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A Saga dos Irmãos Leite e a

chacina no Vale do Mucuri


Até 1985 era uma região sem asfalto e de difícil acesso
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- Paulo César Dutra
Presente & Passado

Os irmãos Aldécio e José Leite no dia do julgamento em Minas Gerais. Fotos: Reprodução
Cesinha Dutra

A Saga dos Irmãos Leite,que envolveu a Chacina de Malacacheta, no Vale


do Mucuri, em Minas Gerais, onde foram os irmãos executaram sete
pessoas da mesma família e outras três posteriormente, foi toda registrada
ao Norte e Noroeste do Espírito Santo em umavizinha região das terras
capixabas denominada geograficamente Vale do Mucuri, nos estados de
Minas Gerais e da Bahia.

Os criminosos foram presos pela polícia mineira, em Vila Velha, no Espírito


Santo, em 1990, e quase foram tirados das mãos dos policiais de Minas e
liberados pela polícia capixaba que deu proteção aos irmãos leite, que foi
contra as prisões dos pistoleiros.

O Vale do Mucuri faz divisa com os municípios capixabas de Água Doce do


Norte, Ecoporanga, Barra de São Francisco, Mucurici, Montanha, Ponto
Belo, Conceição da Barra e Pedro Canário. O Vale está situado entre as
cidades de Governador Valadares, Diamantina e Teófilo Otoni na Região
do Estado de Minas Gerais e as cidades de Lajedão, Ibitapuã, Helvécia,
Itabatã e Mucuri (onde desagua o rio Mucuri no Oceano Atlântico), no Sul
da Bahia, para melhor noção de localização.

Os limites geográficos do Vale do Mucuri são a Leste: Sul do Estado da


Bahia e Norte do Espírito Santo. A Norte com a Região do Médio
Jequitinhonha de Minas Gerais. Ao Sul com o Estado do Espírito Santo e
região do Vale do Rio Doce de Minas Gerais e a Oeste com a Região do
Alto Jequitinhonha de Minas Gerais. Fazem parte também, do Vale do
Mucuri, as cidades mineirasmais expressivas de Capelinha, Água Boa,
Santa Maria do Suaçui e Malacacheta, onde correram a maioria dos crimes
dos irmãos Leite.

Região de predominância da agropecuária e seus derivados com


agricultura de pouca relevância no contexto econômico. Terra do bom
queijo mineiro. Até cerca de 1985 era uma região sem asfalto e de difícil
acesso. No período das chuvas ficava totalmente isolada, causando
grandes perdas de leite e queijos pela falta de escoamento da produção.

Para se chegar mais facilmente a região do Vale do Mucuri, partindo de


Vitória, Capital do ES, segue-se pela BR 101-Norte até o trevo de
Conceição da Barra,entrando pela rodovia estadual ES-130, passando por
Pinheiros e Montanha, seguindo em direção a Nanuque-MG. Saindo de
Colatina pela rodovia ES-080 até Barra de São Francisco e de lá pela ES-
320 em direção a Ecoporanga que faz divisa com as cidades de Nanuque,
Carlos Chagas e Ataléia, e chega no Vale do Mucuri, por Ataléia, região de
cachoeiras, rios, córregos e muitas montanhas.

Era uma terra de um povo hospitaleiro, amigo e trabalhador, mas que em


razão dos crimes de pistolagem ocorridos em grande número a mando de
fazendeiros e políticos inescrupulosos, ganhou a pecha de violento.

Povo sofrido pelo abandono político de décadas passadas, quando o único


interesse naquela região, era o voto de um grande curral eleitoral. E é
nesse cenário que, buscamos registros de fatos a partir dos anos 50,
viajando pela saga de crimes violentos que assolaram aquela região,
culminando com o desfecho da Chacina de Malacacheta no princípio da
década de 90, que mudou radicalmente a vida dos cidadãos do Vale.
Executavam e tomavam as terras

No início da década de 1980, após uma série de assassinatos de


proprietários rurais e outros moradores de cidades do Vale do Mucuri,
ocorreram denúncias com as investigações da polícia mineira, de que os
crimes eram motivados pela tomada de terras de outras famílias, atribuídos
à família Leite. Era assim, deixavam as terras ou eram executados.

As fazendas das vítimas eram transferidas para os criminosos:a família


Leite não se dava por satisfeita em só assassinar! Como exemplo,as terras
dos nove membros da família Cordeiro, os Leite após as execuções,
precisavam saciar ainda mais a sede pelas terras de suas vítimas.
Começavam logo após os assassinatos a conclusão de seus planos de
transferir para seus nomes as terras das vítimas, para seus aliados.
A polícia Militar, na ocasião dos fatos, fez uma investigação velada e
apurou que todas as terras dos Cordeiros chacinados passaram
indiretamente a ser controladas pelos seus irmãos Leite.

