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Tolstoy
CÍRCULO DO LIVRO S.A.
Edição integral
Tradução: Aulyde Soares Rodrigues Tradução das notas: Mary Amazonas Leite
de Barros Layout da capa: Tide Hellmeister
Direitos para o Brasil adquiridos por Comp. Melhoramentos de São Paulo, Inds.
de Papel e Círculo do Livro S.A.
2 4 6 8 10 9 7 5 3 1
85 87 88 86 84
Este livro é dedicado à minha querida esposa
Georgina
Agradecimentos
Este livro não teria sido possível sem a generosa colaboração de amigos de boa
vontade em todo o mundo. Quero aproveitar a oportunidade para expressar meu
agradecimento e meus respeitos a todos, e especialmente àqueles que foram
vítimas dos terríveis acontecimentos que descrevo:
Nota sobre as abreviaturas
A 6 de fevereiro de 1922, a Tcheka foi substituída pela GPU, mais tarde (em
1923) chamada OGPU, conhecida pelas iniciais da Obedinnoie
Gossudarstvennoie Polititcheskoie Upravlenie: “Administração Política do
Estado Unido”. A mudança do nome aparentemente foi decorrência do pavor
generalizado suscitado pela organização, dentro da Rússia e no exterior. Por essa
mesma razão, em 10 de julho de 1934, a OGPU transformou-se no braço armado
do NKVD, nome pelo qual as forças de segurança passaram a ser conhecidas.
NKVD são as iniciais do Narodni Kommissariat Vnutrennikh Del:
“Comissariado do Povo para Negócios Internos”.
Sendo assim, estou certo de que o que Stalin fez e o que Stalin disse é de
extrema importância. Nenhuma ação, nenhuma palavra era franca e direta, mas
pelo menos ele agia coerentemente, ao passo que o que dizia revelava
claramente alterações em suas esperanças e temores. Suas esperanças e temores
talvez fossem irreais ou pouco sensatos, mas eram a fonte principal da estrutura
de sua política, e por isso têm de ser compreendidos.
Portanto, acredito que Stalin tenha vivido todo esse período temendo um súbito
colapso interno do regime soviético, semelhante àquele que envolveu o governo
provisório de Kerenski, em 1917. A semelhança pode parecer remota, em vista
da enorme debilidade da população em geral e dos recursos policiais do Estado
soviético. Mas a questão não é a validade desse temor, e sim sua existência e as
reações que provocou.
Além disso, a política soviética não pode ser compreendida fora do seu contexto
social. A distância entre a classe privilegiada e o resto da população era tão
grande, que não teve precedente na história, e a estrutura destinada a conservar
essa barreira era tão vasta que pareceria paranoica, não fosse sua necessidade
real. Abaixo da população “livre” estavam os quinze milhões, ou mais, de
escravos do GULAG, outra fonte de medo e ódio.
Grande parte da literatura sobre a Rússia soviética peca por considerar esses
aspectos isoladamente. Existem excelentes livros que descrevem a diplomacia e
a história militar soviéticas. Outros relatam com detalhes a extraordinária vida
privada de Stalin, e outros ainda descrevem os horrores selvagens do GULAG e
de Katin, Lvov e Vinnitsa. Parece-me necessário unir todos esses fatores, de
tempos em tempos, em uma narrativa contínua.
Stalin era bastante perspicaz para compreender a coincidência dos seus objetivos
com os de Hitler, mas não para perceber o perigo dessa aliança. Tudo indica que
o pacto com Hitler foi extremamente bem recebido, enquanto a subsequente
aliança com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos foi encarada com medo e
suspeita. Tudo isso é explicável quando se verifica que a principal preocupação
de Stalin era a estabilidade interna da União Soviética. A política externa sempre
desempenhou papel secundário ao lado dessa consideração principal, mesmo nas
circunstâncias mais perigosas e extraordinárias. Na primeira semana da invasão
alemã, o massacre dos prisioneiros das prisões da Lituânia e da Ucrânia teve
precedência sobre o suprimento de munições de primeira necessidade para o
Exército Vermelho, na fronteira. Centenas de milhares de homens bem-
equipados guardavam os campos do GULAG, ao invés de defender a Rússia da
investida alemã.
Muitos outros aspectos estranhos desses anos turbulentos merecem uma revisão.
Até que ponto os comunistas britânicos e franceses ajudaram Hitler em 1940?
Qual é a verdadeira história dos “vinte milhões de vítimas da guerra” na Rússia,
uma estatística usada regularmente pelos porta-vozes russos para rebater a crítica
do Ocidente? O que levou os russos a lutar tão bravamente, depois de 1941, por
um regime que virtualmente fizera guerra contra eles por mais de vinte anos?
Como Hitler conseguiu enganar Stalin, na véspera da Operação Barba-Roxa? As
incipientes atitudes da guerra fria poderiam ter sido evitadas em 1945?
Esta situação de perigo tem sua origem nos acontecimentos de 1939-45, pois
ainda está presente a herança de Stalin e Hitler. Um estudo mais atento desses
anos cruciais pode nos levar a compreender a natureza do perigo, e até mesmo a
sugerir soluções. Compreensão, paciência, determinação e auto-sacrifício são as
qualidades de que a civilização necessita para a sobrevivência. O KGB tem
todos os recursos do seu predecessor, NKVD, e o ressoar dos canhões nas ruas
escuras às três da manhã, a batida na porta, podem acontecer tanto em
Washington quanto em Varsóvia.
Primeira Parte
I. A nova sociedade
Nesse meio tempo, as leis, na medida em que fossem necessárias, existiriam para
Nesse meio tempo, as leis, na medida em que fossem necessárias, existiriam para
suprimir a resistência das classes hostis aos interesses do proletariado. Na
verdade, naturalmente, esse conceito significava que não existia outra lei a não
ser aquela que a liderança do Partido considerasse como tal. Esse ponto de vista
é explicado nos escritos de Lenin, na sua defesa da “liderança do proletariado”
como um prelúdio necessário ao Estado comunista: “o termo científico
‘ditadura’ significa nada mais nada menos do que autoridade não prejudicada
por leis, sem ser restringida por qualquer regulamento e baseada diretamente na
violência. O termo ‘ditadura’ não tem outro significado — tomem nota disso...”5
Lenin acreditava firmemente que a liderança do Partido, assim como a
vanguarda do proletariado, não devia ser prejudicada por nenhuma obstrução
institucional. As instruções aos seus colegas de partido para “usar tanto a
corrupção quanto a ameaça de extermínio geral” e (sobre possíveis sabotadores)
“matar a todos sem exceção” garantiam a eficiência da nova ditadura6.
O fato de Stalin ter continuado e estendido o uso do terror como a principal arma
do Partido é um desenvolvimento lógico da mesma política. Havia muito de
selvagem e irracional nos seus expurgos, mas eram coerentes com a ausência de
leis no governo comunista. Para garantir a extinção da oposição, era necessário
mexer a panela continuamente, abafando a formação de focos de resistência 7.
Assim, a Rússia soviética foi, desde o princípio, uma ditadura declarada, na qual
as sucessivas manifestações da polícia política podiam se desenvolver sem o
desafio das restrições usuais, levando o povo para qualquer direção que
conviesse à ditadura. Como diz sucintamente Milovan Djilas:
Não é necessário dizer que nenhum desses direitos existia realmente, e que todos
eram violados com uma frequência tal que confirmava sua inexistência. O
custoso e perturbador enigma tinha como objetivo disfarçar o exercício do poder
livre e completo, tomado e mantido pela força bruta. Imediatamente após sua
ascensão ao poder, Lenin, que sempre foi extremamente franco sobre seus
objetivos e métodos, começou a observar a repulsa geral que seus assaltos à
liberdade estavam ocasionando. “Via a erosão cotidiana das poucas instituições
democráticas que ainda restavam, mas, de tempos em tempos, gostava de evocar,
com virtuosa sonoridade, a palavra democracia.” 10 Assim, a Constituição de
1924 alardeava formas democráticas e parlamentares, “mas as molas do poder no
sistema soviético estavam escondidas” 11. A nível local, por exemplo, o
Congresso dos Sovietes de uma oblast (província) não passava de um anteparo
do partido local, sem nenhuma capacidade executiva ou legislativa. O papel do
Soviete Supremo era também “ornamental e decorativo”, dando “a impressão de
um espetáculo teatral bem ensaiado, do qual tivessem sido eliminados quase
todos os elementos de conflito... A tarefa do Soviete Supremo não consiste em
questionar e sim em executar, colocando sobre a tese do partido um manto de
legalidade constitucional”. É compreensível a ausência de qualquer atitude
refratária ou de oposição; como revelou um antigo oficial da Guarda do Kremlin,
“para nos prevenirmos contra qualquer súbita tendência subversiva por parte dos
“para nos prevenirmos contra qualquer súbita tendência subversiva por parte dos
delegados escolhidos, um oficial armado da Guarda senta-se a cada mesa de
quinze delegados. Há também um oficial armado da Guarda para cada doze
pessoas, nas galerias” 12.
Por mais fantasiosas que fossem suas ideologias, Lenin era realista quando se
tratava de medidas essenciais à sobrevivência do seu regime. Como Hitler, era
um estudioso dedicado do clássico de Gustave Lebon sobre o comportamento
das massas, La psychologie de la foule. (Hitler, por sua vez, declarou que “havia
das massas, La psychologie de la foule. (Hitler, por sua vez, declarou que “havia
estudado a técnica revolucionária nas obras de Lenin e Trotsky, e de outros
marxistas” 15.) Lenin, e Stalin depois dele, aceitava o fato de que a violência dos
bolchevistas era repelida por muitos, e que, para se tornar aceitável, a ditadura
precisava se ocultar parcialmente sob uma aparência de processo democrático.
Tinha de admitir que aquilo que o povo desejava desesperadamente não eram
conceitos de “liberdade”, muito menos igualdade, e sim proteção tangível sob a
forma de representação eletiva, cortes de justiça imparciais, direitos de
propriedade e outros itens constitucionais, para a preservação da liberdade
característica do Estado burguês do século XIX, vilipendiado por Karl Marx.
Em abril de 1940 o embaixador americano viu “em quase todas as cidades onde
estive (no sul da Rússia) longas filas à espera de pão e outros alimentos. No
importante porto de Odessa, essa situação era mais evidente, pois as filas para
comprar comida eram tão extensas, na rua principal, que milhares de pessoas
podiam ser vistas de um único ponto de observação”. O embaixador acreditava
que isso se devia mais à deficiência na distribuição do que à falta real de
alimento. Outro observador que falava russo, no mesmo ano,
“não seria necessária muita liderança para dar início a uma revolução anti-
stalinista. .. Muitos acreditam que, se a Alemanha se dirigir para o oriente,
encontrará muita gente na Rússia farta do governo e disposta a receber de braços
abertos qualquer ajuda externa, mesmo da Alemanha” 19.
A disciplina nas fábricas era draconiana. Lenin havia determinado que “as
massas inquestionavelmente obedecem à vontade única dos líderes do processo
do trabalho”, enquanto Trotsky pregava a “militarização do trabalho”, segundo a
qual os trabalhadores ficariam completamente à disposição do Estado20. Coube
a Stalin a tarefa de pôr em prática as recomendações dos seus antecessores. Em
1932 foram criados os passaportes internos, para evitar que os trabalhadores
mudassem de emprego sem permissão; se o fizessem, seriam privados dos
cartões de racionamento e do direito à habitação. Essa providência foi
cartões de racionamento e do direito à habitação. Essa providência foi
acompanhada, em 1938, pela criação de uma “carteira de trabalho”, que continha
um histórico completo da carreira do trabalhador, e sem a qual ele não conseguia
emprego. “Um decreto baixado em junho de 1940 determinava que o empregado
que chegasse com mais de vinte minutos de atraso ao trabalho, sem uma
dispensa médica válida, estaria sujeito a uma pena de trabalho compulsório com
dedução de até vinte e cinco por cento do salário, e a reincidência seria punida
com penalidades mais drásticas.”
Tudo isso e mais informações sobre a situação real dos trabalhadores da União
Soviética era acessível a quem quer que se interessasse pelo assunto. Andrew
Smith, um americano comunista, trabalhou em fábricas russas, como voluntário,
de 1932 a 1935. Ao voltar, publicou um extenso livro de memórias22, que teve,
em inglês, sete edições em dois meses. Descreve com detalhes as horrendas
condições de vida dos seus companheiros; as medidas óbvias para iludir os
visitantes estrangeiros; o controle férreo da polícia da GPU; o luxo esquálido e a
imoralidade da nova classe governante; os expurgos, os sequestros e outros
aspectos terríveis da vida soviética.
Muitos sobreviviam, para morrer logo depois de sua chegada aos campos de
trânsito. No campo de trânsito de Vladivostok, por exemplo, onde os prisioneiros
eram reunidos antes da viagem marítima para o campo aurífero de Kolyma,
“dezenas de milhares”, em 1938, foram vítimas de uma terrível epidemia de tifo
exantemático. A doença se propagou rapidamente nas barracas superlotadas.
"A enfermaria do campo estava tão cheia de doentes, deitados nos caíres e no
"A enfermaria do campo estava tão cheia de doentes, deitados nos caíres e no
chão das salas e dos corredores, que era impossível qualquer tipo de tratamento.
Algumas das mulheres no nosso alojamento foram requisitadas como
enfermeiras. Sua tarefa principal consistia em contar os mortos que haviam
escapado dos padecimentos que esperavam os outros: as minas de ouro. Em
silêncio, olhávamos através do arame farpado para os carros que entravam no
campo todas as noites Os corpos eram empilhados, atados com cordas e cobertos
com lona, e os caminhões saíam, levando as vítimas para a liberdade eterna."
Mas o mais selvagem índice de mortalidade anual ainda estava para vir: nos
próprios campos de trabalho. Um prisioneiro polonês notou que “nunca
conheceu um prisioneiro que tivesse trabalhado na floresta por mais de dois
anos. Via de regra, eles deixavam o campo depois de um ano, com doença
cardíaca incurável, e eram transferidos para brigadas de trabalho mais leve; daí
eram logo ‘aposentados’ — no necrotério”. Um camarada que trabalhava no
escritório de registro de óbitos do campo lembra-se de que “no escritório havia
dois armários da altura de um homem normal; um continha três pilhas verticais
de certificados de óbito, o outro, apenas duas pilhas e meia. Os prisioneiros
mortos eram levados ao escritório, todos com os dados pessoais em um cartão
amarrado no tornozelo”. Uma cópia de cada certificado era enviada para o
GULAG — mas não para a família do morto39.
A escala enorme desses assassínios em massa não pode ser apreciada em termos
humanos. Segundo um prisioneiro alemão em Vorkuta, “calculava-se que, nas
viagens de trem, cada homem que dormia custava uma vida, e nas minas havia
dois mortos por metro cavado sob o solo”. Em poucos anos, uma geração inteira
de prisioneiros era dizimada, sendo substituída por outra44. A União Soviética
ultrapassou seu aliado de 1939-41 no número de vítimas destruídas. O dr. Julius
Margolin, um líder sionista, libertado depois de sete anos sob custódia do
GULAG, escreveu que “o hitlerismo foi derrotado, ao passo que os campos
GULAG, escreveu que “o hitlerismo foi derrotado, ao passo que os campos
soviéticos continuam a existir . . . Desde que foram criados, os campos
soviéticos devoraram maior número de pessoas, fizeram maior número de
vítimas do que qualquer outro campo — os de Hitler e outros — juntos, e essa
máquina letal continua a funcionar a todo o vapor. . . Uma geração de sionistas
pereceu nas prisões soviéticas, nos campos e no exílio” 45. Uma mulher que teve
a infelicidade de conhecer os dois sistemas durante muito tempo concluiu que no
campo de Ravensbrück, somente nos últimos dias do seu regime agonizante, os
nazistas conseguiram igualar os bolchevistas em brutalidade: “As mortes
estavam aumentando, e no fim de 1944 não havia muita diferença entre
Ravensbrück e Kuruganda"46.
"O capataz correu para a escavação e com um golpe rápido enfiou o cigarro
aceso na boca do homem. O prisioneiro encolheu-se, cobrindo o rosto com as
mãos. Com uma série de palavrões, o capataz continuou a bater na cabeça do
trabalhador, depois no peito. O homem caiu. Então o capataz começou a dar
pontapés, com suas botas pesadas, no homem caído...” 49
Sobre todo esse império do medo — sobre os milhões que agonizavam nas
minas de carvão de Vorkuta e nos campos auríferos de Kolyma, sobre
trabalhadores urbanos famintos, guardas de fronteira com gorros azuis,
camponeses coletivizados, sem lar, viúvas do GULAG, torturadores
profissionais, falsificadores de passaportes, professores do Instituto de
Marxismo-Leninismo, carrascos — estendia-se a sombra de um homenzinho.
Cidades, vilas, fábricas, institutos e montanhas tinham seu nome; todos os
jornais, livros, publicações científicas o exaltavam como um ser nobre,
verdadeiro e sábio; e milhões se uniam para adorar publicamente um homem que
levara a tragédia a cada família daquele país.
“não parecia em nada com seus numerosos retratos. Stalin mandou fuzilar vários
pintores. Eram chamados ao Kremlin para retratar o Líder e Professor para a
eternidade, mas aparentemente não o satisfaziam. Stalin queria ser alto, com
mãos fortes. Nalbadian (um pintor da corte) enganou a todos. No seu retrato,
Stalin caminha diretamente para o observador com as mãos cruzadas sobre o
estômago. É visto de baixo para cima, um ângulo que faria um liliputiano
parecer um gigante”.
A realidade era muito diferente: “sua mão direita era visivelmente mais fina do
que a esquerda. Stalin procurava sempre escondê-la” 2. Uma exata descrição nos
arquivos da polícia czarista, quando ele tinha vinte e dois anos, refere-se ao fato
de que o segundo e terceiro artelhos do seu pé esquerdo eram pregados um no
outro. Tinha apenas um metro e sessenta e quatro de altura, era magro, moreno e
com profundas marcas de varíola. Um acidente na mocidade deixara-o com o
cotovelo esquerdo rígido e o braço um pouco mais curto3.
Em novembro de 1941, escreveu uma testemunha ocular russa, “eu não o via
desde 1933. Desde então, ele tinha mudado muito; viu a minha frente um
homem baixo, de rosto abatido e cansado. Em oito anos tinha envelhecido vinte.
Não havia nos olhos a antiga força, não se ouvia a confiança em sua voz”. A
confiança voltou com os sucessos dos Aliados um ano depois, mas a
deterioração física não foi detida. O cabelo ficou grisalho e ralo e seu ventre
deterioração física não foi detida. O cabelo ficou grisalho e ralo e seu ventre
pendia dentro dos uniformes justos que usava. O rosto marcado parecia mais
enrugado do que antes, o bigode estava ralo e grisalho e os dentes, escurecidos e
manchados. Em junho de 1942, o embaixador britânico surpreendeu-se com “seu
aspecto e estatura. Eu esperava um homem alto e agressivo. Mas o que vi foi. . .
um homenzinho magro, curvado, grisalho, com uma grande cabeça e mãos
brancas e imensas. . . quando apertou minha mão, olhou quase furtivamente para
o meu ombro, e não para o meu rosto”. Certas vezes, esse homenzinho malfeito
e desajeitado parecia “constrangido” e “era uma figura bastante ridícula”,
incapaz de olhar os visitantes diretamente nos olhos ou de manter uma conversa
inconsequente. Outras vezes, era todo encanto e boas maneiras, cativando
estrangeiros com sua aparente modéstia e bom senso. Um vislumbre do outro
Stalin surgia apenas nas cabeças de lobos que ele estava sempre desenhando e na
chama súbita dos olhos amarelos, quando fitava severamente um vassalo que o
ofendia5.
Esse parece ter sido o verdadeiro Stalin, cuja vulgaridade não era amenizada
nem pela presença da filha mais moça. “Em casa”, escreve Svetlana, “à mesa,
com seu habitual círculo de ‘companheiros de arma’, ele usava a linguagem dos
trabalhadores e muitas vezes palavras obscenas. . . Nessas reuniões
essencialmente masculinas, ao redor da mesa, só eu poderia ser um elemento
moderador, mas minha presença jamais o impediu de contar piadas e histórias
grosseiras de camponeses.” A pequena Svetlana fugia da sala, mas era obrigada
a voltar e testemunhar cenas cada vez mais desagradáveis e selvagens.
Nos anos 20, quando Stalin estava ainda consolidando seu poder, seu secretário
Nos anos 20, quando Stalin estava ainda consolidando seu poder, seu secretário
assistiu a uma cena característica entre o líder e o secretário Mekhlis, um judeu.
Sem perceber que Mekhlis estava na sala, Stalin observou, irritado: “Quem ele
pensa que é, este judeuzinho sujo?” Subitamente, viu que Mekhlis estava a
pouca distância dele. Voltou-se, olhando com curiosidade para seu afável
subordinado: “Muito bem, pequeno Liev, então você engoliu isso?” Mekhlis
fingiu espanto: “O quê? Do que está falando?”
“Bebeu copo após copo de vinho, e depois de algum tempo começou a dançar.
Era um espetáculo ridículo, e quanto mais bebia mais apavorante ele ficava.
Toda a cena parecia um pesadelo. Ele dava risadas ruidosas, cambaleando e
batendo os pés pela casa, completamente fora do ritmo da bela música. A
impressão geral não era somente grosseira e vulgar, mas tão estranha que
lembrava uma ameaça sinistra O mais assustador era que, apesar de sua
embriaguez, ele ainda parecia suficientemente sóbrio para observar minha reação
a essa conduta. Passamos o dia todo. . . com o ditador bêbado, que a cada minuto
mais se parecia com um monstro apavorante” 11.
O segundo filho de Stalin (do seu segundo casamento), Vassili, nasceu em 1920.
Ao contrário de Iákov, foi reconhecido publicamente, o que parecia indicar
aprovação paterna. Com pouco mais de vinte anos, recebeu a patente de general-
de-divisão, uma promoção sem precedentes, que só podia ser baseada em
princípios de hereditariedade. Tudo indicava que Vassili fosse um herdeiro
digno da afeição do pai, pois era um informante maldoso, arrogante e vingativo.
Apelidado de “Czarévitch” por seus companheiros, ele era “malfeito de corpo,
Apelidado de “Czarévitch” por seus companheiros, ele era “malfeito de corpo,
com aparência desleixada e cor de farrista... sua vaidade era colossal”. Depois
que o pai o ensinou a tomar bebidas fortes, tornou-se um beberrão incorrigível e
morreu de alcoolismo ainda jovem. O pai aparentemente não sentiu muito a
perda, pois, como Khrushchev ouviu dizer, ele “costumava bater no filho
regularmente, e designara homens para vigiar Vássia”. (Dizem que Iákov
também apanhava de Stalin 14.)
Com sua filha mais nova, a célebre Svetlana, ele podia ser gentil e afetuoso. Mas
era também extremamente cruel, puxando-lhe o cabelo por ter errado o passo em
uma dança que ele a obrigara a executar em uma das orgias alcoólicas do
Kremlin. Quando mais tarde ela teve a ousadia de se apaixonar por um diretor de
cinema judeu, o pai o mandou para Vorkuta. “Mas eu o amo!”, protestou
Svetlana, angustiada.
“ ‘Amor!’, gritou meu pai, demonstrando um ódio por essa palavra que eu nunca
teria imaginado. E pela primeira vez em sua vida ele me esbofeteou duas vezes.
‘Veja só o quanto ela se rebaixou!’ Ele não se conteve: ‘Uma guerra terrível à
nossa porta e ela se ocupa o tempo todo em...! ’ Incapaz de encontrar outra
expressão, ele usou a rude palavra camponesa.”
Stalin esbofeteou-a outra e outra vez, e depois disse com zombaria: “Olhe para
você. Quem vai querer isso? Sua tola! Ele está cheio de mulheres!” 1S
Se esse era o modo com que Stalin tratava a própria família, sua atitude para
com os companheiros e súditos não era muito diferente. Não acreditava nas
afeições humanas e, para ele, o medo era o único sentimento no qual podia
confiar. Achava que “todo homem tem seu preço”. Era a própria personificação
da cautela e da dissimulação: “Todas as suas atitudes eram calculadas e
deliberadas. Cada passo, bom ou mau, era cuidadosamente medido”. As mais
triviais reações dos que o rodeavam eram estudadas com olhos semicerrados. Em
1951, declarou confidencialmente: “Não acredito em ninguém, nem em mim
mesmo”. Não é de admirar, portanto, que não pudesse ficar sozinho, obrigando
seu guarda-costas a fazer-lhe companhia constantemente 16.
Embora a dívida de Stalin para com Lenin fosse imensa, seu reconhecimento
dela era quase exagerado. Para ele, Lenin continuava a ser um gênio, cuja fé
imorredoura e cujo brilhante intelecto levaram um pequeno grupo de
conspiradores a derrubar o governo do maior país do mundo e conseguir poder
ilimitado. Só Lenin compreendeu e dominou o cataclismo histórico, e o poder
ilimitado. Só Lenin compreendeu e dominou o cataclismo histórico, e o poder
bolchevista na Rússia podia ser considerado como uma criação pessoal e a
herança do próprio Lenin21. Durante todo o seu governo, Stalin exaltou Lenin
como um gigante de intelecto e de humanismo, conservou sua viúva e alguns
companheiros felizardos como relíquias 22, e considerou seu governo legitimado
pelo imprimatur da criação e da sucessão de Lenin.
A idéia de que a cada dia o mundo ficava livre de maior número dos seus
inimigos acalmava os temores de Stalin. Em abril de 1943, um visitante britânico
observou-o “contar como se fosse uma piada o modo pelo qual tinha eliminado a
maioria dos quinta-colunas. Nunca vi Stalin tão satisfeito”.
Era inevitável que Stalin acabasse compartilhando com seu irmão, o ditador de
Berlim, o ódio e o medo do “judeu universal”. Não era tanto a crença na
inferioridade racial dos judeus que agitava a mente de Stalin, e sim a convicção
de que estava ameaçado por unia vasta conspiração, engendrada por um povo
misterioso e estranho Sua mão era visível em toda parte: eles “tentavam formar
um Estudo judeu na Crimeia para tirar a Crimeia da União Soviética e
estabelecer um posto avançado de imperialismo americano”; eles haviam
“arranjado” um marido judeu para sua filha Svetlana; eles se haviam unido sob o
disfarce de médicos para envenenar o Líder dos Povos.
Entretanto, a antipatia de Stalin pelos judeus não era uma obsessão absoluta,
como para Hitler. Seu antissemitismo, cujas origens remontam à sua juventude,
era um reflexo do ódio que sentia por qualquer grupo que permanecesse
inassimilado, inteiro, sob seu governo. No profundo aforismo de Ronald
Hingley, “o Stalin maduro não era um inimigo fanático de qualquer população
específica da humanidade, pois suas simpatias eram anti-humanas em geral”.
Ainda assim, seu ódio voltou-se pesadamente contra aquele povo perseguido e
torturado. O fato de ele condenar publicamente o antissemitismo como um crime
indica claramente que seu antissemitismo tinha origem em um preconceito
genuíno, não sendo uma tentativa de conseguir a aprovação de alguns grupos
antissemitas. Apesar disso, foi observado que o antissemitismo popular se
desenvolveu enormemente durante o governo de Stalin; em parte, como resposta
às indicações pouco sutis da aprovação do governo, e em parte como uma reação
irracional às impressionantes atribulações daquela época 26.
Muitas das manias mais mórbidas de Stalin aparentemente podem ser atribuídas
a um acentuado complexo de inferioridade. A pouca altura e aparência geral
insignificante já foram comentadas31, bem como as circunstâncias infelizes de
sua infância. Pode-se duvidar da teoria de Roy Medvedev, segundo a qual Stalin
se sentia desprezado por seus “brilhantes” camaradas bolchevistas32; eles talvez
pudessem recitar de cor longos textos das escrituras marxistas, mas sua
compreensão dos homens e dos negócios de Estado era muito inferior. Ainda
assim, sua inveja feroz, suas pretensões intelectuais e a vaidade obsessiva
indicavam sentimentos profundamente enraizados, embora inconscientes, de
inferioridade33.
“As reuniões do Politburo começavam com a leitura da agenda, feita por Stalin.
Depois disso, ele geralmente falava durante horas com Béria, no dialeto da
Geórgia. Ninguém compreendia o que diziam. Então ele anunciava em russo as
resoluções a serem adotadas. Todos concordavam. Fim da reunião”35.
Stalin tinha também uma opinião bastante sucinta sobre a importância do Partido
Comunista na União Soviética. Em 1923, quando um assunto importante estava
para ser votado, um relatório da GPU sugeriu que a maioria se oporia à
liderança. Kamenev ousou pedir a opinião de Stalin. “Sabem, camaradas”,
respondeu o Líder com voz calma, “o que eu penso desse assunto? Penso isto:
quem vota no Partido, e como, não importa; o que é importante é quem conta os
votos, e como.”36
“.. .se tomarmos o último trabalhador da União Soviética, nunca haverá mais de
três pessoas entre ele e Stalin, seja através do Partido ou da administração. Um
trabalhador geralmente conhece o diretor da sua fábrica. O diretor conhece o
porta-voz da Administração Central e este conhece o comissário do povo. E o
comissário está em contato direto com Stalin, O mesmo se dá no Partido. O
homem do povo está ligado ao seu secretário de distrito, e todos os secretários de
distrito recebem ordens do comitê da área. Em muitos casos, os secretários de
área estão em contato direto com Stalin. Outros precisam passar pelo vice-
secretário do Comitê Central de Moscou. Portanto, como se vê, nunca há mais de
três pessoas entre o mais simples indivíduo do povo e Stalin”.
“. . . pelo menos uma vez por semana eu via o chefe do NKVD de Kharkov e ele
ia a Moscou, uma vez a cada dois meses, para ver Iejov (chefe do NKVD). OS
chefes de todos os distritos reuniam-se em Moscou para receber instruções do
comissário, ou seja, Iejov. Podiam também se comunicar com ele por linha
direta se precisassem de esclarecimentos ou informações sobre qualquer assunto
nos intervalos dessas reuniões. Iejov, naturalmente, estava em contato
permanente com Stalin. Agora, como vê. . . há apenas dois homens entre mim e
Stalin”.
E foi assim que uma sugestão feita por Stalin a Iejov, em meados de agosto, teve
como resultado o espancamento de prisioneiros, por seus interrogadores, em
todas as prisões da Rússia 37.
Stalin não tolerava o menor sinal de pensamento independente por parte dos seus
subordinados. A vida em sua corte era um contínuo pesadelo de medo e de tédio,
com as intermináveis sessões de discussões, orgias e bebedeiras e filmes infantis.
Os visitantes estrangeiros notaram o silêncio de todos quando o patrão falava, e
o mais bravo dos seus generais encolhia-se na presença do ditador41. Não é de
admirar, uma vez que ninguém podia ter certeza de que o convite para a corte
não era um prelúdio da execução, da tortura ou do campo de trabalho escravo.
Geralmente, a violência limitava-se a brincadeiras de mau gosto, mas muitas
vezes o tirano esbravejava com seu sotaque georgiano, dizendo que os culpados
deviam ser acorrentados, espancados até se tornarem uma massa e então moídos
para se transformar em pó. Contudo, a despeito dessas cenas terríveis, os
companheiros mais antigos não ousavam deixar de comparecer, para que sua
sorte não fosse decidida sem seu conhecimento 42.
sorte não fosse decidida sem seu conhecimento 42.
Bernard Shaw, cuja admiração passava de um ditador para outro, observou que
não podia acreditar que Stalin fosse um “gângster vulgar”44. Na verdade, tudo
indica que, se não fosse pelas oportunidades oferecidas a homens do seu tipo
pela Revolução, ele teria seguido as trilhas do crime comum. O assalto ao banco
de Erivan elevou-o na estima de Lenin. Pouco depois disso, as autoridades
czaristas o confinaram na prisão Bailov, perto do mar Cáspio. Um companheiro
de cela notou que o “Koba” ignorava a lei tácita segundo a qual prisioneiros
políticos não se misturam com criminosos comuns. Stalin estava “sempre na
companhia de valentões, chantagistas políticos, ladrões e assaltantes”. Seus
amigos mais chegados eram dois irmãos, os Sakvarelidje, condenados por
falsificação de notas de quinhentos rublos45.
Em 1912, Stalin foi exilado para Vologda. Mais tarde, lembrava com saudade
que, no exílio, ele “andava especialmente com os criminosos... Eram criminosos
amáveis, o sal da terra. Mas havia muitos ratos entre os condenados políticos.
Eles não demoraram em organizar uma corte de camaradas e me puseram em
julgamento por beber com criminosos comuns, o que consideravam uma
ofensa”46. É provável que a mistura indiscriminada de prisioneiros políticos e
criminosos comuns nos campos do GULAG, promovida por Stalin, fosse um
meio de se vingar das ofensas de 1912. Uma vez que essa mistura era regra
universal, pode-se supor que tenha sido autorizada pelo próprio Stalin. As
perseguições sofridas pelos “presos políticos” por parte dos criminosos comuns,
na opinião de todos, eram o aspecto mais insuportável de uma existência
torturada47.
Medidas drásticas foram tomadas pela OGPU para extorquir ouro e joias da
população, uma quantidade bem pequena, no total. O cidadão suspeito de
esconder um relógio de ouro ou aliança era levado para as prisões da GPU e
submetido a torturas até revelar onde estava o tesouro (quando tinha o que
revelar). Poucos resistiam aos horrores da parilka (câmara de tortura) e ao
“transportador”. Os que saíam vivos logo sucumbiam ao estágio seguinte do
refinamento da tortura soviética: ver os próprios filhos serem torturados. Os
judeus especialmente eram suspeitos de esconder suas riquezas, e o
antissemitismo, muito difundido entre os agentes da GPU, fazia que tivessem um
prazer especial em infligir dor e humilhação aos jidovskaia morda, “narigão de
judeu”. Um judeu idoso foi obrigado a beber a própria urina na frente de
brutamontes divertidos. Outros foram submetidos a tormentos pavorosos para
dar informações sobre seus amigos51.
Era pouco provável que esses métodos de extorsão, que lembravam o reino do
rei João, na Inglaterra, resolvessem os problemas econômicos da Rússia, e Stalin
imaginou uma nova solução. Em maio de 1928, os bancos de todo o mundo
sofreram uma verdadeira inundação de notas de cem dólares, e os especialistas
não tardaram a descobrir que eram falsas. Durante algum tempo, suspeitaram
não tardaram a descobrir que eram falsas. Durante algum tempo, suspeitaram
dos criminosos do Ocidente, embora fosse praticamente impossível ao maior
criminoso conseguir recursos suficientes para uma operação tão vultosa, em
qualidade e quantidade. As forças policiais de uma dezena de países começaram
a investigar, e logo ficou estabelecido que as notas vinham da Rússia. Um banco
particular, Sass e Martini, fora comprado, em Berlim, por agentes soviéticos, e
através dele notas falsas no valor de milhões de dólares eram introduzidas no
Ocidente. Comunistas do Ocidente e outros criminosos organizaram a
distribuição, mas, apesar da perfeição das notas, o plano foi descoberto e
aniquilado pelas forças policiais americanas, alemãs, polonesas e outras.
Pode-se dizer, portanto, que Stalin possuía uma mentalidade criminosa e que a
diferença entre ele e Al Capone estava apenas nas oportunidades oferecidas
pelas sociedades onde ambos operavam. Não é surpreendente que um homem
como Stalin tenha conquistado o poder na Rússia, considerando-se a atmosfera e
as circunstâncias da sociedade pós revolucionária. A filosofia do terror e os
meios para sua aplicação tinham sido legados a ele por Lenin 53, e a revolução
parda na Alemanha, na mesma época, tinha lançado um líder igualmente sádico
e inescrupuloso.
O que nos parece extraordinário é que esse Estado, liderado por esse homem,
cujos crimes iam do sórdido ao espetacular, pudesse provocar admiração em
muitos indivíduos educados que viviam fora da proteção do seu poder, todos
com oportunidades de compreender as realidades do governo soviético. Usavam
meios primitivos e evidentes para esconder a verdade dos visitantes do
Ocidente54, mas não se compreende como um barbarismo praticado em grande
escala durante um quarto de século não tivesse sido detectado.
Certa vez, Litvinov advertiu Stalin sobre o efeito perigoso que suas crueldades
públicas poderiam ter na opinião democrática do Ocidente. “Não se preocupe,
eles vão engolir tudo”, resmungou o ditador sarcasticamente.
Na verdade, o gosto de Stalin para certas coisas — roupas e filmes, por exemplo
— era bastante simples. Mas se os admiradores ocidentais de Stalin pudessem
ver os bastidores teriam ficado estranhamente surpresos. Em 1919, o sr. e sra.
Stalin tinham se mudado para uma espaçosa casa de campo perto de Usovo, a
cerca de trinta e dois quilômetros de Moscou.
Isso, porém, era um começo modesto. Na década de 30, a fortuna de Stalin tinha
crescido extraordinariamente. Além da datcha em Zuvalovo, descrita acima,
Stalin tinha outra em Kuntsevo, que preferia à primeira. Havia outra ainda, perto
de Kuntsevo, construída pelo arquiteto soviético Miron Merjanov. Mas três casas
podem parecer pouco quando se tem um enteado, empregados, convidados ...
assim, conta sua filha,
“... meu pai tinha mais outras duas casas fora de Moscou... Lipki, uma antiga
propriedade na Rodovia Dmitrov, com um lago, uma casa maravilhosa e um
parque enorme cercado de altas tílias, e Smionovskaia, uma bela propriedade
com uma casa construída pouco antes da guerra, lagos alimentados por fontes
naturais e feitos por servos nos velhos tempos, e mais bosques imensos. . . Meu
pai raramente visitava essas duas propriedades, passando às vezes um ano sem
vê-las, mas a criadagem estava sempre de prontidão. Se o desfile de automóveis
saísse de Kuntsevo dirigindo-se para Lipki, criava-se um verdadeiro
pandemônio; todos, desde o mestre-cuca até o guarda dos portões, das copeiras
aos comandantes, ficavam em pânico”.
Cinco casas de campo e uma suíte no Kremlin estava muito bem, mas era
preciso pensar nas férias. Seu arquiteto favorito, Merjanov, construiu “várias
datchas no sul” para Stalin — era difícil lembrar-se de quantas eram. Em 1937
havia pelo menos quatro, e mais a luxuosa vila perto de Gagri, um presente de
Béria, assim como o cardeal Wolsey havia doado Hampton Court a Henrique
VIII. Não podemos dizer se essa propriedade se assemelhava à magnífica
residência de Stalin nas montanhas de Abecásia, que, segundo alguns, era uma
imitação do “Ninho da Águia” de Hitler, em Berchtesgaden3. Ao contrário dos
estadistas estrangeiros e dos seus predecessores, os czares, Stalin raramente
recebia dignitários estrangeiros, e todas essas mansões e vilas eram destinadas
unicamente à distração do ditador e de seus amigos. Mais tarde, depois de 1946,
foi construída outra "datcha em Novi Afon, outra perto de Sukhumi e um
conjunto delas no lago Mitsa. Outra datcha foi construída nas colinas Valdai, na
província de Novgorod, ao norte”4.
“Casas para eles e para os empregados tinham sido construídas perto da estrada,
do lado de dentro dos portões. Em seguida, subindo a colina, ficam as garagens
para vinte e cinco ou trinta carros. Mais acima, próximo à casa de Stalin, havia
três vilas para os convidados do ditador, equipadas com quadras de tênis, de
squash, uma construção especial para mesas de bilhar, etc.”
Infinitamente mais luxuosa era a imensa casa de campo em Zelioni Miss, no mar
Negro. Stalin
“... mandou abrir uma vasta área para o parque, de frente para o mar, fechou-a
permanentemente ao público e construiu outra casa. Essa propriedade, com os
parques paisagísticos e reservas naturais, é mantida cuidadosamente em segredo,
para que o povo não tome conhecimento de sua existência. Não posso citar o
preço exato do desenho dos jardins, construção dos prédios, e outras
benfeitorias, mas, pela extensão de terra, duvido que o San Simeon de Hearst
tenha custado mais do que o palácio de Zelioni Miss”.
A fortuna de Stalin não estava representada por dinheiro no banco. Seu salário
era, na verdade, bastante modesto. Porém, não havia limites para as facilidades
que ele podia obter sem dinheiro. “Tudo aquilo de que precisava — roupas,
que ele podia obter sem dinheiro. “Tudo aquilo de que precisava — roupas,
alimentos, suas datchas e empregados — era pago pelo governo. A polícia
secreta tinha uma divisão especial para esse fim, com um departamento de
contabilidade exclusivo.” “Só Deus sabe o quanto tudo isso custava e para onde
ia todo o dinheiro”, diz a filha de Stalin, Svetlana. “Meu pai certamente não
sabia.” Stalin não tinha idéia do valor do dinheiro, que ele raramente via, e
continuava a pensar em termos do valor da moeda de antes da revolução8.
Contudo, o dinheiro estava sempre à sua disposição quando era preciso. Certa
vez abriu uma gaveta no quarto da mulher: estava praticamente repleta de notas
de dez, vinte e trinta rublos9. Nunca foi possível calcular a renda real de Stalin,
mas o balanço anual apresentava uma “quantia astronômica”. “O Estado gastava
mais para manter Stalin do que gasta o povo americano para manter seu
presidente, e não devia ser muito menos do que se gastava na Rússia para manter
Nicolau II”, diz Roy Medvedev 10.
Em 1922, Trotsky havia instalado seus pais “em uma grande datcha amarela, no
belo parque Neskutchni, perto do rio Moskva. A casa pertencera a um russo rico,
antes da revolução...” Vorochilov, comissário da Guerra, tinha uma grande
datcha de três andares perto de Moscou, com uma imensa biblioteca. Como
datcha de três andares perto de Moscou, com uma imensa biblioteca. Como
todos os outros líderes soviéticos, recebia gratuitamente um exemplar de todos
os livros publicados na União Soviética, mas este não era necessariamente um
privilégio invejável. Essa casa do marechal, ou talvez outra, era uma cópia do
palácio do czar em Livadia. Kaganovitch, chefe da Comissão Central de
Controle, tinha também uma residência palaciana, mas era “a casa de um rico
arrivista, cheia de objetos caros e grupos de palmeiras nos cantos. O próprio
Kaganovitch era grosseiro e espalhafatoso. Parecia um gordo proprietário de
terras”. Os outros luminares da hierarquia do Partido tinham também um nível
de vida muito alto. Krilenko, o promotor público, que antecedeu Vichinski como
o Fouquier-Tinville da Revolução Russa, apossara-se da esplêndida mansão do
príncipe Gagarin, mas essa vida de luxo parecia modesta comparada à do
escritor soviético Maksim Górki. Ele possuía uma bela casa em Moscou e duas
grandes vilas no campo. “Nessas vilas cultivava suas flores favoritas,
importadas. Fumava cigarros especiais, encomendados no Egito. Bastava um
pedido seu para que lhe fosse enviado qualquer livro, de qualquer país.” 14
O amigo íntimo de Stalin, Abel Ienukidje, estava mais do que farto do esplendor
da sua existência. “Qual é o maior interesse dele?”, perguntou certa vez seu
secretário. “Oh, ele gosta de comparar seu modo de vida com o dos czares.” 16
Seria injusto pensar que os líderes comunistas levaram muito tempo para
adquirir gostos extravagantes. Antes da revolução, Anastas Mikoian organizava
greves e dirigia grupos de estudo para trabalhadores nas refinarias de petróleo de
Baku e Batum, que pertenciam a um industrial chamado Zubalov. Imediatamente
depois da revolução, Mikoian mudou-se para a mansão de Zubalov, então
abandonada. Svetlana Stalin lembra-se das agradáveis visitas à casa de Mikoian:
“A casa dos Mikoian está até hoje exatamente como era no tempo dos seus ex-
proprietários exilados. Na entrada há a estátua de um cão, o favorito do antigo
dono da casa. Dentro, estátuas de mármore importadas da Itália. Nas paredes há
gobelinos e as janelas do andar térreo são vitrais coloridos. O jardim, o parque,
as quadras de tênis, a estufa para cultivo de laranjas, os estábulos e viveiros de
plantas continuam exatamente como eram antes.” 17
Nas décadas de 20 e 30, os detalhes dessa vida de luxo foram mantidos quase
completamente em segredo, mas, com a aliança do tempo de guerra, os visitantes
estrangeiros tiveram a oportunidade de testemunhar a vida da nova classe e seus
prazeres. O general americano Deane chegou a Moscou em outubro de 1943.
Seu país quase não fora afetado pelas privações da economia do tempo de
guerra, mas nada do que tinha visto na América se comparava com as maravilhas
da União Soviética.
O almoço foi uma longa sucessão de pratos, começando com uma pesada sopa
de beterraba, depois um delicioso peixe com molho hollandaise, um assado, uma
salada, e terminando com uma imensa monstruosidade arquitetônica feita de
sorvete, que criou uma série de problemas diversos e interessantes ao ser atacada
sucessivamente pelos convidados.”20
Quando um comissário resolvia jantar fora, podia se saciar com uma refeição tão
esplêndida quanto a de um milionário de Chicago, e infinitamente mais farta do
que a de um duque britânico, durante a guerra. No Hotel Argvi, em Moscou, o
jantar “custava cinquenta e cinco dólares americanos por prato”, em 1943.
Podemos ter uma idéia comparativa dos padrões se considerarmos que uma
refeição no Hotel Moskva custava mil e quatrocentos rublos — para os que
refeição no Hotel Moskva custava mil e quatrocentos rublos — para os que
podiam pagar; uma cabeleireira ganhava, na época, duzentos rublos por mês25.
A vida era realmente fácil e suave para os ricos. No Cassino de Moscou, dirigido
pela GPU, OS chefes do Partido, perfumados e luxuosamente vestidos,
deixavam nas mesas de jogo o excedente de sua riqueza. Um visitante escocês
ficou maravilhado com o que viu na plateia do teatro, “a nova aristocracia
proletária, com uniformes imaculados e ternos azuis impecáveis, as mulheres
com peles caras e perfumes soviéticos”. No Hotel Metrópole, além da comida
excelente, podia-se dançar ao som de “um conjunto de jazz que tinha as
proporções de uma orquestra sinfônica”, ou sentar no bar com uma bebida e
ouvir o único coral cigano ainda existente na Rússia. Enquanto os pares se
moviam ao ritmo da música, ouviam-se vez por outra risadas divertidas quando
algum bêbado caía no lago ornamental cheio de peixes, no centro do salão 26.
Podiam confiar nesses empregados para manter os padrões desse tipo de vida.
Em 1936, numa festa organizada pelo NKVD,
Nem todos os divertimentos da nova classe eram tão refinados. Bernard Shaw
afirmou que a liderança estava comprometida com “votos de pobreza e
afirmou que a liderança estava comprometida com “votos de pobreza e
castidade” 30. Sua existência de pobreza já foi descrita, e a castidade precisaria
ter uma definição muito elástica para se aplicar à liderança soviética. Alguns
excessos, aqui e ali, de modo nenhum perturbavam Stalin, cujos sucessivos
comissários de segurança do Estado mantinham extensos arquivos sobre essas
atividades, como Heydrich fazia, na mesma época, na Alemanha. O próprio
Iagoda, chefe da polícia política da GPU, organizava orgias em sua casa de
Moscou, enquanto seu sucessor, Béria, era especialista em drogar meninas — em
geral estudantes — para violentá-las. Como disse Khrushchev, ele era “um
homem horrível, uma fera, para quem nada era sagrado”. Rudjutak, membro do
Politburo, tinha gostos semelhantes, e “em 1932 embriagou a filha do segundo-
secretário do Comitê de Moscou, de apenas treze anos, e violentou-a”.
Kuibichev, amigo de Stalin, raptou a mulher de um companheiro do Partido,
quando estava embriagada, e desapareceu com ela durante três dias. O marechal
Blundenim, cujas tolices custaram inúmeras vidas de russos em 1941, assassinou
a própria mulher com um tiro nas costas e foi perdoado por Stalin, uma semana
depois. O velho herói da guerra civil tinha várias amantes e violentou diversas
secretárias. Esse tipo de alta moralidade era comum no Partido, como os
escândalos de Smolensk, em 1929, de Irkutsk, Artemovsk, Sotchi e outros
esporadicamente revelavam. Todos os partidos políticos e todas as burocracias
têm sua roupa suja, mas o Partido Comunista Soviético aparentemente tinha um
número maior do que o normal. Nenhuma organização do nosso tempo teve
poder tão absoluto, e nenhuma foi tão completamente corrupta. O NKVD
especialmente atraía homens destituídos de qualquer moralidade ou honra31.
Roy Medvedev sugere que “o teste do poder” era extremamente árduo, “numa
época em que o Partido tinha adquirido poder quase ilimitado”37. Muitos
deviam pensar se seria prudente aplicar esse teste quando os resultados eram tão
previsíveis. Características semelhantes apareciam na Alemanha depois da
revolução parda, na mesma época. O nacional-socialismo era tão idealista quanto
o marxismo soviético, mas também nele os camaradas do partido consideravam-
se com direito a alguma recompensa por seus serviços. Fábricas e firmas
comerciais estavam repletas de nazistas não-qualificados, que exigiam e
recebiam posições confortáveis. Muitos deles eram tão incompetentes quanto
seus equivalentes comunistas, mas era difícil não empregar um homem que
colocava um revólver diante do empregador. A perseguição e a expulsão dos
judeus deixaram muitas vagas que podiam ser convenientemente preenchidas
por membros leais ao partido. Como Lenin, Hitler queixava-se em altos brados
do estilo de vida superopulenta de muitos dos seus partidários e, como Lenin,
sentia-se na obrigação de observá-los enquanto eles enriqueciam e engordavam:
“De outro modo, como poderia satisfazer os desejos dos meus companheiros de
partido como recompensa aos seus anos de luta desumana?” Hitler e Stalin
percebiam que essa riqueza e o privilégio recém-adquiridos eram o elo de
ligação entre o partido e seu líder, criando laços de gratidão e de culpa 38. Nesse
paradigma, os judeus alemães correspondiam, de modo geral, às classes
paradigma, os judeus alemães correspondiam, de modo geral, às classes
proprietárias da Rússia; dogma e autopromoção misturavam-se inseparavelmente
na motivação dos que os suplantavam. Um judeu alemão despediu um operário
de sua fábrica por estar fazendo propaganda comunista. Veio a revolução, os
comunistas aliaram-se aos nazistas e triunfantemente invadiram a fábrica, à
frente de um bando das SA com camisas pardas 39.
A riqueza dos novos-ricos não consistia apenas em belas casas, móveis, carros,
empregados, entradas para o teatro, lojas especiais, casas de descanso no mar
Negro40; nem tampouco na saciedade do poder sem restrições — o poder de se
apropriar de um orfanato para uso pessoal, ou “desapropriar” um cão de um
indivíduo que não pertencia ao Partido, nem mesmo no gozo de imunidade de
acusação de crime civil41. Havia também o prazer intangível mas delicioso de
pertencer a uma elite elegante, com sua hierarquia e patentes cuidadosamente
medidas. Tinham uniformes, títulos e o retrato de Stalin no escritório ou em
casa, cujo tamanho indicava o status do indivíduo42. Além disso, essa nova
burguesia transformava-se gradualmente em uma classe hereditária43. A filha de
Stalin, Svetlana, cursou um colégio para crianças privilegiadas, onde as
precauções para manter uma posição especial eram tão rigorosas que tornavam
sua vida miserável. Seu irmão Vassili estudava na Escola Número 19, na rua da
embaixada britânica em Moscou. Somente os filhos dos privilegiados podiam
estudar nessa Eton soviética. Um deles recordou mais tarde:
Quando Trotsky viajava para o exílio em Alma-Ata, em 1928, dizem que seu
enorme trem de bagagens chamava a atenção dos camponeses que o viam passar,
e eles diziam em altas vozes que um grande senhor devia estar viajando naquele
trem. A história pode ser invenção stalinista, mas não há dúvida de que o
contraste sem precedentes entre riqueza e pobreza na União Soviética começou a
contraste sem precedentes entre riqueza e pobreza na União Soviética começou a
se imprimir na mente dos milhões de oprimidos. Não se tratava apenas do fato
de os novos-ricos proclamarem sua posição e inacessibilidade sem nenhum dos
paliativos normais do privilégio: refinamento cultural, modos agradáveis, a
aceitação costumeira da autoridade hereditária. Havia, sobretudo, a hipocrisia
imperdoável de um sistema que parecia existir apenas para manter esse grupo
dourado, pregando ao mesmo tempo em altos brados, diariamente, doutrinas
extremas de igualdade social.
“A dona-de-casa comum não podia comprar tudo o que queria. Todo alimento
era racionado, e só pequenas quantidades estavam à venda. Por exemplo, não era
possível comprar mais do que cem gramas de manteiga — às vezes conseguiam-
se duzentos gramas se se ficasse na fila o tempo suficiente. Mas os altos
funcionários, que possuíam um número ilimitado de cartões de racionamento,
podiam encomendar qualquer quantidade de alimentos. As filas se formavam de
manhã bem cedo e havia sempre um policial para manter a ordem. Quando um
freguês saía da loja ou do armazém com seus pequenos embrulhos, outro
entrava. Porém, nossa cozinheira não precisava entrar na fila. Assim que ela
mostrava ao policial o cartão de racionamento, ele gritava: ‘Abram caminho,
abram caminho!’ Quando ela saía do armazém carregada de embrulhos, as
mulheres na fila reclamavam em altas vozes, não só pelo fato de ter-lhes passado
à frente, mas também por ter comprado tanta coisa. Aleksandra” (a cozinheira
dos Kuusinen) “não compreendia muito bem o poder mágico dos nossos cartões
de racionamento; pensava que pagávamos toda aquela comida, pois no fim do
mês o carnê tinha sempre o carimbo ‘pago’ impresso na última folha, mas na
verdade jamais pagamos um copeque. Muitos funcionários de graduação mais
baixa do Komintern tinham também carnes de racionamento que lhes conferiam
o direito de comprar em quantidade ilimitada nos armazéns do Estado, mas
pagavam em dinheiro; apenas nós, os ‘aristocratas’, tínhamos tudo pago pela
‘sociedade sem classes’ ”48.
Tudo na vida de Stalin sugere que ele acreditava nisso. Sua aparência ríspida e
impassível escondia — talvez tivesse esse objetivo — um temperamento
altamente nervoso. A evidência sugere que não era um homem corajoso. Como
revolucionário, fora o superapostolo da violência contra a autoridade, mas não se
sabe de nenhuma ocasião em que estivesse presente quando essa violência
ocorria ou podia ocorrer 1. Seu braço esquerdo mais curto evitou que fosse
convocado em 19162, mas não tomou parte na breve luta que colocou os
bolchevistas no poder em 1917. Na Segunda Guerra Mundial, jamais visitou a
linha de frente, embora tivesse sido distribuído um heroico retrato dele, de pé
sobre uma casamata, aparentemente à vista do inimigo. Porém, duas vezes
afirmou a Churchill (que servira na frente ocidental na Primeira Guerra) que
tinha frequentemente visitado as frentes de batalha 3. Em junho de 1942, Stalin
recebeu a visita do novo embaixador britânico, Sir Archibald Clark Kerre. Kerre
escreveu no seu relatório para o Ministério do Exterior:
escreveu no seu relatório para o Ministério do Exterior:
A possibilidade de que uma bomba alemã atingisse seu escritório era quase
inexistente, embora assustadora. Porém, o que realmente o assombrava era a
perspectiva do assassinato. Para não dar nenhuma oportunidade à morte, que ele
sentia estar constantemente de emboscada, transformou-se em um prisioneiro
dentro do próprio sistema. Otto Kuusinen, que esteve o mais próximo possível
de Stalin, observa que, “quanto mais cruel e mais frio ele se tornava, mais
crescia seu insano pavor pela perda da própria vida”. Durante anos, fez a própria
barba, aterrorizado com a idéia de ver um barbeiro aproximar-se dele com uma
navalha na mão5.
Certo dia, o supervisor notou que um selo tinha sido previamente aberto. Não
descobriram nenhum veneno, mas Olga foi imediatamente mandada para a
prisão Lubianka. Seria de supor que, depois de todas essas precauções, Stalin
pudesse sentar-se tranquilamente para jantar. Mas não: convidava os
companheiros a experimentar cada prato antes dele. “Olhe, aí estão os miúdos,
Nikita. Já os provou?” Os olhos orientais e estreitos observavam o alimento
descendo pela garganta do outro. O sistema parecia realmente de segurança a
toda prova, pois os garçons eram guarda-costas6.
Os visitantes podiam ser revistados quinze vezes a caminho do seu destino, por
Os visitantes podiam ser revistados quinze vezes a caminho do seu destino, por
homens uniformizados do NKVD, colocados nos corredores. Quando Stalin ia
dos seus aposentos para o palácio do Kremlin, os guardas retiravam todos os
funcionários do caminho, independentemente de posição ou patente. A procissão
seguia lentamente; quando ia ao cinema do Kremlin, era acompanhado por
destacamentos de guardas e até mesmo carros blindados. Nas reuniões do
Soviete Supremo ou em congressos do Partido, entre cada grupo de doze
deputados sentava-se um oficial do NKVD, armado 8.
“Todos os anos, antes de suas férias em Sotchi, no Cáucaso, Stalin dava ordens
para que preparassem seu trem em Moscou e o barco a vapor, na cidade de
Górki, ao mesmo tempo. Às vezes ia de trem de Moscou diretamente para
Sotchi, outras, viajava de barco pelo Volga até Stalingrado, e daí ia em trem
especial até Sotchi. Ninguém sabia com antecedência a data da partida. O trem e
o barco ficavam de prontidão durante vários dias. Somente algumas horas antes
de sair ele revelava o itinerário. Na frente e atrás do trem de aço, iam dois outros
com destacamentos de guardas. O trem de Stalin era adaptado para duas semanas
de cerco. Em caso de alarme, as janelas eram fechadas automaticamente com
chapas blindadas” 12.
Porque “vivia constantemente com um medo quase insano de ser morto”, Stalin
jamais ousava visitar fábricas, galerias de arte ou outros locais públicos onde
pudesse encontrar pessoas vingativas. Tinha pavor de multidões e ficou furioso
quando, certa ocasião, um grupo de georgianos leais avançou entusiasticamente
para o seu trem na estação de Kutaise 13. Jamais andou livremente entre seu
povo, como faziam os ditadores e os chefes democratas do resto da Europa. Mas,
em certas ocasiões, não tinha outra alternativa senão se arriscar nas ruas
desprotegidas. Estas incluíam as poucas paradas na Praça Vermelha, funerais de
membros do governo e visitas regulares ao teatro. Se as precauções para proteger
seus movimentos cotidianos parecem extraordinárias, as que eram postas em
seus movimentos cotidianos parecem extraordinárias, as que eram postas em
prática nessas ocasiões mais “públicas” eram completamente fantásticas.
“como nas ocasiões anteriores, eles” (os soldados) “passaram marchando pelo
mausoléu de Lenin entre filas de homens uniformizados do NKVD, que
separavam as colunas em marcha e as isolavam dos importantes espectadores.
Oficiais do NKVD também patrulhavam as casas próximas da Praça Vermelha e
fechavam hermeticamente sótãos e águas-furtadas que levavam aos telhados”.
Todas as janelas que davam para a Praça Vermelha eram ocupadas por agentes
do NKVD, mas a maior ameaça era o próprio Exército Vermelho. Um ex-oficial
da guarda do palácio lembra-se das precauções tomadas por ele e seus
companheiros:
“Em todas essas paradas ou demonstrações na Praça Vermelha, fosse qual fosse
sua natureza, de cada três pessoas presentes nos palanques uma era um membro
da segurança do Estado, fortemente armado. Para evitar o contato muito próximo
entre os leais soldados do exército soviético, ou os ‘demonstradores espontâneos
da massa de trabalhadores agradecidos’, e os líderes soviéticos, no palanque
oficial, todas as filas da direita de cada coluna eram compostas de funcionários
ou agentes da segurança do Estado, ou pelo menos de leais membros do Partido
designados pelos comitês locais e com autorização especial para esse serviço. Às
vezes, dez colunas de dezoito homens marchavam na Praça Vermelha. A
extremidade direita de cada uma pertencia ao KGB.
