1) O texto discute as sucessivas formas de divisão territorial do trabalho no Brasil e seus efeitos no espaço brasileiro ao longo do tempo. 2) Quatro distintas formas de divisão territorial do trabalho são identificadas desde os anos 1870, cada uma com configurações diferentes de espaço-tempo. 3) A partir dos anos 1950 houve uma revolução industrial que concentrou a indústria no Sudeste de forma polarizada e diferenciada, alterando a estrutura do espaço brasileiro.
1) O texto discute as sucessivas formas de divisão territorial do trabalho no Brasil e seus efeitos no espaço brasileiro ao longo do tempo. 2) Quatro distintas formas de divisão territorial do trabalho são identificadas desde os anos 1870, cada uma com configurações diferentes de espaço-tempo. 3) A partir dos anos 1950 houve uma revolução industrial que concentrou a indústria no Sudeste de forma polarizada e diferenciada, alterando a estrutura do espaço brasileiro.
1) O texto discute as sucessivas formas de divisão territorial do trabalho no Brasil e seus efeitos no espaço brasileiro ao longo do tempo. 2) Quatro distintas formas de divisão territorial do trabalho são identificadas desde os anos 1870, cada uma com configurações diferentes de espaço-tempo. 3) A partir dos anos 1950 houve uma revolução industrial que concentrou a indústria no Sudeste de forma polarizada e diferenciada, alterando a estrutura do espaço brasileiro.
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIAL DO INSTITUTO DE GEOGRAFIA –
CATALÃO/GO Discente: Letícia Silva Plácido Docente: Prof.ª Drª Carmem Lucia Costa Disciplina: Geografia Urbana
FICHAMENTO TEXTO 2: MOREIRA.R. A nova divisão territorial do trabalho e as tendencias de configuração do espaço brasileiro
• É sabido que a divisão territorial do trabalho é um fato da produção e das trocas
que compõem a estrutura das modernas economias. É nas sociedades de base industrial que melhor se aplica a máxima smithiana de que o tamanho do mercado é o tamanho da divisão do trabalho e, vice-versa, o tamanho da divisão do trabalho é o tamanho do mercado. • No Brasil, as sucessivas formas de divisão territorial do trabalho costuraram uma relação sociedade-espaço cujos efeitos sociais (distribuição das oportunidades de emprego e renda), econômicas (custos de produção e escoamento) e socioambientais (desarrumação dos espaços) são evidentes, ensejando pressões generalizadas por reconfigurações e mudanças • Como a sucessão das configurações de espaço vai acumulando uma superposição de realidades e alianças político-sociais históricas diferentes, os conflitos crescem em tensão de territorialidades, que se acumulam igualmente, hoje chegando a um ponto explosivo diante da desintegração dos esquemas de regulação nacional do espaço brasileiro. • O papel da atual divisão territorial do trabalho e da reestruturação que a acompanha em vista das tendências e problemas que trazem de organização da relação sociedade-espaço no Brasil é o tema deste texto. • A evolução industrial moderna no Brasil tem início nos anos 1870-1880. Desde então, diferentes modos de organização de espaço são conhecidos, numa relação entre sociedade e espaço que espelha a divisão territorial do trabalho e de trocas existente. Quatro distintas formas de divisão territorial do trabalho e de respectivas configurações de espaço-tempo se sucedem a partir de então. • o espaço é industrialmente concentrado e diferenciado. Nos anos 1970 a centralização toma conta da organização do espaço brasileiro, liberando para a desconcentração e diferenciação regional das indústrias. Por fim, hoje tende-se a uma configuração que designaremos por globalizada e nacionalmente desintegrada, indicando a entrada da sociedade brasileira numa fase "pós- industrial" • De um certo modo a década de 1880 exprime uma ruptura na forma histórica de relação sociedade-espaço no Brasil até então existente, mercê da presença daí em diante de um modo de produção e de trocas próprio de uma sociedade de economia industrial. • O processo