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Instituto de Economia, UFRJ

Monetarismo:
modelo de ciclo monetarista
Referências: Blanchard (2010): cap.9

Profª. Lídia Brochier


lidia.brochier@ie.ufrj.br

3 de novembro de 2022
Modelo de ciclo
monetarista
Modelo de ciclo monetarista

• Vimos que a demanda agregada monetarista tem como


base a TQM de Friedman:
• TQM enquanto teoria da demanda por moeda: Md seria
pouco elástica a alterações na taxa de juros.
• Isso permite entender a TQM como teoria de determinação
da renda nominal.
• Vimos que a oferta agregada monetarista tem como base a
curva de Phillips aceleracionista:
• Trade-off entre inflação e desemprego só ocorria no curto
prazo.
• Trade-off que existe é entre variação da inflação e desvio da
taxa de desemprego em relação à taxa natural.
• Para tratarmos do modelo de ciclo monetarista, precisamos
estabelecer uma relação entre desemprego e produto....

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Lei de Okun
Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• Ao tratar da relação entre produto e desemprego, de


maneira simplificada, geralmente se assume que:
1 Produto e emprego variam na mesma proporção (Y = N)
2 A força de trabalho (e a produtividade do trabalho)
permanece dada:
L̄ = N + U (1)
U
u= (2)

Isso implica que mudanças no emprego levariam a
mudanças proporcionais e na direção oposta na taxa de
desemprego.
Se Y ↑→ N ↑→ U ↓→ u ↓
• Isso implicaria que a taxa de desemprego variaria em linha
com o crescimento do produto na direção oposta.

ut − ut−1 = −gyt (3)


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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

Arthur Okun estimou a seguinte relação entre crescimento do


produto e variação da taxa de desemprego para os EUA em
1962:
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 3%) (4)

• Também mostra relação negativa entre desemprego e


crescimento. Porém:
• A relação entre variação da taxa de desemprego e o
crescimento do produto não seria proporcional.
• gyt ≥ 3% para a taxa de desemprego não aumentar. Por
que não basta uma taxa de crescimento positiva para que o
desemprego não aumente?

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• Porque tanto a força de trabalho quanto a produtividade


do trabalho crescem.
• Por exemplo, supondo que gyt = 0 (ou seja, que a produção
é constante), o que acontece se:
• Se o número de empregados e a produtividade ficam
constantes, mas força de trabalho aumenta?
• A força de trabalho fica constante, mas produtividade do
trabalho aumenta?

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• Porque tanto a força de trabalho quanto a produtividade


do trabalho crescem
• Por exemplo, supondo que gyt = 0 (ou seja, que a produção
é constante), o que acontece se:
• Se o número de empregados e a produtividade ficam
constantes, mas força de trabalho aumenta?
A taxa de desemprego aumenta.
• A força de trabalho fica constante, mas produtividade do
trabalho aumenta?

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• Porque tanto a força de trabalho quanto a produtividade


do trabalho crescem
• Por exemplo, supondo que gyt = 0 (ou seja, que a produção
é constante), o que acontece se:
• O número de empregados e a produtividade ficam
constantes, mas força de trabalho aumenta?
A taxa de desemprego aumenta.
• A força de trabalho fica constante, mas produtividade do
trabalho aumenta?
O número de empregados necessários para produzir a mesma
quantidade diminui.

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• O crescimento do produto teria que ser, pelo menos,


equivalente à soma do crescimento da produtividade do
trabalho e da força de trabalho para manter a taxa de
desemprego constante.
• Essa taxa de crescimento do produto (ḡyt ) é chamada de
taxa de crescimento normal (ou natural)

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

• Voltando à relação descoberta por Okun:

ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 3%) (4)

• Se o produto crescer 1 p.p. acima do natural, a taxa de


desemprego cai em 0,4 p.p.
• Por quê?
1. Empresas ajustam o emprego menos que
proporcionalmente ao aumento do produto: nem todo
emprego está diretamente relacionado à produção.
2. Parte do aumento do emprego não está relacionada à
redução no desemprego: ex. aumenta participação na força
de trabalho.

