtos químicos. Como
as restantes ervas comestíveis
selvagens são recolhidas entre
finais de dezembro e princípios
de abril.”
carne
Bochechas de porco
Alentejano à Caçador

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Para 6 pessoas: Refoga-se a cebola picada numa panela


18 bochechas de porco com o azeite e os alhos picados.
2 kg de tomate pelado
300 g de cebola picada Em seguida juntam-se as bochechas li-
300 g de cebolas pequeninas bertas de pelos e gorduras.
300 g de barriga fumada (bacon)
300 g de cogumelos laminados Adiciona-se o tomate triturado e o cal-
3 cebolas às rodelas fininhas do de carne e deixa-se ferver, mexendo de
1 dl de azeite vez em quando.
2 dl de caldo de carne
600 g de batata frita às rodelas finas Tempera-se de sal, pimenta preta e
1 l de vinho branco seco noz-moscada a gosto, adiciona-se 7 dl de
1 colher de sopa de alhos picados vinho branco e deixa-se cozinhar.
1 molho de grelos frescos
100 g de pão do dia anterior aos De seguida, fritam-se as batatas em ro-
quadradinhos delas finas e reservam-se.
1 dl de óleo para fritar
Receita cedida pelo Chef Jacinto Pires. Sal e pimenta preta q.b. Salteiam-se os cogumelos juntamente
com o bacon e as cebolinhas pequenas e
reservam-se.

Fritam-se os quadradinhos de pão e re-


servam-se.

Cozem-se os grelos, escorrem-se e sal-


teiam-se em azeite e um dente de alho pi-
cado, temperando de sal e pimenta preta.

De seguida, deita-se 1 dl de óleo numa


frigideira e junta-se a cebola às rodelas fi-
216

ninhas, deixa-se alourar.


Adiciona-se o restante vinho branco


deixando ferver; adiciona-se uma pitada
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

de açúcar e verte-se sobre as batatas fritas


às rodelas.

Empratamento:

Coloque 3 bochechas num prato com o


molho, coloque por cima parte do bacon
com as cebolinhas e os cogumelos e o pão
frito.

Acompanhe ao lado com os grelos saltea-


dos e as batatas fritas às rodelas cobertas
com o molho de cebola.
doces
doce de gila Folhados
de Gila

INGREDIENTES INGREDIENTES

Abóbora gila 1 kg de farinha


Dicas e Açúcar 25 g de fermento de padeiro
Truques 250 g de banha
250 g de açúcar
A abóbora gila não deve ser cor- PREPARAÇÃO Água
tada com faca nem deve usar-se Sal
qualquer instrumento metálico: Lava-se a gila e parte-se. Tiram-se-lhe Doce de gila
atira-se ao chão para a abrir as pevides e coze-se mesmo com a casca.
(eventualmente dentro de um
saco de pano para não sujar o Depois de cozida, tira-se do tacho com PREPARAÇÃO
chão) e a separação das pevides uma colher de pau, tiram-se as “tripas”,
e das “tripas” também é feita lava-se em três águas e desfaz-se com as Junta-se à farinha o açúcar, 200 g de ba-
com as mãos. A quantidade de mãos. nha derretida e um pouco de água morna
fermento depende do tempo: se (suficiente para se obter uma massa que se
o tempo estiver quente, deita-se Junta-se o mesmo peso de açúcar (ou possa trabalhar).
menos fermento. um pouco menos, conforme o gosto) e de
gila, leva-se ao lume e mexe-se até estar Dissolve-se o fermento num pouco de
no ponto. água tépida e junta-se à massa anterior e
amassa-se.

Depois de bem amassada, deixa-se a


descansar um bocadinho e estende-se
com um rolo numa tábua untada com
óleo, até ficar muito fina e corta-se a mas-
sa em tiras que se vão enrolando à volta
do rolo ou de um pau, untando com mais
um pouco de banha, se esta for dura (caso
contrário, junta-se um pouco de marga-
rina).

217
Quando o rolo de massa tiver o diâme-
tro desejado, retira-se o pau, ajeita-se o


rolo de massa, dando-lhe uma forma re-
gular e corta-se com um fio.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
A seguir, metendo 2 dedos no centro
dos rolos de massa, alarga-se um pouco e
recheia-se com doce de chila.

Depois de enrolados e recheados, põem-


-se os folhados num tabuleiro e levam-se
ao forno a cozer durante 30 minutos.

Depois de cozidos são passados por açú-


car.

Receita cedida por Maria Alexandrina Baião.


território
ALTO ALENTEJO

sobretudo pelos amantes dos desportos


náuticos.
Apesar de se tratar de uma região de O património
transição entre o Ribatejo, o Alto Alente- gastronómico reflete
jo e a Beira Baixa, o território apresenta
globalmente maiores afinidades com o muito diretamente o
Alentejo. A paisagem é, contudo, domi- sistema de ocupação
nada por povoamentos florestais, nomea-
damente montados de sobreiro e azinhei- deste território.”
ra, de grande importância económica,
nomeadamente no setor da indústria da
cortiça.
A agricultura e a pecuária também de- o Achigã Grelhado, o Achigã com Açorda
sempenham um papel relevante na eco- de Ovas, a Fataça Grelhada, o Lúcio-per-
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nomia do território. Nos terrenos mais ca Grelhado, as Enguias Fritas, o Ensopa-


férteis dos vales dos principais cursos de do de Enguias, o Arroz de Lampreia, a
água desenvolvem-se as culturas do mi- Fritada Mista, o Sável Frito, a Açorda de
lho, tomate e arroz. A pecuária extensiva Ovas com Lúcio-Perca, a Sopa de Cação e
em regime de manadio é dominante so- Carpa Assada.
bretudo no que diz respeito a bovinos e Esta é uma zona onde os pratos guar-
ovinos. dam sabores familiares, de ressonâncias
O património natural, histórico e cul- alentejanas onde ovinos e caprinos se
tural constitui uma das maiores potencia- apresentam à mesa em pratos tão tradi-
Caracterização lidades do território. cionais como o Cabrito Assado no For‑
histórica e no, o Borrego Estufado, o Ensopado de

Geográfica Património Borrego, o Ensopado de Borrego com


Arroz Amarelo, prato típico de Alter do
Gastronómico Chão, confecionado com carne de borrego
O território corresponde à zona de e arroz de açafrão, e o Sarapatel uma sopa
intervenção do GAL LEADERSOR O património gastronómico reflete muito feita à base de miúdos do borrego, sangue
– Associação para o Desenvolvimento diretamente o sistema de ocupação deste e pão.
Rural Integrado do Sôr. Integra seis con- território, intimamente relacionado com A caça é outro dos ingredientes de
celhos do Alto Alentejo: Alter do Chão, a paisagem e com as suas componentes fi- acentuado significado na alimentação
218

Avis, Fronteira, Mora, Ponte de Sôr e siográficas e geológicas. As inter-relações deste território. Pratos típicos como os
Gavião. entre o sistema natural e o alimentar são Lombinhos de Javali, as Migas de Es‑

O território toma como referência aqui particularmente explícitas. Esta é pargos, o Arroz de Lebre, a Lebre com
duas albufeiras: Montargil, situada na uma região recortada por uma densa rede Feijão Branco, a Lebre (ou coelho bravo)
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

margem direita da ribeira de Sôr, com de linhas de água tributárias das bacias Assada no Forno com Arroz, fazem parte
uma extensão de quase 20 km, desde as hidrográficas, designadamente do rio Sor das muitas iguarias que dão fama à mos-
proximidades de Ponte de Sôr até às ime- e, do Sorraia. Por outro lado, o seu signi- tra gastronómica de caça, que se realiza
diações da vila com o mesmo nome; e ficativo povoamento florestal é propício anualmente no início de dezembro em
Maranhão, que se desenvolve desde Seda à caça e à pecuária extensiva. Podemos, Mora. Os restaurantes locais apresentam
(perto de Alter do Chão) até ao lado sudo- pois, dizer que a matriz da alimentação mais de 60 receitas que traduzem a rique-
este da sede do concelho de Avis, numa nesta zona assenta nos peixes de rio, na za e diversidade dos recursos cinegéticos
extensão de cerca de 40 km, e alimentada caça e na carne de bovinos e ovinos. da região, podendo degustar-se especia-
pelas ribeiras da Seda, de Avis e da Raia. A atividade da pesca constitui um fa- lidades como Pombo Bravo à Dona Bia,
As duas barragens foram construídas tor muito representativo no sistema ali- Canja de Pombo Bravo, Ensopado de Ve-
nos anos 1950 para irrigar os campos do mentar da região, dando origem à criação ado, Veado com Castanhas, Empadas de
Vale do Sorraia e ambas são, atualmente, de muitos dos seus pratos emblemáticos, Caça, Peito de Pato Bravo com Mostarda,
muito procuradas como zonas de lazer, como a Sopa de Peixe, a Sopa de Achigã, e Açorda de Perdiz.
Esta zona integra também a área ge- Chão que o chamado açafrão bastardo ga- ao reinado de D. Manuel I e que marcava
ográfica de produção (nascimento, cria nha estatuto, servindo de base à confeção o calendário do povo. Este evento tem a
e abate dos animais) da Carne da Char‑ do saboroso arroz amarelo que acompa- particularidade de contar com a partici-
neca – DOP, obtida a partir de bovinos nha o tradicional ensopado de borrego. pação de dezenas de produtores e comer-
da raça Preta (Gado da Terra), com que se Neste território podemos encontrar ciantes que apresentam os primeiros fru-
preparam pratos tradicionais, com desta- alguns dos melhores queijos tradicionais tos secos do ano.
que para a Costeleta de Novilho e o Bife portugueses. Assim, na Gastronomia de De salientar, ainda, o mel produzido
de Novilho. Fronteira destacam-se o Queijo Mestiço no concelho do Gavião, e em Avis a pro-
A criação de porcos de Raça Alenteja- de Tolosa – IGP, produzido de forma ar- dução de vinhos e os tradicionais licores
na dá lugar à confeção de pratos de que se tesanal a partir dos leites de ovelha e de de poejo, tangerina e bolota.
podem citar, entre outros, as Febras Re- cabra (daí o chamar-se de “mestiço”). A Na doçaria deste território desta-
cheadas de Mora, os Assalhões, os Lom- área geográfica de produção do Queijo cam-se os Doces de Amêndoa e de Gila, o
betes Assados com Miga da Cozinha, as de Nisa – DOP integra o concelho de Al- Bolo da Bacia, o Bolo de Mel e o Bolo Ci-
Migas de Batata com Entrecosto, a Sopa ter do Chão e o Queijo de Évora – DOP gano, em Ponte de Sor, a Boleima, o Nó-
de Cachola, os Pezinhos de Coentrada, a produz-se também em Avis, Fronteira e gado, as Azevias, as Cavacas e as Costas,
Orelha de Coentrada e o Sarrabulho. Esta Mora. em Avis, as Filhós, os Bolos de Folha e os

219
é também área de produção do muito De salientar é também os Azeites do Ramos de Fronteira, em Fronteira.
apreciado Lombo Branco de Portalegre Norte Alentejano – DOP, obtido por


– IGP. processos mecânicos a partir de azeitonas
Tendo por base alguns dos produtos das variedades Galega, Blanqueta e Co-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
hortofrutícolas da zona, encontramos brançosa.
receitas típicas como as Migas de Feijão Em Avis, até meados da década de oi-
com Couve e Bacalhau Assado, o Feijão- tenta do século XX, realizava-se a Festa Sabia que...
-frade da Margem com Bacalhau Assado das Colheitas, festividade que assinalava Desde 2011 a Câmara Municipal
e ainda as mais tradicionais do Alentejo o final do ano agrícola, baseando-se na de Alter do Chão promove
como a Açorda Alentejana, o Gaspacho, cultura popular local e cruzando factos a Semana Gastronómica do
as Migas de Espargos com Carne Frita e religiosos e pagãos. Tratava-se de uma ce- Açafrão, durante a época pascal.
a Sopa Seca. rimónia que originalmente decorria nos Durante esta semana os restau-
Deve ainda referir-se a especificida- campos, mas foi sendo levada para os es- rantes aderentes confecionam
de do uso do açafrão, particularmente na paços públicos nas localidades. Esta feira diferentes pratos em que o
culinária, apesar de testemunhos remotos foi substituída pela atual Feira Franca. açafrão (cultivado no jardim do
atestarem a sua utilização sobretudo na Deve-se lembrar a tradição da Feira Álamo em Alter do Chão) deverá
tinturaria. Mas é somente em Alter do de outubro em Ponte de Sor que remonta ser o ingrediente em destaque.
peixe
Arroz de Lampreia

Colocam-se as postas da lampreia a


INGREDIENTES marinar, adicionando-lhe os 2 vinhos,
os dentes de alho, o alho francês e a sal-
1 lampreia sa (tudo bem picado), o louro quebrado,
3 cebolas grandes a pimenta, o cravo e a noz-moscada, e 1
1 dl de azeite extra virgem pitada de sal, durante 6 horas.
2 dentes de alho
2 alho francês Num tacho, faz-se um refogado com o
1 ramo de salsa azeite e a cebola cortada em dados, não
1 folha de louro muito puxado.
1 raspa de noz-moscada
1 cravo-da-índia Quando a cebola ganhar um pouco de
Pimenta preta cor, juntam-se-lhe as postas da lampreia e
Neste território 1 l de bom caldo de carne deixamos refogar durante cerca de 10 mi-
2 dl de vinho do Porto
podemos encontrar nutos em lume médio.
5 dl de vinho verde tinto
alguns dos melhores 400 g de arroz carolino De seguida, junta-se o que ficou da ma-
queijos tradicionais rinada, devendo continuar a refogar tam-
bém em lume médio, durante mais 10 mi-
portugueses. PREPARAÇÃO nutos.
Em Fronteira
destaca-se o Queijo Colocar a lampreia viva numa bacia e Junta-se, então, o vinho da marinada e
escaldar rapidamente com água a ferver. aumenta-se um pouco a potência do fogo.
Mestiço de Tolosa
– IGP, produzido de Retirá-la e raspar com uma faca e de- Verifica-se se a lampreia está cozida e
pois com um pano de estopa ou com um retira-se, deixando o restante reduzir, em
forma artesanal a esfregão grosso por forma a retirar-lhe fogo brando, cerca de 30 minutos.
partir dos leites de toda a substância viscosa.
ovelha e de cabra (daí
Tirar-lhe os dentes e lavar com água
chamar-se ‘mestiço’).” fria abundantemente.

Limpá-la com um pano e pendurá-la


220

pela cauda colocando por baixo uma tige-


la com o vinho para aparar o sangue que

escorrer.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Fazer um corte vertical na parte ante-


rior à boca e ao longo dos 3 últimos orifí-
cios inferiores e retirar a espinha.

Fazer outro golpe em redor do orifício


anal e puxar a tripa com cuidado para que
saia inteira e sem rebentar.

Retirar também o fígado e muito cuida-


dosamente o fel.

Cortar às postas sem contudo as separar.


carne
Migas de Espargos
com Carne Frita

Retira-se do fogo e tritura-se com a va-


rinha elétrica até obter uma solução cre- INGREDIENTES Deitam-se os espargos esmagados numa
mosa. pequena tigela, juntam-se os ovos intei-
1 molho de espargos frescos ros, o vinagre e a pimenta. Bate-se tudo
De seguida, adiciona-se a quantidade 3 dentes de alho junto.
de caldo de carne previamente aquecido 1 folha de louro
necessário para a cozedura do arroz. 6 ovos A seguir, desfaz-se o miolo do pão.
Vinagre q.b.
Quando levantar fervura, adiciona-se o 1 pitada de pimenta Coloca-se novamente o tacho ao lume
arroz e faz-se correção de sal. 400 g de carne de porco e frita-se, na banha de carne (a gordura
Pimentão onde esteve a fritar a carne), os dentes de
A meia cozedura do arroz junta-se o Alho alho e a folha do louro. Junta-se o pão e
sangue da lampreia. Sal mexe-se com a ajuda de uma colher de
3 colheres de sopa de banha de porco pau.
Quando o arroz estiver cozido junta-se Sal para a cozedura dos espargos
então a lampreia e serve-se de seguida, 500 g de pão (de preferência duro) De seguida, junta-se o preparado dos
com calda abundante. espargos, mexe-se com a colher, sempre
sobre chama branda, até as migas ficarem
PREPARAÇÃO secas.

Cortam-se os espargos aos pedaci- As migas de espargos devem ficar secas


nhos (as cabeças e o talo mais tenrinho), e soltas. Retira-se a folha de louro.
põem-se a cozer numa panela em água
temperada com sal.
SUGESTÃO
Entretanto, num tacho, frita-se a carne,
que foi previamente temperada com sal, Este prato serve-se quente acompanhado
alho e pimentão, com a banha de porco. pela carne frita.
Depois de frita, retira-se do tacho.

Quando os espargos estiverem cozidos,


escorrem-se e esmagam-se com a ajuda de
um garfo.