A fazenda Canadá, palco da chacina, com seus sessenta alqueires,


duzentos e quatorze cabeças de gado, sete cavalos, inúmeras cabeças de
aves e porcos e uma produção de dez queijos ao dia, passou a ser
gerenciada por José Augusto Belfort, ligado aos Leite.

A fazenda Jaguaritira, de José Cordeiro, o "Zé Sexto", com trinta alqueires,


quarenta e quatro cabeças de gado, seis cavalos, muitas aves e cerca de
cem litros de leite ao dia, passou a ser gerenciada por Geraldo Martins, que
seria parente dos irmãos Leite.
A fazenda União, de Helvécio Cordeiro, vítima do sequestro e morte, com
setenta alqueires, vinte e cinco reses, porcos e cavalos passou a ser
gerenciada por João Mendes dos Santos, genro de Eli Couy, indiciado e
denunciado como intermediário da chacina.

A Fazenda San Diego, cujo proprietário era Geraldo Cordeiro, o "Lado


Sexto", possuía sessenta e oito alqueires, cento e quarenta e oito reses,
dezesseis cavalos e burros. Também haviam vinte e dois porcos e várias
aves, passando a ser explorada por Odilon Alves Arantes, sem o devido
inventário.

O major encarregado do dossiê foi mais além em suas conclusões ao


afirmar:“Em análise ao modus operandi dos Leite e o estágio atual de
exploração das propriedades rurais de suas vítimas, concluímos que os
crimes se deram não só por desentendimento entre as famílias litigantes,
mas também com fins lucrativos, caracterizando-se no nosso
entendimento, o latrocínio”.
Buscas no ES

Em outubro de 1990, decorridos cerca de nove meses da chacina de


Malacacheta, o Delegado José Arcebispo, "Zé Maria Cachimbinho" e cinco
policiais vieram para o Espírito Santo, onde se encontraram com o
Delegado e ex-deputado estadual Gilson Lopes, "Gilsinho".

O objetivo da viagem era a captura dos Irmãos Leite, Aldécio, "Zé" e Alírio,
que refugiaram na casa de praia de um oficial da Polícia Militar do Espírito
Santo – PMES, após a decretação das prisões preventivas pelo Juiz de
Santa Maria do Suaçui-MG, Fernando de Alvarenga.

Os mandados foram decretados pelas mortes dos fazendeiros João


Ferreira de Araújo, o “João Pego” e Felisbino Monteiro, o “Bino Monteiro”.
Os policiais conseguiram localizar os irmãos Leite em uma casa no
balneário de Ponta da Fruta, em Vila Velha, no Espírito Santo.

Naquela oportunidade Alírio Leite, que saíra um pouco antes da chegada


dos policiais, conseguiu empreender fuga. Na casa, praticamente todos os
utensílios tinham o gravame do símbolo da Polícia Militar, o que
demonstrava a cobertura “oficial” que estavam tendo no Espírito Santo.

Com a prisão, os policiais de Minas Gerais passaram por constrangimentos


e pressões para conseguir sair do Espírito Santo com os presos José e
Aldécio Leite, quando a polícia capixaba colocou uma série de obstáculos
para o recambiamento à polícia de Minas Gerais.

Só com a interferência direta do Secretário de Estado da Segurança


Pública de Minas Gerais, o deputado federal José Resende de Andrade,
junto ao governador capixaba Max Mauro, que fora seu colega de bancada,
na Câmara Federal, é que foi possível a escolta para Belo Horizonte.

Mesmo assim, os policiais mineiros tiveram de buscar itinerários diferentes


para se safar de um possível resgate, anunciado aos murmurinhos nas
dependências dos órgãos policiais do Espírito Santo e pela ira do coronel
capixaba que dava guarida aos criminosos. Aldécio e "Zé" Leite foram
conduzidos para Belo Horizonte e encarcerados no centro de triagem do
Departamento de Investigações, onde foram condenados pelos crimes do
Vale do Mucuri.

Chacina de Malacacheta

A rivalidade entre as famílias Leite e Cordeiro teve início alguns meses


antes do episódio da Chacina de Malacacheta, ocorridas em fevereiro de
1990. Na história política do Vale do Mucuri, este caso ficou registrado
como um dos crimes mais famosos cometidos pelo Família Leite (em todos
os crimes da Saga dos Irmãos Leite, Adélcio estava envolvido).

Ao todo naquele dia, nove pessoas da família Cordeiro foram assassinadas


e três escaparam naFazenda Canadá, no municípioMalacacheta a 27
quilômetros de distância de Santa Maria do Suassui, cidade natal da família
Leite.Foram atribuídos aos irmãos Leite mais de 40 assassinatos no Vale
do Mucuri. Antes de ser colocado em liberdade graças a um indulto por
causa da idade, Adélcio foi condenado a 229 anos de prisão.