se inicia com as transformações ocorrentes naquela década, entre elas a abolição do trabalho escravo e a instituição do estado republicano. O Brasil fazia parte então de uma divisão territorial internacional do trabalho e das trocas vinculada à acumulação primitiva europeia, determinadora internamente de uma organização do espaço dispersa e indiferenciada do ponto de vista da natureza e distribuição da indústria. • São indústrias de um Brasil rural e agroexportador A partir de 1880 a fábrica moderna entra no Brasil, em alguns casos para ocupar o lugar da indústria de beneficiamento, como no caso dos frigoríficos, em outros da indústria doméstica, como no caso da indústria têxtil e de alimentos • Temos, então, no geral, um parque industrial de indústrias de bens de consumo não-duráveis, em que a tecnologia da fábrica moderna coexiste aqui e ali com a tecnologia tradicional das indústrias domésticas e de beneficiamento remanescentes. • A abolição da escravatura, significando a "expulsão" do custo da reprodução da força de trabalho para fora dos custos gerais da produção em uma economia por muito tempo ainda de fundo rural (agroexportadora, diga-se), leva a surgir no Brasil um "mercado interno" de bens industriais de consumo leve, para o qual as indústrias de beneficiamento e domésticas, da classificação de Castro, irão mostrar-se despreparadas e insuficientes. • A nova indústria desenvolve-se, pois, vinculada a este acanhado e pobre, rural e disperso mercado, trazendo para o país as fábricas nascidas da revolução industrial europeia do século XVIII. • Abre-se a economia assim para uma divisão territorial do trabalho internamente à sociedade brasileira, juntando a agropecuária de exportação, a lavoura de subsistência, a indústria e os serviços urbanos, em particular os relacionados aos meios de transferência. • Daí a distribuição dispersa, a natureza rural, a qualidade inferior dos produtos e a precariedade das condições de funcionamento dessa nova indústria, tal qual as indústrias de beneficiamento e domésticas de antes, mas também a razão pela qual ela sobrevive a tudo isso. • O período dos anos 1920 a 1950 vai registrar as primeiras mudanças. Um estudo da equipe do Grupo de Geografia das Indústrias do IBGE, coordenado pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, datado de 1963 (GGI, 1963), mostra o teor dessas transformações: a dispersão vai dando lugar a uma crescente concentração quantitativa da indústria nos estados da região Sudeste. • Tal é a configuração de espaço característica dessa época: ao mesmo tempo concentração e indiferenciação territorial da indústria. A indústria encontra-se já concentrada em 1958, mas do ponto de vista da estrutura é ainda fortemente indiferenciada. Contraditam estrutura espacial e estrutura setorial. • Há, portanto, uma duplicidade geográfica na estatística industrial do país: se pelo lado da distribuição territorial a indústria é um fenômeno concentrado nos estados do Sudeste, já em 1907 e mais ainda em 1958, pelo lado da distribuição setorial é um fenômeno pouco diferenciado entre os estados brasileiros no seu todo. • Daí a diferenciação que regionaliza, mas sob a forma de uma divisão regional estruturada em regiões homogêneas (as regiões naturais flagradas em 1941 por Macedo Soares), típica da hegemonia do capital mercantil. • Uma profunda transformação econômica aconteceu no período dos anos 1920 a 1950, diferindo do ponto de vista da natureza da indústria 1958 de 1907. O motor da mudança é o processo substitutivo de importações. Tema controverso, seja como for, há uma impulsão industrial para frente, empurrada por três "choques adversos", representados pela primeira guerra, a crise de 1929 e a segunda guerra, respectivamente. • A indústria moderna assim se multiplica, se diversifica e se afirmar no Brasil, ultrapassando o esquema acanhado de antes de 1920 descrito por Francisco de Oliveira. Em 1939 o Brasil pode-se considerar um país praticamente auto- suficiente na produção e consumo