Uma das principais responsabilidades dos guardas, nas paradas militares,
consistia em verificar se nenhum soldado levava munição real. A penalidade
pela omissão, nesses casos, era de vinte e cinco anos de trabalhos forçados para
o soldado, seus oficiais e todos os homens da segurança do Estado envolvidos na
emissão de autorização. Como medida complementar de proteção contra
demonstrações excessivas de entusiasmo popular, a segurança de Estado
colocava um batalhão de seus homens no subsolo do mausoléu de Lenin, com
armas automáticas, além de membros da milícia e do KGB nas imediações,
geralmente em subsolos da Avenida Vetochni. Metralhadoras eram colocadas
nos muros do Kremlin, e guardas armados vigiavam dos sótãos do Kremlin e
telhados dos prédios mais próximos: a Catedral de São Basílio, o magazine
GUM e o Museu de História.”
Nos funerais dos poucos líderes soviéticos que morriam de causas naturais ou
que tinham conservado as boas graças, medidas semelhantes de segurança eram
postas em prática 16. No teatro, que apreciava muito, Stalin invariavelmente
sentava-se no escuro, no fundo do antigo camarote imperial. Seus companheiros
sentavam-se na frente, enquanto os homens do NKVD, com e sem uniforme,
ocupavam os camarotes vizinhos. No dia 14 de outubro de 1944, houve um
espetáculo de gala no Teatro Bolshoi em honra a Winston Churchill, que visitava
a Rússia. No primeiro intervalo, Stalin convidou Churchill a se adiantar, a fim de
receber os aplausos da audiência. Houve uma verdadeira tempestade de palmas e
saudações, que aumentava em volume cada vez que o primeiro-ministro fazia o
sinal da vitória. Stalin tinha recuado assim que as luzes se acenderam, mas
depois de quinze minutos, vendo que Churchill continuava de pé, ileso, à vista
dos espectadores, o generalíssimo voltou para receber sua parte nos aplausos. Os
cortesões e policiais ficaram roucos de tanto gritar de entusiasmo. O recuo e
reaparecimento de Stalin agradou ao bondoso general Ismay, um homem
corajoso como um leão, que ficou “atônito ao ver um homem de aço como.
Stalin praticar um ato de evidente cortesia”17.
Tudo indica que Stalin era fisicamente covarde. “Não sabia nadar e tinha medo
da água”, nota Roy Medvedev. Também tinha medo de voar e viajou de avião
apenas uma vez, para a conferência de Teerã, em 1943. Não havia linha férrea
entre Baku e Teerã, portanto não teve escolha, mas sua preocupação era evidente
entre Baku e Teerã, portanto não teve escolha, mas sua preocupação era evidente
para todos 18. (Molotov, seu companheiro de pavor durante o bombardeio aéreo
do Kremlin, também tinha medo de voar 19.) Stalin temia até seus guardas da
MVD, tendo certa vez resmungado para um almirante soviético “com ódio
amargo, ‘eles ficam ali parados, vigiando. . . mas são capazes de nos fuzilar
pelas costas a qualquer momento’ ” 20.
“No que se refere à cabala que cercava Stalin, sua procura desesperada por vinho
e canção (mulheres eram estritamente eliminadas desses prazeres) era uma
expressão da natureza conspiratória da liderança soviética. Sempre que eu era
convidado para a mesa de Stalin e que me sentia envolvido pelo tétrico jogo de
brindes dos bajuladores, nas maratonas de ingestão de álcool e na politicagem,
com o déspota quase anão, de rosto marcado pela varíola, sentado ali como juiz
das vidas dos seus súditos naquele imenso império, não podia evitar a sensação
de que aqueles homens não tinham nenhuma confiança na legitimidade do seu
governo e precisavam procurar uma certeza, fosse onde fosse: na bebida, nos
resultados 99,9 por cento favoráveis das eleições, na vasta força armada, em
tratados internacionais que reconheciam sua legitimidade... até mesmo na
adulação de visitantes estrangeiros simpatizantes, como eu. . . O que a visita a
Stalin me ensinou foi que aqueles homens consideravam-se designados para
governar acima e contra a vontade do povo. Agiam como um grupo de
conspiradores, planejando suprimir, esmagar, encurralar ou enganar os
habitantes de uma terra conquistada, que não era a sua. O poder para Stalin era
uma conspiração, sendo ele o chefe e ao mesmo tempo o homem contra quem se
conspirava. Esse era um aspecto da guerra civil que os comunistas sempre
pregaram, e continuarão a pregar contra a sociedade” 25.
“Um povo diferente podia ter dito ao governo: não correspondeu às nossas
expectativas; vá embora, criaremos um novo governo que fará a paz com a
Alemanha, permitindo à Rússia uma vida tranquila. Mas o povo russo não fez
isso, porque acreditou na política do seu governo e fez sacrifícios para garantir a
derrota da Alemanha. E essa confiança do povo russo no governo soviético
demonstrou ser a força decisiva que permitiu a vitória histórica sobre os
inimigos da humanidade — sobre o fascismo”.
A Tcheka, como era chamada a princípio a polícia política, foi criada seis
semanas depois da tomada do poder pelos bolchevistas. Em 7 de dezembro de
1917, surgiu a Comissão Extraordinária de Toda a Rússia para a Luta contra a
Contrarrevolução e Sabotagem. Em vista da constante popularidade da União
Soviética em certos setores dos movimentos sindicalistas e socialistas britânico,
francês e italiano, é interessante notar que o objetivo da comissão era
“concentrar sua atenção na imprensa, na sabotagem, etc., dos revolucionários
socialistas da direita, sabotadores e grevistas”. Lenin incentivara a criação do
comitê especialmente para o controle de uma greve extensa dos funcionários
públicos, faxineiros de escritórios, motoristas e outras pessoas empregadas em
repartições do governo. Sob a liderança de um fanático obcecado, Félix
Dzerjinski, a Tcheka logo adquiriu uma reputação de selvageria que suplantou
qualquer coisa semelhante na Europa, desde a Revolução Francesa.
qualquer coisa semelhante na Europa, desde a Revolução Francesa.
Espancamentos, chicotadas e queimaduras proliferavam. O massacre de reféns e
outras pessoas completamente inocentes como “representantes de classe” era
outra de suas especialidades30.
Até o fim da sua carreira, Lenin advogou o uso máximo do terror contra todos os
que eram, ou podiam ser, contrários às suas idéias. Em 1922, quando estava
sendo formulado um novo código criminal, ele insistiu em que “o parágrafo
sobre terror fosse o mais extenso possível, uma vez que apenas a consciência
revolucionária de justiça podia determinar as condições de sua aplicação”.
Stalin continuou a política de Lenin até sua conclusão lógica. Nenhum aspecto
da vida soviética escapava ao controle policial, inclusive o próprio Partido. Uma
vez que o poder soviético precisava ser total para sobreviver, era inevitável que a
oligarquia do Partido, arbitrariamente constituída, fosse dispensada.
Stalin mantinha nas mãos ligações com o NKVD em cada oblast e raion, de
modo que um simples tenente podia afirmar corretamente que “havia apenas
dois homens entre mim e Stalin”; esses dois homens eram o chefe do NKVD de
Kharkov e o comissário da segurança do Estado, Iejov (isso em 1938) 33. Para a
mente desconfiada de Stalin, o elo perigoso devia ser o comissário da segurança
do Estado. Uma precaução elementar foi a criação de uma guarda palaciana
independente do comissariado. Era comandada por um companheiro dos dias da
guerra civil, o “general” Nikolai Vlassik. Vlassik era um idiota rude, valentão e
semianalfabeto, que combinava uma devoção canina por Stalin com o controle
absoluto de toda a sua segurança pessoal 34.
A identificação de Stalin com a polícia política estendia-se até sua família. Seu
cunhado, Stanislav Redens, um antigo tchekista do tempo de Lenin, era um
interrogador brutal e foi chefe do NKVD em Moscou até desaparecer, em 1938
38. Não podia haver ligação direta entre o Chefe e os membros de uma força
policial cujo efetivo era composto de centenas de milhares de homens. Todas as
fábricas e outras instituições tinham uma unidade de supervisão 39, e o único
fábricas e outras instituições tinham uma unidade de supervisão 39, e o único
meio eficaz de recrutar homens que de modo nenhum podiam se identificar com
as classes trabalhadoras, que deviam controlar, consistia em mantê-los sob a
constante ameaça de serem também banidos, e em recrutar tipos incapazes de
reações humanas normais.
A massa das outras patentes da guarda tinha de ser recrutada por métodos mais
primitivos. Depois do expurgo de 1938, no qual muitos veteranos tchekistas
foram eliminados, os quadros foram preenchidos por “jovens comunistas de
fábricas e escolas, com poucos meses de treinamento para as novas tarefas”.
Mesmo antes disso, a extrema juventude já era uma característica desses
homens, e muitos dos primeiros executores de Lenin eram adolescentes; mais
tarde, jovens estudantes de métodos de tortura assistiam aos interrogatórios para
adquirir experiência prática. Durante a guerra, a maioria dos assassinos de massa
do NKVD era de verdadeiras crianças, e dizia-se que “os filhos dos tchekistas
tinham-lhes conseguido esse emprego para impedir que fossem para a frente de
batalha” 42. Gangsteres típicos proliferavam no NKVD43, e sem dúvida havia
algo de muito tenebroso num sistema capaz de condenar um surdo-mudo pelo
crime de propaganda hostil e mandar um menino de dez anos para a prisão de
crime de propaganda hostil e mandar um menino de dez anos para a prisão de
Lefortovo, como espião americano — especialmente considerando que “o
NKVD nunca erra!” Contudo, muitas vezes a tensão tornava-se excessiva. São
conhecidos casos de homens do NKVD que receberam altas patentes a despeito
de provas claras de insanidade 44.
“Não posso lhe dizer nada! Não compreendo por que todos esses preâmbulos.
“Não posso lhe dizer nada! Não compreendo por que todos esses preâmbulos.
Acabe logo com isso. Uma bala na nuca e. . .’ ‘Oh, não, sr. Krasnov’, disse
Merkulov rindo zombeteiramente e recostando-se na poltrona. ‘As coisas não
acontecem com tanta simplicidade. O que está pensando? Uma bala na nuca, e
pronto? Tolice, meritíssimo. . . Ah! Se fosse apenas a morte!’ ”53
... Se não tivesse visto com meus olhos, não acreditaria que fosse possível
espancar uma moça daquele modo... Uma delas, depois de ser violentada, foi
levada para a cela e colocada ao lado da mãe. A própria mãe me contou. Uma
menina foi espancada até a morte. Em Brigidki, outra moça morreu devido aos
espancamentos”.
Quatro homens entraram na sala; dois deles seguraram Gorodietski com tanta
força que ele não podia fazer um movimento e os outros dois jogaram a mulher
no chão. Enquanto Gorodietski gritava em vão, eles a espancavam dando-lhe
no chão. Enquanto Gorodietski gritava em vão, eles a espancavam dando-lhe
pontapés, incansavelmente. Afinal ela deu um grito terrível e os homens
recuaram, pois alguma coisa estava acontecendo. A criança nasceu morta no
chão frio da sala de interrogatórios, enquanto a fúria impotente de Gorodietski, o
ódio e a dor quase o sufocavam. A mulher foi levada para o hospital sem
sentidos.
Ameaças desse tipo, de espancamento das mulheres e dos filhos, muitas vezes
contribuíram para as espantosas “confissões” nos julgamentos encenados para a
delícia dos simpatizantes ocidentais. Um homem, cuja “confissão” foi
considerada insatisfatória, soube mais tarde que seu filho fora seguro pelos pés e
sua cabeça despedaçada contra uma parede56.
Como escreveu Winston Churchill, mais tarde, horrorizado com o plano de ceder
às reivindicações da Alemanha: “É na verdade espantoso que essa declaração
pública e não-secreta de uma das maiores potências interessadas não tenha sido
incluída nas negociações do sr. Chamberlain, nem na solução da crise proposta
pela França”3.
Esse sentimento era geral, mesmo entre aqueles que, como Churchill,
desaprovavam tudo o que a Rússia soviética representava. O motivo era claro e
simples, pois, como disse outro observador, “cada hora que vivemos demonstra
claramente que é a Alemanha, e não a Rússia, a ameaça real à existência física
de todos os países e de cada cidadão, individualmente” 4.
Para estes últimos, a Rússia soviética e o Exército Vermelho eram as cartas que
deviam ser jogadas. Conscientes da falta de preparo militar da Grã-Bretanha e da
França, bem como do pacifismo que predominava entre esses povos, eles viam a
compensação nos grandes exércitos dos soviéticos, governados por uma
liderança implacável e determinada. Com cerca de dois milhões de homens
armados, sem dúvida estavam em condições de auxiliar os tchecos ameaçados
com uma eficiência que teria feito o próprio megalomaníaco Führer pensar duas
vezes.
É verdade que a boa fé dos soviéticos nunca foi digna de confiança, mas seus
representantes haviam demonstrado rara coerência na recomendação de deter a
ameaça nazista, desde a subida de Hitler ao poder, em 1933 5. Quando a
Wehrmacht tomou a Áustria, em março de 1938, foi Litvinov quem recomendou
a urgência de “uma atitude firme e decisiva de todos os governos, especialmente
das grandes potências”, e o embaixador Maiski, em Londres, advertiu os povos,
com grande visão, de que o Anschluss era “uma ameaça à Checoslováquia”6. A
oposição soviética não se limitou a palavras: foram assinados tratados de não-
agressão com as nações vizinhas, do Báltico aos Cárpatos; em 1934, a URSS
entrou para a Liga das Nações, liderando a proposta de uma força de segurança
coletiva para deter a Alemanha; várias declarações foram transmitidas a Londres,
Paris e Praga, garantindo a disposição dos soviéticos de tomar parte em qualquer
medida, inclusive intervenção militar, para impedir a divisão ou a conquista da
Checoslováquia pelos alemães 7.
Naquela ocasião, naturalmente, o tenebroso problema foi resolvido em Munique
pelos quatro líderes ocidentais, em 29 de setembro de 1938. A União Soviética,
aliada oficial da vítima e do seu principal aliado, não tomou parte nas
deliberações. Na verdade, foi ignorada, como se não existisse. Era quase
unânime a opinião dos interessados de que a União Soviética, a despeito da boa
vontade declarada e do seu poderio aparente, não devia ser aceita nem como
aliada, nem como consultora.
Porém, sua política seria a mesma do seu governo? A Rússia soviética estaria
realmente disposta a lutar ombro a ombro contra os franceses e britânicos, se
ambos resolvessem decretar o nec plus ultra às ambições de Hitler nos Sudetos?
Para muitos Estados do Ocidente, frustrados pela aparente falência das próprias
lideranças, a Rússia era o único Estado que parecia oferecer uma liderança que
não existia mais em parte alguma. Essa opinião persiste, e ainda hoje muitos
pensam que o desprezo com que foram tratados os oferecimentos de Litvinov
não só contribuiu para destruir a única esperança de deter Hitler, como também
provocou — até frutificou — o subsequente pacto nazista-soviético 14.
Até que, num futuro remoto, os arquivos dos soviéticos venham a ser abertos aos
historiadores, jamais saberemos a história completa. Mas temos provas
suficientes para garantir que, fossem quais fossem as tendências pessoais de
Litvinov, a política do governo soviético nada tinha de altruísta ou benigna. Na
Liga das Nações, onde conduziu suas mais enérgicas campanhas para impedir
que a Alemanha ultrapassasse as próprias fronteiras, o comissário do Exterior
sem dúvida parecia dispor de considerável visão na condução dos debates e das
negociações. “Litvinov raramente pedia tempo para consultar seu governo”,
escreveu um observador; “parecia sempre preparado para decidir no momento
em que devia provocar uma discussão, propor um compromisso ou se resignar à
aceitação da opinião da maioria. Era evidente que tinha tanto poder de decisão
quanto o que é geralmente atribuído a qualquer ministro do Exterior dos países
democráticos.” 15
Esse fato, por si só, era motivo para suspeitas: quando, na história, desde o
tratado de Brest-Litovsk, um representante soviético tivera tanta liberdade de
movimentos? Tudo indica que Litvinov tinha realmente permissão para expor
com a ênfase que quisesse seus pontos de vista tão vigorosamente sinceros. Mas
seus projetos podiam ser repudiados, modificados ou transformados em
inesperadas vantagens para os soviéticos, de acordo com as exigências do
momento. O curso de ação de Litvinov não era o dos seus patrões: ele era apenas
uma carta em jogo, e de modo nenhum a mais forte.
O fato é que o Exército Vermelho, o maior do mundo na época, era, como todos
sabiam, desproporcionalmente ineficaz como força militar. Em 1933, um
conferencista do Komintern informou às forças soviéticas de que não haveria
guerra nesse ano, e a reação geral foi um audível suspiro de alívio19; três anos
mais tarde observadores militares do Ocidente consideraram inexpressivas as
manobras do Exército Vermelho (foi comentado na época que “os esforços
determinados de Stalin para apaziguar Hitler até o último momento do ataque
alemão, em 1941, sugerem que a avaliação que o líder fazia do seu próprio
exército não era melhor do que a dos observadores do Ocidente)20. Não é pois
de admirar que, em 1936, o marechal Tukhachevsky, deputado do povo na
Comissão de Defesa, tenha sido obrigado a confessar que “no momento, a União
Soviética não está em condições de prestar ajuda militar à Checoslováquia em
caso de ataque alemão”21. E depois, no auge da crise europeia, entre junho de
1937 e outubro de 1938, houve vários expurgos tenebrosos no corpo de oficiais
do Exército Vermelho, privando-o de setenta por cento dos seus líderes mais
experientes 22. Não se questionava apenas a eficiência do exército como força
de combate, mas também a escolha do momento para o expurgo demonstrava
que os líderes soviéticos estavam por demais preocupados com a supressão de
uma revolta real ou imaginária no seu próprio país, para considerar qualquer
aventura que envolvesse o Exército Vermelho numa guerra a centenas de
quilômetros de suas fronteiras. Segundo o professor Lukacs, “em 1938, Stalin
não estava mais preparado para a guerra do que Chamberlain ou Daladier”23.
É difícil fazer alguma afirmativa sobre esse assunto sem acesso aos arquivos
soviéticos. Só eles podem revelar as verdadeiras intenções do governo soviético.
Mas é bastante esclarecedor considerar as medidas que poderiam ter sido
estudadas se a União Soviética tivesse honrado sua parte no tratado com a
Checoslováquia.
Nenhum dos dois governos via com muito entusiasmo a possibilidade de abrir
suas fronteiras para um país com o qual mantinham relações tradicionalmente
hostis, e além disso os exércitos soviéticos eram conhecidos por sua selvageria
bárbara. Havia a forte suspeita de que o Exército Vermelho, uma vez de posse de
território estrangeiro, jamais o abandonaria. Ficou provado o fundamento dessa
suspeita no ano seguinte, quando os soviéticos se utilizaram do pacto com a
Alemanha para dominar extensas áreas dos dois países — conquistas repetidas
quando nova oportunidade se apresentou, em 1945.
“Nossa bandeira continua a ser, como antes, uma bandeira de paz. Mas se houver
guerra, não poderemos ficar de braços cruzados — precisamos nos movimentar,
mas esse movimento só será efetuado no fim. E agiremos de modo a colocar o
peso decisivo na balança, o peso que poderá ser preponderante” 27.
Até o verão de 1933, a política externa da União Soviética, aos olhos do mundo,
foi satisfatoriamente simples. A Rússia soviética, o único Estado genuinamente
socialista do mundo, sobrevivia isolada e combatida, num mundo hostil. A
despeito das pequenas rivalidades, seus vizinhos burgueses uniam-se com a
intenção de derrubar o jovem Estado socialista, que sempre representou para eles
uma ameaça e uma censura. França, Japão, Estados Unidos e Grã-Bretanha
lideravam essa ameaçadora união capitalista; a Grã-Bretanha era o líder
principal, com seu vasto império que abrangia o mundo todo e era sem dúvida o
mais perigoso. Entre 1925 e 1930, a URSS temia cada vez mais um ataque
imperialista29. Com a ascensão do nazismo ao poder, entretanto, a situação
mudou radicalmente. Havia agora dois centros de poder imperialista, liderados
pela Grã-Bretanha e pela Alemanha. Ambos eram hostis à União Soviética, mas
também hostis entre si. Os soviéticos precisavam considerar seu curso de ação
nesse mundo agora mais complexo.
Acima de tudo, odiavam a Polônia, uma nova nação, criada pelas potências de
Versalhes com territórios que tinham pertencido à Alemanha e à Rússia. Era
necessário andar com cuidado, pois a Polônia era ferozmente independente e
muito ligada à França. Ainda assim, “nunca fomos protetores da Polônia e nunca
seremos”, observou Stalin enfaticamente para um visitante alemão; e um
importante general do Exército Vermelho, depois de ter bebido uns copos a
mais, definiu claramente as intenções soviéticas em 1930: “Não estaremos
preparados, em dois anos, para fazer as correções na fronteira e matar os
poloneses? Afinal, precisamos repartir a Polônia outra vez” 30.
O mais importante fator para as máquinas de guerra dos dois países era o
intercâmbio de facilidades de treinamento. Os alemães, com sua incomparável
tradição da arte militar, forneciam oficiais para treinamento das tropas, muitos
dos quais foram, mais tarde, altas patentes na Wehrmacht de Hitler. Os
soviéticos, por sua vez, forneciam local para treinamento e para experiência de
novo material. Foram criados três centros de treinamento secreto na Rússia: uma
escola de equipes de tanques, perto de Kazan, uma escola de uso de gás
venenoso, perto de Saratov, e uma escola de aviação militar em Lipetsk. Uma
vez que o Tratado de Versalhes proibia qualquer tipo de força aérea alemã, esta
última escola foi especialmente importante no desenvolvimento da Luftwaffe.
Construíram um imenso e moderno aeródromo em Lipetsk sob a orientação dos
alemães, no qual pilotos da Alemanha faziam anualmente cursos de treinamento,
com aviões Junkers e Fokkers. Ocasionalmente, chegavam ao Ocidente rumores
sobre esse intercâmbio, mas sua natureza e extensão permaneceram secretas,
num país que se tornara tão remoto quanto “o lado não-iluminado da Lua”.
Mas essa política franca e direta seria suficiente? A cada mês que passava, o
novo Reich revelava sinais cada vez mais alarmantes do vigor impiedoso com
que pretendia atingir seus objetivos. Ao mesmo tempo, a fraqueza (ou seria
duplicidade?) das políticas francesa e inglesa tornava-se cada vez mais evidente.
Tudo parecia indicar que, cedo ou tarde, a Alemanha chegaria a um ponto no
qual seus interesses entrariam em conflito violento com os da Entente. Mas os
movimentos de Hitler eram invariavelmente súbitos e secretos. Havia outra
perspectiva inevitável, segundo a qual a Alemanha deixaria de enfrentar o risco
iminente do desafio às democracias, voltando-se para o Oriente. É verdade que a
Rússia e a Alemanha não tinham fronteiras comuns, mas no primeiro ano do seu
governo Hitler assinou um pacto de não-agressão com os poloneses e, a partir
desse momento, enfatizava publicamente o respeito e a amizade entre Alemanha
e Polônia35. Não era difícil visualizar os poloneses, igualmente anticomunistas,
aliando-se à Alemanha numa cruzada contra o bolchevismo. A política soviética,
sempre cautelosa e empírica, precisava tomar medidas para se proteger dessa
eventualidade. No Kremlin, processava-se uma reviravolta política, tão nova e
secreta que o infeliz Litvinov, a princípio, teve de ser mantido à margem dela.
VI. O pacto de sangue
Quando cessou o pipocar das armas leves nos quartéis de Lichterfelde e o sangue
foi lavado das paredes da prisão Stadelheim, em Munique, mais de mil pessoas
jaziam mortas. O povo alemão ficou em silêncio, apavorado, enquanto a
imprensa estrangeira conjeturava sobre a natureza da “conspiração”. Hitler e
Göring respiraram aliviados. O golpe fora dado sem provocar repercussões.
Agora, o Führer era realmente o dono da sua casa.
Antes de janeiro de 1933, data em que Hitler se tornou chanceler, Stalin o via
através dos óculos da ortodoxia marxista. O Partido Comunista Alemão, com
milhões de membros, estava destinado a soltar os grilhões impostos pelos
capitalistas e introduzir a era interminável da liberdade proletária. O próprio
Lenin profetizara que “a crise na Alemanha ... terminará infalivelmente com a
transferência do poder político para as mãos do proletariado”, embora “a vitória
final seja impossível sem a longa e obstinada guerra de vida e morte” 2.
Mas como a Revolução Parda se encaixava nesse esquema? Lenin não deixara
nenhuma obiter dieta sobre o nazismo, que estava ainda na infância por ocasião
da sua morte. Era uma oportunidade para Stalin fazer sua própria análise, sempre
fiel aos cânones leninistas. “O fascismo alemão é a ponta de lança do
capitalismo mundial”, explicavam os oradores comunistas por toda a União
Soviética e por toda a Alemanha.
A lógica dialética, de acordo com esse esquema, não viu vantagem em se unir
ocasionalmente aos esforços nazistas para derrubar o inimigo real, a
socialdemocracia (ou “social-fascismo”, como os comunistas confusamente o
chamavam). Em todo caso, havia muita coisa que aproximava os proponentes
das duas grandes revoluções dos tempos modernos. As conexões psicológicas,
filosóficas e históricas entre comunismo e nacional-socialismo eram tão
próximas que seus partidários estavam, em sua maioria, a par desse fato,
consciente ou inconscientemente. Os marxistas eram mais cautelosos e não
faziam admissões comprometedoras, mas a política soviética, que insistia em se
referir incorretamente aos nacional-socialistas como “fascistas alemães”, sem
dúvida traía um conhecimento consciente do perigoso paralelo que poderia ser
feito entre as duas filosofias.
Essa similaridade tem sido muitas vezes obscurecida na mente do povo pela
contínua sugestão de que o nazismo pertencia à “ala direita”, um termo de
significado impreciso. Se, como parece ser aceito de modo geral, o termo
implica “reacionário” e “conservador”, na política e na moral, então a
ambiguidade é realmente mais profunda. Pois, como faz notar um estudioso,
“ninguém produziu jamais uma instituição que Hitler e seu círculo tivessem
desejado conservar . . . não queriam conservar coisa alguma, portanto não devem
ser rotulados de conservadores” 4. Na verdade, é evidente que o nacional-
socialismo, “embora os aspectos reacionários de sua ideologia e sua oposição
aos resultados políticos da revolução [de 1918, na Alemanha] disfarcem
convenientemente esse fato, foi um movimento revolucionário” 5. A distinção a
ser feita não é entre “esquerda” e “direita”, mas entre totalitarismo e outros
conceitos de governo. Todas as doutrinas totalitárias modernas visam a um ideal:
a “esquerda”, um milênio socialista, e a “direita”, o estímulo das massas para a
participação ativa e um objetivo nacional6.
Desde os primeiros dias do Partido Nazista, muitos dos seus membros tinham
grande respeito, geralmente recíproco, por aquilo que consideravam como a
sinceridade, o vigor e objetivos semelhantes aos seus, no comunismo7. O
filósofo marxista Ernst Nukisch pregava um programa que consistia na
combinação das idéias do marxismo com as idéias do nazismo, e um movimento
“nacional-bolchevista” que procuraria realizar essa união foi aprovado com
simpatia por Goebbels e Karl Radek, o ideólogo soviético 8.
A atitude de Hitler para com o bolchevismo era mais ambivalente, mas muito
franca sobre o que o nacional-socialismo devia ao marxismo. Desde o começo
da luta do partido, sempre demonstrou uma acentuada preferência por ex-
marxistas para membros do seu partido. Com confiança compreensível,
declarava, em 1934:
Essa simpatia dos nazistas por seus rivais ou equivalentes era recíproca,
deliberadamente ou não. A não ser pelo anti-semitismo, o Partido Comunista
Alemão (KPD) pregava uma política muito parecida com a do nazismo. Seu
programa era ditado pelo Kremlin, através do Komintern. “Até o fim, o Partido
Comunista fez soar os tambores do nacionalismo e lançou as massas contra
Versalhes. Não esperavam poder suplantar os nazistas, mas serviram como
valiosos orientadores e ajudaram a preparar os trabalhadores para a política
antiocidentalista de Hitler.” 19
Stalin aprovara havia muito a cooperação militar secreta com a Alemanha, e seu
cunhado fora representante militar soviético em Berlim até a ruptura, em 1933
24. A despeito da total supressão do Partido Comunista Alemão, determinada
por Hitler, depois do incêndio do Reichstag, estadistas soviéticos, como
Krestinski, Molotov e Litvinov, esforçaram-se ao máximo para garantir aos
diplomatas alemães a boa vontade soviética 25. Esse namoro continuou durante
os cinco primeiros anos do governo de Hitler, e, em julho de 1935, o confidente
e conterrâneo georgiano de Stalin, David Kandelake, apresentou publicamente,
em Berlim, a primeira sugestão para que os dois países se aproximassem mais, a
nível político. Entretanto, nessa época, Hitler desconfiava muito das intenções
dos soviéticos; a proposta foi recebida com frieza 26, e a política alemã
continuou no seu curso anticomunista, que culminou com o Pacto Anticomunista
com a Itália e o Japão, em 1936. Essas decisões ameaçadoras só serviram para
aumentar o respeito e o temor de Stalin por uma Alemanha que ressurgia e se
armava com muita rapidez. Violentas explosões de propaganda antinazista
alternavam-se com sondagens discretas a respeito de um acordo ou
reaproximação27.
Tanto uma como outra dessas políticas, aparentemente conflitantes, podia ser
executada com o mesmo vigor. Afinal, o sucesso em ambos os casos
apresentaria grandes vantagens, pois quanto mais energicamente Litvinov
cortejasse os britânicos e os franceses, mais Hitler daria valor à amizade
soviética 29. Por trás dessa política cautelosa e astuta, havia na mente de Stalin
considerações diversas: estava decidido a manter a União Soviética fora de
qualquer guerra, até saber com certeza quem seria vitorioso; ambicionava
aproveitar-se de qualquer oportunidade oferecida pela crise, especialmente a
destruição ou absorção dos seus vizinhos mais próximos, que eram
violentamente antissoviéticos; admirava Hitler como estadista; respeitava os
recursos do Império Britânico, que abrangia o mundo todo; e, acima de tudo,
acatava o fato de que a estrutura da sociedade bolchevista era extremamente
frágil, e provavelmente não sobreviveria a um choque mais violento.
Em 1939, Litvinov fez a oferta oficial de uma tríplice aliança de garantia mútua
com a Grã-Bretanha e a França, uma oferta que, segundo Churchill, Eden e
outros críticos da política de Chamberlain, na época e mais tarde, devia ter sido
aceita30. Mas essa e outras ofertas foram recebidas friamente pelo governo
britânico, e relegadas ao esquecimento. Chamberlain continuava a desconfiar
profundamente dos soviéticos, e os Estados da Europa oriental, que deviam ser
“salvos” de um possível abraço alemão, pelos braços do urso que estava atrás
deles, não se mostraram dispostos a aceitar. (Os tchecos lamentavam Munique
como uma traição ao seu país. Os finlandeses, por seu lado, viam o acordo como
seu resgate das garras dos soviéticos, que sem dúvida tirariam vantagem de
qualquer conflito entre a Alemanha e a Entente.)31
Winston Churchill e outros sugeriram que foi perdida assim uma ótima
oportunidade de deter Hitler.
“Não pode haver. . . nenhuma dúvida, mesmo examinando o fato à luz do futuro,
de que a Grã-Bretanha e a França deviam ter aceito a oferta russa... A aliança da
Grã-Bretanha, França e Rússia teria alarmado profundamente o coração da
Alemanha em 1939, e ninguém pode dizer o que poderia ou não ter sido
evitado.” 32
‘‘Toda a política internacional de Stalin nos últimos seis anos foi uma série de
manobras destinadas a colocá-lo numa posição favorável para um acordo com
Hitler. Quando entrou para a Liga das Nações, quando propôs o sistema de
segurança coletiva, quando procurou a mão da França, namorou a Polônia,
cortejou a Grã-Bretanha, fez sua intervenção na Espanha, estava calculando cada
movimento com os olhos fitos em Berlim. Sua esperança era colocar-se numa
posição tal que Hitler achasse vantajoso aceitar suas propostas” 3S.
A resposta de Hitler não se fez esperar. Cinco dias depois, tropas alemãs
invadiram a Boêmia, arrasando todo vestígio da Checoslováquia que havia
sobrevivido ao Tratado de Munique. A Grã-Bretanha e a França não fizeram
nenhum movimento, e, no dia l.° de abril, Hitler confirmou amargamente a
justificativa da política cautelosa de Stalin: “Quem quer que se declare pronto a
tirar do fogo as castanhas das grandes potências [isto é, Grã-Bretanha e França],
deve estar consciente de que queimará os dedos no processo” 37.
Dois déspotas, ambos com uma vida inteira de traições e violências, não podiam
deixar de ter suspeitas mútuas. Mas o interesse comum e o respeito mútuo
triunfaram, e, no dia 15 de agosto, Ribbentrop levou a Molotov propostas
destinadas a estabelecer a amizade soviética-alemã e esclarecer certas “questões
territoriais” na Europa oriental. Molotov foi mais do que simpático, e no dia 23,
August Ribbentrop voou para Moscou para assinar o acordo42.
A visita foi um triunfo delirante do começo ao fim. Bandeiras com a suástica
(cedidas por um estúdio cinematográfico que rodava na ocasião um filme
antinazista, que foi posto de lado às pressas) tremulavam ao lado da foice e do
martelo, enquanto uma banda tonitruava os acordes da Horst Wessel Lied e da
Internacional: Ribbentrop estava nas nuvens, pois tudo corria satisfatoriamente.
“As coisas estão esplêndidas para os russos!”, repetia ele, notando também com
imensa alegria que os líderes soviéticos eram “homens de traços fortes”, com os
quais ele se sentia tão à vontade quanto com os seus camaradas do Partido
Nazista, na Alemanha 43. Naquela noite, foi assinado no Kremlin o Tratado de
Não-Agressão.
Mais tarde, Stalin providenciou uma festinha íntima para seus novos amigos. As
conversas versavam sobre os mais variados assuntos, embora um tema contínuo
fossem as numerosas piadas sobre os “estúpidos” ingleses, a quem o tratado que
estavam comemorando iria confundir extremamente. Foram feitos também
brindes efusivos, enquanto o champanha corria fartamente. “Sei o quanto a
nação alemã ama seu Führer”, declarou Stalin; “portanto, tenho prazer em beber
à sua saúde.” Molotov bebeu à saúde de Stalin, confirmando com isso que na
verdade fora o discurso dele sobre as “castanhas”, em 10 de março, que dera
início a essa revolução diplomática. Finalmente, quando os distintos visitantes
partiram, Stalin declarou que “o governo soviético encarava o novo pacto com
muita seriedade; ele podia dar sua palavra de honra de que a União Soviética
jamais trairia seu parceiro” 44.
No dia seguinte, Ribbentrop e sua comitiva voltaram para Berlim a fim de relatar
os acontecimentos a Hitler. Este ficou tão satisfeito quanto Stalin, pelo qual tinha
uma admiração sempre crescente. “Agora, tenho o mundo no bolso!”, exclamou
ao saber do convite de Ribbentrop45. Era o triunfo de uma política que
germinava há muito tempo na mente do Führer.
A despeito dessa fácil “vitória”, Stalin estava mais preocupado do que antes. A
contribuição do Exército Vermelho foi tão corajosa e valiosa quanto o ataque de
chacal de Mussolini sobre a França, vencida no ano seguinte. Aparentemente,
Hitler teria atacado a Polônia independentemente da atitude da Rússia55, e a
natureza devastadora da máquina de guerra alemã deve ter aterrorizado o
coração temeroso de Stalin. Consumia-o a suspeita de que os alemães
avançariam além da linha de demarcação 56. Nos primeiros dias do ataque
alemão, os soviéticos tinham na verdade incentivado a resistência polonesa,
talvez num vão esforço de “sangrar” a Wehrmacht e dar tempo ao seu imenso
mas primitivo exército para se mobilizar. Em 10 de setembro, Molotov declarou
que três milhões de russos já haviam sido mobilizados; como seria absurdo supor
que um número tão vasto de homens fosse necessário para dizimar os poloneses,
a única suposição é de que foi uma tentativa patética de impressionar os alemães
com o poder militar soviético 57.
Além disso, essa demora talvez escondesse também um temor real do exército
polonês, cuja eficiência Stalin já experimentara na desastrosa campanha de 1920.
Durante o acordo final, a diplomacia soviética, depois da derrota da Polônia,
traía um temor profundamente enraizado em relação à Polônia, tanto como nação
combatente, que jamais se conformara com o domínio estrangeiro, quanto como
aliada dos britânicos, cujo poder impressionante e atitudes decisivas alternavam-
se com os da Alemanha nos pesadelos de Stalin. Hitler não pretendia provocar o
desaparecimento da Polônia, mas pretendia criar um Estado sem autonomia, com
sede em Varsóvia.
Isso quanto aos poloneses; no que se referia aos seus aliados, os signatários
apelavam para que a França e a Grã-Bretanha fizessem a paz, agora que Hitler e
Stalin tinham “criado uma base segura para a paz duradoura na Europa
oriental...” Do contrário, continuava o tratado, “os governos da Alemanha e da
URSS efetuariam consultas mútuas para adotar as medidas necessárias”.
“Tirem tudo o que puderem dos poloneses no leste; sob pretexto de defesa,
guarneçam suas fortalezas com soldados alemães, deixem que eles criem sua
própria confusão, atirem-nos ao fogo, devorem sua terra. . . e, se os russos
concordarem, façam aliança com eles, e forcem os poloneses a ceder” 59.
Contudo, isso não era nada, comparado ao que acontecia atrás das linhas de
combate. Hitler dera instruções a Himmler para que “liquidasse tudo o que
parecesse pertencer à classe alta da Polônia; se outra forma de sociedade tomasse
seu lugar, seria colocada sob vigilância e liquidada no devido tempo”. Em 8 de
setembro, os Einsatzgruppen das SS orgulhavam-se de estar matando duzentos
poloneses por dia, e no fim de setembro, centenas de milhares de poloneses
haviam sido assassinados. Seus nomes constavam de listas especiais preparadas
por Heydrich, e eram especialmente de nobres, padres e judeus. Em 27 de
setembro, quando Ribbentrop estava a caminho da Rússia para conferenciar com
Stalin, Heydrich declarou que “apenas um máximo de três por cento das classes
superiores polonesas existem ainda nos territórios ocupados”. Foi assim que
Hitler garantiu “a certeza de que a intelligentsia polonesa não poderá formar uma
nova classe”, e deu ordens para que “judeus, poloneses e todo o lixo semelhante
fosse eliminado dos territórios novos e antigos do Reich”61.
“O trem levou seis semanas para chegar a Moscou, e durante esse tempo os
prisioneiros receberam pão e água a intervalos irregulares. Dos trinta e seis
passageiros daquele vagão, somente três chegaram vivos ao seu destino. O trem
parava por longos períodos em diversos desvios, e uma vez por semana a porta
do vagão era aberta apenas o suficiente para deixar cair os mortos.
Como explicou um polonês que fez essa viagem macabra: “Volumes e volumes
podiam ser escritos só com as histórias desses trens. E ainda assim, a história não
teria sido contada porque não há palavras que reproduzam as emoções
experimentadas e as sensações sofridas. Podem-se dar fatos ao leitor. Mas ele
não pode compartilhar da experiência”. Esses sofrimentos não eram provocados
apenas por omissão ou falta de recursos. Em nenhuma ocasião os guardas do
NKVD demonstraram qualquer sentimento que não fosse a crueldade gratuita e
o desprezo63.
“um grande número de judeus foi levado para a sinagoga e obrigado a se arrastar
entre os bancos, cantando, sob os golpes de chicotes dos homens das SS.
Fizeram-nos tirar as calças para serem chicoteados nas nádegas. Um judeu que
sujou a calça, de medo, foi obrigado a passar as próprias fezes nos rostos dos
outros”.
Sendo assim, não admira que muitos deles vissem nos invasores soviéticos seus
salvadores ou, pelo menos, o mal menor. Logo depois da invasão, um grande
número de judeus fugiu para a zona soviética 14. Durante as confusas primeiras
semanas de guerra, muitos conseguiram cruzar a linha, mas o tratamento que
receberam nas mãos do NKVD os levou a um ódio quase universal pela URSS e
por tudo o que ela representava. Como observou o embaixador polonês em
Moscou, em 1942, “sua atitude em relação à Rússia é hoje muito mais severa e
inflexível do que dos poloneses não-judeus, que não tinham nenhuma ilusão
quanto ao tratamento que lhes dariam os russos”7S. Um deles era o dr. Julius
Margolin, um famoso sionista. Antes da guerra, ele compartilhava da opinião de
grande parte da Europa ocidental e dos Estados Unidos:
“É verdade que o sistema deles não serve para nós, na Europa. Mas parece que é
um regime que satisfaz aos desejos do povo russo. É assunto deles, pediram isso.
Para nós, europeus, tem o valor de uma grande experiência social, e podemos
aprender muito com a União Soviética”.
“A Rússia está, na verdade, dividida em duas partes, a Rússia livre [e] a outra
Rússia — a segunda Rússia, atrás da cerca de arame farpado —, que consiste em
milhares, infinitos milhares de campos, locais de trabalho compulsório, onde
estão internados milhões de pessoas. . . Desde sua instalação, os campos
soviéticos devoraram maior número de indivíduos, fizeram maior número de
vítimas do que quaisquer outros campos juntos — os de Hitler e outros —, e essa
máquina mortal continua funcionando a todo o vapor. . . Uma geração inteira de
sionistas morreu nas prisões, nos campos e no exílio” 76.
“Alguns, porém, não desistiram e ficaram nas margens do rio, à espera de uma
oportunidade para atravessar. Às vezes, à noite, um deles separava-se daquela
massa humana informe, corria por alguns metros na planície coberta de neve e
então, apanhado pelo facho de um holofote soviético, caía no solo gelado
atingido pelas balas de metralhadora. Então, lamentos e choros espasmódicos
juntavam-se às mãos que se erguiam como débeis chamas ameaçando o céu, e
depois tudo voltava ao silêncio mortal da espera.” 78
“Stalin respondeu que pensou que a Inglaterra estivesse blefando; sabia que
tínhamos apenas duas divisões capazes de mobilização imediata, e pensou que
devíamos saber do estado precário do exército francês e da pouca confiança que
ele inspirava. Não imaginou que pudéssemos entrar na guerra nessa situação de
fraqueza. Por outro lado, disse que sabia que a Alemanha pretendia, no fim,
atacar a Rússia. Não estava preparado para enfrentar esse ataque; atacando a
Polônia ao lado da Alemanha, conseguiria maior território, e território
significava tempo; assim, teria mais tempo para se preparar.” 1
Essa explicação parece convincente à luz dos fatos subsequentes, o bastante para
ser aceita como verdade dentro da União Soviética e por vários historiadores de
todo o mundo 2. Porém, não há nela uma palavra verdadeira. Stalin não avaliou
a fraqueza militar dos Aliados até o fim da primavera de 1940; parece certo que
não acreditava no ataque alemão contra a Rússia em futuro próximo; e,
considerando-se que território equivalia a tempo, Stalin ganhou menos de três
semanas com suas concessões, o tempo que a Wehrmacht precisou para
atravessar a Polônia ocupada pelos soviéticos, em junho e julho de 1941. Mais
tarde, Khrushchev declarou que o pacto fora uma necessidade desagradável3; é
duvidoso que fosse uma necessidade, e certamente não foi desagradável.
Para Stalin e para a maioria dos funcionários do Partido, o pacto não foi uma
necessidade premente, mas uma aliança muito compatível. Aparentemente,
durante um certo tempo, só o medo (dos Aliados, não dos alemães) evitou que a
União Soviética se aliasse à Alemanha como co-beligerante.
Para Hitler, por outro lado, o pacto representava, sem dúvida alguma, tempo para
respirar, e a guerra com a União Soviética continuou a ser seu objetivo último.
Tinha uma admiração pessoal por Stalin e respeitava o bolchevismo como uma
ideologia que podia ser comparada, em muitos pontos, à força dinâmica do
nacional-socialismo. Mas desde que expôs sua intenção declarada de incrustar o
Lebensraum alemão nos grandes espaços do leste, nas páginas do Mein Kampf,
seus propósitos raramente se desviaram dessa meta. Era apenas uma questão de
oportunidade 4. Entretanto, a certeza de que as duas grandes potências
ideológicas se enfrentariam nos campos de batalha jamais afetou as relações
cotidianas entre a liderança nazista e a soviética, e a maioria dos seus membros
acreditava que a aliança era permanente. Como Ribbentrop explicou para os
italianos, em 10 de março de 1940, a União Soviética tornara-se uma parceira
respeitável: era agora nacionalista, tinha dado cabo dos judeus e não interferia
mais nos negócios internos da Alemanha 5.
O pacto continuou a ser muito conveniente para Stalin, e foi com um real
sentimento de ter sido traído que recebeu a notícia inesperada da sua ruptura, em
22 de junho de 1941. O protocolo secreto, escrupulosamente cumprido pela
Alemanha no primeiro ano, concedia à União Soviética uma esfera de influência
que ia muito além do oeste de suas fronteiras na Europa oriental. Essa região
correspondia praticamente à parte da Rússia imperial desmembrada na época da
revolução. Durante vinte anos, a liderança soviética contemplara os territórios
tomados com cobiça e temor. A Finlândia, os Estados bálticos, a Polônia oriental
e a Bessarábia pertenciam à Rússia por direito. A expansão da revolução, por
muito tempo adiada, inevitavelmente teria de começar por esses Estados sem
autonomia. Além disso, à medida que cresciam a suspeita e o temor de Stalin na
década de 30, nesses Estados surgiram segmentos livres violentamente
antissoviéticos, formados por grupos nacionais proeminentes da URSS. Se os
ucranianos ou os bielo-russos sonhavam com uma contrarrevolução, certamente
era por instigação dos seus compatriotas, que viviam em segurança sob o
domínio de Stalin, e que podiam, por sua vez, tentar a intervenção em uma ou
outra das grandes potências.
A lealdade ao pacto com Hitler não era demonstrada apenas na Rússia. Partidos
comunistas do mundo todo eram filiados ao Komintern, cujo quartel-general
ficava na Mokhavaia Ulitsa, 6, em frente ao Kremlin, em Moscou.
Teoricamente, o Komintern era uma instituição independente, que coordenava a
luta dos partidos nacionais para a revolução mundial. No quinto andar da sede
ficava o escritório da OMS (Otdiel Mejdunarodnoi Sviazi, “Seção de Ligação
Internacional”), um organismo interno encarregado de dirigir as táticas do
Partido Comunista. Na verdade, o Komintern não gozava de nenhuma
independência e era simplesmente um ramo da OGPU (mais tarde, o NKVD),
cujos guardas em trajes civis policiavam o prédio, tratando os altos funcionários
da Internacional com desprezo mal disfarçado24.
O Daily Worker britânico adotou uma linha semelhante, até a invasão da Rússia
pela Alemanha26. Em 7 de outubro de 1939, Claud Cockburn saudou com júbilo
a aliança nazista: “Nesta semana excepcional, surgiu subitamente ante os olhos
do mundo a possibilidade de paz. Quero com isso dizer possibilidade prática. E
quero dizer paz genuína”. Cockburn referia-se ao apelo de Hitler feito no
Reichstag no dia anterior. Stalin não havia ainda tentado uma aproximação com
os Aliados. Essas ofensivas de paz eram um dos muitos fatores que tinham como
objetivo minar o moral aliado naquele inverno27.
Mais tarde, Khrushchev recordava-se de que “Stalin disseme certa vez que Hitler
havia pedido um favor através de canais secretos. Hitler queria que Stalin, como
o homem de maior autoridade e prestígio no mundo comunista, convencesse o
Partido Comunista Francês a não liderar a resistência contra a ocupação alemã
na França”. Stalin afirmou que havia declinado energicamente “um acordo tão
degradante. . . Hitler havia descido a novas profundezas de imundícies e
vilania”40. Mas deduz-se claramente dos acontecimentos que Stalin havia
descido alegremente com Hitler a essas profundezas. Thorez estava praticamente
preso em Moscou, e não poderia ter enviado instruções ao Partido Comunista
Francês sem a autorização de Stalin.
De modo geral, a atitude de Stalin para com a Alemanha era a de um aliado ativo
e leal, disposto a qualquer coisa para agradar aos nazistas, exceto entrar na luta.
E quanto a isso, o único fator inibitório era o medo invencível de declarar guerra
a qualquer potência maior do que a Finlândia ou a Letônia. Como observaram
inteligentes diplomatas britânicos, Stalin não temia tanto a derrota militar quanto
a possibilidade de uma consequente revolta interna contra seu regime
selvagem45. Mas ele fez mais do que apaziguar seu formidável aliado, e a
extensão do seu apoio aos alemães sugere que estava trabalhando para a vitória
do nazismo. Naturalmente, um impasse sangrento na Linha Maginot teria sido
muito mais conveniente para ele, mas como esse equilíbrio tão delicado parecia
impossível, compreendeu que sua chance de sobrevivência estava no triunfo do
seu poderoso protetor nazista e não nos Aliados, bois estes eram amigos da
Polônia e da Finlândia, presas que ele não estava disposto a devolver.
Grande parte da atitude apaziguadora de Stalin para com a Alemanha pode ser
atribuída ao medo e ao desejo de agradar. Mas a guerra enérgica de sedição e
propaganda seria supérflua só com esses motivos, e seus aspectos secretos
revelam a direção real da política soviética. Ele superestimava a força militar da
França e da Inglaterra, e, sem confiança no Exército Vermelho, achava que só
podia confiar na Wehrmacht para proteção 46.
O que Stalin ganhou no Oriente com o pacto de 1938 foi o controle sobre
territórios vizinhos, cuja independência, hostilidade ao bolchevismo e afinidade
racial, religiosa e cultural com os povos fronteiriços da União Soviética
provavelmente representavam uma atração permanente para milhões dos súditos
infelizes de Stalin. Sua prioridade é indicada por uma série de expurgos e
deportações, que envolviam centenas de milhares de pessoas classificadas como
suspeitas, em todos os países conquistados. Essas providências eram planejadas
e executadas meticulosamente, e foram repetidas durante todo o período da
cooperação nazi-soviética.
Começou com a Estônia, a menor (população: 1 130 000), que estava mais
afastada de todas as potências em guerra. Em 24 de setembro, os soviéticos
exigiram os direitos de estabelecer base naval, militar e aérea em território
estoniano. O ministro do Exterior, Karl Selter, foi informado de que a
neutralidade da Estônia constituía um perigo para a União Soviética, pois as
autoridades haviam permitido a fuga de um submarino polonês de um porto
estoniano, o qual afundara um navio soviético perto de Leningrado.
“Os soldados russos estavam malvestidos, muitos deles com botas com sola de
madeira. Seus rostos eram pálidos, subnutridos; um terço deles tinha marcas de
varíola — jovens de mais ou menos vinte anos. . . Muitos nunca tinham visto
manteiga, e não sabiam o que era creme de leite. Nossas lojas foram invadidas
por eles. Levavam seus sapatos velhos para provar que precisavam de outro par.
Ficavam maravilhados ao saber que era permitido comer mais de um pedaço de
bolo nas confeitarias. E então, comiam vinte... Os oficiais tiveram permissão de
levar as famílias para a Estônia. As mulheres estavam vestidas com andrajos, à
exceção de alguns casacos de peles. Elas invadiam as lojas para comprar roupas.
No primeiro baile militar em Tallin, as mulheres russas estavam usando
camisolas, que pensaram ser vestidos de noite expostos nas nossas vitrinas!” 52
A Lituânia era a última na lista de Stalin (população: 2 575 363). Como esse país
tinha fronteira com o vitorioso Terceiro Reich, é provável que ele quisesse ir
com maior cuidado, embora Hitler lhe tivesse dado permissão para prosseguir.
Em 2 de outubro, o ministro do Exterior da Lituânia, Urbsis, chegou a Moscou e
foram-lhe apresentadas as exigências feitas aos seus dois predecessores. O
número de homens do exército russo que ficaria sediado na Lituânia era maior
dessa vez: cinquenta mil. A delegação lituana opôs-se tenazmente à presença de
soldados soviéticos, “porque reduziria a Lituânia a um Estado vassalo”. Stalin, a
princípio, ouviu com paciência aparente, mas afinal interrompeu o delegado: "Vi
slichkom mnogo dokazivaete” (“Está falando demais”). As tropas soviéticas
reuniram-se ostensivamente na fronteira e, em 10 de outubro, Molotov informou
a Urbsis que não ia esperar mais. O próprio Stalin acrescentara uma cláusula
sobre a salvaguarda da integridade da Lituânia quando a guerra terminasse, e os
lituanos deviam assiná-la, quisessem ou não 55.
Uma característica comum aos três tratados consistia em uma cláusula que
declarava terminantemente que “a realização deste acordo não deverá afetar de
modo algum a soberania das partes contratantes, especialmente sua organização
de governo, sistemas econômico e social, medidas militares e, em geral, o
princípio de não-intervenção nos negócios internos”. No jantar de 5 de outubro,
em honra à assinatura do tratado com a Letônia, Stalin fez um discurso dando
“sua palavra de honra bolchevista de que a União Soviética cumprirá as
promessas e obrigações especificadas nos acordos recém-concluídos”.
Mas, nessa mesma época, foi dada uma amostra sinistra da natureza de sua
“palavra de honra bolchevista”. Mapas da Lituânia, impressos para o comando
do Exército Vermelho, traziam a data “primeira edição, 1939” (o grifo é meu) e
a legenda “R[epública] S[ocialista] S[oviética] Lituana” 56. E o que isso
significava já estava também decidido. No dia seguinte ao da assinatura do
último dos três tratados, 11 de outubro de 1939, Stalin ofereceu à delegação
lituana um magnífico banquete no Kremlin. Conversou jovialmente com seus
visitantes intimidados, repetindo com insistência a honestidade de suas
intenções. Ocasionalmente, porém, seus pensamentos pareciam fugir para outra
cena que ocorria não muito distante dali.
“Ele era baixo, de ombros muito largos, quase quadrado. Olhos pequenos e
malévolos brilhavam sob a sobrancelha baixa, e os caninos inferiores eram
longos e salientes como os de um gorila. As pernas em arco e as mãos peludas
que chegavam até os joelhos acentuavam essa impressão”.
Quanto aos alemães, observavam esses movimentos com serenidade. Stalin tinha
cumprido sua parte no negócio e tinha direito aos seus desertos. Contudo, havia
uma pequena questão a ser resolvida. Durante séculos, a Curlândia, a região
onde estavam estabelecidos os Estados do Báltico, fora considerada como o
posto mais avançado da cultura teutônica e, na verdade, europeia. Nobres e
cavalheiros alemães haviam construído castelos e instalado fazendeiros alemães
nas suas propriedades. Consequentemente, cada Estado báltico possuía agora
uma minoria próspera de habitantes alemães. Hitler concordava em permitir o
avanço do barbarismo bolchevista na Europa oriental, mas não lhe agradava a
idéia de que alemães sucumbiriam também a essa investida. Um protocolo
confidencial do pacto de 28 de setembro estipulava que cidadãos do Reich e
outras pessoas de ascendência alemã não podiam ser proibidos de emigrar para o
território do Reich. A transferência da população devia ser organizada por
“agentes do governo do Reich em cooperação com as autoridades locais
competentes”. O que vinha a ser Himmler e as SS, de um lado, e do outro o
NKVD (provavelmente chefiado por Serov, que assinara a Ordem n.° 001223 e
que desempenhava papel semelhante na Ucrânia, na época). Em poucas
semanas, milhares de alemães e cidadãos do Báltico de origem germânica foram
transportados através do Báltico para o solo do Reich. Foram instalados em
terras próximas de Dantzig, das quais as SS havia recentemente expulsado os
proprietários poloneses 6S.
Por outro lado, a Finlândia não apresentava problemas. Situada nas planícies
desertas e remotas do norte coberto de neve, estava separada das potências hostis
pela Noruega neutra e pela Suécia. Sua escassa população (3 695 600) não era
maior do que o crescimento anual da população da Rússia soviética 1, e seu
pequeno exército era mal-equipado, devido à preferência do seu governo
socialdemocrata pela segurança social em detrimento da segurança nacional2.
Não havia motivo para supor que os finlandeses não oferecessem as mesmas
facilidades apresentadas pelos lituanos, tendo em vista sua população e recursos.
A Finlândia fizera parte do império russo, e logo faria novamente.
Iartsev explicou, logo de início, que acabava de chegar de Moscou, onde seus
“superiores” haviam expressado sua ansiedade em melhorar as relações
soviético-finlandesas. Continuou dizendo que seu país tinha fortes razões para
crer que a Alemanha planejava a invasão da Rússia, e que seu estado-maior
necessariamente incluiria nesse plano um ataque através da Finlândia. O que
fariam os finlandeses nesse caso? Na opinião dos soviéticos, não era possível
esperar a chegada dos alemães, delicadamente, na fronteira soviético-finlandesa.
O Exército Vermelho entraria na Finlândia, tentando encontrar os alemães o
mais distante possível da fronteira. Naturalmente, não era uma perspectiva
agradável para os finlandeses. Mas, se estivessem preparados para resistir ao
desembarque dos alemães, a União Soviética comprometia-se a fornecer ajuda
militar e econômica à Finlândia e garantia que suas tropas seriam evacuadas
quando a guerra terminasse. O perigo alemão era maior do que os finlandeses
supunham, continuou Iartsev, pois haviam sido elaborados planos segundo os
quais, se a Finlândia se recusasse a cooperar, um golpe fascista, inspirado pelos
alemães, instalaria um governo preparado para tomar essas providências. O
enviado soviético concluiu com instruções bem estranhas: o embaixador
soviético em Helsinki, Derevianski, não devia de modo algum ser informado
dessa conversa, nem o primeiro-secretário Austrin. Uma vez que a inteligência
finlandesa havia identificado Iartsev como o representante do NKVD na
embaixada, Holsti compreendeu que, através dele, estava tratando diretamente
com Stalin.
Mas Holsti não podia encorajar a aceitação dessas propostas. Negou que seu país
estivesse ameaçado pelos alemães e afirmou que seu governo não estava tão
enfraquecido a ponto de temer o triunfo do pequeno Partido Fascista. A
Finlândia continuaria neutra, intimamente ligada aos seus vizinhos escandinavos.
Iartsev ofendeu-se. Seu governo exigia “garantias” de que a Finlândia não
apoiaria a Alemanha, em caso de guerra. “O que quer dizer com garantias?”,
perguntou Holsti, curioso. Mas Iartsev subitamente calou-se. Não podia revelar o
que sabia; sem dúvida, negociações subsequentes divulgariam a natureza das
garantias exigidas.
Mas isso não aconteceu. As negociações continuaram por alguns meses, durante
o verão e o outono de 1938, culminando com um encontro em Moscou, em 7 de
dezembro. Como Iartsev tinha observado que o embaixador Derevianski “fala
muito mas não diz nada”, os delegados finlandeses ficaram surpresos ao saber
que iriam conferenciar, não com o comissário Litvinov, mas com Anastas
Mikoian, comissário do Comércio Exterior. Explicaram friamente que Litvinov
não fora informado da reunião. Os soviéticos queriam alugar certas ilhas
estratégicas no golfo da Finlândia para fortificações defensivas, em caso de
guerra. Ao mesmo tempo, não pretendiam militarizar esses postos até o início
real das hostilidades. Os finlandeses não podiam concordar com essa violação da
soberania nacional, e negociações subsequentes com outros emissários secretos
de Stalin encontraram a mesma resistência. Como a situação internacional
parecia mais grave na primavera de 1939, as discussões foram interrompidas, e o
assunto estava nessa posição insatisfatória quando Ribbentrop e Molotov
dividiram a Europa oriental entre eles, em agosto.