221
A atividade da

pesca representa
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
um fator muito
representativo no
sistema alimentar da
região, dando origem
à criação de muitos
dos seus pratos
emblemáticos.”
carne doces
Cabrito assado no Forno Boleima

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

1 cabrito Faz-se uma papa com alho pisado, sal 500 g de farinha
2 cabeças de alho e pimentão e barra-se com ela o cabrito. 200 g de açúcar amarelo
Cebolas Canela q.b.
5 cabeças de cravo-da-Índia No dia seguinte, cobre-se o fundo de 3 ovos
Louro uma assadeira com cebola cortada em ro- 2 dl de azeite ou óleo
Salsa delas grossas. Coloca-se por cima o cabri- 2 dl de leite, café ou leite com café
Sal to. raspa de limão (opcional)
Pimentão 1 colher de café
1 l de vinho branco Rega-se com vinho, juntam-se os res- de fermento em pó
Lascas de toucinho tantes ingredientes.
Azeite
Por cima do cabrito colocam-se as las- PREPARAÇÃO
cas de toucinho.
Mistura-se tudo muito bem, depois ba-
Leva-se a assar, de preferência em forno te-se com a mão de modo a envolver, fa-
de lenha. zendo uma massa homogénea e compacta.

Unta-se previamente um tabuleiro com


SUGESTÃO óleo ou azeite, e deita-se a massa.
Esta é uma zona onde
os pratos guardam Pode acompanhar-se com batatas assadas Seguidamente, com as costas de uma
em quartos. faca, dá-se uns golpes na massa superfi-
sabores familiares, cialmente, não profundos.
de ressonâncias
Primeiro, efetua-se o corte ao alto e de-
alentejanas.” pois atravessado.

Espalha-se por cima açúcar amarelo e


canela, de modo a cobrir a superfície da
massa no total.
222

Vai ao forno quente, cerca de 40 minu-


tos, até estar alourado.


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Dicas e
Truques
Para melhor verificação da co-
zedura da massa espeta-se-lhe
um palito e, se este sair seco,
está pronto.
doces doces
Bolo de Mel Bolos
de Folha

INGREDIENTES INGREDIENTES

7 ovos 500 g de farinha


250 g de açúcar 100 g de massa de pão
250 g de farinha de trigo 70 g de açúcar
2 dl de azeite 3 dl de chá de erva-doce
3 colher de sopa de mel 50 g de manteiga
1 colher de chá de fermento 250 g de banha
em pó açúcar para polvilhar
1 colher de chá de erva-doce
1 colher de chá de canela
em pó PREPARAÇÃO
Limão em raspa
Nozes (miolo) q.b. Desfaz-se o pão em massa com o chá
Pinhões q.b. de erva-doce; mistura-se a farinha e a
massa de pão e amassa-se.

PREPARAÇÃO Junta-se o açúcar e a manteiga derre-


tida e trabalha-se a massa muito bem.
Batem-se muito bem as ge-
mas dos ovos com o açúcar, o Tiram-se bocadinhos de massa do
azeite e o mel (batedeira elétri- tamanho de um ovo, que se vão sovan-
ca durante 15 minutos). do na pedra da mesa.

Depois de tudo muito bem Forma-se um cordão muito estreito


batido, junta-se a canela, a er- e comprido.
va-doce e a raspa do limão.
Com a pedra da mesa sempre untada
Seguidamente, mistura-se a generosamente com banha derretida,
farinha com o fermento, en- estende-se o cordão com o rolo unta-
volvendo bem, alternando do, puxando ao mesmo tempo a massa
com as claras batidas em cas- até ficar uma língua fina como papel

223
telo bem firme. (este trabalho é feito sempre com a
massa nadando em gordura).


Por fim, envolvem-se os fru-
tos secos partidos aos bocadi- Enrolam-se os fios em 2 dedos e esti-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
nhos. cam-se, fazendo-os rodar, para formar
um retângulo.
Vai ao forno em tabuleiro
bem untado e polvilhado de Colocam-se em cima dum papel un-
farinha (forno médio 170 ºC) tado com banha e deixam-se a descan-
durante mais ou menos 30 mi- sar cerce de 3 horas.
nutos.
Vão a cozer em forno forte; ao sair
Verificar com um palito se do forno, polvilham-se com açúcar.
está cozido.
território
ALENTEJO CENTRAL

oferece, hoje fortemente influenciados de pão. Exemplo disto é o Caspacho (ou


pelo grande lago do Alqueva. Gaspacho), sopas de pão frias, muito con-
Habituada a um certo isolamento, a sumidas durante os verões rigorosos do
gente desta região tornou-se profunda- Alentejo. O Caspacho pode ainda servir
mente criativa na gastronomia, cultura, para acompanhar carne ou peixe, sobre-
poesia, e no cante. tudo sardinhas assadas ou carapaus fritos.
Sobre as origens desta receita Francisco
Património Manuel Sabino, Chanceler da Confraria
Gastronómica do Alentejo, adianta que
Gastronómico “O Caspacho era uma refeição frugalíssi-
ma, servida no rigoroso estio alentejano,
A gastronomia deste território é bastante no fim dos longos dias de árduo e áspero
diversificada, destacando-se em entradas trabalho nas ceifas e debulhas dos trigos,
e petiscos, diversos pratos de peixe ou car- cevadas e centeios, que tinham lugar no
WWW.MONTE-ACE.PT

ne, incluindo carne de caça e também a Alentejo, entre os meses de junho e o São
doçaria, passando pelos excelentes vinhos Mateus. (…) Esta receita que data do iní-
da região. cio do século XX pode, contudo, presu-
Nos petiscos destacam-se as Cilarcas mir-se ter tido origem um século antes,
com Ovos. Existem muitas espécies de altura em que se começa a generalizar o
cogumelos silvestres, como é o caso das consumo do tomate pela população”.
cilarcas, cogumelos que se distinguem Um peixe muito utilizado na gastro-
por serem mais pesados e por se desen- nomia alentejana é o cação, presente em
volverem completamente debaixo da ter- iguarias como a Sopa de Cação ou o Ca‑
Caracterização ra, podendo ser encontrados e apanhados ção Alimado (de coentrada). Francisco
histórica e entre fevereiro e abril, caso as condições
climatéricas sejam favoráveis. Sobre a
Sabino salienta que “Dispersa e de cará-
ter genérico é a informação disponível so-
Geográfica existência de cogumelos no Alentejo e a bre a introdução do cação na alimentação
sua utilização na alimentação, Manuel
O território do Alentejo Central corres- Fialho, Provedor da Confraria Gastro-
ponde à zona de intervenção do GAL nómica do Alentejo, sublinha que “No
MONTE – Desenvolvimento Alentejo Alentejo existem muitas espécies e em
Central, ACE. diversos sítios, sobretudo nos montados.
Integra os dez concelhos do distrito (…) Quando nos finais do ano de 1960, a
224

de Évora: Alandroal, Arraiolos, Borba, fábrica da Siemens se instalou em Évora,


Estremoz, Évora, Montemor-o-Novo, os alemães que vieram para cá trabalhar,

Redondo, Reguengos de Monsaraz, Ven- na altura em que os cogumelos começa-


das Novas e Vila Viçosa. vam a surgir no campo, iam nos seus fins
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

De grandes amplitudes e extensões, o de semana apanhar esse alimento. O mais


território caracteriza-se pela existência de curioso era a forma como os conserva-
imensos campos de montado onde domi- vam: uns nas arcas congeladoras, outros
na a azinheira, o sobreiro e o olival. Na secos ao sol. Todos estes processos eram
paisagem sobressaem aglomerados rurais desconhecidos para a maioria das pesso-
isolados, geralmente de pequena dimen- as das nossas terras. Estamos perante um
são, dominados pela cor branca das casas. petisco que fundamentalmente se vendia
Nos anos mais recentes o território nas tabernas”.
tornou-se uma região de eleição pelos O pão desempenha um papel de gran-
produtos como o vinho, os enchidos de de importância na gastronomia alenteja-
porco preto, o azeite, as pastas de azeito- na, podendo acompanhar vários petiscos
na e o pão, mas também pela calma das e fazendo parte de muitas receitas, como
suas aldeias e pelos recursos naturais que as migas, açordas ou as inúmeras sopas
Nos anos mais
recentes o território
tornou-se uma região
de eleição pelos
produtos como o
vinho, os enchidos de
porco preto, o azeite,
as pastas de azeitona
e o pão.”

alentejana. Tal facto parece dever-se à ex- em que as condições de conserva lhe não as condições para que esse feliz casamen-
clusiva utilização deste peixe na alimenta- eram favoráveis, criou e fixou, no decurso to pudesse ter acontecido por essa altu-
ção das classes com menos poder de com- do século XX, uma série de receitas em ra. (…). Mas pode até ter sido anterior
pra. O seu baixo preço e a necessidade de que o Cação é o rei incontestado.” à nacionalidade, porventura durante a
o saber preparar para lhe eliminar o chei- Os pratos de caça são igualmente ocupação romana e consumida aqui no
ro e sabor típicos que adquire se sujeito importantes na gastronomia da região, “Alentejo”, por um qualquer cozinheiro
a deficiente acomodação e conservação, destacando-se pratos confecionados à romano, dada a especial predileção dos
devem ter sido fatores suficientes para o base de perdiz, como é o caso da Perdiz de romanos pelo consumo de peixe e pelo
afastar de classes mais abastadas que con- Escabeche. No Alentejo, até aos fins do muito tempo e dedicação que conferiam
sumiam pescado com maior prestígio e século XX e início de XXI, a caça era uma às artes culinárias (...) Caída entretanto
qualidade. (...) O Alentejo soube porém forma de alimentação, sobretudo das po- no esquecimento no período de ocupação
libertar toda a potencialidade deste pesca- pulações rurais. O trabalhador rural tinha árabe, pode mais tarde ter sido “recupe-
do e por via de uma cozinha imaginativa artes de capturar uma peça de pelo – coe- rada” pelo nosso almocreve numa viagem
a que juntaram as ervas aromáticas para lho ou lebre – para que ao fim do trabalho entre Alcácer do Sal e as Alcáçovas”.
obviar aos inconvenientes de um pescado a levasse para casa, para a refeição do dia As Fatias do Céu, doce de origem
seguinte. Os lavradores de então, nas suas conventual, constituem outra iguaria da
herdades, tinham formas de conservar os região. Manuel Fialho adianta que “Ao
alimentos diferentes das atuais. O escabe- contrário do que muita gente pensa, os
che era uma dessas formas. doces não eram pertença dos conventos,
A famosa Carne de Porco à Alente‑ mas sim das suas irmãs. Quando ingres-
jana, também chamada de Carne de Por- savam nas suas Ordens, na qualidade de

225
co com Amêijoas, é um dos ex libris mais noviças, faziam parte do seu enxoval, ca-
apreciados do território, que combina o dernos com receitas das suas famílias, que


excelente sabor da carne dos porcos cria- depois eram confecionadas para todas as
dos no Alentejo com o riquíssimo sabor residentes, assim como para os seus visi-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
das amêijoas. tantes. Por ordem do Marquês de Pombal,
De acordo com Francisco Sabino: “O todo o património dos Conventos encer-
Sul do país tinha no final da Idade Média rados foi encaminhado para a Torre do
uma rede de estradas que vinha do tempo Tombo. (…) Muitas dessas riquezas vol-
da ocupação romana e que lhe ligava as taram à posse das famílias, que anterior-
principais cidades. A carne de porco era mente as tinham doado aos Conventos.
de consumo frequente e as amêijoas segu- A doçaria foi uma delas.”
ramente que eram abundantes e de fácil
obtenção nos imensos sapais que consti-
tuíam a Ria de Formosa. O rio Sado tam-
bém as tinha e os montados de Alcácer do
Sal, pródigos em lande e bolota, serviam
de alimento a porcos e javardos, reunindo
entradas sopas
Cilarcas Caspacho com
com Ovos Carapaus Fritos

INGREDIENTES INGREDIENTES as sementes do meio – e o pimento verde


cortado da mesma forma.
4 ou 5 cilarcas de 6 dentes de alho
preferência fechadas Sal grosso Numa tigela ou terrina deita-se a massa
2 colheres de sopa de banha 6 tomates médios bem maduros do alho obtida do piso, junta-se o azeite
de porco alentejano 1 pepino necessário, o vinagre e água fresca.
1/4 de 1 linguiça pequena 1 pimento verde
cortada às rodelas finas 2 dl de azeite Com uma colher misturam-se os pro-
6 ovos Vinagre a gosto dutos e prova-se o sal.
Vinagre Orégãos
Sal 1 l de água bem fresca De seguida deitam-se no caldo o toma-
Pão caseiro duro aos cubos te, o pepino, o pimento verde e um pouco
Paio de orégãos misturando novamente com a
PREPARAÇÃO Presunto colher.
Carapaus fritos
Arranjam-se as cilarcas, ti- Fazem-se de pão caseiro que esteja
rando-lhes a pele e lavando-as duro, umas sopas em cubos um pouco
muito bem em várias águas. PREPARAÇÃO maiores do que os cubos dos legumes e
juntam-se ao caldo.
De seguida partem-se em Para um almofariz deitam-se uns den-
meias luas, não muito grandes. tes de alhos cortados e uma quantidade
de sal grosso e de seguida pisam-se até SUGESTÃO
Numa frigideira deita-se a obter-se uma massa.
banha e fritam-se as rodelas da O caspacho pode ser acompanhado com
linguiça ligeiramente. Arranja-se o tomate, que deve estar paio e presunto cortado em pequenos pe-
maduro, e cortam-se aos cubos peque- daços que normalmente entram no caldo
Deitam-se as cilarcas, fritan- nos assim como o pepino – retirando-se juntamente com as sopas de pão ou com
do-as até a água se evaporar. carapaus fritos, petingas fritas ou sardi-
Salpicam-se com umas gotas nhas assadas.
de vinagre. Tapa-se a frigidei-
ra e deixa-se estufar. Receita cedida pela Confraria Gastronómica
do Alentejo.
226

Batem-se os ovos e deita-se-


-lhes um pouco de sal.

Misturam-se e mexem-se de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

modo a não ficarem demasia-


do passados.

Receita cedida pela Confraria


Gastronómica do Alentejo.

Glossário
Cilarca – cogumelo da espécie
Amanita Ponderosa, proveniente
de montados de sobro e azinho.
sopas
Cação Alimado
(Coentrada)

INGREDIENTES

6 postas de cação de anzol


1,5 dl de azeite extra virgem
1 cabeça de alho média
1/2 colher de sopa de sal O Alentejo soube porém libertar toda a
1 molho de coentros generoso
potencialidade deste pescado e por via de uma
2,5 dl de água
1 colher de chá de colorau cozinha imaginativa a que juntaram as ervas
1 folha de louro aromáticas, criou e fixou, no decurso do século
2 colheres de sopa de farinha
Vinagre a gosto
XX, uma série de receitas em que o cação é o rei
Pedaços de pão frito incontestado.”

PREPARAÇÃO

Num almofariz pisam-se os dentes de


alhos com o sal e os coentros que previa-
mente deverão ser bem lavados em água, e
retiradas só as folhas. Pisam-se bem estes
ingredientes.

Num tacho deita-se o azeite e, quando


estiver bem quente, coloca-se o piso e dei-
xa-se alourar um pouco.

De seguida deita-se a farinha e vai-se


mexendo, de forma à farinha não se quei-
mar, mas que fique cozida.

Quando estiver pronto deita-se a água e

227
envolve-se muito bem. Vai ficar um caldo
com corpo.


Põe-se o peixe a cozer, juntamente com
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
o vinagre, neste caldo.

Retifica-se o sal.

Serve-se numa travessa com o pão frito


à volta.