A chacina de Malacacheta ocorreu por causa de uma disputa de terras


entre as duas famílias. Joel Moreira Cordeiro, o "Jó", pretendia assumir a
administração das terras de sua amante, a Fazenda Palmital do Córrego
Novo, em Malacacheta. No entanto, a fazenda estava arrendada por
Antônio Nunes Leite, o Toninho, irmão mais novo da família Leite, que era
parente da herdeira.

Toninho não pretendia deixar as terras. Já tinha, inclusive, feito uma


proposta à herdeira, filha do fazendeiro José dos Anjos. Quando Toninho
arrendou a fazenda, havia um litígio pelas terras deixadas por José dos
Anjos.

O contrato venceria em 1º de agosto de 1989, e, antes mesmo do


vencimento, os tios da herdeira, Carlos, Sálvio e Valdir Correa de Souza,
conhecidos como Carlinhos, Salvino e Bedeu, manifestaram o desejo de
administrar as terras.Os três eram filhos do fazendeiro Joaquim Correia de
Souza, o Joaquim do Ó, que se relacionavam com os irmãos Leite, tinham
interesse nas terras.

Sabendo do interesse dos filhos de Joaquim do Ó pelas terras de sua


amante, Jó resolveu assassiná-los, como ficou apurado pela polícia.
Carlinhos, Salvino e Bedeu foram mortos em junho de 1989, mas sem a
participação dos Leite.Com o crime, um dos vértices do triângulo dos
pretendentes às terras da herdeira de José dos Anjos estava eliminado.
Restavam ainda, contudo, Jó Cordeiro e Toninho Leite.

Em 1989, um homem de cada família (Leite e Cordeiro) discutiram em uma


estrada de Malacacheta. Toninho Leite e José Sexto Neto (Cordeiro)
tiveram um desentendimento, por causa da tal fazenda, em uma estrada
ruraldo Vale do Mucuri. Devido à briga, a família de Adélcio Nunes Leite
contratou o pistoleiro Albino Alves Pereira para executar Joel Moreira
Cordeiro, o "Jó, mas o homicida foi morto pelo “Jó” antes de apertar o
gatilho.
O vereador Humberto Cordeiro, Dario Cordeiro e Helvécio Cordeiro
procuraram Aldécio Leite para tirar satisfação sobre as ameaças e a
execução do pistoleiro Albino. Aldécio foi incisivo em negar as ameaças,
dizendo para ficarem tranquilos, que tudo não passava de boataria de
gente "sem ter o que fazer". Disse que ia conversar com "Toninho" Leite
para acabar de vez com aquela conversa fiada.

Mal sabiam os três integrantes da família Cordeiro, que dali a poucos dias,
sete Cordeiros seriam barbaramente assassinados e posteriormente a
pistolagem dos Leite mataria Helvécio em Jaru-Rondônia, Humberto em
Malacacheta através de sequestro e tortura e Dario em Ulianópolis, no
Pará.

Os irmãos Leite, por sua vez, também desconheciam que


osdesdobramentos da chacina trariam baixas para a família, com as mortes
de "Toninho" e "Leno". Este último morto era sobrinho do Toninho e filho de
Aldécio.

A execução sumária

Como foram as execuções dos Cordeiros. Seis homens foram contratados


pelos irmãos Leite, para eliminarem toda a família Cordeiro. Os pistoleiros
contratados trajando, cinco deles, coletes pretos e se identificando como
policiais civis, disseram que estavam apurando a morte do pistoleiro e
abordaram José Augusto de Andrade, que morava na Fazenda Canadá,
que era parente da família Cordeiro.

Tudo foi planejado. O grupo de “policiais civis” levou oAndradecom eles até
a casa da família Cordeiro,dentro da Fazenda Canadá, para facilitar suas
entradas na casa com as armas rem punho, como “policiais”. Chegando na
casa dos Cordeiros, onde se encontravam a empregada da família e outras
sete pessoas da família.

Aldécio Leite que estava dirigindo seu jipe, estacionou próximo da fazenda
dos Cordeiro, na curva da estrada que tem uma amoreira, junto com os
pistoleiros Israel, Rogério Couy e Eli Couy. Ali aguardariam para o caso de
alguém da família Cordeiro escapar, ser morto por eles.

Os criminosos, acompanhados de Andrade, ao chegarem à sede da


Fazenda Canadá foram recebidos por Eunice Augusta Cordeiro de
Andrade, quando se identificaram como policiais, argumentando que
estavam em diligência para apurar a morte do pistoleiro Albino Alves
Pereira. Dona "Nicinha", como era conhecida, convidou seus algozes a
entrarem e demonstrando a boa hospitalidade do mineiro naquela região,
preparou café com leite e queijo para eles. Na casa já se encontravam seu
marido José Augusto de Andrade e seus filhos Nacip Augusto Cordeiro de
Praga, José Sexto neto e Núbia Florípes de Andrade.

