1) A obra descreve as dinâmicas políticas, econômicas e religiosas da costa oriental africana, com foco na chegada dos portugueses e suas interações com os reinos locais.
2) Era uma região politicamente fragmentada, mas culturalmente homogênea pelo islamismo e língua kiswahili.
3) Os portugueses estabeleceram alianças em alguns lugares, mas também usaram a força em outros, aproveitando rivalidades locais para aumentar sua influência.
1) A obra descreve as dinâmicas políticas, econômicas e religiosas da costa oriental africana, com foco na chegada dos portugueses e suas interações com os reinos locais.
2) Era uma região politicamente fragmentada, mas culturalmente homogênea pelo islamismo e língua kiswahili.
3) Os portugueses estabeleceram alianças em alguns lugares, mas também usaram a força em outros, aproveitando rivalidades locais para aumentar sua influência.
1) A obra descreve as dinâmicas políticas, econômicas e religiosas da costa oriental africana, com foco na chegada dos portugueses e suas interações com os reinos locais.
2) Era uma região politicamente fragmentada, mas culturalmente homogênea pelo islamismo e língua kiswahili.
3) Os portugueses estabeleceram alianças em alguns lugares, mas também usaram a força em outros, aproveitando rivalidades locais para aumentar sua influência.
Niterói, 2022 Resenha do Texto: A. Salim “A costa oriental da África” In B. A. OGOT (Edit.). História Geral da África. Vol. V
No capítulo A costa oriental da África, A. Salim expõe as dinâmicas políticas,
econômicas, comerciais e religiosas da costa oriental africana. Na obra, é o possível perceber um marco definido para o contexto da região estudada, a saber, a chegada dos portugueses. É sob o prisma da introdução lusitana que Salim aborda os conflitos, alianças e disputas entre os estrangeiros e locais, além de ativas relações entre as cidades e reinos da região. Outro aspecto importante é o de relativa autonomia das cidades da costa oriental africana, assim como a influência de fatores externos. A religião é exposta por Salim como um fator de identidade que agrega, mas que também separa. É necessário apresentar os principais pontos e dados expostos e analisados por Salim. Salim inicia sua exposição relatando as intensas atividades entre as cidades africanas ainda antes da chegada dos portugueses. Porém, ele mostra que a cidade de Kilwa, que era uma das grandes potências da região por causa de sua atuação no comércio marítimo, começou a declinar, e que este declínio possibilitou o futuro sucesso da intervenção portuguesa (p. 884). Mas além de Kilwa, Salim também mostra a existência de outras cidades importantes como Zanzibar, Melinde e Mombaça. Melinde e Mombaça eram grandes rivais e disputavam a hegemonia sobre a região. A questão comercial é atrelada às dinâmicas destes Estados, já que o comércio de outro e marfim constituía uma importante atividade econômica (p. 886). Um importante aspecto da análise de Salim é o contraste entre a fragmentação política e a homogeneidade religiosa e cultural (p. 887). A língua Kiswahili se disseminou entre os povos de cultura suaíli. O Islã e a cultura árabe também foram elementos unificadores, pois como atesta Salim, o Islã introduziu o conceito de urbanidade, transcendo a esfera religiosa. Salim ressalva o sincretismo religioso e cultural, já que o Islã e a cultura árabe conviveram e se fundiram com diversas crenças e culturas próprias da região, moldando os parâmetros culturais (p. 888). Como dito anteriormente, Salim dá à religião, um papel importante como um fator de agregação ou divisão. A própria expansão portuguesa no oriente se dá como uma espécie de cruzada, pois visa conter o Islã “no plano comercial, político, militar e religioso” (p. 890). Desta maneira, percebe-se que a religião e a civilização islâmica, que tanto contribuíram para moldar os parâmetros culturais da costa oriental da África, também incentivaram a expansão portuguesa. Salim explica a ambiguidade e pluralidade das relações entre os portugueses e os africanos orientais. Em Moçambique e em Mombaça, os portugueses não foram bem recebidos, mas em Melinde, ocorreu um estreitamento que resultou em uma aliança entre Melinde e Portugal (p. 891). A entrada dos portugueses no cenário político, também significou sua inserção no panorama comercial. As ações lusitanas foram tão plurais que, embora em alguns lugares, alianças fossem firmadas, em outros, o uso da força foi necessário. Um bom exemplo aplicado por Salim é o de Kilwa, que foi pilhada e sofreu outros ataques (p. 893). Assim, é possível dizer que a própria fragmentação da costa oriental africana contribuiu para a pluralidade portuguesa, já que os portugueses se aproveitaram das intrigas e disputas já existentes entre os reinos africanos. Isso fica muito claro quando Salim relata a destruição de Mombaça e o fortalecimento de Kilwa, que acabou cedendo aos assédios dos lusitanos (p. 893). Salim também afirma que em Mombaça, a política de destruição praticada pelos portugueses não