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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

I. Evolução da Economia Portuguesa desde 60


1. Ciclos Económicos

1.1. Dinâmica Temporal da Economia: A tendência e os ciclos


económicos
Ao longo do tempo o PIB cresce mas não de uma forma linear.
• A variação do PIB está associada a 3 fatores:
– Variação dos recursos disponíveis na economia (stock de capital, população ativa);
– Grau de eficiência na utilização dos recursos (produtividade);
– Variação da taxa de utilização dos recursos (taxa de emprego da população ativa).
• O crescimento que tendencialmente o PIB exibe reflete em larga medida a variação dos dois
primeiros fatores, enquanto algumas oscilações que momentaneamente ocorrem estão associadas
à variação na utilização dos recursos.

Nos quatro gráficos seguintes, ilustrando com o caso da economia portuguesa, é possível distinguir estes
dois tipos de dinâmica temporal do PIB (tendência e oscilações).
Para obtermos a tendência dos ciclos económicos utilizamos métodos que se baseiam em médias
móveis.

Dados utilizados:
1. Séries longas do Banco de Portugal (1953-1995);
2. Contas Nacionais – INE (1995- 2017);
3. Previsões da CE 2018-2019.
• Método de extração de ciclos económicos utilizado: Filtro “Hodrick-Prescott” com 𝜆 = 100

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PG1. G1. PIB 1953 – 2017 (preços de 2010, milhões de euros) PG2. PIB (preços de 2010, milhões de euros, logs. naturais)

Mostra a tendência de crescimento do PIB que se A escala logarítmica permite percecionar as


alterou no período mais recente, mas não permite variações relativas, verificando que o crescimento
percecionar as variações relativas. mais intenso se registou no primeiro terço da série.

G3. PIB efetivo e PIB tendencial G4. Ciclos do PIB

Evidencia a tendência de longo prazo do PIB (linha a A série representada, obtida por diferença entre o
vermelho). produto efetivo e a sua tendência, revela em termos
relativos as flutuações oscilações em torno dessa
Os ciclos económicos são dados pela diferença entre o
tendência, i.e., os ciclos económicos. Como está expresso
PIB tendencial e o PIB efetivo.
numa escala logarítmica permite uma interpretação da
magnitude relativa dos desvios face à tendência. Por
exemplo, em 2013 esse desvio era aproximadamente de
-4% face à tendência de longo prazo.

Nota: Taxa de crescimento do PIB é diferente de Ciclo Económico, visto que pode estar numa fase de
expansão e apresentar taxa de crescimento negativo.

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G5. Ciclos do PIB (a azul) e taxas de G6. Taxas de crescimento anuais do PIB
crescimento anuais do PIB efetivo tendencial

Taxas de crescimento médio anual do PIB

Tendencialmente, o PIB tem crescido muito pouco (e cada vez menos) nos últimos anos.
- Uma das razões para a diminuição do crescimento do PIB é o facto da eficiência na realização de
algumas tarefas ter aumentado. Exemplo: agências de viagens.
- É difícil medir a variação do volume de serviços (setor).

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1.2. Factos estilizados dos ciclos económicos em Portugal


• Embora os ciclos possam verificar-se num conjunto muito vasto de variáveis económicas, a variável
de referência para indicar a posição cíclica de uma economia é o PIB.

• Quando se avaliam as características cíclicas de uma variável, tem-se em atenção as seguintes


propriedades:
- Volatilidade da sua componente cíclica, normalmente, avaliada em termos relativos por
comparação com a volatilidade do ciclo do produto;
- Co-movimento com o ciclo do produto;
- Persistência do seu comportamento cíclico.

Volatilidade

Factos estilizados:
- O consumo privado e público são tão voláteis como o produto
- O investimento, as exportações e as importações são mais voláteis do que o produto
- O emprego é menos volátil do que o produto.
• Para calcularmos a volatilidade do ciclo de cada variável utilizamos o desvio-padrão (𝜎)
• O co-movimento da variável calcula-se utilizando o coeficiente de correlação
• Para calcular o desfasamento entre o PIB e as variáveis é o coeficiente de correlação desfasado
• A persistência calcula-se com a autocorrelação
(−) variável
Na volatilidade relativa ao PIB, (−)PIB

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 Porque é o Investimento mais volátil que o consumo?


O investimento é mais volátil que o PIB porque depende muito das expectativas dos agentes económicos.
 No consumo privado existem bens duradouros e em grande parte bens não duradouros, enquanto
que no investimento existem apenas bens duradouros, daí as expectativas tornarem o investimento
tão volátil.
O consumo privado é tão volátil como o produto porque tal como diz a Teoria do Alisamento do
Consumo, o individuo tenta ter o mesmo comportamento ao longo da vida (sendo o consumo flat), visto que
a um dado nível de consumo tende a manter. (Baseia-se no rendimento atual e não na riqueza acumulada).
(−)𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑑𝑜
, ciclo do PIB − desvio padrão da dif. entre PIB pot. e PIB efetivo
(−)𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑑𝑜 𝑃𝐼𝐵

 Porque razão é menos volátil o emprego comparativamente ao produto?


O emprego é menos volátil que o PIB devido á legislação do Mercado de Trabalho. Assim, é menos volátil
que o PIB (em MTs muito rígidos) – o que não é necessariamente bom, visto que, rigidez à saída é bom mas
à entrada não.
Importações e exportações são mais voláteis que o PIB dado que Portugal é uma economia pequena e
aberta dependente do exterior para comprar e vender (peso das importações e das exportações tem grande
% do PIB)

Natureza Cíclica = Co-movimento = Coeficiente de Correlação


A natureza cíclica de uma variável macroeconómica é avaliada pelo coeficiente de correlação entre a
componente cíclica dessa variável e o ciclo do produto.
Esse coeficiente varia entre -1 e 1. Serve para averiguar se seguem o mesmo sentido ou não.
- Se > 0  pró-cíclica (mesmo sentido)
- Se < 0  contra-cíclica (sentido contrário)
- Se = 0  acíclica (não há relação)

Factos estilizados
Variáveis pró-cíclicas - população ativa, o emprego, a produtividade, os salários, o rendimento disponível
dos particulares, o consumo privado, o consumo público, o investimento, as exportações, as importações.
Variáveis contra-cíclicas - desemprego, em todas as economias, saldo conjunto das balanças corrente e de
capital (“saldo externo”, ou necessidade de financiamento externo) na economia portuguesa.

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 Porque é contra-cíclico o saldo da BBS na economia portuguesa?


A taxa de desemprego é contra cíclica porque se a economia estiver em expansão, a taxa de desemprego
diminui.
O consumo público deveria ser contra cíclico para atenuar os ciclos, ou seja, em períodos de expansão o
Estado deveria poupar para gastar em recessão.
𝑋−𝑀
A 𝐵𝐵𝑆 (𝑒𝑚 % 𝑑𝑜 𝑃𝐼𝐵) = é contra cíclica, o que significa que ↑Y  ↓BBS, o que mostra que o ↑M
𝑌
é superior ao ↑X (↑ as duas porque são pró cíclicas), porque quando aumenta o rendimento aumenta o
consumo privado, onde estão as importações que aumentam mais. Em Portugal a sensibilidade da procura
agregada às importações é muito superior à de outros países.

 Porque são pró-cíclicas as exportações e as importações?


↑ Yx  ↑ X  ↑ Y
↑ 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
↑X { ⇒ nos outros países (característica de sermos tão dependentes)
↑ 𝐸𝑚𝑝𝑟𝑒𝑔𝑜

Sincronização Cíclica
Além do sinal da relação cíclica é importante também o grau de sincronização face ao ciclo do
produto.
Quando uma variável pró-cíclica ou contra-cíclica apresenta coeficientes de correlação com o
produto mais elevados (em valor absoluto) quando se toma os seus valores um ou vários períodos (não
muitos) anteriores relativamente à série de valores do produto - Diz-se que a variável é avançada.
No caso contrário, diz-se atrasada.
Por exemplo, o desemprego tende a ser contra-cíclico atrasado.

Factos estilizados
• As exportações são levemente avançadas.
• O consumo privado é ligeiramente atrasado, embora sincronizado com o ciclo do produto, apresenta
também correlações muito elevadas quanto tomado com um ano de atraso.
• Igualmente atrasados parecem ser os salários reais e em menor grau o desemprego.

Porque são atrasados os ciclos da taxa de desemprego e dos salários reais?


São atrasados por causa da legislação laboral ser muito protetora, e também porque os empresários
esperam para contratar ou despedir apenas quando tiverem a certeza de que vai haver uma recessão ou
expansão.

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Persistência
O PIB no ano corrente é explicado em 64% pelo comportamento do PIB no período anterior e em 10% pelo
comportamento nos dois períodos antes:
𝐴𝑅(2): 𝑌𝑡 = 𝛼1 . 𝑌𝑡−1 + 𝛼2 . 𝑌𝑡−2 + 𝜀𝑡
• O consumo público apresenta um dos valores mais baixos para a persistência no primeiro e no
segundo ano.
• A taxa de desemprego, emprego e salários apresentam valores significativamente elevados para a
persistência.

Factos estilizados
No que se refere à persistência da flutuação cíclica, entre os agregados da despesa ele é maior no
caso do consumo privado, e menor no caso das importações, do investimento e das exportações.
Os salários e o rendimento disponível apresentam uma forte persistência, maior que a do produto.
Variáveis com maior persistência são variáveis que, tendencialmente, são mais facilmente
antecipáveis.

O que provoca os ciclos económicos?


A visão mais comum é de que os ciclos são provocados por impulsos inesperados (choques) que são
depois propagados pelo conjunto da economia em consequência dos nexos causais entre as principais
variáveis macroeconómicas.
Em geral esses choques são divididos em duas categorias: choques de procura; choques da oferta.
Esta distinção é importante, visto que consoante o caso a terapia deve variar. No entanto, é por vezes
difícil distinguir qual a natureza exata de cada choque.
Uma vez iniciado o choque, parecem existir forças endógenas na economia para produzir a prazo
uma reversão dos seus efeitos, dando origem aos ciclos económicos.
Alternativamente, poderão ser seguidas políticas de estabilização, que procurem reduzir a amplitude
do ciclo e tornar mais rápido o retorno da economia à sua trajetória tendencial.
Os defensores de tais políticas consideram que devido à falta de flexibilidade dos mercados e à falta
de coordenação dos agentes económicos, as forças endógenas, só por si, pelo menos, manifestam-se com
demasiada lentidão.

O que provoca os ciclos económicos em Portugal?


Em Portugal, dado que se trata de uma pequena economia aberta ao exterior, grande parte dos
choques têm origem externa.
Efetivamente, em larga medida o ciclo económico em Portugal está associado ao ciclo económico dos
principais países europeus.

