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DIAP CENTRAL DE __________

___________________________________________________________, com data de


nascimento __________, portador/a do cartão do cidadão n. _________, com
morada em _______________________________________________________________

(doravante designado/a como “Denunciante”)

vem apresentar denúncia contra

Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista (doravante


“Deputados do GPPS”), estando os nomes dos deputados e respetivas datas
de nascimento identificados em:
https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Deputados.aspx?more=1
todos com morada profissional na Assembleia da República, Palácio de S.
Bento, Praça da Constituição de 1976, 1249-068 , em Lisboa

Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata (doravante


”Deputados do GPPSD”), estando os nomes dos deputados e respetivas datas
de nascimento identificados em:
https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Deputados.aspx?more=1
todos com morada profissional na Assembleia da República, Palácio de S.
Bento, Praça da Constituição de 1976, 1249-068 , em Lisboa
(doravante conjuntamente designados como “Denunciados”)

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1. No passado dia 11 de Novembro de 2022, os Deputados do GPPS


apresentaram no Parlamento o Projeto de Revisão Constitucional 3/XV
(doravante “Projeto PS”1) da autoria dos seguintes deputados: Eurico
Brilhante Dias, João Torres, Pedro Delgado Alves, Alexandra Leitão,
Isabel Alves Moreira.

2. O Projeto PS introduz alterações em diferentes artigos da Constituição


da República Portuguesa (doravante “Constituição”) entre eles o artigo
27.o, que consagra o direito à liberdade e à segurança, dentro do
Capítulo I da Constituição – “Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais”.

3. O atual artigo 27.o da Constituição estabelece que:


“Artigo 27.º
Direito à liberdade e à segurança
1. Todos têm direito à liberdade e à segurança.
2. Ninguém pode ser total ou parcialmente privado da liberdade, a não ser em
consequência de sentença judicial condenatória pela prática de ato punido por lei
com pena de prisão ou de aplicação judicial de medida de segurança.
3. Excetua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições
que a lei determinar, nos casos seguintes: [...]”

4. Alterando este artigo em específico, o Projeto PS vem alargar o campo


das exceções ao direito fundamental à liberdade.

5. Com efeito, o Projeto PS acrescenta a seguinte alínea – i) – ao número


3 do artigo 27.o da Constituição:
“3 – Excetua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições
que a lei determinar, nos casos seguintes:
[...]
i) Separação de pessoa portadora de doença contagiosa grave ou relativamente à
qual exista fundado receio de propagação de doença ou infeção graves,
determinada pela autoridade de saúde, por decisão fundamentada, pelo tempo
estritamente necessário, em caso de emergência de saúde pública, com garantia
de recurso urgente à autoridade judicial.”

1
https://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/s2a/15/01/114/2022-11-11/17?pgs=17-29&org=PLC
6. Esta nova alínea proposta é repleta de conceitos indeterminados, mas
estabelece claramente a privação de liberdade – por ordem de prisão
domiciliaria ou quiçá prisão efetiva - sem decisão judicial, a bel prazer
do Executivo.

7. Acrescentando esta exceção ao direito à liberdade, o GPPS está


efetivamente a tentar reduzir e limitar um direito fundamental
consagrado na nossa Constituição.

8. O mesmo fez o GPPSD que, também no passado dia 11 de Novembro


de 2022 apresentou o Projeto de Revisão Constitucional 7/XV
(doravante “Projeto PSD”2) da autoria dos seguintes deputados:
Joaquim Miranda Sarmento, Paula Cardoso, Andreia Neto, Ricardo
Baptista Leite, João Moura, Paulo Rios de Oliveira, Joaquim Pinto
Moreira, Catarina Rocha Ferreira, Clara Marques Mendes, Hugo
Carneiro, Hugo Patrício Oliveira, Luís Gomes, Alexandre Poço, Emília
Cerqueira, Sónia Ramos, Sara Madruga da Costa, Paulo Moniz, Mónica
Quintela, Ofélia Ramos, Cristiana Ferreira , Lina Lopes , Márcia Passos,
Sofia Matos, Artur Soveral Andrade, Bruno Coimbra, Miguel Santos,
Cláudia André, Pedro Roque, Rui Cristina, Rui Cruz, Paulo Ramalho,
Jorge Salgueiro Mendes, João Marques, Firmino Marques, Fátima
Ramos, Hugo Martins de Carvalho, Hugo Maravilha, Guilherme Almeida

9. Tal como o GPPS, o GPPSD acrescentou uma nova exceção ao direito


à liberdade através da alínea i) do número 3 do artigo 27.o da
Constituição:

“3 – Excetua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições


que a lei determinar, nos casos seguintes:
[...]
i) Confinamento ou internamento por razões de saúde pública de pessoa
com grave doença infectocontagiosa, pelo tempo estritamente necessário,
decretado ou confirmado por autoridade judicial competente.”

2
https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=152053
10. À semelhança do Projeto PS, esta alínea visa permitir a prisão
domiciliaria/internamento ou prisão efetiva em caso de doença
infectocontagiosa.

11. Acrescentando esta exceção ao direito à liberdade, também o GPPSD


está efetivamente a tentar reduzir e limitar um direito fundamental
consagrado na nossa Constituição.

12. O artigo 288.o da Constituição fixa os limites materiais à revisão da


mesma e dispõe que:

«Artigo 288.º
Limites materiais da revisão
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
[...] ;
d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
[...].»

13. Este artigo configura um “travão absoluto” para impedir, que em caso
algum – mesmo com a totalidade dos deputados da Assembleia da
República – se conseguisse alterar um dos direitos fundamentais, que
são elencados a partir do artigo 24º da Constituição.