Os irmãos Leite haviam preparado uma lista das pessoas a serem


assassinadas e duas delas não se encontravam no local. Utilizando-se de
um Jipe da fazenda, dois dos pistoleiros foram até a casa de José Augusto
Cordeiro e depois na de Geraldo Augusto Cordeiro, conduzindo-os para a
fazenda Canadá, onde as outras cinco vítimas os aguardavam, servindo
café e queijo aos demais pistoleiros. Geraldo Cordeiro, desconfiado,
questionou:“Vocês não são polícia não, me mostra a carteira”. O pistoleiro
Fabinho ordenou: “Vamos começar” dando início a fuzilaria. A matança não
durou mais que alguns poucos minutos.

Em 2008, o detetive "Paulo Maloca", da Polícia Civil Mineira de Governador


Valadares, que tem ramificação na família Cordeiro de Andrade, escreveu
o livro "Só os Fortes Sobrevivem", onde, na contra capa, registra a
cronologia e circunstâncias macabras da chacina:

Geraldo Augusto Cordeirocom a caneca de café na mão, de pé, próximo


ao fogão de lenha da fazenda, por algum motivo que ninguém vai saber,
desconfiou que havia algo errado naquela situação, e pediu para o
pistoleiro que se apresentava como delegado, que lhes mostrasse sua
carteira de autoridade. Foi quando de pronto recebeu um tiro de escopeta
calibre 12 no rosto.

José Andrade tentou correr e, antes mesmo que conseguisse sair pela
porta, recebeu o segundo tiro de escopeta em suas costas!

Núbia Sexto Andrade gritou desesperadamente pedindo piedade, por estar


grávida! Mas foi metralhada! Logo ela que chegara um dia antes à fazenda
apenas para visitar seus pais. Ela morava em Belo Horizonte, onde
estudava e tinha se formado recentemente no curso de Farmácia.

Nacip Sexto Andrade conseguiu correr por alguns metros até o terreiro da
fazenda, onde recebeu um tiro de fuzil na nuca, arrancando-lhe metade do
crânio!

José Augusto Sexto e sua irmã Eunice conseguiram se refugiar dentro de


um banheiro da fazenda. Em uma última tentativa desesperada, José
Augusto Sexto tentou, com as duas mãos, manter a porta fechada. Foi
quando um dos integrantes do grupo de assassinos atirou com a escopeta
contra a porta quebrando-lhe as duas mãos para, em seguida, novamente
atirar em seu rosto que ficou completamente deformado! Sua irmã Eunice
foi executada com vários disparos de armas de fogo de diversos calibres,
morrendo ajoelhada, abraçada ao irmão.

E por último o alvo maior de Toninho Leite! José Augusto Sexto Neto, o Zé
Sextinho! Praticamente um menino de 18 anos, que um dia ousara
responder aos abusos de Toninho Leite, não se subjugando aos mandos e
desmandos dos fascínoras Irmãos Leite. Morreu com o rosto totalmente
desfigurado de tantos tiros! Ao todo, supostamente, 18 disparos de arma de
fogo.
Sobreviveu apenas Wilma Leal, esposa de Nacip Sexto, que
conseguira fugir por uma das janelas da fazenda, levando consigo sua filha
Raíza de apenas três meses! Como por um milagre! Talvez, sobrevivendo
para contar parte dessa história!Estava consumada aquela que se tornou a
maior chacina da história do interior do estado de Minas Gerais..."
Três pessoas da família conseguiram escapar da matança, Wilma Leal e
os irmãos Humberto Cordeiro e Helvécio Cordeiro e relataram à Justiça.
Depois dos tiros, os acusados fugiram, mas foram detidos. O detetive
Ofenir Pinheiro, o sargento da Polícia Militar de MG Edésio e Carlinhos
Pastor, os três de Governador Valadares, foram citados como suspeitos
contratados pelos irmãos Leite de participar da chacina. Os julgamentos
aconteceram no decorrer da década de 90 e anos 2000. Na época, todos
negaram envolvimento nos assassinatos.

Depois das mortes de diversos membros da família Cordeiro, e dos


diversos incidentes que indicavam novos atentados, Humberto, Helvécio e
Dario se afastaram do Vale do Mucuri, buscando refúgio em Rondônia e
Pará.

Mas com promessa de vingança.Porém, Humberto, Helvécio e Dário foram


sequestrados e brutalmente assassinados. Os principais suspeitos eram
novamente os Leite.Os irmãos Leite, por sua vez, também desconheciam
que os desdobramentos da chacina traria baixas para a família, com as
morte de "Toninho" e "Leno", filho de Aldécio.