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O grau de sincronização terá mesmo aumentado refletindo o aprofundamento do processo de


integração europeia, nomeadamente, com adesão à CEE e com a participação na área do Euro.
Além da influência externa, a necessidade mais ou menos periódica e mais ou menos súbita de
corrigir o desequilíbrio externo, reconduzindo a economia a uma trajetória sustentável, corresponde a
choques “internos”.
Outro exemplo de fatores internos suscetíveis de conduzir a flutuações cíclicas é o de alterações do
regime institucional de funcionamento da economia, afetando quer condições de produção (oferta) quer a
procura interna.
A natureza contra-cíclica da necessidade de financiamento ajuda a compreender as próprias
flutuações do produto na economia portuguesa.
Quando o PIB está num nível anormalmente elevado face á sua trajetória de longo prazo, isso reflete-
se num agravamento insustentável da necessidade de financiamento externo da economia que determina
posteriormente a correção do nível do PIB.
No entanto, ao longo do tempo, a forma com esta relação se manifesta tem-se alterado (ver gráfico
seguinte com a evolução temporal da necessidade de financiamento externo).
No período mais recente, com o novo regime monetário da economia portuguesa os défices externos
são mais persistentes, determinando um crescimento continuado do endividamento da economia
portuguesa que já supera o nível do PIB.

1.3. Sincronização com os ciclos dos principais parceiros económicos


As características dos ciclos económicos na área do euro não se alteraram qualitativamente com a
introdução do euro.
o Natureza cíclica – variáveis nominais e reais
o Volatilidade baixa – “Grande Moderação”
o Elevado grau de persistência
o Prevalência de choques persistentes na área do euro
o E/ou mecanismos de transmissão caracterizados por graus significativos de rigidez nominal e
real que induzem respostas prolongadas das variáveis macroeconómicas
Maior volatilidade do ciclo económico em Portugal do que na zona euro: característica típica de uma
pequena economia aberta.
Queda da volatilidade do ciclo económico após 1999 – queda da volatilidade de todas as
componentes da despesa (à exceção das exportações)
• Integração monetária e eliminação do prémio de risco cambial levarem a uma maior partilha
internacional do risco – suaviza o ciclo da procura interna (nomeadamente consumo).
• Exportações – maior impacto foi após 1986
Baixa persistência do consumo público em Portugal (relativamente à zona euro) – alterações no
comportamento das despesas públicas (ex: medidas de consolidação orçamental)
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A sincronização cíclica com a zona euro parece ter aumentado devido:


• À integração económica e monetária,
- que contribuiu para o aumento do grau de abertura da economia portuguesa

• À integração financeira,
- fortalecendo os mecanismos de transmissão entre os diferentes mercados financeiros e
- permitindo uma maior partilha de risco
- e suavizando o impacto de choques específicos aos países.

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Capítulo 2 – Aspetos estruturais do Desenvolvimento Económico

2.1 – A Contabilidade do Crescimento Económico


Década de 60: elevados níveis de crescimento em Portugal, cuja evolução revela semelhanças com
economias ricas e economias com nível de desenvolvimento aproximado. Embora nestes dois últimos não
se tenha verificado, em Portugal este crescimento não tem sido estável, tendo exibido uma tendência
decrescente devido a um declínio na produtividade total dos fatores (que teve, então, um contributo
negativo para o crescimento económico).

Crescimento económico decomposto em 3 componentes, medidos com um função de procura agregada:


§ Efeito do crescimento de capital (principal componente);
§ Efeito do crescimento do emprego;
§ Produtividade total dos fatores, i.e., efeito da eficiência na combinação destes recursos (Ritmo de
crescimento em Portugal muito associado a este aspecto).
Entre 1960, o que aconteceu foi que apesar do stock de capital ­, PTF ¯.

O que explica a evolução relativamente moderada da PTF em Portugal?


I Capital humano insuficiente (baixo nível médio das classificações escolares);
I Enquadramento institucional deficiente da economia portuguesa ao nível das leis do trabalho,
ambienta empresarial, funcionamento da justiça, políticas públicas, organização do Estado.
I Baixo nível do coeficiente capital-trabalho (impede que não tire partido dos avanços tecnológicos);
I Estrutura de produção e padrão de especialização:
- Tem havido uma evolução positiva para produtos com maior conteúdo tecnológico e
Portugal continua a especializar-se em produtos de tecnologia média/baixa, mais intensivos em
trabalho;
- Peso de trabalhadores em setores de baixa produtividade como agricultura e construção;

O que justifica que esta evolução desfavorável se tenha acentuado em 1995?


I Maior peso dos bens não transacionáveis na economia;
I Alteração no regime económico associado à participação na zona euro (baixos níveis de inflação);
I Crise estrutural nas finanças públicas;
I Investimentos excessivos em obras públicas e imobiliários;
I Inserção das novas economias emergentes (China e Índia) no comércio mundial, que teve um
impacto negativo em Portugal;
2.2 – Demografia

O que está a acontecer? Diminuição da taxa de fecundidade e aumento da esperança média de vida à
Aumento do Índice de Envelhecimento (Duplo Envelhecimento da População: mais idosos e menos jovens).
Até 2050 continuará a acentuar-se, devido também a fatores como: geração baby-boom a chegar a idades
mais avanças, taxas de mortalidade (infantil inclusive) a diminuir, progressos da medicina,etc).

Possível solução: Conjugar saldos migratórios positivos e níveis de fecundidade mais elevados
(rejuvenescimento).

DESDE 1960:
ü Taxa de crescimento da população baixa, “período demográfico moderno”, similar a alguns países
mas diferente de tantos outros:

1980 Variações provocadas por dinâmicas naturais


e migratórias
60 70 80 90

ü Taxa de natalidade a diminuir ß taxa de fecundidade a diminuir – em 80 a taxa estava já perto dos
países da Europa Ocidental, mas abrandou devido (1) ao adiamento do projeto de maternidade, (2)
aumento da participação feminina no mercado de trabalho, (3) da diminuição do número de filhos e
(4) da menor relação casamento-procriação;

ü Taxa de mortalidade (infantil inclusive) a diminuir à aumento da esperança média de vida à duplo
envelhecimento:
- Problemas: sustentabilidade do sistema de segurança social e défices públicos (aumento
das despesas com saúde, contribuintes ativos diminuem, menos pessoas em idade ativa);
- Alterações no tecido produtivo;

Tendências:
AGREGADO FAMILIAR (ESTRUTURA): MENOR DIMENSÃO
- Menos casamentos (e muitos não católicos) e realizados em idades avançadas;
- Mais divórcios e uniões de facto;
- Mais filhos fora do casamento;
- Mais estrangeiros;
DINÂMICAS MIGRATÓRIAS: PESO A AUMENTAR
- Portugal tem saldo migratório negativo (no entanto, esta tendência já esteve invertida);
- População estrangeira mais jovem do que a portuguesa.
- Movimentos internos: desenvolvimento urbano e suburbano, movimentos migratórios internos que
acentuam as disparidades regionais, diferenças de estrutura etárias entre regiões.

§ Impacto do envelhecimento da população nas Finanças Públicas (Portugal e EU)

Envelhecimento da população tem um elevado impacto nas F.P., impacto esse que é muito acentuado em
Portugal, mas que também se verifica nos restantes países da EU. É periodicamente levado a cabo um
exercício para avaliar estas consequências a longo prazo, onde são elaboradas projeções até 2060 para uma
série de despesas públicas sensíveis ao envelhecimento (realce: Segurança Social):
The 2015 Ageing Report: Economic and budgetary for the 28 EU Member States (2013-2060)
- Refletem as condicionantes institucionais e políticas públicas (e, em algumas variáveis, o grau de
convergência e consistência das suas trajetórias em diferentes países;
- São ainda consideradas trajetórias alternativas (mais graves) para avaliar a forma como as projeções
reagem, i.e., a sua sensibilidade a um conjunto de riscos como:
i. Aumento ainda mais acentuado da esperança média de vida;
ii. Menor saldo migratório;
iii. Menor produtividade do trabalho;
iv. Menos crescimento do produto potencial;
- Áreas consideradas são as despesas públicas com pensões, saúde, assistência social, educação e subsídios
de desemprego;
- Em 2013, à exceção da assistência social e da saúde, Portugal apresentava despesas em % do PIB superiores
a todo o conjunto da EU e da zona Euro, pelo que para 2060 as projeções visam diminuir as despesas com
pensões, educação e subsídios de desemprego e aumentar com assistência social e saúde;
- A necessidade de fazer isto surge porque a população está a envelhecer e a taxa de fecundidade a diminuir,
pelo que é importante analisar Portugal visto que se prevê uma contração demográfica, explicada pelo saldo
natural muito negativo (e saldo migratório muito positivo). Esta contração demográfica é acompanhada pela
alteração da estrutura etária da população, com a forte redução da população juvenil e em idade ativa
(consequências sobre a oferta de trabalho e o produto potencial) e o aumento da população potencialmente
aposentada (aumento da taxa de dependência);
- De acordo com as projeções, o impacto deste efeito nas finanças publicas é em parte minorado
essencialmente por três fatores:

• o aumento da taxa de emprego da população em idade ativa (redução do desemprego estrutural);


• o aumento da idade mínima de aposentação sem penalizações em função do aumento da esperança
de vida, no caso português;
• a redução da taxa de substituição das pensões face à remuneração antes da aposentação.

2.3 – Evolução da Estrutura Setorial da Economia


Alterações que se têm vindo a verificar na estrutura por setores de atividade em Portugal:

Peso relativo do setor dos Peso relativo do setor dos não


transacionáveis: transacionáveis:
- Agricultura; - Serviços.
- Indústria.

No entanto, Portugal apresenta ainda alguma diferenças relativamente às economias desenvolvidas da


OCDE:
- Peso do emprego agrícola ainda muito elevado, sendo a produtividade do setor muito baixa;
- Pouco peso da indústria transformadora na indústria;
- A partir da década de 90, rápida diminuição do peso dos transacionáveis e rápido crescimento do peso dos
não transacionáveis (graças ao aumento do endividamento externo que emergiu da entrada na zona Euro).

SETOR PRIMÁRIO:
Ø Produção – influenciada pela PAC:
• Produção vegetal – tipo de produtos produzidos foi.se alterando
• Produção animal – aumentou devido à progressiva melhoria das dietas alimentares e à
introdução e novas tecnologias (aviários, pecuárias, etc…)
• Produção florestal – indústria de celulose (madeira de eucalipto)
• Pescas – redução dos recursos piscatórias nas águas nacionais e internacionais
Balança Comercial de produtos agrícolas e florestais deteriorou-se, em especial depois da
adesão à EU – salários baixos, mas produtividade ainda mais baixa – preços mais elevados e não competitivos
– Espanha invadiu o mercado.