Receita cedida pela Confraria Gastronómica


do Alentejo.
carne
Lombo de Porco com Amêijoas

INGREDIENTES PREPARAÇÃO Quando as fatias estiverem passadas


deitam-se as amêijoas, com casca, o vinho
1 kg de lombo de porco alentejano Pisam-se os alhos com o sal num almo- branco e põe-se uma tampa.
1,5 kg de amêijoas fariz.
1 cabeça de alhos Quando as amêijoas estiverem abertas,
2 colheres de sopa de massa de Juntam-se 2 colheres de sopa de massa coloca-se tudo numa travessa.
pimentão de pimentão e esfrega-se o lombo de por-
125 g de banha de porco alentejano co. Salpica-se com um pouco de salsa e ao
1/2 copo de vinho lado põem-se os gomos de limão.
2 gomos de limão Põe-se o lombo num recipiente fundo a
1 colher de sopa de sal ganhar sabor. Receita cedida pela Confraria Gastronómica
Salsa picada do Alentejo.
Corta-se o lombo em fatias com um
dedo de grossura e frita-se numa frigidei-
ra com banha.
228

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
caça doces
Perdiz de Fatias do Céu
Escabeche

INGREDIENTES INGREDIENTES

2 perdizes 150 g de açúcar


2,5 dl de azeite extra virgem 2 ou 3 copos de água
6 cebolas Fatias grossas de pão de ló
6 dentes de alho 1 cálice de aguardente
1 folha de louro 1 colher de café de canela Ao contrário
1 copo de vinagre Raspas de 1 laranja
do que muita gente
10 grãos de pimenta branca Raspas de nozes
3 cravos de cabecinha Raspas de amêndoas pensa, os doces não
1 copo de vinho branco eram pertença
PREPARAÇÃO dos conventos,
PREPARAÇÃO mas sim das
Com o açúcar e a água faz-se uma calda suas irmãs. Quando
Partem-se 2 perdizes e temperam-se em ponto de pérola.
com sal, pimenta branca e 1 copo de vi- ingressavam nas
nagre de forma em que os bocados fiquem Quando pronta, junta-se a aguardente, suas Ordens, na
envolvidos no vinagre. a canela e as raspas da laranja.
qualidade de noviças,
Num tacho coloca-se um pouco de azei- Parte-se o pão de ló em fatias grossas faziam parte do seu
te e deixa-se refogar até as perdizes esta- que se passam na calda do açúcar. enxoval, cadernos
rem tenras.
Retiram-se as fatias da calda e esten- com receitas das suas
Retiram-se as perdizes e desossam-se. dem-se numa travessa e polvilham-se famílias, que depois
com as raspas de nozes e amêndoas.
Cortam-se as cebolas e os alhos às ro- eram confecionadas
delas finas. De seguida deita-se por cima a canela para todas as
e açúcar. residentes, assim
Num tacho deita-se o azeite, as cebolas,
os alhos e uma folha de louro partida. Receita cedida pela Confraria Gastronómica como para os seus
do Alentejo. visitantes.”

229
Juntam-se as perdizes. Acrescenta-se
mais 2 colheres de azeite, 1 copo de vinho


branco e os cravos de cabecinha.

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS


Deixa-se ferver em lume brando, para
reduzir o molho. Retifica-se o sal e o vi-
nagre.

Guarda-se a perdiz num frasco de vidro


com tampa de borracha e mola.

Após 1 ou 2 dias já podem comer-se. As


perdizes, guardadas nestes frascos, man-
têm-se por um mês ou mais.

Receita cedida pela Confraria Gastronómica


do Alentejo.
território
MARGEM ESQUERDA
DO GUADIANA
Da Margem Esquerda do Guadiana parte fundamental do património cultu-
saem bons vinhos e outros produtos de ral das gentes do Baixo Alentejo. Curado
grande qualidade, alguns protegidos com e com pasta semi-mole amanteigada com
DOP, como o Azeite de Moura – DOP, poucos ou nenhuns olhos, obtém-se a
o Queijo Serpa – DOP e o Presunto de partir do escoamento lento da coalhada
Barrancos – DOP (única DOP para pre- depois de se coagular o leite cru de ove-
suntos no país). lha, estreme, através de uma infusão de
cardo (Cynara Cardunculus L.). O soro
Património restante serve para produzir o Requeijão
que pode ser utilizado em receitas como
Gastronómico as Queijadas de Requeijão. No domínio
WWW.ROTA-DO-GUADIANA.PT

dos laticínios destacam-se ainda o Queijo


Uma das atividades ancestrais do território de Cabra do Guadiana.
é a criação de gado ovino, nomeadamente Na atividade pecuária destaca-se a
do Borrego do Baixo Alentejo – IGP, que criação de suínos cuja carne é utilizada
resulta do cruzamento das raças Campani- para confecionar inúmeras receitas tra-
ça e Merino Branco com raças não autócto- dicionais da região, designadamente na
nes. Estes borregos alimentam-se de leite “surra-burra” prato típico da época da ma-
materno e pastagens espontâneas ou me- tança do porco, mas também para produ-
lhoradas. No outono a alimentação é com- zir enchidos e presuntos, destacando-se
plementada com bolota e lande. No verão, o Presunto de Barrancos – DOP, prove-
dada a escassez de pastagens, alimentam-se niente de porcos de Raça Alentejana.
de palhas ou restolhos da cultura cerealífe- O Porco de Raça Alentejana descen-
Caracterização ra. A carne, tenra e suculenta, é utilizada de do Sus mediterraneus, javali do sul, de-
histórica e na confeção de vários pratos, como a Perna
de Borrego Assada no Forno de Lenha e o
rivando do tronco ibérico ou românico. A
inexistência de cruzamentos com outras
Geográfica Ensopado de Borrego. raças permitiu a manutenção de carac-
O leite das ovelhas das raças Campani- terísticas genéticas importantes, como a
O território do GAL Margem Esquerda ça ou Merino Branco é utilizado para pro- grande capacidade de infiltração de gor-
do Guadiana corresponde à zona de inter- duzir queijo e requeijão. O Queijo Serpa dura intramuscular. Assim se explicam as
venção da Rota do Guadiana – Associação – DOP, é possivelmente o queijo tradicio- nervuras marmoreadas que dão à carne
de Desenvolvimento Integrado. Abrange nal de maior fama no Alentejo, sendo o uma untuosidade e textura únicas e um
os concelhos de Barrancos, Mértola, Ser- seu singular aroma forte e sabor picante paladar e aroma inconfundíveis. Criados
230

pa, Mourão e Moura.


A Margem Esquerda do Guadiana,

limitada a Oeste pelo rio Guadiana e a


Este pela fronteira com Espanha, ocupa
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

os concelhos de Barrancos, Moura, Mou-


rão e Serpa e duas freguesias do concelho
de Mértola: Corte do Pinto e Santana de
Cambas.
A nível ambiental, parte significativa
do território integra-se na Rede Natura
2000, o que tem aumentado a atrativi-
dade da região, juntamente com a cons-
trução de boas acessibilidades, grandes
empreendimentos como a Barragem de
Alqueva e a diversificação de atividades
em meio rural.
O Queijo Serpa – DOP
– é possivelmente
o queijo tradicional
de maior fama no
Alentejo – de aroma
forte e sabor picante,
e o Presunto de
Barrancos – DOP
(única DOP para
presuntos do país),
proveniente de
porcos de raça
de forma tradicional, estes animais pas-
tam em total liberdade no montado, du- Alentejana, são
rante 18 a 24 meses, percorrendo dois a os produtos mais
três hectares por dia em busca de alimen-
to. Na época de montanheira (novembro emblemáticos deste
a março) alimentam-se sobretudo de bo- ser um produto 100 por cento natural, é território.
lota, produto rico em ácido oleico, que classificado como azeite virgem, ou “vir-
dota a carne da gordura intramuscular e gem extra”, no caso dos lotes com melho-
dos seus sabores e aromas únicos. res atributos organoléticos e menor aci- espontaneamente nos campos, podendo
O ar fresco e o microclima da Vila de dez. É um dos azeites mais afamados do igualmente ser cultivadas em hortas.
Barrancos, situada no cume da orla oci- país. Nas regiões de Pias, no município de
dental da Serra Morena, propiciam uma O pão, de excelente qualidade, à se- Serpa, Amareleja, no de Moura, e Granja,
cura lenta e natural do Presunto, sem ne- melhança do que se passa um pouco por no de Mourão, a vinha ocupa uma posi-
cessidade de fumeiro. A secagem natural todo o Alentejo e serra algarvia, consti- ção cimeira, produzindo-se aí vinhos de
inicia-se em finais do inverno, princípios tui a base fundamental para muitos dos alta qualidade. Enormes talhas de barro
da primavera. Os ventos que circulam por pratos mais tradicionais deste território, guardam os vinhos que se produzem na
entre as janelas e as baixas temperaturas como as migas, a açorda, os ensopados, Amareleja segundo os métodos tradicio-
(3 ºC a 5 ºC) favorecem a desidratação e a as lavadas (sopa fria de tomate pisado), o nais e também aí as passas de uva ocu-
secagem no piso superior do secadeiro. As gaspacho, as masmarras (papa quente de pam um lugar de destaque na economia
peças repousam até ao final do verão e de- pão e alho). local.
vido às altas temperaturas (38 ºC a 40 ºC), Com todos os pratos, com qualquer O concelho de Mértola possui caracte-

231
começam gradualmente a suar, altura em comida ou simplesmente com pão, vão rísticas propícias à prática da apicultura,
que o ácido oleico se infiltra nas fibras bem as azeitonas que aqui são esplêndidas constituindo o mel um dos seus ex libris.


musculares, retendo ao longo de toda a nas variadas formas de conserva (inteiras, Realiza-se anualmente, em abril, a Feira
peça um aroma característico. pisadas, retalhadas). do Mel, Queijo e Pão.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
A caça à perdiz, ao coelho, à lebre, ao No que se refere à horto-fruticultura, Entre os doces mais característicos
javali e aos tordos faz do território um distingue-se o tomate com que se pre- deste território, distinguem-se os Folha-
ponto de interesse nos roteiros cinegéti- param algumas das sopas da zona, bem dos de Gila, os Tosquiados (de claras de
cos portugueses. como o grão e o melão, de sabor notável, ovo e amêndoa), as Turtas (nome que em
Nos produtos de origem agrícola des- dada a generosidade do solo e as condi- Serpa se dá às Azevias doces recheadas de
tacam-se os vinhos, os cereais e o azeite, ções do clima. batata-doce), as Queijadas de Requeijão
produto que noutros tempos chegou a ser Há ainda a salientar os produtos na- e a Tarte de Requeijão e, em Moura, o
utilizado como “moeda” para pagar aos turais de criação espontânea e raro pala- Bolo Bom Como Tão Bom, feito de gila,
trabalhadores rurais. dar: os espargos, que podem ser colhidos amêndoas e ovos.
O Azeite de Moura – DOP é fabrica- nos olivais da planície, os cogumelos, Em Brinches, a doçaria popular é afa-
do a partir das azeitonas de Moura e Bar- apanhados na zona bravia da Serra e as mada pelos seus biscoitos, popias e folha-
rancos, sem recorrer a processos químicos beldroegas. Ervas aromáticas como os dos e, em Barrancos, faz-se um magnífico
de refinação ou a mistura de azeites. Por coentros ou os poejos também nascem Bolo de Pão Finto.
sopas
Sopa de
Beldroegas

INGREDIENTES

2 molhos grandes de beldroegas


2 cebolas
Sabia que...
500 g de pão As beldroegas são um produ-
1 ovo por pessoa to de recoleção que nascem
2 queijos frescos espontaneamente nas hortas
2 batatas grandes e que constituíam um recur-
1 cabeça de alho so alimentício para as família
1 folha de louro carenciadas, tendo dado origem
1,5 dl de azeite a receitas típicas como a Sopa
Sal q.b. de Beldroegas. Hoje são um
produto valorizado e usado
Receita publicada em “Comeres de Serpa”
numa cozinha mais atualizada e (Câmara Municipal de Serpa e Escola
PREPARAÇÃO requintada. Superior de Educação de Beja, 1994).

Lavam-se e preparam-se as beldroegas,


aproveitando apenas as folhas.

Corta-se a cebola em rodelas e leva-se a


alourar no azeite.

Juntam-se as folhas de beldroegas lava-


das e deixam-se refogar muito bem, me-
xendo sempre com a colher de pau.

Depois de refogadas, regam-se com cer-


ca de 1 litro de água e deixa-se levantar
fervura.

Retiram-se as peles brancas à cabeça de


alhos, que se deita inteira na panela (sem
232

tirar a pele roxa de cada dente de alho).


Quando o caldo estiver a ferver, jun-


tam-se as batatas cortadas às rodelas não
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

muito finas. Tempera-se de sal e deixa-se


cozer.

Por fim, metem-se na panela os queiji-


nhos frescos cortados em quartos.

Na altura de servir, levam-se os ovos a


escalfar no caldo e acerta-se o tempero.

Cortam-se as sopas de pão para uma ter-


rina e deita-se o caldo por cima.
peixe carne
Açorda de Migas
Bacalhau de Carne

INGREDIENTES Junta-se o azeite e, na hora de servir, a INGREDIENTES


água onde cozeu o bacalhau.
1 posta de bacalhau por pessoa 1,5 dl de azeite
Azeite Deitam-se as sopas de pão. 6 dentes de alho
Coentros ou poejos Meio pão pequeno
Dentes de alho Acompanha-se com o bacalhau cozido e 500 g de entrecosto
Sal os ovos escalfados. Água q.b.
Água Sal q.b.
1 ovo por pessoa
Sopas de pão RITOS E HÁBITOS
PREPARAÇÃO
Esta receita era quase totalmente confe-
PREPARAÇÃO cionada com produtos endógenos. Ape- Frita-se o entrecosto no azeite, com os
nas o bacalhau vinha do exterior, estando alhos cortados às rodelas.
Põe-se a água ao lume com o bacalhau o acesso a este produto confinado às famí-
já demolhado e, quando o bacalhau esti- lias mais abastadas. As classes mais desfa- Corta-se o pão em fatias finas.
ver quase cozido, deitam-se os ovos sem vorecidas consumiam a açorda sem baca-
casca, a escalfar. lhau e, nalguns casos, mesmo sem ovos. Quando o entrecosto estiver frito, ti-
ra-se para fora e deita-se no tacho o pão
Entretanto, pisam-se numa tigela os Receita publicada em “Comeres de Serpa” cortado em fatias.
(Câmara Municipal de Serpa e Escola
alhos, o sal e os coentros (ou poejos). Superior de Educação de Beja, 1994).
Tempera-se de sal e cobre-se com água
a ferver.

Com uma colher de pau vai-se pisando


o pão e dando voltas até ficar em papa.

Serve-se acompanhado com o entrecos-


to frito.

Receita publicada em “Comeres de Serpa”


(Câmara Municipal de Serpa e Escola
Superior de Educação de Beja, 1994).

233

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Sabia que...
Noutros tempos, uma das
técnicas de conservação do
entrecosto era a sua fritura em
banha após a matança do porco
(entre novembro e fevereiro).
Guardado em pote e coberto
com a gordura da fritura, era
consumido posteriormente,
podendo acompanhar com
Migas de Pão.
carne
Ensopado de Borrego

INGREDIENTES

1 kg de carne de borrego
1 cabeça pequena de alho
1 dl de azeite
2 folhas de louro O Borrego do Baixo Alentejo – IGP, que resulta
Sal q.b.
do cruzamento das raças Campaniça e Merino
Branco com raças não autóctones, alimenta-se
PREPARAÇÃO de leite materno e pastagens espontâneas
Parte-se a carne e leva-se ou melhoradas. A carne, tenra e suculenta, é
esta a cozer em água tempera- utilizada na confeção de vários pratos, como a
da de sal. Perna de Borrego Assada no Forno de Lenha e o
Ao levantar fervura, vai-se Ensopado de Borrego.”
retirando toda a espuma.

Seguidamente, juntam-se os
alhos picados finamente, a fo-
lha de louro e o azeite.

Deixa-se acabar de cozer e


apurar.

SUGESTÃO

Serve-se sobre sopas de pão,


aromatizadas com um rami-
nho de hortelã.
234

Receita publicada
em “Comeres de Serpa”
(Câmara Municipal de Serpa

e Escola Superior de Educação


de Beja, 1994).
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
doces
Queijadas de Requeijão

INGREDIENTES Estende-se a massa com o rolo e for-


ram-se as formas previamente untadas.
Para a massa:
250 g de farinha Para a preparação do recheio, batem-se
1 colher de sopa de banha as gemas com o açúcar até fazer espuma.

Para o recheio: A seguir deitam-se a manteiga e o re-


1 kg de Requeijão Serpa queijão previamente passado pelo passe-
600 g de açúcar -vite. Sabia que...
10 gemas de ovos Tendo em conta que a região
125 g de manteiga Por fim, junta-se a farinha e a canela. está inserida na região
2 colheres de sopa de farinha demarcada Queijo Serpa –
1 colher de chá de canela Depois de tudo bem batido, deita-se a DOP, com forte tradição na
mistura nas forminhas e leva-se a cozer produção deste tipo de queijo,
em forno médio. provavelmente a confeção das
PREPARAÇÃO queijadas de requeijão está
Receita publicada em “Comeres de Serpa” associada ao aproveitamento
(Câmara Municipal de Serpa e Escola
Amassa-se a farinha com a banha derre- Superior de Educação de Beja, 1994).
de um subproduto do queijo – o
tida até ficar capaz de estender. requeijão.

