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2.1. INTRODUÇÃO
A evolução da humanidade sempre andou de mãos dadas com a evolução da tecnologia. Presente
desde o início da humanidade, quando a descoberta do fogo e das pontas de lança mudou
radicalmente o estilo de vida do homem, os avanços tecnológicos sempre foram um pilar
fundamental para o desenvolvimento das sociedades humanas. Desde as descobertas médicas
que permitiram um aumento da expectativa de vida até as invenções militares que moldaram a
realidade geopolítica na qual o mundo está organizado, pode-se praticamente explicar como os
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seres humanos se tornaram o que são hoje através de uma simples revisão da história da
tecnologia. Da mesma forma, o avanço da tecnologia sempre foi condicionado pelas
características socioculturais das diferentes sociedades humanas que se sucederam ao longo do
tempo, cujo legado ainda pode ser visto em grande parte da tecnologia utilizada pela humanidade
de hoje.
Assim, é possível dizer que existe uma relação de co-dependência entre tecnologia e humanidade
e, portanto, também entre ciência e humanidade. A aquisição de novos conhecimentos científicos
permitiu a criação de novas tecnologias que, por sua vez, permitiram a descoberta de novos
conhecimentos científicos. O grande benefício do loop infinito resultante desta reciprocidade tem
sido a inteligência. Autores como Sternberg (1997), Perkins (1995) e Gardner (1983), que
concentraram suas carreiras no estudo da inteligência humana, todos os três concordam sobre o
impacto positivo da tecnologia em seu crescimento.
Falar de inteligência implica necessariamente falar sobre o principal ponto de interesse deste
material de estudo. A linguagem sempre foi considerada uma das características básicas da
inteligência humana, independentemente de ser considerada um produto sócio-cultural, uma
característica evolutiva ou uma mera ferramenta de comunicação. Assim, a linguagem pode ser
acrescentada como outro nó nesta complexa rede de relações entre conceitos e encontrar, em
suas raízes mais primitivas, uma primeira relação entre línguas e computadores. Ainda mais se
levarmos em conta que a linguagem é uma das escalas utilizadas por cientistas como Alan Turing
(1950) e John McCarthy (1956) para medir inteligência computacional ou inteligência artificial.
Entretanto, a relação entre os idiomas e a tecnologia da informação tem sido, desde o início desta
última, muito mais direta. Já vimos, por exemplo, que aspectos da informática como a codificação
textual têm uma relação direta com a linguagem em termos da representação das línguas
naturais através dos meios digitais, mas há muitos outros aspectos nos quais essa interação entre
a linguagem e a informática ocorre. Guillermo Rojo (2005-2006) fala sobre três níveis de
interação entre TI e lingüística:
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O objetivo deste capítulo é preencher esta lacuna e determinar até que ponto a informática e a
linguagem estão inter-relacionadas, levando em conta todos os atores envolvidos,
Para poder contemplar todo o espectro de possíveis relações entre linguagem e tecnologia da
informação, devemos acrescentar uma relação final de reciprocidade a este emaranhado de fios e
conexões, o que ocorre entre os avanços tecnológicos e a globalização. A globalização é um
fenômeno anterior à informática e tem sua base nas relações econômicas, sociais e culturais que
existiam entre as civilizações antigas. Ela consiste no crescimento da interdependência das
diferentes sociedades humanas devido às transformações sociais, econômicas e políticas
resultantes dos processos de interação e do choque de culturas. Devido às limitações
espaço-temporais da grande superfície do planeta, este processo seria impossível sem os avanços
tecnológicos. Tecnologias como os navios que tornaram possível atravessar mares e oceanos pela
primeira vez tornaram possível o choque de culturas em uma escala global.
Entretanto, na história da globalização, dois eventos recentes devem ser destacados, que
aceleraram drasticamente o processo de globalização e trouxeram a sociedade global e
interligada que prevalece atualmente no mundo, significando o início da era da informação: a
revolução informática e a irrupção da Internet na vida cotidiana. Os computadores, e a
possibilidade que eles se conectam entre si e permitem a comunicação instantânea entre
quaisquer dois ou mais pontos do planeta, tornaram a troca de informações entre as diferentes
sociedades do planeta muito mais fácil e rápida e, em parte, suavizaram as barreiras colocadas
pelo choque cultural.
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As implicações para a linguagem são óbvias. Em um mundo globalizado, em uma sociedade onde
pessoas de culturas muito diferentes coincidem diariamente, é necessária a intervenção de
agentes que atuam em favor da mediação intercultural e interlinguística e que normalizam os
processos de comunicação que ocorrem, assim como a nova terminologia que deles deriva. Em
outras palavras, para que o conceito da Internet funcione e seja a rede de redes pretendida,
alguém precisa garantir que a comunicação seja possível. Além disso, como uma das
conseqüências negativas da globalização é a possível perda, parcial ou total, das próprias
identidades de uma comunidade, é necessário que alguém garanta a sobrevivência dos idiomas e
sua adaptação a um ambiente claramente dominado pelo inglês como língua veicular.
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Idiomas e TI
que as línguas se afastassem cada vez mais da terminologia predominante em inglês, que é
principalmente o resultado de um conjunto de fatores sociais, políticos e econômicos de meados
dos anos 50 (Jambor, 2007), e utilizassem cada vez mais suas próprias alternativas ou
adaptações mais naturais.