Mas por que conduzir o assunto com tanto segredo, não informando Litvinov,
que só veio a saber das negociações quase um ano depois da primeira visita de
Iartsev a Holsti? Obviamente, os alemães não deviam saber, pois as sondagens
soviéticas poderiam provocar a intervenção que estavam procurando evitar. A
Grã-Bretanha e a França também se oporiam a qualquer interferência na
Escandinávia neutra, e a legitimidade dos apelos de Litvinov pela segurança
coletiva contra a agressão seria questionada. Stalin não temia a oposição de
Litvinov, e sim sua indiscrição. Como Luís XV, Stalin muitas vezes fazia duas
ou mais políticas externas paralelas, sem conhecimento do seu Departamento do
Exterior (Narkomindel). Para o mundo todo, Litvinov pedia abertamente
segurança coletiva contra a expansão nazista. Em particular, Stalin preparava-se
para fazer sondagens para a reaproximação soviético-alemã. No caso de esta
falhar, ele se esforçou, prejudicado pela necessidade de segredo, para convencer
a Finlândia e os Estados do Báltico a aceitarem a “cooperação” militar soviética
quando a guerra começasse. Esta última política foi abandonada quando Stalin
compreendeu que o acordo com Hitler lhe daria de qualquer modo os Estados da
fronteira.
A mais importante revelação que surge dessas intrigas talvez seja a confirmação
de que Litvinov e sua política representavam uma cortina de fumaça que
escondia as verdadeiras intenções de Stalin 4.
A delegação finlandesa, que não sabia o que esperar, foi recebida pelo próprio
Stalin. Depois de uma breve conversa preliminar, Stalin expôs as exigências
soviéticas. A União Soviética exigia a cessão extensiva de bases nas ilhas e nas
costas do golfo da Finlândia, além de outros reajustamentos territoriais
destinados a proteger Leningrado de uma força naval hostil e remover a perigosa
proximidade da fronteira daquela cidade vulnerável. A reunião foi encerrada, e a
delegação finlandesa telegrafou para Helsinki a proposta de Stalin.
Stalin aceitou essa resposta com perfeito bom humor. Deixemos que os
finlandeses vão para casa para obter a autoridade necessária, eles voltarão dentro
de uma semana. “Assinaremos o acordo em 20 de outubro”, exclamou Molotov
jovialmente, “e na noite seguinte, daremos uma festa em sua honra.” A alegria
dos dois sem dúvida era alimentada pela lembrança do documento que o
comissário do povo, Serov, havia redigido durante a festa oferecida dois dias
antes para os lituanos. Sem dúvida, uma duplicata da Ordem n.° 001223 poderia
ser feita para esses finlandeses cheios de autoconfiança! Naturalmente,
precisavam manter as aparências, retardando as negociações por alguns dias —
os próprios lituanos haviam oferecido alguma resistência a princípio. Foram dias
espantosos: em três semanas a diplomacia brilhante de Stalin recuperaria todos
os territórios perdidos pela Rússia na Guerra Civil! O próprio Lenin não poderia
ter conseguido isso, muito menos o vaidoso diletante Trotsky.
Embora essas afirmações fossem um tanto fantasiosas, não se podia negar que a
Finlândia estivesse em posição mais desesperada do que a Polônia estivera, no
começo do mês anterior. A Suécia declarou sua intenção de permanecer como
observadora, se houvesse guerra. A Grã-Bretanha via a possibilidade de um
avanço soviético no Báltico como essencialmente prejudicial à hegemonia da
Alemanha; assim, as considerações da Realpolitik suplantariam sua simpatia
natural por uma pequena democracia em apuros.
Otto Kuusinen era um comunista finlandês de cinquenta e oito anos que pedira
asilo à URSS, depois do colapso da tentativa bolchevista para controlar a
Finlândia, em 1918. Sua obsessão pelos menores detalhes da teoria marxista
atraiu a admiração de Lenin e, subsequentemente, de Stalin. Ele chegou a um
cargo de proeminência no Komintern, a organização controlada pela GPU e
destinada a bolchevizar o mundo, e tornou-se o principal conselheiro de Stalin
em assuntos externos. O ditador tinha feito rápidas visitas, quando jovem, à
Inglaterra e à Polônia, mas continuava espantosamente ignorante do mundo fora
do seu escritório do Kremlin. Kuusinen sabia como se tornar indispensável e
tinha a habilidade de sugerir idéias a Stalin, de modo que o ditador imaginasse
que ele próprio as tivesse concebido.
Como resultado de suas antigas e frustradas ambições, Kuusinen odiava seu país
natal e queria uma oportunidade para reconquistar alguma autoridade na
Finlândia e vingar-se de todos os que o haviam humilhado. Aparentemente, essa
oportunidade tinha chegado. Conversações que se prolongavam noite adentro
tiveram lugar no Kremlin, dirigidas por Stalin, Molotov e Kuusinen. Kuusinen
era chamado carinhosamente por Lenin de “devorador da Finlândia”, depois de
um artigo escrito por ele no qual descrevia a Finlândia como uma partícula de
poeira que devia ser varrida do mapa. Havia muito, ele sonhava governar uma
Finlândia conquistada e expurgada, e era essa a perspectiva que oferecia agora a
Stalin. Seria formado um “governo democrático na Finlândia” com a ajuda das
armas soviéticas, e Kuusinen seria seu chefe. Desse modo, a entrada do Exército
Vermelho através da fronteira não seria uma violação, mas sim um reforço da
soberania finlandesa.
O traço mais dominante de sua natureza era o desejo de vingança contra todos os
que o haviam desprezado, e foi talvez o que fez que Stalin o admirasse, pois
nisso eram muito parecidos. A mulher de Kuusinen observou que, “depois de
pensar muito, acho que a verdadeira chave-mestra da sua personalidade era o
ódio. . . Ele queria voltar para a Finlândia sob as bandeiras do Exército
Vermelho e vingar-se do país que o havia rejeitado” 13.
Stalin encenou uma provocação semelhante por parte dos finlandeses. Na tarde
de 26 de novembro, guardas finlandeses da fronteira ouviram o ruído de fogo de
artilharia perto da cidade de Mainila, no lado soviético. O governo finlandês foi
imediatamente informado por Molotov de que sua artilharia tinha
propositadamente atirado contra Mainila, matando quatro homens e ferindo
nove. Os finlandeses receberam ordens de se retirar para vinte a vinte e cinco
quilômetros da fronteira. Na verdade, não havia artilharia finlandesa a muitos
quilômetros de Mainila, e ficou definitivamente estabelecido que os tiros tinham
partido do lado soviético da fronteira. Não sabemos se Béria havia ou não
fornecido corpos como prova, imitando o espetáculo teatral de Heydrich, em
Gleiwitz, e o incidente parece ter sido apenas um ritual preparatório para a
carnificina 15.
Apesar desse toque quase cômico e da frieza notável com que os finlandeses
enfrentaram o ataque inesperado, não havia dúvida de que a tragédia era
iminente. A Finlândia conhecera o terror vermelho em 1918, e desde esse tempo
tinha recebido um número pequeno, mas constante, de fugitivos, que
atravessavam as florestas cobertas de neve, escapando aos horrores gelados dos
campos do GULAG, no canal Belomorsk ou nas minas de carvão do Vorkuta.
Sabiam que uma vitória soviética não significaria apenas a imposição de um
governo estrangeiro, sua cultura e suas leis, mas também morte, tortura e
escravidão para milhares de pessoas, e a extinção de todos os vestígios de vida
civilizada para os restantes. Na Carélia soviética, junto à fronteira finlandesa,
grande número de indivíduos de língua finlandesa eram deportados para a
Sibéria, todos os anos, desde 1934 21. A Finlândia lutaria, custasse o que
custasse, independentemente dos fatores contrários, com ou sem aliados.
“Orgulho-me do meu povo e do que ele está fazendo hoje”, declarou o idoso
Jean Sibelius em sua casa, fora da cidade bombardeada de Helsinki.
Enquanto isso, um tipo muito diferente de finlandês estava gozando seu breve
momento de triunfo. Enquanto os canhões do Exército Vermelho soavam na
fronteira e a força aérea vermelha bombardeava sua própria embaixada, a Rádio
de Moscou anunciava que havia interceptado uma irradiação de “uma estação
desconhecida em algum lugar da Finlândia”. Era um transmissor, operado dentro
do território liberado pelo proletariado em revolta, não mais de joelhos.
Anunciava que “um governo democrático finlandês” fora estabelecido, tendo
como primeiro-ministro e ministro do Exterior o virtuoso sr. Kuusinen. Essa
respeitável administração, anunciou-se em Moscou, tinha-se estabelecido em
Terijoki, a primeira cidade liberada pelo Exército Vermelho.
Pelo menos, era o que pensavam Stalin e seus conselheiros. Porém, as coisas não
saíram exatamente como tinham previsto. Um complexo sistema de minas
conteve a vanguarda, antes que os Panzers atacassem a Linha Mannerheim. A
propaganda soviética naquela época e até hoje compara essa defesa a uma
réplica maciça da Linha Maginot. Era “inexpugnável”, lembrava Khrushchev22.
Na verdade era, em sua maior parte, uma obstrução improvisada de trincheiras e
armadilhas para tanques, construída quase toda por estudantes em férias. Apenas
sessenta e três posições de defesa no reduto de cento e quarenta e um
quilômetros e meio, das quais dois terços eram velhos demais para serem usados.
Para destruir as ondas contínuas de blindados, o exército finlandês, no começo
da guerra, dispunha apenas de dois canhões antitanques para cada batalhão —
cem ao todo, para cobrir mais de cento e doze quilômetros de frente. A
insistência na melhoria do padrão de vida com prioridade sobre a defesa, antes
da guerra, teve como resultado um exército precariamente equipado. Contra três
mil bombardeiros da força aérea vermelha e aviões de combate, os finlandeses
possuíam cento e sessenta e dois aparelhos antiquados.
A estratégia soviética era simples. Enquanto o ataque maciço era lançado contra
a Linha Mannerheim e seguia o excelente elo de comunicação entre Leningrado
e Helsinki, no sul, o 8.° Exército esmagaria a resistência finlandesa no território
ao norte do lago Ladoga. Mais para o norte, o 9.° Exército avançaria através de
Suomussalmi até Oulu, no golfo de Bótnia, dividindo a Finlândia em duas partes
na sua “linha central”. Finalmente, no extremo norte, no mar de Barents, o 14.°
Exército, com base em Murmansk, tomaria Petsamo, o único porto ártico da
Finlândia e centro das famosas minas de níquel, cortando as comunicações com
a Noruega e com o resto do mundo.
Esse novo tipo de guerra obrigou o 7.° e o 13.° exércitos vermelhos a uma
parada a cerca de trinta e dois quilômetros da fronteira. O general Meretskov,
comandante do Exército Vermelho, resolveu lançar um ataque simulado no seu
flanco direito em Taipale, no lago Ladoga, enquanto a verdadeira ofensiva era
planejada para Vipuri, mais a oeste. Ao mesmo tempo, a força aérea soviética
podia espalhar a devastação livremente, operando de sua base recém-conquistada
em Tallin, na Estônia. Dois enormes navios de guerra, o Revolução de Outubro e
o Marat, saíram sorrateiramente de Kronstadt, acompanhados por uma flotilha de
destroieres.
A esquadra vermelha navegou às tontas no golfo, até que tiros certeiros das
baterias de costa finlandesa a fizeram recuar. Khrushchev conta o feito épico de
um submarino soviético que tentou em vão afundar um navio mercante sueco,
pensando que fosse um vaso de guerra finlandês. Os oficiais da marinha alemã
observaram a ação com mal disfarçada zombaria.
Stalin ficou possesso quando soube desses desastres. Despejou uma torrente de
palavras ofensivas sobre seu velho companheiro, o ridículo Vorochilov,
comissário do povo para a defesa. Provocado ao máximo, Vorochilov respondeu
aos gritos: “A culpa é toda sua! Foi você quem aniquilou a velha guarda do
exército; você mandou matar nossos melhores generais!” A discussão teve lugar
em um dos banquetes de Stalin, tarde da noite; a cena acabou com Vorochilov
derrubando uma enorme travessa de leitão assado 23.
O avanço soviético foi repelido. Ao norte do lago Ladoga, uns poucos batalhões
finlandeses puseram em retirada trinta e seis mil soviéticos, equipados com
trezentas e trinta e cinco peças de artilharia. As baixas soviéticas incluíam quatro
mil mortos, seiscentos prisioneiros, a captura de cinquenta e nove tanques, trinta
e um canhões, trezentas e quarenta e duas metralhadoras e três mil rifles: uma
dádiva para o mal equipado exército finlandês. O avanço soviético em direção ao
mar, em Oalu, foi também desastroso. Depois de uma luta renhida, duas das três
divisões empenhadas na batalha foram praticamente dizimadas.
Com o começo do novo ano, a luta ficou mais feroz. Os russos estavam
desesperadamente cansados e desanimados com uma guerra que parecia inútil e
sem nenhuma vantagem para a Rússia. Seu sofrimento era terrível,
especialmente para os milhares de recrutas das regiões quentes da Ásia central
soviética. Em um dos regimentos típicos, cem homens morreram de frio antes
que o resto recebesse ordem de se retirar. Para restabelecer o moral, grandes
grupos de homens do NKVD bem-armados caminhavam na retaguarda dos
exércitos, prontos para exterminar indivíduos ou unidades que tentassem deixar
o campo de batalha. Em janeiro de 1940, um prisioneiro russo informou a seus
captores que todos os soldados que recuavam eram fuzilados 24. Lutando nessas
condições primitivas e bárbaras, não é de admirar que o Exército Vermelho mais
uma vez confirmasse sua fama de crueldade. Desde o primeiro dia da invasão, os
aviões vermelhos metralhavam constantemente civis em estradas abertas ou em
seus vilarejos, e casas particulares eram escolhidas para os ataques incendiários.
Para o Exército Vermelho, parecia natural queimar prisioneiros com vida ou
arrancar os olhos de um oficial com a ponta da baioneta 2S. Objetos roubados
das casas dos finlandeses eram expostos tentadoramente nas lojas de Moscou 26.
Embora o terror fosse muito do agrado dos soviéticos como meio eficaz de fazer
a guerra, e tenha sido empregado em grande escala na luta contra a Alemanha,
não era suficiente para resolver o tremendo fracasso na Finlândia. Tal como
Vorochilov dissera acusadoramente a Stalin, o expurgo militar de 1937 tinha
deixado o Exército Vermelho praticamente acéfalo. No alto comando, três dos
cinco marechais tinham sido executados, catorze dos quinze comandantes do
exército, todos os oito almirantes, sessenta dos sessenta e sete comandantes de
armas, cento e trinta e seis dos cento e noventa e nove comandantes-de-divisão e
duzentos e vinte e um dos trezentos e noventa e sete comandantes de brigadas;
ao todo, metade do corpo de oficiais, cerca de trinta e cinco mil homens, tinha
sido fuzilada ou aprisionada por ordem de Stalin. Como a guerra contra a
Finlândia desfalcou ainda mais o exército, não havia mais nenhum comandante
formado pela Academia Militar de Frunze 27.
Tudo isso prova que Stalin temia o Exército Vermelho mais do que os alemães
ou outra potência estrangeira; agora, porém, era preciso fazer alguma coisa para
corrigir uma situação que fizera da União Soviética um alvo de zombaria no
mundo todo. Foram tomadas medidas drásticas. Um grande número de generais
incapazes foi fuzilado sumariamente. Uma medida mais construtiva foi a
seguinte:
Cinco dias depois, foi desfechada a ofensiva soviética final. Cento e cinquenta
tanques avançaram na frente de um mar de soldados de infantaria com
compridos sobretudos. Duzentos bombardeiros cruzavam os céus despejando
explosivos sobre fortificações e comunicações da retaguarda. Grandes cortinas
de fumaça escondiam a torrente humana e blindada, que despejava com eficácia
centenas de armas, todas atirando ao mesmo tempo, uma barragem móvel que se
aproximava e se afastava das linhas finlandesas escassamente defendidas. Os
finlandeses tinham pouca artilharia, quase nenhuma cobertura aérea e sua
munição estava no fim. Mas não iam ceder. Seus artilheiros, quase mortos de
exaustão, atiravam até que seus canhões ficassem superaquecidos. Milhares e
milhares de russos caíram, mas, com as fileiras ameaçadoras dos batalhões do
NKVD cobrindo sua retaguarda, não tinham outra escolha senão cair outra vez.
Stalin não tinha tempo a perder. Daladier informara aos céticos finlandeses que
os cinquenta mil homens, franceses e ingleses, estavam afinal a caminho. Os
termos oferecidos aos finlandeses foram relativamente brandos, considerando-se
sua exaustão militar. A URSS adquiriu um cinturão ao norte e oeste do lago
Ladoga, outro perto de Salla, ao norte, uma base naval em Hango, além de fazer
sinistras restrições à soberania finlandesa. Foi especialmente proibida a
associação da Finlândia a um pacto escandinavo de defesa. Essa providência
demonstra a cegueira de Stalin em relação à política externa, pois esse pacto
teria dificultado a intervenção alemã na Noruega e a subsequente continuação da
guerra contra a Finlândia em 1941. Na verdade, toda a trágica aventura
finlandesa, que custou à Rússia mais de duzentas mil vidas (Khrushchev
calculou um milhão)3, tirou a Finlândia do campo aliado, onde tinham
repousado todas as suas simpatias em 1939, transformando-a em uma
involuntária mas vigorosa co-beligerante, ao lado da Alemanha 4.
Apesar disso tudo, não há dúvida de que o heroísmo finlandês pagou dividendos.
O apoio soviético ao “governo” de Kuusinen demonstrou claramente que o
objetivo último de Stalin era a absorção total da Finlândia pelo sistema soviético
8. Na época das negociações de paz, no começo de 1940, Kuusinen já estava no
esquecimento. (Não foi expulso, mas continuou com a vergonhosa existência de
um traidor, com pensão do governo.) Em março, Stalin concordou com a
imposição de termos que, embora severos, permitiam a sobrevivência da
Finlândia como nação. E exatamente para defender essa soberania foi que os
finlandeses tinham lutado9. Sem dúvida, o medo da intervenção aliada levou
Stalin a concluir apressadamente um tratado, muito diverso dos seus objetivos
originais 10, mas a perspectiva de prolongar uma guerra tão dispendiosa em
homens e em material também deve ter pesado na balança. A responsabilidade
última pelos erros militares mais ridículos foi atribuída a Stalin, como as fontes
soviéticas aceitam até hoje 11. Não se pode garantir se ele a aceitaria ou não,
mas sem dúvida devia reconhecer o ônus terrível que a guerra tinha representado
para os recursos e o moral dos soviéticos. Em cem dias de guerra contra um país
com população igual à de Leningrado, o Exército Vermelho tivera baixas
equivalentes a um oitavo das que haviam sofrido os exércitos da Alemanha,
Áustria-Hungria e Turquia combinados, em toda a Primeira Guerra Mundial.
Esses prisioneiros russos foram objeto de grande interesse por parte dos
finlandeses e dos Aliados. Desde a revolução, alguns russos tinham conseguido,
apesar das penalidades draconianas, escapar da União Soviética. Suas histórias
eram coerentes e dignas de crédito, mas podia-se argumentar que eram, de certa
forma, atípicas em relação ao povo russo em geral, pois, aventurando-se aos
perigos da emigração, demonstravam ser obstinados oposicionistas do regime.
Mas agora os finlandeses tinham um grande número de russos de todas as
patentes e classes, tirados de suas casas pela guerra 14 e mantidos em quarentena
temporária, livres de qualquer influência estrangeira. A inteligência britânica,
prevendo a possibilidade de guerra com a União Soviética, não podia perder essa
oportunidade única de avaliar o moral russo.
As patentes mais altas eram membros do Partido e quase todos, leais ao regime.
Mas os soldados rasos
v) Apatia política.
... o valor político dos prisioneiros de guerra pode ser considerado nulo... O valor
militar dos prisioneiros de guerra é inexistente. É quase impossível formar uma
força militar, ou qualquer tipo de formação organizada digna de confiança com
esses homens. Passaram por experiências terríveis nesta guerra, e não querem se
arriscar a uma repetição. Não pretendem, de modo nenhum, enfrentar
voluntariamente esse risco. Qualquer possibilidade de usá-los como força militar
deve ser descartada. Seu maior desejo é que a guerra termine, para voltarem às
escondidas para suas famílias”.
Esse relatório, sem dúvida valioso para as autoridades militares britânicas, tem
um valor muito maior para os historiadores. Com todas as limitações e reservas
que devem ser atribuídas a uma avaliação feita nessas circunstâncias, essa
análise ao acaso provavelmente representa o que mais se aproxima na história
soviética de uma pesquisa de opinião. Existe extenso material que confirma essa
imagem do povo russo em 1940: esmagado, derrotado, privado de qualquer
esperança; soturnamente ressentido, mas resignado a aceitar uma opressão
aparentemente difundida, e cruel demais para ser combatida.
Boris Bajanov fora secretário pessoal de Stalin até 1928, quando, repugnado
com os crimes do novo regime, fugiu para a Pérsia. Depois de muitas aventuras,
acabou na França, em 1940. Incitado e autorizado pelas organizações de exilados
russos, e ajudado pelas autoridades francesas, viajou para a Finlândia para
verificar se era possível organizar uma força militar com os prisioneiros russos.
Em 15 de janeiro, foi recebido pelo marechal Mannerheim no quartel-general
finlandês. Mannerheim mostrou-se agradável, mas cético. Autorizou Bajanov a
visitar um campo com quinhentos prisioneiros, e observou: “Se eles o
atenderem, organize um exército. Mas sou um velho soldado e duvido que esses
homens, que escaparam do inferno e se salvaram praticamente por milagre,
estejam dispostos a voltar por sua própria vontade para o inferno”.
Mais uma vez, o estímulo real para a ação veio de Paris. O primeiro-ministro
Daladier foi obrigado a renunciar, depois do fracasso do seu plano de ajuda aos
finlandeses, e seu sucessor, Paul Reynaud, estava mais disposto a tomar medidas
enérgicas. No dia 25 de março, ele propôs ao gabinete britânico a tese de que a
ação em águas norueguesas e os ataques nas fontes de petróleo da Rússia eram
essenciais para destruir a economia da máquina de guerra alemã, baseada nos
recursos soviéticos. Churchill apoiou calorosamente a proposta, mas
Chamberlain continuou cético e indeciso 21. Em 8 de abril, lorde Halifax
presidiu uma reunião dos embaixadores britânicos na União Soviética, Turquia e
outros países interessados. Ao fim de longa discussão, declarou:
“Aparentemente, todos concordavam em que, de modo geral, seria melhor adiar
por enquanto o projeto de Baku, e reconsiderá-lo no outono ...” Essa decisão
anunciava o fim do interesse britânico no plano, embora, como observou
enfaticamente lorde Hankey, “os preparativos para sua execução deviam
continuar, para que estejamos em posição vantajosa no caso de qualquer
mudança inesperada na situação” 22.
“Os três afirmaram que as condições de trabalho na Rússia eram más. Havia uma
contínua falta de emprego, a população estava subnutrida e a produção era
incrivelmente lenta. Os soldados que tinham visto eram mal equipados e
inexpressivos. O único serviço eficiente era o da OGPU (polícia política). O
engenheiro que trabalhava no distrito de Baku afirmou que não havia defesa real
contra um provável ataque. Não tinham baterias antiaéreas, e as refinarias em
Baku poderiam ser facilmente ocupadas ou destruídas, embora fossem
constituídas por três unidades completamente independentes. Do mesmo modo,
os condutos de petróleo Baku—Batum não poderiam ser defendidos contra um
ataque decisivo. . . A conclusão geral era de que não se podia, por mais que se
quisesse, exagerar a desorganização da Rússia.”
Outra estimativa especializada dos americanos considerava que, “uma vez que
todo o distrito [de Baku] estava simplesmente saturado de petróleo, o incêndio
seria sem precedentes na história, e os danos provavelmente não seriam
reparados em muitos anos”23.
X. Murmúrios na floresta
Stalin tinha razão para ter medo. A destruição de noventa por cento dos recursos
petrolíferos da União Soviética sem dúvida provocaria um tremendo
desequilíbrio, e talvez o caos em todo o país, com resultados incalculáveis. E os
astutos ingleses estavam elaborando outros planos igualmente alarmantes.
Preparando-se para qualquer eventualidade, no caso de conflito armado com a
União Soviética, o Ministério do Exterior e os oficiais do serviço secreto militar
estavam iniciando contatos que apelavam para o John Buchan que existia nos
“homens ágeis e morenos”, cuja versatilidade, coragem e recursos continuavam
a manter o extenso império britânico. Na Primeira Guerra Mundial, T. E.
Lawrence havia lançado tribos do deserto contra os turcos, com resultados
devastadores. E se esse mesmo jogo fosse posto em ação contra as nações
oprimidas do Cáucaso e da Ásia central soviética? Sua resistência ao domínio
bolchevista tinha sido eliminada somente depois de anos de indescritível
selvageria, e era provável que o descontentamento racial, religioso e ideológico
habitasse ainda as mentes das tribos das montanhas e dos desertos.
Todos esses planos e preparativos parecem fantásticos, dado o fato de terem sido
efetuados um pouco antes de a máquina militar alemã começar sua marcha para
o norte, contra a Noruega e a França. Contudo, não devem ser considerados
impraticáveis. Em três anos, os alemães obtiveram sucesso espantoso no
recrutamento de aliados entre esses mesmos povos soviéticos, sob circunstâncias
muito menos favoráveis. “O que podia ter sido”, porém, é de pouco interesse: o
que importa é o efeito que essas ameaças provocaram em Stalin, e o que isso nos
revela sobre sua política.
As intenções soviéticas foram muito bem resumidas por Fitzroy Maclean em l.°
de abril de 1940. Fazendo notar a lamentável eficácia de grande parte da
propaganda soviética (lorde Beaverbrook e seu desenhista Low estavam entre os
que se deixavam iludir com maior facilidade), explicava:
Hitler, porém, não era homem para assistir a esses movimentos de braços
cruzados. As intenções dos Aliados de intervir no norte eram do conhecimento
público desde o começo do ano, e os comandos naval e militar alemães não
haviam deixado o mato crescer sob seus pés. No momento mesmo em que as
minas inglesas caíam no mar no fiorde de Vest, uma esquadra alemã de invasão
estava a caminho. Naquele mesmo dia, quando a noite do norte chegava, o
Almirantado soube que, com espantosa habilidade e coragem, os navios de
guerra do almirante Raeder haviam desembarcado tropas alemãs,
simultaneamente, em pontos que cercavam toda a costa da Noruega, desde a
capital Oslo, no sul, até Narvik, no norte gelado. A Luftwaffe zumbia
ameaçadoramente sobre a capital, a família real norueguesa e o governo haviam
fugido para o interior, e às sete e meia da noite do dia seguinte (9 de abril), o
equivalente nazista do Otto Kuusinen de Stalin, Vidkun Quisling, falava
triunfalmente na rádio nacional. O golpe ao prestígio dos Aliados foi devastador,
e o mundo todo assistiu a ele, petrificado.
A notícia foi dada aos Aliados da pior forma possível. Todos os seus planos
haviam sido antecipados com extrema rapidez e precisão. O primeiro indício do
golpe que se abatia sobre eles foi o destróier Glowworm, afundado no mar do
Norte. Poucas horas depois, Moscou soube dos acontecimentos, embora de
modo muito mais agradável. Na madrugada de 9 de abril, o embaixador alemão
Von Schulenburg pediu uma entrevista com Molotov, e às dez e meia estava em
reunião secreta com o comissário dos Assuntos Estrangeiros. Von Schulenburg
explicou que a Alemanha tinha sido obrigada a intervir na Dinamarca e na
Noruega, porque “tivemos informações perfeitamente dignas de crédito sobre
um iminente avanço de forças militares anglo-francesas contra as costas da
Noruega e da Holanda, e, portanto, tivemos de agir sem demora”. Isso
naturalmente era verdade (um caso raro na diplomacia nazista), bem como o
comentário do embaixador. Ele acentuou o fato de que “o governo do Reich é de
opinião que nossas ações são também do interesse da União Soviética, pois a
execução do plano anglo-francês do qual tomamos conhecimento faria da
Escandinávia um teatro de guerra, e provavelmente levaria ao reinicio da questão
finlandesa”.
“Em minha opinião, só há uma explicação para essa virada completa: nossas
operações na Escandinávia devem ter trazido imenso alívio para o governo
soviético — removendo um enorme fardo de ansiedade, por assim dizer. No que
consistia sua apreensão, não podemos determinar com certeza. Suspeito o
seguinte: o governo soviético está sempre extremamente bem informado. Se os
ingleses e franceses pretendiam ocupar a Noruega e a Suécia, podemos supor
com certeza que o governo soviético sabia desses planos e estava aparentemente
apavorado. O governo soviético via os ingleses e franceses nas praias do mar
Báltico e via reaberta a questão finlandesa, como lorde Halifax havia previsto;
finalmente, temia sobretudo o perigo de se envolver em uma guerra com duas
grandes potências. Aparentemente, nós aliviamos esses temores. Só desse modo
pode ser compreendida a mudança completa na atitude de Herr Molotov. O
longo e notável artigo de hoje do Izvestia sobre nossa campanha na
Escandinávia. . . soa como um grande suspiro de alívio.”
Não há dúvida de que a análise de Von Schulenburg era correta. Com a derrota
da Finlândia, Stalin momentaneamente pensou ter detido a ação dos Aliados,
mas seus planos belicosos de intervenção no sul da Rússia continuavam de pé, e
nos últimos meses estava claro que o tão adiado desembarque na Noruega era
iminente 19. A União Soviética nada podia fazer, além de esperar o ataque.
Agora, a Alemanha entrara em cena, e a Wehrmacht estava travando a batalha
para Stalin. Se alguma vez em sua vida ele teve algum sentimento de gratidão,
foi sem dúvida nesse momento.
Mas esse assomo de alívio devia ser analisado. A ação inesperada da Alemanha
fora espantosamente corajosa. Era também arriscada, dada a supremacia
britânica no mar e sua evidente determinação de isolar e destruir as forças
alemãs na Noruega. Quatro dias depois do desembarque, uma flotilha britânica
tinha afundado ou inutilizado os dez destroieres alemães engarrafados em Narvik
20. Em meados do mês, consideráveis forças anglo-francesas tinham
desembarcado em Narvik, sitiando a guarnição, e a Mauriceforce havia ocupado
Namsos, avançando pela Noruega central e passando por Gudbrandsdalen, a
caminho de Lillehammer. Na realidade, todas essas valentes tentativas seriam
frustradas pelo vigor, o treinamento e o equipamento superiores dos alemães,
mas isso não era evidente para aqueles que viveram os dias terríveis daquele mês
de abril de 1940. No Conselho Supremo de Guerra, no dia 22 de abril, os
franceses pensavam ainda em enviar homens em número suficiente para libertar
toda a Escandinávia; e ainda em 2 de maio, quando a maré estava mudando
rapidamente, Churchill acentuava que “é muito cedo ainda para avaliar a
situação na Noruega, pois apenas a primeira fase da campanha está
concluída”21.
Stalin também forneceu a Hitler ajuda secreta, cujos efeitos só podem ser
vislumbrados quando momentaneamente eles vêm à superfície. Os serviços
secretos nazista e soviético certamente deviam cooperar quando, o que era
frequente, os interesses nacionais coincidiam. Como testemunhou Walter
Krivitski, o dissidente chefe da GRU, “visto que o pacto de Stalin com Hitler é
na realidade uma aliança dos dois exércitos, operando em zonas específicas, não
tenho dúvida de que o intercâmbio de segredos e informações militares. . . é
indispensável tanto para Hitler quanto para Stalin” 26. Parecia até provável,
como observou um funcionário do Ministério do Exterior em 9 de fevereiro, que
“os comunistas e os mosleístas estejam agora trabalhando juntos” 27.
Dez dias depois, quando as tropas britânicas lutavam para abrir caminho na
direção de Lillehammer, dois irmãos chamados Fyrth foram acusados de revelar
segredos navais ao Daily Worker 2S. Enquanto a marinha vermelha seria
certamente beneficiada com a tecnologia britânica, não há dúvida de que os
navios de guerra alemães estavam suplantando na batalha a esquadra inativa de
Stalin.
“Ele disse. . . certa vez, que nações que tinham sido governadas por poderosas
aristocracias, como a Hungria e a Polônia, eram nações fortes. Stalin era grande
admirador de nações e instituições poderosas, mesmo quando se opunham a ele,
e seu medo dos húngaros e dos poloneses era o reconhecimento da resistência
desses povos.”31
Esse último acontecimento estava sem dúvida inscrito nos astros. Quando os
franceses pensaram em enviar auxílio aos finlandeses, no começo do ano, um
dos projetos em estudo consistia no envio de uma força expedicionária polonesa
para Petsamo. Os poloneses dispunham de três destroieres e dois submarinos,
mas essa pequena força poderia ser complementada, juntando-se à Marinha Real.
O plano foi arquivado33, mas unidades do exército polonês foram designadas
para a campanha. Não foram dispersadas quando a Finlândia capitulou, e
permaneceram preparadas para uma nova expedição ao norte. Finalmente,
embarcaram em 21 de abril, em Brest, sob o comando do general Bohusz, com
destino a Narvik (fato significativo, do ponto de vista soviético) e o extremo
norte da Noruega. Tiveram um papel destacado na luta feroz que se travou 34.
Essas operações não podiam ter escapado à atenção de Stalin. Outras, mais
secretas, se fossem conhecidas, teriam parecido ainda mais sinistras. Em 15 de
abril, Fitzroy Maclean foi informado pela embaixada polonesa em Londres de
que seu governo estava financiando a organização separatista do Cáucaso com
base na Turquia, conhecida como Prometheus. A possibilidade de apoiar esse
grupo em operações de subversão e sabotagem, dentro da União Soviética,
estava sendo considerada pelos britânicos, e Maclean sugeriu que fosse feito
contato com o coronel Colin Gubbins, um especialista em luta de guerrilha e
mais tarde chefe do Executivo de Operações Especiais (SOE) 35.
Isso deve ter eliminado o pouco que restava de liderança popular na Polônia,
sobrevivente das deportações maciças que se seguiram à invasão soviética, em
setembro de 1939. Mas em abril, com as tropas aliadas cruzando o mar do Norte
em número sempre crescente, o governo soviético apavorou-se o suficiente para
promover outro expurgo em massa. Mais uma vez, as cidades e vilas da Polônia
ouviram o som abafado dos caminhões rodando sorrateiramente pelas ruas
escuras, os comandos sussurrados e os passos cautelosos e a temida batida na
porta. Os que foram removidos, dessa vez aos milhares, “incluíam famílias de
pessoas já aprisionadas, famílias dos soldados do exército polonês, pessoas do
comércio (a maioria judeus), trabalhadores dos campos confiscados e mais
grupos de poloneses, rutenos brancos e ucranianos, pequenos fazendeiros e
trabalhadores do campo”. Operações nessa escala, que envolviam o
deslocamento de milhares de pessoas sob condições climáticas espantosas,
evidentemente eram cuidadosamente planejadas em uma sede central e refletiam
decisões e diretrizes do próprio Stalin37.
Hoje, naturalmente, sabemos muito bem o que aconteceu àqueles infelizes. Três
anos depois, os alemães que ocuparam a área próxima da vila de Katin e seus
bosques descobriram a pavorosa prova do crime cometido pelos soviéticos.
Katin fica perto de Smolensk, onde o trem para Vitebsk faz uma parada, na
pequena estação de Gniezdovo. Não muito distante, numa clareira da entrada da
floresta, havia um dos campos de execução do NKVD, que marcavam várias
regiões do mapa da Rússia desde a revolução. Como os próprios eficientes
alemães iriam descobrir em breve, o massacre contínuo de milhares de pessoas é
uma tarefa complexa, que exige enorme e eficiente organização de homens e
recursos. É necessário o transporte, centenas de homens treinados em execuções
sempre a postos, e um método para evacuar a pilha sempre crescente dos mortos.
E tudo isso tinha de ser feito secretamente! Contudo, não era tarefa além da
capacidade de Lenin e dos seus herdeiros.
No dia seguinte um grupo maior, trezentos e dois ao todo, chegou ao local e foi
dizimado do mesmo modo. Durante mais de quatro semanas, chegavam
prisioneiros quase diariamente. Ocasionalmente, no breve instante em que as
vítimas olhavam para o horror sangrento lá embaixo, um homem gritava.
Imediatamente, lançavam um casaco sobre sua cabeça e atiravam através da
fazenda. Outros, mais bravos ou mais desesperados, tentavam se libertar. Os
carrascos eram treinados e experientes: um guarda golpeava o homem com o
rifle, esfacelando seu queixo com a coronha. Outros, que continuavam gritando,
eram obrigados a receber serragem na boca. Gradualmente, a escavação se
enchia, com centenas e depois milhares de corpos. Os guardas tinham de descer
e arrastar os mortos para distribuí-los melhor. A pilha crescia e crescia, até
alcançar a altura de doze corpos. O local estava banhado em sangue, e a massa
retorcida começava a coagular, enquanto os assassinos pisavam os corpos
empilhados. Às vezes, um corpo estremecia: imediatamente, um guarda descia
para a imensa cova e enfiava a baioneta no peito do homem. Outras vezes, eram
empurrados para a cova ainda vivos, e fuzilados da forma habitual, de modo que
a bala, atravessando a cabeça de um, atingia o corpo do camarada que estava
embaixo.
Tudo foi feito com rapidez e eficiência. A organização contava com vinte e dois
anos de experiência (o tempo de existência do primeiro país marxista do
mundo). Quando chegou o último comboio, em 11 de maio, mais de quatro mil
corpos empilhavam-se retorcidos, em camadas de doze ou quinze, as mais
profundas começando já a se deteriorar sob o sangue que continuava a cair da
claridade da abertura distante. Afinal, sua missão cumprida, o destacamento do
NKVD começou a jogar terra sobre os mortos, formando uma grossa camada, e
plantou fileiras de mudas de pinho sobre a elevação. Por sorte, estavam na época
do plantio. Então, para terminar, os guardas voltaram satisfeitos para seu clube.
Quarenta anos são passados e muitos deles sem dúvida conseguiram altas
patentes e deram baixa honrosamente, passando a viver tranquilos em Moscou
ou Leningrado. A União Soviética continua viva.
Finalmente, mais de seis mil oficiais poloneses de Ostachkov foram levados para
a morte. Mais uma vez, temos dúvidas quanto ao local de execução, mas
segundo uma versão digna de crédito (baseada no depoimento de duas
testemunhas russas) eles foram levados para o norte, para as margens do mar
Branco, e embarcados em duas barcaças rebocadas por um navio a vapor, para
longe de terra. Depois de algum tempo, as barcaças foram afundadas
deliberadamente, e todos os passageiros morreram afogados 47. Esse processo
sem dúvida teria agradado a Stalin, que havia eliminado pessoas de quem não
gostava de modo semelhante em Tsaritsin, em 1918 48. Essas noyades,
aparentemente, tornaram-se uma prática comum do NKVD 49.
Acima de tudo, o massacre deve ter sido considerado, na época, uma operação
muito arriscada. Ninguém sabia se os Aliados derrotariam ou não a Alemanha,
ou se ao menos a obrigariam a aceitar seus termos de paz. A primeira condição
seria, sem dúvida, a restauração da Polônia, e, nesse caso, os oficiais poloneses
desaparecidos se tornariam objeto da atenção internacional. Stalin dificilmente
teria ignorado esse risco, mas é evidente que, em sua opinião, o perigo de os
poloneses organizarem um movimento de resistência entre seus compatriotas da
URSS era muito maior. Foi sugerido em várias ocasiões que o objetivo de Stalin
era eliminar a liderança natural da Polônia com um só golpe, evitando assim seu
ressurgimento como nação. Mas essa opinião negligencia o fato de que a maioria
do corpo de oficiais poloneses estava nas mãos dos alemães, e portanto fora do
alcance de Stalin. Naturalmente, o maior desejo de Stalin era ver a Polônia
destruída como nação, mas os fatos sugerem que o massacre dos oficiais
prisioneiros de guerra em abril de 1940 tinha um objetivo político específico:
evitar uma revolta interna na União Soviética, na qual os poloneses naturalmente
desempenhariam um papel de liderança 51.
E quando o equilíbrio total das forças foi alterado, em 1941, com a invasão da
Rússia pelos alemães, o massacre de grande parte do corpo de oficiais de um
país agora aliado tornou-se motivo de grande constrangimento. A Grã-Bretanha
exigia a liberação dos soldados poloneses prisioneiros dos russos para se unirem
ao esforço de guerra comum. . . e ali estava a Wehrmacht, fazendo pressão o
tempo todo e se aproximando cada vez mais de Smolensk e da floresta de
Katin53. Não é de admirar que oficiais soviéticos, incluindo o segundo em
comando depois de Béria, Merkulov, tivessem confessado, sob pressão, que
tinha havido um rokovaia ochibka, um erro fatal 54. Os riscos deviam ser
aparentes desde o começo; só a vitória alemã, tão desejada, teria posto a salvo os
assassinos, e isso não era tão previsível em março e abril de 1940. Que Stalin, o
tirano tão cauteloso e procrastinador, tivesse sido levado a enfrentar o risco é
uma prova do medo intenso que sentia, à medida que a guerra se aproximava de
suas fronteiras, em abril. Algo semelhante ao pânico que demonstrou em junho
de 1941, diante da ameaça do mesmo perigo, parece ter se apossado dele. E é
significativo o fato de que nos dois casos o fator principal tenha sido o medo da
revolta na Rússia. Mais do que isso, sem dúvida temia um colapso quase
imediato da União Soviética no caso de hostilidades — tão rápido que não
teriam tempo de se livrar dos poloneses.
Nenhum dos dois podia saber que a informação passada para a sede do NKVD
teria como resultado o massacre de quinze mil pessoas inocentes, mas o que se
sabe sobre seu caráter sugere que, mesmo que soubessem, não teria feito
diferença. “Aquele que tocar o piche ficará manchado para sempre.”
Na primavera de 1940, Stalin tinha razões de sobra para encarar com admiração
incondicional e gratidão seu aliado Hitler. Em apenas oito meses, o Führer havia
dispensado favores ao atônito Vojd que nem mesmo nos dias de otimismo de
1920 teriam sido imaginados. Enquanto Hitler mantinha afastadas a Grã-
Bretanha e a França, Stalin tinha carta branca para absorver o cordon sanitaire
dos países anticomunistas sobre os quais a União Soviética lançava olhares
cobiçosos e medrosos havia duas décadas. Como se não bastasse, Hitler se
comprometera solenemente a suprimir toda a propaganda antibolchevista do seu
lado da Europa ocidental ocupada.
“A União Soviética, como todos os que têm coragem para encarar os fatos
devem saber, é governada por uma ditadura tão absolutista quanto qualquer outra
ditadura do mundo. Aliou-se a outra ditadura e invadiu um país vizinho tão
infinitamente pequeno que de modo nenhum poderia causar dano à União
Soviética, um vizinho que só deseja viver em paz como uma democracia, e
acima de tudo uma democracia com visões de futuro” 3.
A União Soviética, cujas forças armadas lutavam com crescente dificuldade para
sobrepujar essa vítima “infinitamente pequena”, deve ter encarado essa
hostilidade mundial com extremo pavor, a não ser por um aspecto. Um aspecto
decisivo. Durante toda a crise, Hitler permaneceu fielmente ao lado de seu
aliado. O Ministério do Exterior da Alemanha deixou bem claro, desde o
começo, que o protocolo secreto do pacto de 23 de agosto seria observado, e que
a Finlândia havia sido cedida à União Soviética. Os diplomatas alemães no
exterior tinham instruções para apoiar o ponto de vista soviético. A nível mais
ativo, a Alemanha proibiu o trânsito de material bélico belga e italiano por seu
território, informou ao governo sueco que qualquer intervenção importante a
favor dos finlandeses seria considerada como casus belli, e ordenou que os vasos
de guerra alemães dessem assistência à ofensiva naval russa no Báltico 4. Como
aliada, a Alemanha não poderia ter feito mais, a não ser declarar guerra aos
finlandeses. Em 11 de dezembro, Ribbentrop garantiu ao embaixador soviético
em Berlim que considerava a resistência finlandesa dependente dos planos de
guerra da Grã-Bretanha5. Até as comunicações telefônicas dos repórteres
simpatizantes da causa da Finlândia foram proibidas pelo sistema de telefonia
alemão 6.
Protegido pelo escudo alemão, Stalin conseguiu impor seus termos aos
finlandeses. Entretanto, logo em seguida os planos de guerra anglo-franceses
tornaram-se mais ameaçadores do que nunca. Preparados para o ataque na
Escandinávia e no Cáucaso, suas intenções agressivas foram detidas com grande
eficiência pela brilhante e ousada intervenção alemã na Noruega. A Wehrmacht
guardava as fronteiras soviéticas do oceano Ártico até os Bálcãs. Apenas a
derrota da própria Alemanha poderia pôr em perigo a segurança soviética, e essa
possibilidade era então mais remota.
No dia 10 de maio, a máquina de guerra alemã atacou a Holanda e, alguns dias
depois, entrou na Bélgica e na França. No fim desse mês, a força principal da
resistência aliada estava desmantelada, e a 22 de junho o marechal Pétain aceitou
os termos dos alemães. Em pouco mais de um mês, a Alemanha havia derrotado
completamente uma das partes da coalizão hostil, e repelira a outra para o outro
lado do oceano. Enquanto o desfecho parecia indeciso, Stalin demonstrou sua
habitual cautela, racionando o fornecimento da matéria-prima para a Alemanha.
Em 22 de maio, os alemães notaram que “as entregas estão ainda insatisfatórias,
especialmente no que se refere ao petróleo, em vista do consumo atual na
Alemanha. . . nessas circunstâncias, é muito importante que o governo do Reich
obtenha o máximo possível de gasolina de avião e de automóvel e outros
produtos do petróleo, nas próximas semanas”. Uma semana depois, quando a
Bélgica havia capitulado e Boulogne e Calais tinham caído, o deputado do povo,
comissário Krutikov, informou Berlim que acabava de receber instruções para
entregar todo o cobre, níquel e estanho, de acordo com o estipulado, “nos
próximos dias”, pois o governo soviético “supunha que, devido ao aumento da
atividade militar no Ocidente, esses metais deviam ser entregues com urgência”
7.
“O imperialismo francês acaba de sofrer sua maior derrota na história ... A classe
trabalhadora mundial e francesa deve encarar esse acontecimento como uma
vitória, e compreender que representa um inimigo a menos... É evidente, como
prova esse estado de coisas, que a luta do povo francês tem o mesmo objetivo
que a luta do imperialismo alemão contra o imperialismo francês. Nesse sentido,
podemos dizer que tivemos um aliado temporário. Lenin nos ensinou que não se
deve hesitar, quando chega o momento e quando se tratar do interesse do povo,
em fazer aliança temporária, até mesmo com o próprio Demônio ... Quem não
compreender isso não é um revolucionário” 9.
“Os alemães sabiam que sua política de criar contradições entre classes em
países separados. . . teria resultado na França, cujos governantes, deixando-se
assustar pelo espectro da revolução, acovardados, colocaram o país aos pés de
Hitler, desistindo de toda resistência” 10.
Stalin era bastante astuto para prever que era exatamente o que ia acontecer.
Stalin deve ter sorrido para si mesmo ao pensar no sucesso de uma política que
fez a Wehrmacht se encarregar da sua luta, enquanto ele a seguia na retaguarda,
acumulando os despojos. No outono do ano anterior, Hitler dera consentimento
para que ele absorvesse os países fronteiriços do leste europeu. Na época, Stalin
agira com extrema cautela. Temendo a intervenção anglo-francesa no Báltico,
limitara sua iniciativa, obrigando os três pequenos países a aceitar guarnições
militares soviéticas. Estas foram confinadas em suas bases, comportavam-se de
modo geral com muita disciplina e não interferiam diretamente nos assuntos
internos dos Estados. Agora Stalin via que chegara sua oportunidade, embora
continuasse com cautela para não queimar os dedos.
“No mesmo dia, dezenas de milhares de pessoas saíram para as ruas de Tallin. O
trabalho foi interrompido em toda parte. Antes que o governo tivesse tempo de
tomar qualquer medida, viu-se completamente isolado, frente a frente com a
maioria do povo que o odiava por sua traição aos interesses nacionais” 18.
‘Agora seu passado tristonho desapareceu para além das sete colinas,
Entretanto, pode-se dizer com certeza que os povos do Báltico teriam ficado
razoavelmente satisfeitos se fossem apenas mercadorias o que os homens do
NKVD despachavam em trens lotados para o interior da URSS.
“noite após noite, os temidos caminhões negros da polícia secreta corriam pelas
ruas das cidades e pelas estradas dos distritos mais remotos. Centenas e centenas
de homens, mulheres e crianças desapareciam na vastidão da União Soviética,
para sempre”.
Qual seria o propósito de toda essa crueldade, se é que havia algum? Não havia a
menor possibilidade de uma séria resistência no Báltico, contra o poder arrasador
dos soviéticos, que, por sua vez, estavam protegidos de qualquer interferência
externa pela aliança com a Alemanha. Aparentemente, Stalin jamais se livrou do
medo de que um levante popular pusesse seu poder em perigo. Os estonianos,
letões e lituanos deviam receber os primeiros golpes do chicote como uma
advertência que não podia ser ignorada. E, temendo que naqueles tempos
conturbados surgissem outras idéias perigosas, ele soltou o NKVD novamente
sobre a infeliz Polônia.
Outras vítimas foram os milhares de judeus das vilas da Polônia (muitos deles
comunistas), que foram enviados para os piores campos de trabalho ao norte do
paralelo 70. Eles “morriam rapidamente no clima impiedoso do norte, com
maldições bíblicas nos lábios e o olhar furioso de profetas enganados”31.
Fosse qual fosse a causa, as semanas se passaram sem nenhum sinal de ação por
parte da URSS. Em 17 de junho, com a capitulação de Paris, os britânicos
repelidos para o mar e a Wehrmacht na fronteira da Suíça, Molotov congratulou
os alemães por suas vitórias e os informou sobre a anexação dos países do
Báltico, que “tinha se tornado necessária, a fim de acabar com todas as intrigas
dos ingleses e franceses para semear a discórdia entre a Alemanha e a União
Soviética nos países do Báltico”. Então, no dia 22, os franceses assinaram o
armistício, em Compiègne. Os Aliados tinham sido derrotados, e no dia seguinte
Molotov anunciou ao embaixador alemão Von Schulenburg que a URSS estava
prestes a invadir a Bessarábia. Isso estava coberto pelo protocolo, mas Von
Schulenburg ficou admirado ao saber que os soviéticos queriam também a
província da Bukovina. Pediu a Molotov para esperar enquanto consultava seu
governo: a Alemanha tinha um interesse considerável na Romênia. Para
tranquilizar sua poderosa aliada, a imprensa soviética publicou uma declaração
segundo a qual “as relações de boa vizinhança, provenientes do Pacto de Não-
Agressão entre a URSS e a Alemanha, não podiam ser estremecidas por boatos
ou propaganda venenosa, porque essas relações não se baseiam em motivos de
oportunismo, e sim nos interesses fundamentais da URSS e da Alemanha”.
Molotov chamou a atenção do embaixador para essas palavras amigáveis; o
embaixador acreditava que, a julgar pelo estilo, o artigo fora escrito pelo próprio
Stalin.
Muitos dos pequenos comerciantes, que o dr. Koppelman nunca mais viu, já
estavam na longínqua Sibéria. Na Kolpachev infestada de malária, “mendigos
sentavam-se na frente da policlínica. Eram bessarábios pobres. Era horrível vê-
los ali sentados, tirando os andrajos à procura de piolhos. Se um transeunte lhes
atirava um pedaço de pão, eles o disputavam ferozmente”. Pelo menos tinham
sobrevivido: na comunidade próxima de Bilin, as condições de trabalho dos
soviéticos haviam levado à morte cinquenta homens em dezesseis semanas 36.
Eram usados os métodos de praxe para recrutá-los: invasões noturnas; separação
de marido e mulher, e dos filhos; transporte em pequenos vagões de gado numa
viagem de semanas, até que os sobreviventes começassem a morrer lentamente
no cruel abraço do GULAG. Foram removidas desse modo de duzentas a
trezentas mil pessoas (de uma população de dois milhões). (A mesma proporção
de franceses faria um total de quatro milhões e meio — a população da Grande
Paris 37.)
Até a queda da França, Stalin viveu com medo da vitória aliada, que poria em
perigo suas recentes aquisições. Depois de junho de 1940 o perigo parecia ter
passado, e Stalin respirou outra vez. Como notou enfaticamente ao embaixador
britânico, que ousara fazer uma advertência: “Não via o perigo da hegemonia de
qualquer país da Europa, e muito menos o perigo de que a Europa fosse
conquistada pela Alemanha. Stalin observava a política da Alemanha, e conhecia
muito bem muitos estadistas alemães importantes. Não tinha percebido neles
nenhum desejo de conquistar os países da Europa. Stalin não era de opinião que
o sucesso militar alemão pudesse ameaçar a União Soviética nem suas relações
de amizade. Essas relações não eram baseadas em circunstâncias, mas nos
interesses nacionais básicos dos dois países” 43.
No momento, tudo o que a URSS podia fazer era lançar olhares cobiçosos para o
Irã. Stalin observou o mapa e seus olhos fixaram-se outra vez na pequena
Finlândia. Essa, pelo menos, ele tinha permissão dos alemães para anexar.
Irritava-o pensar que havia apenas dois meses ele desistira da conquista,
concedendo a paz à Finlândia em termos bastante moderados — e tudo por medo
dos franceses e dos ingleses! Onde estavam eles agora? Não seria possível outra
tentativa? Desde o fim de maio, os ataques dos jornais soviéticos e outras formas
de pressão tinham aumentado contra os finlandeses. Em setembro, Stalin
começou a ficar preocupado com as notícias sobre movimentos de tropas alemãs
na Finlândia, mas foi informado de que se tratava apenas de transporte de tropas
e armamentos para o norte da Noruega. Ainda assim, era evidente que os
alemães estavam agora mais interessados na integridade da Finlândia do que na
ocasião do pacto, e, com um grande efetivo do exército alemão em Kirkenes, o
melhor era andar com cautela. Os alemães estavam também considerando as
ameaças dos soviéticos de absorver a concessão de níquel de Petsamo 3. Stalin
não fez nenhum movimento. A Finlândia podia esperar. Esse caminho não
levava a nenhum lugar, e de qualquer modo estava bloqueado a qualquer
interferência externa, pela ocupação alemã na Noruega.
Não, o melhor lugar para conspiração e expansão parecia estar nos Bálcãs. Ali,
Stalin podia contar com as armas gêmeas do comunismo e da simpatia pan-
eslava para preparar o terreno. Os alemães haviam recusado sua pretensão a toda
a Bukovina, mas toda a região estava evidentemente em alteração. Além disso,
os ingleses começavam também a meter o nariz naquelas áreas, portanto ela era
zona livre para quem quer que chegasse. Havia uma atmosfera nova e ebuliente
no Kremlin.
Hitler começava a se irritar. Enquanto ele falava sem parar em tom de oratória
sobre “esferas de interesses” indefinidas, Molotov voltava insistentemente à
questão da Finlândia e da Romênia. Essas demonstrações obstinadas deixavam
entrever o desejo dos soviéticos de acertar contas com a Finlândia, e a
determinação dos alemães de não ver tropas do Exército Vermelho em Petsamo.
As relações ficaram mais formais quando Molotov demonstrou um interesse
obstinado na Bulgária, a tradicional aliada da Rússia no sul, e continuou
expressando a preocupação da Rússia soviética com a Turquia, a Grécia, a
Hungria, a Iugoslávia, a Romênia e com o mar Báltico, até o estreito entre a
Noruega e a Dinamarca; essas regiões “não podiam ser imateriais para ela, em
nenhuma circunstância”. Quando Molotov voltou a Moscou, deixou em Berlim
uma atmosfera de indignação e suspeita. Em 26 de novembro, isso foi
confirmado quando ele recebeu o embaixador Von Schulenburg. Enquanto o cão
de guarda Dekanozov, do NKVD, verificava cada palavra, o comissário do
Exterior confirmou que a União Soviética estava preparada para entrar para o
Pacto Tripartite desde que recebesse garantias específicas a respeito dos direitos
da URSS sobre as regiões mais distantes, como a ilha Sacalina, a Finlândia e a
Bulgária. O Ministério do Exterior alemão não respondeu a essas exigências
ousadas, e minutas do novo pacto proposto cobriram-se de poeira no cofre de
Schulenburg, na embaixada 8.
Essa e outras advertências dos alemães não fizeram com que os soviéticos
desistissem de seus direitos sobre os Bálcãs, especialmente sobre a Bulgária. Em
25 de março, o ministro do Exterior soviético declarou que a Turquia podia
contar com a neutralidade soviética se fosse atacada — sendo o agressor
provável, naturalmente, a Alemanha. Finalmente, na noite de 26-27 de março,
um golpe interno na Iugoslávia derrubou a regência, que estava pronta para
colaborar com os alemães. O novo governo preparava-se para resistir às
exigências da Alemanha e via a URSS como aliada. Os soviéticos avançaram
então ousadamente e, pouco depois da meia-noite, na madrugada de 6 de abril,
foi assinado um tratado iugoslavo-soviético, com uma entusiasta cobertura da
imprensa soviética. Embora o tratado não obrigasse a URSS, de modo nenhum, à
intervenção militar, o acordo era claro e objetivava o encorajamento da
resistência iugoslava.
A resposta de Hitler foi mais rápida do que nunca: cinco horas depois da
assinatura do tratado iugoslavo-soviético, trinta e três divisões alemãs
atravessaram a fronteira da Iugoslávia, enquanto os Stukas cobriam os céus da
indefesa Bulgária. Um prelúdio profético de uma operação muito mais vasta foi
a destruição quase total da força aérea iugoslava no solo. Enquanto forças
húngaras e italianas atacavam no norte, oeste e sul, as tropas alemãs, com base
na Áustria, Romênia e Bulgária penetravam profundamente no país. A
Iugoslávia foi despedaçada com esses golpes tremendos; em uma semana,
Belgrado capitulou, e oito dias depois da invasão o governo real pediu paz.
O ditador soviético começou a reparar suas pontes com rapidez pouco digna. Em
13 de abril, a URSS assinou um tratado de neutralidade com o Japão, garantindo
assim seu flanco oriental. Cenas estanhas tiveram lugar quando Stalin e Molotov
foram se despedir do ministro do Exterior do Japão. Revelam claramente a
extensão do temor de Stalin e do seu respeito pelas duas potências militares que
ladeavam seu país, a leste e a oeste. A cena na estação de Moscou foi descrita
num artigo não publicado de Jack Scott, repórter do News Chronicle, de
Londres:
Eu estava espremido entre uma meia dúzia de altos militares alemães, enfeitados
como árvores de Natal, tentando ver o que estava acontecendo. Os guardas
pessoais de Stalin, à paisana, pareciam muito preocupados porque não
conseguiam manter os olhos no ‘vojd’ de pescoço taurino e cabelos grisalhos da
Rússia. O adido militar japonês dirigiu-se resolutamente para o elegante e formal
Barkov, chefe do protocolo, e começou a dar-lhe tapinhas nas costas.