235

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
CENTRO ALENTEJO

totalidade dos concelhos de Vidigueira,


Cuba e Alvito.
Com dois cursos de água importantes
(Guadiana e Sado), inúmeras reservas hí-
dricas (Alvito, Odivelas, Vale de Gaio e
Pego do Altar), bem como o maior lago
artificial da Europa (Alqueva), existem
ótimas condições para a agricultura, um
enorme potencial turístico, setor em
crescente desenvolvimento, uma oferta
diversificada ao nível de alojamento e da
restauração, apostando na tipicidade da
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cozinha alentejana, à base de pão alente-


jano.
O território é muito rico em vestígios
árabes e romanos (ruínas de São Cucufate
na Vidigueira) e uma enorme variedade
de igrejas, capelas e ermidas, com pintu-
ras murais (“frescos”), que estão na base A açorda, o arquétipo
da Rota do Fresco. da gastronomia
Património alentejana, ainda
Gastronómico hoje é o prato de
Caracterização referência
histórica e A gastronomia é bastante diversificada, do Alentejo.”
Geográfica com matriz na cozinha tradicional alen-
tejana, de influencia arabe e deve a sua
Os sete concelhos de intervenção do GAL originalidade ao uso de muitas ervas aro-
TERRAS DENTRO – Associação para o máticas (poejo, hortelã, coentro, orégão,
Desenvolvimento Integrado abrangem o hortelã da ribeira, etc.), azeite de qualida-
Alentejo Litoral (Alcácer do Sal – fregue- de e delicioso pão caseiro, numa combi-
sias de São Martinho, Santa Susana e Tor- nação incomparável que dá vida a pratos
236

rão), Alentejo Central (Viana do Alentejo, tão saborosos como as açordas, as sopas de
Portel e Montemor-o-Novo – freguesias tomate ou de cação, beldroegas com quei-

de Santiago do Escoural e São Cristóvão) jo, caspacho, entre outras.


e Baixo Alentejo (Alvito, Cuba e Vidi- Relevantes são as ervas espontâneas tí-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

gueira – freguesia de Vila de Frades). picas da região e que dão aos pratos tradi-
Do litoral à margem direita do rio cionais um genuíno toque caseiro. É com
Guadiana, o território desenvolve-se migas, sopas, cozidos e muitos mais pra-
numa extensa peneplanície, onde predo- tos que o Alvito realiza anualmente o Ci- que rodeavam as povoações. Entre elas
minam os montados de sobro e azinho, clo Gastronómico “As Ervas da Baronia”, conta-se a beldroega (Portulaca oleracea
de elevado potencial económico, comple- com base nalgumas das ervas utilizadas L.), planta espontânea de grande sabor e
mentados por culturas em regime exten- na gastronomia alentejana, em cada época qualidade nutricional e medicinal. Cresce
sivo, a que se sucedem pousios aproveita- do ano, onde se pode degustar pratos con- em terrenos baldios e em solos agrícolas e
dos para pecuária. fecionados à base de espargos, catacuzes, é muito rica em potássio e ómega-3. Esta
A agricultura é primordial na identi- carrasquinhas, beldroegas, coentros, hor- verdura é a base de uma das sopas mais
dade da região, especialmente a viticultu- telãs e outras ervas aromáticas. típicas desta gastronomia, tendo conquis-
ra, com a excelência dos vinhos da região Outros produtos comuns na cozinha tado uma forte posição nos hábitos regio-
vitivinícola de Vidigueira que abrange a alentejana eram os originários de hortas nais, em particular no concelho de Portel.
Sabia que...
A localização do Convento de
Jesus foi muito importante para
a doçaria. Na produção de vinho
usavam-se claras de ovos para
aclarar o vinho e doavam-se, às
centenas, as gemas às freiras,
que as aproveitavam para a
criação de vários doces: Bolo
Real, Conde de Alcáçovas, Bolo
de Torresmos, Amores de Viana,
Bolo de Mel, Bolotas Cobertas,
Coxos ou Coxaros, Broas de Santo
Alberto, Especiones do Bom
Jesus, Sardinhas Albardadas e os
Vianenses. Testemunho do rico
património local, todos os anos
merecem destaque na “Mostra
de Doçaria de Alcáçovas”.

Esta receita pode levar queijo curado ou fluvial e vários ingredientes típicos do
fresco, mas nunca dispensa a utilização de Alentejo. As açordas são anualmente ho-
um bom pão alentejano. menageadas no “Congresso das Açordas”
Em Portel ainda hoje se mantem a de Portel.
apanha das cilarcas nos meses de feverei- No inverno, a carne de porco é
ro e março, uma variedade de cogumelos fundamental nas migas, no cozido de
obrigatória no calducho e no ensopado de grão-de-bico ou da rechina, vísceras do
borrego. porco confecionadas com sangue, que
Nos produtos da terra, realce para é prato obrigatório da matança. Prepa-
a cultura do pimento em Alcáçovas de ram-se também os enchidos que não fal-
tradição na elaboração de Massa de Pi- tam nas tradições alimentares da região.
mentão, produto utilizado no tempero Numa região de caça como esta, não
de pratos e produtos locais, entre eles os faltam os pratos à base de veado, corço,
enchidos. javali, coelho, lebre, perdiz e pombo, sen-
Segundo Alfredo Saramago, a cozinha do o Arroz de Pombo um dos pratos mais Sabia que...
árabe não era parca em receitas de peixes, emblemáticos. O município de Vidigueira
considerados alimentos de grande va- Os queijos de cabra e de ovelha e o mel organiza um certame que
lor dietético ou gastronómico. Os peixes são outras das grandes riquezas gastronó- promove os produtos de
eram consumidos de acordo com a loca- micas da região. excelência do concelho e divulga
lização das populações. No litoral, dada a A doçaria tradicional conventual é a rica cozinha tradicional local.
facilidade de acesso, o peixe entrava mais variada. As receitas, segredos bem guar- A vila foi eleita Cidade do Vinho

237
na dieta alimentar. O mesmo se passou dados pelas freiras, foram sendo reveladas 2013, e no Festival Gastronómico
e ainda acontece relativamente aos rios, ao longo do tempo. Ovos, açúcar e amên- a Pão e Laranjas destacaram-se


sendo os peixes do rio mais vulgarizados doa são ingredientes comuns a todos estes os produtores de vinho do
na dieta alimentar a carpa, o barbo (ou doces. Há-os recheados com mel e doce concelho num espaço privilegiado
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
peixe-macho), a truta, a sardelha, a boga de gila, polvilhados com canela… Pos- para exposição, venda, contactos
e a enguia. Tinham grandes cuidados no suem texturas maçudas, mas são bastante de negócios e outras ações
amanho do peixe fresco e degustavam-no saborosos. Hoje, são confecionados e co- temáticas e científicas. Na
preferencialmente grelhado, mas também mercializados nas mais tradicionais con- mesma zona foi implementada
cozido ou frito. feitarias. a Rota das Tabernas típicas e
A açorda, o arquétipo da gastrono- No concelho de Viana do Alentejo são tradicionais nos concelhos de
mia alentejana, ainda hoje é o prato de vários os doces conventuais que marcam a Cuba e Vidigueira. Pretende-se
referência do Alentejo e permite poupar sua identidade. Segundo alguns registos, promover a criação de uma
recursos, aproveitando o pão duro, em já no século XV doces como a Enxova‑ Rota Turística como veículo de
cubos ou falquejado. No caso da Açorda lhada, o Bolo Real e o Bolo Conde de promoção e de valorização dos
de Peixe do Rio, ou Sopa de Peixe do Alcáçovas eram conhecidos e apreciados produtos culturais, do vinho e de
Rio, podem entrar para a preparação do e ainda hoje são confecionados de forma vinha, da gastronomia e do cante
caldo as variedades mais comuns de peixe tradicional. alentejano.
peixe peixe
Açorda de Açorda de Peixe do Rio
Beldroegas

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

2 postas de bacalhau 10 dentes de alho Frita-se a carne (toucinho e linguiça)


2 ovos escalfados 4 barbos (peixe do rio, também em azeite com uma cebola e alguns alhos
2 colheres de sopa de azeite conhecido por peixe macho) para que a açorda fique mais forte.
2 cabeças de alho 3 cebolas
1 cebola 2 folhas de louro Depois de frita, retira-se e pode ser-
1 ramo de coentros 1 dl de azeite (suficiente para tapar o vir-se enquanto se prepara a açorda.
1 queijo branco fundo do tacho)
1 molho de beldroegas 1 pimentão verde Junta-se ao molho de fritar a carne o
500 g de batatas 1 ramo de poejos e hortelã da ribeira resto das cebolas e dos alhos, o pimentão
Água secos verde cortado aos bocadinhos e o louro e
Meio pão Alentejano 1 ramo de poejos verdes deixa-se refogar.
8 tomates maduros
Toucinho cortado em fatias q.b. Quando a cebola começar a alourar,
PREPARAÇÃO 1/2 linguiça cortada em rodelas junta-se o tomate e um copo de água.
Sal q.b.
Num tacho junta-se o azeite, Cilarcas (variedade de cogumelos) Junta-se o peixe que deve ser previa-
a cebola, os coentros picados e 1 pão alentejano mente limpo, ter pequenos cortes trans-
a cabeça de alhos inteira. versais ao longo de todo o dorso e ser tem-
perado com sal.
Junta-se o sal e as beldroegas
e leva-se ao lume a refogar (no Junta-se o peixe e a água ao refogado e
caso de as beldroegas serem deixa-se cozer.
muito finas não se deixa refo-
gar muito tempo).

Depois junta-se a água, as


batatas cortadas às rodelas, o
bacalhau e o queijo.

Por fim, adicionam-se os


238

ovos e retira-se o tacho do


lume quando estiverem cozi-

dos.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Para servir, migam-se as


sopas de pão numa tigela e
deita-se o caldo da açorda por
cima.

Numa travessa deitam-se as


beldroegas, as batatas o baca-
lhau e os ovos que acompa-
nham as sopas.

Receita cedida por Mariana


Carriço, Portel.
caça
Arroz de Pombo

Quando estiver tudo cozido, apaga-se o INGREDIENTES No caldo que ficou, deita-se o arroz, na
lume e deixa-se apurar durante uns mi- proporção de metade em relação ao volu-
nutos. 2 pombos bravos me do caldo existente.
1/2 linguiça de Porco Alentejano
Num prato deita-se a carne já frita que 150 g de toucinho de Porco Alentejano Deixa-se cozer.
se vai comendo com pão ao longo da res- Sal a gosto
tante preparação da açorda. Numa travessa colocam-se o arroz, os
pombos partidos em metade ou quartos, a
Migam-se as sopas para uma tigela e PREPARAÇÃO linguiça às rodelas e ou toucinho às tiras
deita-se o caldo por cima. e serve-se.
Num tacho cozem-se os pombos intei-
Numa travessa fica o peixe que será co- ros em água, com a linguiça e o toucinho
mido a acompanhar as sopas. temperados com sal. SUGESTÃO

Podem servir-se azeitonas para acom- Depois de bem cozidos, retiram-se os Pode acompanhar com uma salada de
panhamento. pombos, a linguiça e o toucinho. agriões.

Receita cedida por M. Fialho, Évora.


RITOS E HÁBITOS

Na região de Portel este prato pode ainda


ter a variante de levar cilarcas em peque-
nos bocadinhos ou laminadas, que se dei-
tam no refugo.

Receita cedida por Francisco Rasgado,


Amieira, Portel.

239

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
caça
Coelho Panado com
Esparregado de Rama de Nabo

INGREDIENTES PREPARAÇÃO Mantém-se no tacho o caldo onde cozeu


o coelho.
2 coelhos bravos Partem-se os coelhos (tiram-se as mãos
150 g de banha de porco Alentejano e deixam-se inteiras; tira-se a cabeça e Retira-se o miolo do pão e esfarela-se.
2 cebolas médias o pescoço; retiram-se as barrigas; cor-
1 cabeça de alho tam-se as pernas em duas partes e os lom- Envolvem-se os pedaços do coelho em
1 colher de chá de colorau bos em quatro ou cinco partes). ovos previamente batidos, depois no mio-
1 folha de louro lo do pão e volta-se a passá-los pelos ovos.
Sal a gosto Num tacho faz-se um refogado com a
1 kg de pão alentejano (de véspera) banha, as cebolas e alho picados, a folha Fritam-se em azeite.
6/8 ovos de louro, o colorau e o coelho. Tempera-se
com sal a gosto. Passa-se o molho que ficou no tacho
Para o esparregado: com a varinha mágica e liga-se, ao lume,
2 molhos de nabiças Acrescenta-se água e deixa-se cozer. com um pouco de farinha.
1,5 dl de azeite
1 cabeça de alho Retira-se o coelho cozido e deixa-se ar- Numa travessa deita-se o molho e colo-
3 colheres de sopa de farinha de trigo refecer. ca-se por cima o coelho panado.
Vinagre a gosto
Sal a gosto Para o esparregado:

Escaldam-se as nabiças.

Depois de escaldadas cozem-se com sal


a gosto e depois picam-se com uma faca.

Num tacho deita-se o azeite com os


alhos bem picados e deixa-se fritar um
pouco.

Deita-se a farinha e deixa-se cozer, me-


xendo sempre para não se queimar.
240

Acrescenta-se um pouco de água, para


fazer um polme, onde depois se deitam as

nabiças e envolve-se muito bem.


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Deita-se o vinagre e deixa-se cozer.


Tempera-se com sal.

Receita cedida por M. Fialho, Évora.


doces doces
Bolo Conde Bolo Real
dE Alcáçovas

INGREDIENTES Vai ao forno em forma untada e forrada INGREDIENTES


com papel vegetal.
6 ovos 225 g de água
250 g de açúcar Prepara-se o doce de ovos, levando a 300 g de açúcar
250 g de amêndoa água e o açúcar ao lume até formar um 13 gemas
250 g de gila ponto de espadana. Juntam-se as gemas 1 ovo inteiro
quando arrefece e volta ao lume para en- 450 g de amêndoa
Doce de ovos: grossar. Gila q.b.
200 g de açúcar
Meia chávena de água Quando o bolo está cozido, desenfor-
12 gemas ma-se num prato de barro, barrando-se PREPARAÇÃO
com doce de ovos.
Num tacho leva-se ao lume o açúcar
PREPARAÇÃO Por fim batem-se as claras dos ovos com e a água até atingir um ponto de açúcar
que se fez o doce de ovos e juntam-se al- fraco; de seguida mistura-se a amêndoa e
Juntam-se as gemas com o açúcar e ba- gumas colheres de açúcar. Coloca-se este mexe-se até atingir ponto de estrada.
te-se muito bem até obter um creme. merengue às colheradas por cima do bolo.
Deixa-se arrefecer um pouco e mistu-
De seguida junta-se a amêndoa e vol- Leva-se ao forno a tostar e decora-se ra-se as gemas devidamente passadas pelo
ta-se a bater, mistura-se a gila e, por fim, com doce de ovos e amêndoa tostada. passador.
as claras em castelo.
Receita cedida por Margarida Ilhéu, Alcáçovas. Deixa-se repousar a massa de um dia
para o outro e leva-se ao forno em forma
untada e forrada com papel vegetal.

Na forma coloca-se metade da massa e


por cima uma camada de gila fininha, co-
brindo com a restante massa e leva-se ao
forno.

Depois de cozido e frio cobre-se o bolo


com fondant, por cima leva uma camada

241
de gila.