Ø Emprego – emprego agrícola tem vindo a reduzir o seu peso e só não reduz mais porque existe muito
emprego agrícola a tempo parcial (mulheres e reformados). Aumenta em tempo de crise;

Ø Produtividade e rendimentos em gerais baixos – Causas:

• Estrutura da propriedade (minifúndio no Norte, latifúndio no Sul);


• Insuficiente aproveitamento do progresso técnico, embora se tivesse sentido um aumento
da mecanização, utilização de adubos, pesticidas, sementes selecionadas, etc.;

• Inadequação das redes de comercialização;

O êxodo rural que a economia sofreu devido à industrialização e terciarização da


economia provocou um aumento da produtividade

AINDA ASSIM, rendimento dos agentes económicos do setor primário aumentou a


sua desigualdade face aos outros setores.

Ø Políticas agrícolas:

• Política de preços - protecionismo face ao exterior;


• Política de emparcelamento de explorações – nada foi muito concretizado;
• Reforma agrária (1975) – mais por fatores de ordem política do que por razões técnicas;
• Redes de armazenamento, processamento e comercialização;
• Obras de hidráulica agrícola;
• Programas de reflorestação.

SETOR SECUNDÁRIO:

Antes da EFTA, investimento em:


• Infraestruturas necessárias à industrialização (ex: eletrificação)
• Lançamento de novas atividades industriais – adubos azotados, pasta para papel, siderurgia e
metalomecânica pesada
• Ampliação da capacidade produtiva em sectores como cimentos, tintas, refinação de petróleos.
• Através dos Planos de Fomento I e II

Características predominantes na indústria na década de 60:


• Indústrias tradicionais com tecnologia pouco sofisticada e produtividade baixa
• Competitividade baseada em mão de obra barata e no acesso a matérias primas, principalmente nas
que tinham orientação exportadora (conservas de peixe e produtos hortícolas, rolhas e produtos
derivados de cortiça, resinosos, madeira serrada)
• Elevado número de manufaturas de tipo artesanal (padeiros, alfaiates, sapateiros, oleiros,
carpinteiros, ferreiros)
• Indústrias com maior intensidade capitalística, que produziam sobretudo para o mercado interno
(cimentos, adubos, têxteis, oleaginosas, refinação de petróleo, cervejas, tabaco)
- Embora gozassem de forte proteção comercial externa (taxas alfandegárias elevadas e
restrições quantitativas apertadas) e interna (condicionamento industrial)
- Produtividade reduzida devido a insuficientes economias de escala
- Deficiência nos equipamentos
- Atrasos tecnológicos

Após a entrada na EFTA:


• E principalmente no período 1960-1973, notou-se um aumento dos níveis de produtividade, graças
à introdução de:
- Equipamentos mais atualizados
- Aplicação de técnicas mais modernas
- Alargamento a sectores mais evoluídos e de maior rendimento – produtos químicos,
petrolíferos, plásticos, indústria metalúrgica, artigos metálicos e maquinaria
- Os sectores dos têxteis, vestuário e calçado são a exceção de sectores com pouca intensidade
capitalística, mas que cresceram muito (produtividade) devido à procura externa

Fatores que determinaram a evolução positiva:


• Estímulos proporcionados pela política económica à indústria (Planos de Fomento I e II);
• Crescimento global da economia (aumento da procura interna);
• Participação na EFTA – limitando a substituição de importações, mas aumentando as exportações;
• Expansão da procura internacional.

Após o choque petrolífero e o 25 de Abril de 1974:

- Evolução desfavorável da procura internacional (e falta de dinamismo da procura interna) e aumento da


concorrência por parte de economias emergentes (têxteis, vestuário, calçado);

- Quebra na produtividade do capital e do trabalho (apesar de o emprego e o investimento terem registado


taxas de crescimento positivas, devido a ausências de melhorias significativas na estrutura industrial:

• Não se cortaram custos e ampliaram-se atividades económicas (petroquímica de Sines; ampliação da


siderurgia, que foi abandonada posteriormente; aumento e tentativa de sustentação do emprego
nos estaleiros navais de Setúbal);
• Não se lançaram novos produtos mais intensivos em tecnologia e diferenciados;
• Quer as empresas públicas (pouco competitivas e rentáveis), quer as empresas privadas viraram-se
para os serviços (serviços financeiros, imobiliária, hipermercados, operações no mercado de
capitais);
• Inovação só aconteceu em empresas de investidores estrangeiros (sector automóvel, eletrónica) e
PME’s (têxteis, vestuário, calçado, cerâmica, mobiliário, moldes para plástico, cutelaria, torneiras);
• Aumentos de produção (e de emprego) concentraram-se mais em sectores em que a produtividade
era reduzida (intensivos em mão de obra e pouca intensidade capitalística);

A integração europeia foi o acontecimento mais determinante da evolução da estrutura industrial:

v As barreiras protecionistas foram reduzidas/eliminadas e as condições preferenciais também;


v Vantagem comparativa das exportações assentou essencialmente em diferenças nos custos de
produção determinadas pelos baixos níveis salariais (vestuário, calçado, têxteis) ou por vantagens no
acesso a matérias-primas (pasta para papel, produtos de madeira e cortiça);
v Persistência no padrão de especialização industrial explicado pela política cambial (até 1990) – leva
a que não exista grande preocupação com salários, produtividade, qualidade, marketing
v Forte dependência em relação às importações de bens de equipamento e de bens de consumo
duradouro;
v Proporção de comércio intra-sectorial muito reduzido (diferenças de marcas, de qualidade, de design
e de sofisticação tecnológica) e inter-sectorial muito elevada;
v No que toca à evolução da especialização industrial, Portugal e a média na UE divergiram
significativamente.

Portugal especializava-se maioritariamente na indústria alimentar, têxtil, fabricação de borracha, plástico e


outros materiais não metálicos e indústria metalomecânica. Por sua vez, a União Europeia especializava-se
de um modo mais forte na indústria metalomecânica, na indústria automóvel, fabricação de máquinas e
equipamentos, na indústria química e fabricação de equipamento eléctrico.

Este panorama demonstra uma grande fragilidade da competitividade ao nível de valor acrescentado que a
indústria portuguesa apresenta perante a maioria dos seus parceiros europeus.

SETOR TERCIÁRIO:
Desenvolvimento económico levou a uma terciarização da Economia. Em Portugal, ao contrário do que é
suposto acontecer em termos teóricos, a produtividade do sector terciário cresceu ao mesmo ritmo
(sensivelmente) do que o sector secundário.

Sector terciário tem atividades muito heterogéneas:


o Algumas muito influenciadas pelo progresso técnico (transportes, comunicações);
o Algumas assentam fundamentalmente no trabalho (hotelaria, administração pública).

Crescimento foi muito acelerado nos serviços públicos – despesas com a guerra colonial, educação,
saúde, administração pública e local, proteção social.

Outros sectores que não os serviços públicos:

• Turismo – aumento do fluxo, primeiro Algarve, depois Madeira e Lisboa; aumento do rendimento
nacional;

• Transportes e comunicações – Tráfico rodoviário (mercadorias), perda da importância dos caminhos


de ferro (exceto passageiros), expansão da aviação, melhoria da qualidade dos serviços e preços das
telecomunicações

• Sector financeiro – expansão na década de 60, nacionalização após 74, nova expansão em finais da
década de 80/princípios de 90, devido às privatizações e também à entrada de capitais estrangeiros
(bancos, seguradoras, leasing, ALD, capital de risco, investimento, etc.);

• Comércio por grosso e a retalho – mão de obra pouco qualificada, alimentada pelo alargamento da
rede de supermercados e de hipermercados.

2.4 – Emprego, Salários e Qualificações dos Recursos Humanos

I. Emprego e Produto

Relação positiva entre emprego e produto. Contributos para a evolução do emprego: ciclo económico,
crescimento económico, mudança do setor primário para secundário e terciário, peso significativo do
emprego no setor público, forte participação feminina no mercado de trabalho.

II. Fluxos no mercado de trabalho

Fluxos que envolvem a transição entre emprego, desemprego e entre estes dois e a inatividade – é
importante ter as suas taxas em conta para avaliar a evolução do mercado de trabalho;
Portugal: rigidez no mercado de trabalho à fluxos entre emprego e desemprego com dimensão diminuta;
- Recentemente, essa característica tem vindo a alterar-se rapidamente (especialmente a segmentação do
mercado de trabalho - com o aumento do peso relativo dos contratos a prazo e a alteração recente da
legislação laboral – tende a promover fluxos mais intensos e de maior dimensão.
- Taxa de atividade, emprego e desemprego apresentam flutuações cíclicas de amplitude moderada mesmo
havendo, no período em análise, um enquadramento legal relativamente rígido na proteção formal do
emprego;
- Salários reais com elevada sensibilidade cíclica no passado à parte do ajustamentos às condições cíclicas
em termos de custos de trabalho foi efetuado através de ajustamento nos salários, limitando-se as
necessidades de ajustamento do volume de emprego;
- Grande parte dos fluxos associados a alterações dos níveis de emprego verificam-se entre os
trabalhadores com contratos de trabalho a termo à condicionante para o crescimento do produto
potencial;
- Outra parte dos fluxos está associada à dinâmica de demografia das empresas: elevado peso relativo de
pequenas empresas faz que muito do ajustamento cíclico do emprego esteja ligado ao
aparecimento/desaparecimento de pequenas empresas;
- Outro instrumento de flexibilização do emprego foram os contratos de prestação de serviços;

III. Proteção no Emprego

Mercado de Trabalho em Portugal (25 de Abril até ao final da década de 90): elevado nível de proteção no
emprego quando se toma como referência a legislação laboral, especialmente para contratos permanentes.
Globalmente este nível tem vindo a reduzir graças à reforma da legislação laboral.
NOTA: Apesar disto, inquéritos feitos a empregadores portugueses demonstram fraca satisfação com a
proteção no emprego, satisfação essa que parece estar relacionada com o grau de instrução.

IV. Comportamento cíclico e tendencial da taxa de desemprego

A taxa de desemprego reflete a maior ou menor dificuldade em encontrar emprego (variável mis importante)
e a maior ou menor probabilidade de perder emprego. Em Portugal, tem um comportamento cíclico visto
que, mesmo com a proteção no emprego, o mercado de trabalho é sensível à evolução conjuntural da
economia.
Anos 80/90 exibiu um comportamento cíclico em torno dos valores médios estáveis entre 6% e 7% - estudos
que definiram esse intervalo destacavam na economia portuguesa uma ausência de tendência nesta taxa;
A taxa natural de desemprego tem vindo a aumentar no período mais recente, período esse que é
caracterizado por níveis baixos de inflação e por uma grande moderação do crescimento económico.
Contributos para a manutenção de uma baixa taxa de desemprego nas décadas anteriores
- Desencorajados;
- Legislação restritiva;
- Baixo nível de subsídio de desemprego;
- Significativo peso do emprego no sector público;
- Mulheres abandonam mercado de trabalho, jovens entram mais tarde; pessoas mais velhas
antecipam reforma;
- Flexibilidade dos salários reais (atualmente já não se verifica tanto);
- Criação e destruição de empresas;
- Duração significativa do tempo de permanência no desemprego, em especial para quem recebe
subsídio de desemprego;
- Aumento do emprego não permanente (contratos a prazo, trabalho temporário).