Em todos os aspectos das suas relações com a Alemanha, Stalin fez questão de
demonstrar que a aparente intransigência de Molotov e sua cobiça, no inverno
anterior, tinham sido apenas um ridículo mal-entendido. Em 6 de maio, Stalin
tornou-se presidente do Conselho dos Comissários do Povo, isto é, primeiro-
ministro. Embora tivesse sido ditador por mais de duas décadas, até então se
contentara com um papel nominalmente subordinado. Como notou Von
Schulenburg, essa nomeação tinha como objetivo indicar que a atitude de
negociante intransigente de Molotov seria substituída por outra, muito mais
conciliadora, em relação à Alemanha. Na parada do l.° de Maio, Stalin tinha
tomado a iniciativa fora do comum de ficar ao lado de Dekanozov, embaixador
em Berlim. Em 18 de abril, fora ratificado um novo acordo comercial, e o fluxo
de matérias-primas para a Alemanha continuava como nos primeiros dias das
boas relações. O dr. Schnurre, em Wilhelmstrasse, notou com satisfação:
Durante seis meses, o NKVD trabalhou sob grande pressão para elaborar suas
listas, e em 31 de maio o comissário do povo Merkulov ordenou que “pessoas
com tendências antissoviéticas, empenhadas em atividades de agitação
contrarrevolucionária, devem ser preparadas para deportação para as remotas
regiões da URSS”. No dia 4 de junho, Serov, assistente de Merkulov, baixou
instruções detalhadas quanto ao método das operações. Foram explicitadas
medidas severas para evitar desordens quando os prisioneiros fossem conduzidos
aos pontos de embarque. Especial atenção devia ser dada às instruções sobre
separação de marido e mulher, que nunca mais deveriam se ver.
Tinham recebido ordens estritas para não atirar em aviões alemães (um oficial
que desobedeceu quase foi fuzilado), não escavar trincheiras e desativar minas,
no dia 21 de junho, e os aviões soviéticos estavam agrupados a céu aberto nos
aeródromos, um alvo esplêndido para a Luftwaffe. Oficiais de diversas patentes,
arriscando as próprias vidas, haviam dado ordens para se prevenirem contra um
ataque de surpresa, mas, de modo geral, a atmosfera pode ser resumida na ordem
de Timotchenko e de Jukov, dada três horas antes do ataque: “A missão das
nossas forças: não dar motivo a nenhuma ação provocadora de nenhuma espécie
que possa ter como resultado grandes complicações”.
A falta de preparo militar dos soviéticos nesse ataque é muito conhecida e não
precisa ser descrita. A possibilidade de um ataque súbito e sem declaração de
guerra era ponto pacífico, quanto mais não fosse pelas circunstâncias da invasão
nazista na Polônia e o ataque soviético à Finlândia. Depois do desastre finlandês,
tinham sido realizados muitos aperfeiçoamentos: centenas de oficiais voltaram à
ativa, deixando a guarda dos campos e das prisões onde definhavam desde 1937
e 1938; o equipamento e o treinamento foram revisados e melhorados; e medidas
disciplinares foram acrescentadas para reforçar a autoridade dos oficiais. Mas,
como sugere o professor Erickson, “na verdade, tinha havido muitos debates mas
poucas decisões, e mesmo estas eram questionáveis” 2. As fraquezas
continuaram muito mais acentuadas do que as melhorias. As imensas aquisições
territoriais, possibilitadas pelo acordo com Hitler, constituíam um risco militar,
ao contrário do que Stalin e grande parte da historiografia soviética declararam
mais tarde. Politicamente, o pacto tinha dado à Alemanha dois aliados, a
Finlândia e a Romênia, e havia removido as “armadilhas” representadas pelos
exércitos da Polônia e dos países bálticos. Além disso, a mudança das fronteiras
para centenas de quilômetros a oeste levou a uma situação na qual as defesas dos
antigos limites foram desmanteladas, antes que as novas linhas estivessem
adequadamente equipadas. Os soviéticos tiveram muito tempo para construir
novas linhas de defesa, mas a indecisão de Stalin, aliada à relutância dos oficiais
em assumir responsabilidades dentro da burocracia socialista, mais o desperdício
da mal dirigida exploração do trabalho escravo em serviços de construção, tudo
isso se combinou para deixar as defesas num estado de grotesca desordem. Em
todos os outros setores (armamentos, comunicações, localização das indústrias
estratégicas e armazéns de material, disciplina militar e treinamento), a União
Soviética era ridiculamente inferior à Alemanha, apesar de sua imensa
superioridade em potencial humano e recursos. Como lamentou Khrushchev, “o
próprio czar, quando fez a guerra contra a Alemanha em 1914, tinha maior
suprimento de rifles do que tínhamos no dia em que Hitler invadiu a Rússia” 3.
A causa dessa surpresa com algo que era do conhecimento de todos jamais será
conhecida. Não há dúvida de que Stalin foi apanhado com a guarda abaixada e
entrou em pânico. Mas por que, quando o mundo todo e muitos dos seus
militares sustinham o fôlego à espera desse ataque, Stalin era o único
aparentemente descrente das advertências? O que estivera ele fazendo durante os
dias de silêncio que se seguiram ao começo da agonia da Rússia? O ditador
soviético, afinal de contas, era o mais desconfiado e cauteloso déspota da
história. Não confiava na família, nos amigos ou nos companheiros de governo,
e sua idéia de enfrentar uma ameaça resumia-se em liquidá-la antes mesmo que
houvesse qualquer forma de hostilidade em potencial. Por que não reagiu à mais
perigosa, e de muitos modos a mais óbvia ameaça de toda a sua carreira?
Aparentemente, a resposta é que ele estava em Moscou na época e que deve ter
tomado parte nas discussões, nem que fosse somente pelo terror que sentia de
ficar sozinho. Mas estava quase atordoado de terror naqueles dias, e durante
muito tempo depois. Em agosto, exclamou freneticamente para sua cunhada: “As
coisas vão muito, muito mal! Trate de deixar o país! Ninguém pode permanecer
em Moscou”. Mais tarde, a pobre mulher foi condenada a dez anos de prisão por
ter testemunhado esse espetáculo patético 9. Segundo um oficial graduado do
NKVD, O tirano apavorado fechou-se com a múmia do seu predecessor no
mausoléu da Praça Vermelha; talvez estivesse perguntando ao grande homem
como preservar “tudo o que Lenin havia criado” 10. Lá fora, na praça protegida
por barricadas, aviões esperavam ao lado da catedral, para o caso de uma partida
apressada 11.
“Como todos sabem, a imprensa estrangeira tem publicado muitas vezes que o
sistema soviético é ‘uma experiência arriscada’, condenada ao fracasso; que o
sistema soviético é um ‘castelo de cartas’, sem raízes na realidade e ligado ao
povo somente por meio da Tcheka; que bastará um empurrão de fora para que
‘esse castelo de cartas’ se faça em pedaços” 13.
O professor Ulam diz que Stalin “estava revivendo seus próprios temores e
humilhações do primeiro ano da guerra”, quando na verdade acreditava que o
governo soviético era perigosamente frágil 14.
Esse temor justificado explica grande parte das reações de Stalin à invasão. Ele
tinha um medo terrível do invasor, mas temia acima de tudo o próprio povo
russo. O país parecia estar se desintegrando, exatamente como acontecia nos
seus pesadelos. Mas um aspecto permanece misterioso. Stalin acreditara que o
pacto com a Alemanha era o melhor e mais proveitoso caminho para seu país, e,
desse ponto de vista, essa decisão talvez fosse acertada. Sua atitude humilhante
em relação ao nazismo, especialmente depois de abril de 1941, baseava-se no
reconhecimento realista da própria fraqueza. A debilidade militar soviética e a
falta de preparo real para a guerra refletiam a precariedade e o atraso do regime
15. Dados esses fatores, era inevitável que a Wehrmacht, soberbamente
conduzida, equipada e treinada, levasse o exército soviético de roldão. Isso
explica o pânico de Stalin nos primeiros dias da invasão, mas não responde a
duas outras questões. Por que Stalin se recusou a acreditar no número crescente
de advertências de que Hitler estava preparando o ataque, e por que se recusou a
dar ordens definitivas aos seus homens para revidar o ataque? Como afirma
Robert Conquest: “É uma das coisas mais estranhas de toda a sua carreira. O
homem que nunca dera a menor importância a compromissos verbais ou escritos
parece ter realmente pensado, ou esperado, que Hitler não fosse capaz de atacar
a Rússia” 16. Hitler tinha atacado a Boêmia, a Polônia, a Holanda, a Bélgica, a
Iugoslávia e a Grécia; tudo isso sem declaração de guerra e usando uma força
devastadora, desde o primeiro momento. Mesmo que Stalin considerasse um
ataque muito improvável, nas circunstâncias normais devia naturalmente tê-lo
considerado possível.
Aparentemente, Stalin tinha garantia do próprio Hitler de que ele jamais faria
guerra à União Soviética, apesar das insinuações sobre uma possível conspiração
dos generais para provocar um conflito, contra a vontade do Führer. Mesmo
nesse caso, ele tinha motivos para acreditar na boa fé de Hitler. Muito antes, em
1935, Hitler deixara entrever que a Alemanha e a União Soviética só poderiam
ser amigas se a última abandonasse sua política de subversão internacional e se
tornasse uma ditadura militar respeitável, sem ameaçar a estabilidade dos seus
vizinhos21. Os expurgos ferozes dos anos seguintes pareciam provar que isso ia
acontecer, e o afastamento dos judeus proeminentes, em abril de 1941, além da
demonstração de liderança titular e real do governo, em maio, provavelmente
tinham por objetivo enviar a Hitler uma mensagem de que Stalin era o
verdadeiro dono de sua casa.
Muito antes disso, Hitler havia dado provas convincentes de sua real
preocupação pela segurança de Stalin. O marechal Tukhachevsky, comissário
assistente da Defesa, havia muito vinha despertando sentimento de medo e de
ódio em Stalin. Ele era tudo o que Stalin detestava: de origem nobre, era bonito e
muito forte e possuía um extraordinário talento militar22. Quando foi indicado
pela primeira vez para o comando, em 1925, Stalin expressou sua preocupação
de que ali devia haver material para um Bonaparte em potencial23. Porém, só
doze anos mais tarde Stalin viu-se na situação de dar o golpe, e em 1937
Tukhachevsky foi acusado de conspirar com os nazistas para derrubar o governo,
e foi executado. Embora não tenha havido julgamento público (possivelmente
porque Tukhachevsky era forte demais para “confessar”), Stalin possuía um
notável dossiê que documentava as negociações do marechal com os
representantes nazistas.
Se, em 1941, Hitler havia avisado Stalin de que elementos conspiradores do alto
comando alemão estavam planejando uma ação provocadora na fronteira, é
evidente que até o desconfiado Stalin tivesse fortes razões para acreditar na boa
fé do seu amigo ditador. Ele não o havia livrado de uma ameaça idêntica quatro
anos antes? Afinal, Hitler era um realista e devia perceber que Stalin, que
demitira Litvinov e outros judeus dos seus cargos no governo e cumprira o pacto
lealmente, enfrentando a oposição interna, era realmente digno de ser protegido.
Os generais alemães haviam objetado contra a política de paz de Ribbentrop
(pelo menos era o que Stalin acreditava) 27, mas Hitler estava tão decidido
quanto ele a manter a aliança “cimentada com sangue”. De modo geral, Stalin
tinha muitas razões para acreditar nas palavras tranquilizadoras do seu amigo 28.
A hipótese (e não é mais do que isso) de que Hitler teria dado garantias pessoais
para acalmar as suspeitas de Stalin, quando Barba-Roxa foi iniciada, poderia
esclarecer muitos pontos que do contrário permaneceriam obscuros. Explicaria a
crença insistente de Stalin de que o ataque era mera provocação militar, que não
devia ser revidada. Explicaria os ferozes expurgos militares dentro do Exército
Vermelho e o fato de o NKVD manter sob estrita vigilância e suspeita os
movimentos do Exército Vermelho perto das fronteiras 29. O Ministério do
Exterior da Alemanha foi bombardeado por telegramas frenéticos de Stalin,
desesperado para saber o que estava errado30. Além disso, a única resposta
positiva de Stalin às insistentes advertências, às vésperas da invasão, foi ordenar
que as defesas antiaéreas de Moscou ficassem de prontidão31. Sem dúvida,
acreditava que o perigo real ameaçava o Kremlin, e não as fronteiras. Acima de
tudo, a hipótese de que o próprio Hitler teria confiado a Stalin a história da
“provocação” iminente explica por que Stalin continuou confiante, mesmo
depois que os alemães abriram fogo. Ele tinha toda a razão para isso!
Hitler poderia ter passado a informação para Stalin através de vários canais. A
incriminação de Tukhachevsky fora entregue sob o maior sigilo por um oficial
graduado do NKVD, enviado a Berlim por Iejov, o qual negociou diretamente
com Heydrich no quartel-general do SD 32. Os contatos entre os dois serviços de
segurança intensificaram-se depois da assinatura do pacto. Um representante da
Gestapo ia regularmente a Lvov, em 1940, para consultar o comissário do povo,
Ivan Serov, sobre a repatriação dos poloneses. Na primavera do mesmo ano,
como conta Khrushchev, “lembro-me de que Stalin certa vez me disse que Hitler
tinha pedido um favor usando canais secretos”33.
Uma coisa parece certa. Pelo menos no princípio, Stalin estava convencido de
que tinha muito mais a temer dos russos do que dos alemães. Com Hitler, ele
poderia chegar a um acordo pacífico; mas se o povo russo aproveitasse a
oportunidade para se erguer da posição de joelhos em que estava, não seria
preciso muita imaginação para adivinhar quais seriam as consequências para ele.
Se os alemães fossem sensatos, essa seria a primeira arma que usariam ao
penetrar mais profundamente no território russo. Para muitos estrangeiros, o país
parecia monolítico, uma nação inviolável, exceto no caso pouco provável de
conquista estrangeira. Para os que estavam do lado de dentro, o quadro era bem
menos tranquilizador.
Contudo, com todas essas limitações, o bom senso indica que poucos poderiam
desejar a volta desse sistema, se seu poder fosse temporariamente afastado ou
dissolvido; e que, caso houvesse uma oportunidade, em qualquer época, de
libertar-se de instintos profundamente arraigados de medo e de passividade, a
maioria dos cidadãos da URSS receberia de braços abertos a queda dos seus
feitores de escravos e dos seus torturadores. A prova concreta desse fato nos é
dada pela nova autoconfiança adquirida pelos prisioneiros do Exército Vermelho
capturados pelos finlandeses em 1940, e pela reação de milhões de prisioneiros
de guerra capturados pelos alemães. A não ser para a execução das obrigações
cotidianas, não há dúvida de que paira sobre o povo russo uma sombria e
desesperada apatia. Para muitos, é sinal de uma falha no caráter nacional dos
russos. Talvez devessem perguntar a si mesmos por quanto tempo os
americanos, ingleses, franceses ou alemães suportariam a aparelhagem de
opressão descrita em capítulo anterior.
As ilusões sobre o altruísmo do socialismo soviético que podiam existir entre o
povo em geral não eram compartilhadas pelos seus governantes. Em 15 de
dezembro de 1941, Vichinski teve uma conversa franca com o embaixador
polonês. Embalado por copiosos copos de vodca, ele observou jovialmente:
“Vocês riem. Isso foi uma grande inspiração para mim. Eu adoro alegria e riso”.
Vichinski corou fortemente; inclinou-se para mim e disse, em voz tensa: ‘Eu lhe
garanto que o russo é um povo triste; lerdo, preguiçoso, sujo, sem iniciativa,
hostil a qualquer tipo de progresso cultural’.
‘De modo nenhum! Nada se consegue desse povo pelos métodos comuns. Só
poderá ser erguido a um nível mais alto por um governo igual ao de Stalin. Só
pela força e pela coerção! Por isso sou um partidário tão ardoroso de Stalin e
defensor do seu sistema’ ”36.
Porém, muitos deles ficaram satisfeitos com a captura. Nada sabiam sobre o
nazismo, a não ser o que a propaganda oficial lhes dizia. Durante seis anos, a
Alemanha tinha sido quase tão atacada quanto o imperialismo britânico ou o
capitalismo americano. Então, quase dois anos antes, os alemães tinham-se
transformado em aliados respeitados, que lutavam contra as plutocracias
britânica e francesa. Agora, quando o governo soviético se vangloriava, dizendo
que as relações nunca tinham sido tão perfeitas entre os dois países, tropas
alemãs subitamente apareciam, declarando sua intenção de liberar o país do
bolchevismo.
Enquanto as colunas de soldados russos maltrapilhos afastavam-se do campo de
batalha pelas estradas empoeiradas e amarelas da Bielo-Rússia, os aviões da
Luftwaffe, que passavam acima de suas cabeças, despejavam milhares de
folhetos sobre aquela multidão atônita. Depois de mais de vinte anos de domínio
soviético, milhares de russos viam impresso e abertamente exposto tudo aquilo
que todos sabiam, mas que ninguém ousava dizer. Os folhetos de propaganda
alemães expunham o caso com veemência:
Por que Stalin se esconde entre as paredes do Kremlin, atrás das costas largas de
sua guarda pessoal? Tem pavor dos próprios companheiros, sedentos por vingar
seus amigos e camaradas massacrados. Tem medo da ira do povo, à espera da
hora de prestação de contas...”
Exceto pela alegação de que Stalin estava se preparando para a agressão contra a
Alemanha, todas as acusações desses folhetos são verdadeiras. Como a arma
mais importante do arsenal soviético de opressão — a escravidão — foi omitida,
pode-se mesmo dizer que eles pecaram por excesso de brandura. Nunca, na
história da guerra, um governo deu ao invasor tanto motivo para acusação
fundamentada. Não é de admirar que milhares de soldados russos, cercados nas
florestas da Bielo-Rússia ou caminhando penosamente para o leste, tenham se
aproveitado do passe anexo aos folhetos, que os incitava a se entregarem sob
promessa de bom tratamento. Sem dúvida, muitos os chamarão de traidores, mas
homens como Kuzma Belogrudov, porta-bandeira do 436.° regimento de rifles,
deve ter achado essa pregação de alta moral no mínimo adequada à situação.
Com cinquenta anos, passara doze num campo do GULAG, onde todos os seus
dentes haviam sido quebrados e duas costelas partidas. Perdeu dois filhos e dois
irmãos, mortos nos porões do NKVD. Em Moguilev, em 19 de setembro de
1941, acompanhou o resto do seu regimento na marcha para se juntar aos
alemães. Precisamente o que ele estava traindo seria difícil dizer38.
Depois de onze dias de silêncio, Stalin apareceu e reuniu toda a coragem para se
dirigir ao povo soviético. Falara no rádio apenas uma vez, antes 1, e os ouvintes
ficaram surpresos ao ouvir o áspero sotaque georgiano, do qual ele jamais
conseguiu se livrar. Falava com voz monótona, cansada, pontuada por pausas
bruscas e pelo tinir de copo, acompanhado do ruído de deglutição, cada vez que
acalmava os nervos com um gole de água. O feioso e assustado ditador não
falava bem. Seu discurso tinha a forma patética, quase rastejante, de um pedido
de socorro, com grandes doses de chavões pessoais e soviéticos, listas de cidades
e povos e ameaças impotentes contra os “fascistas alemães”.
“Ficamos em silêncio, os olhos no chão, mas eu sabia que cada prisioneiro fora
subitamente atingido por um raio de esperança, com aquela atônita cegueira de
escravos para quem qualquer mão que abra as portas da prisão é a mão da
própria providência”.
Durante aqueles primeiros dias da agonia da Rússia, seu líder tinha se isolado do
mundo. Apavorado com a possibilidade de que a rede do NKVD, que mantinha a
nação unida, pudesse se partir sob o peso da invasão, ele era ainda incapaz de
pensar em uma ação alternativa para reforçar a estrutura dessa organização.
“Batam, batam e tornem a bater”, era tudo o que ele sabia da arte de governar.
Passivamente, quase temeroso, observava Béria aplicar a torquês 4. Um
recrutamento em massa para aumentar o exército enorme do NKVD teve início
em todo o país 5. Moscou foi colocada diretamente sob o controle do general
Silinov, do NKVD, “e cada distrito, urbano e rural, tinha uma sede do NKVD,
embora a ordem pública pudesse ser mantida perfeitamente pelas unidades da
milícia”6. A embaixada dos Estados Unidos notou a atividade excepcional da
polícia política, interrogando e detendo cidadãos durante os primeiros dias da
invasão, e funcionários do Partido receberam armas para se defenderem do povo
7.
Certamente, Stalin não se esqueceu dessa ameaça. O próprio Trotsky, a quem ele
temia mais do que a Hitler9, fora liquidado um ano antes; mas, à medida que os
alemães se aproximavam de Moscou, sua preocupação crescia. (Aqui, podemos
pelo menos dizer a favor de Stalin que a União Soviética provavelmente estaria
muito pior sob o governo de Trotsky, o qual, em 1934, defendia ainda a primazia
da cavalaria na guerra moderna: “É preciso um cavalo para cada três
soldados”.10)
“O trabalho deles era evitar, ou em último caso cortar pela raiz, qualquer
elemento do exército hostil ao poder soviético. Vigiavam tudo e todos, desde os
comandantes e marechais da frente de batalha ao mais humilde soldado no
comboio de transporte. Controlavam também todos os organismos políticos das
forças armadas. Ninguém estava acima de suspeita. Uma rede permanente de
informantes foi recrutada secretamente e mantida em funcionamento em todo o
exército”.
Era evidente que a lealdade era um fator extremamente questionável. Três dias
depois do começo da guerra, observadores em Moscou notaram que não havia na
capital nada que indicasse o entusiasmo de um povo que enfrentava a maior
guerra da sua história. Não havia demonstrações patrióticas, organizadas ou
espontâneas — apenas notícias falsas sobre elas, na imprensa27. À medida que
os alemães se aproximavam, o pânico começou a tomar conta da cidade.
Milhares de funcionários do governo e do Partido fugiram para leste ou
enviaram suas famílias com caminhões e carros repletos dos seus tesouros
domésticos, acumulados durante vinte anos de governo do proletariado (os
camponeses famintos assaltaram muitos desses comboios fora da cidade). O
NKVD entrou em pânico, sem vontade nenhuma de renovar seus contatos com
os irmãos da Gestapo. Arquivos foram queimados na Lubianka, e durante três
dias memoráveis (16-18 de outubro) Moscou ficou praticamente despoliciada.
Lojas, armazéns, as residências dos ricos, até a embaixada britânica abandonada,
foram arrombados e saqueados. Multidões assustadas enchiam as ruas e
instalavam-se na estação. Nos restaurantes de luxo, funcionários que não
conseguiram fugir afogavam seu medo em vodca, na companhia de prostitutas
que sem dúvida esperavam novos fregueses. A rede de açougues Mikoian foi
saqueada até a última salsicha, e uma multidão pálida e faminta atacou a fábrica
de doces Maiakovski. O aparato marxista desapareceu num segundo, como se
nunca tivesse existido. Cartões de identidade do Partido eram queimados
discretamente, e os slogans, raspados das paredes. Então, em 18 de outubro, a
posição militar se estabilizou, e o NKVD reapareceu na cidade. Obedecendo a
um decreto especial baixado por Stalin, milhares de pessoas foram fuziladas
sumariamente, e as normas leninistas, restauradas. Por um breve momento,
Stalin e seus auxiliares tiveram a visão do que aconteceria se fosse desmantelado
o aparelho do NKVD. Como muitos comentaram na época, quinhentos
paraquedistas alemães poderiam ter tomado a cidade28.
“a mais baixa camada da população russa. .. estava toda tomada pelo espírito da
revolta e pelo ódio ao regime, e a guerra era totalmente impopular. Isso se
notava em toda parte nos primeiros meses, quando, devido ao caos provocado
pela ofensiva alemã, soltaram-se um pouco as garras de ferro do NKVD” 29.
Tudo isso era exatamente o que Stalin tinha esperado durante anos. Foram
instalados tribunais militares especiais pelo NKVD em todas as cidades e vilas
ainda sob controle soviético, e milhares de pessoas suspeitas de deslealdade
foram fuziladas ou transportadas para os campos. A simples menção do pacto
Molotov-Ribbentrop, ou mesmo do nome do desastrado marechal Vorochilov,
podia significar uma sentença de dez anos. A opressão cresceu para manter a
disciplina das massas. Um grande número de pessoas não incluídas ainda no
esforço de guerra cavavam trincheiras inúteis e realizavam outras tarefas
“defensivas”32.
No Volga, havia uma colônia de alemães, cujos antepassados tinham se instalado
no local no tempo de Catarina, a Grande. Era um foco óbvio de medo naquela
atmosfera de pânico, e foi baixada uma ordem para que fossem banidos para a
Sibéria. Alegaram que “dezenas de milhares de diversionistas e espiões, entre
eles, planejavam um levante a favor dos alemães. Era uma estranha alegação,
pois 99,7 por cento deles haviam votado nos candidatos do Partido na última
eleição; portanto, o NKVD criara um pretexto grosseiro para a própria
satisfação. Um avião de treinamento sem identificação visível sobrevoou a
capital da República Alemã do Volga, Engelsstadt. Disseram depois que
transportava o primeiro grupo de agentes alemães. Havia mais de quatrocentos
mil alemães na colônia e foram transportados para campos de concentração no
Cazaquistão e outras regiões desoladas. O mesmo número de descendentes de
alemães de outras partes da Rússia tiveram o mesmo destino. O tratamento que
receberam na viagem e nos campos foi selvagem; em um dos campos, dois ou
três homens eram retirados dos alojamentos, quase todas as noites, e fuzilados.
Isso durante um ano e meio. Em 1943, grande parte dos sobreviventes foi
enviada para a frente de batalha, para os batalhões de trabalho forçado, e depois
disso, para os campos de trabalho escravo em Vorkuta ou Karaganda — as
mulheres, como sempre, separadas dos maridos33.
Naqueles primeiros meses, antes que o ataque alemão fosse detido às portas de
Moscou, o regime policial açoitou todos os setores da população atônita. Em
nenhum lugar o castigo foi tão pesado quanto nos campos onde ocultavam a
população escrava, e era evidente que ela era o principal foco do terror de Stalin.
Um funcionário, então em Moscou trabalhando para o governo, escreveu mais
tarde: “Talvez, nos seus pesadelos, eles vissem vinte milhões de escravos
derrubando os muros das prisões e as cercas de arame farpado, numa corrida de
ódio e de vingança, como uma enchente de destruição. . . ” 34
A maior parte dos campos estava instalada em áreas distantes não só dos
alemães, como também de qualquer comunidade humana. Mas um grande
número de trabalhadores escravos trabalhava nas defesas da fronteira, bem como
em outros projetos na Ucrânia, Bielo-Rússia e nos países do Báltico. O NKVD
expediu ordens para a administração do GULAG no sentido de que todos os
campos ameaçados pelo avanço alemão fossem evacuados para leste. Se fosse
impossível, todos os internados deviam ser mortos 35. O ataque alemão fora tão
rápido e inesperado que a evacuação se tornou impossível em muitos casos. Um
oficial alemão encontrou uma coluna maltrapilha de cinco ou seis mil escravos
na estrada que ligava Minsk a Smolensk. Tinham estado trabalhando no
aeródromo de Minsk quando os alemães chegaram para libertá-los 36.
Tiveram mais sorte do que a grande maioria. Nas prisões e nos campos de toda a
Rússia ocidental, os homens nervosos do NKVD começaram a executar as
instruções de Béria antes de fugir do inexorável avanço do exército alemão.
Milhares de prisioneiros políticos da esquerda foram fuzilados, para que não
liderassem as massas revoltadas (a ameaça de Trotsky não fora esquecida). Em
Minsk, Smolensk, Kharkov, Dniepropetrovsk e Zaporojie, foram massacrados
praticamente todos os internados. Na República de Kabardino-Balkar, centenas
de escravos que trabalhavam em um kombinat de molibdénio foram
metralhados, por ordem do comissário local, “até o último homem e a última
mulher” 37. Na Ucrânia, um trem estava levando um grupo de mais ou menos
quinhentos escravos para o leste. Subitamente, os guardas do NKVD ouviram o
som da artilharia, vindo da outra extremidade da linha férrea. Suspeitando que
estivessem encurralados, fizeram parar o trem, cercaram-no e mandaram que
“todos saíssem”. Um sobrevivente conta o ocorrido:
Ocasionalmente, o NKVD tinha tempo para fazer uma parada em sua fuga e
conduzir suas tarefas com mais vagar e maior perfeição. Na cidade lituana de
Telsiai, setenta e três prisioneiros foram levados para uma floresta em Rainiai.
Foram amarrados às árvores, e os guardas experimentaram vários métodos
soviéticos de prolongar-lhes o sofrimento. Alguns tiveram os olhos arrancados
lentamente. Outros foram escalpelados e seus cérebros, espremidos para fora do
crânio. Homens tiveram a língua cortada, as pernas e lados do corpo cortados
lentamente, ou baionetas enfiadas pela boca, garganta abaixo. Na maioria dos
casos, os corpos estavam tão cobertos de ferimentos que era impossível
determinar a causa precisa ou o momento exato da morte41.
“Logo ao entrar nos porões encontramos uma camada composta de uma massa
viscosa, dentro da qual os corpos tinham sido congelados. Na primeira prisão, os
cadáveres estavam em pilhas de quatro ou cinco, no chão do porão. Algumas das
portas tinham sido emparedadas pelos russos. Um grande número de corpos deve
ter sido enterrado desse modo, antes do começo da guerra, pois a putrefação —
como já foi dito — estava muito adiantada. O número de pessoas mortas na
cidade de Lvov pode ser estimado em três mil e quinhentas.
“viu uma mesa com muitos corpos massacrados. Os corpos davam a impressão
de terem sido espancados até se transformarem em uma massa informe. Um
cadáver estava sentado numa cadeira com um pedaço de baioneta russa saindo
da boca, que devia ter sido enfiada pela sua garganta com grande força. Mãos e
braços pendiam nas posições mais estranhas, como se tivessem sido quebrados
muitas vezes... Vi o corpo de uma menina, de aproximadamente oito anos,
pendurado no fio da lâmpada do teto. O corpo estava nu, e a criança tinha sido
enforcada com uma toalha. Tudo era tão terrível que quase desmaiei. Tiveram de
me levar para casa. Até hoje não consigo me livrar da impressão terrível daquele
espetáculo”.
Esses detalhes revoltantes não são descritos aqui por sensacionalismo, embora os
leitores devam concordar que devemos alguma coisa àquelas pobres vítimas,
pelo menos a compreensão do quanto sofreram. Acima de tudo, para entender a
guerra no leste é preciso levar em conta que as forças soviéticas estavam lutando
em duas frentes. Enquanto o Exército Vermelho, extremamente mal equipado e
mal dirigido, lutava contra o invasor alemão, uma sangrenta guerra civil travava-
se entre o NKVD e a população desarmada, na retaguarda imediata da frente de
batalha. E, das duas guerras, a que era feita contra a população escravizada sem
dúvida tinha prioridade aos olhos de Stalin. Os homens do NKVD e da Smerch,
de qualquer patente, recebiam um soldo vinte e cinco vezes maior do que o dos
soldados, uma ração alimentar incomensuravelmente superior, uniformes e
equipamento, e eram recrutados entre os homens mais dignos de confiança dos
conscritos do Exército Vermelho44. No capítulo IV, estimamos que antes da
guerra o NKVD tinha cerca de meio milhão de homens, guardando as fronteiras
e os campos do GULAG, trabalhando nas prisões e no serviço de comunicações,
e assim por diante. Depois do começo da guerra, esse número aumentou. Um
prisioneiro do norte achou “incrível a chegada a Iercevo de novos contingentes
de jovens e saudáveis soldados do NKVD para reforçar as guarnições dos
campos nas praias do mar Branco ... ” Isso quinze dias depois da Operação
Barba-Roxa, quando o Exército Vermelho cambaleava na retirada, numa
confusão sangrenta. O prisioneiro calculou que, como havia então dois guardas
para cada vinte prisioneiros, devia haver um milhão deles em todos os campos
do GULAG. Por mais extraordinária que possa parecer essa estimativa, não deve
estar muito longe da verdade. Não só deve ser levado em conta o aumento no
número de guardas, mas também o fato de que os prisioneiros políticos não mais
mereciam confiança para continuar ocupando postos de responsabilidade,
embora ínfimos, nos campos. Entre eles estavam alemães do Volga e alemães
soviéticos, alguns poloneses e condenados políticos em geral. Foram transferidos
para os grupos de trabalho externo e substituídos por oficiais “livres”, que não
estavam aptos para outra função de guerra. Além disso, a jornada de trabalho do
GULAG passou de onze para doze horas, o que naturalmente sobrecarregou o
trabalho dos guardas, exigindo um aumento no seu número 45.
“Penso com horror e vergonha numa Europa dividida em duas partes pela linha
do Bug; de um lado, milhões de escravos soviéticos, rezando pela libertação, à
espera dos exércitos de Hitler; de outro, milhões de vítimas dos campos de
concentração alemães, à espera do Exército Vermelho como sua última
esperança” 60.
O tambor do patriotismo que o Partido fazia vibrar apelava aos instintos mais
nacionalistas, mais profundos do povo, e provocou uma reação que surpreendeu
o próprio Stalin. Em dezembro de 1941, a frente de batalha estabilizou-se, e os
alemães foram detidos depois de sangrentas batalhas. O embaixador polonês,
que havia notado antes a apatia generalizada e a simpatia pelos alemães em todo
o país, observava agora “um crescente sentimento de força”. Os soldados russos
orgulhavam-se da sua resistência, e os feridos, nos hospitais de campanha,
pediam para voltar à linha de frente o mais breve possível (entre as centenas de
milhares de seus compatriotas espalhados por toda a Rússia, o dr. Kot estava na
posição mais privilegiada para avaliar a opinião russa)23. Durante a guerra
contra a Finlândia, havia se evidenciado um ressurgimento do espírito patriótico
e do orgulho marcial, e, agora que as capitais históricas da Rússia estavam
ameaçadas pelo inimigo, o velho espírito da luta reanimava-se novamente.
Então, quando o Exército Vermelho começou a obter seus próprios triunfos e
gloriosas honras de batalha, os homens sentiram o entusiasmo da vitória
próxima, a realização de um objetivo comum bravamente conquistado. Todas as
sórdidas frustrações, a miséria e a crueldade dos últimos vinte e cinco anos
pareciam se dissolver perante um único propósito: expulsar o inimigo arrogante
do solo russo que suas legiões haviam profanado. Repetia-se uma longa e
gloriosa história, os cavaleiros teutônicos, os tártaros, os poloneses, os suecos e
os franceses, todos haviam sonhado em hastear suas bandeiras no Kremlin e
todos tinham sido expulsos para o outro lado das fronteiras.
“Quando falo no nosso ideal, naturalmente não me refiro às tolices dos membros
do nosso Partido. Estou falando daquilo pelo que lutamos no nosso avanço do
Volga ao Elba. Ou pensa que derramamos nosso sangue e passamos fome para
defender as fazendas coletivas, Stalin, a Tcheka e os donos do Partido?
Naturalmente que não. Lutamos pela Rússia e pela perspectiva de uma nova
vida. Precisa compreender uma coisa: sobre as ruínas do velho mundo — e nada
sobrou, a não ser ruínas, mesmo onde a velha fachada ainda está de pé —, um
novo mundo começa a se erguer por toda parte e com ele um novo homem”.
Pobre desse novo homem — essas bravas palavras foram ditas num campo de
trabalho forçado, dez anos depois do fim da guerra24.
Assim, ele os incitava a exterminar todos os alemães que estavam ainda em solo
russo — um tema adotado pelos propagandistas soviéticos em geral31.
“Perseguia-me a idéia dos gladiadores. Foram necessários muitos anos para que
se cristalizasse em minha mente, e ainda agora acho difícil exprimi-la com
palavras. É mais ou menos isto: todos nós, homens e mulheres soviéticos,
éramos dominados, não pela noção do dever, não por nossa vontade ou desejo,
mas por uma inexorável compulsão. Assim como a compulsão externa e não o
amor pela arena colocava o gladiador romano na luta desigual, uma compulsão
férrea decidia a sorte de um homem no campo de concentração — o destino de
um brilhante general soviético —, e com a mesma desumanidade. Cada um de
nós fazia algo que não podia deixar de fazer. Uma força invisível determinou
que fôssemos os gladiadores do século XX, e nos tornamos gladiadores” 44.
Aleksandr Gorbatov é o melhor exemplo do general soviético, pois serviu com
distinção durante toda a guerra. Conhecia a pior parte do sistema, pois fora
prisioneiro em Kolyma, ficou horrorizado e atônito com os expurgos, mas
aceitou a autoridade e a legitimidade da liderança do Partido45. Porém, havia
servido com igual bravura e obediência total no exército de Nicolau II46, e sem
dúvida teria cumprido seu dever sob qualquer governo que tivesse autoridade na
Rússia. O juramento e a cadeia de comando constituem a política de um soldado,
até que o próprio sistema desmorone. Só então, todos esses inúmeros elos se
dissolvem e o homem pode ver o sistema como realmente é.
Não faziam distinção entre os países “liberados”, que haviam lutado pelos
Aliados ou pelo Eixo. Na Polônia, conta um ex-oficial do NKVD, “ser polonês
era praticamente motivo suficiente para ser suspeito”. Na prisão de Lvov,
cenário do terrível massacre de junho de 1941, voltaram as câmaras de tortura.
Milhares foram conduzidos para a Sibéria, trilhando o caminho sombrio e
coberto de cadáveres 51. Em 1942, um oficial do NKVD disse a um general
polonês: "Vamos precisar de vinte anos para apagar a impressão da sua
passagem pelo nosso país”52. Com a entrada das tropas soviéticas na Polônia, o
problema tornou-se cem vezes maior, e a solução exigiu medidas drásticas. Os
países bálticos, novamente ocupados, sofreram seu terceiro grande expurgo em
cinco anos. Estima-se que mais de meio milhão de habitantes tenha sido
removido, de uma população já desfalcada, no ano da vitória. Sempre
acompanhados por cenas de crueldade gratuita e repugnante53.
Não falaremos mais. Não nos excitaremos. Nós mataremos. Se ainda não matou
pelo menos um alemão por dia, perdeu seu dia. . . Se matar um alemão, mate
outro — nada há mais engraçado para nós do que uma pilha de cadáveres de
alemães. Não conte os dias, não conte as verstas. Conte apenas o número de
alemães que você matou. . . Não erre. Não se deixe enganar. Mate”.
Essa passagem e muitas outras iguais foram impressas em folhetos que serviam
de guia às tropas soviéticas que entraram na Prússia Oriental. O que se seguiu foi
a realização das mais escabrosas fantasias de Ehrenburg. Rara foi a mulher
prussiana, desde avós até crianças de quatro anos, que não foi violentada a leste
do Elba. Um oficial russo conheceu uma moça que fora violentada pelo menos
por duzentos e cinquenta homens, numa semana. O ato sexual normal talvez
satisfizesse a alguns dos conquistadores, mas geralmente precisavam de mais do
que isso para refinar o prazer. Depois, alguns deles feriam a mulher no seio ou
no abdome com uma adaga sem corte, feita de plástico, ou introduziam um
telefone ou uma garrafa quebrada na sua vagina. As crianças eram os alvos
preferidos para exercício de tiro (“deixe que matem os Fritz na excitação do
momento, até se cansarem da brincadeira”). Era sempre divertido violentar,
abusar e mutilar crianças dos dois sexos na frente dos pais ... eles podiam ser
eliminados mais tarde; afinal, já não tinham razão para viver. Não era nem
mesmo preciso verificar se eram alemães; tudo era feito “na excitação do
momento”. Uma moça russa, sequestrada pelos nazistas, passava de bicicleta por
uma rua. Era extremamente atraente, atraente demais para passar despercebida...
“Ei, sua cadela!”, gritou um homem do Exército Vermelho, empunhando a
metralhadora e atirando nas costas da moça. Ela levou uma hora para morrer,
dizendo: “Por quê?”
Tudo isso foi um contraste marcante com a parada da vitória de Stalin, em junho.
Nunca, nem mesmo em Moscou, haviam sido tomadas tantas e tão elaboradas
precauções contra qualquer imprevisto. A cidade estava repleta de patrulhas do
NKVD.
“Para chegar ao centro de Moscou, tinha-se de passar por várias zonas com
cordões de isolamento. A primeira estava a cargo dos soldados das Tropas
Internas do NKVD, a seguinte, dos oficiais da Tcheka. Quanto mais perto se
chegava do Kremlin e do Mausoléu de Lenin, mais alta era a patente dos oficiais
que controlavam o cordão. Na frente da tribuna dos convidados, os oficiais da
Administração Operacional Principal do NKGB perfilavam-se, ombro a ombro,
numa fileira ininterrupta. Uma segunda linha de oficiais da mesma
administração, nenhum com patente abaixo de major, estendia-se por todo o
comprimento da fachada do mausoléu. Atrás e aos lados do mausoléu,
montavam guarda oficiais do Grupo Especial Operacional, que formava a guarda
pessoal de Stalin.”
Ninguém estava mais consciente dessa disposição do que Stalin, e ele sentia um
frio no coração 81. A aliança com os anglo-americanos havia disseminado a
infecção tão temida no coração dos seus domínios. Foram tomadas novas e
violentas medidas de precaução para inclinar a Rússia para a segura atmosfera da
década de 30. O NKVD lançou uma campanha de preparação do povo para a
guerra iminente contra os britânicos e americanos (“A verdadeira guerra, para
destruir o mundo capitalista, estava apenas começando”82). Medidas mais
severas e mais diretas advertiam os cidadãos soviéticos, em todas as camadas da
população, sobre quem era o senhor da URSS. Um golpe militar, seguindo o
precedente bonapartista, parecia a contingência mais provável, e foram tomadas
medidas para desacreditar o marechal Jukov83. No quartel-general da Smerch
em Baden-bei-Wien, foi iniciada uma colossal operação de seleção para
descobrir soldados e oficiais com conexões de classe “pouco dignas de
confiança”, enquanto, a nível mais alto, a comissão da Smerch em Moscou
decidia a sorte dos generais e marechais. Milhares de soldados de todas as
patentes foram desmobilizados e, enquanto alguns voltaram para casa, outros
foram enviados para a Ásia central, para os campos de trabalho forçado 84.
Expurgos semelhantes varreram todos os níveis da vida soviética. Qualquer
pessoa que, de um modo ou de outro, tivesse estado fora das fronteiras da União
Soviética, ou que tivesse estado em contato com estrangeiros ou com costumes
estrangeiros, era considerada suspeita. Milhões de ex-prisioneiros de guerra e
trabalhadores escravos que trabalharam na Alemanha foram consignados para
uma vida muito mais cruel nos campos da Sibéria, enquanto dentro do próprio
GULAG novas medidas de precaução foram postas em prática para acovardar os
escravos 85.
Esse terror (não era menos do que isso) da natureza “infecciosa” das liberdades
europeias e americanas foi, sem dúvida, o motivo central das mudanças na
política de Stalin de 1939 a 1941. Até agosto de 1939, a URSS era uma nação
frágil e intensamente vulnerável, isolada do resto do mundo, e que vivia apenas
por uma espécie de malabarismo, jogando as potências da Entente contra a
Alemanha nazista e vice-versa. Mas Stalin precisava de segurança, e depois de
1934 ele compreendeu que ela só lhe poderia ser dada pela Alemanha. O pacto
nazi-soviético protegeu Stalin contra o ataque militar dos franceses e dos
ingleses, e, o que era mais importante, preservou a quarentena ideológica da
Rússia soviética. Já em julho de 1933, Goebbels deixara entrever o que devia ser
esperado, quando ordenou que a imprensa alemã deixasse de publicar
temporariamente ataques à União Soviética 88. Essa ordem foi obedecida na
Alemanha e, depois do pacto, toda a propaganda antissoviética foi proibida
definitivamente, tanto na Alemanha quanto na Polônia ocupada89. Além disso,
embora o nacional-socialismo devesse muito ao marxismo e se parecesse com
ele em diversos aspectos, as duas ideologias diferiam em um ponto. O nacional-
socialismo, com a ênfase na superioridade racial dos alemães, não podia ter
atração para os povos a quem suas doutrinas condenavam à perpétua
inferioridade. Muito mais do que o fascismo, o nacional-socialismo não era um
produto de exportação, e naturalmente Hitler demonstrava não ter intenção de
exportá-lo 90. O próprio Stalin, nos seus momentos de maior franqueza, era
capaz de compreender o contraste entre a liberdade da Europa ocidental e da
América e a opressão nazista91.
A cordial cooperação concedida à Alemanha por ocasião do pacto era algo sem
precedentes, e contrastava acentuadamente com a atitude adotada para com os
seus próximos aliados, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Mesmo nos
momentos de maior desespero durante a guerra, a União Soviética temia admitir
no país mais do que um pequeno número de ingleses e americanos, por mais
vital que sua presença fosse para o esforço de guerra. Os que foram admitidos
eram continuamente sujeitos a importunações, restrições, chantagem e insultos.
Como consta do relatório do Ministério do Exterior, em fevereiro de 1945: “A
atitude dos russos para com a nossa missão [militar] em Moscou tem sido
deliberadamente não-cooperativa, e tanto antes quanto depois do Dia D não
fizeram nenhuma tentativa para trabalhar numa base de reciprocidade”92. A
mesma atitude era aplicada a qualquer área em que era natural esperar
cooperação. Nada podia ser mais contrastante com a política que havia permitido
aos alemães a abertura de consulados e até uma base natural em solo soviético.
Com a derrota da Alemanha, Stalin não tinha escolha senão viver em um mundo
onde a União Soviética ficaria ombro a ombro com as democracias vitoriosas.
Os anglo-americanos, cheios de esperança de uma cooperação internacional em
prol da paz, haviam, com a melhor das intenções, enredado os soviéticos numa
teia de realizações destinadas a aproximar indissoluvelmente as grandes
potências: as Nações Unidas, a Comissão Consultora da Europa, a Comissão de
Controle da Alemanha, e assim por diante. Ao mesmo tempo, as exuberantes
democracias exaltavam em altos brados todos os direitos políticos e legais que
Lenin havia varrido da Rússia em 1917, chegando a institucionalizá-los na Carta
do Atlântico, nas Quatro Liberdades e na Declaração dos Direitos do Homem.
Superficialmente, o contraste entre o “mundo livre” e a potência totalitária era
muito mais pronunciado do que antes da guerra. Nessa época, o quadro era
muito mais confuso, com duas ou três formas de totalitarismo rivais competindo
e discutindo, a par de uma série de países autoritários de tendências arcaicas.
Isso sem dúvida responde à pergunta principal: por que, se Stalin podia desfrutar
de uma aliança amigável e aparentemente estável com Hitler, não podia fazer o
mesmo com os ingleses e americanos? A resposta aparentemente é que ele não
podia manter esse relacionamento. O único meio de preservar a “herança de
Lenin” era apertar as tenazes naquilo que ele possuía e repelir influências
externas perigosas, criando uma atmosfera de hostilidade e suspeita. A guerra
fria foi motivada em parte por conflitos de interesses, mas o fato muito mais
importante foi simplesmente que os soviéticos precisavam de uma guerra fria.
Litvinov opunha-se com tanto ardor ao que considerava uma política mal
orientada e perigosa, que mais uma vez falou francamente com um jornalista
americano completamente atônito. Ele acreditava que as boas relações talvez
tivessem sido possíveis em certa ocasião, mas naquele momento a hostilidade
entre as duas ideologias era muito grande. O repórter, Richard C. Hottelet, fez
então a pergunta crucial: a política soviética seria amenizada se o Ocidente
resolvesse ceder às exigências da Rússia? Litvinov disse “que isso levaria a outra
série de exigências, depois de algum tempo”97.
Esse total pode ser comparado com o número de mortos devido às mais variadas
causas, como resultado da Primeira Guerra Mundial. Essa guerra teve quase a
mesma duração e envolveu aproximadamente o mesmo número de soldados
russos. O índice total de mortalidade foi de 1 660 000 11. Como explicar essa
espantosa diferença? O poder de fogo era muito maior na Segunda Guerra, mas,
a despeito disso, as perdas em vários locais tenderam a ser consideravelmente
menores do que no conflito anterior, no qual as lutas eram travadas quase corpo
a corpo. O império britânico, por exemplo, perdeu quase um milhão de homens
na Primeira Guerra, e menos de um quarto desse número na Segunda. A melhor
comparação é sem dúvida a Wehrmacht, que travou as mesmas batalhas, no
mesmo período de tempo e com um número quase igual de homens. Em 30 de
novembro de 1944, o exército alemão na Rússia tinha perdido 1 419 000
homens, e 907 000 estavam desaparecidos. É provável que cerca de dois milhões
e meio de alemães tenham sido mortos na frente oriental12.
Como explicar o fato de terem morrido três soldados russos para cada soldado
alemão? Em primeiro lugar, havia os prisioneiros de guerra. Dos 5,5 milhões de
russos capturados pelos alemães em 1945, mais de 3 milhões tinham sido
assassinados ou haviam morrido devido a maus-tratos e inanição 14. Embora a
culpa maior deva recair nos açougueiros nazistas, grande parte dela cabe ao
regime soviético que colaborou nesse crime. Recusando-se a aceitar as
condições da Convenção de Genebra sobre Prisioneiros de Guerra ou não
permitindo a intervenção da Cruz Vermelha, o governo soviético (como seus
membros sabiam perfeitamente) sentenciou seus cidadãos à morte 15. O
tratamento desumano dispensado pelos alemães aos prisioneiros russos não foi
provocado pela selvageria soviética, pois seguia uma política previamente
determinada 16. Contudo, se a Rússia soviética tivesse aceito as determinações
da lei internacional sobre o assunto, pode-se com toda a justiça perguntar se
Hitler teria continuado com sua política de extermínio dos prisioneiros russos.
Ele não precisava se preocupar com procedimentos legais, muito menos com
considerações humanitárias. Mas, se as autoridades soviéticas tivessem tratado
os prisioneiros alemães de modo mais civilizado, a pressão para que a Alemanha
fizesse o mesmo teria provocado (como sugere a evidência) um efeito
considerável, talvez até mesmo irresistível.
Além das perdas provocadas por este ou aquele modo de luta, consideradas sem
importância desde que o objetivo fosse alcançado, havia outras causas menos
comuns de mortes. Svetlana Stalin conta como Béria “efetuou a abominável
liquidação de unidades militares inteiras, às vezes compostas de grande número
de homens, durante o rápido avanço alemão na Ucrânia e na Bielo-Rússia,
unidades que haviam ficado isoladas de suas linhas e que mais tarde,
enfrentando tremendos riscos, tinham conseguido voltar”20.
Esse tipo de ação, que frequentemente tinha como resultado pequenas batalhas
entre o NKVD e o exército regular, continuou até o fim da guerra 21.
Por mais generosamente que sejam interpretados esses números, sobram ainda
cerca de 10 a 15 milhões de cadáveres russos para serem explicados. Qualquer
cálculo que se aproxime pelo menos remotamente de um número exato é
impossível, mas, em termos gerais, podemos explicar esse fantástico índice de
mortalidade.
Foi esse governo e o sistema político que ele aplicava que despertou a
entusiástica lealdade de tantos no Ocidente. Embora grande parte do que
acontecia na Rússia não fosse conhecido no exterior, quem quisesse poderia
conseguir informação suficiente. A verdade podia ser encontrada em inúmeros
livros e artigos escritos por fugitivos da URSS, nos relatos de milhares de
cidadãos soviéticos (depois de 1941), poloneses no Ocidente, visitantes
ocidentais, como Malcolm Muggeridge, Eugene Lyons e Andrew Smith, e até
em fontes publicadas pelos soviéticos. O que era claramente óbvio para Arthur
Koestler e George Orwell, provavelmente era também para Louis Aragon, J. D.
Bernal ou Lilian Hellman32. Como foi possível a milhares de pessoas
inteligentes enganar ou encorajar milhões de outras com menores dotes
intelectuais, levando-as a uma admiração cega pelo assassinato em massa, a
tortura e a escravidão?
Isso pode explicar a atração do ideal autoritário, mas não o apelo concomitante à
crueldade e à violência que fez de Stalin a estrela-guia de grande parte do
movimento de esquerda. Pois a crueldade era sem dúvida a mais assustadora
característica comum da esquerda radical dos anos 30 e 40. É verdade que um
comunista pelo menos abandonou sua crença quando leu o livro do professor
Vladimir Tchernavin, Eu falo pelos silenciosos (1935), memórias da vida nas
prisões da GPU e nos campos do GULAG. “Envolvia-me”, lembrava-se ele,
mais tarde, “um silêncio isolador” — o silêncio de morte daqueles por quem
Tchernavin falava — “e naquele silêncio ouvi seus gritos. . . Não sabia o que
tinha acontecido comigo. Eu negava a própria existência da alma. Mas eu disse:
‘Isso é o mal, o mal absoluto. E desse mal eu sou uma parte’ ”37.
Mas essa reação, compartilhada por Orwell, Koestler e alguns outros, era rara.
Poucos marxistas do Ocidente e seus simpatizantes passaram noites em claro por
causa das revelações de Tchernavin e outros. Quando muito, sua crença ficou
mais forte com essa prova da determinação bolchevista de continuar a lutar a
qualquer custo. Eles visitavam Moscou, ostentando sua riqueza perante a Rússia
faminta. Eugene Lyons encontrou Jane em Moscou,
“. . .uma liberal de Nova York, magra, tensa, que estremecia visivelmente ao ver
um novo homem. No bolchevismo ela encontrou não apenas um emprego, mas
também a fuga às restrições impostas por um marido pouco satisfatório e pela
supervisão da família de classe média. Sentada na cama desfeita do quarto de
hotel, ela falava durante horas sobre a libertação da mulher sob a bandeira
vermelha. ‘A morte por inanição, o extermínio da intelligentsia’, dizia ela, ‘ora,
vale a pena, garanto, porque a Rússia liquidou os fantasmas do sexo. Igualdade
entre homens e mulheres, um único padrão de vida. . . Vale a pena!’ ”
Todo tipo de desajustamentos pessoais e sociais levaram a geração perturbada a
projetar suas neuroses numa utopia proletária perfeita 3S. Os cataclismos da
Grande Guerra e da Revolução Russa, o afrouxamento dos tradicionais laços
sociais e familiares39, e o assalto às crenças instintivas mais prezadas pelo
homem, motivado pelas teorias de Darwin, Marx, Freud e Frazer — tudo isso
teve um efeito profundo na geração que sobreviveu à Grande Guerra. Num
mundo onde todos os pontos de referência tradicionais desapareciam, o povo
sofria a sensação de abandono e privação. Era inevitável que muitos,
especialmente os jovens e os que pertenciam à classe média, fossem levados por
essa alienação a caminhos de sadismo mal disfarçado. Michael Grant notou a
similaridade da situação no Império Romano. Enquanto as antigas cidades-
estados desmoronavam e eram absorvidas, “a solidão indefesa do indivíduo,
resultante dessa situação, provocava um ‘colapso da coragem’ generalizado. No
vasto mundo romano, esses sintomas se acentuaram, tornando-se permanentes e
onipresentes. Milhões de pessoas sentiam-se descolocadas, sem apoio,
esquecidas, perdidas — e acima de tudo, entediadas. O mergulho na religião foi
uma reação compensadora. Mas a outra foi a imersão no sadismo sanguinário”.
Geoffrey Wilson, por exemplo, era um advogado de trinta anos que fora
presidente do clube trabalhista da Universidade de Oxford, em 1930, e que veio
a ser secretário particular de Sir Stafford Cripps, acompanhando-o a Moscou,
quando foi nomeado embaixador na Rússia, em 1940. (O NKVD naturalmente
estava ansioso por penetrar nessa missão, e tentou inutilmente infiltrar Guy
Burgess como funcionário subalterno.63) Depois da partida de Cripps em 1942,
Wilson continuou na embaixada, como primeiro-secretário. Com permissão
especial de Molotov, ele percorreu grande extensão dos Urais e outras regiões64.
Embora a maioria das pessoas que viajavam pela Rússia naquela época ficassem
extremamente deprimidas pela evidência inconfundível de sofrimento e opressão
jamais vistos, além da prática do trabalho escravo65, a fé de Geoffrey Wilson na
integridade soviética permaneceu inabalada. De volta a Londres, em 1943-44,
escreveu uma carta urgente ao embaixador britânico em Moscou, procurando um
pretexto para voltar à Rússia. “Quero passar algum tempo em Moscou
novamente”, escreveu ele. “Minha fé se enfraquece aqui e se revitaliza em
Moscou e em meus passeios pela Rússia.” 66
Geoffrey Wilson parece ter percebido isso com excepcional clareza, e esforçou-
se por influenciar a política do seu país para satisfazer os dois principais
objetivos de Stalin. Foi francamente a favor do abandono do rei Pedro da
Iugoslávia pela Grã-Bretanha e do governo polonês no exílio, em Londres. No
primeiro dia do ano de 1944, os soviéticos tinham organizado um “governo”
comunista fantoche em solo polonês, e Wilson insistiu no reconhecimento desse
grupo pela Grã-Bretanha e no abandono de “povos que eles [os soviéticos]
consideram fascistas”. Nem o massacre de Katin, nem a intenção declarada dos
soviéticos de recobrar o território cedido por Hitler tinham desiludido Wilson.
Geoffrey Wilson via com atitude crítica a missão militar em Moscou. Havia
objetado contra a franqueza de Martel, e mais ou menos nessa época insistiu
numa investigação sobre um oficial, em Murmansk, que tinha visto muita coisa
sobre o tratamento dispensado pelos soviéticos aos prisioneiros de guerra russos
que haviam sido repatriados 76. Em 3 de outubro, ele escreveu para Kerr, de
Londres: “Preciso avisá-lo de uma coisa. Aquele negócio de selvagens, etc., de
que Burrows foi acusado — há mais nisso tudo do que parece. . . Eu lhe direi
mais sobre o assunto quando nos encontrarmos pessoalmente” 77. Na verdade, o
que tinha acontecido foi que o NKVD colocara microfones no escritório do
general Burrows e ouvira críticas privadas, não destinadas aos ouvidos
soviéticos. Assim, evidentemente, “havia muito mais do que parecia” na queixa
de Stalin, mas as autoridades britânicas não descobriram que a escuta continuara
até o verão seguinte 78. Wilson estava em contato com homens que sabiam o
que estava acontecendo, pois conhecia Zintchenko e outros funcionários da
embaixada soviética e dava-se também com o coronel Ivan Tchitchaev, chefe da
missão do NKVD em Londres 79. Porém, dificilmente teriam revelado a ele o
segredo da escuta colocada no escritório de Burrows, pois, nesses caso, Wilson
teria informado a missão militar em Moscou.
A repatriação forçada dos cidadãos soviéticos foi sem dúvida o exemplo mais
notável da política de apaziguamento do Ocidente, em 1945. Mas uma operação
destaca-se das outras, e seus detalhes permaneceram em segredo até agora.
Ainda hoje não é possível contar a história toda, embora muitos homens que
vivem ainda possam revelar a verdade, se se dispuserem a falar. Porém, provas
recém-descobertas nos permitem delinear os fatos.
O segundo em fama era Andrei Chkuro, outro veterano líder cossaco. Como um
ousado líder de guerrilha na Primeira Grande Guerra, conduziu seus cossacos
Kuban nos ataques devastadores ao Exército Vermelho no sul da Rússia, durante
a Guerra Civil. Os “lobos” de Chkuro, como eram conhecidos, tinham fama de
praticar pilhagem e atos de banditismo de grande ousadia, e o próprio Chkuro
passou seus anos de exílio em farras com companheiros russos-brancos e
realizando incríveis proezas hípicas num circo ambulante. Quando os alemães
reorganizaram as unidades dos cossacos, em 1943, o veterano Chkuro era muito
requisitado, sempre que a vodca e as canções cossacas fluíam ao redor das
fogueiras de acampamento.