rendeu frutos. A ocupação portuguesa teria bagunçado e desorganizado o cenário político e comercial da região, que só se recuperou após a partida dos portugueses (p. 894). As dinâmicas do ouro e do marfim também se destacam na análise de Salim. Além de expor que esses dois produtos eram os proeminentes no comércio, Salim mostra que a alternância de oferta e demanda, como o caso de Kilwa e aumento do comércio de marfim devido à escassez de ouro (p. 894). Salim conclui que “os portugueses não tiveram uma clara política de ocupação ou de administração na costa suaíli”, revelando uma atuação limitada da parte dos portugueses. Desta forma, foi esta limitação que permitiu uma maior atuação comercial por parte dos estados africanos. Salim também confronta a ideia de que os portugueses não tinham um real interesse na costa oriental africana. Como ele mostra, apesar de Goa ser o grande centro oriental da expansão portuguesa, foi estabelecida uma administração local em Melinde, que atenta os interesses portugueses (p. 895). A manutenção de autonomia do estado permitiu a recuperação de Mombaça. Salim atesta que a influência muçulmana foi importante para os casos de aversão aos portugueses, como os conflitos entre os portugueses e os turcos e mamelucos (p. 896). Salim também revela a atuação de áreas que podem se chamar de “satélites”, como é o caso de Kilifi, cidade entre as rivais Melinde e Mombaça (p. 898). Para Salim, em suma, a ocupação portuguesa tem como grande resultado, a exigência do pagamento de impostos (p. 899). É destacado um novo evento: a inserção de holandeses e britânicos no contexto oriental (p. 899). A introdução de holandeses e ingleses enfraqueceu o domínio português. Salim expõe a ocupação de Moçambique pelos holandeses (p. 903), e a atuação inglesa no período da União Ibérica, se juntando aos locais contra os portugueses (p. 903). Porém, além de se conflitarem contra outras potências europeias pela hegemonia da costa oriental africana, os portugueses acabaram confrontando outros inimigos. Salim dá destaque aos conflitos entre os portugueses e Mombaça. Como ele afirma, a troca de dinastia não impediu que os conflitos ocorressem. A partir dos dados expostos por Salim, pode-se afirmar que ocorreu uma verdadeira cristianização de parte da elite de Mombaça. Um bom exemplo é o caso do herdeiro Yusuf, que estudou em Goa, se converteu ao cristianismo e casou-se com uma mulher de origem portuguesa e asiática, além de lutar ao lado dos lusitanos e aportuguesar seu nome (p. 901-2). Mas Salim destaca que após desentendimento, Yusuf foi deixado de lado pelos portugueses e retornou ao islamismo. Isso mostra como que a religião exerceu um papel de identidade, seja de assimilação à cultura lusitana cristã, ou de resistência apoiada no islamismo (p. 902). Salim também relata uma disputa entre os portugueses e árabes, que visavam o controle da costa suaíli (p. 905). Mas, mesmo com esta disputa, a derrota portuguesa se aliou pelo próprio povo da costa, como Mombaça, Zanzibar, Penba e Máfia (p. 906). Isso mostra a disseminação de resistências à ocupação portuguesa. Neste contexto, Salim apresenta os fatores da decadência portuguesa na costa oriental africana: “A derrota portuguesa foi atribuída a toda uma série de fatores: a fraqueza, a imperícia e a anarquia do sistema colonial; a indecisão, a imprudência, a incapacidade e a cupidez de inúmeros administradores que pensavam, sobretudo, em encher seus bolsos, alienando a simpatia da população suaíli; os estragos causados pelo clima e as doenças, que dizimaram uma população portuguesa já pouco considerável; as facções locais, cujas lutas serviram, durante certo tempo, aos interesses dos portugueses, mas que não tardaram a se voltar contra eles. Aproximadamente no final do período estudado, os portugueses encontravam-se no fim dos seus recursos (mesmo Goa, por exemplo, fora deixada sem defesa em janeiro de 1730, na ocasião de um derradeiro e desesperado esforço a fim de retomarem a sua parte na África Oriental.). Tal esforço foi mal sucedido, pois só conseguiram, com grande pena, constituir um corpo expedicionário.” (p. 907).
Mas Salim também mostra as influências externas, como comerciais, políticas e
religiosas de outras regiões (p. 907-8). Para ele, o Islã foi um fator sem igual, os Sharifs desempenharam um papel crucial contribuindo para o desenvolvimento e “reabilitação econômica” (p. 908-9). Salim conclui o capítulo ressaltando alguns aspectos como: a introdução portuguesa nos aspectos locais; a cristianização e exploração desta região que resultaram em conflitos religiosos entre o Islã e os cristãos; o sucesso parcial do comércio lucrativo português; a capacidade de algumas cidades africanas se recuperarem e se reestabelecerem, como o caso de Mombaça (p. 912-3). À luz do que foi exposto pro Salim, pode-se compreender e destacar o papel da religião como fator de unidade e também de divisão; as atividades comerciais; as disputas, alianças e conflitos entre os diversos estados envolvidos.