de bens industriais de consumo não-duráveis. E é esta aceleração que vemos estatisticamente condensar-se em São Paulo e Rio de Janeiro. • O período de 1950 a 1970 conhece uma mudança radical. Já nos anos 1940 uma nova estrutura industrial se prenuncia. Os ramos alimentícios, têxtil, de fumo e químico de óleos vegetais, todos do setor de não-duráveis, cobrem 70% do valor da produção industrial. Mas a produção de ferro-gusa sobe de 50.000 toneladas em 1930 para 100.000 toneladas em 1940. A produção de cimento cresce nove vezes nesse mesmo período. Em 1941 inicia-se a construção da Usina Siderúrgica Presidente Vargas, da CSN, em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro. É dessa década a abertura da estrada Rio-Bahia. E o Plano SALTE (1946), anunciando a era da industrialização estatalmente induzida. • A indústria conhece uma revolução até então nunca vista. Davidovich (1974) dá- lhe a dimensão estatística: tomando 1940 igual a 100, o índice de crescimento industrial em valor da produção foi de 186 em 1950 e 291 em 1960, a produção praticamente triplica em apenas vinte anos. Vistos setorialmente, estes índices mostram-se mais impressionantes: material elétrico, 1344; borracha, 1118; mecânica, 866; material de transporte e comunicações, 733; papel, 548; metalurgia, 537; química, 400. • O fato é que a revolução brasileira desigualiza a estrutura industrial a favor de São Paulo, subsidiariamente dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, vindo o parque industrial dos estados do Sudeste a diferenciar-se agora quantitativa qualitativamente da indústria dos demais estados e regiões. No lugar do espaço industrialmente disperso e indiferenciado de antes, instala-se no Brasil um espaço de padrão polarizado, concentrado e diferenciado, com pólo nacional em São Paulo, um padrão que doravante irá orientar o fluxo das relações cidade-campo e inter-regionais, setorial e locacionalmente no conjunto do território brasileiro. • Fica evidente o contraste desta estrutura industrial com a que vimos para 1875- 1885, e mesmo 1907 e 1958. Não se trata, pois, mais, de uma desigual densidade territorial de indústrias de mesmos ramos como flagrado para o período pré-anos 1950, mas de uma estrutura industrial regionalmente de todo diferenciada e polarizada no espaço nacional brasileiro • O Sudeste aumentou sua participação na renda industrial do Brasil e a diminui na renda agrícola. No sentido contrário, o Nordeste e o Sul aumentaram sua participação na renda agrícola e diminuíram-na na renda industrial. O Centro- Oeste acompanhou, no geral, mas de modo diferenciado, pela via da agro- indústria, o Nordeste e o Sul. O Norte não foi aparentemente afetado, dado seu isolamento interno dos eixos de circulação • Portanto, ao tempo que nacional e intrarregionalmente o Nordeste e o Sul se tornam menos industriais e mais agrários, o Sudeste se torna mais industrial e menos agrário, o Centro-Oeste e o Norte incorporam-se a esta divisão inter- regional do trabalho como típicas fronteiras de expansão agropastoril do Sul e de São Paulo. • Dessa forma, a diferenciação-concentração industrial chega a um grau insustentável, criando efeitos contrários à própria lógica que em sua origem a presidia. Uma deseconomia de escala, visível já na virada dos anos 1960 e 1970, afetando custos e produtividade, congestiona a continuidade do processo industrial e põe em compasso de marcha-ré a continuidade do ritmo do desenvolvimento brasileiro. • A fórmula da recuperação industrial dos estados e regiões é a política de instalação de indústrias de bens intermediários, em geral na forma de pólos mínero- industriais, e de usinas hidrelétricas de grande porte em pontos estratégicos da periferia nacional, localizadas ao longo das periferias regionais de São Paulo, acompanhada de uma expansão da fronteira agrícola e maior difusão dos meios de transferência pelo território nacional, de modo a atender a demanda de circulação de transportes, comunicação e energia entre regiões e