Fim dos irmãos Leite

Apesar de perseguidos por todos os cantos, os remanescentes da família


Cordeiro encontraram forças para tentar acertar as contas com a família
Leite. Em abril de 1990, Antônio Nunes Leite, o “Toninho Leite”, foi
assassinado numa emboscada, com mais de 40 tiros. O crime ocorreu
quando Toninho dirigia sua caminhonete pela estrada de terra que liga
Capelinha a Malacacheta, próximo à Vila dos Anjos.
Em novembro de 1991 ocorreu mais um capítulo de sangue na vida dos
Leite. Desta vez foi o assassinato de Helenísio Nunes Leite, de 18 anos,
filho de Adélcio. O rapaz foi morto pelo vaqueiro Elias Abrantes Quadros de
Sales, vulgo “Zé Guaxe”, que trabalhava havia 12 anos na Fazenda Boa
Esperança, em Malacacheta, de propriedade dos irmãos Leite. Anos
depois Zé Guaxe foi preso.

A Busca da Verdade

Apesar de perseguida por todos os cantos, os remanescentes da família


Cordeiro encontraram forças para tentar legalmente acabar com os
desmandos da família Leite no Vale do Mucuri e responsabilizá-los pelos
covardes assassinatos. Cartas foram mandadas para todas as autoridades
possíveis de serem acionadas e uma, surtiu um efeito devastador para os
irmãos Leite: a correspondência dirigida ao Presidente da República, à
época, Fernando Collor de Mello. O Presidente determinou ao seu Ministro
da Justiça, Bernardo Cabral, a imediata e rigorosa apuração da chacina,
desencadeando uma série de investigações e diligencias como nunca
ocorrera até aquele momento.

Trinta anos depois da maior matança do interior do Vale do Mucuri, Adélcio


Nunes Leite, 69 anos, apontado como mandante da chacina de
Malacacheta, foi morto a tiros em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, em Minas Gerais, na tarde do dia 17 de julho de 2020.
Aldécio tinha tantos inimigos, que a autoria e a motivação do crime ainda
são desconhecidas. Segundo informações de moradores de Malacacheta,
tudo indicava que a morte de Adélcio colocaria fim a uma era de crimes que
aterrorizaram o Vale do Mucuri.

Adélcio, que era considerado um dos maiores pistoleiros da história de


Minas Gerais foi assassinadocom dois tiros – um no tórax e outro no
abdômen – ao sair de uma barbearia, na Rua Conde Dolabela, no Bairro
Várzea, em Lagoa Santa, Grande BH. Adélcio Leite, de 79 anos, era de
uma família de matadores, que ficaram conhecidos como “Os irmãos Leite”,
cujos crimes aterrorizaram o Vale do Mucuri. No currículo, chacinas como a
de Malacacheta, o assassinato de um herdeiro de terras no Maranhão e a
morte do deputado mineiro Wander Campos.

Adélcio foi condenado como o mandante da chacina de Malacacheta. O


crime aconteceu em fevereiro de 1990, na Fazenda Canadá, no Vale do
Mucuri. A motivação foi uma briga por terras e rixas com pistoleiros. Adélcio
havia sido condenado a 229 anos de prisão. Mas em 2013 foi solto da
Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, MG, após 18 anos em
reclusão. Ele foi beneficiado pelo decreto da Presidência da República que
concede, todos os anos, indulto a presidiários.

De acordo com a Polícia de Lagoa Santa, em Minas Gerais, descreveu que


na tarde do dia 17 de julho de 2020, Adélcio foi até uma barbearia para
cortar o cabelo. Ao sair do estabelecimento, foi surpreendido por dois
homens que estavam em um veículo HB20 de cor preta.

Os irmãos Leite eram temidos em Minas Gerais. O quarteto era formado


por Adélcio, Zé Leite, o mais velho e mentor intelectual dos crimes, Alírio –
ambos morreram de morte natural –, e Toninho, o mais novo, que também
morreu assassinado.

Soberania da Família Leite

No final da década de 1970 e princípio dos anos 1980, a região do Vale do


Mucuri enfrentou uma série de assassinatos de proprietários rurais e
pessoas residentes nas cidades de Água Boa, Malacacheta, Santa Maria
do Suaçuí e Capelinha, crimes atribuídos aos irmãos Leite, quarteto
formado por Adélcio, Zé Leite, Alirio e Toninho Leite.

A família comprava as terras na região e não saldava as dívidas. Ao todo,


aos irmãos Leite são atribuídos mais de 40 assassinatos naquela região.
Na lista de assassinatos está incluso o nome do ex-deputado estadual
mineiro Wander Campos, morto em uma emboscada, em Água Boa, em
1974.

O político tinha fama de pistoleiro e teve um desentendimento com a família


Leite.

Outro fazendeiro incluído na lista dos irmãos Leite marcados para morrer
era Galileu Vidal de Oliveira. No entanto, eles tinham uma dificuldade para
matá-lo, por residir em Governador Valadares. A família Leite tinha um
acordo com o então coronel Jair Alves Pinheiro de não matar ninguém em
sua região militar. Jair era o comandante do Batalhão PM de Governador
Valadares.