Por fim, uma coroa em pérolas e fios de
ovos a decorar.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Receita cedida por Margarida Ilhéu, Alcáçovas.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 242
Região Algarve
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS • 243
território
TERRAS DO BAIXO GUADIANA

O setor primário desempenha ainda (camarão, sapateira, lagosta, santola, os-


um papel importante na economia da tras, amêijoas, conquilhas, lingueirão,
região. búzios e berbigão). Nesta matéria há que
Apesar de alguns constrangimentos, evidenciar a zona de Cacela Velha que se
como a rarefação demográfica e o conse- apresenta como uma varanda sobre um
quente envelhecimento da população, o dos extremos da ria Formosa onde foram
território evidencia diversas potenciali- já identificadas mais de cinquenta varie-
dades, decorrentes da possibilidade de dades de peixes, crustáceos e bivalves. A
WWW.TERRASDOBAIXOGUADIANA.PT

aproveitar os recursos endógenos. excelência destes produtos fez a fama da


Produtos agropecuários, artes e ofícios deliciosa Cataplana à Algarvia, mas tam-
singulares, património ambiental e cultu- bém a criação de muitos petiscos que
ral constituem alguns dos pontos fortes constituem algumas das mais procuradas
que o turismo tem vindo a evidenciar. A especialidades locais, como por exemplo
oferta de serviços de qualidade (ao nível as Papas com Conquilhas. Esta variedade
do alojamento, restauração, animação de sabores permitiu a criação de diversas
turística) está a generalizar-se progres- caldeiradas, sendo algumas confecionadas
sivamente por todo o território, criando apenas com peixe e outras também com
postos de trabalho suscetíveis de fixar ha- bivalves como amêijoas ou conquilhas.
bitantes e reforçando o elevado potencial O atum representa um dos mais afa-
turístico da região. mados produtos desta zona, especialmen-
te em Tavira (onde, até 1950, a captura e
Património transformação deste peixe constituiu uma
das principais atividades económicas do
Caracterização Gastronómico concelho) e em Vila Real de Santo Antó-
histórica e A gastronomia tradicional da região con-
nio (que foi durante décadas a capital do
atum). As inúmeras formas de o confecio-
Geográfica juga sabores do rio, do mar e da serra, nar permitem aproveitar todas as partes,
apresentando ainda algumas influências exceto as espinhas. Entre os pratos mais
As Terras do Baixo Guadiana correspon- da cozinha alentejana, designadamente na conhecidos contam-se o Bife de Atum
dem à zona de influência do rio Guadiana forte presença do pão e do azeite na con- Grelhado ou de Cebolada, a Estupeta de
navegável, da vila de Mértola à sua foz, feção de numerosos pratos tradicionais, Atum, a Muxama de Atum, a Barriga de
em Vila Real de Santo António. O territó- como migas, sopas, açordas, gaspachos e Atum e os Mormos de Atum.
rio de intervenção do GAL Terras do Bai- ensopados onde ao pão se aliam produ- A serra contribui para a gastronomia
244

xo Guadiana integra a totalidade dos con- tos vindos um pouco de todo o território local com pratos de carne de porco e seus
celhos de Alcoutim e Castro Marim, parte como é o caso da Açorda de Galinha. derivados – enchidos e outros produtos

do concelho de Tavira (freguesias de Santa Tratando-se de um território marcado fumados, e pratos como as Sopas de To‑
Maria, Santo Estêvão e Conceição), chega pela presença do Guadiana e, nalgumas mate e a Fritada de Porco ou a Carne de
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

ao litoral algarvio através das freguesias partes, da ria Formosa, os peixes de água Porco com Amêijoas. É também da serra
de Altura (Castro Marim), Vila Nova de doce constituem um recurso alimentício que vem a caça com que se prepara, por
Cacela (Vila Real de Santo António) e muito importante: tainhas, sabogas, en- exemplo, a Perdiz Estufada, e ainda o
Santa Maria (Tavira) e sobe a Serra do guias e lampreias são utilizados em diver- pão, o azeite, produtos da horta (favas,
Caldeirão até ao Alentejo, nomeadamen- sos pratos tradicionais, destacando-se o ervilhas, feijão e grão), frutos (amêndo-
te às freguesias do concelho de Mértola Ensopado de Enguias. as, figos, medronhos), ervas aromáticas
(S. Miguel do Pinheiro; S. Pedro de Sólis; Do mar provêm várias espécies de pei- (orégãos, poejos, coentros) e vinho. Aí
Espirito Santo; S. Sebastião dos Carros e xe cuja frescura se revela, frequentemente, vicejam amendoeiras e laranjeiras e cres-
Mértola). na simples mas sábia arte de o assar (sar- cem as alfarrobeiras, e se desenvolve uma
O Guadiana é o elemento estruturante go, tamboril, peixe-espada, linguado, be- pecuária que oferece produtos com que se
do território, que compreende o curso do sugo, sardinha, carapau, dourada, robalo, preparam, por exemplo, a Perna de Ca-
rio entre o Pulo do Lobo (Mértola) a Vila atum, espadarte), em pratos que são, por brito no Forno, e se fabricam excelentes
Real de Santo António, onde desagua. vezes, antecedidos de entradas de marisco queijos frescos de cabra ou ovelha.
A gastronomia
tradicional da região
conjuga sabores do
De salientar são também os vinhos, a Na doçaria destacam-se os Doces de rio, do mar e da serra.”
aguardente de medronho, figo ou alfarro- Figo, os Figos Cheios, as Queijadas de
ba, licores de frutos diversos e o mel. Amêndoa, os Bolos de Massa do Azinhal
A extração do sal constitui uma das com canela e erva-doce, as excecionais
mais importantes atividades económicas Filhós (de forma, de canudo e de joelho,
da zona de Castro Marim. Este sal está co- envoltas numa calda de mel), os Bolos
tado no mercado como um dos melhores de Amêndoa, os Morgados (bolos com Estrelas de Figo (confecionados com fi-
do mundo. Atividade muito antiga na re- amêndoa, ovos moles e doce de gila), os gos espalmados, decorados com as amên-
gião, existem referências dela no primeiro queijos de Figos Moídos (bolos confecio- doas que lhe dão a forma de estrela, e de-
foral da vila que data do século XIII. nados com massa de figo e amêndoa), as pois torrados) e a Torta de Alfarroba.

245

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
sopas peixe
Sopas Ensopado de Enguias
de Tomate

INGREDIENTES INGREDIENTES

Batatas Enguias
Toucinho Alho
Azeite Hortelã da ribeira
Cebola Cebola
Pimento Coentros
Dentes de alho Pimenta branca
Tomate Tomate
Louro
Sal
Pão PREPARAÇÃO
Ovo
Partem-se as enguias aos pedacinhos e
polvilham-se com o sal suficiente.
PREPARAÇÃO
Faz-se o refogado com cebola, alho, pi-
Pelam-se e cortam-se as ba- mentão, hortelã da ribeira, coentros, pi-
tatas. menta branca e tomate moído.

Numa frigideira frita-se o Junta-se-lhe as enguias e deixa-se le-


toucinho cortado em peque- vantar fervura.
nos pedaços e retira-se.

No mesmo azeite fritam-se


as cebolas, o pimento, os den-
tes de alho e o tomate cortado
em pedacinhos muito peque-
nos, temperados com o louro
e um pouco de sal.

Acrescentam-se as batatas e
246

deixa-se cozer.

Quando as batatas estiverem


cozidas acrescenta-se o pão e o
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

ovo estrelado.

Servem-se misturadas com


os torresmos do toucinho.
marisco
Papas com Conquilhas

INGREDIENTES À medida que se vai juntando o milho,


vai-se mexendo sempre com uma colher
Para 5 pessoas:
500 g de farinha de milho (moído fino)
de pau.
Dicas e
200 g de toucinho Entretanto, corta-se o toucinho em bo- Truques
1 kg de conquilhas cadinhos e frita-se.
1 colher de sopa de banha O ideal é confecionar este
Sal Deita-se dentro do milho que está a co- prato num tacho de barro e se
zer. for ao lume de lenha, melhor.
É um prato também usado no
PREPARAÇÃO Quando o milho fizer barrigas de velha litoral Algarvio, mas aí toma a
(bolhas a rebentar), juntam-se-lhe as con- designação de Xarém.
Põem-se as conquilhas de molho em quilhas que abrirão dentro do milho.
água e sal para largarem a areia.
Quando as papas estiverem na consis-
Leva-se ao lume uma panela com 3 li- tência desejada, adiciona-se a banha.
tros de água temperada com sal.
Deixa-se ferver um pouco mais e ser-
Assim que a água estiver morna, come- ve-se imediatamente.
ça a deitar-se o milho em chuva (este mi-
lho foi moído na atafona, que é o nome
que no Algarve se dá à mó, e peneirado).

A excelência destes

247
produtos fez a
fama da deliciosa


Cataplana à Algarvia,
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
mas também a
criação de muitos
petiscos que
constituem algumas
das mais procuradas
especialidades locais,
como, por exemplo,
as Papas com
Conquilhas.”
carne caça
Fritada Perdiz Estufada
de Porco

INGREDIENTES INGREDIENTES

Carne magra 2 perdizes


Fígado 1 chávena de azeite (2 dl)
Pulmão Meia chávena de vinagre ou 1 chávena
Coração de vinho branco
Rim 2 cabeças de alho
Sangue cozido 2 cravinhos
Batatas 1 ramo de salsa
Cebola
Alhos
Tomate PREPARAÇÃO
Louro
Pimentão doce Arranjam-se as perdizes. Tapa-se hermeticamente e levam-se as
Calda de pimento perdizes a cozer em lume muito brando.
Vinho branco Retiram-se apenas as peles brancas dos
Banha de porco alhos, deixando-lhes a pele rosada. Servem-se cortadas ao meio com fatias
Sal de pão frito e puré de batata ou ervilhas
Num recipiente que feche bem intro- estufadas.
duzem-se as perdizes com todos os ingre-
PREPARAÇÃO dientes indicados.

Corta-se a carne, o fígado,


o pulmão, o rim e coração, de
porco aos bocados

Coloca-se a fritar numa fri-


gideira com um pouco de gor-
dura (banha de porco).

Junta-se a cebola, os alhos,


o louro, o tomate, o pimentão-
248

-doce, a calda de pimento, o


vinho branco e o sal e deixa-se

refogar tudo.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Quando estiver quase pron-


to, colocam-se as batatas e o
sangue cozido cortado aos bo-
cados e deixa-se cozer mais
um pouco.

Quando pronto, serve-se


quente.
doces
Torta de Alfarroba

INGREDIENTES PREPARAÇÃO Para o creme:

Para a massa: Aquecer o forno a 180 ºC. Levar o leite a ferver.


180 g de farinha
30 g de farinha de alfarroba Bater os ovos com o açúcar até ficar Numa taça misturar todos os outros in-
190 g de açúcar uma mistura cremosa. gredientes e juntar o leite quente aos pou-
1 colher de chá de fermento em pó cos, mexendo até estar ligado.
6 ovos Numa taça misturar as farinhas e o fer-
mento em pó e juntar à mistura anteri- Levar novamente ao lume, mexer sem-
Para o creme: or. pre até engrossar.
4 dl de leite
80 g de açúcar Num tabuleiro colocar papel vegetal, Desenformar a torta em cima de um
30 g de farinha verter a massa e levar ao forno pré-aqueci- pano.
2 colheres de sopa de farinha de do 180 ºC cerca de 20 minutos. Verifique
alfarroba se está cozido com o palito. Rechear com o creme e enrolar a torta.
1 ovo
2 gemas

249

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
território
INTERIOR ALGARVE CENTRAL

Pratica-se uma agricultura de subsistên-


cia, caprinicultura, ovinicultura e trans-
Património
formação de produtos em pequena escala Gastronómico
(mel, aguardente de medronho e queijo).
Características do Barrocal, as parcelas No território predominam as receitas an-
de pomar misto de sequeiro, com alfar- cestrais confecionadas com ingredientes
robeiras, amendoeiras, figueiras e olivei- que provêm principalmente do setor pri-
ras, dão pasto a ovinos, alternando com mário.
as áreas de regadio, ocupadas por citrinos Os azinhais dos montados que se situ-
e hortícolas. am na zona mais a norte oferecem a bolota
Rico na biodiversidade, na beleza na- que alimenta o porco preto com que se pro-
tural e no artesanato, o território atrai um duzem receitas como o popular jantar ou
número crescente de visitantes e turistas, cozido de milhos, e excelentes enchidos. A
que procuram os tesouros da Serra do receita de Mioleira de Porco terá surgido
Caldeirão, os seus produtos, mas também da necessidade de aproveitar os escassos re-
WWW.IN-LOCO.PT

as gentes, as histórias e os cantares tradi- cursos existentes. Esta receita permite ain-
cionais. da aproveitar os restos de pão duro.

Caracterização
histórica e
Geográfica
O território do Interior Algarve Central
corresponde à zona de intervenção do
GAL IN LOCO que integra os concelhos
de Loulé (freguesias de Alte, Ameixial,
Salir, Benafim, Querença, Boliqueime,
250

São Clemente, São Sebastião e Tôr), S.


Brás de Alportel, Silves (freguesias de São

Bartolomeu de Messines e São Marcos


da Serra), Tavira (freguesias de Cachopo
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

e Santa Catarina da Fonte do Bispo), Al-


bufeira (freguesia de Paderne) e Faro (fre-
guesias de Estói e Santa Bárbara de Nexe).
Constituído por Serra e Barrocal (área
que se estende entre a serra e o litoral),
o território apresenta um outro Algarve,
longe dos edifícios de betão e das praias,
quiçá mais profundo, mais rico, mais ver-
de e verdadeiro, mas também mais isola-
do, mais pobre, envelhecido e despovoa-
do.
Os solos deste outro Algarve são cal-
cários no Barrocal e xistosos na Serra.
Esta zona oferece igualmente oportu- A criação de galinhas e coelhos dá
nidades para a caça com cuja carne se pre- lugar à preparação de algumas das mais
param pratos típicos como a Lebre com reputadas receitas desta região – Gali-
Feijão, em Loulé, o Coelho Bravo Tempe- nha Cerejada ou de Cabidela, Açorda
rado com Vinho, em S. Brás de Alportel, de Grão com Galinha e Galo Caseiro de
javali, lebre, coelho e perdiz no concelho Cabidela.
de Silves. A Perdiz Cerejada é uma outra No que se refere a frutas, o destaque
iguaria muito apreciada. Nalgumas va- vai para os Citrinos do Algarve – IGP. O
riantes da receita, utiliza-se a aguardente Algarve produz 70 por cento dos citrinos
de medronho como tempero. do país, sendo Silves – a Capital da La-
No âmbito da agricultura de subsis- ranja – o concelho com maior produção a
tência, encontramos a cultura do milho nível regional. Para além da quantidade, a
e do trigo em quantidades consideráveis laranja algarvia distingue-se também pela
com que se faz um excelente pão cozido sua qualidade, possuindo mais vitamina C
em forno de lenha. É com este pão que se e sendo reconhecida entre as melhores do
preparam açordas, sopas e ensopadas. mundo.
As Papas de Milho são populares em A paisagem algarvia é marcada pela
toda a região algarvia. Algumas pessoas presença das amendoeiras desde há mais Constituído por Serra
moíam o milho em casa, utilizando uma de um milénio, e é origem da maior parte e Barrocal (área que
“molineta” – nome atribuído à mó dos da produção de amêndoa nacional, junta-
romanos. Este milho, que ficava mal mo- mente com Trás-os-Montes. se estende entre a

251
ído, era particularmente apreciado nestas As amêndoas constituem a base fun- serra e o litoral), o
papas, que receberam o nome de xarém damental da doçaria da zona, embora seja
território apresenta


(termo árabe), podendo ser enriquecidas também relevante o lugar que ocupam
com conquilhas, amêijoas, mexilhões ou os figos e a alfarroba, bem como o mel. um outro Algarve,
longe dos edifícios de RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
sardinhas. As Estrelas de figo e amêndoa, os Figos
A agricultura de cariz familiar forne- Cheios, o Bolo de Figo, a Tarte de Amên-
cia também as leguminosas, com desta- doa e a Tarte de Alfarroba, os Bolinhos betão e das praias,
que para o grão (Jantar de Grão), o feijão de Amêndoa e as tradicionais Amêndo- quiçá mais profundo,
de diferentes variedades como o feijão as Tenras de S. Brás são alguns dos mais
canário e carito, as ervilhas (com ovos), apreciados doces desta zona. Mas importa mais rico, mais
as favas e ainda os chícharos. A acelga en- ainda referir a Delícia de Abóbora, ado- verde e verdadeiro,
tra na composição da Sopa de Grão com çada com água-mel, um produto muito mas também mais
Acelgas, um prato de contrastes entre a típico.
doçura do grão e o sabor intenso deste Por fim, convém não esquecer de re- isolado, mais pobre,
vegetal. Merecem igualmente destaque ferir a aguardente de medronho e o licor envelhecido e
os produtos das raças autóctones, como o de alfarroba.
queijo de cabra algarvia. despovoado.”
ENTRADA sopas
Mioleira Sopa de Grão com Acelgas
de Porco

INGREDIENTES INGREDIENTES PREPARAÇÃO

Para 4 pessoas: Para 6 pessoas: Coloca-se o grão numa panela de


400 g de lombinho de porco preto 200 g de grão de bico demolhado pressão com a carne de porco inteira, o
1 mioleira de porco 250 g de carne de porco com osso alho-porro, a cebola e o aipo bem picadi-
1 dl de azeite 1 cebola nhos, a folha de louro, o sal, o azeite e cer-
6 dentes de alho 200 g de batatas redondas ca de um litro de água.
3 folhas de louro 100 g de alho porro
4 ovos 100 g de aipo Quando tudo estiver bem cozido, jun-
200 g de pão caseiro duro 1 nabo ta-se a cenoura, o nabo, as batatas e a abó-
1 colher de sopa de banha de porco 250 g de cenoura bora (tudo cortado aos cubinhos).
Pimenta preta q.b. 250 g de abóbora
Sal q.b. 200 g de acelgas Acrescenta-se água, se necessário, e
100 g de arroz leva-se ao lume até levantar fervura, mo-
1 folha de louro mento em que se juntam as acelgas, o ar-
Hortelã e salsa roz, a hortelã e a salsa picadas.
PREPARAÇÃO 2 colheres de sopa de azeite
Água q.b. Retifica-se o sal se necessário e deixa-se
Cortam-se os lombinhos em quadradi- Sal q.b. cozer a gosto.
nhos pequenos, temperam-se com sal, os
alhos esmagados e a pimenta. Antes de servir, retira-se a carne de por-
co que se corta em pequenas porções e
Numa frigideira antiaderente coloca-se volta a juntar-se à sopa.
o azeite, a banha e os lombinhos e leva-se
ao lume até fritar a carne. Receita cedida por Jesus Dias.

Retira-se a carne da frigideira e reser-


va-se.

Corta-se o pão em quadradinhos peque-


nos e frita-se na gordura que sobrou da
fritura da carne.
252

Depois do pão estar crocante juntam-se


os miolos, bem limpos de peles e mexi-


dos, e deixa-se cozinhar.
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Batem-se os ovos num recipiente à par-


te e vão-se juntando lentamente ao prepa-
rado da frigideira, mexendo sempre.

