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O Dízimo do Homem Livre

Marcos Granconato

Dízimo é a palavra que sempre vem à mente dos descrentes quando o assunto são os
desvios do povo evangélico. Também, pudera! Desde que surgiram as igrejas
neopentecostais e o meio protestante foi infiltrado por toda espécie de exploradores,
nenhuma outra ferramenta tem sido usada de forma tão maligna para arrancar até os
olhos dos pobres ignorantes do que o dízimo.

Os excessos são variados, chegando ao ponto de provocar riso: um pastor disse que quem pecou
uma vez ganhando dinheiro desonesto não deve pecar de novo deixando de dar o dízimo desse mesmo
dinheiro; outro fez uma promoção em sua igreja, baixando o dízimo para 5%, a fim de desbancar a
concorrência. Isso sem falar nos estelionatários da fé que fazem do dízimo moeda de troca, ensinando que
quanto maior for a oferta, mais abençoado será o ofertante, pois, segundo eles, Deus verá nesse gesto uma
fé de primeira linha, digna de recompensa especial. O trouxa que acredita nisso vende até a única casinha
que tem e dá todo o dinheiro para a igreja, pensando que assim será capaz de manipular Deus na forma
como ele administra sua graça.

Em meio a tanta distorção, como o crente de verdade deve entender o ensino bíblico sobre o
dízimo? É muito simples. Na Bíblia, o dízimo aparece já antes do advento da Lei Mosaica, sendo
oferecido de forma voluntária por Abraão e Jacó (Gn 14.20; 28.22). Séculos mais tarde, porém, Deus
elevou essa prática à categoria de obrigação e a impôs sobre todo o povo de Israel.

De fato, a Lei de Moisés exigia que os israelitas entregassem o dízimo de tudo aos levitas (Hb
7.5). A mesma lei fixava ocasiões em que o próprio ofertante podia participar das dádivas que havia
separado (Dt 14.22-26).

Nos dias de Jesus essa norma ainda vigorava (Gl 4.4) e o Mestre a aprovou (Mt 23.23). Porém,
com sua morte, uma nova fase começou. A Nova Aliança, diferente da mosaica, apontando Cristo como o
novo sumo sacerdote diante de Deus, trouxe mudança de lei (Hb 7.12), livrando o crente das exigências
do código imposto a Israel no deserto (2Co 3.7-11; Gl 3.19, 23-25; Ef 2.14-15; Cl 2.13-14; Hb 7.18-19;
8.6-7,13).

Assim, não pesa mais sobre o crente nenhum dever legal de dar o dízimo. Sob a Nova Aliança
inaugurada por Cristo na cruz, ele é livre de regras acerca de como seus recursos devem ser aplicados na
obra de Deus.

Aqui surge a pergunta: se o cristão está livre da norma mosaica sobre o dízimo, por que as igrejas
bíblicas têm em seus cultos o momento do ofertório, quando os membros entregam suas dádivas ao
Senhor?

É simples: sob a Nova Aliança, o crente é estimulado pelo Espírito Santo que nele habita a
cumprir espontaneamente a justiça que há na Lei (Rm 7.4-6; 8.3-4; Hb 8.10-12). Por isso, todo crente
genuíno se vê impelido por Deus a honrá-lo com recursos materiais a fim de que a causa do Senhor seja
mantida neste mundo. O homem salvo, porém, faz isso livremente, cheio de alegria no coração, sem
barganhar com Deus e sem ter de ser ameaçado ou forçado por falsos pastores.

Os dízimos e ofertas atuais do povo de Deus são, portanto, como os dízimos de Abraão e Jacó,
santos que serviram a Deus livres da Lei e, com gratidão e entusiasmo, longe de opressões e temores,
usaram seus bens materiais para a glória do Senhor, fonte, proprietário e alvo de tudo que o homem tem
nesta vida.

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