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Lei de Okun
Relação entre produto e desemprego

Lei de Okun pode ser expressa de forma mais geral (não com
parâmetros específicos para os EUA):

ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)

Onde:
• β mede o efeito de uma variação no crescimento produto
(em relação ao natural) sobre a variação da taxa de
desemprego.
• ḡyt é a taxa de crescimento natural.
Se gyt > ḡyt → ut < ut−1

Se gyt < ḡyt → ut > ut−1

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Oferta agregada monetarista

• Já vimos a curva de Phillips aceleracionista que relaciona


variação da inflação com desvio da taxa de desemprego
em relação à taxa natural:

πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6)

• A lei de Okun que relaciona a variação da taxa de


desemprego com o desvio do crescimento do produto em
relação ao crescimento natural.

ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)

• Precisamos ainda estabelecer uma relação para a demanda


agregada de acordo com os preceitos monetaristas...

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Demanda agregada monetarista

• Lembrem que, de acordo com os monetaristas, a demanda


agregada seria basicamente uma função da oferta real de
moeda.
• Portanto, podemos simplificar a demanda agregada
construída com base no modelo IS-LM, de modo que:

Mt
Yt = γ (7)
Pt
• A demanda é proporcional à quantidade de moeda.
• Lembrando: (M/P) ↑→ i ↓→ DA ↑→ Y ↑

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Demanda agregada monetarista

1 Mt
Yt = (7)
k̄ Pt
Estamos trabalhando com taxas de crescimento. Logo precisamos
transformar a relação de demanda agregada para crescimento:

gyt = gmt − πt (8)

Onde:
• gmt representa a taxa de crescimento do estoque nominal
de moeda.
Se estoque de moeda cresce mais do que os preços (gmt > πt ), o
crescimento do produto será positivo (gyt > 0).

Se estoque de moeda cresce menos do que os preços (gmt < πt ),


o crescimento do produto será negativo (gyt < 0).
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Reunindo as três relações

• Demanda agregada: taxa


Demanda agregada
de crescimento da oferta
gyt = gmt − πt (8) de moeda determina taxa
de crescimento do
Lei de Okun produto.
• Lei de Okun: taxa de
ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)
crescimento do produto
Curva de Phillips (oferta determina a variação na
agregada) taxa de desemprego.
• Curva de Phillips: taxa de
πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6) desemprego determina a
variação da inflação.

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O que acontece no médio (ou longo) prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6)

• Supondo que o Banco Central mantenha uma taxa de


crescimento do estoque de moeda constante: ḡm
• Quais seriam os valores do crescimento do produto, do
desemprego e da inflação no longo prazo?

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O que acontece no médio (ou longo) prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6)

• Para os monetaristas, no médio prazo, os mercados de


bens, financeiro e de trabalho estão em equilíbrio.
• Logo, a taxa de desemprego deve ser constante: ut = ut−1
• Analisando a lei de Okun, percebemos que isso implica
que gyt = ḡy
• Ou seja, no médio prazo, o produto cresce à taxa natural.
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O que acontece no médio (ou longo) prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6)

• Como a taxa de crescimento da oferta de moeda (ḡm ) está


fixada pela autoridade monetária e o produto cresce à taxa
natural (ḡy ), pela relação da demanda agregada vemos que:

π = ḡm − ḡy (9)

• Isto é, a taxa de inflação é constante.


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O que acontece no médio (ou longo) prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −β(gyt − ḡyt ) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −α(ut − un ) (6)

• Se a taxa de inflação é constante (πt = πt−1 ), pela curva de


Phillips, vemos que a taxa de desemprego deve ser igual à
taxa natural: ut = un

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O que acontece no médio (ou longo) prazo?
Modelo de ciclo monetarista

No médio prazo:
• O crescimento do produto é igual à taxa natural.
• O desemprego é igual ao natural.
• O crescimento da oferta de moeda só afeta a inflação.
• Governo não é capaz de afetar o produto e o desemprego
(curva de Phillips vertical)
• Governo só é capaz de afetar a inflação.

