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QUEBRAS DE PROMESSAS
A máquina de promessas (o artefato tecnológico) tem na relação com o indivíduo,
além da naturalização da falha, a capacidade de monetizar ‘fracasse sempre, fracasse
melhor’, os autores destacam o cuidado de que alguns estudos precisam ter para não
transpor essa falha ao usuário, pois, a máquina está no regime de falha para que possamos
monetizá-la. Exemplo disto é a noção de consumir plataformas diferenciadas e premium
que afeta principalmente a produção e consumo de informação.
É apresentado no livro estudos de Karl Popper, Heidegger para demonstrar que o
fracasso é um fenômeno que é e precisa ser analisado, mas, Alexander e Appadurai se
propõe a deslocar a percepção da tecnologia como objeto para processo. Essa mudança é
fundante para o desenvolver do livro. Penso em como sistematizar ou identificar limites
da pesquisa de fenômenos sociais se não for estabelecida a noção de processo. E, se assim
não for, corre-se o risco de dar a máquina de promessas status de instituição como é
comumente vendida a prática dos algoritmos na sociedade.
A Teoria Tecnológica do fracasso sustenta-se em marcas temporais na busca
incessante por atualização (condicionado a um mercado/monetização do fracasso que
estimula uma ‘necessidade’ de inovação). O Buffering é a categoria que marca a
temporalidade na teoria tecnológica do fracasso, pois, retroalimenta uma cadeia de
eventos e de suspensão dos sujeitos no presente. A espera do carregamento do sistema é
o gatilho da ansiedade e aceleração do consumo. O tempo de espera se torna imprevisível
e o que era pretensamente transparente se torna opaco.
Uma relação interessante firmada entre o aparato tecnológico e os sujeitos está na
promessa adiada e a de conveniência. É uma combinação ideal para sustentar o controle
dos corpos, na condição de mercado e de reconfigurações de identidade. Nossas
necessidades passam a ser cercadas pelas conveniências de apps, o indivíduo isolado tem
seu sono regulado por plataformas de streaming. “É o fracasso em criar estruturas sociais
estáveis e duradouras que desejamos vincular à proliferação de aplicativos móveis e sua
promessa de conveniência. Que tipos de fracassos são perpetuados pela busca de
conveniência e imediatismo? E qual é a linguagem usada para descartá-los?” (p.48). Aqui
acredito ser potencial para aplicação de estudos de caso e análises; dimensionar a
condição de afetação e projetar soluções no universo da pesquisa científica.
A ideologia de fracassar, mas, principalmente esquecer do fracasso para fracassar
novamente é direcionado. Nem todos são perdoados ao falhar, alguns detém esse
privilégio. O fracasso enredado por uma identidade quantificada por avaliações de
‘prestadores de serviços’ via apps, nos põe sempre numa condição de ao mesmo tempo
avaliadores e avaliados.
Wall Street e o Vale do Silício compartilham da espera que os cidadãos comuns
esqueçam os fracassos individuais rapidamente ou assumam passivamente a culpa e
paguem para continuar esperando por eles. Usando o crash do mercado imobiliário de
2008 como seu estudo de caso final, Appadurai e Alexander afirmam que, quando se trata
de Wall Street, o fracasso é comoditizado por meio da produção de dívida, e a
normalização do fracasso é a prática pela qual a produção de dívida é viabilizada (p.108
- 110). O cidadão agora é medido por sua capacidade de possuir dívidas; quanto mais
pode, mais potencial de consumir, mais ‘status’ o acompanha.