Não havia nenhuma explicação de como os líderes brancos agora mortos haviam
caído nas mãos dos soviéticos, a não ser que tinham sido “presos”. A Grande
enciclopédia soviética mais tarde informava que Piotr Krasnov tinha sido
capturado pelas forças soviéticas em 1943. Não era verdade, pois os seis homens
tinham sido entregues pelas autoridades militares britânicas na Áustria, às quais
os generais e seus companheiros tinham se rendido em 1945. Desde a publicação
de Vítimas de Yalta, em 1978, o público está a par da história da repatriação
pelas forças aliadas, no fim da Segunda Guerra, e pode-se perfeitamente supor
que os seis generais foram entregues aos soviéticos segundo o agora conhecido
acordo assinado em 11 de fevereiro de 1945, em Yalta.
Na verdade, não foi isso o que aconteceu. O Acordo de Yalta, tanto na sua
redação quanto na interpretação, trata exclusivamente da repatriação de cidadãos
soviéticos, isto é, pessoas que, no começo da guerra ou durante a mesma, eram
cidadãos soviéticos. Essa distinção foi considerada muito importante, desde o
começo, pois as autoridades soviéticas exigiam a repatriação de milhares de
cidadãos dos países do Báltico, poloneses e romenos, cujos territórios lhes
tinham sido concedidos por Hitler em 1939. A Grã-Bretanha e os Estados
Unidos não estavam preparados para reconhecer essas conquistas, e recusaram-
se a entregar cidadãos das regiões ocupadas que não desejassem voltar. Outra
categoria era representada pelos milhões de russos-brancos que haviam
emigrado durante a revolução, e que tinham agora outra cidadania ou eram
classificados como sem cidadania. Eles também nunca tinham vivido na URSS e
não podiam ser considerados cidadãos soviéticos.
“O governo soviético fez então um protesto enérgico junto aos nossos aliados
sobre Krasnov, Chkuro, Sultan-Ghirei e outros criminosos de guerra. Os ingleses
procuraram ganhar tempo; porém, uma vez que nenhum dos velhos generais da
Guarda Branca nem seus homens valiam muita coisa, colocaram-nos em
caminhões e os entregaram às autoridades soviéticas”1.
Como insinuava a carta de Krasnov, havia uma boa razão para que o marechal-
de-campo simpatizasse com a situação dos cossacos. Não se tratava apenas de
uma atitude cavalheiresca, mas também de antiga associação à causa deles.
Quando era um jovem major dos Guardas Irlandeses, fora designado, em 1919,
para o comando das forças organizadas pelos recém-formados países bálticos
para resistir à invasão bolchevista. O general russo-branco Iudenitch lhe conferiu
uma condecoração, que ele continuava a usar orgulhosamente. Os cossacos
representavam as últimas unidades de combate daqueles exércitos brancos de
cuja causa Alexander havia compartilhado. Poderia parecer inconcebível que
Alexander concordasse com a exigência soviética, dada a associação sentimental
íntima e o fato de que, como um velho exilado, Krasnov e os dois outros
cossacos que constavam das listas dos soviéticos não estavam de modo algum
sujeitos aos regulamentos de repatriação. O que poderia Keightley fazer? Estava
muito inclinado a aceder à exigência soviética. Mas não tinha autoridade para
isso, e ir além dos seus poderes representava uma decisão política.
Além disso, não temos informação direta sobre o que transpirou no encontro, e
os esforços para elucidar o assunto têm sido inúteis. Infelizmente o general
Keightley faleceu um pouco antes que eu pudesse entrar em contato com ele.
Escrevi três vezes para o sr. Macmillan, em 1974, 1975 e 1981, a primeira vez
com perguntas de ordem geral e depois com questões mais específicas. Ele
declarou firmemente que não podia me ajudar.
“a linha que adotamos e que deve ser seguida é de que todos os que são cidadãos
soviéticos segundo as leis britânicas devem ser repatriados, e todos os que não
são cidadãos soviéticos segundo a lei britânica não devem (repito: não devem)
ser enviados de volta à União Soviética, a não ser que desejem voltar”7.
Essas duas unidades foram poupadas, não sendo entregues aos soviéticos.
Infelizmente, todos os documentos relativos a essa importante decisão
desapareceram do arquivo; portanto, só podemos adivinhar a razão. Um certo
coronel Walton Ling, da Cruz Vermelha, que havia servido no Exército Branco
no sul da Rússia, defendeu a causa do Schützkorps com grande entusiasmo junto
ao QG do 5.° Corpo. É muito provável que tenha previsto a criação de uma
situação embaraçosa se os homens de Rogojin fossem ameaçados com a
repatriação. Do mesmo modo, os ucranianos incluíam muitos cidadãos poloneses
que estavam em contato com o general Anders e o 2.° Corpo Polonês na Itália —
amigos embaraçosamente vociferantes.
Fosse qual fosse a razão, foi tomada uma decisão definitiva de não repatriar o
Schützkorps e nem a Divisão Galícia. Foi uma importante decisão política. É
difícil acreditar que Tolbukhin não tenha reclamado pelo menos a entrega dos
ucranianos; o próprio Stalin fez isso em Potsdam, dois meses mais tarde. Parece
inconcebível que o general Keightley tivesse, por iniciativa própria, tomado uma
decisão política de tão grande alcance como essa. Exatamente para resolver esse
tipo de contingência é que Macmillan fora enviado para o AFHQ.
Uma coisa é certa: nas vinte e quatro horas que sucederam a visita de Macmillan
a Klagenfurt, o general Keightley tomou a espantosa decisão de eliminar a carta
de Krasnov e ocultar de seus superiores o fato de que os soviéticos haviam
exigido a entrega dos três generais russos-brancos. Pois, no dia seguinte, 14 de
maio, enviou este telegrama ao marechal-de-campo Alexander:
A resposta de Alexander (devemos presumir que tenha havido uma resposta) não
está nos arquivos. Portanto, só podemos imaginar seu conteúdo: possivelmente a
reiteração do regulamento tão conhecido, segundo o qual os cidadãos soviéticos
deviam ser devolvidos sumariamente às próprias autoridades. O que não podia
constar dela era qualquer autoridade específica para entregar os cossacos. Pois,
em 17 de maio, Alexander enviou um pedido de instrução pessoal ao Alto
Comando Combinado em Washington.
“Na melhor das hipóteses, Alexander recebeu ordens, talvez de viva voz, de
alguém muito importante, como Winston, para tomar as necessárias providências
para a repatriação. . . e quando chegasse o momento, efetuá-la. Então, o gabinete
consciencioso pediu alguma coisa por escrito ao Ministério do Exterior. . . Uma
carta de um oficial subalterno, como eu, seria suficiente para seus arquivos”.
O que teria levado Churchill a agir desse modo, antes de receber a resposta ao
seu inquérito e antes de Alexander receber ordens do alto comando, não
sabemos. É possível que tenha recebido um relatório de Harold Macmillan em
pessoa, enfatizando a urgência da operação. Macmillan foi à Inglaterra para
conferenciar com o primeiro-ministro em 19 de maio. No dia seguinte, Churchill
enviou o inquérito sobre os cossacos. Com o homem mais bem-informado sobre
o assunto ao seu lado, é improvável que não o tenha discutido com o ministro
residente. Assim também, não é provável que Macmillan tenha deixado passar a
oportunidade de repetir ao primeiro-ministro a opinião que transmitira a
Keightley uma semana antes: que os cossacos deviam ser devolvidos. Nesse
caso, ele por certo não mencionou o fato de que havia entre eles exilados russos-
brancos. Os nomes de Krasnov e Chkuro sem dúvida teriam despertado
lembranças agradáveis. Pois foi Churchill quem, como secretário de Estado,
advogara ardentemente, em 1918-19, o apoio aos seus exércitos brancos na
guerra contra os bolchevistas.
Estavam resolvidos, por motivos que não conhecemos, a aceder ao pedido dos
soviéticos. Mas como conseguir a autorização necessária do AFHQ para incluir
os homens mais desejados pelas autoridades soviéticas? Alexander certamente
rejeitaria qualquer sugestão de que os homens não enquadrados nas
determinações do Acordo de Yalta fossem entregues aos soviéticos. Nesse caso,
a qual autoridade Keightley poderia recorrer?
Foi elaborado um plano muito hábil para conduzir o assunto para essa e outras
armadilhas. Podia ser feita uma petição a Alexander, sem chamar atenção
inconveniente para o fato de que estavam envolvidos russos-brancos.
Naturalmente, ele seria obrigado a responder, embora relutantemente, que as
determinações do Acordo de Yalta deviam ser aplicadas. Os cidadãos soviéticos
deviam ser entregues às autoridades soviéticas. Nesse meio tempo, bastava
proceder a uma operação secreta e rápida, na qual todos os cossacos,
independentemente de cidadania, fossem devolvidos aos soviéticos. Uma vez
nas mãos dos seus inimigos, não precisavam temer que algum russo-branco
voltasse para contar a história.
Essa parte do plano parecia garantida, o único impedimento ao seu sucesso era a
possibilidade de que o marechal-de-campo viesse a saber da presença dos seus
ex-camaradas russos-brancos na área controlada pelo 5.° Corpo. Foi um risco
rapidamente evitado. Já foi mencionado que Krasnov escrevera a Alexander na
primeira quinzena de maio, mas não tivera resposta. No fim do mês, pouco antes
da entrega dos homens, Krasnov escreveu novamente para Alexander, para o rei
Jorge VI, para o rei Pedro da Iugoslávia (vários cossacos eram seus súditos) e
para o papa. Nenhuma dessas petições chegou ao destino.
Chkuro escreveu também explicando aos ingleses a situação dos cossacos. Mais
ou menos em 23-24 de maio, fez uma completa exposição de seu “papel na
organização, em particular”. Seu caso era especialmente embaraçoso, pois o rei
Jorge V lhe havia conferido a Ordem do Banho, em 1919, por atos de coragem
ao lado das tropas britânicas, no sul da Rússia. A existência dessas cartas é
comprovada por uma referência no diário de guerra da 36.a Brigada, segundo a
qual elas foram enviadas ao quartel-general da divisão. Mas as cartas
desapareceram dos arquivos, e não há dúvida de que não passaram além do QG
do 5.° Corpo. Três dias depois de enviar sua segunda carta, Chkuro foi
removido, de madrugada, para uma prisão isolada, até ser entregue aos
soviéticos em 29 de maio.
Muito se tem conjeturado sobre a redação das ordens. Infelizmente, nada está
registrado das discussões sobre o assunto no QG do 5.° Corpo. Lorde Aldington,
que, como Toby Low, era então brigadeiro-general em Klagenfurt, informou-me
de que não se recorda de nada a respeito. É decepcionante, uma vez que ocupava
um posto central de planejamento.
“1. Foram referidos a este QG vários casos de dúvida sobre se certas fmns
(formações) e grupos devem ser considerados como NACIONAIS
SOVIÉTICOS no que se refere à sua devolução à União Soviética pelo 5.°
Corpo. As regras para esses casos são dadas abaixo. SCHÜTZKORPS RUSSOS
. .. NÃO serão tratados como NACIONAIS SOVIÉTICOS, até ordens em
contrário.
Grupo ATAMAN
Assim, a lista de unidades que deviam ser repatriadas na seção 1 incluía uma
grande proporção de casos que a seção 2 declarava não sujeitos a repatriação. E
onde estava o corpo principal dos vinte e dois mil cossacos em Lienz?
Inexplicavelmente, não foram mencionados! Podemos imaginar Musson e todos
os que receberam esta mélange de contradições, coçando a cabeça e telefonando
para o brigadeiro Toby Low, em Klagenfurt.
“1. Todos que são cidadãos SOVIÉTICOS e que podem ser entregues aos
RUSSOS sem uso da força devem [ser] devolvidos pelo 8.° EXÉRCITO.
Essas instruções deixam bem claro, pelo menos no que se refere ao AFHQ, que
nessa época nem pensavam no uso da força, muito menos na devolução de
russos-brancos contra a sua vontade. Só em 25 de maio chegou a ordem na qual
se baseou a operação de repatriação:
Entretanto, seria errado supor que essa ordem de 25 de maio tivesse representado
uma alteração consciente de atitude por parte do AFHQ. Era o resultado de
negociações feitas com os soviéticos, em Wolfsberg, em 23 e 24 de maio,
quando foram resolvidos problemas de logística, entre eles o modo, o local e a
data em que os cossacos deviam ser entregues ao Exército Vermelho.
Aparentemente, o AFHQ esperava que a grande maioria dos refugiados
soviéticos detidos na Áustria pudesse ser devolvida com um mínimo de
perturbação. Na Alemanha, cerca de vinte mil cidadãos soviéticos já tinham sido
enviados para a zona soviética.
Como o AFHQ podia ter sido informado pelo SHAEF, essas operações foram
realizadas sem incidentes, embora seja lícito pensar que, entre os que foram
devolvidos, muitos com certeza preferiam não ter voltado. Não há dúvida de que
esperavam que a operação na Áustria fosse realizada com a mesma facilidade.
Está implícito que eram especialmente Krasnov e seus companheiros que deviam
ser reunidos. Na área da 6.a Divisão de Blindados, o general Murray permitiu
deliberadamente que dezenas de oficiais alemães e cossacos não fossem
devolvidos, sem nenhuma repercussão no QG do Corpo.
O fato de essa flagrante violação da lei internacional ter sido ocultada em todas
as ordens, relatórios e diários de guerra, antes e depois do fato, indica que as
autoridades nos altos postos da cadeia de comando ignoravam o plano. O
marechal-de-campo Alexander representava aparentemente um perigo em
potencial, e não devia saber o que seus subordinados estavam fazendo.
O que mais temiam era que alguns dos oficiais graduados e outras pessoas
envolvidas em complementar a operação, percebendo o que se passava, fizessem
perguntas embaraçosas ou mesmo criassem um problema difícil de controlar.
Isso era pouco provável, uma vez que a maior parte dos homens só seria
informada da operação no último momento possível. E mesmo então, a rapidez e
eficiência, a barreira da língua e a ignorância dos cossacos dos termos do acordo
de Yalta, tudo isso contribuía para tornar quase impossível qualquer protesto
válido.
Tendo Chkuro sido removido sob guarda para longe do campo dos cossacos,
Krasnov e os outros precisavam ser vigiados, e foi esse obstáculo que criou a
“tática de fraude” que provocou tanta indignação naquela época e provoca até
hoje. Em 27 de maio, os cossacos que estavam em Lienz e os caucasianos que
estavam em Oberdrauburg foram convidados para uma conferência com o
marechal-de-campo Alexander em um local a leste de Oberdrauburg. Os
cossacos caíram na armadilha, entraram nos caminhões... e foram levados
imediatamente para uma gaiola de arame em Spittal. No dia seguinte, estavam
nas mãos dos soviéticos em Judenburg. Muitos foram mortos no local e o resto
enviado para a morte lenta nos campos do GULAG. Apenas Krasnov, Chkuro,
Ghirei e uns poucos líderes foram preservados para um destino especial.
As mentiras e artimanhas usadas para atrair homens a uma morte terrível têm
sido consideradas atitudes contrárias à honra militar britânica. Essa opinião
parece ser correta. Embora o decepcionante plano tenha sido transmitido pelo 5.°
Corpo ao brigadeiro Musson em Oberdrauburg, originou-se aparentemente entre
as autoridades britânicas, mas foi-lhe sugerido por seus colegas soviéticos.
É evidente que havia uma cooperação muito estreita entre a Smerch e o comando
britânico. Guardas armados da Smerch foram admitidos na área da 78.a Divisão
de Infantaria para impedir a fuga dos cossacos e uniram-se às tropas britânicas
na perseguição armada aos fugitivos que procuravam refúgio nas montanhas. O
grupo principal dos cossacos em Lienz foi informado sobre a repatriação
iminente por um oficial do QG da Divisão. A ordem começava da seguinte
forma:
O ardil que enganou os oficiais cossacos, fazendo que fossem pacificamente para
a morte, aparentemente foi também adotado pelo QG do 5.° Corpo por sugestão
da Smerch. Fazia parte dos métodos soviéticos a precaução de separar grupos
destinados à destruição por meio de falsos convites desse tipo. Algumas semanas
antes, o NKVD havia convidado dezesseis dos mais ativos líderes poloneses da
resistência para uma reunião com o marechal Jukov, e foram imediatamente
colocados em um avião que os levou para Moscou e para a Lubianka 16. Os
próprios detalhes da operação eram idênticos. Nos dois casos, foram usados
nomes de um respeitável comandante-em-chefe aliado. O NKVD insistira na
presença do general polonês Okulicki, comandante do exército da resistência.
Assim também, os ingleses tomaram precauções específicas para garantir a
entrega do general Krasnov. Em 28 de maio, um oficial do QG da Divisão foi ao
alojamento dos cossacos em Lienz para pedir a presença dos oficiais à
“conferência”, acrescentando: “Por favor, não se esqueçam de transmitir meu
convite ao velho Krasnov. Eu peço como um favor especial” 17.
Porém, não era o que parecia em 1945. O coronel Pulford, cujos Fuzileiros
Lancashire escoltaram os cossacos en route, registrou suas impressões, depois de
receber ordens do brigadeiro Musson: “Os russos estavam muito interessados na
devolução dos oficiais, muitos deles exilados czaristas”, escreveu ele no seu
diário de guerra 18. E uma moça russa, fora de Lienz, em 26 de maio ouviu
oficiais britânicos discutindo a operação — uma conversa onde os nomes de
Krasnov e Chkuro foram pronunciados com ênfase especial 19.
Cenas mais espantosas viriam a seguir. Devia ser evitado qualquer tipo de
seleção entre os cossacos e caucasianos do vale do Drau, pois isso alertaria os
soldados britânicos para a existência da crucial distinção entre eles. Além disso,
poria em perigo o objetivo central da operação. Os dois comandantes de
batalhões locais, o coronel Malcolm e o coronel Odling-Smee, não foram
informados pelo brigadeiro Musson de que apenas cidadãos soviéticos deviam
ser devolvidos. Não lhes foi permitido tomar conhecimento da cláusula que
acompanhava todas as ordens escritas referentes à operação, com a definição
exata do que era um cidadão soviético. Ao contrário, foi-lhes dito enfaticamente
que todos os russos, homens, mulheres e crianças do vale, deviam ser
despachados para a União Soviética. Embora reconhecendo que, “como há tantas
mulheres e crianças, é natural que se apiedem dessas pessoas”, as ordens da
brigada, em 27 de maio, acentuavam que a operação devia ser levada a efeito
eficientemente e do modo mais completo possível. Especialmente, como uma
ordem secundária, determinava que “qualquer tentativa de resistência deverá ser
resolvida com firmeza, atirando para matar”.
Essa ordem de seleção, como tudo o mais, não se encontra nos diários de guerra.
A razão é simples. Todas as ordens referentes à entrega dos cossacos continham
uma cláusula que excluía os cidadãos não-soviéticos. A existência de uma
instrução subsequente para começar a seleção provava que as instruções
anteriores eram letra morta e baixadas apenas com um objetivo, que só podia ser
fraudulento. Um mês depois, um relatório detalhado sobre a operação, redigido
pela 36.a Brigada de Infantaria, afirmava que
Essa declaração deve ter sido ridicularizada pelos oficiais do 8.° de Argyll ou do
6.° Real do Kent Ocidental, que acabavam de entregar exilados russos com
uniformes czaristas, vindos de Paris e de Belgrado, e, em alguns casos, falando
inglês fluentemente e ostentando condecorações britânicas. Não é preciso dizer
que o relatório não se destinava a eles, mas tinha o único objetivo de apresentar
um quadro falso para o caso de perguntas embaraçosas virem de cima.
Apresentaremos abaixo a prova, incompleta mas convincente, de que esses
temores não eram infundados.
“...Certo dia, o reverendo John Vaughan, capelão da Brigada Hamshire com base
em Graz, telefonou-me para perguntar se podia ajudá-lo. Seus homens estavam a
ponto de se amotinar. Eles o tinham procurado perguntando se os capelães
podiam fazer alguma coisa. Tinham recebido ordens para obrigar prisioneiros de
guerra russos-brancos, sob ameaça de baioneta calada, a embarcar para a
Rússia... Telefonei para o assistente do capelão-geral... GHQ, CMF, Caserta. Ele
ficou muito irritado com a notícia e imediatamente telefonou para o capelão-
geral, Canon Ll. [Lloyd] Hughes, no Ministério da Guerra. Não tenho certeza do
que aconteceu depois. O capelão-geral só podia ter acesso ao primeiro-ministro
através do ajudante-geral.
Essa parece uma reconstrução lógica dos fatos, ou pelo menos até onde nos
permitem as provas existentes:
Keightley explicou que não tinha autoridade para entregar russos que não fossem
cidadãos soviéticos, mas concordou em estudar o assunto. Voltou então para
Klagenfurt. Pediu aos seus comandantes de divisão uma relação dos cossacos e
outras unidades “russas” de dissidentes, em custódia, na área. Pediu
especialmente detalhes (se não os conhecia ainda) sobre os três generais cujos
nomes os russos haviam citado. A 78.a Divisão de Infantaria podia informar-lhe
que Krasnov e Ghirei estavam sob custódia da 36.a Brigada de Infantaria e que
eram exilados czaristas.
Isso implica necessariamente que Keightley era um mentiroso, pois sabia muito
bem que muitos dos cossacos não eram “cidadãos soviéticos”. Essa mentira, ele
a repetiu de forma mais elaborada dois meses depois. Perturbada pelos relatórios
sobre as cenas de barbarismo ocorridas em Lienz, Lady Limerick, da Cruz
Vermelha britânica, perguntou-lhe pessoalmente o que havia acontecido. Ele
negou sumariamente que tivesse havido violência na devolução dos cossacos. O
que houve foi um protesto brando, mas seus homens foram obrigados a “atirar
apenas ‘duas vezes’, e em nenhum dos casos atingiram pessoa alguma. Eles [os
cossacos] . . . concordaram em voltar ao território soviético com suas mulheres e
filhos”. Quanto às acusações de que muitos russos-brancos tinham sido
incluídos, Keightley “[disse] que não sabia e que era impossível descobrir —
pensava que poderia haver alguns, mas a única prova que tinham era o fato de
terem lutado no exército alemão, e nenhuma que provasse que eram russos-
brancos”.
28-29 de maio. Os oficiais cossacos são convidados para uma “reunião” com o
marechal-de-campo Alexander, e entregues à Smerch, em Judenburg.
1-2 de junho. A maior parte dos soldados rasos cossacos com suas mulheres e
filhos são embarcados em Lienz para a repatriação.
3 de junho. O 5.° Corpo determina pela primeira vez a seleção dos cidadãos não-
soviéticos.
Sem dúvida, essa “concessão” foi em parte sinal de gratidão pela entrega dos
cossacos. Mas parece incrível que a abertura da fronteira nessa zona continuasse
obstruída devido à retenção de três velhos generais russos-brancos. Nenhum
tratado anglo-soviético e nenhuma lei internacional teria aprovado esse acordo.
Se o acordo era tão vergonhoso que não podia ser conhecido pelo primeiro-
ministro e pelo SACMED, nem mesmo pelos soldados obrigados a executá-lo,
que tipo de pressão poderiam os russos ter exercido, se Macmillan e Keightley
não tivessem concordado com eles? Os americanos nunca pensaram em devolver
os russos sob sua custódia, e nenhum dos seus homens liberados pelo Exército
Vermelho deixou de voltar para casa.
A volta rápida dos prisioneiros de guerra ingleses certamente devia ser uma das
considerações dos homens que planejaram a morte de Krasnov. Mas o pacto
secreto feito entre o 5.° Corpo e a Smerch em Wolfsberg reflete claramente as
bases do acordo bem maior entre Eden e Molotov, em outubro de 1944, em
Moscou, e foi portanto orientado por considerações semelhantes. Em agosto de
1944, o secretário do Exterior, Anthony Eden, apresentou os argumentos a favor
da repatriação forçada, usando toda a persuasão de que ele e seus conselheiros
eram capazes. A consideração principal era de que “a recusa ao pedido do
governo soviético para a devolução dos seus homens provocaria sérios
problemas entre as duas nações”. Aparentemente, ele se referia a discussões
pouco prováveis sobre pontos de ordem nas conferências e à troca de notas
irritadas entre os dois ministros do Exterior.
Em 1945, teria parecido incrível que Nikolai Krasnov repetisse algum dia as
palavras ouvidas por ele na casa dos mortos. Mas isso aconteceu, e o livro de
Nikolai Krasnov nos dá uma visão incomparável do homem que, depois de
Béria, sabia mais sobre o serviço secreto soviético do que qualquer outro homem
vivo. “Esperei vinte e cinco anos por este feliz encontro com vocês!”, disse ele
com malévola satisfação; “a vitória está conosco, com os vermelhos. Como foi
em 1920, assim é agora. ..”
“Um tempo cortando árvores, um pouco de tempo no poço da mina com água até
a cintura. . . Suas pernas vão se transformar em macarrão — mas vão trabalhar!
A fome os obrigará!”
Merkulov deu uma gargalhada estrondosa, e passou para um novo tema:
“Mas o fato de vocês terem confiado nos ingleses — foi uma verdadeira
estupidez! Agora eles são os lojistas da história! Venderão alegremente qualquer
coisa ou qualquer pessoa, sem ao menos piscar os olhos. Sua política é a das
prostitutas. Seu Ministério do Exterior é um bordel, no qual se senta o chefe —
uma grande e diplomática ‘madame’. Eles negociam com as vidas de
estrangeiros e com a própria consciência. Quanto a nós, não confiamos neles,
coronel. Por isso tomamos as rédeas nas mãos. Eles não reconhecem que lhes
demos um xeque-mate, e agora são obrigados a dançar segundo nossa música,
como o último peão no tabuleiro”.
Merkulov não tinha limites para sua jactância. Seus mais antigos inimigos
haviam caído milagrosamente em suas mãos, e podia dar a eles uma rápida visão
do abismo que os esperava. “Sabem onde estão e com quem estão falando? Na
Lubianka! Com Merkulov! Sou o chefe aqui. Digo o que bem entendo!”25
Merkulov, por outro lado, sem dúvida sabia exatamente quem era o responsável
pela entrega dos velhos exilados. Sabia, na certa, que sua devolução nada tinha a
ver com o Acordo de Yalta; como o acordo secreto de Wolfsberg tinha sido
negociado por oficiais que trabalhavam para ele, devia estar a par dos menores
detalhes da transação. Ele tampouco tinha qualquer motivo para citar o
Ministério do Exterior, a não ser que a alusão fosse relevante.
Só podemos fazer conjeturas sobre o que teria levado Eden a tomar parte no
plano. Ele não era um homem muito humano, e talvez achasse que o sacrifício
ajudaria a amenizar a atmosfera das negociações do pós-guerra com Stalin. Se
foi esse o caso, ele se enganou.
Mais ou menos doze anos depois, Khrushchev permitiu que um pequeno número
de cossacos, que tinham conseguido sobreviver aos campos do Círculo Ártico e
da Sibéria, deixassem a Rússia. Algumas dezenas, no máximo, dos milhares
entregues em 1945, ressurgiram desse modo. Todos tinham passaportes
estrangeiros e por isso lhes foi permitido deixar o país. Isso significa também
que eram todos, sem exceção, homens que não deviam ter sido entregues,
segundo os termos do Acordo de Yalta. Com a saúde permanentemente
comprometida pelos indescritíveis sofrimentos, não conseguiram trabalho no
Ocidente e foram obrigados a sobreviver com o que lhes davam pessoas
caridosas. Afinal, começaram a ter esperança de que o governo britânico os
ajudasse. Foram feitos apelos, descrevendo em detalhe sua cidadania não-
soviética, sua entrega ao NKVD em 1945 pelo exército britânico, os terríveis
sofrimentos pelos quais tinham passado em campos como Vorkuta e Potma, e
sua situação atual. Como descreveu um deles, o capitão Anatol Petrovski:
“Os longos anos de sofrimento e separação dos meus parentes, quando fui
tratado como um criminoso nas minas da Sibéria, Vorkuta e outros campos,
acabaram com minha força e minha saúde. Como resultado, não posso trabalhar
e sou obrigado a viver como uma pessoa deslocada, recebendo apenas uma ajuda
simbólica da prefeitura.
Considerando que fui entregue aos soviéticos por meio de uma ação ilegal, uma
vez que o comando militar britânico sabia que eu não era cidadão soviético. . .
[Petrovski pedia que o governo britânico] me conceda auxílio material para
compensar os anos de prisão, de 1945 a 1956, recompensando-me pela perda da
minha saúde e permitindo que viva os anos que me restam sem enfrentar
privações.”
“Senhor,
“O camarada Stalin disse certa vez que, se não fizermos tudo isso rapidamente,
os ingleses e americanos nos massacrarão. Afinal, eles têm a bomba atômica e
uma enorme vantagem técnica e industrial sobre nós. São países ricos, que não
foram destruídos pela guerra. Mas reconstruiremos tudo com nosso exército e
nossa indústria, não importa a que preço. Nós, os tchekistas, não podemos nos
atemorizar com problemas e sacrifícios. Nossa sorte é que... os ingleses e
americanos, em suas atitudes a nosso respeito, ainda não ultrapassaram o estado
de namoro do pós-guerra. Eles sonham com a paz duradoura e a construção de
um mundo democrático para todos os homens. Parecem não compreender que
nós é que vamos construir o novo mundo, e o faremos sem suas receitas liberal-
democráticas. Todo o sentimentalismo deles faz o nosso jogo, e agradeceremos
por isso, no próximo mundo, com carvões em brasa. Nós os conduziremos a
impasses com que nem sonham. Nós os destruiremos e os corromperemos de
dentro para fora. Nós os embalaremos para dormir, esgotaremos sua vontade de
lutar. Todo o mundo ‘ocidental livre’ explodirá como um sapo esmagado por
nossos pés. Isso não acontecerá amanhã. Exigirá grande esforço de nossa parte,
grandes sacrifícios e renúncia total a tudo o que é trivial e pessoal. Nosso fim
justifica tudo isso. Nosso objetivo é grandioso, a destruição deste mundo velho e
desprezível” 4.
Fundos maciços foram desembolsados para alcançar esse grande objetivo. Por
todo o mundo não-comunista, e especialmente na Grã-Bretanha e Estados
Unidos, o NKVD empregou recursos quase ilimitados, humanos e financeiros.
Os comunistas estrangeiros estavam dispostos, em sua maior parte, a atuar como
agentes não-remunerados da União Soviética 5, mas de modo geral fazia parte
da política soviética convencer seus servidores a aceitar pagamentos por seu
trabalho6. Os objetivos gerais eram solapar o moral do Ocidente e a vontade de
lutar, obter informação militar e industrial e subverter pessoal que ocupava
cargos importantes no governo. No que se refere a esta última parte, o primeiro
objetivo era fazê-los passar informações secretas que interessassem aos
soviéticos. O segundo e mais importante era obrigá-los a obstruir, influenciar ou
dirigir a política dos seus países de modo a servir aos interesses da União
Soviética. Este último era o mais difícil, o mais compensador, mas, se fosse bem
sucedido, seria incalculavelmente benéfico aos objetivos soviéticos.
Enquanto alguns dos que colaboraram com o aparelho soviético eram, para todos
os efeitos, capazes e bem-equilibrados, a grande maioria aparentemente sofria de
vários defeitos de personalidade que os tornava potencialmente revoltados contra
as sociedades em que viviam. Hitler sabia como usar essas pessoas.
“Encontraremos esses homens, nós os encontraremos em todos os países”, disse
ele. “Não vai ser preciso suborná-los. Virão por sua própria vontade. Ambição e
ilusão, rixas partidárias e arrogância egoísta os trarão a nós. . . Confusão mental,
sentimentos contraditórios, indecisão, pânico: essas são nossas armas. . . aprendi
com os bolchevistas.” 8 Sua tática pagou dividendos, especialmente entre os
intelectuais, artistas, atores, jornalistas e outros 9. Assim, o serviço de
espionagem soviético era instruído para explorar o mais possível “a estupidez, a
cobiça, a incapacidade de perceber a situação real, sede por respeito ou pela
aparência externa do poder” 10. Alguns traidores do Ocidente tinham traços
atraentes de personalidade, e muitos outros demonstraram coragem e habilidade
a favor da causa do seu país de adoção. Alger Hiss e Bruno Pontecorvo 11, por
exemplo, conseguiram brilhante sucesso e levavam vida normal, quando não
estavam trabalhando para Béria.
(Não temos espaço para recapitular toda a história, portanto fazemos referência
ao livro do professor Allen Weinstein e comentários subsequentes de Sidney
Hook e outros. A investigação meticulosa do professor Weinstein dos
documentos publicados pelo FBI e nos relatórios sobre a defesa de Hiss, que
constam dos arquivos, mostram claramente que o relato de Whittaker Chambers
sobre o movimento comunista subterrâneo, no qual Hiss trabalhava, é exato; que
Hiss mentiu a respeito de sua associação com Chambers, e sobre a localização da
máquina de escrever na qual eram copiados os documentos roubados do
Departamento de Estado; que não há provas — como afirmaram os
companheiros de Hiss — de que sua condenação fosse devida a uma conspiração
de seus superiores; e que o fato de Chambers estar de posse dos incriminadores
“documentos pumpkin” só pode ser explicado de um modo: foram passados a ele
por Hiss. Como escreve Melvin J. Lasky, “agora a culpa de Alger Hiss. . . pode
ser comprovada”45.)
O que não sabemos hoje, talvez nunca venhamos a saber, é até que ponto Hiss
podia orientar a política dos Estados Unidos em canais vantajosos para Stalin.
Na Conferência de Yalta, foi notado que ele “tinha a atenção do sr. Stettinius”, o
honesto mas inexperiente secretário de Estado 46. Mas não há nenhuma prova de
decisões orientadas em sentido subversivo47, e se isso aconteceu foi
necessariamente feito com extrema cautela e somente quando se apresentava
uma oportunidade segura. Stalin certamente estava recebendo cópias dos
telegramas secretos dos Estados Unidos, nessa época48, e pode ser que o
principal benefício que ele auferia dos seus traidores colocados em altos postos
no Ocidente fosse a imensa superioridade da sua diplomacia extremamente bem-
informada, comparada à dos americanos 49.
Outro traidor que ocupava cargo importante em Washington era Harry Dexter
White, secretário assistente do Tesouro. White estava em posição privilegiada
para influenciar as diretrizes dos Estados Unidos, e seu caráter ativo
frequentemente lhe permitia manejar decisões importantes. Várias diretrizes
defendidas por ele eram favoráveis aos interesses soviéticos, especialmente seu
apoio ao famigerado Plano Morgenthau, que teria reduzido a Alemanha do pós-
guerra a uma economia pastoral de fome, pronta para a anexação soviética50.
Como Hiss, White usou sua influência para colocar outros simpatizantes dos
soviéticos em postos-chave51, e fornecia informação a Béria.
Homens como Alger Hiss e Harry Dexter White estavam em situação de ajudar
os esforços determinados de Stalin para suplantar os aliados ocidentais no
confronto que teve como resultado a queda da Alemanha. Mas as diretrizes
governamentais raramente são ditadas pela influência ou decisão de um único
homem, e o papel desses homens era o de reforçar tendências já existentes na
opinião oficial, para favorecer as exigências soviéticas, mais do que tomar
decisões-chave a favor dos soviéticos. Mas sua influência era considerável, e
tudo parece indicar que tinham outros colaboradores em cargos importantes,
cujas identidades continuam desconhecidas até hoje. Sob a liderança do
presidente Roosevelt, a política americana em relação à União Soviética foi
inevitavelmente mal conduzida em muitos setores, tornando-se presa fácil de
influências perniciosas.
Além dos “grandes peixes” como Hiss e White, que negaram sua culpa
insistentemente mas sem conseguir convencer52, havia uma multidão de agentes
de menor importância e traidores, muitos dos quais foram condenados por seus
crimes 53. Os que prestaram maior serviço ao inimigo foram talvez os que
entregaram os segredos da bomba atômica a Béria, adiantando em muitos anos a
posse dessa arma mortal pelos soviéticos 54. Sua história é muito bem
documentada e não precisa ser repetida. É mais interessante considerar a conduta
dos grandes homens, cujas ações não chegaram a ser traição, mas que
forneceram os motivos básicos para que fossem convencidos a usar seus poderes
a favor da política opressora e expansionista de Stalin.
A União Soviética, desde o berço, dedicou todos os recursos daquele vasto país à
promoção de um único objetivo: a preservação do poder e dos privilégios dos
bolchevistas. Embora a economia soviética tenha permanecido, em toda a sua
história, em péssimas condições, os recursos do Estado para qualquer objetivo
imediato e específico sempre foram quase ilimitados. O suborno e a corrupção
são armas de penetração e esmorecimento dos Estados capitalistas, e milionários
sucumbiram à tentação com a mesma facilidade (ou talvez mais facilmente) de
um empregado indigente do Almirantado.
Outro exemplo desse tipo de intercâmbio, bem mais duvidoso, nos é dado por
Joseph E. Davies, um rico advogado de Washington nomeado por Roosevelt
embaixador em Moscou, de 1937 a 1938. Uma doação de quinze mil e
quinhentos dólares para o fundo da campanha de Roosevelt, em 1936, em nada
contribuiu para diminuir suas chances, embora suas qualificações gerais para o
posto incluíssem uma ignorância praticamente completa sobre a história russa,
sua política e sua língua. O que o interessava realmente eram os objetos antigos
da Rússia e seus tesouros de arte. Sua mulher, Marjorie Merriweather Post, era
herdeira da fortuna feita com Grape Nuts, Post Toasties, Jell-0 e assim por
diante, e considerava que os tesouros históricos russos podiam dar um polimento
ao dinheiro dos Grape Nuts. O tempo que passaram na embaixada em Moscou
foi uma longa excursão de compras, e os caixotes de antiguidades russas
atravessavam o oceano todos os meses para a elegante mansão da sra. Davies,
em Rock Creek Park.
Os Davies gastaram muito dinheiro na União Soviética, na época em que os
fracassos do Plano Quinquenal haviam deixado o país extremamente necessitado
de dólares. Mas não foram apenas dólares o que Stalin comprou com o enorme
acervo da herança da Rússia. O embaixador Davies recebeu tratamento especial:
os preços eram frequentemente muito baixos, muita coisa lhe foi dada de
presente, e galerias famosas, como a Tretiakov, foram privadas de tesouros sem
preço, em seu benefício. Nas lojas intermediárias (onde as famílias arruinadas
vendiam seus bens para sobreviver), Davies observava com prazer enquanto seus
guias do NKVD compravam um quadro de cinco mil por oitocentos rublos.
Naturalmente, Stalin esperava, e com certeza conseguiu, algum serviço em troca.
Era o período crítico dos expurgos, quando Stalin sentia que seu regime estava
suspenso por um fio de cabelo, quando somente rios de sangue podiam preservar
sua ditadura. Davies lançou-se com energia numa campanha voluntária para
justificar as mais incríveis distorções da verdade e as mais sanguinárias
sentenças. Seu famoso livro, Missão em Moscou, é uma apologia de todos os
excessos de Stalin. Toda crítica contrária foi eliminada, a tal ponto que certas
censuras brandas que anotara em seu diário não foram publicadas.
Porém, não é tão fácil explicar um serviço especial prestado logo depois da
nomeação de Davies para a embaixada. Cedendo a pressões não identificadas, da
Casa Branca, a divisão russa do Departamento de Estado foi abolida, e sua
coleção excepcional de material sobre a União Soviética foi interrompida ou
destruída. Não foi apresentada nenhuma razão para esse ato aparentemente
contrário às circunstâncias, quando os Estados Unidos e a URSS pareciam cada
vez mais envolvidos mutuamente nos seus assuntos de Estado. Parece que a
divisão russa, dirigida por seu diretor estudioso, Robert F. Kelly, sabia mais do
que devia saber, e geralmente recomendava atitudes mais firmes em relação à
truculência russa do que convinha a certas pessoas. Como escreveu George F.
Kennan:
Como ficou sabendo um oficial cossaco, depois de ter sido entregue para o
NKVD na Áustria, aquele curso de ação representava “um esforço para assustar
todos aqueles que ainda levavam no coração a esperança de uma libertação — os
reacionários da União Soviética e do exterior. Era prova também de que a União
Soviética podia dragar seus inimigos do fundo do mar e puni-los com a morte, e
que o mundo livre, como Pôncio Pilatos, lavaria as mãos”. E um ex-oficial do
exército de Vlassov confessou sombriamente que a traição dos Aliados evitaria
novas deserções 72. Um oficial da Smerch, que tomou parte na operação,
acentua o valor da propaganda interna para Stalin: “Naturalmente, para os
soldados soviéticos e a população, o NKGB e a máquina de propaganda
soviética exploraram ao máximo essas extradições”. Ex-soldados russos
devolvidos pelos ingleses e americanos foram “espancados até se transformarem
em uma massa informe” e expostos às unidades do Exército Vermelho como
uma advertência. A impressão era de que o poder soviético fosse irresistível, e o
Ocidente, abjetamente fraco73.
Por um momento breve mas sangrento, a guerra secreta de Stalin contra o povo
russo recebeu ajuda direta de simpatizantes que ocupavam altos cargos no
governo do Ocidente. Se seus motivos permanecem em segredo, suas ações são
bem evidentes. O povo russo foi conduzido de volta às trevas, a doninha
ajudando o lobo. Como observou Bertram Wolfe, tal é
“...a essência do totalitarismo: sua guerra dupla — uma guerra infindável contra
o próprio povo para refazê-lo à imagem dos seus planos para o espírito do
homem; e guerra contra o resto do mundo para conquistá-lo para o infalível e
inevitável sistema comunista. Na verdade, as duas guerras estão
inseparavelmente unidas: um regime que não dá ao próprio povo a paz não dará
a paz ao mundo” 74.
A política soviética tem alternado uma extrema cautela — até mesmo covardia
— com planos de agressão de longo alcance. Mas enquanto essa política for
conduzida com malevolência e falta de escrúpulo, o mundo civilizado não tem
outra alternativa senão reconhecer isso e estar vigilante para enfrentar o pior.
Epílogo
Porém, quando a expansão soviética foi restrita a limites severos pelo sistema de
alianças, da OTAN à SEATO, e quando estas, por sua vez, foram seguidas pelos
drásticos reveses americanos no Vietnã, surgiu uma nova escola de historiadores
“revisionistas”. Os revisionistas tendem a defender o ponto de vista de que
foram as diretrizes superopressoras dos Estados Unidos que provocaram as
atitudes hostis e obstrucionistas da União Soviética. Especialmente a absorção
de países antes independentes na Europa oriental foi vista como uma reação
defensiva natural, com o objetivo de formar um baluarte para bloquear a rota de
invasão dos inimigos da Rússia.
A opinião dos revisionistas foi em parte uma reação saudável contra as
explicações simplistas do período anterior de tensão. O poder militar e
econômico soviético sem dúvida fora exagerado, e a força preponderante da
América, subestimada. Além disso, era pouco provável que o “mundo livre”
fosse motivado unicamente por esperanças altruísticas de benefícios
democráticos para todos os povos.
Porém, com a ausência total de qualquer coisa que pelo menos se pareça com a
opinião pública, na Rússia, os conceitos de “Rússia” e de “russos” têm pouco
significado nesse contexto. Era o próprio Stalin que tomava todas as decisões.
Não se preocupava com ambições nacionais tradicionais, mas apenas com a
preservação da sua autoridade e da sua pessoa. Um artifício que usava com
muita frequência era o de se fazer passar por moderado, resistindo à linha dura
dos elementos do Politburo ou outros5. Na verdade, seus companheiros de
governo e seus subordinados não tinham poderes independentes de decisão, além
daquilo que, esperavam temerosamente, pudesse antecipar as diretrizes do chefe.
Dentro das limitações naturais que restringem até o mais absoluto ditador, a
política soviética refletia as esperanças e os temores pessoais do próprio Stalin.
Naturalmente, ele também conhecia as considerações históricas e era
influenciado por elas, mas qualquer tendência a escrever em termos impessoais
sobre a “Rússia” e os “russos”, procurando este ou aquele objetivo, é ilusória.
O Drang nach Westen de Stalin foi uma mistura curiosa de ousadia e cautela. A
corrida para garantir Budapeste e Berlim custou enormes perdas. A guerra foi
prolongada por mais um dia para que os tanques soviéticos entrassem a tempo
em Praga; e uma corrida frenética para tomar a Dinamarca (e o controle do
Báltico) foi interrompida pela chegada das forças de Montgomery em Lübeck,
apenas algumas horas antes 12.
Em 1945, a Rússia não tinha ainda uma força aérea estratégica, e sem dúvida
Stalin via com apreensão a impressionante força sob o comando de Eisenhower.
Em abril de 1944, ele havia advertido seu estado-maior de que a derrota da
Alemanha não significava o fim dos seus problemas. Havia outros perigos de
mesma magnitude; especialmente a exposição do Exército Vermelho às
populações hostis ao comunismo e a solidificação das relações com os aliados
ocidentais18. Nesse meio tempo, na Ucrânia, Bielo-Rússia e nos países bálticos,
guerrilheiros nacionalistas estavam lutando contra o Exército Vermelho e as
unidades do NKVD, numa escala que fazia lembrar os dias mais amargos da
guerra civil. Stalin temia que os aliados ocidentais tivessem a astúcia de usar o
trunfo que os alemães obtusos não tinham percebido: a oposição do povo russo
ao regime. A extensão desse temor pode ser medida por sua recusa absoluta em
consentir que os ingleses fornecessem armas às sentinelas russas nos campos de
prisioneiros de guerra, ou mesmo em recrutá-los em uma “unidade armada
aliada” puramente nominal. Tinha medo de que isso servisse de pretexto para a
formação de um novo “exército de Vlassov” 19.
Cautela era tudo. Ainda não conseguia acreditar que o Ocidente aceitasse
sinceramente a possibilidade de uma cooperação genuína, depois da guerra, entre
os dois sistemas irreconciliáveis. O resultado da Conferência de Teerã parecia
bom demais para ser verdade (Stalin voltou ao Kremlin “muito bem disposto”) e,
depois de Potsdam, um funcionário notou que “os diplomatas soviéticos
conseguiram concessões dos aliados ocidentais que os próprios diplomatas não
esperavam”. Depois da derrota da Alemanha, Stalin temera que os americanos
não respeitassem a linha de demarcação, e estava convencido de que
Eisenhower, se quisesse, podia ter tomado Berlim. Porém, os Aliados estavam
cooperando, não importava a razão, e como Roosevelt havia declarado com
muita irresponsabilidade em Yalta que as forças dos Estados Unidos se
retirariam da Europa dois anos depois da vitória, havia um incentivo para a
política do “devagar se vai ao longe”20.
De qualquer modo, Stalin não estava tão confiante como essa visão retrospectiva
pode fazer crer. Na Polônia, o sequestro e julgamento cuidadosamente planejado
de dezesseis líderes do Exército Nacional do movimento da resistência, em
março de 1945, sugere que, em sua opinião, a resistência polonesa à imposição
do domínio soviético representava um perigo que justificava o risco do
inevitável protesto do Ocidente.
A guerra civil manteve-se latente, com lampejos mais acentuados aqui e ali,
durante anos, nas regiões evacuadas pelos alemães. Um historiador soviético
estimou o número de soldados soviéticos mortos pelos guerrilheiros lituanos, nos
anos de 1944-48, em cerca de vinte mil, e o próprio Khrushchev admitiu que,
“depois da guerra, perdemos milhares de homens numa luta feroz entre
ucranianos nacionalistas e as forças do governo soviético” 26.
Nos oito anos decorridos entre o Dia da Vitória e a morte de Stalin, o ditador
demonstrou uma crescente inveja, espírito de vingança e despeito. O medo dos
soviéticos e dos povos dominados pelos soviéticos, a desconfiança no poder dos
Estados Unidos, a apreensão pela chegada da velhice com todas as suas
perigosas fragilidades e os acessos repetidos de suspeita paranoica concorreram
para fazer que dobrasse e redobrasse as precauções necessárias para sua
sobrevivência e a do regime.
O perigo pairava por toda parte. A URSS estava isolada numa quarentena mais
hermética do que antes da guerra. Os tentáculos do NKVD estendiam-se para
massacrar dissidentes em potencial antes mesmo que estivessem conscientes das
próprias intenções. Judeus, biólogos heréticos, compositores burgueses, críticos
das teorias genéticas excêntricas de Lisenko, defensores das especulações
filológicas, mais estranhas ainda, de Marr . . . todos, todos estavam envolvidos
em conspirações tão tenebrosas que somente o Líder podia penetrar esse arcano.
Como o abade cisterciense do século XIII, Eichalm, ele via influências nocivas
espreitando atrás de qualquer motivo de inquietação.
“Se ele se sentia entediado, tinha certeza de que era obra de agentes demoníacos.
Se aparecia uma ruga no seu nariz, se seu lábio inferior ficava pendente, os
demônios eram responsáveis; uma tosse, um resfriado comum, um pigarro, um
escarro, só podiam ter origem sobrenatural e demoníaca” 27.
Mas Stalin não estava louco, nem mesmo no fim, quando a morte interrompeu a
realização da famigerada “conspiração dos médicos”. Como diz Adam Ulam, “a
loucura estava no sistema que concedia poder absoluto a um homem e permitia
que acalmasse qualquer suspeita ou satisfizesse qualquer capricho com sangue”
28. Sua juventude fora toda envolta em uma atmosfera de conspiração. Roman
Malinovski, um dos mais capazes companheiros de Lenin, era comprovadamente
um espião czarista. E agora os arquivos do NKVD tinham os nomes de inúmeros
homens e mulheres que ocupavam altos cargos nos países capitalistas, que
tinham conseguido enganar os formidáveis serviços secretos ingleses e
americanos para trair sua classe e seu país. Enquanto Stalin sorria divertido com
a cegueira dos seus inimigos, o desagradável corolário devia lhe ocorrer com
frequência: quantos dos seus cidadãos estariam secretamente trabalhando para
“os cavalheiros do Tâmisa”? E se um dos seus amigos mais íntimos — Molotov,
Mikoian ou Vorochilov, por exemplo — fosse espião inglês... ou assassino29?
Qual era a realidade desses planos? Tudo sobre a carreira de Stalin sugere
cautela e até covardia como fatores predominantes de sua personalidade. Apenas
uma vez, sob sua liderança, a União Soviética arriscou-se a começar uma guerra
sem provocação (se excluirmos a marcha, sem resistência, através do leste da
Polônia em 1939), e a guerra contra a Finlândia não foi um precedente muito
propício. Naturalmente, o Exército Vermelho de 1945 não pode ser comparado
ao seu débil predecessor de 1940, mas o poderio militar dos Estados Unidos
tampouco podia ser comparado ao dos finlandeses. O Exército Vermelho era o
mais poderoso instrumento de guerra no continente europeu, mas os Estados
Unidos tinham imensa superioridade no ar e no mar. Acima de tudo, tinham a
bomba atômica 34.
O governo e a opinião pública dos Estados Unidos demoraram para reagir à nova
ameaça, mas o discurso de Churchill sobre a “cortina de ferro” de Fulton, em
março de 1946, anunciavam uma nova era de vigília. Aparentemente, recebeu a
aprovação tácita do presidente Truman, e em poucas semanas, a União Soviética
inesperadamente sucumbiu à pressão e retirou suas tropas do norte da Pérsia.
Qualquer tentativa no sentido de forçar a Grécia para a órbita soviética foi
também abandonada, por temor de provocar um conflito com o Ocidente. Em
setembro de 1946 foi feita uma advertência decisiva quando o secretário de
Estado Byrnes, falando em Stuttgart, prometeu que as “forças americanas de
segurança provavelmente teriam de permanecer na Alemanha por um longo
tempo. Não quero que haja interpretações errôneas. Não negligenciaremos nosso
dever. Não estamos em retirada”35.
A criação de uma psicologia de guerra, por Stalin, tinha como principal objetivo
facilitar o isolamento da URSS do mundo exterior, embora visasse também à
preparação do povo para a guerra, se fosse o caso.
Foi sob essa atmosfera tensa que, segundo dizem, houve uma reunião
extraordinária no Kremlin. Em 1976, um funcionário tcheco, Karel Kaplan,
passou para o Ocidente, levando com ele um dossiê espantoso. Em 1968, durante
a “Primavera de Praga”, Kaplan fora encarregado pelo primeiro-ministro Dubcek
de examinar os arquivos do Partido para uma investigação dos “julgamentos de
traidores”, instituídos pelo governo comunista depois do golpe de 1948. Kaplan
trabalhou durante quatro meses nos arquivos, tomando notas extensas. Houve
então a invasão soviética, e a maior parte de suas notas foi confiscada. Mas ele
tomara providências para esconder outras, e de algum modo conseguiu
contrabandear seis mil páginas para o Ocidente. Muitas revelações fascinantes
originaram-se dessa única fonte, sendo a mais extraordinária o relato do encontro
realizado no Kremlin em janeiro de 1951.
Parece certo que a terceira guerra mundial nunca esteve tão próxima quanto em
1951, e que a sobrevivência da civilização estava dependendo do capricho de um
homem morbidamente desconfiado e amargo, cuja carreira testemunhava a
pouca importância que tinha para ele a morte de milhões, se estivessem no
caminho da implantação do seu nirvana marxista. Felizmente, sua cautela
habitual predominou, embora depois de muita indecisão e perturbação mental.
Pode parecer estranho que o líder que havia descartado relutantemente a idéia de
usar o poderio militar contra a Iugoslávia, em 1948 42, três anos mais tarde
tivesse pensado em atacar a recém-formada aliança da OTAN. Mas é a exceção
que prova a regra. A Iugoslávia estava pobre e isolada, mas sua luta durante a
guerra provara que possuía capacidade marcial e vantagens geográficas
comparáveis às dos obstinados finlandeses de 1940. Seria a guerra de todo um
povo contra o agressor externo, e quem poderia dizer quais as complicações
internacionais que adviriam se o Exército Vermelho ficasse atolado nas
montanhas da Bósnia?
Por outro lado, Stalin acreditava que a Europa ocidental estava minada por
conflitos internos. Os enormes partidos comunistas da França e da Itália
representavam um verdadeiro cavalo de Tróia dentro da cidadela. Suas
vociferantes exigências, ao lado das dos simpatizantes e dos pacifistas no mundo
todo, sugeriam ao Vojd que as massas preferiam o domínio soviético ao dos
Estados Unidos. Em 7 de agosto de 1946, uma delegação do Partido Trabalhista
britânico, contrária ao que classificava de política antissoviética do secretário do
Exterior, Bevin, tivera uma audiência com Stalin, no Kremlin. Enquanto os
excitados delegados assistiam a um filme sobre sua vida numa fazenda coletiva,
Stalin saiu da sala escura com o famoso ideólogo socialista Harold Laski.
Seguiu-se uma conversa conspiratória, Stalin explicando que um continente
dominado pelos soviéticos poderia permitir que a Grã-Bretanha continuasse
(com limitações) com seu tipo de socialismo. Antes disso, Laski expressara sua
convicção de que, no caso de desentendimentos entre a URSS e os Estados
Unidos, a Grã-Bretanha apoiaria a Rússia43.
O fato de a guerra ter sido afinal evitada não desculpa a conduta de Laski e de
outros simpatizantes na Europa ocidental e na América. Tem havido muita
condenação complacente dos motivos dos “homens culpados de Munique”. Mas
Chamberlain e seus companheiros, por mais ingênuas que fossem suas
expectativas e por mais errada que tenha sido sua política, repeliam sinceramente
o totalitarismo nazista e queriam desesperadamente conter sua expansão. Laski e
a maioria dos simpatizantes e comunistas, por outro lado, não só apoiaram
ardentemente os piores excessos de Stalin44, como também agiram
calculadamente para levar o mundo às portas da guerra. Se Stalin se afastou
dessa porta, não foi graças a eles. E o que essa guerra nos traria foi resumido em
uma conversa entre dois generais do exército:
A Europa foi assim poupada por mais algum tempo das experiência sofridas
pelos russos por mais de trinta anos. Stalin morreu em 5 de março de 1953, com
seu projeto não realizado. Sua morte abriu por um momento aos seus sucessores
a terrível visão da realidade. Uma notícia sobre o acontecimento, no Pravda, dois
dias depois, insistia, em tons que lembravam o apelo do próprio Stalin ao povo
russo em 3 de julho de 1941, “na inadmissibilidade de qualquer desordem ou
pânico”. Entretanto, as precauções tomadas pelo NKVD deram resultado, e as
“desordens” foram. . . adiadas46.
Notas
Abreviações
AIR Ministério do Ar
CAB Ministérios
FO Ministério do Exterior
WO Ministério da Guerra
Introdução
1. Stanislaw Mikolajczyk, The pattern of Soviet domination, Londres, 1948, p.
144.
2. Heinz Höhne, The order of the death’s head: The story of Hitler’s SS,
Londres, 1969, p. 297. Em 27 de setembro de 1939, Heydrich podia informar
que “dos poloneses das classes superiores apenas um máximo de três por cento
está ainda presente” (p. 299).
3. Aleksandr I. Soljenitsin, The mortal danger: How misconceptions about
Rússia imperil the West, Londres, 1980, pp. 70-1.
I. A nova sociedade
1. Cf. Leszek Kolakowski, Main currents of marxism: Its rise, growth and
dissolution, Oxford, 1978, I, p. 363.
2. Citado por A. Walicki, The controversy over capitalism: Studies in the social
philosophy of the Russian populists, Oxford, 1969, p. 51. Sobre a fantástica
visão de Trotsky do tipo de arte universal, que o comunismo deveria implantar:
Jean van Heijenoort, With Trotsky in exile, Harvard, 1979, p. 128; Kolakowski,
op cit., III, pp. 51-2.
5. Ibid., II pp. 489-90, 498; III, pp. 50-1, 54-6. A rejeição de Trotsky às
restrições legais era mais violenta e extremada (ibid., II, pp. 509-12).
6. Leonard Schapiro e Peter Reddaway (eds.), Lenin: The man, the theorist, the
leader; a reappraisal, N. York, 1967, p. 137; Van Heijenoort, op. cit., p. 84. Cf.
Bertram D. Wolf, Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, pp. 288-94.
9. Merle Fainsod, How Rússia is ruled, Harvard, 1953, pp. 294-8, 309-11, 313-
22.
10. Kolakowski, op. cit., II, p. 506.
12. Merle Fainsod, Smolensk under Soviet rule, Londres, 1958, pp. 93-6; e da
mesma autora, How Rússia is ruled, pp. 325-6; Peter Deriabin e Frank Gibney,
The secret world, Londres, 1969, p. 116.
13. Fainsod, How Rússia is ruled, pp. 292, 314, 323-4; David Caute, The fellow-
travellers: A PostScript to the enlightenment, p. 83-5.
14. Kolakowski, op. cit., III, pp. 87-8, 95-7; cf. Adam B. Ulam, Stalin: The man
and his era, Londres, 1974, p. 387.
15. Boris Bajanov, Bajanov révèle Staline: Souvenirs d’un ancien secrétaire de
Staline, Paris, 1979, p. 107; Werner Maser, Hitler, Londres, 1973, pp. 260-1;
Hermann Rauschning, Hitler speaks: A series of political conversations with
Adolf Hitler on his real aims, Londres, 1939, p. 236. Para exemplos da realidade
constitucional soviética, comparar Vladimir Petrov, My retreat from Rússia,
Yale, 1950, pp. 62-3; e do mesmo autor, Escape from the future: The incredible
adventures of a young Russian, Indiana, 1973, pp. 168-9.
