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O signo CRIANÇA nas canções

“Pivete” e “O meu guri” de Chico


Buarque.

“Um signo é sempre constituído por um (ou mais)


elementos de um plano da expressão
convencionalmente correlatos a um (ou mais)
elementos de um plano do conteúdo. Sempre que
ocorre uma correlação desse tipo, reconhecida por
uma sociedade humana, existe um signo. Somente
nesse sentido se pode aceitar a definição de
Saussure, segundo a qual um signo é a
correspondência entre um significado e um
significante.” (Umberto Eco, p.39)
No seu Tratado Geral de Semiótica, livro de onde
extraímos a citação acima, Eco fala da existência
não de signos, mas de funções sígnicas onde dois
elementos funtivos entram em mútua correlação,
sendo possível a um mesmo elemento se
correlacionar com outros elementos transformando-
se e originando outra função sígnica diferente.
Em Saussure (p.133), vemos que no interior do signo
o conceito funciona como contraparte da imagem
acústica; por conseguinte, esse signo funciona como
contraparte de outros signos da Língua. Esse fato
acaba por gerar um “sistema de valores” que se
constitui o vínculo entre os elementos fônicos e
psíquicos no interior de um signo.
Baseando nossa reflexão no pensamento de
Saussure e de Eco sobre a natureza do signo,
comentaremos nessa composição o tratamento do
signo CRIANÇA nas canções Pivete e O meu guri da
autoria de Chico Buarque.
Iniciemos com o texto da canção “O meu guri”. O
poema traz versos onde uma mãe apresenta o seu
filho como um “guri” decidido, esperto, dedicado,
meigo, trabalhador a uma terceira pessoa, talvez, um
repórter. No decorrer do texto, o autor fornece ao
leitor pistas que lhe permitirão atualizar o signo
CRIANÇA, aqui, constituído no plano da expressão
pelo termo “guri”, correlacionado com elementos
como fome, corrente de ouro, bolsa com tudo dentro,
morro, assalto, carregamento, pulseira, cimento,
relógio, gravador, pneu. Nitidamente, o autor “pinta” o
retrato de um delinquente juvenil – elemento do
plano do conteúdo, desses que inflam as favelas e os
morros do Rio de Janeiro.
Vejamos, então, o texto da canção Pivete que soa
como crônica, embora seja um poema. O signo
CRIANÇA é constituí pelo termo “pivete” que remete
a, no tocante ao conteúdo, idéia de menino largado
na rua, que comete pequenos delitos. Vários são os
elementos encontrados no texto que legitimam essa
interpretação que de início foi validada pelo senso
comum. Por exemplo, sabemos que se trata de
meninos porque a paixão pelo futebol e corridas de
carro de Fórmula Um é evidenciada pelos termos
Pelé, Mané, Emerson; também, que vivem nas ruas
do Rio de Janeiro – são citadas algumas ruas dessa
cidade e atividades que condizem com essa
realidade, por exemplo, algumas unidades como
sinal fechado, vende chiclete, flanela, trocado,
sarjeta, ligação direta, entre outras, que garantem a
composição do signo – expressão e conteúdo.
Em outros contextos, o signo CRIANÇA pode assumir
outros valores. Por exemplo, em muitos lares,
inclusive e principalmente nos da classe média
brasileira, esse signo remete a elementos como
inocência, travessura, simplicidade, alegria, futuro,
benção, felicidade no plano do conteúdo e, no plano
da expressão, aos elementos “menino” e “meninas”.
RUFINA MARIA FONTELES CASTRO PINTO
Enviado por RUFINA MARIA FONTELES CASTRO PINTO em
30/05/2011
Reeditado em 07/07/2011
Código do texto: T3003067
Classificação de conteúdo: moderado
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