V. Salário mínimo e negociação coletiva

Instrumentos institucionais que condicionam como são determinados os salários (patamares para os níveis
salariais) no mercado de trabalho – não resulta do seu livre funcionamento. O salário mínimo determina um
patamar nacional enquanto que a negociação coletiva determina um patamar no setor de atividade (ou na
empresa).
NOTA: Evolução dos salários nas Administrações e Empresas públicas condiciona a evolução no setor
privado, sendo que tendem a ser mais elevados no setor público.
Na contratação coletiva confrontam-se associações patronais e sindicatos que podem ser vistos como
monopólios bilaterais (da procura e oferta de trabalho) que negoceiam acordos coletivos (nomeadamente
acordos salariais).
Em geral as remunerações praticadas nas empresas são um pouco superiores aos acordos salariais (ou
porque os salários base são superiores às tabelas salariais acordadas ou porque há formas de remunerações
adicionais, ou por ambos casos) - este diferencial positivo, que chegou a ser muito significativo no passado
recente, cria o que, na linguagem dos economistas do trabalho, se designa por “almofada salarial” que
constitui uma margem das empresas para ajustarem os custos salariais às flutuações das condições dos
mercados em que operam.
As empresas têm interesse nesta situação para evitar a materialização de riscos de incorrerem em custos
diretos e indiretos de recrutamento/despedimento.
VI. Flexibilidade dos salários reais (almofada salarial adequada para explicar)

Posições cíclicas negativas à Sindicatos perdem força negocial (trabalhadores com receio do desemprego1)
à Passam a aceitar salários suficientemente baixos de forma a não colocar riscos de encerramentos de
estabelecimento ou empresas à Despedimentos coletivos
- Forte sensibilidade dos salários reais: aumento de 1 p.p. na taxa de desemprego corresponde a uma
redução entre 1,5 e 2,5 por cento dos salários reais.
Esta sensibilidade tem vindo a reduzir porque em ambiente de baixa inflação pode ser limitada por
bloqueios (legais) à redução nominal dos salários.
- Em consequência é possível que o ajustamento do mercado trabalho em situações recessivas seja feito
mais intensivamente que no passado pelo:
- aumento do desemprego;
- maior volume de despedimentos;
- encerramentos mais numerosos de empresas.

VII. Qualificação dos RH – características da educação

- Despesas em educação (superiores no ensino primário e secundário dadas as elevadas taxas de reprovação)
representam cerca de 7% do PIB, um valor muito acima da média da OCDE. A maior parte do ensino em
Portugal é público.
OCDE (à semelhança de Portugal): Coeficiente dos gastos em educação em Portugal: 0.54 – pelo menos o
mesmo nível de produção poderia ser obtido com 54% do nível atual de despesas. Eficiência do output é de
62%, o que significa que o nível de conclusão do ensino secundário é só 62% daquilo que deveria ser se fosse
eficiente.
- Elevada transmissão intergeracional da educação em Portugal;
- Cobertura universal do ensino primário foi conseguida no início da década de 70, com taxas de matrículas
que excediam os 100%, valores que têm vindo a reduzir dada a redução da população em idade escolar;
- Aumento da idade obrigatória escolar + sucesso em reduzir abandono escolar à Aumento dos das
matrículas estudantes no secundário (valores que continuam abaixo da média da OCDE);
- Ensino secundário privado: escolas mais eficientes com taxas de aprovação superiores e menor rácio
estudante/professor.

1
Este receio, dadas as características do mercado de trabalho em Portugal é compreensível visto que a duração média do
desemprego é elevada e porque há o risco elevado de uma menor remuneração no novo emprego após o período de
desemprego.
- Baixa taxa de escolaridade da população (especialmente nas gerações mais velhas) pois idade obrigatória
escolar era menor e haviam dificuldades em avançar no ensino (elevadas taxas de repetição e reprovação).
- Benefícios de concluir o ensino secundário: rendimento 36% superior aos que não concluem;
- No ensino superior, a média de estudantes aproximou-se da OCDE. No entanto, taxas de repetição e
abandono continuam elevadas;
- Mais alunos no curso de humanidades do que em ciências relativamente à OCDE, o que se reflete numa
escassez de trabalhadores para profissões técnicas à entrave para o aumento da produtividade e para o
crescimento económico.

2.5 – Inflação
7 períodos
1. 1960 – 1971
® Câmbiosfixos
® 1971 – Colapso do sistema de Bretton Woods
2. 1971- 1975
® fim da convertibilidade do dólar em euro
® abandono do regime de taxas de c|ambio fixas
® 1º choque petrolífero
® aumento dos salários nominais
3. 1975 – 1984
® forte depreciação do escudo
4. 1985 - 1993
® alteração da orientação da política monetária e cambial
5. 1995 - 1998
® participação no MTC do SME
® política económica orientada para cumprir critérios de Maastricht
6. 1999 – 2008
® da adoção do euro até à crise financeira
7. Após 2008
® Quando a crise começa
Pequena Economia aberta
® Inflação tende a refletir o comportamento dos preços internacionais em moeda nacional
Característica:
® Não tem influência na formação de preços nos mercados internacionais – price taker
Há uma associação entre os preços das importações e da inflação
® Se o preço das importações em moeda nacional acelera, a inflação interna tende a aumentar.
Porquê?
1. Parte dos bens fiscais são importados, ou se forem produzidos internamente pode ser exportados
– os preços no consumidor acelera;
2. Como os transacionáveis são necessários para a produção dos não transacionáveis, o aumento
dos preços dos primeiros tende a transmitir-se aos segundos;
3. Crescimento da inflação pode levar a uma aceleração dos salários nominais levando a um
agravamento dos custos de produção que tenderão a conduzir a aumentos adicionais de preços;
4. Expectativas inflacionistas- aumentos salariais nominal e de margens de lucro antecipem o
provável aumento dos preços.

A variação dos preços reflete 2 efeitos:


1. Variação dos preços internacionais
® Reflete tensões nos mercados internacionais
Exemplo:
§ Suros inflacionistas 1973/1974 estavam associados ao crescimento bruto dos preços do petróleo
§ 1985/1986 – Redução do preço do petróleo levou à moderação dos preços a nível global
2. Variação cambial da moeda nacional
® Depende também das condições internas e da política monetária e cambial seguida
Exemplo:
§ Quando houve reduções do preço do petróleo, também se verificou um aumento dos preços das
importações em moeda nacional refletindo o impacto da evolução cambial
® 1974/1989 – Moeda nacional depreciou-se, levou forte crescimento do preço das importações
® A evolução cambial traduziu uma política orientada para promover a competitividade desde das
exportações
o Como aconteceu num contexto de crescimento da massa monetária, este foi dos principais
fatores para a inflação em Portugal

Os níveis elevados de inflação promoviam a erosão da competitividade das exportações e isto fez com
que determinassem a necessidade de novas desvalorizações da moeda nacional.
Este ciclo parou nos anos 90, quando os problemas do equilíbrio da economia abrandavam, permitindo
romper com a política de desvalorização e adotou a política de estabilidade cambial.
Inflação Interna » Variação Preços das Importações em Moeda Nacional
Porque este também reflete pressões internas que:
1. Podem expressar forte pressão da procura agregada sobre a oferta;
2. Podem expressar aumento dos custos de produção das empresas.

Estas pressões tendem a refletir-se na evolução dos custos de trabalho por unidade produzida (CTUP)
® Inflação tende a estar entre as linhas definidas pela variação de preços das importações e das CTUP.
® Quando cresce abaixo: margem de lucro por lucro por unidade produzida estarão a diminuir.

Comportamento da Inflação
ü CTUP
ü Prelos das importações
Ambos necessitam que se verifique crescimento da massa monetária

Comportamento das Expectativas:


ü Também se reflete na evolução da inflação
ü Na elevada auto correlação da inflação anual
Porquê? Há um certo conservadorismo na formulação das expectativas que tendem a ser mais
estáveis durante períodos em que as políticas monetária e cambial também estão estáveis.

2.6 – Finanças Públicas

A. Sete períodos distintivos nas finanças públicas

1. 1960-1975 – pré 25 de Abril


§ Saldos orçamentais equilibrados;
§ Saldos correntes sempre positivos;
§ Despesas públicas associadas às “funções sociais do Estado” (Educação, Saúde, Seg. Social) eram
reduzidas;
§ Despesas militares elevadas.

2. 1974-1985 – pós-revolução
§ Défices pronunciados, havendo recurso a financiamento monetário para os sustentar;
§ Dívida pública é dívida interna à forte agravamento do défice após 24 Abril 1974
- Redução da receita fiscal decorrente da contração da atividade económica;
- Aumento das despesas públicas com funções sociais do Estado que mais que compensaram a
redução das despesas militares.
NOTA: Evolução dos défices está associada a políticas stop and go.

3. 1986-1992 – entrada na EU
§ Défices globais, mas saldo primário e positivo, limitando o crescimento da divida pública;
§ Início anos 90 à forte crescimento das despesas com pessoal e forte expansão da carga fiscal
em consequência das reformas dos impostos indiretos. Diretos (IVA, IRS, IRC);
§ Finanças públicas beneficiaram da expansão da economia neste período;

4. 1993-1998
§ Proibido financiamento monetário do défice orçamental;
§ Défices primários;
§ Variação da dívida pública beneficia das receitas de privatizações no final deste período;
§ Receitas fiscais crescem, mas a despesa primária tende também a aumentar;
§ Redução das despesas com juros à contribui para que Portugal cumprisse o critério de
Maastricht relativo ao limite para o défice orçamental.

5. 1999-2007
§ Redução do ritmo de crescimento da atividade económica acentuou-se à condicionou o
crescimento das receitas fiscais, sem que as despesas públicas tivessem alterado a sua
trajetória;
§ Baixo nível da taxa de juro até 2009;
§ Frequentes défices primários contribuíram para um elevado crescimento da dívida pública
(passou a ser financiada pelo exterior);
§ 2009 à crise financeira e económica levou ao agravamento do défice orçamental.

6. 2008-2010
§ Vulnerabilidade das finanças públicas;
§ Défice orçamental agravou-se na sequencia da crise;
§ Isto conjugado com o início da crise das dívidas soberanas à impossível financiamento nos
mercados de capitais internacionais do défice orçamental à necessidade de um programa
de assistência económica e financeira a Portugal.
7. 2011 – Até hoje
§ Assistência tinha em lista a redução do défice orçamental;
§ Efetivamente reduziu (principalmente após o fim do programa);
§ Melhoria da conjuntura económica.