pólos e favorecer o florescimento industrial para além do Sudeste. • Observe-se que os pólos são instalados estrategicamente nas outras regiões que não o Sudeste e localizados preferencialmente na linha de fronteira, em pontos da Amazônia, do Nordeste, do Sul e do Centro-Oeste, com enorme repercussão na distribuição dos transportes, meios de comunicação e rede de transmissão de energia, fluidificando e nacionalizando o espaço brasileiro através da difusão desses meios de transferência. • O efeito Mercosul é um dado posterior, e indica, numa aparente contradição, a estratégia dos países do Cone Sul de uma reação regional à economia de mercado globalizado. Deve-se observar que entre 1990 e 2000, em apenas dez anos, o comércio somado de importações e exportações entre os parceiros do Mercosul aumentou de 2,5 bilhões de dólares para 20 bilhões, informa Diniz. Que o Brasil exporta principalmente produtos industriais sofisticados. E que mais de 90% dessas exportações saem das áreas industriais do polígono. • O planalto central aloja a segunda região de divisão territorial do trabalho. Trata- se de uma extensão de território que avança das fronteiras da região Sul para as fronteiras com a Amazônia ("nortão" do Mato Grosso) e o Nordeste (oeste da Bahia e sul do Maranhão e Piauí), e grande parte da qual sobrepõe-se ao território da região do polígono industrial. No que nos interessa, o domínio dos cerrados é o seu centro de gravidade. Daí, que reproduz-se do outro lado da floresta amazônica, nos cerrados de Roraima. • É a implementação do Estatuto do Trabalhador Rural, de 1963, que irá provocar o começo do fim da instituição binomial. Destinado a levar para o campo os benefícios trabalhistas já previstos para o trabalhador da cidade, o Estatuto do Trabalhador Rural vai produzir ao longo dos anos 1960 e 1970 a onda de expulsão e transformação que irá converter esse campesinato num trabalhador volante, o bóia-fria, e forjar a modernização generalizada das relações de produção no campo (D'Incao e Mello, 1977 e 1984), assim capitalizando o latifúndio, extinguindo o chamado minifúndio dominial e dissolvendo a relação binomial nas áreas agrícolas de latifúndios modernizados • A instituição da moderna agroindústria vai dissolver esta estrutura, nas áreas coloniais do Sul e nas grandes fazendas de lavoura e gado do Centro-Oeste. No latifúndio transformado em empresa rural, a modernização tecnológica expulsa, tal qual na abolição a agroexportação fizera com o trabalho escravo, a indústria de benefíciamento para fora dos custos da estrutura produtiva, forjando sua autonomização. • Com a chegada da soja e dos pólos mínero-industriais, fundem-se, na faixa de interseção do Centro-Oeste e da Amazônia, as estratégias de modernização do campo e de redistribuição da infraestrutura e das indústrias do Sudeste que orientam a filosofia do I e II PNDs. E com ela os grandes projetos de usinas hidrelétricas. A Amazônia é então transformada numa região dos grandes pólos de agropecuária, madeira e mineração. E protótipo da política dos grandes projetos. • Assim, diante da privatização das empresas estatais e da reforma que esvazia o papel regulador do Estado, a unidade histórica da organização do espaço nacional polarizado em regiões hierarquizadas se dissolve. O Sudeste integraliza-se com o Sul na região do polígono industrial. O Sul assim desaparece. O Centro Oeste dissocia-se do Centro-Sul para formar uma região que incorpora para além do antigo território o sul da Amazônia e a porção oriental do Nordeste, unidos ao centro de gravidade do complexo da soja, uma estrutura vinculada a corredores de exportação. O Nordeste se quebra numa porção oriental e ocidental que se dão as costas. • A profundidade dos conflitos de territorialidades. O tensionamento das relações de espaço e contra-espaço que são fruto de espacialidades de sujeitos de natureza social contraditórias. E então o fermento dos debates sobre a configuração de relação sociedade e espaço que temos e queremos.