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 0, 03) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −0, 3(ut − 0, 06) (6)

• Supondo que o Banco Central fixe a taxa de crescimento do


estoque de moeda (gm ) em 4% e que a economia esteja em
equilíbrio. Qual é:
• A taxa de crescimento do produto?
• A taxa de desemprego?
• E a taxa de inflação?

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 0, 03) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −0, 3(ut − 0, 06) (6)

• Supondo que o Banco Central aumente a taxa de


crescimento do estoque de moeda (gm ), de 4% para 5%, o
que acontece no médio prazo?

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 0, 03) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −0, 3(ut − 0, 06) (6)

• Supondo que o Banco Central aumente a taxa de


crescimento do estoque de moeda (gm ), de 4% para 5%, o
que acontece no médio prazo?
• A taxa inflação aumenta para 2%.

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 0, 03) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −0, 3(ut − 0, 06) (6)

• Supondo que o Banco Central aumente a taxa de


crescimento do estoque de moeda (gm ), de 4% para 5%, o
que acontece no curto prazo?

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

Demanda agregada
gyt = gmt − πt (8)
Lei de Okun
ut − ut−1 = −0, 4(gyt − 0, 03) (5)
Curva de Phillips (oferta agregada)

πt − πt−1 = −0, 3(ut − 0, 06) (6)

• À taxa de inflação inicialmente dada, a taxa de crescimento da


oferta real de moeda aumenta.
• Isso aumenta a taxa de crescimento do produto acima da
natural.
• O que reduz a taxa de desemprego abaixo da natural.
• A redução na taxa de desemprego aumenta a inflação.
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Política monetária expansionista
gm = 4% → gm = 5%

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

• Expansão da oferta nominal de moeda aumenta a oferta


real de moeda no curto prazo.
• Isso reduz a taxa de juros, estimula a demanda.
• Isso leva a um aumento na renda nominal acima do
aumento nos preços (expectativa de inflação com base na
inflação passada)
• Firmas reagem aumentando a produção e o emprego (a
demanda por mão de obra)
• Firmas reagem primeiro a aumento não esperado da
demanda, aumentando os preços de venda dos seus
produtos.

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O que acontece do curto para o médio prazo?
Modelo de ciclo monetarista

• Salário real cai, porém trabalhadores ofertam mão de obra


porque esperam um salário real mais elevado (olhando
para inflação passada).
• Isso permite uma redução temporária do desemprego, já
que aumenta tanto a oferta quanto a demanda por
trabalho.
• Porém trabalhadores percebem a queda no seu salário real
e demandam salários nominais mais elevados levando em
conta inflação.
• O salário real aumenta fazendo com que as firmas
diminuam a demanda por mão de obra, o emprego e o
produto.
• Dessa forma, produto e desemprego retornam à taxa
natural, porém inflação permanece mais elevada.

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O que permanece do monetarismo

But central features of Milton Friedman’s framework


have become part of the common wisdom concerning mo-
netary policy even as specific policy recommendations of the
monetarists have lost influence. Rule-based monetary poli-
cies have gained popularity among academic economists and
central bankers. The dominant role of monetary policy in
determining inflation has been widely accepted. Friedman’s
views on the limitations of stabilization policy remain highly
influential.
Froyen, 2013, p.211

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Tarefa: acompanhamento de leitura

Com base nas leituras sugeridas para o tópico sobre


monetarismo:
1 De maneira resumida, apresente as principais contribuições
teóricas do monetarismo e a explicação, dada pela escola,
para as flutuações econômicas a partir dessas
contribuições.
2 Aponte uma/um ideia/argumento que lhe chamou a
atenção durante a leitura e explique porquê.
3 Aponte uma dificuldade encontrada durante a leitura.
Obs: 1 a 2 páginas. Prazo: 15/11.

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