Período de 1960-2011 – Conclusões


ü Crescimento do peso das receitas e despesas públicas no PIB à traduz o impacto dos estabilizadores
automáticos em consequência do ciclo económico (fases baixas dos ciclos à redução das receitas e
aumento das despesas – e vice versa);
ü Crescimento mais intenso das despesas públicas comparado com as receitas à coloca em questão a
sustentabilidade dessas trajetórias, principalmente quando o financiamento dos défices tem de ser
assegurado pelo exterior (dada a insuficiência da poupança interna privada);
ü O crescimento da dívida pública duplicou desde 1995 à faz com que o uso de política orçamental
para estabelecer os ciclos económicos fique condicionado.
ü Muitas vezes a política orçamental tem um carácter pró-cíclico à acentuando as flutuações
associadas aos ciclos económicos.

Análise da possibilidade de uso da política orçamental para fins de estabilização:


Com este fim, a política orçamental deve conduzir a um aumento das necessidades de financiamento das AP
(défice orçamental) nas situações em que estamos numa posição cíclica negativa – e vice versa.
à Para aumentar o défice deve-se: DIMINUIR IMPOSTOS E AUMENTAR DESPESAS PÚBLICAS;

Para se compreender a política orçamental, tem-se como referência:


1. Evolução do défice total;
2. Comportamento do défice primário (=défice total – despesas com juros da dívida pública)

As despesas com juros da dívida pública resultam de 2 fatores:


- Stock da dívida pública do período anterior;
- Níveis das taxas de juro.
Fatores esses que são dificilmente controláveis pela política orçamental à temos de nos concentrar no
défice primário
𝐷𝑂𝑡 = 𝐵𝑡 + 𝑖 ∗ 𝐷𝑡 − 1
DO= Défice Orçamental, B= défice primário, i=taxa de juro, Dt-1=divida pública
𝐵𝑡 = 𝐺𝑡 − 𝑇𝑡
G=Consumo publico (incluindo despesas de capital), T=receitas públicas liquidas de transferências.
Ø Aumentos de B levam a expansões da procura agregada à política orçamental, numa
situação de outputgap negativo, deve aumentar B.

Multiplicador de política orçamental depende:


1. Dos impostos e das despesas públicas escolhidas para fazer variar B;
2. Da dimensão e grau de abertura da economia;
3. Da posição cíclica da economia;
4. Das condições financeiras da economia;
5. Das expetativas dos agentes económicos e das suas condições financeiras
Este multiplicador terá pequena magnitude em pequenas economias muito abertas ao exterior. Por outro
lado, o elevado endividamento dos agentes privados potencia este efeito.
Estas duas últimas características, em Portugal, aumentam a dificuldade de estão macro quando não se
dispõe de política monetária e cambial autónoma.
à Mesmo com uma política orçamental invariante, B tende a refletir a própria flutuação cíclica.
Há um conjunto de despesas públicas (ex: despesas com o subsídio de desemprego) e um conjunto de
receitas públicas (impostos sobre rendimento) que reagem de forma significativa e imediata à alteração das
condições cíclicas da economia.
Estabilizadores automáticos:
- ­ B quando output gap negativo;
- ¯ B quando output gap positivo.
(Por forma a atenuar a flutuação cíclica da economia).
- Para avaliar em que medida a política orçamental tem explicitamente uma orientação contra cíclica é
necessário avaliar o que sucede ao défice primário corrigido do efeito dos estabilizadores automáticos à
défice estrutural/ajustado de efeitos cíclicos.

Quando os estabilizadores automáticos não são suficientes para reconduzir a economia, a política
orçamental orientada para a estabilização cíclica deve promover ­ do défice primário estrutural em
situações de output gap negativo.

Há fatores que condicionam a eficiência ou mesmo a exequibilidade de uma política orçamental orientada
para a estabilização cíclica.

Os desfasamentos entre o momento do choque e o tempo de atuação da política pode determinar que a
economia já não esteja na posição cíclica que se pretende corrigir.
1º fator à HIPÓTESE DA EQUIVALÊNCIA RICARDIANA
• ­ do défice através da ¯ de impostos para promover o aumento da procura agregada é compensado
pelo efeito negativo de um aumento da taxa de poupança2 dos agentes económicos privados;
• As necessidades de financiamento do Estado tenderiam a pressionar o aumento das taxas de juro à
incentivando a poupança e tendo um efeito negativo sobre a procura agregada.
Deste modo, a política orçamental não seria capaz de afetar a nível da procura agregada à condição
fundamental para exercer a sua função de estabilização ciclíca.

Hipóteses que têm de se verificar:


- Inteira solidariedade intergeracional;
- Mercados financeiros eficientes.

Em consequência, a existência de restrições de liquidez e outros fenómenos afetando a eficiência


dos mercados financeiros e a falta total/parcial de solidariedade intergeracional parcial não
permitem a verificação desta hipótese.

Logo, a possibilidade de algumas franjas importantes dos agentes económicos alinharem o seu
comportamento com esta hipótese condiciona a eficiência da função de estabilização da política
orçamental.

2ºFATOR à SITUAÇÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS


• Se for precária, pode não ser financeiramente sustentável uma política orçamental contra cíclica
quando se está na fase baixa do ciclo.
• Avaliar condições de sustentabilidade à ter em conta a dinâmica da divída pública;
(Quanto maior for o seu nível, maior tende a ser as necessidades de financiamento);
• Numa situação em que o financiamento monetário do défice orçamental é interdito, o crescimento
da divída ública em % do PIB varia diretamente com o défice primário em % do PIB, a taxa de juro
subjacente à dívida pública e, inversamente, com a taxa de crescimento económico.
1+𝑖
𝑑𝑡 = 𝑏𝑡 + ∗ 𝑑𝑡 − 1
𝑖+𝑔

Para estabilizar a dívida pública à instrumento disponível é o défice primário (é o instrumento que a
política orçamental usa para exerce a sua função estabilizadora.

2
Porque esperam que o agravamento do défice tenha de ser financiado no futuro pelo aumento dos impostos.
Mas, se tivermos no limite da “sustentabilidade” da dívida pública (fase baixa do ciclo) não será possível
aumentar o défice primário:
Maior dívida e maior taxa de juro à maiores serão as despesas com juros à maior défice orçamental à
mais necessidades de financiamento.

123
324
∗ 𝑑𝑡 − 1 à termo da equação não diretamente controlável pela autoridade da p. orçamental (NOTA: se

i>g, agravamento da dívida)

EFEITO “BOLA DE NEVE” à mesmo que saldo primário=0, se a taxa de juro > taxa de crescimento
do PIB, a dívida agravar-se-á em termos relativos (efeito relacionada com a diferença entre a taxa de
crescimento do PIB e a taxa de juro).

Sustentabilidade da dívida, spreads e CDS:


- Não é antecipável o limite da “sustentabilidade” da divida pública, mas a existência de dificuldades de
refinanciamento das AP ou das taxas de juro crescentemente elevadas, muito afastadas da taxa de
crescimento normal do PIB, sinalizam proximidade do limite.
- Para avaliar se as taxas de juro são muito altas ou não, é compará-las com as taxas de juro da dívida pública
de outros países com maior estabilidade macroeconómica.

Calcular spreads:
Spreads elevados à desconfiança dos mercados relativamente à sustentabilidade das finanças públicas.
- Outro elemento é o prémio de seguro contra “default” a pagar por quem pretende eliminar o risco de
crédito associado às obrigações da divida pública adquirida (CDS – Credit default swaps);
- A possibilidade da divida pública crescer para níveis insustentáveis atua como fator condicionador da
função de estabilização da política orçamental

Agravado pelo envelhecimento da população à coloca uma pressão para o crescimento da dívida pública.

É preciso ter em conta objetivos de longo prazo na política orçamental (impressão de dívida pública), e não
só objetivos de curto prazo (função estabilizadora).
A política orçamental em Portugal é sobretudo pró-cíclica, acentuando as flutuações dos ciclos económicos.
Um dos fatores subjacentes à progressão da dívida pública, num contexto de níveis baixos de taxas de juro
como se verificou desde 1994 a 2008.

Saldo estrutural do governo:


- Tenta incluir a posição do saldo orçamental, excluindo o impacto do ciclo económico e de medidas
extraordinárias, i.e., saldo orçamental calculado sem efeitos temporários;
- Tem um papel crucial nas estratégias de consolidação orçamental;
É difícil estimar o défice orçamental estrutural porque é preciso quantificar:
1. PIB potencial;
2. Impacto do output gap no saldo orçamental;
3. Medidas extraordinárias e o seu impacto no saldo orçamental.

PIB potencial é o que levanta mais controvérsia porque é baseado na estimação de uma função de produção,
onde são usados 3 fatores de produção/inputs à capital humano, trabalho e TFP.

A. Capital:
Stock de capital à acumulação de investimentos menos as amortizações de capital;
Problemas:
- Capacidade instalada que se provou insustentável e está imputada ao stock de capital fisíco, mas que não
deveria estar pois não é usada;
- Importante no cálculo do stock de capital fisíco potencial.

B. Trabalho
Após estimada a oferta do trabalho e calculada a taxa de desemprego natural (NAWRU), estima-se o nível
de emprego sustentável.
A estimação desta taxa levanta muitas questões:
- o método de cálculo faz com que esta seja muito próxima da taxa de desemprego efetiva;
- Taxa de emprego efetiva é muito próxima da taxa de emprego potencial;
- Output gap reduzido;
Logo, saldo orçamental estrutural é próximo do saldo estrutural efetivo.

Implicações:
- Défice orçamental efetivo elevado implica défice orçamental estrutural e elevado;
- Este implica um programa de consolidação orçamental mais exigente de acordo com as regras da EU;
Logo, estimativas do NAWRU tem implicações para as estratégias de ajustamento fiscal.

C. Produtividade total dos fatores


É uma medida como um resíduo, depois de se levar em conta contribuições do capital e do trabalho par ao
PIB.
Para estimar o PIB potencial assume-se que a série temporal da produtividade segue uma trajetória
tendencial (“suave”) à usou-se o Handrick-Prescott.

Problemas:
- PTF depende de capital e trabalho, logo também tem os seus problemas;
- Instabilidade das estimativas é um dos grandes problemas porque os dados mais recentes são revistos com
maior frequência;
- Por isso, o filtro HP fi substituído pelo modelo das componentes não observadas.