17. Fainsod, Smolensk under Soviet rule, p. 60. A casa onde Stalin passou sua
infância, em Gori, o lar de um pobre sapateiro no tempo da Rússia imperial,
despertava a inveja dos visitantes soviéticos depois que foi transformada em
museu. Ver Edward E. Smith, The young Stalin: The early years of an elusive
revolutionary, Londres, 1967, p. 18; Eugene Lyons, Assignment in Utopia,
Londres, 1937, pp. 87-9. Chostakóvitch notou que um apartamento “podia
abrigar dez ou quinze famílias” (S. Volkov, ed., Testimony: The Memoirs of
Dimitri Shostakovich, Londres, 1979, p. 68. Para uma avaliação feita durante a
guerra da situação habitacional de Moscou, ver CAB 66/54, 128.
18. Kravtchenko, op. cit., pp. 324-5. Ver também o testemunho do professor
Lagovski do Instituto Kharkov, em Le procès Kravtchenko, op. cit., p. 383; e o
relato em Ekart, op. cit., p. 64.
19. Lyons, op. cit., pp. 361, 413-14; NA 861.00/11855, RG 165, box 3438.
Comparar a miserável condição dos operários das fábricas vista por um polonês
em uma cidade da Ásia central, em 1942: Czapski, The inhuman land, Londres,
1951, p. 228.
20. Fainsod, How Rússia is ruled, pp. 82-90, 513-14; Kolakowski, op. cit., III, p,
21. Bukharin também acreditava na mobilização do trabalho (ibid., p. 29).
21. Fainsod, op. cit., p. 107. Os operários de uma usina elétrica em Moscou,
quando chegavam com mais de vinte minutos de atraso, tinham um desconto de
vinte e cinco por cento sobre seus salários durante os seis meses seguintes. Se
repetissem a falta uma semana depois, eram enviados para o campo de trabalho
forçado em Rebisk por seis meses (Le procès Kravtchenko, op. cit., pp. 199,
235-6). Sobre o irrisório poder aquisitivo do salário de um trabalhador na URSS,
ver ibid., pp. 213-14. Cf. Unto Parvilahti, Beria’s gardens: Ten years’ captivity
in Rússia and Sibéria, Londres, 1959, p. 172.
22. Andrew Smith, I was a Soviet worker, Londres, 1937. Para outro relato
franco de um viajante inglês, ver FO 371/29498. Compare-se o relato do
correspondente em Moscou do Daily Herald in CAB 6, 127-8; as impressões do
general Jacob (Arthur Bryant, The turn of the tide 1939-1943, Londres, 1957,
pp. 468-9) e Ismay (The memoirs of the general the Lord Ismay, Londres, 1960,
p. 231); Lyons, op. cit., p. 413; e as memórias de Leonid Pliuchtch: History's
carnival, Londres 1979, pp. 3, 9.
26. Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of
stalinism, Londres, 1971, p. 394. Soljenitsin sugere que o uso econômico da
escravidão foi sugerido a Stalin, em 1929, por Naftali Frenkel, um funcionário
sádico do GULAG (Soljenitsin, op. cit., II, pp. 75-77). O criador não-
identificado de Medvedev pode ser o mesmo homem.
27. Conquest, op cit., pp. 356-9; Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 88-92, 105-7;
Kravtchenko, op. cit., pp. 198-9, 279, 284-5, 295-7, 315-24, 328, 336-41, 404-8,
414-16; Parvilahti, op. cit., pp. 111-12; Josef Scholmer, Vorkuta, Londres, 1954,
p. 212; Le procès Kravtchenko, op. cit., p. 408; Nikolai Krasnov, The hidden
Rússia, N. York, 1960, p. 70. O NKVD foi informado, do número de escravos de
que o governo precisava, e então sequestrou as cotas requisitadas entre a
população “livre”; cf. Le procès Kravtchenko, pp. 527-30.
28. Fainsod, op. cit., pp. 385-7; Comitê da União do Trabalho Livre, Federação
Americana do Trabalho, Slave labor in the Soviet world, N. York, 1951, pp. 5,
18-19. Esses números foram confirmados por um ex-funcionário do gosplan que
testemunhou perante uma comissão de inquérito das Nações Unidas sobre
trabalho forçado, em 1950 (Albert Konrad Herling, The Soviet slave empire, N.
York, 1951, pp. 13-18); S. Swianiewicz, Forced labour and economic
development, Oxford, 1965, pp. 23, 42-4; Elma Dangerfield, Beyond the Urais,
Londres, 1946, pp. 52-3, 72.
29. Stanislaw Kot, Conversations with the Kremlin and dispatches from Rússia,
Londres, 1963, p. 86.
30. Alex Weissberg, Conspiracy of silence, Londres, 1952, pp. 314-15, 319-20.
Esses números concordam de certa forma com a observação feita por Ivanov-
Razumnik de que a população da prisão Butirki em Moscou decuplicou de 1933"
a 1939 (The memoirs of Ivanov-Razumnik, Londres, 1965, p. 224; cf. ibid., pp.
70-2). Robert Conquest calcula o total em cerca de oito milhões (The great
terror, pp. 335, 529-33). Outra fonte estatística acessível aos prisioneiros vinha
dos funcionários que entregavam suas rações de pão (Hans Becker, Devil on my
shoulder, Londres, 1955, p. 176). Baseado em informantes soviéticos, Eugene
Lyons calculou um total de cinco a dez milhões (Stalin: Czar of all the Russias,
Londres, 1940, pp. 166-70; cf. Fainsod, op. cit., pp. 386-6).
32. Zoltan Toh, Prisoner of the Soviet Union, Londres, 1978, pp. 34, 58; Gustav
Herling, A world apart, Londres, 1951, p. 9. Um ex-prisioneiro, que esteve nos
campos e nas prisões em toda a Rússia de 1923 a 1946, declarou que a opinião
pública calculava a população dos campos em dez a doze por cento do total, isto
é, de dezenove a vinte e três milhões de almas. “Em sua opinião, há mais
prisioneiros do que isso” (NA Decimal Files, 861.00/10-246). O cálculo
fornecido por Joseph Czapski varia entre dezesseis e trinta e cinco milhões (The
inhuman land, p. 53). Cf. Krasnov, op. cit., pp. 107, 131, 202, 220. Viktor
Kravtchenko acreditava que devia haver entre quinze e vinte milhões (I chose
freedom, p. 302); um ex-prisioneiro, Joseph Scholmer, calcula em quinze
milhões (Vorkuta, p. 191), bem como Soljenitsin (ApxuneA'az TyAaz, II, p.
201).
33. Elinor Lipper, Eleven years in Soviet prison camps, Londres, 1951, p. 280;
Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres, 1956, pp. 100-1. O dr.
Julius calcula em “dez a quinze milhões de pessoas” (Dallin e Nicolaevsky, op.
cit., p. 31).
34. Cf. Mikhail Rozanov, 3aeoeeameMi õeAbix nnmen (Limburg, 1951), p. 234;
Bernhard Roeder, Katorga: An aspect of modern slavery, Londres, 1958, p. 197;
Parvilahti, op. cit., p. 62; Robert Conquest, Kolyma: The Arctic death camps.
Londres 1978, p. 83. Roy Medvedev faz uma advertência sobre a aceitação
superentusiasta de estatísticas exageradas em geral: On Stalin and stalinism,
Oxford, 1979, pp. 140-1.
35. Conquest, op. cit., pp. 214-17; Lipper, op. cit., p. 158. Dallin e Nicolaevsky
acentuam os vários fatores que influenciam as estimativas (Forced labor in
Soviet Rússia, pp. 84-7) e estima cautelosamente que dezesseis por cento da
população de adultos era de escravos (ibid., p. 87). As fontes soviéticas
aceitaram uma estimativa de dezoito milhões, mas não concordaram com vinte
milhões: Arthur Koestler, The yogi and the commissar and other essays,
Londres, 1945, pp. 181-2,185-6. Dmitri Panin relaciona algumas das fontes de
estimativa acessíveis aos prisioneiros e conclui que em 1939-41 havia quarenta
milhões de escravos, reduzidos, em 1943, a catorze milhões (The notebooks of
Sologdin, Londres, 1976, pp. 90-3).
36. Ekart, op. cit., p. 44; Czapski, op. cit., pp. 34, 35. Cf. Petrov, Escape from
the future, pp. 97-117; Toth, op. cit., pp. 28-9; Margarete Buber, Under two
dictators, Londres, 1949, pp. 58-66; Conquest, op. cit., pp. 19-35; Nikolai
Tolstoy, Victims of Yalta, Londres, 1978, pp. 406-8; Lipper, op. cit., pp. 76-85,
291-3. Em 1933, um navio com trezentos escravos para Kolyma naufragou. Os
guardas metralharam os possíveis fugitivos em massa (Le procès Kravtchenko,
op. cit. p. 566).
37. Ibid., pp. 92-5; Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 127-9, 136-7. Perdas
semelhantes ocorreram na viagem para os campos de Petchora do norte
(Rozanov, op. cit., p. 247).
39. Herling, op. cit., pp. 41, 150. Outro prisioneiro polonês estimou que “durante
o primeiro ano cerca de um terço dos prisioneiros morrem” (Ekart, op. cit., p.
11). Nos campos do sul, o clima tropical era responsável anualmente por
cinquenta por cento de mortes (ibid., p. 85).
40. Petrov, op. cit., pp. 188-9, 191. Elinor Lipper estima o índice de mortalidade
em Kolyma, antes de 1941, em trinta por cento (Eleven years in Soviet prison
camps, p. 108), mas observa que era de cinquenta por cento no campo chamado
muito apropriadamente de Maksim Górki em 1945 (ibid.., pp. 169-70). Ver ibid,
pp. 231-2; The dark side of moon, Londres, 1946, p. 121; Czapski, op. cit., pp.
42-3. O dr. Toth declara que oitenta e cinco a noventa e cinco por cento dos
estrangeiros do GULAG morreram entre 1945 e 1955 (Prisoner of the Soviet
Union, p. 34). Em 1928, em uma das ilhas Solovetskie, apenas dois mil e
quinhentos dos catorze mil prisioneiros sobreviveram ao inverno (NA Decimal
Files, 861.00/10-246). Em outra, cinquenta mil foram reduzidos a dez mil em
período igual (ibid.).
41. Aino Kuusinen, Before and after Stalin: A personal account of Soviet Rússia
from the 1920s to the 1960s, Londres, 1974, p. 141.
42. Roeder, op. cit., pp. 100-1; Lipper, op. cit., pp. 188-9; Ekart, op. cit., pp.
207-8.
43. Conquest, op. cit., pp. 217-31; conferir seu livro The great terror, pp. 533-5.
Um funcionário categorizado do GULAG afirmou que trinta milhões de pessoas
teriam sido internadas e massacradas em 1936 (Toth, op. cit., p. 142). Nos dois
anos seguintes, um funcionário do NKVD declarou que houve dois milhões de
execuções (Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, p. 72).
44. Roeder, op. cit., pp. 15-16; Raphael Rupert, A hidden world, Londres, 1963,
p. 86; Rozanov, op. cit., p. 273.
45. Citado em Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 32-5; ver Ekart, op. cit., p. 61.
47. Czapski, op. cit., p. 53; KoAbiMCKue PaccKa3bi-, Londres, 1978, pp., 876-
9; M. Selechko, “Vinnytsia — The Katyn of Ukraine (A report by an
eyewitness)”, The Journal of Historical Review, Torrance, Ca. 1980, I, p. 344.
49. Ibid., pp. 124-7; Toth, op. cit., pp. 48, 144; Lipper, op. cit., pp. 241-3;
Petrov, Escape from the future, p. 194; Chalamov, op. cit., pp. 495-6.
50. Anita Priess, Verbannung nach Sibirien, Manitoba, 1972, pp. 50, 55; Lipper,
op. cit., pp. 120-2; The dark side of the Moon, op. cit., pp. 99, 107, 114. A cena
comovente da separação brutal das crianças das mães é descrita por uma
testemunha ocular em Le procès Kravtchenko, p. 208; Parvilahti, op. cit., p. 57;
Kuusinen, op. cit., p. 135.
51. Assim diz um cínico provérbio russo (Petrov, op. cit., p. 159; Lipper, op. cit.,
p. 162). Uma moça polonesa em uma vila siberiana, em 1940, ficou sabendo que
“quase todas as casas da vila tinham, ou tinham tido, um membro da família na
prisão ou no campo de trabalho” (Maria Hadow, Paying guest in Sibéria,
Londres, 1978, p. 70).
3. Edward Ellis Smith, The young Stalin: The early years of an elusive
revolutionary, Londres, 1967, p. 102; Robert C. Tucker, Stalin as revolutionary,
Londres, 1974, pp. 70-1.
5. Citado por Otto Preston Chaney, Jr, Zhukov, Newton Abott, 1972, p. 156;
Kravtchenko, op. cit., p. 430; George F. Kennan, Memoirs 1925-1950, Boston,
1967, pp. 279; Charles E. Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973,
p. 131; Milovan Djilas, Wartime, N. York, 1977, p. 386; FO 800/300, 22; Clark
Kerr, 21 de outubro de 1943 (FO 800/301, 151); ver David Dilks (ed.), The
diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971, pp. 422, 580; John R. Deane,
The strange alliance: The story of American efforts at wartime cooperation with
Rússia, Londres, 1947, p. 24; Stanislaw Kot, Conversations with the Kremlin
and dispatches from Rússia, Londres, 1963, p. 116. Adam Ulam faz o contraste
muito apropriado entre o modo de agir de Stalin e o de Lenin a esse respeito
(Stalin: The man and his era, Londres, 1974, p. 358); Bohlen, op. cit., p. 263;
Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and legend, Londres, 1974, p. 420;
Alexander Orlov, The secret history of Stalin’s crimes, Londres, 1954, p. 288.
7. Svetlana Alliluieva, Only one year, Londres, 1969, pp. 361-2; Roy A.
Medvedev, On Stalin and stalinism, Oxford, 1979, pp. 156-7.
9. Edward Ellis Smith, op. cit., pp. 43, 47, 344-9; Ulam, op. cit., pp. 26-7;
Volkov (ed.), op. cit., pp. 143-7.
10. Roy Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of
stalinism, p. 331; Milovan Djilas, Conversations with Stalin, Londres, 1962, p.
97. Compare-se as piadas maldosas de Stalin sobre Tito (ibid., pp. 103-4) e o
desprezo com que trata Molotov em Teerã (Bohlen, op. cit., p. 340); Arthur
Bryant (ed.), Triumph in the West 1943-1946, Londres, 1959, p. 305.
11. Talbott (ed.) op. cit., p. 264; Arthur Bryant (ed.), The turn of the tide 1939-
1943, Londres, 1957, pp. 465-6 (Vorochilov era alvo favorito e bastante
receptivo: ver Witness to history, p. 47, onde Bohlen se refere a ele como
“obviamente um bajulador”); general S. M. Chtemenko, The last six months,
Londres, 1978, p. 77; Aino Kuusinen, Before and after Stalin, Londres, 1974, p.
30. Aleksandr Orlov ouviu falar dessas cenas (The secret history of Stalin’s
crimes, p. 322): confirmação interessante da exatidão dessa fonte muitas vezes
subestimada. Consulte-se também Medvedev, op. cit., p. 329.
12. Kuusinen, op. cit., pp. 91-3. Há provas mais convincentes de que o irmão de
Nadejda, Pável, foi assassinado por instigação de Stalin (Medvedev, On Stalin
and stalinism, pp. 85-6). As autoridades que deram em vários graus o veredicto
de suicídio sobre a morte da mulher de Stalin são: Bajanov, op. cit., 264;
Svetlana Alliluieva, Twenty letters to a friend, N. York, 1967, pp. 108-15, 168-9,
e seu livro Only one year, pp. 343-4;- Aleksandr Barmine, One who survived:
The life story of a Russian under the Soviets, N. York, 1945, p. 264; Ulam, op.
cit., pp. 354; Hingley, op. cit., pp. 226-8. Aleksandr Orlov afirma que Iákov foi
seguido por tchekistas; confirmação complementar sobre a exatidão dessa fonte
(The secret history of Stalin’s crimes, p. 342).
13. Alliluieva, Twenty letters to a friend, pp. 100-1; Barmine, op. cit., p. 262. A
confirmação de Svetlana sobre o relato de Barmine nos dá uma prova
interessante da credibilidade geral das memórias de Barmine. Ver Nikolai
Tolstoy, Victims of Yalta, Londres, 1978, pp. 397-8. Os alemães valorizaram
muito seu famoso prisioneiro na propaganda dirigida ao Exército Vermelho,
chegando mesmo a reproduzir a patética carta de 19 de julho de 1941 que Iákov
enviou ao seu pai (Ortwin Buchbender, Das tönende Erz, Stuttgart, 1978, pp. 68-
70). A carta, naturalmente, não foi respondida. Os americanos, em 1945,
apreenderam documentos com relato detalhado sobre a morte de Iákov, mas não
a levaram ao conhecimento de Stalin por ser “um incidente com histórico
desagradável” (NA, RG 84, box 7, 72). Foi publicado um breve relato por
Mikhail I. Semiriaga, CoeemcKue ntodu e eeponeücKOM conpomueneHuu,
Moscou, 1970. A história completa foi publicada no Sunday Times de 24 de
fevereiro de 1980, com descrição detalhada do fim trágico e sórdido de Iákov.
14. Para a carreira pouco edificante de Vassili Stalin, ver Barmine, op. cit., pp.
262-3; Talbott (ed.), op. cit., pp. 252, 290-1; Alliluieva, op. cit., p. 107; Ulam,
op. cit., pp. 676-7; G. A. Tokaev, Comrade X, Londres, 196, pp. 332-3 (sobre
Tokaev, ver fo 181/1046).
15. Talbott (ed.) op. cit., p. 290; Alliluieva, op. cit., pp. 179-81. Kapler foi
encontrado em Vorkuta por um prisioneiro polonês, Antoni Ekart (Vanished
without trace: The story of seven years in Soviet Rússia, Londres, 1954, pp. 214-
15) — valiosa confirmação da exatidão dessa interessante fonte.
16. Talbott (ed.), op. cit., pp. 133, 167, 170, 303, 307, 481; Chtemenko, op. cit.,
p. 77; W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, pp. 94-5; Orlov, op.
cit., p. 271; Preston Chaney, op. cit., p. 220.
17. Consulte-se, entretanto, Let history judge, pp. 305-6, onde Medvedev conclui
que Stalin, independentemente do seu estado psíquico, teve, na maior parte de
sua vida, uma atuação responsável e estava consciente das implicações de suas
ações.
20. Ellis Smith, op. cit., pp. 193-211, 250-1, 344-6; Ronald Grigor Suny, “A
journeyman for the Revolution: The labour movement in Baku, June 1907-May
1908”, Soviet Studies, 1971-72, XXIII, pp. 373-94; Hingley, op. cit., pp. 47-8,
50, 62-4, 109, 144-5; Ulam, op. cit., pp. 16-17, 71; Bertram D. Wolfe,
Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, pp. 94-100; Volkov (ed.), op. cit.,
p. 16. Djilas acentua o mesmo ponto (George Urban, “A conversation with
Milovan Djilas”, Encounter, dezembro de 1979, p. 12).
23. Orlov. op. cit., pp. 129, 137-8; Talbott (ed.), op. cit., p. 170; Wolfe, op. cit.,
p. 204.
24. FO 800/301, 26. Ver sua presença oculta nos julgamentos de traição (Fitzroy
Maclean, Eastern approaches, Londres, 1949, pp. 119-20) e a cena abjeta do seu
triunfo sobre o falecido Zinoviev (Orlov, op. cit., p. 350); Talbott (ed.), op. cit.,
pp. 99-100, 257-8; Medvedev, op. cit., p. 333; Wolfe, op. cit., pp. 158, 240;
Bajanov, op. cit., p. 99. Compare-se o ódio semelhante de Hitler por quase todo
o mundo (David L. Schoenbaum, Hitler’s social revolution: class and status in
nazi Germany, 1933-1939, Londres, 1967, pp. 20-1). A frase mais famosa, no
que se refere à vingança atribuída a Stalin, é de fonte incerta: “Escolher a vítima,
preparar os planos minuciosamente, saciar uma vingança implacável, e depois ir
para a cama — não há nada mais doce no mundo” (Eugene Lyons, Stalin: Czar
of all the Russias, Londres, 1940, pp. 33, 157). Bukharin parece fazer alusão a
isso na sua famosa conversa com Kamenev em 1928 (ibid., p. 158). A extrema
desconfiança de todos os que o rodeavam deve ter sido exacerbada pela
descoberta de que muitos informantes da polícia haviam passado despercebidos
nas fileiras dos bolchevistas (ibid., pp. 78-9).
25. Alliluieva, op. cit., pp. 196-7; Talbott (ed.), op. cit., pp. 248-9, 260, 281.
26. Vladimir Petrov, My retreat from Rússia, Yale, 1950, pp. 42-3; Unto
Parvilahti, Beria’s gardens: Ten years captivity in Rússia and Sibéria, Londres,
1959, pp. 85-6; Lev Kopelev, No jail for thought, Londres, 1979, pp. 233-5, 237,
240. Um observador britânico notou o crescimento do anti-semitismo na
primavera de 1944 (FO 371/43406). Ver Menahem Beguin, White nights: The
story of a prisoner in Rússia, Londres, 1978, p. 233.
27. Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, pp. 182-3; Gregory
Klimov, The terror machine: The inside story of the Soviet administration in
Germany, Londres, 1953, pp. 40-1; Variam Chalamov, KoJibiMCKue
PaccKd3bi-, Londres, 1978, pp. 103-4; Nadejda Mandelstam,
BocnoMUHaHUH, N. York, 1970, p. 333; Medvedev, On Stalin and stalinism,
pp. 147-8; David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced labour in Soviet
Rússia, Londres, 1948, pp. 5, 32, 33-4; Parvilahti, op. cit., p. 237. A perseguição
aos sionistas começou no governo de Lenin em 1918 (Lennard D. Gerson, The
secret police in Lenin's Rússia, Filadélfia,- 1976, p. 167); o anti-semitismo de
Stalin é muito conhecido para exigir maior documentação. Podemos citar o
seguinte: Ellis Smith, op. cit., pp. 135-6, 188-9; Orlov, op. cit., pp. 114, 341,
350; Kot, op. cit., pp. 153-154; Alliluieva, op. cit., pp. 181, 186, 196 e Only one
year, pp. 148-50, 162, 383; Talbott (ed.), op. cit., pp. 258-69, 292-3; Medvedev,
Let history judge, pp. 493-9; Djilas, op. cit., pp. 139-40; Hingley, op. cit., p. 49;
Robert Conquest, The great terror: Stalin’s purge of the thirties, Londres, 1968,
pp. 76-7.
28. Ver Sir James Frazer, The scapegoat, Londres, 1913, pp. 72-223, e, do
mesmo autor, A supplement to The golden bough, Londres, 1936, pp. 425-32.
Adam Ulam estabeleceu uma analogia semelhante (op. cit., pp. 301-3).
29. Sobre as manias de grandeza intelectual de Stalin, ver Wolfe, op. cit., pp.
214-26; Talbott (ed.), op. cit., pp. 269-75, 278-9; Volkov (ed.), op. cit., pp. 197-
8. Soljenitsin faz uma reconstrução brilhante do solilóquio do ditador que chega
tão perto da verdade quanto possível; ver Gary Kern, “Solzhenitsyn’s portrait of
Stalin”, Slavic Review, 1974, XXIII, pp. 1-22.
31. Outras referências podem ser feitas às seguintes autoridades: Deane, op. cit.,
p. 291; Djilas, op. cit., p. 59; Barmine, op. cit., p. 257.
33. Ver Orlov, op. cit., p. 341; A. H. Birse, Memoirs of an interpreter, Londres,
1967, p. 160.
36. Bajanov, op. cit., p. 74. Para exemplos da atitude desdenhosa de Stalin e
Khrushchev para com os direitos das maiorias, ver Ulam, op. cit, p. 88.
39. Ver Bajanov, op. cit., pp. 78-9; Bohlen, op. cit., p. 131; Avtorkhanov, op.
cit., pp. 24-6.
40. Winston Churchill, que talvez tenha obtido a informação do próprio Stalin,
explicou a vida noturna do ditador como “uma relíquia dos dias em que era mais
seguro para ele não aparecer durante o dia” (lorde Moran, Winston Churchill:
The struggle for survival 1940-1965, Londres, 1966, p. 204). Ver Wolfe, op. cit.,
pp. 228-32; Talbott (ed.), op. cit., pp. 133, 167, 299, 303; Kravtchenko, op. cit.,
pp. 398-400. Não era concedida nenhuma promoção no país sem que o candidato
fosse aprovado pelo 7.° Departamento do NKVD (ibid., p. 391), e todos os
cofres do país (exceto o de Stalin) tinham uma chave extra que ficava nas mãos
dessa mesma organização de vigilância (ibid., p. 395). O poder de Stalin era total
(Wolfe, op. cit., pp. 126-8; ver ibid., p. 200).
41. Kot, op. cit., p. XXIII; The memoirs of general the Lord Ismay, Londres,
960, pp. 233-4.
42. Talbott (ed.), op. cit., pp. 246, 286-7, 296-315; Wolfe, op. cit., p. 158;
Alliluieva, Only one year, p. 362; Volkov (ed.), op. cit., pp. 194-5.
43. George F. Kennan, Rússia and the West under Lenin and Stalin, Boston,
1961, pp. 252-6.
46. Talbott (ed.), op. cit., p. 301. É curioso notar que Alger Hiss, durante o
tempo em que esteve na prisão, fez amizade com mafiosos e outros criminosos
(Allen Weinstein, Perjury: The Hiss-Chambers case, Londres, 1978, p. 526).
47. Ver Parvilahti, op. cit., p. 87; Conquest, op. cit., pp. 337-9; e do mesmo
autor, Kolyma: The Artic death camps, Londres, 1978, pp. 30, 79-87; Elinor
Lipper, Eleven years in Soviet prison camps, Londres, 1951, pp. 147-8;
Medvedev, op. cit., pp. 278, 280-1.
48. Barmine, op. cit., p. 304; Volkov (ed.), op. cit., pp. 64-6. (Por causa de suas
perigosas implicações, peças teatrais como Hamlet e Macbeth foram proibidas:
ibid.) Talbott (ed.), op. cit., p. 303; o embaixador britânico surpreendeu-se ao
receber uma metralhadora como presente de despedida (FO 800/301, 68);
Winston S. Churchill, The hinge of fate, Londres, 1951, p. 447.
49. Krivitski, op. cit., pp. 128-32; Gordon Brook-Shepherd, The storm petrels:
The first Soviet defensors, 1928-1938, Londres, 1977, pp. 196-202.
50. Ver Vladimir Petrov, Escape from future, Indiana, 1973, pp. 163-4.
52. Para as aventuras de Stalin no negócio de falsificações, ver Krivitski, op. cit.,
pp. 135-58; Elisabeth K. Poretski, Our own people: A memoir of "Ignace Reiss”
and his friends, Oxford, 1969, pp. 123-4; A. Krammer, “Russian counterfeit
dollars: A case of early Soviet espionage”, Slavic Review, 1971, XXX, pp. 762-
3; Brook-Shepherd, op. cit., pp. 230-2.
55. Ver Arthur Koestler, The yogi and the commissar, Londres, 1945, pp. 19-20,
78-9, 80-2, 127-8; Mandelstam, op. cit., p. 273; Whittaker Chambers, Witness,
Londres, 1953, pp. 9-12; Melvin J. Lasky, Utopia and revolution, Londres, 1976,
pp. 151-5. “Há uma faceta na natureza dos intelectuais que consiste no fascínio
pelo poder e até mesmo pela crueldade. O nazismo atraiu homens desse tipo,
mas o stalinismo superou-o porque podia se valer dos benefícios da fraseologia
socialista” (George Urban, “A conversation with Leszek Kolakowski; The devil
in history”, Encounter, janeiro de 1981, LVI, p. 25).
56. Boris Nicolaevsky, Power and the Soviet elite, N. York, 1965, p. 64; Volkov
(ed.), op. cit., p. 111; Krivitski, op. cit., p. 209; Bohlen, op. cit., p. 147; Barmine,
op. cit., p. 251.
4. Svetlana Alliluieva, Twenty letters to a friend, N. York, 1967, pp. 15, 18-22,
24-5, 127-8, 190, 200; Aleksandr Orlov, The secret history of Stalin’s crimes,
Londres, 1954, p. 347; Aleksandr Barmine, One who survived: The life story of
a Russian under the Soviets, N. York, 1945, p. 268.
7. Barmine, op. cit., pp. 214-15, 268, 301-4; ver Roy A. Medvedev, Let history
judge: The origins and consequences of stalinism, Londres, 1972, p. 291.
12. Bertram D. Wolfe, Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, p. 176.
13. Elliot R. Goodman, The Soviet design for a world State, N. York, 1960, pp.
457-8.
14. Aino Kuusinen, Before and after Stalin: A personal account of Soviet Rússia
from the 1920s to the 1960s, Londres, 1974, pp. 23-4; Talbott (ed.), op. cit., p.
304; Alliluieva, Only one year, pp. 378-80, 385-6. Segundo os padrões
soviéticos, o marechal Budienni, companheiro de Vorochilov, “vivia com muita
simplicidade” (ibid., p. 378), mas ao menos uma testemunha ocular descreve
acomodações extremamente suntuosas. Ver Mikhail Soloviev, My nine lives in
the Red Army, N. York, 1955, p. 75; Orlov, op. cit., pp. 272-334.
15. Boris Bajanov, Bajanov révèle Staline: Souvenirs d’un ancien secrétaire de
Staline, Paris, 1979, p. 137; Gustav Hilger e Alfred G. Meyer, The incompatible
allies: A memoir-history of German-Soviet relations 1918-1941, N. York, 1953,
pp. 73, 117-18.
17. Alliluieva, Twenty letters to a friend, p. 27, e, da mesma autora, Only one
year, p. 381. A regulamentação habilidosa da riqueza, feita por Mikoian, faz
lembrar uma piada dos nazistas, a respeito de um “reacionário” que ocupava um
posto lucrativo ambicionado por um nazista (Richard Grunberger, A social
history of the Third Reich, Londres, 1971, p. 336).
18. Margarete Buber, Under two dictators, Londres, 1949, p. 42; Alliluieva,
Only one year, pp. 388-9, e, da mesma autora, Twenty letters to a friend, p. 203.
A magnífica mansão de Iagoda em Moscou ficava na Rua Spiridonovka, onde,
segundo informavam aos círculos governamentais, ele fazia orgias, que duravam
vários dias, em volta da piscina (Anatoli Granovski, All pity choked: The
memoirs of a Soviet secret agent, Londres, 1955, p. 32).
20. John R. Deane, The strange alliance: The story of American efforts at
wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947, pp. 14-15.
21. Arthur Bryant, The turn of the tide 1939-1943, Londres, 1957, p. 462. “Com
exceção da elite burocrática, todo o país passava por vários graus de fome”
(Pliuchtch, op. cit., p. 149).
22. Para as festas de Stalin, ver Talbott (ed.), op. cit., pp. 300-1, 304-5; Milovan
Djilas, Conversations with Stalin, Londres, 1962, pp. 73-4, 94-106, 136. “O
peixe servido em sua mesa era fornecido por viveiros especiais; havia vinhos
georgianos de safra especial e frutas frescas transportadas do sul, por avião. Ele
não sabia quantos transportes pagos pelo governo eram necessários para suprir
sua mesa, nem de onde vinha a comida” (Alliluieva, Only one year, p. 364).
23. Ver Djilas, op. cit., pp. 50-1, 86; Bryant, op. cit., pp. 464, e, do mesmo autor,
Triumph in the West 1943-1946, Londres 1959, pp. 301, 311; David Dilks (ed.),
The diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971, p. 423; Charles E.
Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973, p. 147; Robert E.
Sherwood, Roosevelt and Hopkins, N. York, 1948, pp. 323-6; Robert Huhn
Jones, The roads to Rússia: United States lend-lease to the Soviet Union,
Oklahoma, 1969, pp. 48, 62-3; conde de Avon, The Eden memoirs: The
reckoning, Londres, 1965, p. 302; James F. Byrnes, Speaking frankly, N. York,
1947, p. 44; Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, p. 46.
24. Elinor Lipper, Eleven years in Soviet prison camps, Londres, 1951, pp. 136-
7.
26. Lyons, op. cit., pp. 85, 451-3; Fitzroy Maclean, Eastern approaches, Londres,
1949, pp. 80-1; Barmine, op. cit., pp. 273-4. Dois infelizes negros —
provavelmente da orquestra de jazz do Hotel Metrópole — acabaram no campo
de trabalho forçado do Ártico em Vorkuta (Mikhail Rozanov, 3aeoeeameAu
õenbix nnmeH-, Limburg 1951, p. 242).
27. Para essa expressão, ver Unto Parvilahti, Beria’s gardens: Ten years captivity
in Rússia and Sibéria, Londres, 1959, p. 89, e para a prática, Bernhard Roeder,
Katorga: An aspect of modem slavery, Londres, 1958, p. 58.
28. Anatoli Granovski, op. cit., pp. 26-7, 30-1; Hilger e Meyer, op. cit., p. 58;
Ulam op. cit., p. 449; Nadejda Mandelstam, BocnOMUHüHUH-, N. York, 1970,
p. 110; Gregory Klimov, The terror machine: The inside story of the Soviet
administration in Germany, Londres, 1953, p. 36.
31. Orlov, op. cit., pp. 245-57; Talbott (ed.), op. cit., p. 338; Granovski, op. cit.,
p. 32; Medvedev, On Stalin and stalinism, p. 83; Soloviev, op. cit., p. 79;
Barmine, op. cit., p. 264; Lyons, op. cit., pp. 193-4; Merle Fainsod, Smolensk
under Soviet rule, Londres, 1958, pp. 206-7; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire
of fear, Londres, 1956, p. 130; Tadeusz Wittlin, Commissar: The life and death
of Lavrenty Pavlovich Beria, Londres, 1973, pp. 87-8, 178, 246, 250-3, 408;
Medvedev, Let history judge, p. 368; Oleg Penkovskiy, The Penkovskiy papers,
N. York 1965, p. 321; Peter Deriabin e Frank Gibney, The secret world,
Londres, 1960, pp. 230-9.
32. Leszek Kolakowski, Main currents of marxism: Its rise, growth, and
dissolution, Oxford, 1978, II, pp. 458-86, 500; Ernst Fischer (ed.), Lenin in his
own words, Londres, 1972, p. 74.
33. Edward Ellis Smith, The young Stalin: The early years of an elusive
revolutionary, Londres, 1967, p. 358.
34. Mandelstam, op. cit., pp. 117, 249; Medvedev, Let history judge, pp. 414-15,
538-43; Alex Weissberg, Conspiracy of silence, Londres, 1952, pp. 279-80, 388-
9, 475-8. O professor Kolakowski conclui que “a classe exploradora soviética é
uma nova formação social que, em certos aspectos, se parece com a burocracia
dos despotismos orientais e, em outros, com os capitalistas colonizadores dos
países subdesenvolvidos. Sua posição é determinada pela concentração absoluta
do poder político, econômico e militar, em uma extensão jamais vista na Europa,
e pela necessidade de uma ideologia para legitimar o poder. Os privilégios
desfrutados por seus membros na área do consumo são consequência natural do
seu papel na sociedade. O marxismo é a aura carismática com a qual se envolve
para justificar sua predominância” (Kolakowski, op. cit., III, pp. 165-6).
41. Fainsod, op. cit., pp. 402, 404; Parvilahti, op. cit., pp. 199-200.
44. Alliluieva, Twenty letters to a friend, pp. 133-4; ver também Granovski, op.
cit., pp. 31-4. Para uma memória especialmente repelente e presunçosa, ver “A.
I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres 1972,
pp. 12-26. Ver Vladimir Petrov, Escape from future: The incredible adventures
of a young Russian, Bloomington, Indiana, 1973, p. 187.
45. Ver Andrew Smith, I was a Soviet worker, Londres, 1937, pp. 43-7, 125,
169, 170-2; Alliluieva, op. cit., pp. 165-7; Tadeusz Wittlin, A reluctant traveller
in Rússia, Londres, 1962, p. 179. Ver Joseph Czapski, The inhuman land,
Londres, 1951, p. 134; Fainsod, op. cit., p. 60; Kravtchenko, op. cit., pp. 450-1.
46. The memoirs of the general Lord Ismay, Londres, 1960, p. 377.
48. Kuusinen, op. cit., pp. 26-7; cf. Le procès Kravtchenko contre “Les Lettres
Françaises”, Paris, 1949, pp. 170-1; Menahem Beguin, White nights: The story
of a prisoner in Rússia, Londres, 1978, pp. 221-4.
49. Hilger e Meyer, op. cit., p. 151. Lenin se recusou astutamente a ser
examinado por um médico soviético, “pois quem já ouviu dizer que um bom
comunista pode ser um bom médico?” (Kuusinen, op. cit., p. 31). Tchitcherin e a
mulher de Bela Kuhn também se trataram com médicos alemães (Herbert von
Dirksen, Moskau Tokio London: Erinnerungen und Betrachtungen zu 20 Jahren
deutscher Aussenpolitik 1919-1939, Stuttgart, 1949, pp. 93-4, 140), bem como o
comissário das Finanças, Krestinski (Daily Telegraph, 12/07/1921).
50. The memoirs of Ivanov-Razumnik, Londres, 1965, p. 343.
51. Lyons, op. cit., pp. 436-40; cf. CAB 66/54, 128.
2. Edward Ellis Smith, The young Stalin: The early years of an elusive
revolutionary, Londres, 1968, p. 321.
3. Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and legend, Londres, 1974, p. 345. Um
relato divertido de uma testemunha ocular da visita de Stalin a um posto de
comando fictício — bem atrás da linha de frente — é o livro do general N. N.
Voronov, Ha cnyoKÕe ooenHOÜ-, Moscou, 1963, pp. 384-5.
5. Aino Kuusinen, Before and after Stalin: A personal account of Soviet Rússia
from the 1920s to the 1960s, Londres, 1974, p. 30; Aleksandr Orlov, The secret
history of Stalin’s crimes, Londres, 1954, p. 341.
6. Ibid., p. 342; Kuusinen, op. cit., p. 143; Svetlana Alliluieva, Only one year,
Londres, 1969, p. 365; Strobe Talbott (ed.), Khrushchev remembers, Boston,
1970, pp. 299-300; W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, p. 177;
Charles E. Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973, pp. 147-8.
7. Krivitski, op. cit., p. 177; Alliluieva, Only one year, p. 365. Orlov, op. cit., pp.
20-1; Viktor Kravtchenko,! chose freedom, Londres, 1947, pp. 394-5; Solomon
Volkov (ed.), Testimony: The memoirs of Dmitri Shostakovich, Londres, 1979,
p. 195; John R. Deane, The strange alliance: The story of American efforts at
wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947, pp. 7-8; Peter Deriabin e Frank
Gibney, The secret world, Londres, 1959, pp. 111-34 (Deriabin serviu como
oficial da Guarda do Kremlin desde 1947); Alliluieva, Twenty letters to a friend,
p. 144; Väinö Tanner, The winter war: Finland against Rússia 1939-1940,
Stanford, 1950, pp. 38-9; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres,
1956, p. 90; G. A. Tokaev, Comrade X, Londres, 1956, pp. 311-12; Talbott (ed.),
op. cit., p. 336, Walter Bedell Smith, Moscow mission 1946-1949, Londres,
1950, p. 37. O pavor que Stalin sentia de ser assassinado é comprovado por sua
filha (Alliluieva, op. cit., p. 134).
9. Ibid., p. 36. Orlov, op. cit., pp. 20, 339-40; Kravtchenko, op. cit., p. 399;
Deriabin e Gibney, op cit., p. 119; Talbott, op. cit., pp. 298-9. Detalhes sobre os
automóveis de Stalin e Molotov são mencionados em Milovan Djilas,
Conversations with Stalin, Londres, 1962, p. 65; FO 371/29480, 28. O metrô e
os túneis são descritos por Roy A. Medvedev, On Stalin and stalinism, Oxford,
1979, p. 151.
10. Talbott (ed.), op. cit., p. 299. Para a defesa externa da datcha, ver lorde
Moran, Winston Churchill: The struggle for survival 1940-1965, Londres, 1966,
p. 57: “Evidentemente, estão preparados para enfrentar a revolta do próprio
povo”.
12. Orlov, op. cit., p. 21; ver Kuusinen, op. cit., pp. 30-1; Alliluieva, op. cit., p.
195.
13. Ibid., pp. 195, 201; Orlov, op. cit., p. 21. Cf. Deane, op. cit., p. 290.
14. Winston S. Churchill, Closing the ring, Londres, 1952, p. 339; David Dilks
(ed.), The diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971, p. 769. Uma divisão
inteira do MVD da Ásia central protegeu Stalin contra o Exército Vermelho em
Potsdam.
16. Andrew Smith, I was a Soviet worker, Londres, 1937, pp. 257-8 (Funerais de
Kirov); NA Decimal Files, 861.001 /6-1646 (relatório da embaixada dos Estados
Unidos sobre os funerais de Kalínin).
17. Tanner, op. cit., p. 69; Alliluieva, op. cit., p. 144; Aleksandr Barmine, One
toho survived: The life story of a Russian under the Soviets, N. York, 1945, p.
301. Para a cena do Bolshoi, comparar The memoirs of general the Lord Ismay,
Londres, 1960, p. 377; Deane, op. cit., p. 155; lorde Moran, op. cit., p. 201. O
bem-informado Barmine sabia de uma única vez em que Stalin apareceu nas ruas
de Moscou — um verdadeiro milagre (op. cit., p. 258).
19. Alfred Seidl (ed.), Die Beziehungen zwischen Deutschland und der
Sowjetunion 1939-1941, Tübingen, 1949, p. 171; Ulam, op. cit., p. 570.
20. Medvedev, op. cit., p. 151. O famoso desentendimento de Stalin com Dmitri
Schmidt, em 1927, sugere também covardia física (Barmine, op. cit., p. 90).
21. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of stalinism,
Londres, 1971, p. 306.
22. Leszek Kolakowski, Main currents of marxism: Its origin, growth and
dissolution, Oxford, 1978, III, pp. 95-7; Ulam, op. cit., p. 387.
23. Hingley, op. cit., pp. 201, 280; cf. Ulam, op. cit., pp. 105, 186, 385-6.
26. Boris Bajanov, Bajanov révèle Staline: Souvenirs d’un ancien secrétaire de
Staline, Paris, 1979, pp. 89-90. Em 1922, acreditava-se que o ouro roubado das
igrejas na gubernia de Smolensk pelos bolchevistas destinava-se às despesas de
uma fuga para o estrangeiro (Merle Fainsod, Smolensk under Soviet rule,
Londres, 1958, p. 157).
27. Gregory Klimov, The terror machine: The inside story of the Soviet
administration in Germany, Londres, 1953, p. 266. O NKVD estava
extremamente ansioso para prender pessoas que podiam se revoltar (Vladimir e
Evdokia Petrov, op. cit., pp. 140-1). Em 1935, conta Krivitski, o “mundo
ocidental não podia imaginar como era frágil naquela época o poder de Stalin e o
quanto era essencial para sua sobrevivência como ditador ser defendido no
julgamento de seus atos sanguinários por comunistas estrangeiros e idealistas
internacionais famosos” (Krivitski, op. cit., p. 99).
28. Dilks (ed.), op. cit., p. 474; I. V. Stalin, CoHUHemiH (Stanford, 1967), III
(XV), pp. 203-4; Wilfried Strik-Strikfeldt, Against Stalin and Hitler: Memoir of
the Russian Liberation Movement 1941-5, Londres, 1970, pp. 32-3.
29. NA 861.00/1-1546.
30. Lennard D. Gerson, The secret police in Lenin's Rússia, Filadélfia, 1976, pp.
19-25, 145, 151-4.
33. Alex Weissberg, Conspiracy of silence, Londres, 1952, pp. 402-5. O Arquivo
Smolensk evidencia que o Oblast NKVD Ocidental passou para o controle direto
de Stalin (Fainsod, Smolensk under Soviet rule, Londres, 1958, pp. 84, 172).
34. Alliluieva, op. cit., pp. 126-7; Deriabin e Gibney, op. cit., pp. 120, 126, 232;
Tadeusz Wittlin, Commissar: The life and death of Lavrenty Pavlovich Teria,
Londres, 1973, p. 358; Avtorkhanov, 3azaÕKa CMepmu CmcuiuHa, 3azooop
Eepun, Frankfurt, 1976, pp. 37-8.
35. Ulam, op cit., p. 487; Krivitski, op. cit., pp. 38-9; Elisabeth K. Poretski, Our
own people: A memoir of "Ignace Reiss” and his friends, Oxford, 1969, p. 219.
Devido ao mistério que cercava o fim de Iejov (Robert Conquest, The great
terror: Stalin's purge of the thirties, Londres, 1968, p. 464), convém notar o
testemunho de um polonês que estava com ele na prisão de Moscou de 1940 a
1041 (NA 861.131/33).
37. Alliluieva, Only one year, pp. 387-90; Talbott (ed.), op. cit., p. 300; Djilas,
op. cit., pp. 100, 143, 144; Margarete Buber, Under two dictators, Londres,
1949, pp. 97-8.
38. Alliluieva, Twenty letters to a friend, pp. 35-6, 55-60; The memoirs of
Ivanov-Razumnik, Londres, 1965, pp. 266-8.
39. Smith, op. cit., p. 89; Petrov, Escape from the future, p. 18.
41. “A. I. Romanov”, Nights are longest there, Londres, 1972, pp. 13-27; Anatoli
Granovski, All pity choked: The memoirs of a Soviet secret agent, Londres,
1955, pp. 85-7; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, pp. 54-6, 122-7;
Deriabin e Gibney, op. cit., pp. 55-7, 61-3.
42. Weissberg, op. cit., p. 456; Fainsod, op. cit., pp. 160-2; Bertram D. Wolfe,
Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, p. 162; Deriabin e Gibney, p.
126; Medvedev, op. cit., pp. 285-6, 303-4; Dmitri Panin, The notebooks of
Sologdin, Londres, 1956, p. 230; Nikolai Tolstoy, Victims of Yalta, Londres,
1977, p. 140; Gerson, op. cit., p. 195; S. A. Malsagoff, An island hell: A Soviet
prison in the far north, Londres, 1926, p. 20. A opinião decidida de Vlassik
encontrava eco nos guardas do GULAG: “essa intelligentsia. . . é uma chatice”
(Variam Chalamov, KoAbiMCKue PaccKü3bi-, Londres, 1978, p. 30).
43. Cf. Whittaker Chambers, Witness, Londres, 1953, p. 310; Unto Parvilahti,
Beria’s gardens: Ten years captivity in Rússia and Sibéria, Londres, 1959, p. 43.
44. Ibid., p. 114; Kuusinen, op. cit., pp. 195-6; The memoirs of Ivanov-
Razumnik, p. 260; Ruta U., Bear God, I wanted to live, N. York, 1978, p. 96.
45. Orlov, op. cit., pp. 90-2, 97-8; Klimov, op. cit., pp. 229-9.
46. Deriabin e Gibney, op. cit., pp. 184-25, 187; Vladimir e Evdokia Petrov, op.
cit., pp. 80-2, 257, 263; Barmine, op. cit., pp. 16, 18; David Irving, Hitler’s war,
Londres, 1977, pp. 209-10, 842.
47. Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, pp. 81-5, 87-9. Czapski o
chama de “Nasiedkine”, nome de um interrogador do NKVD (Aleksandr
Soljenitsin, ApxuneAaz Tynaz 1918-1956: Onbim Xydo.vcecmeenHOZo
HccAedoeanuH, Paris, 1973-5, I, p. 405; Medvedev, op. cit., pp. 128-9). Ver
também Kravtchenko, op. cit., p. 405; “A. I. Romanov”, op. cit., p. 138.
49. Cf. David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced labor in Soviet Rússia,
Londres, 1948, p. 87.
50. Slave labor in the Soviet world, publicação do Comitê do Sindicato Livre da
Federação Americana do Trabalho, N. York, 1951, p. 4.
52. Gustav Herling, A world apart, Londres, 1951, p. 176; cf. Moscow Mission
1946-1949, p. 115; Le procès Kravtchenko contre “Les Lettres Françaises”,
Paris, 1949, p. 557. Em 1943-4, a Gestapo registrou cerca de quarenta mil
homens — uma comparação interessante (Hans Rothfeld, The German
opposition to Hitler: An assessment, Londres, 1970, p. 15).
54. Czapski, op. cit., pp. 219-21; The memoirs of lvanov-Razumnik, pp. 238-9;
Le procès Kravtchenko, p. 205.
55. The dark side of the Moon, Londres, 1946, pp. 87, 89-90. A tortura de
mulheres e crianças era comum nas prisões soviéticas (Le procès Kravtchenko,
p. 208).
56. Granovski, op. cit., pp. 59, 62-3, 69. Ver Krivitski, op. cit., p. 198-201; sobre
o “expurgo de crianças” de 1938, ver Orlov, op. cit., pp. 53-4, 88.
57. Petrov, op. cit., p. 73; Krivitski, op. cit., pp. 217-19; Klimov, op. cit., p. 265;
Buber, op. cit., p. 61; Czapski, op. cit., pp. 255-6; Kravtchenko, op. cit., pp. 447-
8; The memoirs of Ivanov-Razumnik, p. 250; Parvilahti, op. cit., pp. 160, 237;
Tadeusz Wittlin, A reluctant traveller in Rússia, Londres, 1952, p. 121.
62. Ver Medvedev, Let history judge, pp. 264-72; Conquest, op. cit., pp. 136-8.
Uma descrição pavorosa de uma testemunha ocular sobre a câmara de tortura do
NKVD consta de Zoltan Toth, Prisoner of the Soviet Union, Londres, 1978, pp.
20-1.
65. Medvedev, op. cit., pp. 296, 348; Deriabin e Gibney, op. cit., pp. 171-2.
66. Advogados britânicos como D. N. Pritt e Dudley Collar não podiam ter
acreditado, como afirmaram, nos julgamentos dos expurgos de 1936: ver Henry
Pelling, The British Communist Party: A historical profile, Londres, 1958, p.
102.
67. Eugene Loys, Assignment in Utopia, Londres, 1937, pp. 93-5, 268. John
Strachey, em seu panfleto de 1930, What we saw in Rússia, deixa
deliberadamente de mencionar o fato de ter “visto o mais estrito racionamento de
comida nas cidades russas” (Hugh Thomas, John Strachey, Londres, 1973, p.
86).
68. Poretski, op. cit., p. 164; Vladimir e Evdokia Petrov, op. cit., p. 54. Da
mesma forma, cuidaram para que os prisioneiros não aparecessem nas ruas
muito malvestidos (A. V. Gorbatov, “ rodbi uBoÜHbi ”, Hoebiü Mup, abril de
1964, XL, pp. 136-7.
V. Manobras de Munique
1. Reimpresso por Sir John Wheeler-Bennett em seu Munich: Prologue to
tragedy, Londres, 1948, p. 366; cf. pp. 278-9.
5. Cf. Telford Taylor, Munich: The price of peace, Londres 1979, pp. 176-82.
6. Ibid., p. 621.
8. Taylor, op. cit., pp. 101-2; ver as observações que Chamberlain fez a Masaryk
(Wheeler-Bennett, op. cit., p. 171).
10. O serviço secreto acreditava que o objetivo dos soviéticos fosse provocar a
guerra entre a Grã-Bretanha e a Alemanha (David Dilks, ed., The diaries of Sir
Alexander Cadogan, Londres, 1971, p. 65). Um temor paralelo (talvez
justificável, uma vez que os estadistas não podiam ter a visão dos historiadores)
era de que uma intervenção da Entente na Alemanha “não fizesse Stresemann
levantar-se do túmulo, nem outro qualquer remotamente parecido com ele. . . A
Alemanha estaria lutando então pela própria vida com a poderosa arma do
bolchevismo” (H. Powys Greenwood, The German revolution, Londres, 1934, p.
271). O raciocínio válido que levou os franceses e ingleses a duvidar do valor da
“cartada soviética” é exposto em Simon Newman, March 1939: The British
guarantee to Poland, Oxford, 1976, pp. 120, 138-43; Gerhard L. Weinberg, The
foreign police of Hitler's Germany: Starting World War II 1937-1939, Chicago,
1980, pp. 86-9.
13. Cf. Mein Kampf, Londres, sem data, pp. 557, 562.
14. Cf. Wheeler-Bennett, op. cit., pp. 106, 273-81; Golo Mann, “Rapallo: The
vanishing dream”, Survey, Londres, 1962, XLIV-V, pp. 78-81.
17. Decimal Files, NA, 861.001/2-1849. Não temos muitos motivos para duvidar
da autenticidade desse relato; Litvinov iria cometer várias indiscrições desse tipo
no futuro. (Ver Vojtetch Mastny, “The Cassandra in the Foreign Commissariat”,
Foreign Affair, 1976, LIV, pp. 366-76.)
18. John Harvey (ed.), The diplomatic diaries of Oliver Harvey 1937-1940, N.
York, 1970, p. 158. Na realidade, “os anos de 1936-38 devem ser considerados
como um período de novo isolamento dos soviéticos” (Max Beloff, The foreign
police of Soviet Rússia 1929-1941, Oxford, 1949, II, p. 26). Compare-se a hábil
condição implícita no importante artigo do Pravda de 17 de setembro (ibid., pp.
148-50). A reação significativamente discreta dos soviéticos a Munique é notada
também por Eugene Lyons: Stalin: Czar of all the Russias, Londres, 1940, p.
237.
22. Robert Conquest, The great terror: Stalin’s purge of the thirties, Londres,
1968, pp. 201-35, 459-63.
23. John Lukacs, The last European war: September 1939/December 1941,
Londres, 1976, p. 16; cf. Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres,
1974, pp. 495-6. O Exército Vermelho não foi nem parcialmente mobilizado
durante a crise (Weinberg, op. cit., pp. 417-18).
25. Cf. Beloff, op. cit., II, pp. 146-7; Wheeler-Bennett, op. cit., pp. 57, 100, 106;
Taylor, op. cit., pp. 449-52, 526; Weinberg, op. cit., pp. 352-4, 414-17. O adido
militar dos Estados Unidos, francamente pró-soviético, estimou o total de
contribuição militar soviética possível em dois esquadrões de bombardeiros!
(Charles E. Bohlen, Witness to history, Londres, 1973, p. 59.)
29. Slavic Review, XXXVI, pp. 566-8, Gabriel Gorodetski, The precarious
truce: Anglo-Soviet relations 1924-27, Cambridge, 1977, pp. 231-40.
30. Slavic Review, XXXVI, pp. 576, 580; F. L. Carsten, “The Reichswehr and
the Red Army, 1920-1933”, Survey, Londres, 1962, XLIV-V, p. 130. Em 1938,
o comissário assistente dos Negócios Estrangeiros, Potiômkin, disse ao
embaixador francês que planejavam uma divisão da Polônia (Ulam, op. cit., p.
499).
32. “. . . Pode-se dizer que uma hostilidade acentuada e comum ao novo Estado
polonês era um dos mais fortes elos entre Berlim e Moscou, e outra divisão da
Polônia, o objetivo silencioso e máximo dos dois governos no período entre as
duas guerras” (Gustav Hilger e Alfred G. Meyer, The incompatible allies: A
memoir-history of German-Soviet relations 1918-1941, N. York, 1953, p. 154).
33. Relatos detalhados sobre a cooperação militar alemã-soviética nos anos entre
as guerras constam de ibid., 'pp. 187-208, 227-42, 250-1; Survey, XLIV-V, pp.
76, 114-32; Louis Hagen (ed.), The Schellenberg memoirs, Londres, 1956, pp.
40-5; E. M. Robertson, Hitler’s pre-war policy and military plans 1933-1939,
Londres, 1963, pp. 12-13; W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939,
pp. 20-2; “Geoffrey Bailey”, The conspirators, Londres, 1961, pp. 193-7; Lionel
Kochan, Rússia and the Weimar Republic, Londres, 1954, pp. 60-4.
2. F. A. Voigt, Unto Caesar, Londres, 1939, pp. 107-8. Em 1918, Lenin fez mais
vaticínios do que o profeta Merlim. Leszek Kolakowski, Main currents of
marxism: Its rise, growth, and dissolution, Oxford, 1978, II, pp. 476-7.
4. Harold J. Gordon, Jr., Hitler and the beer hall putsch, Princeton, 1972, pp. 5-6.
Sobre o nazismo enquanto movimento que não era exclusivo de nenhuma classe
social, ver ibid., p. 7.
5. Jeremy Noakes, The Nazi Party in lower Saxony 1921-1933, Oxford, 1971,
pp. 249-50; cf. David. L. Schõnbaum, Hitler’s revolution: Class and status in
nazi Germany 1933-1939, Londres, 1967, pp. XXI-III; Richard Grunberger, A
social history of the Third Reich, Londres, 1971, pp. 49-53.
8. Noakes, op. cit., pp. 73-84; Herman Lebovics, Social conservatism and the
middle classes in Germany, 1914-1933, Princeton, 1969, pp. 145-7; Arthur
Spencer, “National-Bolshevism”, Survey, 1962, XLIV-V, pp. 133-52. Compare-
se a opinião de Kurt Lüdecke, op. cit., p. 420.
10. Konrad Heiden, Hitler: A biography, Londres, 1936, p. 264; Lüdecke, op.
cit., p. 597; Jean François, L'affaire Röhm-Hitler, Paris, 1939, p. 30. Um amigo
de Röhm, Hermann Esser, passara de nazista a fanático social-democrata
(Richard Hanser, Prelude to terror: The rise of Hitler 1919-1923, Londres, 1971,
pp. 290-1); o chefe da rádio nazista fora um marinheiro revolucionário em 1918
(Grunberger, op. cit., p. 409).
13. William L. Shirer, Berlin diary: The journal of a foreign correspondent 1934-
41, Londres, 1941, pp. 411-12.
14. Hans Rogger e Eugen Weber, The European right: A historical profile,
Califórnia, 1965, p. 340; Kale, op. cit., p. 47; Hanser, op. cit., p. 279; Roger
Manvell e Heinrich Fraenkel, Doctor Goebbels: His life and death, Londres,
1960, p. 88.
16. Helmut Heiber (ed.), The early Goebbels diaries: The journal of Joseph
Goebbels from 1925-1926, Londres, 1962, pp. 24, 34, 43, 44, 51, 62; Dietrich
Orlow, The history of the Nazli Party, Newton Abott, 1971-3, I, pp. 87-9; Kele,
op. cit., pp. 92-3, III, 131-2; Schõnbaum, op. cit., p. 24; Noakes, op. cit., p. 72;
Manvell e Fraenkel, op. cit., p. 126; Louis P. Lochner (ed.), The Goebbels
diaries 1942-1943, N. York, 1948, pp. 10-11.
17. Wheaton, op. cit., p. 436.
18. Waite, op. cit., pp. 272-6; E. M. Robertson, Hitler’s pre-war policy and
military plans 1933-1939, Londres, 1963, pp. 86-7; Noakes, op. cit., pp. 25-6;
Lochner (ed.), op. cit., pp. 355-9; Percy Ernst Schramm, Hitler: The man and the
military leader, Londres, 1972, pp. 53, 162; Paul Schmidt, Hitler’s interpreter,
Londres, 1951, p. 134; Hitler’s table talk 1941-1944, Londres, 1953, pp. 587,
624; Hermann Rauschning, Hitler speaks: A series of political conversations
with Adolf Hitler on his real aims, Londres, 1939, pp. 19, 134. No começo de
sua carreira política, Hitler não era de modo algum contrário ao bolchevismo,
como se acredita comumente (Walter Laqueur, “Hitler and Rússia 1919-1923”,
Survey, 1962, LIV-V, pp. 93-5). Pense-se em sua cautelosa aceitação do
bolchevismo como movimento político adequado para a Rússia em 1938 (Max
Beloff, The foreign policy of Soviet Rússia 1920-41, Oxford, 1949, II, 145). Nos
próprios campos do GULAG, nazistas alemães e russos soviéticos uniam-se por
elos de ideologia semelhante (Raphael Rupert, A hidden world, Londres, 1963,
p. 89).
