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NOÇÕES GERAIS DE ESTOMATOLOGIA

Professor Eduardo Bauml Campagnoli

01.1 OBJETIVO(S) DE APRENDIZAGEM:


 Conceituar Estomatologia.
 Entender o que é biópsia, seus tipos e como este procedimento é
realizado.
 Discutir algumas lesões frequentes que ocorrem nos tecidos bu-
cais.
 Compreender os fatores ligados ao câncer de boca e as lesões
com potencial de malignização.

01.2 INTRODUÇÃO
O termo Estomatologia deriva do grego onde: stomus = boca e logus = es-
tudo.

A Estomatologia é uma especialidade da Odontologia que tem como finali-


dade prevenir, diagnosticar e tratar as doenças que se manifestam na boca
e no complexo maxilo-mandibular. Também é atribuição do estomatolo-
gista estar atento para o diagnóstico e o devido encaminhamento ao mé-
dico, de doenças sistêmicas que possam apresentar manifestação na boca
ou que possam exercer alguma influência ou interação negativa com o tra-
tamento odontológico. Portanto, este texto tem por finalidade abordar as
principais lesões que ocorrem na mucosa bucal e a importância da biópsia.

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01.3 CONTEÚDO
01.3.1 - BIÓPSIA

Na clínica odontológica é comum o cirurgião-dentista se deparar com


lesões em tecidos bucais de diagnóstico duvidoso. Portanto, o clínico deve
sempre pensar na realização da biópsia, exame simples, mas fundamental
na análise das alterações do padrão de normalidade presentes nas diferen-
tes doenças que ocorrem no organismo humano.

O termo biópsia é usado para designar o ato cirúrgico que consiste


na retirada de material para posterior exame microscópico, a fim de se che-
gar a um diagnóstico. Há dois tipos principais de biópsias:

 Biópsia excisional, na qual a lesão é removida totalmente;

 Biópsia incisional, na qual é retirada apenas parte da lesão.

Basicamente para se realizar biópsia em tecido mole os seguintes ma-


teriais são necessários:

- Jogo clínico (pinça, espelho e sonda exploradora);

- Materiais para anestesia (Carpule, anestésico tópico, tubete anestésico e


agulha);

- Cabo de bisturi com lâmina nº 15 (na maioria das vezes);

- Pinça microdente de rato ou pinça de Allis pequena (conforme imagem


abaixo);

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Fonte: www.odontofine.com.br Fonte: www.lojasadv.com.br

- Pinça Hemostática;

- Material para sutura (porta-agulha, fio agulhado, tesoura);

- Cuba para soro e seringa descartável para irrigação (se necessário);

- Material auxiliar: gaze estéril e sugador (preferencialmente cirúrgico).

É importantíssimo ter em mãos ao se realizar a biópsia, frasco con-


tendo solução de formol a 10% tamponado, geralmente fornecido pelo la-
boratório de Patologia. O formol irá conservar o material evitando que ele
se degrade e altere as características microscópicas do tecido; o que dificul-
taria o diagnóstico anatomopatológico ou histopatológico.

Fonte: www.labosphera.eu

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Vale salientar que juntamente com o frasco com formol e o material
removido (peça cirúrgica), deve-se enviar ao laboratório de patologia a so-
licitação com dos dados do paciente e a descrição da lesão, sendo que este
documento deve ser feito pelo cirurgião-dentista.

01.3.2 – ESTOMATITE AFTOSA RECORRENTE – AFTAS:

A afta ou úlcera aftosa recorrente é uma doença comum, que ocorre


em cerca de 20% da população, caracterizada pelo aparecimento de úlceras
dolorosas na mucosa bucal, as quais podem ser múltiplas ou solitárias. As
aftas costumam ser precedidas por ardência e prurido (coceira), bem como
pelo surgimento de área avermelhada. Nessa área desenvolve-se a ulcera-
ção, recoberta por membrana branco-amarelada e circundada por um halo
vermelho. Essas lesões permanecem cerca de 10 dias e não deixam cicatriz;
em geral, o período de maior desconforto perdura por dois ou três dias. O
cirurgião-dentista deve ser consultado para um adequado diagnóstico e ori-
entação terapêutica. A aplicação de substâncias cáusticas (formol, álcool)
sobre as aftas destrói o tecido da região, inclusive as terminações nervosas,
o que faz desaparecer a dor, entretanto, gera-se no local queimadura quí-
mica, o que dificulta ainda mais o processo de reparo tecidual. Logo, não se
recomenda tal prática.