2.7 – Relações Económicas Internacionais

2.7.1 – Processo de abertura ao exterior no pós-guerra

Europa Ocidental foi marcada pelos movimentos de integração económica, à volta da CE e da EFTA

— 1948 – OECE

— 1960 – EFTA, FMI, Banco Mundial

— Relações Económicas com as Colónias

— 1962 – Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT)

— 1972 – Acordo de Comércio Livre com a CEE

— 1974-1985 – Recuo no processo de Abertura ao Exterior – 2 intervenções do FMI

— 1986 – Entrada na CEE.

Impacto do processo de abertura para a economia portuguesa:


• Redução progressiva das barreiras comerciais (alfandegárias, quantitativas, qualitativas)

• Abertura a outros mercados (comércio de bens e serviços, turismo, migrações)

• Dependência face ao exterior é superior num país pequeno e aumenta com integração económica

• Localização geográfica periférica

1948 - OECE – Organização Europeia de Cooperação económica

Coordenação do Plano Marshall

• Liberalizar as trocas comerciais


- Descer as tarifas alfandegárias para combater o protecionismo

• Exames conjuntos das políticas económicas dos seus membros


- Planificação, Projeção Económica, Apresentação de Relatórios
- Promoção de ações de melhoria de produtividade

— Portugal no contexto da OECE (a partir de 1960 OCDE)

- Eliminou a maior parte das restrições quantitativas sobre as importações de produtos não
agrícolas provenientes da Europa Ocidental, EUA e Canadá
- Estabeleceu-se acordos multilaterais
- Influência positiva dos modelos e técnicas de política económica

1960 - Entrada na EFTA

Países da EFTA:

• UK, Suécia, Noruega, Dinamarca, Áustria, Suíça e Portugal

Motivos de Adesão

• Não era preciso ser um estado democrático


• Plena autonomia aduaneira nas relações com terceiros (permitia relações preferenciais com as
colónias)
• Anexo G – levava em conta o grau de desenvolvimento mais baixo da economia portuguesa
- Argumento da Indústria Nascente
- Direitos aduaneiros com mais tempo para serem desmantelados
• Regime de Exceção:
- Não abrangia produtos agrícolas (e incluiu-se concentrado de tomate e conserva de peixe
como produto agrícola)

Vantagens de Adesão

• Abandonou-se o modelo de substituição de importações – Modelo de Economia Aberta e de


Promoção de Exportações
• Captação de IDE
• Crescimento Económico

Relações económicas com as colónias

Sistema de preferências

• Produtos metropolitanos (bens finais manufaturados) beneficiavam de reduções pautais (aprox.


50%) e de facilidades no licenciamento nos territórios ultramarinos. Em contrapartida, as
mercadorias (matérias primas) daqueles territórios obtinham reduções de 60% nos direitos de
importações, havendo mesmo reservas de mercado para os produtos das colónias.

Adesão ao GATT em 1962

• Claúsula do país mais favorecido


• Problemas com a manutenção desse sistema – criou-se o Espaço Económico Português

Progressiva integração de Portugal na Europa

• Descolonização – perda do sistema de preferências e redução das remessas dos emigrantes


• Investimentos metropolitanos (ex: Cabora Bassa, Moçambique)
• Custos políticos e militares – Guerra Colonial

1972 - Acordo de comércio livre com a CEE

Contexto:

• UK e Dinamarca aderiram à CEE e deixaram EFTA


• Restantes países da EFTA negociaram acordos bilaterais com a CEE e a CECA, incluindo Portugal

Acordo inicial:
• Condições idênticas às do acordo da EFTA, exceto:
• Processo de convergência mais rápido (das barreiras)
• Produtos agrícolas (concentrado de tomate e conservas já não eram considerados produtos
agrícolas)
• Argumento da indústria nascente

Acordo Após 1974:

• Enquadramento mais amplo, passando a incluir assistência financeira e a preparação para a adesão
futura
• Empréstimos com taxas bonificadas do BEI
- Fundos europeus de ajuda ao desenvolvimento
• Facilidades a favor dos emigrantes instalados em países da CEE
• Trocas Comerciais
- Foram permitidos impostos às importações e foram removidas mais rapidamente as barreiras
dos nossos parceiros comerciais face às nossas exportações
- Retrocesso face à liberalização – proteção a indústrias novas e reforço de proteção a
indústrias sensíveis.

Adesão à CEE

Negociações

• Pedido para abertura de negociações: 28 de Março de 1977


• Encerramento das negociações – Tratado de Adesão em 12/10/1985

Motivações Políticas

• Reforçar o regime democrático, ainda vulnerável


• Não poder ficar alheios ao processo europeu, dada a nossa localização
• Afastar a economia portuguesa do modelo de transição com rumo ao socialismo estipulado na
Constituição de 1976

Motivações Económicas

• Expetativas em torno dos fundos europeus


• Acordo de Comércio Livre já era demasiado restritivo
• Exiguidade do mercado interno
• Desenvolvimento da economia nacional orientada para o exterior
• Orientação para o mercado europeu – comércio, emigração, IDE
• Alargamento do espaço comercial português

Tratado de Adesão

• Período transitório (que durou até 1992) das barreiras alfandegárias que ainda subsistiam
• Aproximação da pauta portuguesa à pauta exterior da CEE e adoção da política comercial comum
• Adesão de Portugal ao SME em 1992 (Abril)
• Liberalização do comércio de produtos agrícolas foi feito utilizando 2 sistemas
- Transição clássica – produtos pouco importantes
- Transição por etapas – produtos mais importantes (cereais, frutas, legumes frescos, vinho,
pecuária)

Impactos

• Liberalização de fatores de produção capital e trabalho


• Harmonização de algumas políticas – ambiental, fiscal, transportes, legislação do trabalho
• Fundos estruturais
• Restrições às políticas macroeconómicas – convergência nominal, estabilidade cambial, combate à
inflação, política monetária, política orçamental
• Aproximação Portugal – Espanha
• Comércio e IDE cresceram a um ritmo acelerado, mas aumentou a nossa dependência de
importações e a agricultura e a indústria apresentaram falta de competitividade face aos parceiros
europeus.

2.7.2– Comércio externo

Crescimento das Exportações e Importações

• 1960– 1973 • 1985 – 1999

- Expansão do comércio mundial - Adesão à CEE, abertura do mercado


espanhol
- Aumento da procura interna, via
- Apreciação do escudo
procura final e bens intermédios
• 1973– 1985 - Aumento do IDE orientado para
exportação
- Dificuldade na balança de pagamentos
• 1999 – 2017
- Depreciação do escudo
- Diminuição do crescimento na Europa - Introdução do euro
Ocidental e EUA - Concorrência China, Índia, Países de Leste
- Dificuldades na BP

Composição das Importações Composição das Exportações

- Produtos alimentares e bebidas - Produtos primários pouco transformados


- Matérias primas - Têxtil, vestuário, calçado
- Produtos manufaturados - Produtos elétricos
- Combustíveis

Estrutura das Exportações e Importações ditada pelas Vantagens comparativas

- Acesso a recursos naturais


- Mão de obra barata

Distribuição Geográfica das Importações e Exportações

- Influenciado pelos movimentos de integração europeia e pelos efeitos dos choques petrolíferos
- Provocou criação de comércio (Espanha)
- Desvio de comércio (EUA e ex-colónias, estas últimas reavivadas ultimamente, bem como Brasil)
- Dependência energética.

2.7.3 – IDE

— Desde a implementação do Estado Novo até 1960 a orientação de política oficial era não encorajar
muito o IDE

◦ Lei do condicionamento industrial (Lei nº 1956, de 17/05/1937) que durou até 1970

◦ Lei da nacionalização de capitais (Lei nº 1954, de 13/04/1943)


◦ Mas sem hostilizar os que cá estavam

— A partir de 1960

◦ Autorização automática de entradas de capital estrangeiro em determinados sectores

◦ Garantias para IDE – tratamento não discriminatório, indemnização em caso de expropriação,


repatriamento de lucros e do produto de liquidação de investimento

◦ Admitia-se incentivos fiscais

— Indústrias transformadoras orientadas para exportação passaram a ser o destino preferido do capital
estrangeiro

— Mão de obra barata e acesso a recursos naturais

— Acesso aos mercados da EFTA em sectores tradicionais como vestuário, pasta papel, concentrado de
tomate, reparação naval, equipamentos eletrónicos

— Entre 1974 e 1980 o IDE diminuiu, ocorreram também nacionalizações, mas houve o cuidado de não
hostilizar as empresas estrangeiras.

— Entre 1974 e 1980 o IDE diminuiu, mas houve o cuidado de não hostilizar as empresas estrangeiras.

— 1977 – criado o Instituto de Investimento Estrangeiro

— De 1980 a 1992 – animaram de novo

— A partir de 1986 – fase de afluxo de IDE espetacular, acompanhada também por saída de capitais
portugueses para o exterior

◦ Estabilidade política, económica e social

◦ Liberalização económica

◦ Privatizações

◦ Melhoria de infraestruturas e uma maior liberalização do mercado de trabalho

◦ Proximidade ao mercado europeu

◦ Regime do IDE mais simples com auxílios via PEDIP, FEDER, FSE

• A partir de 1992:
◦ Concorrência dos Países de Leste, Extremo Oriente

◦ Apreciação real da taxa de câmbio

◦ Oportunidades de entrada no sistema financeiro, comercial e imobiliário diminuíram.


ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

3. Enquadramento institucional e factos marcantes desde 1960


em Portugal
3.1. Os eventos
Num período de meio século o país passa por um conjunto de transformações muito significativas nas suas
instituições económicas e políticas.