19. Scheele, op. cit., pp. 153-4; Eugene Lyons, Stalin: Czar of all the Russias,
Londres, 1940, p. 225.
20. Lionel Kochan, Rússia and the Weimar Republic, Londres, 1954, pp. 174-7;
Wheaton, op. cit., pp. 132, 156-8; Roy A. Medvedev, Let history judge: The
origins and consequences of stalinism, Londres, 1972, pp. 438-40. Trotsky
condenava a política de concentrada hostilidade contra os social-democratas
(Jean Heijenoort, With Trotsky in exile, Harvard, 1978, p. 2), mas compartilhava
a ilusão de Stalin de que “o fascismo. . . é uma navalha nas mãos do inimigo da
classe” (citado por M. R. Werner, ed., Stalin’s Kampf, Londres, 1940, p. 292).
21. Jdanov definia a Finlândia como “um desses pequenos países” em seu
discurso de 29 de novembro de 1936 (Max Jakobson, The diplomacy of the
winter war, Cambridge, Mass., 1961, p. 18).
22. Foi o que Radek contou ao escritor inglês Frederick Voigt em 1932 (Voigt,
op. cit., pp. 277-8); em agosto de 1934, ele estava mais confiante do que nunca
no valor dos camisas-pardas (Hilger e Meyer, op. cit., pp. 267-8).
24. Svetlana Alliluieva, Twenty letters to a friend, N. York, 1967, p. 53; cf.
Krivitski, op. cit., p. 22.
26. Ibid., pp. 269-70; Krivitski, op. cit., pp. 37-8, 248-9; Barmine, op. cit., p. 25.
Uma nota obscura no dossiê do agente da GPU “Ignace Reiss”, assassinado,
registra o fato de que “as conversações continuam com Adolf, por Kandil”
(Victor Serge, A. Rosmer, Maurice Wullens, L’assassinat d'Ignace Reiss, Paris,
1938, p. 22). Isso pode ser a confirmação do que diz Krivitski, segundo o qual
Kandelaki teria sido recebido pelo próprio Hitler (Krivitski, op. cit., p. 248). As
advertências do marechal Tukhachevsky sobre as internações da Alemanha e as
deficiências da defesa militar soviética talvez tenham apressado a missão
Kandelaki (cf. John Erickson, The road to Stalingrad: Stalin’s war with
Germany, Londres, 1975, pp. 1-3).
27. Barmine, op. cit., pp. 24, 25-7, 29-31; Hilger e Meyer, op. cit., pp. 267-71,
278-9; Beloff, op. cit., II, p. 67. Foram feitas insinuações muito claras sobre a
conveniência de uma reaproximação soviético-alemã, em Berlim, por um
diplomata soviético, Ievguêni Gnedin, em 11 de dezembro de 1935, e novamente
em 12 de outubro de 1936 (“Moscow and the nazis”, Survey, 1963, XLIX, pp.
129-32). Cf. Slavonic and East European Review, XL, pp. 518-20.
28. Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, pp. 364, 399-
407, 466-9.
29. Uma prova cabal de que Molotov havia começado a negociar com a
Alemanha nazista, sem o conhecimento de Litvinov, em 1933, consta de Robert
C. Tucker, “On matters evidential: A reply”, Slavic Review, XXXVI, p. 606. Em
janeiro de 1937, a URSS abandonou um acordo comercial muito favorável com
a Grécia, temendo que este desagradasse a Hitler (Barmine, op. cit., pp. 306-9), e
em 1938 a embaixada dos Estados Unidos em Moscou foi informada de que
provavelmente estava sendo preparado um pacto nazi-soviético (Charles E.
Bohlen, Witness to history, Londres, 1973, p. 58). Dizem que Andrei Jdanov
acreditava firmemente num acordo com Hitler (G. A. Tokaev, Contrade X,
Londres, 1956, p. 158).
30. Winston Churchill, The gathering storm, Londres, 1948, pp. 284-286-7;
conde de Avon, The Eden memoirs: The reckoning, Londres, 1965, pp. 54-5;
John Harvey (ed.), The diplomatic diaries of Oliver Harvey 1937-1940, N. York,
1970, p. 290; Harold Macmillan, Winds of change 1914-1939, Londres, 1966,
pp. 595-6.
31. Cf. David Dilks (ed.), The diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971,
pp. 175, 180-2, 189-90, 191. Lascelles, do Departamento do Norte do Ministério
do Exterior, avaliando a fraqueza dos soviéticos comparados aos alemães,
estimou que a URSS “agirá empiricamente e visando apenas a seus próprios
interesses” (5 de janeiro de 1939): FO 371/23677, 251-2. F. A. Gwatkin
observou profeticamente, no dia 14, que “a Rússia não é nossa amiga, embora
em certos círculos possa ser uma aliada” (ibid., 254). Sobre a Finlândia, ver Max
Jakobson, The diplomacy of the finnish war, Cambridge, Mass., 1961, pp. 47-8.
32. Churchill, op. cit., p. 284. Cf. Telford Taylor, Munich: The price of peace,
Londres, 1979, pp. 979-6.
35. Krivitski, op. cit., pp. 19-20. Hitler sabia que Stalin não estava sinceramente
interessado em uma aliança com a Inglaterra (F. H. Hinsley, Hitler's strategy,
Cambridge, 1951, p. 15).
36. I. V. Stalin, Cohuhchuh-, Stanford, 1967, XIV, pp. 327-45. Para indicações
anteriores da política soviética durante o inverno de 1938-39, ver Beloff, op. cit.,
II, pp. 211, 227. Isaac Deutscher dá uma explicação provável para essa
abordagem evasiva (Stalin: A political biography, Oxford, 1949, p. 428), e
também para o fato de a aliança com a Alemanha parecer preferível a uma
aliança com a Entente (ibid., pp. 434-5).
37. Cf. John Lukacs, The last European war: September 1939/ December 1941,
Londres, 1976, p. 41. O embaixador britânico em Moscou (Seeds) interpretou
corretamente as alusões de Stalin às fábulas de Esopo (Newman, op. cit., p. 130).
38. Wheeler-Bennett, op. cit., pp. 376-7. Por mais quixotesco que tenha sido esse
gesto, ele por si só invalida a constante afirmação soviética de que as
diplomacias francesa e britânica pretendiam dirigir a agressão de Hitler para o
Oriente (por exemplo, A. A. Gromiko et al., eds., Hcmopun JJunAOMamun,
(Moscou, 1965), III, p. 751). Uma garantia para a Polônia era na verdade uma
garantia para a URSS, sem envolver nenhuma obrigação, e foi assim que os
acontecimentos transpiraram. Ver as tolices absurdas mencionadas em ibid., p.
769. Os fatos são descritos detalhadamente em Newman, op. cit., pp. 6-7, 64, 78-
9, 130. Como observa o professor Ulam, os soviéticos estavam “terrivelmente
ansiosos” para que os britânicos se declarassem a favor da Polônia, conscientes
da vantagem que isso representaria para eles (op. cit., p. 507).
39. Alfred Seidl (ed.), Die Beziehungen zwischen Deutschland und der
Sowjetunion 1939-1941, Tübingen, 1949, pp. 1-2. A União Soviética foi o único
país fora do Eixo a garantir de jure o reconhecimento do Estado da Eslováquia
criado pelos nazistas (Gerhard L. Weinberg, The foreign policy of Hitler’s
Germany: Starting World War II 1937-1939, Chicago, 1980, p. 552).
41. Ver o inteligente sumário do professor Vojtetch Mastny: Russia’s road to the
cold war: Diplomacy, warfare, and the politics of communism, 1941-1945, N.
York, 1979, pp. 24-8. Naturalmente, o quadro não era todo em branco e preto. A
principal preocupação de Stalin era evitar a guerra, e para isso era preciso
procurar garantias com a Entente ou qualquer um que oferecesse um mínimo de
segurança. A viagem do comissário assistente Potiômkin pelas capitais
ocidentais, logo depois, provavelmente tinha a mesma intenção. Ver Gerhard L.
Weinberg, Germany and the Soviet Union 1939-1941, Leiden, 1954, pp. 6-20.
Mas as repetidas afirmações de Potiômkin de que a URSS, em nenhuma
circunstância, “faria um acordo com a Alemanha”, sugere uma forte dose de
duplicidade da parte de Stalin, se não da parte de Potiômkin (cf. Beloff, op. cit.,
II, pp. 241-2).
42. Ibid., pp. 20-46; Seidl (ed.), op. cit., pp. 2-3, 5-6, 17, 39, 51, 56-83. Em 14 de
junho, um surpreendente vazamento de informação levou aos alemães as
esperanças e os temores de Stalin {ibid., pp. 23-4). Sobre o significado da
substituição de Litvinov por Molotov, ver Weinberg, The foreign policy of
Hitler’s Germany, pp. 570-2.
43. Schmidt, op. cit., pp. 135, 137, 164; Bohlen, op. cit., p. 82; Albert Speer,
Inside the Third Reich, Londres, 1970, p. 168.
44. Seidl (ed.), op. cit., pp. 84-8; Bohlen, op. cit., p. 83; Schmidt, op. cit., pp.
137-8; Hilger e Meyer, op. cit., pp. 304-5. “A rapidez com que chegaram ao
acordo me impressiona, porque passei quinze meses tentando fazer que os
soviéticos concordassem com cinco tratados de menor importância” (James F.
Byrnes, Speaking frankly, N. York, 1947, p. 286). A intenção de Stalin no seu
convite “piada” a Hitler para invadir a Boêmia também é confirmada no
BoAbuian CoeemcKaH 3HU,uKAoneouR , 1940, vol. 46 (Beloff, op. cit., II, p.
285).
45. Ibid., p. 300; Schmidt, op. cit., p. 134. No dia seguinte, 24 de agosto,
perguntaram a Eden sobre as implicações do pacto. “Tive de dizer que
significava guerra”, foi a resposta agressiva (conde de Avon, The Eden memoirs:
The reckoning, Londres, 1965, p. 275).
49. Esse boato foi criado pelos próprios alemães (Nicholas Bethell, The war
Hitler won, Londres, 1972, p. 9).
50. Ibid., pp. 101-13; Weinberg, Germany and the Soviet Union, pp. 52-4;
Lukacs, op. cit., pp. 56-7.
51. Cf. Hilger e Meyer, op. cit., p. 312; Liam, op. cit., pp. 514-15. A justificativa
de Molotov para a invasão soviética foi impressa por Tane Degras (ed.), Soviet
documents on foreign policy, Oxford, 1953, III, pp. 374-6.
57. Seidl (ed.), op. cit., p. 107; Bethell, op. cit., p. 168. No fim de agosto,
Vorochilov insistia com os poloneses em fazer um pedido de suprimentos
militares à URSS (T. Jankowski e E. Weese, eds., Documents on Polish-Soviet
relations 1939-1945, Londres, 1961, I, pp. 40-1). A oferta foi renovada em 2 de
setembro (ibid., p. 42), mas bruscamente retirada no dia 8 (ibid., p. 43).
58. Weinberg, op. cit., pp. 58-60; Seidl (ed.), op. cit., pp. 120-7; Hilger e Meyer,
op. cit., pp. 313-14; Malcolm Muggeridge (ed.), Ciano’s diary 1939-1943,
Londres, 1947, p. 162.
59. Carta de 23 de maio de 1851, citada por Sir Lewis Namier, 1848: The
revolution of the intellectuals, Londres, 1946, pp. 52-3.
61. Irving, op. cit., pp. 12-13; Heinz Höhne, The order of the death’s head,
Londres, 1969, pp. 296-307.
63. Relato da sra. Lucy Roberts, testemunha ocular, em folhas datilografadas que
me foram gentilmente cedidas; The dark side of the moon, Londres, 1946, pp.
50-73; Albert Konrad Herling, The Soviet slave empire, N. York, 1951, pp. 43-
51; Unto Parvilahti, Beria’s gardens: Ten years captivity in Rússia and Sibéria,
Londres, 1959, p. 81; Tadeusz Wittlin, Commissar: The life and death of
Lavrenty Pavlovich Beria, Londres, 1973, pp. 265-7. Antes da invasão, Béria
dera ordens às unidades do NKVD em Minsk e outras cidades da fronteira para
que se preparassem para acompanhar o Exército Vermelho até a Polônia
(Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres, 1956, p. 94). Em 30 de
setembro, o NKVD sequestrou um diplomata polonês em Kiev e levou-o para
local desconhecido (Documents on Polish-Soviet relations 1939-1945, I, pp. 89-
90).
64. Cf. C. A. Smith (ed.), Escape from paradise, Londres, 1954, p. 78.
65. Zoltan Toth, Prisoner of the Soviet Union, Woking, 1978, pp. 93-4; Robert
Conquest, Kolyma: The Arctic death camps, Londres, 1978, p. 110 (cf. ibid., p.
96).
68. Panfleto Europa Livre, The Soviet occupation of Poland, Londres, 1940, pp.
11-12. O Whitaker’s Almanac de 1946 calcula treze milhões (p. 947).
71. Conquest, op. cit., pp. 95-6, e sua obra The great terror, pp. 118, 430-1;
Dallin e Nicolaevsky, op. cit., p. 25; Alex Weissberg, Conspiracy of silence,
Londres, 1952, pp. 493-7; Margarete Buber, Under two dictators, Londres, 1949,
p. 167; Le procès Kravtchenko contre "Les Lettres Françaises”, Paris, 1949, p.
557.
72. Buber, op. cit., p. 298. Pense-se também na moça alemã comunista
encontrada por Elinor Lipper em Kolyma, cujo irmão tinha morrido em um
campo nazista semelhante (Eleven years in Soviet prison camps, Londres, 1951,
p. 185). Um judeu polonês no GULAG, em 1941: “Às vezes penso que, se
tivesse de escolher entre Pechorlag e o campo de concentração de Dachau,
escolheria Dachau” (Menahem Beguin, White nights: The story of a prisoner in
Rússia, Londres, 1978, p. 204).
75. Stanislaw Kot, Conversations with the Kremlin and dispatches from Rússia,
Londres, 1963, p. 185; cf. Talbott (ed.), op. cit., pp. 144-5; Documents on
Polish-Soviet relations, I, p. 607. Cerca de quatrocentos mil judeus escaparam da
Polônia ocupada pelos soviéticos, e dentre eles pouco mais de quinze mil
tiveram permissão para deixar a União Soviética. (Malcolm J. Proudfoot,
European refugees: 1939-52, Londres, 1959, p. 59). Outra fonte estima o total
em seiscentos mil, dos quais quatrocentos e cinquenta mil “desapareceram” na
URSS (Documents on Polish-Soviet relations, I, pp. 607-8).
76. Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 30-4. Sobre o destino dos judeus na
Europa ocupada pelos soviéticos, consulte-se Lipper, op. cit., pp. 12 e segs.
77. Talbott (ed.), op cit., p. 141. A sra. Roberts os viu em 1939 voltando para
Przemysl através do San (relato de TS).
78. Gustav Herling, A world apart, Londres, 1951, pp. 166-8. Ver a denúncia do
general Keitel de 5 de dezembro de 1939 (R. J. Sontag e J. Beddie, eds., Nazi-
Soviet relations (Washington, 1948, p. 128). O simpatizante americano
Rockwell Kent aprovou a invasão da Polônia pelos soviéticos, dizendo que pelo
menos "aqueles judeus. . . estariam a salvo”! (David Caute, The fellow-
travellers: A postscript to the enlightenment, Londres, 1973, p. 186).
79. Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and legend, Londres, 1974, p. 297. Uma
versão soviética autorizada dos acontecimentos que levaram à conquista da
Polônia consegue evitar a discussão sobre as intrigas nazi-soviéticas usando o
método engenhoso de descrever as negociações anglo-francesas, antes da guerra,
com detalhes só em parte verdadeiros, e omitindo praticamente o papel da União
Soviética (Gromiko et al., eds., op. cit., III, pp. 759-814). A explicação soviética
para esse repugnante período de sua diplomacia é de que a URSS estava
perfeitamente a par das intenções agressivas da Alemanha em relação a ela, mas
não tinha outra alternativa senão assinar o pacto de não-agressão (o Protocolo
Secreto omitido, como de hábito). Os Homens Maus de Munique viram assim
frustrados seus objetivos de incitar a Alemanha e o Japão a atacar a União
Soviética amante da paz. Não é preciso dizer que foi anexada muita
documentação para provar essas afirmações (Gromiko et al., eds., CCCPe Eopèe
3a Mup HaKüHyne emopoü Mupoeoü eoÜHM, Moscou, 1971, pp. 15-15). Pelo
menos uma fonte soviética afirma que o pacto Molotov-Ribbentrop foi assinado
depois da invasão da Polônia pelos alemães! (A. S. Iakovlev, IJeAb )Ku3HU ,
Moscou, 1966, pp. 207-9). Na verdade, ficou estabelecido “que não há provas
das ... supostas tentativas dos britânicos para dirigir a expansão alemã para o
leste”. Os ingleses rejeitaram o Pacto Anti-Komintern e “deploraram a evidência
do atrito russo-alemão”. Seja como for, os russos estavam recebendo
informações do seu agente Richard Sorge, no Japão, segundo as quais os
preparativos de agressão de Hitler visavam o Ocidente e não a União Soviética
(Weinberg, The foreign policy of Hitler’s Germany, pp. 75-6, 104, 551-2).
2. Roy Medvedev aceita a versão de Stalin dos fatos (Let history judge: The
origins and consequences of stalinism, N. York, 1971, pp. 440-2), assim como
Sir John Wheeler-Bennett (Munich: Prologue to tragedy, Londres, 1948, pp.
407-13).
8. Ibid., pp. 76-8; Seidl (ed.), op. cit., p. 390; FO 197/24853. A principal
contribuição soviética foi uma tentativa malograda para chantagear o almirante
Teige, encarregado da construção (Talbott [ed.], op. cit., p. 131; ver almirante N.
G. Kuznetsov, “ Flepefl boííhoh ”, OKmnõpb , 1965, n.° 11, pp. 143-4).
9. Seidl (ed.), op. cit., pp. 390-2; Raymond J. Sontag e James S. Beddie (eds.),
Nazi-Soviet relations 1939-1941, Washington, 1948, pp. 200, .332.
10. Weinberg, op. cit., pp. 150-1, 161, 170; Sontag e Beddie (eds.), op. cit., pp.
201, 236; Seidl (ed.), op. cit., p. 391; W. N. Medlicott, The economic blockade,
Londres, 1952, I, pp. 633-59. Em julho de 1941, os soviéticos forneceram aos
ingleses um completo resumo estatístico das importações feitas pela Alemanha
de matéria-prima russa durante o período do pacto. (ibid., pp. 667-71).
11. Gerhard Ritter, The sword and the sceptre: The problem of militarism in
Germany, Londres, 1973, IV, pp. 113, 119, 229.
14. Weinberg, op. cit., p. 75; cf. Max Beloff, The foreign policy of Soviet Rússia
1929-1941, Oxford, 1949, II, pp. 293-5.
15. Cf. Izvestia, 11 de janeiro de 1941, citado em Foreign relations of the United
States, Washington, 1941, I, pp. 123-4. Os soviéticos fizeram objeções enérgicas
ao bloqueio da Alemanha pelos ingleses em 25 de outubro e 11 de dezembro de
1939 (Jane Degras, ed., Soviet documents on foreign policy, Oxford, 1953, III,
pp. 386-8, 411-12).
16. Seidl (ed.), op. cit., p. 151. Consulte-se o artigo de Stalin no Pravda de 30 de
novembro de 1939 (Stalin, op. cit., I [XIV], p. 404).
20. Charles E. Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973, p. 96; ver
FO 371/23701, 252-99, 23702, 1-164, 305-7.
21. Weinberg, op. cit., pp. 75-85. No inverno de 1939-40, um navio quebra-gelo
soviético abriu o porto gelado de Lulea, no Báltico, para os alemães (Winston
Churchill, The gathering storm, Londres, 1948, p. 430). A “Basis Nord” foi
construída pelo trabalho escravo russo, homens emprestados aos nazistas pelo
GULAG (ver John Murray, A spy called Swallow, Londres, 1978, p. 139).
24. W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, pp. 68-9; Aino
Kuusinen, Before and after Stalin, Londres, 1974, pp. 45-6.
25. Hugh Thomas, John Strachey, Londres, 1973, pp. 184-5. Consulte-se o
“argumento” de Archibald Robertson no Daily Worker (Bill Jones, The Rússia
complex: The British Labour Party and the Soviet Union, Manchester, 1977, p.
39; Henry Pelling, The British Communist Party: A historical profile, Londres,
1958, pp. 109-19), e os tortuosos malabarismos mentais dos professores Hyman
Levy e J. B. S. Haldane (Gary Werskey, The visible College: The collective
biography of British scientific socialists of the 1930s, N. York, 1978, pp. 264-5).
27. Weinberg, Germany and the Soviet Union, pp. 62-5. Alguns dias depois do
apelo de Hitler pela paz, o embaixador soviético Miski fez sondagens a respeito
junto ao governo inglês através de Eden (conde de Avon, The Eden memoirs:
The reckoning, Londres, 1965, p. 76). Em 6 de novembro, o Pravda denunciou a
continuação da guerra pelos franceses e ingleses como uma conspiração de
banqueiros e reacionários (A. Kazantsev, TpembH Ciuia: ucmopua. oõhoü
nonbimKu - Frankfurt, 1974, p. 68).
30. Jean van Heijenoort, With Trotsky in exile, Harvard, 1978, p. 117.
31. A. Rossi, Les communistes français pendant la drôle de guerre, Paris, 1951,
pp. 81-97. Os nazistas deram passagem a Thorez (ver Mikhail Koriakov, Vil
never go back, Boston, 1948, p. 150).
41. Cf. Shirer, op. cit., pp. 131, 342, 343, 365; Arthur Bryant, • The turn of the
tide 1939-1943, Londres, 1957, pp. 51-2; Robert Murphy, Diplomai among
warriors, Londres, 1964, pp. 53-4; Churchill, op. cit., pp. 436, 511-512.
42. Ver David J. Dallin, Soviet espionage, Yale, 1955, pp. 25-70. Em 1935, a
Federação Comunista dos Professores Franceses defendeu vigorosamente a nova
lei soviética que estendia a pena de morte a crianças de doze anos (Aleksandr
Orlov, The secret history of Stalin’s crimes, Londres, 1954, p. 53).
43. Ver Milovan Djilas, Wartime, N. York, 1977, pp. 4-5; Hugh Seton-Watson,
The pattern of communist revolution, Londres, 1953, pp. 201-4. O Partido
Comunista Dinamarquês também adiou a resistência aos alemães até depois da
invasão da Rússia por Hitler ((Beloff, op. cit., II, p. 325).
46. Consulte-se também Medvedev, op. cit., pp. 442-4; Mastny, op. cit., pp. 25-
8; FO 371/66465. Sobre as violentas transmissões radiofônicas soviéticas
antibritânicas, ver FO 371/23678, 167-8, 184, 197, 222, 252-68, 304, etc.;
consulte-se também a opinião realista de Sir Lancelot Oliphant (ibid., 77).
47. John Edickson, “The Red Army before June 1941”, Soviet Affairs, Londres,
1962, III, pp. 105-9.
49. Malcolm Muggeridge (ed.), Ciano's diary 1939-1945, Londres, 1947, p. 170.
50. Seidl (ed.), op. cit., pp. 91, 120-1, 132, 133-42, 145; Sontag e Beddie (eds.),
op. cit., p. 107; Weinberg, Germany and the Soviet Union, pp. 48, 59-60.
51. Churchill, op. cit., pp. 345, 465. A versão soviética sobre a fuga de Orzel é
dada em Degras (ed.), op. cit., III, pp. 376-7.
52. “Estônia 1940-41”, The nineteenth century and after, Londres, 1946, p. 40;
ver Maria Hadow, Paying guest in Sibéria, Londres, 1978, p. 15. O estado
lamentável do Exército Vermelho na Polônia foi descrito a Hitler, com
consequências desagradáveis, dois anos depois (Albert Speer, Inside the Third
Reich, Londres, 1970, p. 169).
53. Seidl (ed.), op. cit., pp. 121, 122-3; Evald Uustalu, The history of the
Estonian people, Londres, 1952, pp. 238-40; The Baltic States 1940-1972,
Estocolmo, 1972, pp. 8-10; Communist takeover and occupation of Estônia:
Special report n.° 3 of the Select Committee on Communist Aggression,
Washington, 1955, pp. 6-8. O texto do tratado é dado em Nazi-Soviet conspiracy
and the Baltic States, Londres, 1958, pp. 39-41. Sobre as versões soviéticas dos
fatos (que não citam a existência do pacto nazi-soviético), consultem-se W. P. e
Zelda Coates, Rússia, Finland and the Baltic, Londres, 1940, pp. 48-63; Estônia
between the two world wars, Tallin, 1973, pp. 180-4. A versão soviética semi-
oficial é um sumário tendencioso do pacto, mas não menciona o protocolo
secreto. Tudo é justificado pela necessidade que a União Soviética tinha de
ganhar tempo e “cumprir seu dever para com o proletariado internacional, para
proteger a segurança do país do socialismo (A. A. Gromiko et al., eds.,
Mcmopun JJunnoMamusi-, Moscou, 1965, III, p. 798). A acreditar nesse ponto
de vista, parece que tudo o que a União Soviética fez foi, ipso facto, correto.
Uma doutrina muito conveniente.
55. Texto em W. P. e Z. Coates, op. cit., pp. 73-7. Ver V. Stanley Vardys,
Lithuania under the Soviets, N. York, 1965, p. 48; The Baltic States 1940-1972,
pp. 29-31.
58. Ver Krivitski, op. cit., pp. 163-6; “A. I. Romanov”, Nights are longest there,
Londres, 1972, pp. 183-5.
59. Sobre Serov, consulte-se Talbott (ed.), op. cit., p. 115; G. A. Tokaev,
Comrade X, Londres, 1956, p. 324.
60. These names accuse: Nominal list of Latvians deported to Soviet Rússia in
1940-41, Estocolmo, 1951, pp. 15-16, 24, 41-8; K. Pelékis, Genocide:
Lithuania’s threefold tragedy, Alemanha, 1949, pp. 30, 273-8.
61. Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, p. 535; Svetlana
Alliluieva, Only one year, Londres, 1969, p. 369.
62. Churchill, op. cit., pp. 363-5, 434-5, 458, 550-2; Bryant, op. cit., p. 74. A
Estônia de antes da guerra estava sob influência britânica (Beloff, op. cit., II, p.
79).
64. Ver Herbert A. Grant Wilton, The Latvian Republic: The struggle for
freedom, Londres, 1965, pp. 58, 60-3, 69.
65. O relato mais completo da migração é feito pelo dr. Erhard Kroeger, Der
Auszug aus der alten Heimat, Tübingen, 1967; consulte-se também Seidl (ed.),
op. cit., p. 126; Heinz Höhne, The order of the death’s head, Londres, 1969, pp.
309-10; Nicholas Bethell, The war Hitler ivon, N. York, 1972, pp. 150-1;
Schwabe, op. cit., pp. 48-9. Os escritores stalinistas W. P. e Z. Coates afirmaram
desavergonhadamente que a questão estava “completamente fora de qualquer
acordo soviético-alemão”! (Rússia, Finland and the Baltic, pp. 88-9). W. P.
Coates foi o “incansável” secretário dos “Amigos da União Soviética” (Bill
Jones, The Rússia complex: The British Labour Party and the Soviet Union,
Manchester, 1977, p. 15).
2. Max Jakobson, The diplomacy of the winter war, Cambridge, Mass., 1961, pp.
55-6, 99-100.
3. Elliot R. Goodman, The Soviet design for a world State, N. York, 1960, p.
337.
4. Jakobson, op. cit., pp. 19-93; Väinö Tanner, The winter war, Stanford, 1950,
pp. 3-21; Gerd R. Überschär, Hitler und Finland 1930-1941: Die Deutsch-
Finnischen Beziehungen während des Hitler-Stalin-Paktes, Wiesbaden, 1978,
pp. 42-60.
9. FO 371/236678, 88.
10. Conde de Avon, The Eden memoirs: The reckoning, Londres, 1965, p. 76.
11. Jakobson, op. cit., pp. 117-18, 141; Tanner, op. cit., pp. 27, 44.
12. “Molotov’s broadcast to the Soviet people”, The U.S.S.R. and Tinland, N.
York, 1939, p. 55.
13. Aino Kuusinen, Before and after Stalin, Londres, 1974, pp. 225-32; Roy A.
Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of stalinism,
Londres, 1971, p. 309.
14. Louis Hagen (ed.), The Schellenberg memoirs, Londres, 1956, pp. 69-70;
Heinz Höhne, The order of the death’s head, Londres, 1969, pp. 260-5; Alfred
M. de Zayas, Die Wehrmacht-Untersuchungsstelle: Deutsche Ermittlungen üher
alliierte Völkerrechtsverletzungen im Zweiten Weltkrieg, Munique, 1980, pp.
34-6.
15. Eloise Engle e Lauri Paananen, The winter war, Londres, 1973, pp. 13-14;
Tanner, op. cit., pp. 85-7; Jakobson, op. cit., pp. 148-50; Überschär, op. cit., pp.
92-6. O professor Lukacs observa que Stalin tirou uma página do livro de Hitler
(The last European war: September 1939/ December 1941, Londres 1976, p. 65).
Sobre a versão soviética desse incidente, ver Jane Degras (ed.), Soviet
documents on foreign policy, Oxford, 1954, III, p. 401.
16. FO 371/24791, 29; William L. Shirer, Berlin diary, Londres, 1941, p. 209.
Muitos observadores estrangeiros compartilhavam essa opinião: consulte-se
Harold Nicholson, Diaries and letters 1939-1945, Londres, 1967, p. 47.
17. John Erickson, The road to Stalingrad, Londres, 1975, pp. 17-18.
20. Tanner, op. cit., pp. 89-91; Michael Parrish, “Command and leadership in the
Soviet Air Force during the Great Patriot War”, Aerospace Historian, 1979,
XXVI, p. 194.
24. Tadeusz Wittlin, Comissar. The life and death of Lavrenty Pavlovich Beria,
Londres, 1973, pp. 272-4; compare-se com o relato de uma testemunha ocular,
Mikhail Soloviev, My nine lives in the Red Army, N. York, 1955, pp. 174-5,
181; FO 371/24791, 7.
25. Engle e Paananen, op. cit., pp. 27, 47, 48; FO 371/24792, 152; FO
371/24795, 174.
27. Robert Conquest, The great terror: Stalin’s purge of the thirties, Londres,
1968, pp. 484-92.
3. Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, p. 521; Viktor
Kalnich, “ Ü3 McTOpHH CoBeTCKOH ArpeccHBHOH üojihthkh ”, <PaKmbi
u Mmcau , N. York, novembro de 1979, XV, p. 7; Strobe Talbott (ed.),
Khrushchev remembers, Boston, 1970, p. 155.
5. Max Jakobson, The diplomacy of the winter war, Cambridge, Mass., 1961, p.
254. Consulte-se a comparação feita por Eloise Engle e Lauri Paananen, The
winter war, Londres, 1973, p. 143.
8. Charles E. Bohlen, Witness to history, Londres, 1973, pp. 93-5; Jakobson, op.
cit., pp. 165-70. Um jurista soviético explicou mais tarde a legitimidade dessas
aventuras: “A URSS tem o direito de se defender alterando as fronteiras do país
que constitui uma ameaça para ela. A fim de garantir as fronteiras da URSS, o
problema territorial pode ser resolvido por meio de uma guerra justa, que é a
autodefesa do Estado socialista” (Goodman, op. cit., p. 308).
10. Väinö Tanner, The winter war, Stanford, 1957, p. 196; Bohlen, op. cit., p. 95.
Esta era a opinião do embaixador alemão em Moscou (Documents on German
foreign policy 1918-1945, series D, IX, p. 53) e do embaixador polonês em
Londres (Documents on Polish-Soviet relations 1939-1945, Londres, 1961, I, p.
339).
17. Mikhail Soloviev, My nine lives in the Red Army, N. York, pp. 192-9.
18. Boris Bajanov, Bajanov révèle Staline, Paris, 1979, pp. 263-8; Gordon
Brook-Shepherd, The storm petrels: The first Soviet defectors, 1928-1938,
Londres, 1977, p. 246.
21. Woodward, op. cit., pp. 28-32; History, LXVI, pp. 380-2.
28. John Lukacs, The last European war: September 1939/December 1941,
Londres, 1976, p. 71. Lukacs critica injustamente o relatório do estado-maior,
que é claramente cético.
X. Murmúrios na floresta
1. Sir Llewellyn Woodward, British foreign policy in the Second World War,
Londres, 1962, pp. 29-31.
2. GO 371/24850, 71.
5. FO 371/24850, 23.
8. Bill Jones, The Rússia complex: The British Labor Parly and the Soviet
Union, Manchester, 1911, pp. 45, 108, 166; David Caute, The fellow-travellers:
A PostScript to the enlightenment, Londres, 1973, pp. 93, 183, 274, 282.
Zilliacus era também suspeito de estar envolvido com a Alemanha Oriental
(Richard Deacon, The British connection, Londres, 1979, p. 235).
9. NA, RG 84, box 42. Em 1937, Zilliacus estava em contato com o agente
Rado, do NKVD (Sandor Rado, Codename Dora, Londres, 1977, p. 12).
10. Le procès Kravtchenko contre "Les Lettres Françaises”, Paris, 1949, p. 291.
12. A. Rossi, Les communistes français pendant la drôle de guerre, Paris, 1951,
pp. 192-5. Simpatizantes britânicos, como os Webb, Bernard Shaw e Sybil
Thorndike, foram atraídos para a campanha (Caute, op. cit., p. 192).
13. A respeito dos temores dos soviéticos sobre esse assunto, consulte-se G. A.
Tokaev, Comrade X, Londres, 1956, p. 150.
14. Cf. Milovan Djilas, Wartime, N. York, 1977, p. 69; Adam B. Ulam, Stalin:
The man and his era, Londres, 1974, p. 280.
16. Cf. Aleksandr Nekritch, HaKü3ahHbie Hapodbi-, N. York, 1978, pp. 96-
108.
18. Alfred Seidl (ed.), Die Beziehungen zwischen Deutschland und der
Sowjetunion 1939-1941, Tübingen, 1949, pp. 158, 170-1, 174-6; Gustav Hilger e
Alfred G. Meyer, The incompatible allies: A memoir-history of German-Soviet
relations 1918-1941, N. York, 1953, pp. 315-16; Gerhard L. Weinberg, Germany
and the Soviet Union 1939-1941, Leiden, 1954, pp. 90-1.
20. Donald Macintyre, The naval war against Hitler, Londres, 1971, pp. 26-34;
T. K. Derry, The campaign in Norway, Londres, 1952, pp. 36-52.
21. Ibid., pp. 78, 144. “Assim, a situação um mês depois da invasão da Noruega
pelos alemães. .. podia ser definida como um desapontamento” (ibid., p. 170).
Depois dos primeiros desembarques britânicos em Harstad e Namsos, “a crise
militar levou Hitler à beira de um colapso nervoso” (David Irving, Hitler’s war,
Londres, 1977, p. 98).
23. Weinberg, op. cit., pp. 81-2; Derry, op. cit., pp. 44, 45, 158-9; Documents on
German foreign policy 1918-1943, series D, IX, p. 135.
24. Hugh Thomas, John Strachey, Londres, 1973, pp. 191-2. Strachey não
concordou com a atitude favorável aos alemães do Partido.
25. Rossi, op. cit., pp. 191-2.
26. Gordon Brook-Shepherd, The storm petrels: The first Soviet defectors, 1928-
1938, Londres, 1977, pp. 179-80. Uma cooperação semelhante entre os serviços
secretos alemão e soviético existia também nos Estados Unidos (Allen
Weinstein, Perjury: The Hiss-Chambers case, Londres, 1978, p. 328). Foi o
temor dos efeitos dessa cooperação no começo da guerra, em 1939, que levou
Whittaker Chambers a informar sobre as atividades do Partido Comunista nos
Estados Unidos (Whittaker Chambers, Witness, Londres, 1953, pp. 317-8). Ele
já tomara conhecimento da profunda simpatia dos comunistas por “um grande
grupo de membros do Partido Nazista” (ibid., p. 228).
34. Derry, op. cit., pp. 163, 193; Zygmunt Litinski, I was one of them, Londres,
1941, pp. 74-7, 84-8, 91-2; FO 371/24796, 154-64. Foi proposto também que
fossem recrutados poloneses que haviam fugido das forças de ocupação
soviéticas para os países bálticos (ibid.); em 1940, as autoridades soviéticas
levaram muitos deles para os campos do GULAG (Z. Stipulkowski, Invitation to
Moscow, Londres, 1951, p. 241). Durante a invasão em 1939, o Exército
Vermelho aparentemente recebera instruções para não permitir a fuga da Polônia
de oficiais poloneses (Nicholas Bethell, The war Hitler won, N. York, 1972, pp.
314-15).
37. The dark side of the Moon, Londres, 1946, pp. 52-7; Herman Raschhofer,
Political assassination: The legal background of the Oberländer and Stashinsky
cases, Tübingen, 1964, p. 205; Maria Hadow, Paying guest in Sibéria, Londres,
1961, p. 16.
38. Louis FitzGibbon, Katyn: A crime without parallel, Londres, 1971, pp. 33-
51.
39. A prova de que Stalin temia a revolução infinitamente mais do que a guerra
aparece em todo esse livro. Para mais um exemplo esclarecedor, podemos nos
lembrar do sequestro do general russo-branco Miller pelo NKVD, em Paris, no
mês de setembro de 1937. O sequestro deveria provocar grande revolta na
França, especialmente em vista da reação ao sequestro do general Kutiepov em
1930 (cf. Geoffrey Bailey, The conspirators, Londres, 1961, pp. 101-2). Isso
ocorreu quando Litvinov tentava desesperadamente organizar uma política
franco-soviética de intervenção na Espanha e de resistência a Hitler! (Beloff, op.
cit., 11,88-102). Evidentemente os conspiradores russos-brancos eram mais
importantes entre as prioridades de Stalin.
40. FitzGibbon, op. cit., p. 54. O general Weygand devia parecer uma figura
muito ameaçadora para o NKVD, pois era um membro importante do Comitê
d’Honneur da organização anti-soviética Société des Amis de la Russie
Nationale.
42. Louis FitzGibbon, Unpitied and unknown, Londres, 1975, pp. 317, 319, 359,
362, 364. Seria essa sede do clube igual à do “sindicato dos trabalhadores em
Gniezdovo”, onde eram realizadas orgias do Partido no fim dos anos 30? Cf.
Merle Fainsod, Smolensk under Soviet rule, Londres, 1958, p. 60.
43. Harold Nicolson, Diaries and letters 1939-1945, Londres, 1967, p. 291.
46. Lennard D. Gerson, The secret police in Lenin's Rússia, Filadélfia, 1976, pp.
153-4.
47. Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, pp. 35-6. Esse relato
parece sugerir que os prisioneiros foram atrasados propositadamente en route,
parando no campo de trânsito, pois o mar Branco normalmente não fica
congelado antes de maio.
48. Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of
stalinism, N. York, 1971, p. 13.
50. “A. I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres,
1972, pp. 136-9. Aparentemente, o comandante do NKVD em Katin era o
coronel Pogrebnoi (Anatoli Granovski, Ali pity choked: The memoirs of a Soviet
secret agent, Londres, 1955, p. 229). O professor Swianiewicz o descreve como
“alto, forte, de meia-idade, com cabelos escuros e rosto corado” (FitzGibbon,
Katyn: A crime without parallel, p. 67).
51. Stalin acreditava ser eficaz o método que consistia em restringir a liderança
das nações, pois via o povo como uma massa informe. Como se sabe, ele propôs
a Churchill e a Roosevelt, em 1943, a liquidação de cinquenta mil oficiais
alemães de alta patente para eliminar a força militar germânica. Churchill ficou
chocado, e Roosevelt divertiu-se com a proposta (Winston Churchill, Closing the
ring, Londres, 1952, p. 330).
54. Ibid., pp. 18, 43, 213, 464. O professor Mastny apresenta objeções às
explicações sobre Katin: Vojtetch Mastny, Russia’s road to the cold war:
Diplomacy, warfare, and the politics of communism, 1941-1945, N. York, 1979,
p. 28.
55. FitzGibbon, op. cit., pp. 38-40, e seu livro: A crime without parallel, pp. 53-
7.
56. History, LXVI, pp. 382-3. Sobre a reserva dos britânicos em agir contra a
URSS (não revelada aos franceses), ver David Dilks (ed.), The diaries of Sir
Alexander Cadogan, Londres, 1971, p. 265.
57. E. H. Cookridge, The third man: The truth ahout “Kim” Philby, double
agent, Londres, 1968, pp. 71-3.
58. Andrew Boyle, The climate of treason: Five who spied for Rússia, Londres,
1979, pp. 145, 169, 184. Agradeço ao sr. Boyle pela informação detalhada sobre
o assunto.
2. Max Beloff, The foreign policy of Soviet Rússia 1929-1941, Oxford, 1949, II,
p. 308; Jane Degras (ed.), Soviet documents on foreign policy, Oxford, 1953, III,
pp. 412-15.
3. Jakobson, op. cit., pp. 190-7; Robert Dallek, Franklin D. Roosevelt and
American foreign policy 1932-1945, N. York, 1979, pp. 208-15; Robert E.
Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An intimate history, N. York, 1948, pp. 137-
8; é interessante ler as citações de outra parte desse discurso, que habilmente
invertem suas intenções, feitas por um moderno “historiador revisionista”: E. P.
King, The new internationalism: Allied policy and the European peace 1939-
1945, Newton Abott, 1973, pp. 25-6.
8. Seidl (ed.), op. cit., pp. 178-9, 181. O antigo cáiser congratulou-se com Hitler
no mesmo dia (Documents on German foreign policy, series D, IX, p. 598).
11. The memoirs of general the Lord Smay, Londres, 1960, p. 234; FO
371/29607, 11-12, 15-22, 27-8 (“esses soldados foram muito maltratados nas
prisões russas”: 23); FO 371/32981, 27; Tadeusz Wittlin, A reluctant traveller in
Rússia, Londres, 1952, pp. 59-61. Um inglês chamado Hamilton Gold estava na
prisão Zhoutilki no verão de 1939 (Le procès Kravtchenko contre "Les Lettres
Françaises”, Paris, 1951, p. 559).
12. V. Stanley Vardys, Lithuania under the Soviets: Portrait of a nation, 1940-
63, N. York, p. 49.
15. Documents on German foreign policy, series D, pp. 474-5, 548-50, 561, 572-
3, 582-3; Vardys, op. cit., pp. 49-52; K. Belékis, Genocide: Lithuania’s threefold
tragedy, Alemanha, 1949, pp. 38-40; Agnis Balodis, Sovjets och Nazitysklands
uppgórelse om de bàltiska staterna, Estocolmo, 1978, pp. 44-6. A nota soviética
de 14 de junho está em Degras (ed.), op. cit., III, pp. 453-5.
16. Ibid., III, pp. 455-6; Documents on German foreign policy, series D, IX, pp.
574-5; Alfreds Berzinsh, I saw Vishinsky bolshevize Latvia, Washington, 1948,
pp. 15-24; Arveds Schwabe, The story of Latvia: A historical survey, Estocolmo,
1950, pp. 54-6; Balodis, op. cit., pp. 46-7. O próprio Stalin ajudou a acalmar os
temores dos lituanos antes do ataque: cf. Joseph Czapski, The inhuman land,
Londres, 1951, p. 211.
17. Documents on German foreign policy, series D, IX, pp. 581, 589;
Communists takeover and occupation of Estônia: Special report n.° 3 of the
Select Committee on Communist Aggression, Washington, 1955, pp. 8-9; Evald
Uustalu, The history of the Estonian people, Londres, 1952, pp. 240-1; Nazi-
Soviet conspiracy and the Baltic States, Londres, 1948, pp. 46-8.
18. Estônia between the two world wars, Tallin, 1973, pp. 184-5.
19. “Estônia 1940-41”, The Nineteenth Century and After, 1946, p. 40.
20. Documents on German foreign policy, series D, IX, pp. 577-80, 687-8.
22. Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of
stalinism, Londres, 1972, p. 216.
23. Documents on German foreign policy, series D, IX, p. 268. Jdanov tentava
aparentemente conseguir a posição de Gauleiter no Báltico desde 1936 pelo
menos; cf. Max Beloff, The foreign policy of Soviet Rússia 1929-1941, Oxford,
1949, II, p. 78.
24. Robert Conquest, The great terror: Stalin’s purge of the thirties, Londres,
1968, p. 428.
25. Rolfs Ekmanis, Latvian literature under the Soviets 1940-1975, Belmond,
Mass., 1978, p. 51.
29. Berzinsh, op. cit., pp. 52-3. Um historiador soviético declara que, “na
realidade, o domínio soviético foi estabelecido pacificamente, sem o
derramamento de sangue de um conflito armado” (I. A. Stheiman, TaKmuKa
KoMnapmuu. Jlameuu e coi^uatiucmuHecKoü peeontovpuu 1940 zoda, Riga,
1977, p. 44).
30. Pelékis, op. cit., pp. 42-58. Os assassinos vivem aposentados na União
Soviética. Um certo Juozas Vildziunas, do NKVD lituano, publicou
orgulhosamente suas memórias sobre as atividades em 1940: “Rudasis
lagaminas”, Svyturys, Vilnius, agosto de 1968, pp. 20-2. Consulte-se também
The dark side of the Moon, Londres, 1946, pp. 50-2.
31. Ibid., p. 52; Gustav Herling, A world apart, Londres, 1951, p. 168. A
necessidade constante de renovação da força de trabalho escravo do GULAG
(David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced labor in Soviet Rússia, Londres
1948, p. 104; Rozanov, 3aeoeeamenu õenbix namen-, Limburg, 1951, p. 274)
pode explicar os sequestros, mas não os assassinatos e as torturas.
33. Documents on German foreign policy, series D, IX, pp. 396-7, 415-16, 419,
466-70.
34. Seidl (ed.), op. cit., pp. 182-7, 189-92. Em 23 de junho, o Izvestia publicou
uma declaração oficial acentuando o fato de que “as relações de boa vizinhança.
.. entre a URSS e a Alemanha. .. não se baseiam em considerações oportunistas
de caráter transitório, mas nos interesses políticos fundamentais da URSS e da
Alemanha” (Degras, op. cit., III, p. 457).
36. Ruta U., Dear God, I wanted to live, N. York, 1978, pp. 77, 84.
37. Albert Konrad Herling, The Soviet slave empire, N. York, 1951, p. 113;
Dallin e Nicolaevsky, op. cit., p. 265; Vladimir Petrov, My retreat from Rússia,
Yale, 1950, pp. 204, 222-3; John A. Armstrong, Ukrainian nationalism, N. York,
1955, p. 72.
38. Por exemplo, Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974,
pp. 524-5; Vardis, op. cit., pp. 48-9.
42. Ekmanis, op. cit., pp. 66-7. Muito tempo depois de a propaganda soviética
ter afirmado que a anexação fora uma medida preventiva contra a Alemanha,
Khrushchev lembrava-se da atmosfera da época. “Na opinião dele, se houvesse
uma guerra em larga escala, e se a Inglaterra, França ou Alemanha procurassem
nos invadir, tentariam usar os territórios da Lituânia, Letônia e Estônia como
base de preparativos” (Strobe Talbott (ed.), Khrushchev remembers, Boston,
1970, p. 149). A ordem é significativa.
43. A opinião de Stalin representava uma política soviética em prática havia
muito tempo. Em 1932, Radek advertira: “Se a capital da Entente, depois de
destroçar a Alemanha, estabelecer sua hegemonia sobre esse país nas costas dos
trabalhadores alemães conquistados, isso significará o maior perigo para a União
Soviética” (Lionel Kochan, Rússia and the Weimar Republic, Londres, 1954, p.
83).
3. Max Beloff, The foreign policy of Soviet Rússia 1929-1941, Londres, 1949,
II, pp. 330-1, 335, 341-2; Gerd R. Überschär, Hitler und Finland 1939-1941: Die
Deutsch-Finnischen Beziehungen während des Hitler-Stalin-Paktes, Wiesbaden,
1978, pp. 179-99.
8. Seidl (ed.), op. cit., pp. 229-97; Paul Schmidt, Hitler’s interpreter, Londres,
1951, pp. 209-20; Gustav Hilger e Alfred G. Meyer, The incompatible allies: A
memoir-history of German-Soviet relations 1918-1941, N. York, pp. 321-4;
Gerhard L. Weinberg, Germany and the Soviet Union 1939-1941, Leiden, 1954,
pp. 140-4; Irving, op. cit., pp. 178-80; V. M. Berejkov, C dunnoMamuHecKoü
Muccueü e EepAUH 1940-1941, Moscou, 1966, pp. 22-48.
9. Seidl (ed.), op. cit., pp. 298-302; Irving, op. cit., pp. 181-93. No dia 12 de
dezembro de 1940, o embaixador Dekanov deu a Ribbentrop uma fotografia
autografada de Stalin (Documents on German foreign policy 1918-1945,
Londres, 1961, op. cit., p. 291).
17. Cripps foi um dos poucos observadores estrangeiros a perceber que Stalin, de
modo geral, temia mais a vitória da Inglaterra do que da Alemanha (Sir
Llewellyn Woodward, British foreign policy in the Second World War, Londres,
1962, pp. 144-50).
18. Seidl (ed.), op. cit., pp. 302-98; Beloff, op. cit., II, pp. 355-84.
22. Bertram D. Wolfe, Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, pp. 164-8.
23. F. W. Deakin e G. R. Storry, The case of Richard Sorge, N. York, 1966, pp.
228-31; Nekritch, op. cit., pp. 117-19.
30. Para maiores detalhes, consulte-se Barry A. Lesch, German strategy against
Rússia 1939-1941, Oxford, 1973, p. 170; Heinz Höhne, Codeword: Direktor:
The story of the Red Orchestra, Londres, 1971, p. 237; John Erickson, “The Red
Army before June 1941”, Soviet Affairs, Londres, 1962, III, p. 116; seu “The
Soviet response to surprise attack: Three directives, 22 June 1941”, Soviet
Studies, 1971-2, XXIII, pp. 519-30; e seu The road to Stalingrad: Stalin’s war
with Germany, Londres, 1975, pp. 87-97; Roy Medvedev, Let history judge: The
origins and consequences of stalinism, Londres, 1946, pp. 52-3.
31. Sobre a operação do NKVD na Polônia, ver The dark side of the Moon,
Londres, 1946, pp. 52-3
32. Cf. W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, pp. 198-201. O
principal objetivo do decreto era ameaçar os acusados nos julgamentos de
expurgo com represálias sobre seus filhos, se eles não cooperassem (Aleksandr
Orlov, The secret history of Stalin’s crimes, Londres, 1954, pp. 53-4, 88).
34. These names accuse: Nominal list of Latvians deported to Soviet Rússia in
1940-41, Estocolmo, 1951, pp. 29-30; The dark side of the Moon, p. 87.
37. Hilger e Meyer, op. cit., p. 336. Sobre os expurgos que precederam
imediatamente a invasão, consultem-se Albert Conrad Herling, The Soviet slave
empire, N. York, 1951, pp. 51-61, 72, 79-81, 90-7, 210-7; David J. Dallin e
Boris I. Nicolaevsky, Forced labor in Soviet Rússia, Londres, 1948, pp. 265-74;
“Estônia 1940-1941”, The Nineteenth Century and After, 1946, CXXXIX, pp.
45-6; Alfreds Berzinsh, I saw Vishinsky Bolshevize Latvia, Washington, 1948,
pp. 52-3; Ants Oras, “Deportations in Estônia”, The Baltic Review, 1947, II, pp.
18-21; Human rights and genocide in the Baltic States, Estocolmo, 1950, p. 20;
Antoni Ekart, Vanished without trace: The story of seven years in Soviet Rússia,
Londres, 1954, pp. 196-7; Ruta U., Dear God, I wanted to live, N. York, 1978,
pp. 9-42; C. A. Smith (ed.), Escape from paradise, Londres, 1954, pp. 41-2;
Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres, 1956, p. 119. O
melancólico volume These names accuse contém uma lista de trinta mil lituanos
deportados pelos soviéticos nessa época; ver também Janis Kronlins, 379 baiga
gada Dienas: Latviesu faunatnes un tas audzinataju liktenis Baigaja 1940. un 41.
gada, 1967, pp. 208-341. Sou extremamente grato ao sr. Arnis Keksis, que
coletou para mim uma grande quantidade de testemunhos sobre os expurgos no
Báltico, tanto orais como escritos. Apenas uma parte é citada aqui, mas é
amplamente confirmada pelo resto. Expurgos em grande escala ocorreram
também na Ucrânia nos dias que precederam a invasão alemã (Hermann
Raschhofer, Political assassination: The legal hackground of the Oberländer and
Stashinsky cases, Tübingen, 1964, pp. 35, 49).
5. Erikson, op. cit., pp. 8-9, 50-1; Nekritch, op. cit., pp. 75-7, 83-4; John
Erickson, “1941”, Survey, 1962, XLIV-V, pp. 181-3; Kravtchenko, op. cit., pp.
368-78; Otto Preston Chaney, Jr., Zhukov, Newton Abott, 1972, pp. 75-84, 96;
Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of stalinism,
Londres, 1971, pp. 446-54. A opinião pouco lisonjeira do adido militar britânico
sobre as forças soviéticas está em FO 371/23678, 147-64.
7. Bertram D. Wolfe (ed.), Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, pp.
176-8; Talbott (ed.), op. cit., pp. 166-9, 219; Avtorkhanov, 3azaÕKa CMepmu
CmaAuna,3azoeopEepun, Frankfurt, 1976, pp. 9-15.
11. Mikhail Soloviev, My nine lives in the Red Army, N. York, 1955, p. 262.
12. Medvedev, Let history judge, p. 457; Talbott (ed.), op. cit., pp. 169-70. O
embaixador Maiski em Londres não recebeu nenhuma instrução durante vários
dias (A. Avtorkhanov, “3aKyjiHCHaH hctophh naKTa‘PH66eHTponMojiotob
”, KoHmuHenm, 1975, IV, p. 315).
14. Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, pp. 477, 630-1.
15. Cf. Amnon Sella, “Red Army doctrine and training on the eve of the Second
World War”, Soviet Studies, 1975, XXVII, pp. 245-64.
16. Robert Conquest, The great terror: Stalin’s purge of the thirties, Londres,
1968, p. 488. John Erickson também acha isso “difícil de explicar” (The road to
Stalingrad, p. 77).
17. John Erickson, “The Soviet response to surprise attack: Three directives, 22
June 1941”, Soviet Studies, 1971-2, XXIII, pp. 533-4, 537, 549-50. Cf. Wolfe,
op. cit., p. 172; Medvedev, op. cit., p. 457. O absurdo da explicação de que
qualquer tipo de precaução poderia provocar um ataque das forças alemãs era
patente para os comandantes da época; ver general N. N. Voronov, Ha
cAyxt6«.eoenH°ú-, Moscou, 1963, pp. 172-5.
19. “My meeting with Stalin”, The American Magazine, dez. de 1941. O ultraje
sentido por Stalin pela quebra do tratado por Hitler foi acentuado com o que
parece um sentimento de traição pessoal (Robert E. Sherwood, Roosevelt and
Hopkins: An intimate history, N. York, 1948, p. 328).
23. Boris Bajanov, Bajanov révèle Staline: Souvenirs d’un ancien secrétaire de
Staline, Paris, 1979, p. 27.
24. Walter Schellenberg, The Schellenberg memoirs, Londres, 1956, pp. 45-9;
“Geoffrey Bailey”, The conspirators, Londres, 1961, pp. 180-201; Medvedev,
Let history judge, pp. 300-1; Nekritch, op. cit., pp. 86-7; Conquest, op. cit., pp.
206-23. Uma vez que Tukhachevsky tinha recebido diversos avisos assustadores
antes de sua queda (ibid., pp. 171, 212), é possível que estivesse pensando num
golpe preemptivo. Com efeito, seria de admirar se não o fizesse. O professor
Ulam acha que “Stalin acreditava, pelo menos em parte, que havia uma
conspiração” (op. cit., pp. 452-3). A filha de Tukhachevsky também terminou
seus dias num campo de trabalho (ibid., p. 244).
25. Robert J. 0’Neill, The German Army and the Nazi Party, 1933-1939,
Londres, 1966, pp. 139-50.
27. Ulam, op. cit., pp. 528, 531. Essa era a opinião geral na embaixada soviética
em Berlim (Documents on German foreign policy 1918-1943, Londres, 1961,
series D, XI, p. 1036).
28. Nekritch, op. cit., p. 127; George F. Kennan, Rússia and the West under
Lenin and Stalin, Boston, 1961, pp. 334-6. Stalin deve também ter pensado no
quanto Hitler devia sua posição à ajuda e às intrigas dos comunistas (ibid., pp.
286-92).
31. General I. V. Tiulenev, LIepe3 mpu fíoÜHbi, Moscou, 1960, pp. 140-2.
35. Vojtetch Mastny, Russia’s road to the cold war: Diplomacy, warfare, and the
politics of communism, 1941-1943, N. York, 1979, p. 34. O escritor soviético
Konstantin Simonov acha “incompreensível” a recusa de Stalin em aceitar a
realidade (Medvedev, op. cit., p. 453). A certeza de Hitler de que a União
Soviética jamais desfecharia uma guerra agressiva enquanto Stalin estivesse no
governo sugere que tinha motivos para confiar nele (cf. Max Beloff, The foreign
policy of Soviet Rússia 1929-1941, Oxford, 1949, II, pp. 355-6).
36. Stanislaw Kot, Conversations with the Kremlin and dispatches from Rússia,
Londres, 1963, pp. XIX-XX.
37. Ortwin Buchbender, Das tönende Erz: Deutsche Propaganda gegen die Rote
Armee im Zweiten Weltkrieg, Stuttgart, 1978, pp. 84-5; ver Kravtchenko, op.
cit., pp. 357-8. A afirmação de Hitler de que temia a agressão soviética é
inteiramente falsa (Barry A. Leach, German strategy against Rússia 1939-1941,
Oxford, 1973, pp. 69-71, 141, 174-5), embora tivesse razões estratégicas de
longo prazo para a guerra contra a Rússia (George F. Kennan, Memoirs 1923-
1930, Boston, 1967, pp. 72, 131).
39. Cf. Wilfried Strik-Strikfeldt, Against Stalin and Hitler: Memoir of the
Russian Liberation Movement 1941-3, Londres, 1970, pp. 21-36; David
Littlejohn, The patriotic traitors, Londres, 1972, pp. 306-7. O efeito mortal da
propaganda soviética, ofendendo com a mesma energia todos os sistemas
políticos, exceto um, podia fazer que sequer um judeu soviético acreditasse na
propaganda antinazista (Bernhard Roeder, Katorga: An aspect of modem
slavery, Londres, 1958, p. 63). Essa ingenuidade criada pela propaganda é bem
descrita por George Fischer, Soviet opposition to Stalin, Harvard, 1952, pp. 137-
42, e Kazantsev, TpembH Cuaü: ucmopun oõhoü nonbimKU-, Frankfurt, 1974,
pp. 71-6.
40. Richard H. Ullmann, Britain and the Russian civil war, Princeton, 1968, p.
153.
XIV. A guerra em duas frentes
1. Eugene Lyons, Stalin: Czar of all the Russias, Londres, 1940, p. 250.
4. Svetlana Alliluieva, Only one year, Londres, 1969, p. 354; Strobe Talbott
(ed.), Khrushchev remembers, Boston, 1970, p. 310. A organização do Partido
Comunista operava sob a tutela do NKVD (A. Avtorkhanov, “3aicyjiHCHaH
HCTopra naicra ‘PH66eHTpon-MojioTOB,”>KoHmuHewn, 1975, IV, p. 314).
5. Stanislav Kot, Conversations with the Kremlin and dispatches from Rússia,
Londres, 1963, p. 53.