Fonte: http://www.uv.es/medicina-oral/Docencia/atlas/atlas.htm

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01.3.3 – HERPES SIMPLES

O herpes é uma doença causada pelo Vírus do Herpes Simples (VHS),


o qual é transmitido por contato direto, ou seja, através do beijo, ato sexual,
utensílios domésticos e provavelmente pelas gotículas aéreas de saliva
quando falamos ou tossimos. Geralmente, antes dos sinais aparecerem,
ocorre irritação local, coceira, ardência e vermelhidão na pele do local afe-
tado. Após este período surgem as vesículas e pequenas bolhas que se rom-
pem com facilidade e então se formam crostas acastanhadas. Todo pro-
cesso infeccioso resolve-se ao redor de 7 a 14 dias sem deixar cicatrizes.

Fonte: http://www.mdsaude.com/2009/01/dst-herpes-labial-e-genital.html

Vale ressaltar que o VHS depois de instalado no organismo fica alo-


jado nas terminações nervosas e frente a determinados estímulos (mens-
truação, luz solar, trauma local, diminuição do sistema imunológico, febre,
entre outros), a lesão pode reaparecer.

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01.3.4 – ESTOMATITE PROTÉTICA

As próteses parciais removíveis (PPR) e próteses totais (PT) têm por


objetivo devolver aos pacientes as características físicas, estéticas e fisioló-
gicas e manter a saúde nas estruturas de suporte adjacentes. Apesar da
busca pela perfeição na confecção dessas próteses, vários tipos de lesões
podem aparecer na mucosa, associadas ao seu uso, sendo que a mais co-
mumente encontrada é a estomatite protética.

A estomatite protética é uma doença crônica que pode ser caracteri-


zada por uma inflamação localizada ou generalizada da mucosa bucal, prin-
cipalmente na área onde há contato da prótese com os tecidos bucais.

Notar o aspecto avermelhado do palato dos pacientes com estoma-


tite protética

Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/pob/v14n3/n3a05f1.jpg

A presença da prótese é o fator local iniciante para a doença, pois a


superfície interna de resina acrílica apresenta irregularidades e microporo-
sidades que facilitam a colonização de bactérias e fungos. Estes microrga-
nismos formam na superfície da prótese um biofilme semelhante ao bio-
filme dental. Esses microrganismos produzem toxinas que podem ser irri-
tantes para a mucosa. O tratamento da estomatite protética envolve a re-

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moção dos fatores sistêmicos e locais associados, especialmente a elimina-
ção dos traumas e dos microrganismos da prótese. Cabe ao cirurgião den-
tista fornecer essas orientações ao paciente.

01.3.5 – CÂNCER EM BOCA E LESÕES CANCERIZÁVEIS

Câncer (neoplasia maligna) é o nome dado a um conjunto de doenças


que têm em comum o crescimento desordenado e incontrolado de células
que invadem os tecidos e órgãos, podendo se espalhar para outras regiões
do corpo (metástase). O câncer de boca ocupa uma posição de destaque
entre os tumores malignos que acometem o organismo, devido a sua alta
incidência e mortalidade.

O câncer que se desenvolve no interior da boca geralmente está re-


lacionado com o tabagismo (paciente fumante de cigarro, cachimbo, cha-
ruto, cigarro de palha) e o etilismo (consumo de bebido alcoólica). Já o cân-
cer que se desenvolve no lábio, principalmente inferior, está associado a
exposição prolongada à radiação solar.

Portanto, os pacientes que apresentam maior risco ao desenvolvi-


mento do câncer de boca são os homens (porém, vem aumentando o nú-
mero de casos de câncer em boca na população feminina), com mais de 40
anos, tabagista e/ou etilista e trabalhadores que ficam expostos à radiação
solar por longos períodos sem a devido proteção.