Alguns dos principais eventos nesse período:


• Entrada na EFTA em 1960;
• Guerra Colonial de 1961 a 1974;
• Acordo de comércio com a CEE em 1972;
• Início da flutuação cambial do escudo em 1973;
• Declaração da independência da Guiné-Bissau em 1973;
• Revolução democrática em 1974;
• Nacionalizações e Reforma Agrária em 1975;
• Conclusão dos processos de independência de todas as colónias africanas em 1975;
• Retorno de centenas de milhares de pessoas das ex-colónias e consequente perda quase total
destes mercados;
• Aprovação da Constituição da República em 1976;
• Primeira grande desvalorização do escudo e início da depreciação do escudo de acordo com
“crawling-peg” em 1977;
• Primeiro acordo com o FMI em 1978;
• Revisão constitucional de 1982 no sentido de uma opção mais firme pela economia de mercado;
• Segundo acordo com o FMI em 1983;
• Adesão às Comunidades Europeias em 1986;
• Alteração do sistema fiscal em 1986 e 1989 (adoção do IVA, do IRS e do IRC);
• Abandono do “crawling-peg” em 1990;
• Introdução do princípio da proibição do financiamento monetário do défice orçamental em 1990;
• Tratado de Maastricht em 1991, define as condições e calendário para a UEM;
• Liberalização dos movimentos de capitais, liberalização das taxas de juro e adesão do escudo ao
mecanismo de taxas de câmbio do Sistema Monetário Europeu em 1992;

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

• Pacto de estabilidade e crescimento (PEC) a observar obrigatoriamente pelos participantes da


UEM em 1996;
• Grande volume de privatizações entre 1996 e 1999 em Portugal;
• Definição em 1998 dos países que integrarão a UEM em 1999;
• Introdução do Euro em 1999 (1€ = 200$482);
• Introdução física das moedas e notas de euro em 2002;
• Reforma do PEC em 2004, aligeirando o seu condicionalismo sobre as políticas orçamentais
nacionais;
• Crise financeira internacional marcada pela falência do banco de investimento americano Lehman
Brothers em 15 de Setembro de 2008;
• Início do recurso a instrumentos não convencionais de Política Monetária nas principais
economias avançadas (forte expansão da base monetária);
• Anúncio em 29 de Outubro de 2009 pelo recém-eleito governo grego que o défice orçamental
seria muito superior ao previamente anunciado;
• Em 2 de Maio de 2010, perante a impossibilidade de financiamento nos mercados financeiros, é
acordado o resgate da Grécia envolvendo três instituições, Comissão Europeia, BCE e FMI;
• Criação do fundo “European Financial Stability Facility (EFSF)” em 7 de Junho de 2010, que será
substituído posteriormente pelo European Stability Mechanism (ESM) ;
• Em 28 de Novembro de 2010, a Irlanda é o segundo país da área do Euro a recorrer a um acordo
de resgate com o FMI, Comissão Europeia e BCE (programa de assistência financeira, concluído
no final de 2013);
• Janeiro de 2011, início do estabelecimento de uma nova arquitetura de supervisão para o setor
financeiro na União Europeia iniciando um percurso que poderá desembocar na União Bancária;
• Em 7 de Abril de 2011, Portugal torna-se o terceiro país da área do Euro a recorrer a um acordo
de resgate com o FMI, Comissão Europeia e BCE (Programa de Assistência Económica Financeira,
PAEF);
• Em 26 de Outubro de 2011, é acordado, em princípio, um segundo resgate à Grécia;
• Em 8 de Dezembro de 2011, o BCE decide iniciar operações de longo prazo (3 anos) de
financiamento ao sistema bancário da área do euro;
• Fevereiro de 2012 é finalizado o acordo de 2º resgate à Grécia implicando um hair cut da sua
dívida pública;

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

• Agosto de 2012, BCE anuncia programa de compra definitiva de ativos financeiros, incluindo
títulos de dívida publica.
• Julho de 2012, acordada recapitalização do setor financeiro espanhol (programa terminado no
início de 2014);
• Maio de 2013, é acordado resgate a Chipre (programa terminado em Março de 2016);
• A 30 de junho de 2014 terminou o PAEF, iniciando-se a fase de monitorização pós-programa
– Post-Programme Surveillance, no âmbito da supervisão das instituições europeias; Post-
Program Monitoring, no âmbito da supervisão do Fundo Monetário Internacional (FMI).
• Agosto de 2015, acordado 3º resgate à Grécia.

3.2. Contradições e tendências na organização económica antes do 25


de abril
Embora em Portugal a organização do sistema económico tivesse como forma dominante a economia de
mercado, havia uma intervenção muito significativa do estado na economia.

Essa intervenção era orientada pelos princípios ideológicos do regime, como o corporativismo, e abrangia
muitos aspetos com impacto na atividade económica: condicionamento à livre entrada nos mercados,
controlo de preços, controlo dos sindicatos, fortes proteções aduaneiras.

Além disto, e também de acordo com o espírito da época, o Estado promovia os chamados planos de
fomento, que integravam, para períodos plurianuais, orientações para o crescimento económico, podendo
ainda incorporar programas de infraestruturas e incentivos à iniciativa privada em certas áreas de atividade.

No entanto, à medida que o processo de inserção internacional da economia portuguesa se ia


desenvolvendo, o intervencionismo do estado foi diminuindo de relevância.

Começou a ser evidente alguma contradição entre o intervencionismo, a proteção face à concorrência
internacional, o relevo dado à política colonial e a abertura da economia em consequência do
desenvolvimento dos laços económicos com a Europa.

A esta contradição na orientação económica do regime somou-se, no início da década de 70, a instabilidade
económica internacional, em particular, a partir do final de 1973 com o choque provocado pelo aumento
substancial do preço do petróleo. Assim, além das dificuldades políticas e sociais que o regime enfrentava,
nomeadamente, as associadas à guerra colonial, somava-se esta espécie de impasse também no domínio da
estratégia económica a seguir.
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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

Note-se que durante toda a década de 60, não obstante a enorme libertação de mão de obra da agricultura,
não houve praticamente desemprego (ver slides seguintes) devido ao forte surto emigratório para a Europa
e para as colónias de África. No fim do regime estes fluxos estavam em larga medida comprometidos.

Não admira, portanto, que a queda do regime, embora despoletada por um movimento militar, tenha sido
pacífica.

3.3. Do 25 de abril de 1974 à adesão às Comunidade Europeias em 1986


Neste período, iniciado com a revolução democrática, existe alguma indefinição quanto à organização da
economia, que se vai resolvendo progressivamente no sentido da opção por uma economia de mercado. A
integração europeia constitui o desenlace final deste processo.

Não obstante esta orientação gradual para uma economia de mercado, ainda assim as nacionalizações
permitiram constituir um sector empresarial do estado (SEE) com um peso económico muito significativo:
• as empresas do Estado, representavam 24.2%, 38.2% e 7.9%, respetivamente do VAB, da FBCF e do
Emprego na economia em 1982 (Lopes, pp. 314);
• praticamente todas as empresas financeiras eram públicas.

Apesar do peso significativo do SEE a sua gestão não obedeceu a uma lógica coordenada de planeamento
económico. Pelo contrário, as tentativas de montar um sistema de planeamento não tiveram consequência.

Ainda assim, há pelo menos 3 aspetos em que o SEE foi um instrumento com alguma relevância na perspetiva
macroeconómica:
• Estas empresas mantiveram ao longo deste período um nível de investimento substancial,
contribuindo para atenuar os momentos de crise económica que se verificaram neste período;
• Foram muitas das vezes um instrumento para obter financiamentos externos da economia;
• A nacionalização da banca permitiu que a política monetária assumisse um carácter quase
administrativo, permitindo arbitrar o crescimento e a distribuição de crédito pelos sectores
institucionais da economia.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

No domínio das políticas de gestão da procura agregada, política orçamental e monetária (e cambial),
assistiram-se a períodos de “stop and go”. Isto é, políticas que, embora favorecendo durante um certo
período a expansão da procura agregada, como levavam a um agravamento não sustentável das
necessidades de financiamento externo da economia, determinavam, a seguir, a inevitabilidade de serem
substituídas por políticas de sinal simétrico, que se refletiam em desaceleração ou mesmo redução do
produto. Um dos principais mecanismos para este tipo de políticas foi a evolução cambial imprimida ao
escudo.

Efetivamente, como é evidenciado nos slides seguintes, neste período acentuou-se a fragilidade externa da
economia portuguesa, havendo momentos de alguma delicadeza para assegurar as necessidades de
financiamento do défice externo. Foi necessário recorrer por duas vezes a acordos com o FMI.

Efetivamente, o principal objetivo associado a tais acordos era o de procurar diminuir significativamente o
défice externo. Em ambos os casos esse objetivo foi atingido com alguma facilidade, embora com custos
sociais elevados, particularmente no caso do 2º acordo.

No plano imediato, os acordos permitiam desbloquear o acesso a empréstimos externos para satisfazer as
necessidades de financiamento da economia.

Entre os principais instrumentos utilizados destaca-se:


• Uma política cambial agressiva procurando restaurar a competitividade das exportações e reduzir
a competitividade das importações;
• Uma política monetária restringindo fortemente o acesso ao crédito por parte das empresas e
particulares ao mesmo tempo que acomodava as necessidades financeiras do estado, permitindo
que este recorresse à monetarização do défice;
• O impedimento de que a inflação assim gerada se comunicasse por inteiro aos salários, levando
à sua redução em termos reais, o que por sua vez facilitava também o reequilíbrio externo da
economia.

1. A redução dos salários reais facilitava o reequilíbrio externo porque, em primeiro lugar, afetava a
evolução do rendimento disponível o que, num contexto de fortes restrições de acesso ao crédito,
se traduzia em contenção do consumo e, consequentemente, das importações.

2. Em segundo lugar, a redução dos salários reais beneficiou a competitividade externa das empresas.

3. Finalmente, é de referir que, a redução dos salários reais terá permitido evitar ainda maiores
aumentos da taxa de desemprego nesses episódios de crise/reajustamento externo.
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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

É de referir ainda que circunstâncias externas, particularmente no 2º acordo, favoreceram o seu relativo
êxito. Entre essas circunstâncias destaca-se a queda do preço internacional do petróleo em 1985.

Embora as políticas seguidas tivessem eminentemente uma orientação de curto prazo, elas não deixaram
de ter repercussões profundas na economia. Os sectores produtivos orientados para exportação, ao
contrário dos orientados para a economia doméstica, beneficiaram destas políticas. Pode-se assim ter
involuntariamente contribuído para sustentar empresas e sectores exportadores que de outro modo
estariam já em fase de declínio.

Como veremos com a alteração do sentido das políticas de gestão da procura agregada, sobretudo na década
de 90, passou a ser o sector dos não transacionáveis o sector a beneficiar em termos relativos.

3.4. Da adesão ás comunidades Europeias à UEM em 1999


A adesão às CE determinou um conjunto significativo de mudanças importantes quer no plano institucional,
quer no ambiente internacional da economia portuguesa. A esse respeito há a destacar o seguinte, no plano
institucional:
1. Algumas políticas nacionais e instituições nacionais foram substituídas ou fortemente condicionadas
por políticas comunitárias (nomeadamente, política aduaneira, política agrícola, política de formação
e qualificação profissional);

2. Mesmo em domínios tradicionalmente reservados às políticas nacionais verificou-se, de forma


crescente, a instituição de mecanismos de coordenação e mesmo de supervisão ao nível comunitário
(como exemplos refiram-se os chamados critérios de Maastricht e posteriormente o pacto de
estabilidade e crescimento);

3. A liberdade de circulação de capitais foi condicionando severamente a possibilidade de promover


políticas monetárias exclusivamente determinadas por considerações nacionais e os critérios
estabelecidos para participar na UEM eliminaram a possibilidade da utilização da política cambial
como instrumento de correção do défice externo.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

No início deste período, registou-se uma aceleração do crescimento económico, refletindo designadamente:
• A criação de comércio associada à participação no mercado interno;
• O impacto das políticas de formação profissional e sobretudo de desenvolvimento regional,
aumentando de forma drástica as transferências públicas para Portugal e permitindo desenvolver
importantes infraestruturas;
• Um aumento do investimento direto estrangeiro, em parte motivado pelas novas condições e
perspetivas com a adesão europeia.