6. “A. I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres,
1972, pp. 141-2; Oleg Penkovskiy, The Penkovskiy papers, N. York, 1965, pp.
37-8; Roy A. Medvedev, On Stalin and stalinism, Oxford, 1979, p. 133.
9. Cf. Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and legend, Londres, 1974, pp. 305-
6; Conquest, op. cit., p. 488.
10. Jean van Heijenoort, With Trotsky in exile, Harvard, 1978, p. 63. As
opiniões políticas de Trotsky na época eram mais malucas ainda, se isso é
possível (Medvedev, op. cit., pp. 135-8).
11. F. W. Deakin e G. R. Storry, The case of Richard Sorge, N. York, 1966, pp.
199-203; Aleksandr Orlov, The secret history of Stalin’s crimes, Londres, 1954,
pp. 225-6; Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences
of stalinism, Londres, 1972, pp. 244-5. O relato mais completo é o de Alvin D.
Coox, “L’affaire Lyushkov: Anatomy of a defector”, Soviet Studies, 1967-68,
XIX, pp. 405-20.
13. Medvedev, op. cit., p. 312; Alliluieva, op. cit., p. 353; Talbott (ed.), op. cit.,
p. 170; Conquest, op. cit., pp. 489-90; John Erickson, The road to Stalingrad,
Londres, 1975, pp. 159-60, 176; Michael Parrish, “Command and leadership in
the Soviet Air Force during the great patriot war”, Aerospace Historian, 1979,
XXVI, pp. 195-7.
14. Merle Fainsod, Smolensk under Soviet rule, Londres, 1958, pp. 335-42.
16. Ulam, op. cit., p. 457; Otto P. Chaney, Jr. Zhukov, Newton Abott, 1972, pp.
92-3. Não se conhece ainda a sucessão dos chefes comissários da força aérea
(Aerospace Historian, XXVI, pp. 194-5).
18. Chaney, op. cit., pp. 242-3, 257, 322. Viktor Nekrassov conta uma anedota
sarcástica e bastante reveladora na sua vivida dramatização, B ÜKonax
CmanuHzpada, Moscou, 1955, pp. 145-8. O relato de uma testemunha ocular
sobre o assassinato revoltante e sem motivo de um civil por um politruk é
fornecido por “N. N. N.”, Ha tpponme 1941 zoda• u e nneny, eocnoMimaHüH
epana, Buenos Aires, 1974, pp. 32-4.
19. Vladimir Petrov, It happens in Rússia: Seven years forced labour in the
Siberian goldfields, Londres, 1951, pp. 297-8; Ekart, op. cit., p. 218.
21. Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres, 1956, pp. 98-9; “A. I.
Romanov”, op. cit., pp. 68-74; Kravtchenko, op. cit., p. 369; Soviet military
intelligence: Two sketches, programa de pesquisa sobre a URSS, N. York, 1952,
pp. 15-24.
22. Kot, op. cit., p. 53; “N. N. N.”, op. cit., p. 38; Raphael Rupert, A hidden
world, Londres, 1963, p. 94; Soloviev, op. cit., pp. 225, 248-9, 308.
23. Nikolai Tolstoy, Victims of Yalta, Londres, 1977, pp. 33-6, 396-8.
24. Stalin, op. cit., II (XV), p. 13. As estatísticas são extremamente inexatas.
25. Ibid., pp. 15-16. Voltou ao tema dois anos mais tarde (ibid., p. 118).
28. CAB 66/54, 125, 127, 131; Vladimir Petrov, My retreat from Rússia, Yale,
1950, pp. 40-1; conde de Avon, The Eden memoirs: The reckoning, Londres,
1965, pp. 301-2; Kravtchenko, op. cit., pp. 362-3, 370, 375-7; Chaney, op. cit.,
pp. 150-2; Anatoli Granovski, Ali pity choked: The memoirs of a Soviet secret
agent, Londres, 1955, pp. 123-4; Soloviev, op. cit., pp. 243-63, 300; Ekart, op.
cit., pp. 98-9. É interessante e estranho notar que no dia seguinte ao da retomada
do controle de Moscou pelo NKVD (19 de outubro), o centro (de inteligência) de
Moscou saiu do ar por seis semanas (Alexander Foote, Hand-book for spies,
Londres, 1964, p. 98). A embaixada dos Estados Unidos descobriu mais tarde a
confirmação da destruição dos arquivos do NKVD em 1941 (Walter Bedell
Smith, Moscow mission 1946-1949, Londres, 1950, p. 177). Acerca das
circunstâncias do recrutamento do decreto do Comitê de Defesa do Estado, ver
general-de-divisão K. F. Telegin, “ MocKBa — (JjpoHTOBOH ropojj ”,
Bonpocbi ucMopuu KTJCC, 1966, n.° 9, pp. 104-7.
29. Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, pp. 14-17, 138, 222; Kot,
op. cit., pp. 53, 62-3, 70, 71, 264. Compare-se a interessante carta de um
observador letão publicada no Times em 12 de agosto de 1980; Aleksandr
Soljenitsin, The mortal danger, how misconceptions ahout Rússia imperil the
West, Londres, 1980, pp. 39-40.
31. Margarete Buber, Under two dictators, Londres, 1949, p. 83; Kot., op. cit., p.
164; Ekart, op. cit., p. 98.
32. Kravtchenko, op. cit., pp. 354-7, 367-8, 388; Ekart, op. cit., pp. 94-5; Petrov,
op. cit., pp. 27, 83-5.
33. Robert Conquest, The nation killers: The Soviet deportation of nationalities,
Londres, 1970, pp. 59-66, 107-9; Frank H. Epp, Mennonite exodus: The rescue
and resettlement of the Russian mennonites since the Russian revolution,
Manitoba, 1962, pp. 352-3; Bernhard Roeder, Katorga: An aspect of modem
slavery, Londres, 1958, pp. 140-4; Petrov, op. cit., p. 32.
35. Ekart, op. cit., p. 99; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, p. 98.
36. Wilfried Strik-Strikfeldt, Against Stalin and Hitler: Memoir of the Russian
Liberation Movement, Londres, 1970, pp. 26-7.
37. Kravtchenko, op. cit., pp. 356, 405.
39. Czapski, op. cit., pp. 69-80. Os poloneses precisavam ainda compreender a
extensão do universo policial soviético. Vinte graus abaixo de zero não eram
nada para os habitués do GULAG; em Kolyma, um prisioneiro nessa época
notou com sarcasmo que “a geada caiu subitamente para trinta graus abaixo de
zero — o inverno tinha terminado” (Variam Chalamov, KoAbiMCKue
PaccKa3bi, Londres, 1978, p. 33).
40. Conquest, The great terror, pp. 491-2; Medvedev, op. cit., pp. 248-9;
Soljenitsin, Apxunenaz Tynaz, I, pp. 88-9; Leonid Pliuchtch, History’s carnival:
A dissident’s autobiography, Londres, 1979, pp. 188-9; Communist takeover and
occupation of Ukraine: Special report n.° 4 of the Select Committee on
Communist Aggression, Washington, 1955, p. 28. Os alemães continuaram a
descobrir relíquias pavorosas nas celas da morte (cf. Petrov, op. cit., pp. 110-11,
112-13). Detalhes do impressionante achado de Dubno são do Kriegstagebuch
de Herr Wilhelm Heitkampf, então servindo na 6 Komp. Panzer-Nachr. Regt. I
(carta gentilmente cedida pelo dr. De Zayas).
44. Vladimir Petrov, Escape from the future: The incredible adventures of a
young Russian, Bloomington, Indiana, 1973, p. 176; “A. I. Romanov”, op. cit.,
p. 50; Raphael Rupert, A hidden world, Londres, 1963, p. 119; Soloviev, op. cit.,
p. 288. É significativo o fato de ter sido Béria o único conselheiro procurado por
Stalin durante os primeiros dias de pânico da invasão (Avtorkhanov, 3azaÕKa
CMepmu Cmcuiuna, 3azoeop Eepua, Frankfurt, 1976, p. 15).
49. Ver Conquest, op. cit., p. 358. Naturalmente, esse enorme desperdício de
potencial humano continuou durante toda a guerra (Soljenitsin, op. cit., II, pp.
130, 370-2; III, 9-12, 236).
52. Janis Kronlins, 379 baiga gada Dienas: Latviesu jaunatnes un tas audzinataju
liktenis Baigaja 1949. un 41. gada, 1967, pp. 355-6.
53. NA Decimal Files, 861.00/10-246; compare-se também o pavoroso incidente
descrito por Soljenitsin, a partir de 1938 (op. cit., II, p. 545).
57. Soljenitsin, op. cit., III, pp. 239-40; Dmitri Panin, The notebooks of
Sologdin, Londres, 1976, pp. 88-91. Porém, não estavam mortas as esperanças
de novas revoltas (ibid., pp. 103-5, 123-4, 161).
58. Peter Pirogov, Why I escaped, Londres, 1950, pp. 56, 60-3; Ekart, op. cit.,
pp. 69-70, 90-1, 98; Herling, op. cit., p. 231; Soljenitsin, op. cit., III, pp. 29-34;
Petrov, It happens in Rússia, pp. 235, 276; C. A. Smith (ed.), Escape from
paradise, Londres, 1954, pp. 45, 236-7, 249-51; Hans Becker, Devil on my
shoulder, Londres, 1955, pp. 163, 208 (compare-se a atitude dos bandidos, ibid.,
p. 187). Alguns prisioneiros em 1942 conseguiram dominar os guardas e escapar
para juntar-se aos alemães (David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced labor
in Soviet Rússia, Londres, 1948, p. 23; Roeder, op. cit., p. 21). Pelo menos um
desses homens caiu nas mãos dos ingleses, que em 1945 o colocaram
gentilmente à disposição de Béria (FO 371/47897, III).
59. Roeder, op. cit., pp. 21-2; Scholmer, op. cit., pp. 168-9, 191-2. Em 1940, os
prisioneiros de Vorkuta, segundo se dizia, eram simpatizantes do “inimigo” na
guerra da Finlândia (Mikhail Rozanov, 3aeoeeameAU õesimc nnmen, Limburg,
1951, p. 234).
64. Gerald Reitlinger, The house built on sand: The conflicts of German policy
in Rússia 1939-1943, Londres, 1960, pp. 283-4.
65. Cf. Scholmer, op. cit., pp. 169-71.
3. Para se ter uma idéia do derrotismo russo, ver Stanislaw Kot, Conversations
with the Kremlin and dispatches from Rússia, Londres, 1963, pp. 62-3, 70, 71;
Vladimir Petrov, My retreat from Rússia, Yale, 1950, pp. 83-5; Matthew P.
Gallagher, The Soviet history of World War II, N. York, 1963, pp. 148-51.
Budenny testemunhou que Stalin certificou-se nervosamente de que Moscou
estava livre do perigo de um bombardeio alemão antes de voltar à capital para
seu discurso na parada de 6 de novembro (Avtorkhanov, “3aKyjincHaa
HCTopua naKTa ‘PHÔõeHTpon-MojiOTOB’”, KonmuHeHM, 1975, IV, p.
315).
7. Anatoli Ekart, Vanished without trace: The story of seven years in Soviet
Rússia, Londres, 1954, pp. 216-18; Tadeusz Wittlin, Commissar: The life and
death of Lavrenty Pavlovich Beria, Londres, 1973, pp. 290-1, 293; Viktor
Kravtchenko, I chose freedom, Londres, 1947, pp. 368-9, 377, 489-90; Le procès
Kravtchenko contre “Les Lettres Françaises”, Paris 1949, p. 169; G. Tokaev,
Comrade X, Londres, 1956, pp. 235, 237; Mikhail Soloviev, My nine lives in
Red Army, N. York, 1955, p. 181. Os mais valentes oficiais tremiam ao verem
os bonés verdes dos guardas da fronteira do NKVD (coronel I. T. Starinov,
Muny ycdym ceoezo naca, Moscou, 1964, pp. 211-12; ver coronel-general L. M.
Sandalov, TpyÒHbte pyõeoKbi, Moscou, 1965, p. 10).
11. Roy A. Medvedev, On Stalin and stalinism, Oxford, 1979, p. 124. Medvedev
conta essa anedota a respeito do discurso feito por Stalin pelo rádio em 3 de
julho, mas o contexto sugere o discurso de 7 de novembro, que é uma versão
simplificada do que ele fez aos soviéticos de Moscou no dia anterior.
12. Merle Fainsod, How Rússia is ruled, Harvard, 1959, pp. 112-13. A patente
de general foi reintroduzida depois da guerra da Finlândia (Ulam, Stalin: The
man and his era, p. 523) e o posto de embaixador, em maio de 1941 (Alfred
Seidl (ed.), Die Beziehungen zwischen Deutschland und der Sowjetunion 1939-
1941, Tübingen, 1949, p. 388).
13. NA, RG 84, box 5. Harriman concluiu ironicamente que “ele jamais faria
essa declaração hoje” (27 de novembro de 1945). Sobre a substituição da
ideologia pelo patriotismo na propaganda do Partido, ver a reportagem de
Ronald Mathews do Daily Herald (CAB 66, 125).
15. John Lukacs, The last European war: September 1939/December 1941,
Londres, 1976, p. 157.
16. Arthur Koestler, The yogi and the commissar and other essays, Londres,
1945, pp. 196-8; Kravtchenko, op. cit., pp. 420-1; Tokaev, op. cit., pp. 253-4;
Gregory Klimov, The terror machine: The inside story of the Soviet
administration in Germany, Londres, 1953, pp. 29, 80-3, 34.
18. Koestler, op. cit., pp. 198-9. Até as ruas de Leningrado foram rebatizadas
com seus nomes pré-revolucionários (Klimov, op. cit., pp. 22-3).
20. Medvedev, op. cit., pp. 124-6, 132; Koestler, op. cit., pp. 195; CAB 66, 130;
FO 371/29549, 35-7, 144. Chostakóvitch acreditava que a natureza
profundamente supersticiosa de Stalin tivesse contribuído para fazer essa volta
da religião mais aceitável (Solomon Volkov, ed., Testimony: The memoirs of
Dmitri Shostakovich, Londres, 1979, pp. 144-7, 149). Roy Medvedev elogia a
habilidade de estadista de Stalin (op. cit., p. 126). Soljenitsin faz um comentário
mais acerbo ( ApxuneAaz Tynaz 1918-1956: Oribim XydootcecmeeHHOZo
HccAedoeanuA, Paris, 1973-75, III, p. 19).
21. Kravtchenko, op. cit., pp. 425-6; Tokaev, op. cit., pp. 249-52. Quando as
concessões foram retiradas em grande parte, depois da guerra, Malenkov foi o
bode expiatório do Partido, por haver supostamente dado início a elas (Boris I.
Nicolaevsky, Power and the Soviet elite, N. York, 1965, p. 259).
22. Elinor Lipper, Eleven years in Soviet camps, Londres, 1951, pp. 142-6.
23. Kot, op. cit., p. 176.
25. Barry A. Leach, German strategy against Rússia 1939-1941, Oxford, 1973,
pp. 152, 155-7, 196; Documents on German foreign policy 1918-1945, Londres,
series D XIII, pp. 79, 92-3, 395, 910; Tolstoy, op. cit., pp. 35-8.
28. Soloviev, op. cit., pp. 205-6, 249; Klimov, op. cit., pp. 52-60, 218; Petrov,
op. cit., pp. 87-99; Ekart, op. cit., pp. 134, 218-20;Roeder, op. cit., pp. 63-4; “A.
I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres, 1972,
pp. 36, 89-90; Czapski, op. cit., p. 145; Kravtchenko, op. cit., pp. 365-7; Stalin,
op. cit., II (XV), pp. 22-4; notas diplomáticas de Molotov de 6 de janeiro a 27 de
abril de 1942 (Documents on Polish-Soviet relations 1939-1945, Londres, 1961,
I, pp. 259-61, 340-2).
33. WO 106/3268, 32. Hitler temia o uso de gases e venenos (David Irving,
Hitler’s war, Londres, 1977, p. 264).
36. Tolstoy, op. cit., pp. 33-4, 55-6. Nesse contexto, é interessante notar o
tratamento extraordinário e brando dado ao Gauleiter Koch, o “Carniceiro da
Ucrânia” (Gerald Reitlinger, The house built on sand: The conflicts of German
policy in Rússia 1939-1945, Londres, 1960, pp. 226-7). “Apenas quatro por
cento dos ingleses e americanos capturados pelos alemães morreram antes de
serem libertados” (Walter Scott Dunn, Jr., Second front now — 1943, Alabama,
1980, p. 113).
39. Roy A. Medvedev, Let history judge: The origins and consequences of
stalinism, Londres, 1972, pp. 454-65; Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and
legend, Londres, 1974, pp. 315-20, 322-3, 325-6, 337-9; Bertram D. Wolfe,
Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, pp. 176-86.
40. Soloviev, op. cit., pp. 26-9. Muitos dos generais do Exército Vermelho eram
espantosamente ignorantes (ibid., pp. 19-34), mas poucos tão completamente
quanto o marechal Golovanov, comandante da (inexistente) aviação de longo
alcance (Michael Parrish, “Command and leadership in the Soviet Air Force
during the great patriotic war”, Aerospace Historian, 1979, XXVI, p. 197).
42. Medvedev, op. cit., p. 312; Ekart, op. cit., p. 91; Lipper, op. cit., pp. 239-41;
Aino Kuusinen, Before and after Stalin: A personal account of Soviet Rússia
from the 1920s to the 1960s, Londres, 1968, pp. 486,489-90; Z. Stipulkowski,
Invitation to Moscou), Londres, 1951, p. 357.
45. A. V. Gorbatov, ‘Toflbi h BOHHbí”, Hoebiü Mup (abril de 1964), XL, pp.
116, 118-9, 129.
47. Ver John Erickson, The road to Stalingrad, Londres, 1975, p. 310.
48. Eve Curie, Journey among warriors, Londres, 1943, pp. 184-9.
49. Wilfried Strik-Strikfeldt, Against Stalin and Hitler: Memoir of the Russian
Liberation Movement, Londres, 1970, p. 93; A. Kazantsev, TpembH Ciuia:
ucmopun odnoü nonbimKu, Frankfurt, 1974, p. 149.
50. Parvilahti, op. cit., pp. 153-4; FO 371/47957, 121-38; Anatoli Granovski, Ali
pity choked: The memoirs of a Soviet agent, Londres, 1955, pp. 193, 194-5, 198;
Talbott (ed.), op. cit., pp. 140-1; Armstrong, op. cit., pp. 174-6; Roeder, op. cit.,
pp. 60-2; Vardis, op. cit., pp. 85-108. Em 1948-49, milhares de lituanos foram
deportados para a Sibéria em consequência da contínua resistência dos
guerrilheiros (NA 860 M. 4016/8-3149). Já em 1944, Stalin havia dito ao
primeiro-ministro polonês que ele tinha liquidado vinte mil ucranianos e
colocado outros duzentos mil suspeitos no Exército Vermelho (Stanislaw
Mikolajczyk, The pattern of Soviet domination, Londres, 1948, p. 111).
51. Ver Mikolajczyk, op. cit., pp. 117, 148; Granovski, op. cit., p. 197. O homem
designado por Stalin para a presidência da Polônia ocupada foi muito
apropriadamente um ex-interrogador do NKVD, isto é, um torturador (Aleksandr
Orlov, The secret history of Stalin’s crimes, Londres, 1954, p. 102). Sobre o
temor dos soviéticos quanto aos efeitos do “estrangeiro” sobre os homens do
Exército Vermelho, ver Walter Bedell Smith, Moscou) mission 1946-1949,
Londres, 1950, pp. 279-80.
52. Czapski, op. cit., pp. 242-3; ver Mikolajczyk, op. cit., p. 23.
53. A. Spekke, Latvia and the Baltic problem, Londres, 1952, pp. 84-5. Um
horrível exemplo do trabalho costumeiro do Exército Vermelho — matando a
baioneta esposa, mãe, criança, etc. — é descrito em Parvilahti, op. cit., pp. 255-
7.
54. Albert Konrad Herling, The Soviet slave empire, N. York, 1951, pp. 102-15;
C. A. Smith (ed.), Escape from paradise, Londres, 1954, pp. 3-23; Parvilahti, op.
cit., pp. 152-3.
55. Herling, op. cit., pp. 143-4; Zoltan Toth, Prisoner of the Soviet Union,
Londres, 1978, pp. 4-7; Granovski, op. cit., pp. 200-4; NA Decimal Files,
861.00/1-1546.
56. Smith (ed.), op. cit., pp. 127-56; Granovski, op. cit., pp. 218-32; NA Decimal
Files, 861.00/4-1648.
57. Fitzroy Maclean, Eastern approaches, Londres, 1949, pp. 505-6. O sr.
Constantine FitzGibbon me proporcionou gentilmente uma descrição semelhante
de primeira mão. Os prisioneiros alemães foram, naturalmente, massacrados em
bandos (Maclean, op. cit., pp. 507-8).
58. Milovan Djilas, Wartime, N. York, 1977, pp. 415-16, 420, e Conversations
with Stalin, Londres, 1962, pp. 81-5.
61. Ver Klimov, op cit., p. 223. Crimes de igual enormidade foram cometidos
durante a expulsão e perseguição dos alemães sudetos, embora os soviéticos
tivessem sido apenas em parte responsáveis por esses crimes, pois o principal
papel foi desempenhado pelo protegido de Stalin, o dr. Benes (ver Wilhelm K.
Turnewald, ed., Documents on the expulsion of the Sudeten Germans, Munique,
1953).
62. Kopelev, op. cit., pp. 67, 82, 83-4; Kennan, op. cit., p. 240; Klimov, op. cit.,
pp. 174-5.
64. Djilas, op. cit., p. 102. A destruição da Alemanha Oriental não foi o último
ato destruidor da URSS na Segunda Guerra Mundial. Em agosto, soldados
soviéticos sofreram grandes perdas na corrida para tirar território dos japoneses
vencidos. O comportamento do Exército Vermelho foi mais selvagem do que
nunca e quase um milhão de japoneses foram feitos escravos: Adam B. Ulam,
Expansion and coexistence: The history of Soviet foreign policy, 1917-1967,
Londres, 1968, p. 477; Arthur Bryant, Triumph in the West 1943-1946, Londres,
1959, p. 508; Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 277-8.
65. Kravtchenko, op. cit., pp. 427-8; Dallin e Nicolaevsky, op. cit., p. 137;
Lipper, op. cit., pp. 170-1, 278-9; Stipulkowski, op. cit., pp. 186-208, 357-8;
Soljenitsin, op. cit., II, pp. 535-6.
66. Elliot R. Goodman, The Soviet design for a world State, N. York, 1960, p.
293.
69. Ulam, Stalin: The man and his era, pp. 298, 597.
70. A recusa de Stalin em ajudar os insurgentes (sobre esse assunto, ver Andrzej
Korbonski, “The Warsaw rising revisited”, Survey, verão de 1970, LXXVI, pp.
95-8) pode ter sido baseada nas memórias de Chiang Kai-chek sobre o abandono
semelhante da revolta de Xangai em 1926 (George F. Kennan, Rússia and the
West under Lenin and Stalin, Boston, 1961, p. 271). Há provas de uma
renovação na ajuda soviética aos nazistas em face da ameaça comum (ver J. K.
Zawodny, Nothing but honour: The story of the Warsaw uprising, 1944,
Londres, 1978, p. 56). Os alemães, ao contrário dos soviéticos, concederam
status de combatentes aos poloneses (ibid., p. 62). Provas recentes revelam a
extensão da cooperação do NKVD com a Gestapo durante a guerra, traindo e
combatendo o exército nacional polonês (Armija Krajova): Robert Moss,
“Moscow’s link with Gestapo”, Daily Telegraph, 25 de agosto de 1980.
71. General S. M. Chtemenko, The last six months: Russia's final battles with
Hitler’s armies in World War II, Londres, 1978, pp. 260-77; marechal R. Y.
Malinovski (ed.), Eydaneium Bena Tlpaza:HcmopuKOMeMyapHbiü mpyd,
Moscou, 1965, pp. 77-172.
73. Ewald Osers, “The liberation of Prague”, Survey, LXXVI, pp. 99-111.
76. Granovski, op. cit., pp. 209-11; Smith (ed.), op. cit., pp. 163-4. Na ilha
dinamarquesa de Bornholm, a guarnição soviética foi confinada em alojamentos
construídos nas florestas (Mary Dau, “The Soviet Union and the liberation of
Denmark”, Survey, verão de 1970, LXVI, pp. 77-8).
77. John R. Deane, The strange alliance: The story of American efforts at
wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947, p. 155.
78. Ibid., pp. 180-1, 214-17; Kennan, op. cit., pp. 240-2; NA, RG 84, box 11
(relatório de George Kennan).
80. Klimov, op. cit., pp. 65-7, 69-78, 121, 211. Essa euforia aumentava com a
aproximação da vitória (ibid,., pp. 18-19).
83. Otto Preston Chaney, Jr., Zhukov, Newton Abott, 1972, pp. 307, 348-52.
85. Peter Deriabin e Frank Gibney, The secret world, Londres, 1960, pp. 63-8;
Nicolaevsky, Power and the Soviet elite, p. 239; Soljenitsin, op. cit., III, pp. 36-
9; Dallin e Nicolaevsky, op. cit., pp. 281-98.
87. Soljenitsin, op. cit., III, pp. 26, 29; Klimov, op. cit., p. 291; Czapski, op. cit.,
p. 20; Smith (ed.), op. cit., p. 40; Ekart, op. cit., p. 135; Kravtchenko, op. cit., pp.
358, 409; Le procès Kravtchenko, p. 769; FO 371/24850, 195; FO 371/29499,
92.
89. Seidl (ed.), op. cit., p. 126; R. J. Sontag e J. S. Beddie (eds.), Nazi-Soviet
relations 1939-1941, Washington, 1948, pp. 145, 177; Herbert von Dirksen,
Moskau Tokio London: Erinnerungen und Betrachtungen zu 20 Jahren deutscher
Aussenpolitik 1919-1939, Stuttgart, 1949, p. 126.
92. FO 800/415. Ver FO 800/302, 12-13, 18, 59-69, 72, 95-6; CAB 65/54, 124;
Joan Beaumont, Comrades in arms: British aid to Rússia 1941-1945, Londres,
1980, pp. 37, 42-3, 125-6, 134-5, 152, 159-65; Arthur Bryant, The turn of the
tide 1939-1943, Londres, 1957, pp. 376-7, 461-2, 463; Donald Macintyre, The
naval war against Hitler, Londres, 1971, pp. 309, 349.
93. Provas das sondagens para um tratado de paz com a Alemanha feitas por
Stalin são encontradas no seu discurso de 23 de fevereiro de 1942
(CoHUHeHUH, II (XV), pp. 43-4); para outras provas, ver Vojtetch Mastny,
Russia’s road to the cold war: Diplomacy, warfare, and the politics of
communism, 1941-1945, N. York, 1979, pp. 73-6, 77-83; Ulam, op. cit., p. 589;
Paul Schmidt, Hitler’s interpreter, Londres, 1951, pp. 269-70; Lukacs, op. cit.,
pp. 148-50.
94. Compare-se o relatório das OSS, “Rússia and the question of a separate
Russo-German peace” (14 de setembro de 1943), NA, R & A n.° 1193.
2. Harold Nicolson, Diaries and letters 1939-1945, Londres, 1967, p. 250. Sobre
as desculpas dadas pela imprensa britânica para os crimes e as más intenções dos
soviéticos, ver Elisabeth Parker, Churchill and Eden at war, Londres, 1978, pp.
229-30.
3. Viktor Kravtchenko, I chose freedom, Londres, 1947, pp. 466-72.
4. Quase dez mil corpos foram descobertos em Vinnitsa em 1943 — vítimas dos
expurgos de Stalin na década de 30 (ver Amtliches Material zum Massenmord in
Winniza, Leipzig, 1943). Sou grato ao sr. W. Bolubash pela fotocópia desse
sombrio relatório, com suas terríveis fotografias. Compare-se também Alfred M.
de Zayas, Die Wehrmacht-Untersuchungsstelle: Deutsche Ermittlungen über
alliierte Völkerrechtsverletzungen im Zweiten Weltkrieg, Munique, 1980, pp.
362-5.
6. Comparem-se os sumários do serviço secreto da 5.a Divisão n.os 71, 509, 517
(WO 170/4240). Essa era a opinião do seu comandante, marechal-de-campo
Kesselring (ver Kesselring: A soldier’s record, N. York, 1954, p. 331). Provas
das atrocidades perpetradas pelos soviéticos contra prisioneiros de guerra
alemães nos primeiros dias da invasão foram reunidas em De Zayas, op. cit., pp.
136-7, 198-200, 273-324. Os nazistas não ficavam atrás nesse tipo de crueldade;
Hitler e Stalin tinham interesse num abismo intransponível de ódio entre seus
respectivos povos.
7. Ver Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, pp. 564-5;
George C. Herring, Jr, Aid to Rússia 1941-1946: Strategy, diplomacy, the
origins of the cold war, N. York, 1973, p. 301. Em 1942, Beaverbrook acreditava
que “os mortos russos” se interpunham no caminho de uma paz soviético-alemã!
(A. J. P. Taylor, Beaverbrook, Londres, 1972, p. 535).
10. Warren W. Eason, “The Soviet population today: An analysis of the first
results of the Soviet census” in Herbert Muller (ed.), Population movement in
modem European history, N. York, 1964, pp. 108-16.
17. Leonard Schapiro e Peter Reddaway (eds.), Lenin: The man, the theorist, the
leader; A reappraisal, N. York, 1967, p. 172.
19. Gregory Klimov, The terror machine: The inside story of the Soviet
administration in Germany, Londres, 1953, pp. 19-20; Mikhail Soloviev, My
nine lives in the Red Artny, Londres, 1955, pp. 286-93; Walter Millis (ed.), The
Forrestal diaries, Londres, 1952, p. 260; Antoni Ekart, Vanished without trace:
The history of seven years in Soviet Rússia, Londres, 1954, p. 91; Peter Pirogov,
Why I escaped, Londres, 1950, p. 71; “A. I. Romanov”, Nights are longest there:
Smerch from the inside, Londres, 1972, pp. 72-4; C. A. Smith (ed.), Escape from
paradise, Londres, 1954, p. 129; Vladimir Petrov, My retreat from Rússia, Yale,
1950, pp. 145-6; Aleksandr Soljenitsin, Apxunenaz FyAci? 1918-1956: Oribim
XydoxcecmeeHHOZO MccAedoeanuH, I, p. 92; Peter J. Huxley-Blythe, The
East carne West, Caldwell, Ohio, 1964, pp. 180-1; ver Albert Konrad Herling,
The Soviet slave empire, N. York, 1951, pp. 61-3; Ruta U., Dear God, I wanted
to live, N. York, 1978, pp. 35-6. Às vezes, os homens dos batalhões penais
misturavam-se com as tropas regulares, mas não usavam roupas de camuflagem
para atrair o fogo do inimigo (compare-se a ilustração nas páginas 296-7 em
Alan Clark, Barbarossa, Londres, 1965). Os alemães usaram os prisioneiros
russos do mesmo modo (Reitlinger, op. cit., pp. 235, 242), prática
impudentemente condenada pelo “jurista” soviético, professor A. N. Trainin,
Hitlerite responsability under criminal law, Londres, 1945, p. 49.
25. Kravtchenko, op. cit., p. 405; “A. I. Romanov”, op. cit., pp. 116-17, 228-9;
Ronald Hingley, Joseph Stalin: Man and legend, Londres, 1974, pp. 346-8. Um
exemplo típico é o de uma vila inteira, perto de Odessa, que foi arrasada porque
não havia adotado o sistema de fazendas coletivas durante a ocupação alemã
(Smith, op. cit., p. 153).
26. Ver Robert Conquest, The nation killers: The Soviet deportation of
nationalities, Londres, 1970, pp. 64-6.
27. Medvedev, op. cit., p. 145; David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced
labor in Soviet Rússia, Londres, 1948, p. 262; Soljenitsin, op. cit. II, pp. 131-2,
216-17, 410, 542-3, 577.
29. Dmitri Panin, The notebooks of Sologdin, Londres, 1976, p. 90. Panin estima
que outros cinco milhões morreram nos anos que se seguiram à guerra (ibid., p.
93).
32. Para a defesa de Stalin por Lillian Hellman, ver Sidney Hook, “Lillian
Hellman’s scoundrel time”, Encounter, fevereiro de 1977, XLVIII, pp. 82-91.
Uma bibliografia recente relaciona setenta e nove livros e artigos que descrevem
as prisões e os campos soviéticos, publicados no Ocidente entre 1919 e 1945. No
ano da morte de Stalin, o número aumentara para duzentos e nove, a maioria
baseada em experiências de primeira mão (Libutche Zorin, Soviet prisons and
concentration camps: An annotated bibliography 1917-1980, Newtonville,
Mass., pp. 7-51).
36. Ver Lewis S. Feuer, “Marx and the intellectuals”, Survey, outubro de 1963,
XLIX, pp. 102-12.
39. Ver Anthony Storr, Human aggression, Londres, 1968, pp. 26-7.
43. Storr, op. cit., pp. 91-2. Hitler percebia instintivamente a tendência de um
homem para a crueldade e sabia o uso que podia fazer dela. “Por que falar tanto
sobre brutalidade e se indignar com a tortura? As massas querem isso. Precisam
de alguma coisa que as faça estremecer de horror” (Hermann Rauschning, Hitler
speaks, Londres, 1939, pp. 89-90).
44. Melvin J. Lasky, “In the margin: From Sartre to Solzhenitsyn”, Encounter,
julho de 1975, XLV, p. 94.
46. Bernhard Roeder: Katorga: An aspect of modem slavery, Londres, 1958, pp.
247-8.
47. Henry Pelling (The British Communist Party: A historical profile, Londres,
1958, pp. 80-9) descreveu o recrutamento de jovens intelectuais pelo Partido nos
anos 30. Segundo Krivitski, o apoio deles representou uma parte crucial na ajuda
a Stalin para impor os expurgos e sobreviver-lhes a partir de 1936 (Walter
Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, p. 99).
48. Ver Nicolson, op. cit., p. 308; David Caute, The fellow-travellers: A
PostScript to the enlightenment, Londres, 1973, p. 158.
49. Ver Charles E. Bohlen, Witness to history, 1929-1969, Londres, 1973, pp.
125-6; George F. Kennan, Rússia and the West under Lenin and Stalin, Boston,
1961, pp. 349-50, 358-9; John Lewis Gaddis, The United States and the origins
of the cold war, 1941-1947, N. York, 1972, pp. 37-42. Uma minoria nos Estados
Unidos continuava entretanto a exprimir sua objeção às diretrizes soviéticas e à
sua ideologia (ibid, pp. 42-6, 53-6; Nicolson, op. cit., p. 295).
50. Winston S. Churchill, The Grand Alliance, Londres, 1950, p. 737. Em 1950,
o general Brooke sentiu-se aliviado porque o império tinha sido salvo, mas temia
que seus dias estivessem contados (Arthur Bryant, Triumph in the West 1943-
1946, Londres, 1959, pp. 502, 516, 517-8). Harold Nicolson via o império como
um leão comido de traças (op. cit., pp. 218-19).
51. John Harvey (ed.), The war diaries of Oliver Harvey, Londres, 1978, p. 267.
(Harvey achava que a Rússia de Stalin estava “na aurora da liberdade e do
esclarecimento”: p. 174.) Harold Macmillan tinha uma opinião pessimista nos
anos 30 (Andrew Boyle, The climate of treason: Five who spied for Rússia,
Londres, 1979, p. 18).
54. Beaumont, op. cit., pp. 74, 97-9; Taylor, op. cit., pp. 476, 492.
55. Harvey (ed.), op. cit., pp. 30, 47, 155, 293. Compare-se o sofrimento de Eden
quando descobriu que sua visita à Rússia em 1941 tinha recebido menor
publicidade do que a de Beaverbrook (ibid., pp. 80-1).
56. Ibid., p. 242. Muito infeliz durante sua visita à Casa Branca em 1943, Eden
confessou que “se sentia mais à vontade no Kremlin. Ali, pelo menos, falava-se
a sério” (p. 229).
59. Nicolson, op. cit., pp. 404, 421. Eden, por sua vez, era admirado pelo
embaixador Maiski, em 1941, como um estadista britânico sensato (ibid.., p.
189).
64. FO 800/301, 43, 48. O embaixador notou a habilidade de Wilson para “fazer
contatos naquela época” (ibid, 23, 27).
65. Compare-se o relato do colega de Wilson, John Balfour (FO 371/37057, 9-
39); ibid., 5; Raphael Rupert, A hidden world, Londres, 1963, pp. 7-8; Fitzroy
Maclean, Eastern approaches, Londres, 1949, p. 49; Lyons, op. cit., pp. 318,
424-7; John Murray, A spy called Swallow: The true love story of Nora, the
Russian agent, Londres, 1978, pp. 115, 137, 143-4.
68. FO 371/43335.
70. FO 800/302, 29, 30, 73. Sobre os movimentos dos soviéticos nessa época na
Polônia oriental, ver George H. Janczewski, “The origin of the Lublin
government”, The Slavonic and East European Review, 1972, I, pp. 410-33.
73. Mikolajczyk, op. cit., pp. 58, 7.3; Robert Moss, “Moscow’s link with
Gestapo”, Daily Telegraph, 25 de agosto de 1980.
78. John R. Deane, The strange alliance: The story of American efforts at
wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947, pp. 154, 203.
79. FO 800/302, 73-4, 219; FO 371/43382, 138. Sobre Tchitchaev, ver FO
371/47709, N 1109, N 1184. Em maio de 1945, ele foi transferido para Praga
como “ministro-conselheiro” (NA 861.00/1-1546).
82. Tolstoy, op. cit., pp. 43, 137, 148, 421. Guy Burgess estava servindo no
Departamento de Notícias do Ministério do Exterior nessa época (Boyle, op. cit.,
pp. 253, 264, 278).
85. FO 381/47987, 4.
Oleg Penkovskiy, The Penkovskiy papers, N. York, 1965, pp. 70, 89-90).
5. WO 170/4183, 487.
8. Cabe aqui aludir ao fato de que trinta mil refugiados iugoslavos, entregues em
maio de 1945 pela 5.a Divisão aos guerrilheiros de Tito, foram massacrados a
sangue-frio em Bleiburg. Isso foi definido por um funcionário do Ministério do
Exterior em Belgrado como um “terrível engano”, e um memorando posterior
refere-se ao fato como “descuidado”. Só podemos pensar na série de “descuidos”
estranhos cometidos nesse tempo e nesse lugar. Ver David Floyd, “How Britain
sent 30,000 refugees to their death”, Now!, 16 de novembro de. 1979, pp. 57-8.
Em 19 de maio, o coronel Rose Price, do 3.° Batalhão de Guardas de Gales,
anotou em seu diário de guerra: “Começa a evacuação dos croatas. Ordem de
sinistra duplicidade recebida, isto é, para enviar os croatas para seus inimigos,
isto é, os de Tito, para a Iugoslávia, dando a impressão de que estariam indo para
a Itália. Os guardas de Tito estão escondidos nos trens” (WO 170/4982).
12. Detalhes sobre intérpretes e formulários estão em Naumenko (ed.), op. cit.,
II, p. 169; A. I. Delianitch, Bojibtpcõepz -373, San Francisco, 1975, p. 105. O
incidente é relatado em detalhes no meu Victims of Yalta, Corgi Books,
Londres, 1979, pp. 299-308, 325-7.
13. “A. I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres,
1972, pp. 169-74. Os cossacos foram recebidos em Judenburg pelos homens do
NKVD (Naumenko, ed., op. cit., II, p. 300).
14. “A. I. Romanov”, op. cit., pp. 148-9. O assassinato brutal de um oficial
cossaco que perdera uma perna, no quartel-general da Smerch, é descrito por
Naumenko (ed.), op. cit., II, p. 185.
16. Ver Roy A. Medvedev, On Stalin and stalinism, Oxford, 1979, pp. 134-5;
Unto Parvilahti, Beria’s gardens: Ten years captivity in Rússia and Sibéria,
Londres, 1959, pp. 76, 128; Z. Stipulkowski, Invitation to Moscou), Londres,
1951, pp. 211-32.
18. WO 170/5034.
21. “Cone and Collecting Pts and transit camps as at 16 May 45”, gentilmente
emprestado pelo major R. C. Taylor, na época oficial da 78.a Divisão de
Infantaria.
23. Tadeusz Wittlin, Commissar: The life and death of Lavrenty Pavlovich
Beria, Londres, 1973, pp. 21-3, 38, 289; Robert Conquest, The great terror:
Stalin’s purge of the thirties, Londres, 1968, p. 465; “A. I. Romanov”, op. cit., p.
138; David J. Dallin e Boris I. Nicolaevsky, Forced labor in Soviet Rússia,
Londres, 1948, p. 269.
24. Gustav Hilger e Alfred G. Meyer, The incompatible allies: A memoir history
of German-Soviet relations, 1918-1941, N. York, 1953, p. 322; Adam B. Ulam,
Stalin: The man and his era, Londres, 1974, p. 526.
25. N. N. Krasnov, He3a6bieaeMoe-, N. York, 1957, pp. 75-81.
27. Ver E. H. Cookridge, The third man: The truth about "Kim” Philby, double
agent, Londres, 1968, pp. 113-16.
3. Elliot R. Goodman, The Soviet design for a world State, N. York, 1960, pp.
44-5; W. G. Krivitski, I was Stalin’s agent, Londres, 1939, pp. 43-92; Viktor
Kravtchenko, I chose freedom, Londres, 1947, p. 422; The report of the Royal
Commission... to investigate the facts relating to... the communication... of secret
and confidential Information to agents of a foreign power, Londres, 1946, p.
640; Pelling, op. cit., pp. 122-4.
4. “A. I. Romanov”, Nights are longest there: Smerch from the inside, Londres,
1972, p. 238. Ameaças idênticas foram feitas nessa época pelo colega de
Abakumov, V. N. Merkulov: ver Nicolai Tolstoy, Victims of Yalta, Londres,
1977, p. 193.
5. Ver David J. Dallin, Soviet espionage, N. York, 1955, pp. 14-21, 25-70;
Krivitski, op. cit., pp. 88, 90-1.
7. Dallin, op. cit., pp. 202, 416; “A. I. Romanov”, op. cit., pp. 68-9; Gordon
Brook-Shepherd, The storm petrels: The first Soviet defectors, 1928-1938,
Londres, 1977, p. 236; Elisabeth K. Poretski, Our own people: A memoir of
"Ignace Reiss and his friends, Oxford, 1969, p. 145; Victor Serge, A. Rosmer e
Maurice Wullens, Hassassinat d'Ignace Reiss, Paris, 1938, p. 17 (referência
gentilmente cedida pelo professor Robin Kemball).
9. Ver Henri Noguères, Munich: Or the phoney peace, Londres, 1965, pp. 364-5;
John Lukacs, The last European war: September 1939/December 1941, Londres,
1976, pp. 213-15.
10. “A. I. Romanov”, op. cit., p. 59. Ver George F. Kennan, Rússia and the West
under Lenin and Stalin, Boston, 1961, p. 225.
11. Sobre Pontecorvo, ver Joint Committee on Atomic Energy, Soviet atomic
espionage, Washington, 1951, pp. 12, 38-9.
12. F. W. Deakin e G. R. Storry, The case of Richard Sorge, N. York, 1966, pp.
139-40, 141, 143.
13. Guy Burgess roubava cigarros dos amigos e saqueava casas destruídas por
bombardeios — crimes não cometidos para ganhar alguma coisa mas como
substitutos de auto-realização (Kim Philby, My secret war, Londres, 1968, p. 8;
Andrew Boyle, The climate of treason: Five who spied for Rússia, Londres,
1979, p. 335).
17. Ibid., pp. 265-6; Krivitski, op. cit., pp. 90-2; Soviet atomic espionage, pp. 82,
101-2, 103, 106-7, 109-10, 160; The report of the Royal Commission, pp. 104,
543; Dallin, op. cit., pp. 20-4; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear,
Londres, 1956, p. 275.
18. David Dilks (ed.), The diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971, p.
383; FO 800/301, 84-5; Dallin, op. cit., p. 427.
19. Ibid., pp. 217-18, 230-1, 270-1; John R. Deane, The strange alliance: The
story of American efforts at wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947,
pp. 50-5; Tolstoy, op. cit., pp. 64-8; Joseph E. Pérsico, Piercing the Reich: The
penetration of nazi Germany by American secret agents during World War II, N.
York, 1979, p. 335.
21. John Murray, A spy called Swallow: The true love story of Nora, the Russian
agent, Londres, 1978, pp. 57-68; FO 371/24856, 344-76.
22. Peter Deriabin e Frank Gibney, The secret world, Londres, 1960, pp. 91,
199; Kravtchenko, op. cit., pp. 148-66; C. A. Smith, Escape from paradise,
Londres, 1954, p. 26; Milovan Djilas, Conversations with Stalin, Londres, 1962,
pp. 93-4, e seu Wartime, N. York, 1977, pp. 429, 434; Eugene Lyons,
Assignment in Utopia, Londres, 1937, p. 239; Robert Conquest, The great terror:
Stalin’s purge of the thirties, Londres, 1968, p. 410; Gustav Hilger e Alfred G.
Meyer, The incompatible allies: A memoir-history of German-Soviet relations,
1918-1941, N. York, 1953, p. 162.
23. Robert Conquest, Kolyma The Arctic death camps, Londres, 1978, pp. 194-
5. As moças trabalhavam como prostitutas para os altos funcionários e militares
do Partido, com o coronel Serov do NKVD fazendo o papel de cafetão (Mikhail
Soloviev, My nine lives in the Red Army, N. York, 1955, p. 35).
26. Gregori Klimov, The tenor machine: The inside story of the Soviet
administration in Germany, Londres, 1953, pp. 260-1; Strobe Talbott (ed.),
Khrushchev remembers, Boston, 1970, p. 131; Kravtchenko, op. cit., pp. 185-6,
317, 451.
28. Informação fornecida por L. H. Manderstan, então oficial das soe. Talvez as
esperanças de Hill fossem baseadas em suas experiências de vinte e cinco anos
antes, quando, como agente britânico na Rússia, tinha se utilizado de uma
prostituta para seu correio secreto (Geoffrey Bailey, The conspirators, Londres,
1961, p. 33).
31. Lyons, op. cit., p. 458. Na época de Khrushchev, os judeus já tinham sido
expurgados quase completamente do serviço secreto (Oleg Penkovskiy, The
Penkovskiy papers, N. York, 1965, p. 358).
32. Boyle, op. cit., pp. 318-19, 351. Já em 1970, o sr. Alan Walker, primeiro-
secretário da legação dos países bálticos, ouviu do seu chefe, Sir Joseph
Addison: “Lembre-se, meu caro Alan, a coisa que as velhas dos dois sexos que
estão atrás do secretário particular mais detestam é tudo o que seja franco ou
natural. Nunca, a não ser que você seja rico e possa mandá-los... adquira a
reputação de gostar de mulheres; uma coisa tão natural é anátema para eles; seja
um sodomita, um bêbado ou um vermelho e assim poderá ‘cometer um ou dois
erros’ ” (informação gentilmente fornecida pelo sr. Walker).
33. E. H. Cookridge, The third man: The truth about “Kim” Philby, double
agent, Londres, 1968, pp. 116, 125.
34. Deacon, op. cit., pp. 51-2; Lyons, op. cit., pp. 331, 511; Boyle, op. cit., pp.
51-2; Lyons, op. cit., pp. 331, 511; Boyle, op. cit., p. 115.
37. Richard Hanser, Prelude to terror: The rise of Hitler 1919-1923, Londres,
1971, p. 292.
40. Richard Grunberger, A social history of the Third Reich, Londres, 1971, pp.
63, 335, 347-9, 384. Podem-se observar especialmente as implicações
homossexuais na Hitlerjungend e outras organizações semelhantes, onde os
membros eram “reunidos em nome de um ideal místico masculino, que
soprepujava todos os laços de família” (D. J. West, Homosexuality, Londres,
1960, p. 24; cf. Grunberger, op. cit., pp. 352-3, 259; David L. Schoenbaum,
Hitler’s social revolution: Class and status in nazi Germany, Londres, 1967, pp.
187-92).
42. Cf. The report of the Royal Commission, pp. 93, 617-18, 693-5.
43. Chambers, op. cit., p. 288; Allen Weinstein, Perjury: The Hiss-Chambers
case, Londres, 1978, p. 172.
48. Djilas, op. cit., p. 77. O “amigo” anônimo que estava mantendo Stalin
informado sobre as negociações altamente secretas entre Aliados e alemães, em
março de 1945, deve ter sido um alto funcionário do Ministério do Exterior ou
do Departamento de Estado: ver Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era,
Londres, 1974, p. 611.
49. Cf. Elisabeth Barker, Churchill and Eden at war, Londres, 1978, p. 223.
50. David Rees, Harry Dexter White: A study in paradox, Londres, 1974, pp.
116-18, 180-2, 191, 212-14, 244-76. O Plano Morgenthau foi calorosamente
defendido pelos soviéticos (ibid., pp. 298-301, 309, 476).
54. Deriabin e Gibney, op. cit., p. 180. A pesquisa atômica soviética tinha sido
prejudicada seriamente pelos expurgos de cientistas importantes (Alex
Weissberg, Conspiracy of silence, Londres, 1952, p. 359), enquanto outros eram
obrigados a trabalhar para a administração do GULAG (Smith, op. cit., pp. 82-
3). Tanto os traidores que trabalhavam no estrangeiro quanto a pesquisa atômica
na Rússia estavam convenientemente sob a direção de Béria (“A. I. Romanov”,
op. cit., p. 178).
55. William Boyce Thompson usava a Cruz Vermelha americana para encobrir
seus negócios (Robert C. Williams, Russian art and American money, 1900-
1940, Cambridge, Mass., 1980, pp. 18-20).
57. Ibid., pp. 196, 197, 201, 209, 218-9; NA 861.00/10-246. Sobre a importância
das relações comerciais dos Hammer com a União Soviética, tão ativas hoje
quanto naquele tempo, ver o estudo de Levinson, Vodka-Cola, Londres, 1980,
pp. 7, 126, 138, 194, 195, 247. Hammer foi condenado por fazer contribuições
ilegais à campanha presidencial de Nixon e foi acusado de suborno contínuo em
escala internacional (ibid., p. 252).
59. Cf. Robert Dallek, Franklin D. Roosevelt and American foreign policy 1932-
1945, N. York, 1979, pp. 78-81.
60. Williams, op. cit., pp. 229-62; John Lewis Gaddis, The United States and the
origins of the cold war, 1941-1947, N. York, 1972, pp. 34-7, 48, 73, 143, 302.
61. George F. Kennan, Memoirs, 1925-1950, Boston, 1967, pp. 84-5; Charles E.
Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973, pp. 40-1; Dallek, op. cit.,
pp. 144-5. Para uma ação de aparência igualmente sinistra alguns anos mais
tarde, cf. Brook-Shepherd, op. cit., p. 168.
63. Cookridge, op. cit., p. 16; Boyle, op. cit., pp. 66, 69, 72, 75, 77, 100; Pelling,
op. cit., pp. 151-2; Deacon, op. cit., pp. 77-8, 92.
65. Cf. Cookridge, op. cit., pp. 14-15, 19, 38; Boyle, op. cit., pp. 102, 213-14;
Deacon, op. cit., pp. 96-7, 137-8; Pelling, op. cit., pp. 111, 125-6; FO 371/37007,
103-4.
66. FO 371/71661.
68. Nicholas Bethell, The last secret: Forcible repatriation to Rússia 1944-7,
Londres, 1974, p. 53. Strachey era um amigo de Blunt, Burgess e Springhall
(Hugh Thomas, John Strachey, Londres, 1973, pp. 202, 205), e pelo menos uma
vez traiu seu país para ajudar interesses estrangeiros (ibid. p. 229).
72. Nikolai Krasnov, The hidden Rússia, N. York, 1960, pp. 77, 249, 325-6.
74. Bertram D. Wolfe, Khrushchev and Stalin’s ghost, N. York, 1957, p. 46.
Epílogo
1. Ver Arthur M. Schlesinger, Jr., “The cold war revisited”, New York Review
of Books, outubro de 1979, XXVI, pp. 46-52.
2. Schlesinger, Jr., “Origins of the cold war”, Foreign Affairs, 1967, XLVI, pp.
46-7. Sobre a simpatia de Stalin pelo conceito de revolução comunista
internacional, ver Robert C. Tucker, “The emergence of Stalin’s foreign policy”,
Slavic Review, 1977, XXXVI, pp. 568-71; Elliot R. Goodman, The Soviet
design for a world State, N. York, 1960, pp. 36-41.
5. Cf. Joseph Czapski, The inhuman land, Londres, 1951, p. 225; Charles E.
Bohlen, Witness to history 1929-1969, Londres, 1973, pp. 91, 197; Winston S.
Churchill, Triumph and tragedy, Londres, 1954, p. 323.
6. Strobe Talbott (ed.), Khrushchev remembers, Boston, 1970, pp. 307, 361.
7. Assim escreveu Fitzroy Maclean em 1941 (FO 371/29479, 15). Ver Robert E.
Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An intimate history, N. York, 1948, pp. 327-
30, 343-5; John R. Deane, The strange alliance: The story of American efforts at
wartime cooperation with Rússia, Londres, 1947, pp. 20, 258, 300-1; Walter
Bedell Smith, Moscow mission 1946-1949, Londres, 1950, p. 188; David Dilks
(ed.), The diaries of Sir Alexander Cadogan, Londres, 1971, pp. 219, 656, 747;
Stanislaw Kot, Conversations with the Kremlin and dispatches from Rússia,
Londres, 1963, p. XVIII.
8. Foi assim que o embaixador turco relatou seu encontro de 2 de março de 1940
(FO 371/24843, 334).
9. Aleksandr Orlov, The secret history of Stalin's crimes, Londres, 1954, pp.
129-30.
11. George Kennan, Rússia and the West under Lenin and Stalin, Boston, 1961,
p. 351; Adam B. Ulam, Stalin: The man and his era, Londres, 1974, p. 571.
12. Vojtetch Mastny, Russia’s road to the cold war: Diplomacy, warfare, and the
politics of communism, 1941-1945, N. York, 1979, pp. 273-9.
13. Talbott (ed.), op. cit., p. 156; Ulam, op. cit., pp. 522, 598. Em Teerã,
Churchill fizera várias declarações a favor da Finlândia (Winston Churchill,
Closing the ring, Londres, 1952, pp. 351-4). A preservação da independência
finlandesa permitiu que os escritores pró-soviéticos do Ocidente minimizassem
as suspeitas contra as intenções dos soviéticos na Europa (cf. Walter Duranty,
Stalin & Co.: The Politburo — the men who run Rússia, Londres, 1949, pp. 143-
4).
14. Djilas, op. cit., p. 70; Mary Dau, “The Soviet Union and the liberation of
Denmark”, Survey, verão de 1970, LXXVI, pp. 75-81. Stalin sempre teve uma
noção realista de compromisso (cf. Robert Conquest, The great terror: Stalin’s
purge of the thirties, Londres, 1968, p. 428).
15. Djilas, op. cit., p. 71. A ansiedade de Stalin quanto à possibilidade de bases
aéreas americanas nas ilhas Curilas era uma indicação dos seus temores (Ulam,
op. cit., p. 628).
16. Djilas, op. cit., p. 95; Viktor Kravtchenko, I chose freedom, Londres, 1947,
pp. 419-20; Correspondence between the chairman of the council of ministers of
the U.S.S.R. and the presidents of the U.S.A. and the prime ministers of Great
Britain during the Great Patriotic War of 1941-1945, Londres, 1958, I, pp. 41-5;
Willi A. Boelcke (ed.), The secret conferences of Dr. Goebbels October 1939-
March 1943, Londres (sem data), p. 236; David Irving, Hitler’s war, Londres,
1977, p. 211; Winston S. Churchill, The Grand Alliance, Londres, 1950, p. 736,
e seu The hinge of fate, Londres, 1951, pp. 179-80, 294-5.
18. General S. M. Chtemenko, The last six months: Russia’s final battles with
Hitler’s armies in World War II, Londres, 1978, p. 41.
26. V. Stanley Vardys, Lithuania under the Soviets: Portrail of a nation, 1940-
65, N. York, 1965, pp. 85-108; Talbott (ed.), op. cit., pp. 140-1; Unto Parvilahti,
Beria’s gardens: Ten years captivity in Rússia and Sibéria, Londres, 1959, pp.
153-4; Communist takeover and occupation of Ukraine: Special report n.° 4 of
the Select Committee on Communist Agression, Washington, 1955, pp. 30-2.
29. Talbott (ed.), op. cit., pp. 280-1, 308. Quando sua filha Svetlana pediu para
que retirassem seus guarda-costas, a reação imediata de Stalin foi: “Então, vá
para o diabo. Deixe-se matar, se é isso o que quer” (Alliluieva, op. cit., p. 134).
32. Cf. G. A. Tokaev, Comrade X, Londres, 1965, pp. 321-2; Klimov, op. cit., p.
306.
33. John H. Backer, The decision to divide Germany: American foreign policy in
transition, Durham, NC, 1978, pp. 151-2; Djilas, op. cit., p. 106; Talbott (ed.),
op. cit., p. 233.
35. Adam B. Ulam, Expansion and coexistence: The history of Soviet foreign
policy, 1917-1967, Londres, 1968, pp. 425-8, e seu Stalin: The man and his era,
pp. 638-40; op. cit., pp. 164-5; Backer, op. cit., pp. 145, 149-55; James F.
Byrnes, Speaking frankly, N. York, 1947, pp. 188-92.
36. John Barron, KGB: The secret work of Soviet agents, Londres, 1974, pp.
309-10; Vladimir e Evdokia Petrov, Empire of fear, Londres, 1965, p. 257.
37. Nikolai Krasnov, The hidden Rússia, N. York, 1960, pp. 208-9, 223;
Bernhard Roeder, Katorga: An aspect of modem slavery, Londres, 1958, p. 156.
39. Mikhail Soloviev, My nine lives in the Red Army, N. York, 1955, pp. 106-7;
Tokaev, op. cit., pp. 245, 280-1.
40. Karel Kaplan, “Segretissimo dal East”, Panorama, 26 de março de 1980, pp.
164-89. Ver The Times, 6 de maio de 1977; Le Monde, 6 e 20 de maio de 1977.
41. Svetlana Alliluieva, Only one year, Londres, 1969, pp. 150-1; Tokaev, op.
cit., pp. 331-2; Boris I. Nicolaevsky, Power and the Soviet elite, N. York, 1965,
pp. 118, 170-1, 248-9. O historiador “dissidente” Roy Medvedev censura Stalin
por sua excessiva cautela, a qual o fez perder as oportunidades de expansão da
Rússia soviética depois da guerra (Let history judge: The origins and
consequences of stalinism, Londres, 1972, pp. 469-74).
43. Panorama, 26 de abril de 1977, pp. 174-7; cf. Bill Jones, The Rússia
complex: The British Labour Party and the Soviet Union, Manchester, 1977, pp.
127, 128, 131-2.
44. Sobre a admiração de Laski pelos julgamentos dos expurgos, ver Conquest,
The great terror, p. 506.
45. Klimov, op. cit., p. 306. Klimov, um especialista que foi consultor dos
soviéticos na Comissão de Controle Aliado em Berlim, estava presente à
conversa.
Sua obra "Victims of Yalta” foi saudada por Aleksandr Soljenitsin, grande
opositor do regime soviético e prêmio Nobel de 1970, como magnífica, gerando
polêmicas no Parlamento e sendo recomendada pelo “Sunday Times” como um
livro do qual "Liev Tolstoy se orgulharia”. Publicou ainda “The halfmad Lord:
Thomas Pitt, 2nd Baron Camelford”. “A guerra secreta de Stalin” denuncia as
manobras do serviço secreto soviético e o regime de terror instaurado por Stalin.