Como Galileu desconhecia esse trato, aceitou ir ao encontro dos irmãos


Leite em Capelinha, onde selariam um “almoço da paz” para acabar com a
rixa existente entre eles. Em dezembro de 1979, Galileu embarcou em uma
aeronave no aeroporto de Goverrnador Valadares com destino a
Capelinha. Quando desembarcou para o “almoço de paz”, o fazendeiro se
dirigiu em direção a Toninho Leite para cumprimentá-lo, sendo-lhe
estendida uma mão enquanto a outra sacava uma arma, iniciando o
fuzilamento. Galileu foi alvejado por 36 tiros.

Muitos dos crimes atribuídos à família Leite foram arquivados por falta de
provas ou de alguma testemunha que ousasse depor contra eles.

Reportagens no Estado de Minas Gerais, do Diário do Rio Doce (de


Governador Valadares), revistas e jornais como “Estado de Minas” e “Hoje
em Dia” registraram na época as ações policiais para coibir a pistolagem no
Vale do Mucuri, com as primeiras prisões dos irmãos Leite e pistoleiros
após a chacina.

Em 1999, Alírio Leite foi preso no município de Vassouras/RJ. Era o último


preso de uma família que desde os anos 1950 matava no Vale do Mucuri.
Alírio Leite foi condenado a cumprir pena de 126 anos de prisão, em regime
fechado.Adélcio já havia sido condenado a uma pena acumulada de mais
de 100 anos de prisão, depois do episódio em Malacacheta. Ali terminava a
saga de fugas e prisões dos irmãos Leite.

1º crime

Curiosamente, um dos primeiros crimes dos irmãos Leite, em 1956, que


não teve a participação de Adélcio, foi cometido por seu irmão mais velho,
Zé Leite, que matou o pistoleiro Zeca da Lia, quando este saía da barbearia
do Dito, em Santa Maria do Suaçuí, a terra natal da família Leite. Quando
fizeram os primeiros exames no corpo, os policiais encontraram um
revólver, que estava na cintura do pistoleiro. Não existe, até o momento,
pista do matador. Os policiais disseram que ele “morreu do mesmo modo
que tinha feito outras vítimas”.

Eles eram famosos em Santa Maria do Suaçuí, município que é a terra dos
Leite, e eram acusados de diversos crimes. Mas logo ganhariam fama por
serviços de pistolagem em todo o Vale do Mucuri. Governador Valadares,
Diamantina e Teófilo Otoni formavam um triângulo e, dentro dele, os Leite
agiam. Capelinha, Água Boa, Malacacheta, em especial, ficaram
conhecidas como palcos de seus crimes.

Em 1974, os Leite, com a participação de Adélcio, foram responsáveis pelo


assassinato do ex-deputado estadual Wander Campos. O político tinha
fama de pistoleiro. Chegou a ser preso por um dos crimes que era
acusado, ficando detido no DOPS.

Como o político era ligado ao governador Israel Pinheiro, tinha privilégios.


Servia café na delegacia. Depois, recebeu indulto presidencial. Voltou ao
Vale do Mucuri, onde havia nascido. Juntou-se com uma mulher, Gabi, que
passou a cobrar uma vingança contra os Leite, que teriam matado seu pai.
Zé Leite foi o matador.

Valente, Wander Campos se propôs a acabar com os Leite. Mas não


esperava pela reação dos irmãos. Em uma audiência no fórum de
Peçanha, se referiu aos Leite, que estavam presentes, como “cagões e
ladrões de terras”.
Os irmãos ficaram ressabiados com os xingamentos e a raiva se acirrou
quando tomaram conhecimento por meio de um amigo do Coronel Pedro,
famoso caçador de bandidos e pistoleiros do Mucuri, que Wander Campos
estaria contratando pistoleiros para acabar com o quarteto.

Apesar de temê-lo, os irmãos armaram uma emboscada. Em 7 de outubro


de 1974, por volta das 13h, quando Wander Campos entrava em Água
Boa, foi interceptado por Adélcio, Alírio e um terceiro pistoleiro contratado
por eles, “Zé Pretim”, que o alvejaram no momento em que o político tentou
sacar seus dois revólveres. Apesar de todas as provas serem contra os
três, foram julgados e absolvidos em Capelinha.
Os irmãos Leite havia se aproximado dos militares, e assim conseguiam
proteção para seus crimes. Pouco tempo depois, tinham uma lista de quem
deveria morrer.

Na lista, Galileu Vidal de Oliveira, um fazendeiro que vivia em Governador


Valadares. Eles tinham dificuldades em planejar seu assassinato por morar
numa cidade considerada grande.A família Leite teria um acordo com o
coronel Jair Alves Pinheiro para não matar ninguém em sua região militar,
sendo ele comandante do Batalhão PM de Valadares.