Em grande medida, o efeito destes impactos foi-se dissipando progressivamente (apesar de, a partir de 1994,
terem ainda aumentado de forma significativa as transferências da UE).

Ainda assim, verificou-se uma redução significativa das necessidades de financiamento externo da
economia, que criaram um contexto favorável para a reorientação da política monetária.

Essa reorientação traduziu-se em alterações mais ou menos progressivas nos domínios seguintes:
• Maior independência do Banco de Portugal na definição da política monetária, com a exclusão
da possibilidade de financiamento monetário do défice orçamental;
• Alteração dos mecanismos de atuação, passando a política a exercer uma influência indireta nas
taxas de juro e na variação da massa monetária (aliás com o crescente peso das instituições
monetárias privadas na intermediação financeira não seria possível manter os mecanismos
anteriores);
• Definição da estabilidade de preços como objetivo final da política monetária e como objetivo
intermédio a estabilidade cambial. A implementação desta política foi essencial para reduzir
significativamente a inflação.

Gradualmente, sobretudo a partir do início dos anos 90, esta reorientação foi efetuada com um significativo
êxito. Efetivamente, a taxa de inflação caiu de 13.4%, em 1990, para 2.2%, em 1997.

Para esse sucesso contribuiu, a criação de expectativas favoráveis à desinflação da economia, quando se
tornou evidente que a política era credível, nomeadamente em função dos compromissos internacionais
assumidos (como a participação no MTC do SME).

Assim, se inicialmente com a paragem na prática da depreciação nominal do escudo, os preços dos bens
transacionáveis passaram a evoluir em linha com o baixo nível de inflação internacional, impulsionando a
queda da inflação interna.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

Posteriormente, a desaceleração dos preços internos estendeu-se aos não transacionáveis (ver slide
seguinte) e aos próprios salários.

Este percurso fez-se, no entanto, com alguns sobressaltos, como foram:


• O elevado crescimento da massa monetária no início da década de 90 em consequência do afluxo de
capitais externos visando tirar partido da taxa de juro interna relativamente elevada num contexto
de maior estabilidade nominal do câmbio do escudo;
• A crise do Mecanismo de Taxas de Câmbio do Sistema Monetário Europeu, no final de 1992 (só em
1994 este mecanismo reencontrou um forte nível de estabilidade);
• A passagem por posições cíclicas negativas em meados dos anos 90 que, se por um lado poderiam
por em risco a estratégia de política monetária definida, por outro, criaram condições propícias à
redução da inflação.

À medida que a inflação foi caindo, foi possível reduzir as taxas de juro que convergiram para as taxas de
juro da Alemanha (também elas registando uma tendência decrescente). Esta redução tornou possível a
expansão da procura interna, particularmente, na segunda metade da década de 90, tornando virtualmente
inexistentes os temidos sacrifícios associados ao cumprimento dos chamados critérios de Maastricht.

Foi assim que foi possível cumprir o critério do défice orçamental abaixo dos 3% do PIB apesar de,
praticamente durante toda a década de 90, a despesa pública primária ter continuado a aumentar de forma
significativa, assumindo a política orçamental uma natureza claramente pro-cíclica. Efetivamente, as
finanças públicas beneficiaram de três fatores: redução da taxa de juro com a inerente contração dos
encargos com a dívida pública; receitas das privatizações (que diretamente não afetam o défice); e maior
receita fiscal em consequência da expansão da procura interna.

Apesar de ser alcançado o objetivo de participar na derradeira fase da criação da UEM, a política económica
seguida não deixou de ter tido reflexos que se sentiram posteriormente, sendo de destacar:
1. A estratégia de política monetária assente na estabilidade cambial em termos nominais conduziu a
uma valorização real do escudo (ver slide seguinte), visto que, não obstante a diminuição da inflação
interna, ainda assim se manteve em geral acima dos níveis de inflação internacional. Em
consequência, a competitividade do sector produtor de bens transacionáveis foi afetada. Em
contrapartida, os sectores não transacionáveis, nomeadamente serviços e construção, terão
recebido um forte impulso. Começou a notar-se, já na parte final da década, uma clara tendência
para o agravamento das necessidades de financiamento externo da economia portuguesa.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

2. A redução das taxas de juro, aliada a uma crescente eficiência de um sector financeiro, em que o
sector privado já era dominante, permitiu manter taxas de investimento elevadas o que deverá ter
aumentado de modo substancial o stock de capital da economia, embora não com a composição mais
adequada para permitir a expansão do produto potencial.

3. A política orçamental seguida, não obstante a significativa redução das despesas com juros da dívida
pública, as elevadas receitas com privatizações entre 1996 e 1999, e num contexto de forte
crescimento da receita fiscal em consequência do dinamismo da procura interna, tornou as finanças
públicas vulneráveis a choques adversos (como o da inversão do ciclo económico ou o do aumento
das taxas de juro), agravando os problemas da sua sustentabilidade a longo prazo (recorde-se que o
financiamento monetário do défice deixou de ser uma opção possível).

3.5. A participação na área do Euro


A. Os anos antes da Crise
Em Janeiro de 1999, Portugal integrou o grupo de 11 países que inicialmente formaram a Área do Euro (AE).
Em consequência, a política monetária passou a ser conduzida pelo BCE, subordinada ao objetivo primordial
de manutenção da estabilidade de preços na AE.
Assim as políticas de estabilização ao dispor das autoridades nacionais passaram a resumir-se basicamente
à política orçamental e, mesmo esta, foi condicionada pelo pacto de estabilidade e crescimento que
estabelecia a orientação de os saldos orçamentais serem tendencialmente nulos ou positivos e, pelo limite
de 3% em caso de défice.
Na economia portuguesa o ritmo de crescimento médio diminuiu consideravelmente, sugerindo dificuldades
ao nível de crescimento do produto potencial, registando-se mesmo uma paragem na aproximação à média
da UE.
A moderação do crescimento foi acompanhada por níveis relativamente baixos de inflação. Já a taxa de
desemprego parece ter tido uma tendência crescente.
Um dos factos mais salientes deste período foi o aumento substancial do endividamento externo da
economia portuguesa. Uma grande parte deste endividamento corresponde a dívida pública, que tem
também apresentado uma tendência crescente.
O crescimento da dívida pública refletiu a persistência de défices orçamentais elevados, em geral superiores
a 3% do PIB.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

B. A Crise e o Plano de Assistência Económica e Financeira (o resgate)


O crescimento do endividamento externo e particularmente da dívida pública num contexto de crescentes
dificuldades de financiamento de outras economias periféricas da área do Euro, traduziu-se num forte
agravamento das taxas de juro.
Efetivamente, desde o início da crise financeira, sobretudo em 2010 e não obstante da criação de um fundo
especial de ajuda a Estados Membros da UE da área do Euro com dificuldades de endividamento público (o
ESFS), acentuou-se o spread entre a taxa de juro de longo prazo da dívida publica portuguesa (OT a 10 anos)
e a correspondente taxa de juro da dívida publica alemã (ver gráfico seguinte).
A impossibilidade de recurso ao financiamento dos mercados financeiros, dados os encargos incomportáveis
associados, determinou a necessidade de programas de regaste financeiro (a Grécia e Irlanda em 2010 e,
posteriormente, Portugal em 2011).
Embora com caraterísticas diferentes, estas economias têm em comum a sua reduzida dimensão, níveis
muito elevados de dívida pública e a fragilidade dos respetivos sistemas financeiros.
No entanto, os sinais de um problema mais geral foram também evidentes nos casos de Espanha, Itália e
Bélgica e, em menor grau, de França e Áustria. Este contexto, não obstante a política monetária não
convencional encetada pelo BCE, forçou a que lentamente se iniciassem reformas institucionais no domínio
da organização e regulação dos sistemas financeiros da área do Euro entre as quais se salienta o processo
de União Bancária.

O PAEF para Portugal assentou em três pilares:


• Consolidação orçamental (contração da despesa pública corrente primária e aumento da carga
fiscal), visando obter uma trajetória para o saldo estrutural primário que facilitasse no futuro uma
redução do peso da dívida pública no PIB;
• Estabilidade do sistema financeiro, que envolveu uma ajuda ao sistema financeiro visando
promover a sua maior solidez após duas décadas de crescimento substancial do crédito interno;
• Transformação estrutural da economia portuguesa, envolvendo reformas que flexibilizassem o
funcionamento de mercados fundamentais, nomeadamente do trabalho.

Teve, portanto, uma ambição mais alargada que os programas negociados com o FMI nos anos 80 do século
anterior, em que era dominante a preocupação com o equilíbrio do saldo externo.

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ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA

O pacote de assistência financeira previa a mobilização, para o período de 2011 a 2014, de um total de 78
mil milhões de euros, dos quais: 52 mil milhões de euros correspondiam a financiamento através dos
mecanismos europeus (Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira e Fundo Europeu de Estabilidade
Financeira) e 26 mil milhões de euros a assistência do FMI, ao abrigo de um Programa de Financiamento
Ampliado (Extended Fund Facility).
Do total, 12 mil milhões de euros foram destinados ao mecanismo de apoio público à solvabilidade do setor
bancário (Bank Solvency Support Facility).

No âmbito do PAEF, foram tomadas um conjunto de medidas no plano orçamental de natureza


contracionista e pró-cíclica, contribuindo para ampliar em 2011 e em 2012 o hiato negativo do produto.
Essas medidas envolveram a contração das despesas pública primária corrente e de capital e o aumento
substancial da carga fiscal.

Paralelamente, o apoio concedido ao setor financeiro foi condicional à sua reestruturação que contribuiu
para uma redução drástica do crédito interno à economia.

Os setores produtivos de não transacionáveis, mais dependentes das finanças públicas e do crédito interno
foram os mais afetados. Do lado da despesa, o agregado mais afetado foi a procura interna, em particular o
investimento.

Em consequência da forte contração da procura interna, com reflexos no crescimento significativo da taxa
de desemprego que atingiu cerca de 16,4% em 2013, e ao crescimento das exportações assistiu-se a uma
melhoria do saldo externo (+2,3% do PIB em 2013).

A melhoria do saldo orçamental foi mais difícil dado o impacto nos estabilizadores automáticos da redução
da atividade económica, obrigando a medidas adicionais de contração das despesas públicas,
designadamente com e de aumento de impostos (criação de sobretaxas).

Em todo o caso, a evolução da economia e das finanças públicas portuguesas e no contexto da política
monetária não convencional do BCE, permitiram a conclusão do PAEF no final de junho de 2014, com o
retorno ao financiamento público junto dos mercados internacionais de capitais.

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