Entretanto, o ritmo de criação de novos termos é tão rápido que em muitas ocasiões estes órgãos
não podem assumir sua adoção e devem agir retroativamente sobre o que foi adotado pela
comunidade científica. Além disso, uma das conseqüências diretas do acesso universal às novas
tecnologias é que em muitos casos a comunidade científica também não é a primeira a adotar a
terminologia proveniente de outras línguas, mas é a comunidade lingüística em geral, através dos
usuários finais, que é responsável por isso. A globalização permitiu o contato direto entre
desenvolvedores e usuários em nível global, sem a necessidade de especialistas na cultura alvo
para atuar como um primeiro filtro para a chegada de uma nova tecnologia. Isto se tornou
especialmente evidente na incorporação desta nova terminologia na linguagem cotidiana em,
onde é cada vez mais comum ler ou ouvir adaptações quase ou totalmente literais da terminologia
de outros idiomas, especialmente o inglês. No caso do espanhol, por exemplo, formas como
“tweeting” ou “chatting” são comuns, adaptadas à morfologia do espanhol para as necessidades
dos usuários finais, mas também formas como “smartphone” ou “selfie”, literalmente importadas
Qualquer que seja sua origem, a incorporação de nova terminologia é uma das relações mais
diretas entre informática e línguas, e atualmente é um campo de estudo para profissionais da
língua de ramos como lexicografia e sociolingüística, mas também para outros campos fora da
linguística, como a antropologia ou a psicologia.
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questão de minutos. Outras atividades que nem se pensava serem possíveis, como a redução de
uma onda sonora aos dados e sua reutilização para formar novas cadeias sonoras, estão agora ao
alcance de todos.
É raro encontrar alguém na lingüística que não utilize uma ou outra ferramenta informática, seja
total ou parcialmente, em sua atividade profissional. Mesmo os profissionais mais tradicionais
encontraram nos computadores uma ferramenta útil para praticamente qualquer aspecto de sua
profissão, não apenas em atividades diretamente relacionadas à linguagem, mas também
naquelas que podem ser encontradas transversalmente em qualquer profissão, tais como
networking, organização pessoal ou gerenciamento de tempo. Portanto, é evidente que a relação
entre linguagem e TI é mais do que evidente no desempenho de atividades profissionais por
profissionais da linguagem.
Um último aspecto no qual a já mais que evidente relação entre línguas e informática pode ser
observada, e talvez o aspecto mais simples desta relação, mas também o mais transcendental, é
o caso das línguas formais. Os idiomas formais são um tipo de linguagem cujos símbolos e regras
primitivas são formalmente especificados. O significado de uma cadeia em linguagem formal só é
influenciado por sua forma, ao contrário da linguagem natural, onde o significado de uma cadeia
pode ser influenciado por características do contexto.
A relação deste tipo de linguagem com a informática ocorre em todos os níveis, uma vez que todos
os idiomas utilizados por um computador para realizar suas tarefas de cálculo e processamento
são idiomas formais. A linguagem binária e as múltiplas linguagens de programação utilizadas
para o desenvolvimento de software são exemplos disso. A origem das bases estabelecidas pela
grande maioria das linguagens de programação atuais reside nos esforços da lingüística
computacional para permitir que os computadores interpretem a linguagem natural,
especificamente para poder traduzir textos automaticamente para o inglês, embora este ramo da
lingüística tenha se tornado agora um campo interdisciplinar cobrindo qualquer assunto
relacionado à modelagem formal e estatística da linguagem natural.
O fato de que as línguas formais são baseadas nas características morfossintáticas da linguagem
natural e que foram introduzidas na computação com base no trabalho de linguistas como Noam
Chomsky (1956) para atender às necessidades do processamento automático de informações só
reforça a idéia de que a relação entre computação e línguas vai muito além do uso de
computadores como simples ferramentas de suporte. De fato, ele mostra que as línguas são a
base sobre a qual os pilares da computação e da informática em geral são construídos. Não foi
por nada que o cientista da computação Edsger W. Dijkstra, conhecido por suas contribuições
para o desenvolvimento de linguagens de programação, colocou o domínio da língua materna
acima de qualquer outra condição para ser um bom programador (Vaquero, 2002).
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2.6. CONCLUSÃO
Que os idiomas são a base de qualquer sistema informático é talvez a relação mais fundamental
que pode ser estabelecida entre idiomas e computadores. Entretanto, como mostrado ao longo do
capítulo, os níveis nos quais estes dois conceitos interagem podem depender de muitos outros
fatores e podem ser de natureza direta ou indireta. Algumas delas estão relacionadas à lingüística
em geral e outras são específicas a um ramo em particular. Alguns afetam o dia-a-dia de um
profissional da língua e outros simplesmente passam despercebidos.
A importância de conhecer a relação entre estes conceitos é que, em caso de dúvidas sobre como
um computador pode influenciar as atividades derivadas do estudo e exploração da linguagem,
este conhecimento nos permite compreender que computadores são máquinas criadas para
satisfazer as necessidades de processamento de informações, lingüísticas ou não, dos seres
humanos e projetadas com base na linguagem natural para favorecer a transmissão e o
processamento de informações. Como tal, oferecem um ambiente perfeito para que um
profissional relacionado à lingüística possa realizar suas atividades de forma natural, com
condições delineadas dentro de seu escopo de trabalho, e geram um novo conjunto de
necessidades lingüísticas derivadas de seu uso que podem ser abordadas de múltiplas
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