Na hora de servir junta-se a carne ao


preparado.

Receita cedida por Fernanda Silvestre.


peixe
Papas de Milho com Sardinhas

INGREDIENTES De seguida, acrescenta-se meio litro mais uns 5 minutos aproximadamente,


de água e o sal e colocam-se as sardinhas mexendo sempre.
Para 4 pessoas: (cerca de 2/3 aproximadamente e as res-
250 g de sardinhas pequenas tantes guardam-se para fritar). Temperam-se as restantes sardinhas
125 g de farinha de milho com sal e fritam-se. Servem de acompa-
125 g de sêmola de milho Quando as sardinhas estiverem cozidas, nhamento das papas.
100 g de cebola retiram-se e, depois de frias, separam-se
150 g de tomate bem maduro e pelado os filetes das espinhas, tendo o cuidado Receita cedida por Jesus Dias.
2 dentes de alho de retirar mesmo as espinhas mais finas, e
1 folha de louro reservam-se os filetes.
2 colheres de sopa de azeite
1 colher de sopa de banha de porco Retira-se o louro e tritura-se o caldo
1 ramo de salsa ou coentros que restou da cozedura das sardinhas com
Sal q.b. a varinha.
2,25 l de água
Junta-se mais 1 litro de água, retifica-se
o sal e junta-se, em chuva, a farinha de
milho e a sêmola de milho (previamente Este milho, que
PREPARAÇÃO misturadas), mexendo sempre muito bem ficava mal moído,
com uma colher de pau para não deixar era particularmente
Num tacho, aquecem-se as gorduras, formar grumos. Vai-se juntando a restan-
junta-se a cebola e o alho picados. te água sempre que necessário. apreciado nestas
papas, que receberam
Depois de refogar um pouco, junta-se o Após 30 minutos a mexer as papas ao
tomate também picado e a folha de louro lume, juntam-se as sardinhas e a salsa o nome de xarém
e deixa-se apurar bem, mexendo sempre. picada (ou os coentros), deixa-se ferver (termo árabe).”

253

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
carne caça
Galo de Cabidela Perdiz
Cerejada

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

Para 8 pessoas: Põe-se numa panela o azeite, a banha de Para 4 pessoas:


1 galo com cerca de 3 kg porco, a cebola picada, o louro, o cravi- 2 perdizes médias
2 kg de batatas nho, os dentes de alho e o pimento verde 1,5 l de água
1 cebola grande cortado em tiras. 1 folha de louro
1 pimento verde 1 cebola média
5 dentes de alho Estufa-se levemente, junta-se a pitada 100 g de toucinho fumado
1 ou 2 colheres de sopa de banha de de pimenta e a pitada de cominhos e colo- 1 colher de sopa de azeite
porco (consoante o galo seja mais ou ca-se o galo já cortado em bocados. 300 g de arroz
menos gordo) 3 ou 4 dentes de alhos
0,5 dl de azeite Deixa-se estufar cerca de 10 minutos e 1 ramo salsa
3 dl de vinho branco acrescenta-se o vinho branco, a cerveja, a 1 colher de sopa de banha
1 dl de aguardente de medronho aguardente, o sal e água (que tem de ser ou manteiga
1 cerveja de 33 cl suficiente para cozinhar o galo e depois Pimenta preta moída na
2 folhas de louro as batatas). hora q.b.
3 cravos de cabecinha Colorau q.b.
1 ramo de salsa Deixa-se cozinhar até estar macio mas Sal q.b.
Sal a gosto não completamente cozido (pode variar
1 pitada de pimenta branca entre 20 minutos e 2 horas, conforme a
1 pitada de cominhos idade e a dureza do galo). PREPARAÇÃO
Sangue do galo (recolher quando se
mata o animal e misturar com cerca de Acrescentam-se as batatas cortadas em Limpam-se as perdizes e
0,5 dl de vinagre) quartos e deixa-se cozinhar até estarem temperam-se com sal.
prontas.
Colocam-se numa panela as
Quase no final, retiram-se 2 conchas de perdizes, a água, a cebola in-
caldo, misturam-se com o sangue e jun- teira, o louro, a salsa e o touci-
tam-se de novo ao cozinhado. nho fumado.

Deixa-se levantar fervura e está pronto. Leva-se ao lume até que as


perdizes fiquem cozidas (ten-
254

Coloca-se numa travessa previamente ras).


polvilhada com hortelã picada e decora-se

com a mesma aromática.


RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Receita cedida por Odília Cabrita.

STEENBERGS
doces
Delícia de Abóbora

Depois de cozidas retiram-se INGREDIENTES


e reservam-se.

Coa-se o caldo que restou da


Para 5 pessoas:
500 g de abóbora com casca
Sabia que...
cozedura e reserva-se. 0,5 l de leite A água-mel produz-se fervendo
4 colheres de sopa de açúcar escuro os resíduos de mel que ficam
Colocam-se os ingredientes 1 colher de sopa de manteiga na cera, depois da retirada do
que restaram da cozedura num 1 colher de chá de canela mel propriamente dito. É menos
tabuleiro de ir ao forno. 2 cravinhos diluída de que o mel e o sabor
2 paus de canela é menos doce. Era antigamente
Esmagam-se os alhos com 1 casca de laranja o “mel dos pobres”. Obrigados
um pouco de sal, a pimenta, o 50 g de nozes pela necessidade, os apiculto-
colorau e a banha, barram-se 150 g de requeijão de ovelha res vendiam todo o mel que
as perdizes com este prepara- Água-mel (ou mel) q.b. produziam, restando-lhe para
do e colocam-se no tabuleiro. 5 folha de hortelã o consumo, esta água-mel.
Levam-se a forno médio até Atualmente é considerado um
alourar. produto “gourmet”, utilizado
PREPARAÇÃO para barrar o pão ou em saladas
Leva-se ao lume o caldo re- que levem requeijão, queijo
servado e, quando levantar Corta-se em 5 bocados a abóbora, que fresco ou nozes.
fervura, junta-se o arroz e dei- deve ser de casca dura (mantendo a cas-
xa-se cozer a gosto. ca), lava-se bem, retiram-se as pevides e
leva-se ao lume a cozer no leite com os
Para servir, colocam-se as paus de canela, os cravinhos e a casca de
perdizes numa travessa, re- laranja.
gam-se com o molho que res-
tou da assadura, previamente Coloca-se num prato depois de cozida
coado, dispõe-se o arroz em e, quando estiver morna, retira-se toda a
volta e leva-se à mesa. polpa com uma colher e reservam-se as
cascas.
Receita cedida
por Fernanda Silvestre. No restante leite da cozedura, junta-se

255
a polpa esmagada com um garfo, a man-
teiga, o açúcar, a canela em pó e as nozes e


leva-se ao lume mexendo sempre.

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS


Quando estiver bem apurado, apaga-se
o lume.

Depois de frio, dispõe-se este prepa-


rado sobre as cascas de abóbora, que se
guardaram, e, por fim, junta-se o requei-
jão desfeito com um garfo.

Decora-se com um fio de água mel (ou


mel), casca de laranja e um raminho de
hortelã.

Receita cedida por Jesus Dias.


território
SUDOESTE

região, com destaque para as culturas de


batata-doce, amendoim, batata, milho, ci-
trinos, hortícolas e fruticultura de sequei-
ro. Entre as outras atividades económicas,
destacam-se a transformação agroalimen-
tar (enchidos e medronho), a produção
florestal, a pesca e a apanha de marisco
(dourada, sargo e percebe), a suinicultura No fim do outono
e apicultura. realiza-se em
No entanto, a proximidade da costa,
por um lado, e a serra, por outro, não po- Aljezur o Festival da
dem ser ignoradas, representando uma Batata-Doce, onde se
importante mais-valia ao nível do turis-
mo. Odeceixe, Arrifana, Carrapateira, combinam os sabores
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Castelejo e Martinhal – são apenas al- da terra e do mar.”


gumas das praias de grande atratividade
para os turistas.
A Serra de Monchique, com os seus
picos – Foia (902 m) e Picota (774 m) –
marca o território com o verde das suas Não obstante a importância do milho,
paisagens serranas e extensas vistas, o pão de trigo continuou a ser um alimen-
numa relação de cumplicidade e comple- to essencial na gastronomia da região,
mentaridade com o litoral. estando presente em inúmeras receitas
Caracterização ou como forma de acompanhar outros
histórica e Património alimentos. Noutros tempos, muitas refei-
ções comidas fora de casa compunham-se
Geográfica Gastronómico apenas de pão acompanhado de azeitonas,
sardinhas, presunto, chouriço ou touci-
O território do Sudoeste corresponde à A gastronomia deste território baseia-se nho e de um pouco de vinho. Uma iguaria
zona de intervenção do GAL ADERE, ge- tanto nos produtos da terra como nos pro- simples, que demonstra o valor do pão, é
rido pela VICENTINA – Associação para dutos do mar, com inúmeras receitas que a Tiborna.
o Desenvolvimento do Sudoeste, que in- fundem estes sabores. Da pecuária, provêm também ingre-
tegra os concelhos de Aljezur, Vila do Bis- O mar, de rochas fortemente batidas, dientes importantes, sobretudo da cria-
256

po, Lagos (freguesias de Odiáxere, Ben- oferece peixes, moluscos e mariscos, de ção de porcos. Merece especial destaque
safrim e Barão de São João), Monchique, que se destacam, pela sua frescura e sabor, o presunto e os enchidos tradicionais de

Portimão (Mexilhoeira Grande) e Silves mexilhões, percebes (ou perceves), búzios Monchique dos quais se salienta a chou-
(Silves, Alcantarilha e Algoz). e ouriços. riça, molho, farinheira ou morcela de fa-
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

De elevado valor natural e ambiental, Com os produtos do mar preparam-se rinha e morcela de carne, passando pelo
com cerca de 66 por cento da área inte- inúmeras especialidades, verdadeiros ex excelente presunto, produtos cuja quali-
grada na Rede Natura 2000, inclui gran- libris do território: Pratinhos de Perceves, dade deu origem à Feira do Presunto e à
de parte da serra de Monchique, o sítio Lascas de Ovas Secas (de pescada, polvo muito apreciada Feira dos Enchidos Tra-
Arade/Odelouca e o Parque Natural do ou atum), nacos (de polvo, moreia ou lula) dicionais de Monchique.
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, secos ao sol e assados em fogareiros, Bi- Nos pratos típicos salientam-se re-
cuja área se estende para além dos limi- queirão Envinagrado, Feijoada de Búzios, ceitas cozinhadas à base de porco preto,
tes do território, contemplando um rico Sargos, Douradas ou Robalos cozidos ou como a Couve à Monchique, a Assadura,
património ambiental, sobretudo a nível grelhados no carvão, Mexilhão ao natural o Feijão com Couve, o Feijão com Arroz,
florístico, sendo conhecidas cerca de 750 ou de cebolada, Sardinha Assada, Cara- o Grão com Massa, o Lombo de Porco na
espécies de reconhecido valor científico. paus Alimados, Lulas Recheadas, Arroz Banha, a Morcela Frita, o Cozido de Grão,
A agricultura sempre representou uma de Berbigão, de Polvo ou de Lingueirão, o Cozido de Milhos, a Carne de Porco com
importante atividade económica para a entre outros. Amêijoas e as Favas à Algarvia.
Sabia que...
Com os produtos do mar
preparam-se inúmeras
especialidades que constituem
verdadeiros ex libris deste
território: Pratinhos de Perceves,
Lascas de Ovas Secas (de
pescada, polvo ou atum), nacos
(de polvo, moreia ou lula) secos
ao sol e assados em fogareiros,
Biqueirão Envinagrado, Feijoada
de Búzios, Sargos, as Douradas
ou Robalos cozidos ou grelhados
no carvão, Mexilhão ao natural
ou de cebolada, Sardinha Assada,
Carapaus Alimados, Lulas
Recheadas, Arroz de Berbigão,
de Polvo ou de Lingueirão.

Mas nem toda a carne consumida pro- em doce, vulgarmente chamada de Bata- e tem uma composição variada em ter-
vinha do porco. São também tradicionais tada ou compota de batata-doce. mos de pólen da flora da região. Histori-
deste território o Galo de Cabidela, os As plantas aromáticas são muito apli- camente, foram os Romanos que deram
pratos confecionados com borrego ou ca- cadas na gastronomia deste território, grande impulso à apicultura na região
brito e os pratos de caça, de coelho, javali, com destaque para o tomilho, a hortelã, o das Caldas de Monchique, sendo este mel
perdiz, codorniz, lebre ou coelho-bravo. alecrim e os coentros. considerado, desde há muito, de alta qua-

257
A batata-doce veio do continente ame- Nas frutas, deve ser referida a impor- lidade.
ricano e tornou-se comum no território, tância e a qualidade da laranja, sobretudo A doçaria deste território utiliza so-


particularmente em Aljezur onde é cul- no concelho de Silves. bretudo produtos como o figo, a amên-
tivada com recurso a técnicas e métodos As amêndoas, de grande importância doa, a alfarroba e o mel, mas também
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
tradicionais. O sol, as terras, as águas, o no comércio externo, são muito utiliza- ingredientes menos previsíveis, como os
ar limpo e o clima de Aljezur fazem da das na doçaria regional e no apreciado li- torresmos. Na doçaria de Monchique é
Batata‑Doce de Aljezur – IGP um pro- cor que dá pelo nome de Amarguinha ou importante referir a tradição do Bolo do
duto com qualidade e sabor diferenciado. Amêndoa Amarga. Tacho ou Bolo de maio.
No fim do outono realiza-se em Al- A alfarroba, fruto com a forma de va- Salientamos ainda a existência de vi-
jezur o Festival da Batata-Doce, onde se gem alongada, constituía, juntamente com nhos brancos e tintos neste território, bem
combinam os sabores da terra e do mar. o figo e a amêndoa, uma forma de rendi- como de vinho moscatel. A existência de
Pode ser consumida assada, frita, e em mento dos camponeses. Era exportada, extensas áreas de medronhal nas zonas
sopas, destacando-se o Feijão com Bata- mas também se utilizava na alimentação, serrana permite também a produção de
ta-Doce, a Couvada com Batata-Doce e sobretudo do gado, e na confeção de licor uma belíssima aguardente de medronho e
em sobremesas sempre baseadas na ba- e doces muito apreciados nos nossos dias. do licor chamado Melosa, existindo hoje
tata-doce como os Pastéis, os Pudins, os O Mel da Serra de Monchique – já numerosos produtores licenciados para
Bolos e as Tortas, ou ainda transformadas DOP, é considerado um mel de néctar a sua produção.
ENTRADA MARISCO
Tiborna Papas de
Milho com
Mexilhões

INGREDIENTES RITOS E HÁBITOS INGREDIENTES

1 pão acabado de sair do forno Nalguns locais a tiborna é simplesmente 300 g de miolo de mexilhão
Azeite q.b. o que os algarvios chamam ao pão, torra- Farinha de milho
Alho q.b. do ou cru, molhado no azeite, sobretudo Água q.b.
Sal grosso para experimentar o azeite novo acabado Azeite q.b.
de vir do lagar Sal q.b.

PREPARAÇÃO
PREPARAÇÃO
Parte-se o pão aos bocadinhos.
Cozem-se os mexilhões e de-
Deita-se o azeite por cima do pão. pois tiram-se-lhes as cascas.

Esborracham-se os alhos e deitam-se Coloca-se o miolo do me-


por cima do pão. xilhão num tacho com água
Uma iguaria simples, morna.
No fim põe-se sal a gosto. que demonstra o
Junta-se o azeite e a seguir
Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,
valor do pão, é a vai-se deitando a farinha de
Monchique. Tiborna.” milho, mexendo sempre até
cozer.

Tempera-se com sal.

Receita cedida pelo Restaurante


A Charrete, Monchique.
258

Sabia que...

O milho, introduzido no Algarve


a partir do século XVII, era um
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

produto que se conservava bem


ao longo de todo o ano. Moído
muitas vezes em casa, este mi-
lho grosseiramente moído, era
utilizado para fazer as Papas de
Milho, confecionadas segundo as
mais variadas receitas, como as
Papas de Milho com Mexilhão, o
Milho com Conquilhas, o Milho
com Amêijoas, o Milho com
Sardinhas, os Milhos com Feijão
ou as Papas Mouras com Piques.
CARNE CARNE
Lombo de Porco na Banha Couve à
Monchique

INGREDIENTES PREPARAÇÃO INGREDIENTES

1 kg de lombo de porco preto Juntam-se todos os ingredientes ao Carne de porco variada (orelha, pé,
3 colheres de sopa de massa de lombo já cortado em cubos grandes e dei- ossos, barriga e carne magra)
pimentão xa-se ficar durante 3 dias. Morcela de Monchique
2 dl de vinho branco Chouriça a gosto (picante ou não
8 dentes de alho picados Põe-se a banha num tacho e leva-se ao picante)
2 colheres de sopa de vinagre lume com carne e toda a marinada dei- Repolho grande de couve branca
500 g de banha de porco preto xando fritar bem. Batatas a gosto
1 Folha de louro
Guarda-se e serve-se frio com pão.
PREPARAÇÃO
Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,
Monchique. Salgam-se as carnes na véspera e, no dia
seguinte, põem-se as carnes a cozer com
água.