As regiões mais atingidas pelo câncer na região de boca são lábio in-
ferior e língua (principalmente na borda lateral). Inicialmente as lesões são

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ulceradas e indolores, porém elas não regridem e com o tempo vão aumen-
tando. Portanto, recomenda-se que qualquer lesão com mais de 15 dias e
que não apresentou melhora no quadro deve ser investigada. Para isso, é
importante consultar um cirurgião dentista.

Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/pob/v14n3/n3a Fonte:http://www.dermatology.ca/wp-con-


05f1.jpg tent/upload s/ 2012/01/SCC_10.jpg

Notar a presença de lesão ulcerada Notar a presença de lesão ulce-


com margens elevadas localizada rada infiltrante localizada em lá-
em borda lateral de língua. bio inferior.

No entanto, muitas vezes as lesões de câncer em boca são precedidas


por lesões com potencial de malignização, ou seja, essas lesões que pos-
suem maiores chances de se transformarem em câncer. Dentre essas lesões
destacam-se as leucoplasias, eritroplasias e a queilite actínica.

Leucoplasias são lesões, manchas ou placas esbranquiçadas que


ocorrem na mucosa bucal; já as eritroplasias são manchas ou placas aver-
melhadas que ocorrem nos tecidos bucais. As leucoplasias são mais comu-
mente encontradas e o potencial de malignização destas é menor quando
comparada às eritroplasias. Cerca de 90% das eritroplasias quando diagnos-
ticadas já são carcinomas espinocelulares (câncer) em estágios iniciais.

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A queilite actínica é uma alteração dos lábios causada pela exposiçäo
crônica aos raios solares ultravioleta (UV), sendo comum em indivíduos ido-
sos de pele clara e que mantêm hábitos ocupacionais ou de lazer ao ar livre.
Nos casos agudos, o lábio fica inchado e a vítima sente queimação e forma-
ção de bolhas, mas a cicatrização é espontânea. Já no tipo crônico, a queilite
começa com uma pequena descamação que vai aumentando, surgem pe-
quenas feridas e se não tratada podem evoluir para o câncer.

Caso de leucoplasia Caso de eritroplasia Queilite actínica


Fonte: http://www.uv.es/medicina-oral/Docencia/atlas/atlas.htm

Para saber como se previne o câncer em boca, leia o texto comple-


mentar disponível no site abaixo:
http://www.inca.gov.br/rbc/n_49/v04/pdf/norma4.pdf

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01.4 SÍNTESE INTEGRADORA

Como vimos, a Estomatologia é uma especialidade da Odontologia


que visa o diagnóstico e o tratamento de diversas doenças que apresentam
manifestação bucal. Discutimos nesse módulo o que é Biópsia, os seus tipos
(incisional e excisional), o material necessário e os cuidados que devem ser
tomados com o material removido. Ainda discutimos algumas lesões que
podem ser vistas frequentemente na clínica odontológica, como: aftas, her-
pes labial recorrente, estomatite protética. Encerramos esse módulo discu-
tindo a respeito do câncer de boca e as lesões com potencial de maligniza-
ção, dentre elas, as leucoplasias, eritroplasias e a queilite actíncia.

02. REFERÊNCIAS UTILIZADAS PARA ELABORAÇÃO DO TEXTO:

 MARCUCCI, Gilberto. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 1ª ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
 NEVILLE, B.W.; et al. Patologia Oral e Maxilofacial. 2º Ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.
 REGEZI, J.A; et al. Patologia Oral: correlações clinicopatológicas. 5ª Ed. Rio de Ja-
neiro: Elsevier, 2008.
 CASTRO, Acyr Lima. Estomatologia. 2ª ed. São Paulo: Santos, 1995.
 BORAKS, S. Diagnóstico bucal. 3.ed. São Paulo: Artes Médicas, 2001.
 SESMA, N; MORIMOTO S. Estomatite protética: etiologia, tratamento e aspectos
clínicos. Journal of Biodentistry and Biomaterials - Universidade Ibirapuera. São
Paulo, n. 2, p. 24-29, set./fev. 2011.

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