14. Estes direitos fundamentais são a nossa identidade constitucional; são


o núcleo essencial de princípios cuja permanência, constituem o nosso
magma; são a estrutura basilar de todo o Estado de Direito
democrático, e cuja violação destruiria para sempre toda a nossa
identidade constitucional, em termos materiais.

15. O sentido constitucional da consagração deste limite material à revisão


constitucional, e mais concretamente no tocante aos direitos
fundamentais, previstos na alínea d) do art. 288º da Constituição é o de
que, estes direitos têm sempre de ser respeitados e que constituem uma
“fronteira inultrapassável”, um limite absoluto a uma qualquer revisão
constitucional.

16. O conjunto de direitos fundamentais consagrados na alínea d) do art.


288º da Constituição pode ser alargado; mas jamais restringindo,
eliminando ou abolindo, algum dos direitos já existentes.

17. Os Deputados do GPPS e os Deputados do GPPSD, pelo simples facto


de submeterem à discussão parlamentar, seja sob que forma for, esta
sua pretensão de revisão constitucional e mais concretamente, uma
alteração ao artigo 27º da C.R.P., eliminando-se a garantia de privação
de liberdade de cidadão apenas mediante decisão judicial, estarão a
incorrer no crime de tentativa de “atentado ao Estado de Direito”
previsto no art. 9º da Lei nº 34/87 de 16 de Julho, actualizada com a 8ª
versão pela Lei nº 94/2021 de 21 de Dezembro.”

18. Com efeito, o artigo 9º da Lei nº 34/87, de 16 de Julho, tipifica o crime


de «Atentado contra o Estado de direito»: «O titular de cargo político
que, com flagrante desvio ou abuso das suas funções ou com grave
violação dos inerentes deveres, ainda que por meio não violento nem
de ameaça de violência, tentar destruir, alterar ou subverter o Estado
de direito constitucionalmente estabelecido, nomeadamente os
direitos, liberdades e garantias estabelecidos na Constituição da
República, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, será punido com prisão
de dois a oito anos, ou de um a quatro anos, se o efeito se não tiver
seguido».

19. O crime previsto nesta disposição, considerados os seus elementos


constitutivos, deve ser qualificado como crime próprio, puro, e tanto
pela previsão específica da lei, como pela centralidade e
essencialidade da qualidade do agente, é um crime de “mão-própria”.

20. Os atos que o tipo do artigo 9º prevê têm de ter sido praticados pelo
titular de cargo político no exercício das funções ou por causa ou no
contexto do exercício das respectivas funções; constitui um crime de
exercício.

21. E no exercício das respectivas funções, «com flagrante desvio ou abuso


das suas funções, ou com grave violação dos inerentes deveres». No
exercício das funções significa acção integrada por atos ou omissões
praticadas no exercício do complexo das competências ou poderes
políticos próprios do titular de cargo político que possa estar em causa.

22. Nas palavras do Prof. António Henrique Gaspar, “para além da natureza
e da qualificação da actuação, tem de concorrer uma intenção
específica para a produção de um efeito – tentar destruir, alterar ou
subverter o Estado de direito constitucionalmente estabelecido,
nomeadamente os direitos, liberdades e garantias estabelecidos na
Constituição da República e em instrumentos internacionais sobre
direitos e garantias fundamentais.

23. A formulação permite, assim, revelar a construção do tipo como crime


de empreendimento, em que a tentativa integra já, por si, o crime
acabado, considerando-se a acabamento apenas como critério de
delimitação das molduras penais previstas.

24. Na sua estrutura típica, o crime de «atentado ao Estado de direito»


consiste numa rutura, no aniquilamento, ou na supressão geral e
sistémica, se não total pelo menos de modo substancial, dos elementos
constitucionais da noção – soberania popular, pluralismo de expressão
e organização política democrática, separação e interdependência
de poderes e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades
fundamentais – artigo 2º da Constituição. Direitos, liberdades e
garantias fundamentais que a Constituição enuncia no Título II, sejam
pessoais, sejam de participação política ou dos trabalhadores.”

25. Todos estes elementos típicos do crime estão presentes na presente


denúncia.

26. Pois é verdade que ambos Projetos PS e PSD visam destruir, aniquilar ou
suprimir o direito mais básico e fundamental de todos: a liberdade.

27. Caso estes projetos aberrantes fossem aprovados, que jamais serão
porque a nossa Constituição tem mecanismos de defesa robustos, o
resultado seria uma modificação de tal nível, generalidade e
intensidade, que se apresentaria como um verdadeiro «golpe de
estado» por meios não violentos.

28. Jamais! Como cidadãos é nossa obrigação defender o Estado de


Direito e defender a nossa Constituição! Trata-se de um crime público
que somos obrigados a denunciar!

29. Todos estes deputados agiram livre e deliberadamente, no exercício


das suas competências políticas, bem sabendo que com a sua
conduta violavam a lei, pois a esmagadora maioria deles até formação
jurídica tem.

Nestes termos, por mostrar-se indiciada a prática, pelos denunciados,


de um crime de «atentado ao Estado de direito», previsto e punido no
artigo 9º da Lei nº 34/87, de 16 de Julho, se requer mui respeitosamente
a V. Exª que se proceda ao registo e à autuação como inquérito.

A/O denunciante, _________________________________________________


manifesta desde já, a sua intenção de se constituir assistente.
______________________, ___ de _______ de 202__

Assina, a/o cidadã/cidadão,

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