Quando estiverem cozidas retiram-se


da panela.

No caldo da cozedura põem-se a couve


e as batatas a cozer.

Quando estiverem quase cozidas acres-


centa-se-lhe as carnes, a morcela e a chou-
riça.

Deixa-se terminar a cozedura e apurar.


Está pronto a servir.

Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,


Monchique.

259

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
CARNE DOCES
Milhos com Feijão Pudim de Mel

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

1 l de milho aferventado Cozem-se os milhos com cinza.


1 mão cheia de feijão seco demolhado
1 cebola Depois dos milhos bem cozidos la-
1 dente de alho vam-se muito bem com água corrente.
1 ramo de salsa
1 folha de louro Numa panela junta-se a carne, os mi-
Sal q.b. lhos, uma mão cheia de feijão, 1 cebola, 1
500 g de batatas dente de alho, 1 ramo de salsa, 1 folha de
Carne de porco (morcela, chouriça, louro e sal.
barriga e carne com ossos)
Deixa-se cozer e juntam-se depois as
batatas cortadas aos cubos, a chouriça e a
morcela.

Deixa-se cozer e apurar.

Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,


Monchique.

INGREDIENTES

400 g de açúcar
4 colheres de sopa de mel
4 colheres de sopa de azeite
10 ovos
Casca de meio limão
1 colher de sobremesa de canela
260

PREPARAÇÃO

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Partem-se os ovos para uma tigela, jun-


tam-se todos os ingredientes e bate-se
muito bem com uma colher de pau.

Deita-se a mistura numa forma muito


bem barrada com banha muito boa ou
com uma margarina leve e vai a cozer em
forno bem quente durante 1 hora.

Desenforma-se quando estiver morno.

Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,


Monchique.
DOCES
Bolo do Tacho

INGREDIENTES PREPARAÇÃO

1,6 kg de farinha de milho De véspera faz-se um chá com erva-do-


20 g de erva-doce em grão ce em grão e umas casquinhas de limão.
50 g de erva-doce moída
2 chávenas de café forte Com este chá e o café escalda-se a fari-
4 casquinhas de limão nha, juntando-se de seguida o mel, a ba-
1 copo de anis ou aguardente nha, o açúcar e o azeite.
250 g de banha ou margarina
2 colheres de sopa de farinha de trigo Mistura-se tudo muito bem.
1 colher de sopa mal cheia de sal
2,5 dl de azeite No dia seguinte, junta-se o resto do chá
50 g de cacau e o resto dos ingredientes.
50 g de chocolate
50 g de canela A massa deve ficar brandinha.
500 g de mel
1,250 kg de açúcar Deita-se em tachos untados com banha
e um pouco de azeite e vai a cozer, em for-
no bem quente, durante cerca de 2 horas.

Receita cedida pelo Restaurante A Charrete,


Monchique.

Sabia que...
No dia 1 de maio, as mulheres

261
deveriam ter preparado um
Bolo do Tacho que levavam


em farnel ao alto da Foia da
Serra de Monchique e onde
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
deveria ser partido à mão e
distribuído pelos convivas. Os
homens levavam garrafões
de aguardente de medronho
e de licor de medronho e
mel, denominado Melosa,
festejando-se assim a chegada
do cuco, a ave que anunciava o
início das plantações do novo
ano agrícola e o tempo quente
do verão.
ÍNDICE de pratos

ENTRADAS Sopa Verde (Ribatejo Norte), 164


Sopas de Tomate (Douro Superior), 71
Acelgas Fritas (Beira Interior Sul), 126 Sopas de Tomate (Terras do Baixo Guadiana), 246
Cabeça de Xara (Norte Alentejo), 196
Cherovias Fritas (Estrela-Sul), 108
Cilarcas com Ovos (Alentejo Central), 226 PEIXE
Cogumelos Grelhados (Douro Superior), 70
Laranja Azeitada (Terra Quente), 58 Achigã Grelhado (Pinhal Interior Sul), 138
Mioleira de Porco (Interior Algarve Central), 252 Açorda de Bacalhau (Margem Esquerda do Guadiana), 233
Morcela de Arroz de Leiria (Alta Estremadura), 96 Açorda de Beldroegas (Centro Alentejo), 238
Omelete de Espargos Silvestres (Douro Superior), 70 Açorda de Peixe do Rio (Centro Alentejo), 238
Pasta ou Pastada de Azeitonas (Terra Quente), 58 Arroz de Lampreia (Bairrada e Mondego), 90
Pastel de Molho da Covilhã (Cova de Beira), 156 Arroz de Lampreia (Pinhal Interior Sul), 138
Tiborna de Presunto de Porco Alentejano (Alentejo Sudoeste), 214 Arroz de Lampreia (Alto Alentejo), 220
Tiborna (Sudoeste), 258 Assada de Peixe (Norte Alentejo), 197
Tosta de Pão de Centeio com Queijo Serra e Mel de Urze Bacalhau à Freixieiro (Terras de Basto), 76
(Serra da Estrela), 132 Bacalhau à Minhota (Vale do Minho), 34
Bacalhau à S. Julião (Terras Altas do Homem, Cávado e Ave), 46
Bacalhau à Zé Calçada (Douro Verde), 64
SOPAS Bacalhau com Batata a Murro (Terras de Basto), 77
Bacalhau com Cereja (Estrela-Sul), 109
Açorda à Alentejana (Baixo Alentejo), 208 Caldeirada de Peniche (Oeste), 188
Cação Alimado (Coentrada) (Alentejo Central), 227 Caldeirada de Sesimbra (Península de Setúbal), 170
Caldo Cadinho ou Conduto (Montemuro, Arada e Gralheira), 28 Carrasquinhas com Feijão Branco e Bacalhau (Alentejo Sudoeste), 215
Caldo de Cascas (Terra Fria Transmontana), 52 Chícharos com Bacalhau Assado Regado com Azeite
Caldo de Feijão Vermelho (Alto Tâmega), 22 (Alta Estremadura), 97
Caldo de Grão (Raia Centro Norte), 144 Choquinhos à Lagoa de Óbidos (Oeste), 189
Caldo de Nabos de Gondomar (Terras de Santa Maria), 40 Ensopado de Enguias (Charneca Ribatejana), 182
Caldo Verde com feijão Amarelo (Terras de Basto), 76 Ensopado de Enguias (Litoral Alentejano), 202
Caldo Verde (Vale do Minho), 34 Ensopado de Enguias (Terras do Baixo Guadiana), 246
Calduto (Estrela-Sul), 108 Fataça na Telha (Ribatejo), 177
Canja de Borrego (Serra da Estrela), 132 Lagarada (Raia Histórica), 150

263
Caspacho com Carapaus Fritos (Alentejo Central), 226 Lampreia à Moda de Entre-os-Rios (Terras do Sousa), 16
Caurdo ou Caldo à Lavrador (Terras Altas do Homem, Lampreia do Minho Fumada Recheada (Vale do Minho), 35


Cávado e Ave), 46 Miga de Peixe do Rio com Poejo (Beira Interior Sul), 127
Papas de S. Miguel (Terras de Santa Maria), 40 Migas com Filetes de Polvo (Dão, Lafões e Alto Paiva), 102
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Papas Laberças (Raia Histórica), 150 Migas de Bacalhau (Ribatejo Norte), 165
Sarapatel (Norte Alentejo), 196 Migas de Peixe do Rio (Douro Superior), 71
Sopa da Pedra (Charneca Ribatejana), 182 Papas de Milho com Sardinhas (Interior Algarve Central), 253
Sopa de Beldroegas (Margem Esquerda do Guadiana), 232 Peixe do Rio com Molho de Escabeche (Aguieira, Dão e Caramulo), 120
Sopa de Espinafres com Queijo Fresco (Alentejo Sudoeste), 215 Peixes do Rio e Enguias Fritas (Bairrada e Mondego), 91
Sopa de Feijão-Frade (Beira Interior Sul), 126 Sável no Forno (Montemuro, Arada e Gralheira), 29
Sopa de Grão com Acelgas (Interior Algarve Central), 252 Tiborna de Bacalhau (Ribatejo), 176
Sopa de Lebre (Litoral Alentejano), 202 Trutas à Moda de Boticas (Alto Tâmega), 22
Sopa de Peixe do Rio (Ribatejo), 176 Trutas à Moda de Rio Ceira (Beira Serra), 114
Sopa de Peixe do Rio Tejo (Ribatejo Norte), 164 Trutas de Escabeche (Dão, Lafões e Alto Paiva), 102
Sopa de Saramagos (Península de Setúbal), 170 Trutas de Escabeche (Serra da Estrela), 133
Sopa do Vidreiro (Alta Estremadura), 97 Trutas de Escabeche do Rio Paiva (Montemuro, Arada
Sopa Gandaresa (Bairrada e Mondego), 90 e Gralheira), 28
MARISCO Frango na Púcara (Oeste), 189
Fritada de Porco (Terras do Baixo Guadiana), 248
Arroz de Lagosta (Litoral Alentejano), 203 Galo de Cabidela (Interior Algarve Central), 254
Arroz de Marisco (Alta Estremadura), 98 Guisado de Míscaros ou Tortulhos (Alto Tâmega), 23
Camarão da Costa da Figueira (Bairrada e Mondego), 91 Lampantana (Aguieira, Dão e Caramulo), 120
Fritada de Camarão com Açorda (Charneca Ribatejana), 183 Leitão Assado à Moda da Boa Vista (Alta Estremadura), 98
Ostras de Setúbal (Península de Setúbal), 172 Leitão da Bairrada (Bairrada e Mondego), 92
Papas com Conquilhas (Terras do Baixo Guadiana), 247 Lombo de Porco com Amêijoas (Alentejo Central), 228
Papas de Milho com Mexilhões (Sudoeste), 258 Lombo de Porco na Banha (Sudoeste), 259
Maranho (Pinhal Interior Sul), 140
Migas com Entrecosto (Baixo Alentejo), 210
CARNE Migas de Carne (Margem Esquerda do Guadiana), 233
Migas de Espargos com Carne Frita (Alto Alentejo), 221
Alheira de Mirandela com Grelos Salteados (Terra Quente), 59 Milhos à Moda de Chaves (Alto Tâmega), 23
Anho Assado com Arroz de Forno (Douro Verde), 65 Milhos com Feijão (Sudoeste), 260
Arroz Amarelo com Galinha (Norte Alentejo), 198 Milhos Ricos (Terras de Basto), 78
Arroz de Cabidela de Pica-no-Chão (Terras Altas do Homem, Cávado Miolos de Porco à Alentejana (Litoral Alentejano), 204
e Ave), 47 Morcela da Guarda (Raia Centro Norte), 145
Arroz de Cabidela (Terras de Santa Maria), 41 Naco de Vitela Arouquesa (Douro Verde), 66
Arroz de Carqueja (Serra da Estrela), 134 Nacos de Vitela de Lafões (Dão, Lafões e Alto Paiva), 104
Arroz de Favas com Frango Alourado (Douro Verde), 64 Naquinhos de Vitela Brava com Carqueja (Charneca Ribatejana), 184
Arroz de Fressura (Beira Interior Sul), 128 Panela do Forno (Cova da Beira), 158
Arroz de Zimbro (Estrela-Sul), 109 Papas de Sarrabulho (Terras Altas do Homem, Cávado e Ave), 48
Basulaque (Terras do Sousa), 16 Pica-pau (Charneca Ribatejana), 184
Bochechas de Porco Alentejano à Caçador (Alentejo Sudoeste), 216 Posta Barrosã ou Maronesa (Terras de Basto), 78
Bucho Raiano (Raia Centro Norte), 146 Posta Mirandesa (Terra Fria Transmontana), 53
Bucho Recheado à Moda de Folques (Beira Serra), 115 Rancho à Moda de Viseu (Dão, Lafões e Alto Paiva), 103
Bucho Recheado (Pinhal Interior Sul), 140 Vitela à Manhouce (Dão, Lafões e Alto Paiva), 103
Butelo com Cascas (Terra Fria Transmontana), 52 Vitela Arouquesa Assada à Regional em Forno de Lenha
Cabritinho das Encostas de Mixões da Serra (Terras Altas do Homem, (Montemuro, Arada e Gralheira), 29
Cávado e Ave), 48 Vitela Assada à Moda de Fafe (Vale do Ave), 82
Cabrito Assado à Moda da Serra do Caramulo (Aguieira, Dão e Vitela Assada no Forno de Lenha (Terras de Santa Maria), 41
Caramulo), 121
Cabrito Assado com Arroz de Cabrito (Vale do Minho), 36
Cabrito Assado na Brasa (Cova de Beira), 157 CAÇA
Cabrito Assado no Forno (Ribatejo), 178
Cabrito Assado no Forno (Terras de Basto), 79 Arroz de Pombo (Centro Alentejo), 239
Cabrito Assado no Forno (Alto Alentejo), 222 Coelho à Caçador (Aguieira, Dão e Caramulo), 122
Cabrito Assado (Raia Centro Norte), 144 Coelho Bravo Frito (Charneca Ribatejana), 185
Cabrito de Torres Novas (Ribatejo Norte), 165 Coelho Panado com Esparregado de Rama de Nabo (Centro Alentejo), 240
Cabrito Estonado (Pinhal Interior Sul), 139 Feijoada de Lebre de Monfortinho (Beira Interior Sul), 128
Cabrito Recheado (Estrela-Sul), 110 Javali no Pote com Castanhas (Terra Fria Transmontana), 54
Capão à Freamunde (Terras do Sousa), 17 Lebrada das Vindimas (Terra Quente), 60
Carne de Porco com Enguias (Península de Setúbal), 171 Lebre com Feijão (Estrela-Sul), 110
264

Carneiro à Beirão (Raia Histórica), 151 Perdiz Cerejada (Interior Algarve Central), 254
Carolos em Vinho e Alho (Aguieira, Dão e Caramulo), 121 Perdiz de Escabeche (Alentejo Central), 229

Chanfana (Beira Serra), 116 Perdiz Estufada (Terras do Baixo Guadiana), 248
Couve à Monchique (Sudoeste), 259 Pombo Estufado Península de Setúbal), 173
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Couves com Feijão Amarelo (Vale do Ave), 82 Sopa de Lebre (Norte Alentejo), 198
Couves com Feijões (Terras de Basto), 77 Tordos Fritos (Terra Quente), 61
Cozido Barrosão (Alto Tâmega), 24
Cozido de Grão (Baixo Alentejo), 209
Cozido de Terras de Bouro (Terras Altas do Homem, DOCES
Cávado e Ave), 46
Ensopado de Borrego (Baixo Alentejo), 210 Alcomonias (Litoral Alentejano), 205
Ensopado de Borrego (Litoral Alentejano), 204 Amarantinos (Douro Verde), 66
Ensopado de Borrego (Margem Esquerda do Guadiana), 234 Amêndoa Coberta de Moncorvo (Douro Superior), 72
Ensopado de Borrego Terrincho (Douro Superior), 72 Areias Brancas (Oeste), 191
Ensopado de Cabra do Fundão (Cova de Beira), 157 Barquilhos (Vale do Ave), 83
Feijoada no Forno (Montemuro, Arada e Gralheira), 30 Beijinhos de Amor (Terras do Sousa), 18
Feijoca Serrana com Arroz de Carqueja (Serra da Estrela), 134 Bola Mirandesa (Terra Fria Transmontana), 55
Bolacha de Cerveja (Cova de Beira), 159 Pão de Ló de Fafe (Vale do Ave), 84
Boleima (Alto Alentejo), 222 Pão de Ló de Margaride (Terras do Sousa), 19
Bolo Conde de Alcáçovas (Centro Alentejo), 241 Pão de Ló de Rio Maior (Ribatejo), 179
Bolo de Cornos (Aguieira, Dão e Caramulo), 123 Papas de Carolo (Beira Interior Sul), 129
Bolo de Mel (Alto Alentejo), 223 Papas de Carolo (Cova de Beira), 159
Bolo do Tacho (Sudoeste), 261 Papas de Carolo de Milho Branco (Estrela-Sul), 111
Bolo Negro de Loriga (Serra da Estrela), 135 Pastéis de Feijão (Oeste), 190
Bolo Real (Centro Alentejo), 241 Pastéis de Tentúgal (Bairrada e Mondego), 93
Bolos de Folha (Alto Alentejo), 223 Pastéis de Vouzela (Dão, Lafões e Alto Paiva), 105
Brisas do Lis (Alta Estremadura), 99 Patudos (Charneca Ribatejana), 185
Canelões do Peredo dos Castelhanos (Douro Superior), 73 Pudim de Castanha (Alto Tâmega), 25
Carolo (Beira Serra), 117 Pudim de Mel (Sudoeste), 260
Cartuchinhos de Cernache do Bonjardim (Pinhal Interior Sul), 141 Pudim de Pão (Terras de Santa Maria), 42
Castanha Doce de Arouca (Montemuro, Arada e Gralheira), 31 Pudim do Abade de Priscos (Terras Altas do Homem, Cávado e Ave), 49
Cavacas das Caldas (Oeste), 190 Queijadas de Requeijão (Margem Esquerda do Guadiana), 235
Cavacas de Pinhel (Raia Histórica), 152 Requeijão com Doce de Abóbora (Raia Centro Norte), 147
Cavacas de Resende (Douro Verde), 67 Requeijão com Doce de Abóbora (Serra da Estrela), 135
Celestes de Santa Clara (Ribatejo), 178 Sardinhas Doces de Trancoso (Raia Histórica), 153
Delícia de Abóbora (Interior Algarve Central), 255 Sericaia com Ameixas d’Elvas (Norte Alentejo), 199
Doce de Abóbora (Raia Centro Norte), 147 Sopa Seca (Terras do Sousa), 18
Doce de Gila (Alentejo Sudoeste), 217 Sopas Secas (Terras de Santa Maria), 42
Fatias de Tomar (Ribatejo Norte), 166 Tigelada de Mel (Pinhal Interior Sul), 141
Fatias do Céu (Alentejo Central), 229 Tigelada de Torrozelas (Beira Serra), 117
Fogaça da Feira (Terras de Santa Maria), 43 Tigeladas (Ribatejo Norte), 167
Fogaças de Alcochete (Península de Setúbal), 173 Torta de Alfarroba (Terras do Baixo Guadiana), 249
Folhados de Gila (Alentejo Sudoeste), 217 Torta de Laranja (Aguieira, Dão e Caramulo), 123
Leite-Creme (Vale do Minho), 37 Tortas de Guimarães (Vale do Ave), 85
Manjar de Oliveira de Frades (Dão, Lafões e Alto Paiva), 104 Toucinho do Céu de Guimarães (Vale do Ave), 84
Morcelas Doces (Montemuro, Arada e Gralheira), 30 Trouxas de Ovos (Baixo Alentejo), 211

265

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS
Publicação produzida no âmbito do projeto Maravilhas da Gastronomia
com o apoio da medida Cooperação LEADER do PRODER.