Galileu desconhecia esse trato e aceitou ir ao encontro dos irmãos Leite em


Capelinha, onde selariam um almoço da paz para acabar com a rixa
existente entre eles. Não podia desconfiar de seu amigo Telles, que
também era bem relacionado com os Leite e era o intermediário do
encontro.

Era uma armadilha. Em 8 de dezembro de 1979, por volta das 10h, Galileu
embarcou em uma aeronave em Governador Valadares para Capelinha.
Desembarcou às 11h20. Tão logo desceu, foi assassinado pelos Leite.
Foram 29 tiros.

Os Leite eram também conhecidos por realizarem chacinas para tomar


terras por causa de pedras preciosas. Em 1983, contrataram um pistoleiro,
Donizete Pereira dos Santos, conhecido por “Giramundo”, para ir ao
Maranhão e matar José Bernardino Pereira, chamado de “Juquita Peão”,
herdeiro de terras em Água Boa. Esse crime ocorreu na Fazenda
Alexandrinópolis. Com medo de serem assassinados, a família da vítima
fugiu para Imperatriz.

Na ocasião, várias reportagens jornalísticosmineiras, como as do jornal


Estado de Minas, do Diário do Vale e do Hoje em Dia, bem como o jornal
paulista Folha de São Paulo, registram as ações policiais para coibir o
jaguncismo no Vale do Mucuri, com as primeiras prisões dos irmãos Leite e
pistoleiros após a chacina conforme as manchetes estampada nos jornais:
"Acusado, Aldécio afirma que não matou", "Fim de um ciclo da pistolagem",
"Na saga dos Leite, um rosário de crimes", "Quebrando a Lei do silêncio",
"Conquista de terra e política". Nas outras duas reportagens as prisões dos
irmãos Leite de Malacacheta e irmãos Curió de São João Evangelista. Os
delegados Raul Moreira e Otto Teixeira Filho, dois ícones nas
investigações da chacina e uma série de assassinatos naquela região.

Cemitério clandestino da família Leite

Final de dezembro de 1991, o delegado Antônio João dos Reis, na época,


titular do Divisão de Operações Especiaisde Minas Gerais - DEOESP,
empreendeu uma diligência à Fazenda Urupuca, a 40 quilômetros de
Malacacheta, em Minas Gerais para localização de um suposto cemitério
clandestino, onde estariam enterradas várias vítimas de crimes de
pistolagem, praticados pelos irmãos Nunes Leite.

A fazenda pertencia à família Leite e segundo informações do vaqueiro


Elias Abrantes Quadros de Sales, vulgo "Zé Guaxe", que se encontrava
preso pela morte de Elenízio Nunes Leite, filho de Aldécio Nunes Leite,
vários corpos foram enterrados após serem assassinados e ele poderia
levar ao local. João Reis viajou para a região de Malacacheta com 23
policiais da Divisão de Operações Especiais, além de um médico legista e
perito criminal.

Ao chegarem ao local indicado por "Zé Guaxe", a equipe do DEOESP


localizou ossadas de seis pessoas que foram encaminhadas ao IML para
serem periciadas. A suspeita era de que uma das ossadas pertencia a
Humberto Augusto Cordeiro, vereador de Malacacheta, integrante da
família Cordeiro, desaparecido em 20 de junho de 1990, quando
sequestrado no Bairro Industrial.

O local do cemitério era de difícil acesso, chovia muito na ocasião,


obrigando os policiais a caminharem por uma trilha de terra batida,
acidentada e escorregadia, com muito barro, poças d’água e atoleiros, além
da vegetação densa e aglomerada. Atolaram as viaturas por várias vezes,
durante o dia e à noite, contando com a ajuda de fazendeiros da região
para a retirada dos carros com o uso de trator. Depois de muita dificuldade
conseguiram encontrar o cemitério clandestino, que ficava próximo da casa
do lavrador Onofre Monteiro Santos, na fazenda Palmital, Malacacheta,
propriedade de Antônio Nunes Leite.

Os dois cemitérios encontrados ficam a poucos quilômetros da fazenda


Urupuca, anteriormente administrada por "Toninho" Leite, antes de seu
assassinato em 30 de abril de 1990, por membros da família Cordeiro de
Andrade. Para chegar aos cemitérios, os 23 policiais tiveram de andar mais
de duas horas a cavalo. Já no alto de uma montanha José Elias indicou os
lugares e deu-se início às escavações."
No local foram encontrados: um caixote retangular de madeira contendo
uma ossada humana (adulto jovem) de aproximadamente 25 anos de
idade, tendo o crânio fraturas múltiplas, caracterizadas por projétil de arma
de fogo. A morte diagnosticada ocorreu em consequência de traumatismo
crânio encefálico causado por instrumento contundente e pérfuro-
contundente.

