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A . D elorenzo N eto
(Professor na Escola de Sociologia e Política
de São Paulo)
S enhores.
Não sei se deveremos falar em doutrina municipalista. Talvez não seja
mos precisos. Será mais lógico reconhecermos as contribuições que possam
pela sua originalidade e importância delinear a evolução do pensamento mu
nicipalista brasileiro.
A doutrina municipalista como tal, implicaria na compreensão do Estado
pelo Município, quando, a rigor, a problemática do Município se situa como
elemento da teoria do Estado. Pensar o contrário seria adotar a visão unila
teral do problema, e caminhar num desvio demagógico que repugna ao mais
elementar raciocínio científico. A objetividade com que devemos encarar
essas questões é tanto mais necessária, se avaliarmos as condições geográfi
cas do país, exigindo um tratamento político-administrativo descentralizadc,
com a caracterização acentuada dos órgãos da vida local. O nosso localismo é,
pois, incontestàvelmente, uma fatalidade geo-econômica-social. Mas, êsse dado
elementar da estrutura do país não se deve prestar à excitação demagógica
de muitos políticos municipalistas, que fazem subverter a ordem natural da
gênese de nossos fenômenos de desenvolvimento, procurando promover uma
exaltação vã dos atributos municipais em têrmos tão ridículos quanto absur
dos.
Qualquer teoria que pretenda explicar o Município, há de, por certo,
perscrutar a sua fenomenológica considerando-o um ente jurídico dentro de
uma área autônoma de contornos imprecisos, com as limitações intransponí
veis da União soberana. Somente a Teoria Geral do Estado e a Sociologia,
por via dedutiva e indutiva, comparando experiências da implantação das
mais variadas técnicas de direito público, — é que poderão fornecer materiais
ao político para uma nítida compreensão da organização municipal.
O atraso secular do nosso interior vinha denunciando um comportamento
anômalo de nossas instituições, mercê da incoerência na organização política
(*) Conferência pronunciada no Salão Nobre da Universidade Nacional de Panamá,
em 23 de agôsto de 1956, e na Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas, em 27 de
novembro de 1956.
A d m in istr a ç ã o M u n ic ipa l 77
(6) “in” — Revista Brasileira dos Municípios, Rio de Janeiro, n.° 20 __ outubro-
dezembro de 1952.
90 R evista do S erviço P ú blico — J aneiro de 1957