Fundo Europeu Agrícola


de Desenvolvimento Regional

A Europa investe nas zonas rurais

Parceiros do projeto

edição Parceiro especializado apoio institucional


créditos

NORTE Terra Quente Beira Serra


Fotos e receitas cedidas pelo GAL DESTEQUE. Fotos: ADIBER (pp. 113-116); “O Grande Livro
Terras do Sousa do Queijo da Serra da Estrela”, Confraria do Queijo
Fotos: Cedidas por VALSOUSA (p. 14); ADER- Douro Verde Serra da Estrela (p. 113, à Dt.ª).
SOUSA (pp. 14-15, 15); C. M. Penafiel (p. 16); C. Fotos e receitas cedidas pelo GAL DOLMEN. Receitas: Cedidas pelo GAL e Confraria
M. Paços de Ferreira (p. 17); C. M. Paredes (p. 18); Gastronómica do Bucho de Arganil (Bucho
C. M. Lousada (pp. 18-19); Casa de Pão de Ló de Douro Superior Recheado à Moda de Folques).
Margaride; C. M. Felgueiras (p. 19). Fotos: Hugo Delgado (pp. 68-69); Restaurante
Receitas: Cedidas pelo GAL (Lampreia à Moda Kalifa Ok (p. 70, Esq.ª); C. M. Vila Nova de Foz Aguieira, Dão e Caramulo
de Entre-os-Rios); C. M. Lousada (Basulaque); Côa (p. 70, Dt.ª); Douro Superior (p. 71 e 73); Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADICES.
C. M. Paços de Ferreira e J. F. Freamunde (Capão Francisco Brás (p. 72); Arte Sabor e Douro (pp.
à Freamunde); C. M. Paredes e C. M. Paços de 72-73). Beira Interior Sul
Ferreira, Prof.ª Glória Meireles (Sopa Seca); C. Receitas cedidas pelo restaurante Kalifa Ok Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADRACES.
M. Lousada (Beijinhos de Amor); Casa de Pão de (Cogumelos Grelhados); C. M. Vila Nova de Foz
Ló de Margaride e C. M. Felgueiras (Pão de Ló de Côa (Omelete de Espargos Selvagens); Hélder Serra da Estrela
Margaride). Madeira (Sopas de Tomate); Associação Douro Fotos: Cedidas pela ADRUSE (p. 131); Jorge
Superior (Migas de Peixe de Rio); Taberna do Camelo (p. 132); Confraria do Borrego (133, Esq.ª);
Alto Tâmega Carró (Ensopado de Borrego Terrincho); Arte, Restaurante Guarda Rios (p. 133); Confraria da
Fotos: ADRAT (pp. 20-21); David Salgueiro (p. 21 Sabor e Douro (Amêndoa Coberta de Moncorvo); Feijoca de Manteigas (p. 134); Confraria da Broa
– em cima e 24); ADRAT (p. 23). Aida de Jesus Rodrigues (Canelões do Peredo dos e do Bolo Negro de Loriga (p. 135, Esq.ª); Miguel
Receitas cedidas pelo GAL. Castelhanos). Camelo (p. 135).
Receitas: Cedidas por Jorge Camelo (Tosta
Montemuro, Arada e Gralheira Terras de Basto de Pão de Centeio com Queijo Serra e Mel de
Fotos: Avelino Vieira (pp. 26-27); Confraria Fotos: PROBASTO (pp. 74, 75, 76 – Esq.ª, 79 Urze); Confraria do Borrego (Canja de Borrego);
Gastronómica de Sever do Vouga (p. 28); – Dt.ª); C. M. Celorico de Basto (p. 76); C. M. Restaurante Guarda Rios (Trutas de Escabeche);
ADRIMAG (p. 29-30); Pedro Bastos (p. 31). Cabeceiras de Basto (p. 77); C. M. Ribeira de Pena Restaurante A Cascata (Feijoca Serrana com Arroz
Receitas: Cedidas por Alice Maria Bruçó Marques (p. 78); Paulo Mota (p. 78 – Dt.ª). de Carqueja); Confraria da Broa e do Bolo Negro
Mendes, Restaurante Quinta do Barco (Caldo Receitas: Cedidas pelo GAL. de Loriga (Bolo Negro de Loriga); Miguel Camelo
Cadinho ou Conduto, Sável no Forno, Feijoada (Requeijão com Doce de Abóbora à Moda de D.
no Forno, Morcelas Doces e Castanha Doce de Vale do Ave Rosalina).
Arouca); C. M. Castro Daire (Trutas de Escabeche Fotos e receitas cedidas pelo GAL SOL DO AVE.
do Rio Paiva); José Luis Júlio, Restaurante Pinhal Interior Sul
Parlamento (Vitela Arouquesa Assada à Regional Fotos: Pinhal Maior (p. 136); C. M. Vila de Rei (p.
em Forno de Lenha). CENTRO 138); C. M. Mação (p. 138, Dt.ª); C. M. Oleiros (p.
139); C. M. Sertã (p. 140); C. M. Proença-a-Nova
Vale do Minho Fotos: AD ELO (pp. 88, 89, 91 – à Dt.ª, 92); Escola (p. 141).
Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADRIMINHO. profissional Vaconcellos Lebre (p. 89, em cima); C. Receitas: Cedidas pelo GAL.
M. Montemor-o-Velho (p. 90); C. M. Penacova (p.
Terras de Santa Maria 91 – ao centro); Rota da Bairrada (p. 91 – à Esq.ª); Raia Centro Norte
268

Fotos: Cedidas por C. M. Oliveira de Azeméis (p. Paula Matos dos Santos (p. 93). Fotos: PRÓ-RAIA (p. 143, 145 e 146); Paula Matos
39/Esq.ª e 40); C. M. Santa Maria da Feira (p. 39 e Receitas: Cedidas pela C. M. Penacova (Peixes dos Santos (p. 147).
43); C. M. Valongo (p. 41 e 42). do Rio e Enguias Fritas e Arroz de Lampreia); J. Receitas cedidas pelo GAL PRÓ-RAIA.

Receitas: Cedidas por C. M. Gondomar (Caldo de F. Tocha (Sopa Gandaresa); C. M. Montemor-o-


Velho (Arroz de Lampreia); Confraria da Doçaria Raia Histórica
RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS

Nabos de Gondomar); C. M. Oliveira de Azeméis


(Papas de S. Miguel); C. M. Albergaria-a-Velha Conventual de Tentúgal (Pastéis de Tentúgal); Fotos: Raia Histórica (p. 149).
(Vitela Assada no Forno a Lenha); C. M. Valongo C. M. Figueira da Foz (Camarão da Costa da Receitas: Cedidas pelo GAL.
(Arroz de Cabidela, Pudim de Pão e Sopas Secas); Figueira); a receita do Leitão da Bairrada foi
C. M. Santa Maria da Feira (Fogaça da Feira). retirada pelo GAL do livro “Iguarias do Centro”, Cova de Beira
editado pelo Turismo Centro de Portugal. Fotos e receitas pelo GAL RUDE.
Terras Altas do Homem, Cávado e Ave
Fotos: ATAHCA (pp. 45, 46 em baixo; 47 e 49); Alta Estremadura
Restaurante Torres (pp. 46 e 48). Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADAE. LISBOA E VALE DO TEJO
Receitas: Cedidas pelo GAL.
Dão, Lafões e Alto Paiva Ribatejo Norte
Terra Fria Transmontana Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADDLAP. Fotos: Cedidas pela ADIRN (pp. 162-163);
Fotos: CORANE (pp. 50-52; Publidigi (pp. 53-55). Restaurante O Almourol (p. 164); Restaurante O
Receitas cedidas pelo GAL CORANE. Estrela-Sul Malcozinhado (p. 165, Esq.ª); C. M. Torres Novas
Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADERES. (p. 165); C. M. Tomar (p. 166); J. F. Ferreira do
Zêzere (p. 167).
Receitas: Cedidas pela C. M. Ourém (Sopa Verde); pela Região de Turismo do Oeste. A receita dos Varela/Monte-ACE (p. 227, 228). Agradecimento ao
restaurante O Almourol (Sopa de Peixe do Rio Pastéis de Feijão foi retirada pelo GAL do site da Restaurante A Moagem, Arraiolos.
Tejo); restaurante O Malcozinhado (Migas de C. M. Torres Vedras. Receitas cedidas pela Confraria Gastronómica do
Bacalhau); C. M. Torres Novas (Cabrito de Torres Alentejo.
Novas); C. M. Tomar (Fatias de Tomar); J. F.
Ferreira do Zêzere (Tigeladas). ALENTEJO Margem Esquerda do Guadiana
Fotos: Rota do Guadiana (p. 230); Nicola Di
Península de Setúbal Norte Alentejo Nunzio (pp. 231-234); C. M. Serpa (p. 235).
Fotos: Adelino Chapa (pp. 168, 169); Ricardo Pais Fotos e receitas cedidas pelo GAL ADER-AL. Receitas: Cedidas pelo GAL.
(pp. 170, 171, 172, 173).
Receitas: Cedidas pelo GAL. Litoral Alentejano Centro Alentejo
Fotos: ADL. Fotos: Terras Dentro (p. 236-237); C. M. Portel
Ribatejo Receitas: Cedidas por Deolinda Brito, restaurante (p. 238); M. Fialho (p. 239-240); Margarida Ilhéu
Fotos: APRODER (P. 175); Osvaldo Cipriano (pp. A Deolinda (Sopa de Lebre); Carlos Andrade, (p. 241).
176-179). restaurante Chez Daniel (Ensopado de Enguias); Receitas cedidas por Mariana Carriço (Açorda de
Receitas cedidas por: Maria da Conceição Espírito Carlos Barros, restaurante O Migas (Arroz de Beldroegas); Francisco Rasgado (Açorda de Peixe
Santo, restaurante Taberna do Alfaiate (Sopa Lagosta); Maria Antónia Santos, Quinta da Cilha do Rio); M. Fialho (Arroz de Pombo e Coelho);
de Peixe do Rio); Filipe Nunes, restaurante (Miolos de Porco à Alentejana e Ensopado de Margarida Ilhéu (Bolo Conde de Alcáçovas e Bolo
Palhinhas Gold (Tiborna de Bacalhau); Lúcia Borrego); pelo GAL ADL (Alcomonias). Real).
Mendes Pelarigo (Fataça na Telha); Manuel Neves,
restaurante Cantinho da Serra (Cabrito Assado no BAIXO ALENTEJO
Forno); Alice Sequeira (Pão de Ló de Rio Maior). Fotos e receitas pelo GAL Alentejo XXI. ALGARVE
A receita das Celestes de Santa Clara foi retirada
pelo GAL do livro Valente, Maria Odette Cortes Alentejo Sudoeste Terras do Baixo Guadiana
(1994), Cozinha de Portugal: Ribatejo, Círculo de Fotos: ESDIME (p. 213); C. M. de Ourique (p. Fotos: Terras do Baixo Guadiana (p. 245); C. M.
Leitores, Lisboa. 214); José Tomé Máximo, C. M. de Aljustrel Alcoutim (p. 246 e 248); Restaurante Cantarinha
(p. 215); José João Cavaco (p. 215, Dt.ª); C. M do Guadiana (p. 249).
Charneca Ribatejana de Ourique (p. 216); Carol Herak-Kramberger Receitas: Cedidas pelo Terras do Baixo Guadiana.
Fotos: CHARNECA (p. 181); C. M. Salvaterra de (p. 217).
Magos (pp. 182-183); Restaurante O Barrigas (p. Receitas: Cedidas pelo Chef Sandro Martins Interior Algarve Central
183, Dt.ª); Restaurante O Farnel (p. 184); C. M. (Tiborna de Presunto de Porco Alentejano); Fotos: In Loco (p. 250, pp. 252-253) ; Axel e Sophie
Alpiarça (p. 185). Isabel Bangula (Sopa de Espinafres com Queijo Steenberg (pp. 254-255, centro).
Receitas: Cedidas pelo GAL. Fresco); José João Cavaco (Carrasquinhas com Receitas: Cedidas por Fernanda Silvestre (Mioleira
Feijão Branco e Bacalhau); Chef Jacinto Pires de Porco, Perdiz Cerejada); Jesus Dias (Sopa de
LEADER OESTE (Bochechas de Porco Alentejano à Caçador); Maria Grão com Acelgas, Papas de Milho com Sardinhas,
Fotos cedidas pela LEADER OESTE (p. 187, Alexandrina Baião (Folhados de Gila). Delícia de Abóbora); Odília Cabrita (Galo de
190); Região de Turismo do Oeste (p. 188); C. M. Cabidela).
Alcobaça (p. 189); Flávio Carvalho, Casa das Areias ALTO ALENTEJO
Brancas (p. 191). Fotos: LEADERSOR (pp. 219, 220, 222). Sudoeste

269
Receitas cedidas pela C. M. Alcobaça (Frango Receitas: Cedidas pelo GAL. Fotos: Vicentina (p. 257); Restaurante A Charrete
na Púcara); Flávio Carvalho, Casa das Areias (pp. 258-261).
Brancas (Areias Brancas). As receitas Caldeirada de Alentejo Central Receitas: Cedidas pelo Restaurante A Charrete.


Peniche, Choquinhos à Lagoa de Óbidos e Cavacas Fotos: Marta Alter/Monte-ACE (pp. 224-225);
das Caldas foram retiradas pelo GAL do Guia de Paula G. Santos/Monte-ACE (p. 225); Confraria

RECEITAS E SABORES DOS TERRITÓRIOS RURAIS


Restaurantes – Terras de Bons Sabores, editado Gastronómica do Alentejo (p. 226); Ana Paula
A cozinha não se dissocia do seu meio mas é recursos ambientais, economia, cultura,
nele que se inspira e se alimenta. A noção de política, história e identidade, tradições e
território implica uma interacção, uma saberes, informação e divulgação.
dialéctica entre a paisagem, o clima, as
actividades dos homens, as suas práticas o seu É neste contexto que a gastronomia local
saber‑fazer, e ainda o resultado dessas mesmas recupera algumas das ideias que a devem
práticas: os produtos agrícolas locais. nortear. A cultura alimentar encontra a sua
diversidade na manutenção e valorização do
Neste livro é o conceito de território que ganha território, na especificidade e qualidade dos
destaque, entendido que deve ser como um seus produtos, na promoção do que é genuíno
campo complexo que obriga a um método de ao mesmo tempo que desenvolve estratégias
análise e de interpretação multidimensional: para a sua inserção num espaço mais amplo.

Fundo Europeu Agrícola


de Desenvolvimento Regional

A Europa investe nas zonas rurais

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