Um caixote de madeira retangular, contendo uma ossada humana (adulto


jovem) de 20 a 25 anos de idade, com várias lesões, assim descritas pelos
médico legistas: fraturas lineares no crânio, fratura do 9º arco costal, fratura
do púbis, perda de substância da extremidade distal do 6º, 7º e 8º arcos
costais. Côndilo occipital estrangulado e o esquerdo destruído. Vértebras e
escápulas com múltiplas fraturas. Apesar das inúmeras lesões, a morte
ocorreu em conseqüência de traumatismo craniano, devido à agressão por
instrumento contundente.

Na última sepultura escavada foram encontrados vários fragmentos de


ossos humanos que seriam de quatro (quatro) indivíduos distintos, sendo a
conclusão das mortes traumatismo craniano por instrumento contundente.

Conta-se na região, que os irmãos Leite mandaram matar mais de cem


pessoas e inúmeros corpos foram “plantados” em cemitérios clandestinos
como esse, mas que nunca foram encontrados. Dentre as vítimas constam
inúmeros pistoleiros do Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro, que eram
contratados, faziam o serviço sujo e na hora do pagamento recebiam tiros
ou eram torturados até a morte e enterrados em covas rasas como queima
de arquivo.

Durante a operação realizada pelo DEOESP, várias pessoas ligadas à


família Leite foram presas por participações diversas em crimes
perpetrados na região.

Repressão e Fugas Para Outros Estados.

Conforme registrado, com a intensa repressão policial, através de


operações, investigações dos homicídios e os consequentes mandados de
prisões, a maioria dos pistoleiros e mandantes da chacina e de outros
crimes iniciaram sua fuga de Minas Gerais, buscando outros estados como
meio de garantir a impunidade e não responder pelos seus assassinatos.
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Pará foram alguns dos estados
procurados pelos criminosos. Mas não adiantou a distancia, ou o caráter
inóspito das fazendas e regiões buscadas como refúgio, pois a Polícia Civil
mineira os alcançou e trouxe à luz da justiça das alterosas.

"A forte repressão feita pela Polícia Civil naquela região, provocou uma
verdadeira revoada de criminosos, que se espalharam por vários outros
estados, procurando refúgio. Pistoleiros notórios desapareceram do mapa
e mandantes arrendaram fazendas indo para outros territórios. Os mais
visados foram os estados de Rondônia, Pará e Mato grosso. Mas o crime
não parou nem mesmo para os que não conseguiram escapar e foram
presos."

Com o interrogatório das mulheres Nilza Pereira Gonçalves e Darcília


Ferreira de Oliveira, a equipe especial chegou até José Aleluia Pimenta,
vulgo “Zé Pimenta”, que ao ser localizado e interrogado, confessou sua
participação na fuga, que teria sido planejada com antecedência.

Esclareceu que ao entrar na camionete, Aldécio recebeu dois dos


revólveres que estavam no interior do veículo para que fossem usados
contra os policiais, caso fosse necessário. Posteriormente, “Zé Pimenta”
mudou de lado e tornou-se um bom informante, levando a equipe a vários
locais nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro, onde foram
presos "Giramundo" (em Medeiros Neto-BA) e Ofenir (João Neiva-ES).

Levou os policiais ainda, em Vassouras-RJ, na fazenda dos irmãos Avelino,


de onde Aldécio e Alírio fugiram poucas horas antes da chegada da equipe
de policiais. Neste caso, o dia era da caça.

Saga dos Irmãos Leite

Um dos primeiros crimes dos irmãos Leite, foi o de José Alves Afonso, o
“Zeca da Lia”, assassinado em 1956 com tiros pelas costas, quando se
encontrava na barbearia do “Dito”, em Santa Maria do Suaçui. Este crime
seria o primeiro de José Leite, sendo a vítima, seu cunhado, casado com a
sua irmã Lia Leite.

Nas décadas de 60, 70, 80 e 90 inúmeras pessoas morreram vítimas das


balas assassinas encomendadas pela família Leite, dentre elas os dois
filhos do Joaquim do Ó, crime empreitado para o pistoleiro Joel Moreira
Alves, que por sua vez subempreitou para os pistoleiros “Peba" e "Deca”.
Assassinaram Sálvio, "Carlinho", "Bedeu", "Santinho Pego" e um
fazendeiro conhecido como Joel, por ser considerado valente e “peitudo”,
temido pelos irmãos Leite.

Ivan Pimenta, fazendeiro da região, vendeu uma fazenda para Adalberto,


avaliada em torno de cem milhões de cruzeiros nos anos 70, foi cercado na
estrada pelos Leite que lhe ofereceram vinte e dois milhões de cruzeiros.
Caso contrário, comprariam da viúva. Ivan vendeu para os Leite e
desapareceu!

O pistoleiro "Sebastião do Arciso", autor da morte de "João Pego", foi


também responsável pelo crime que vitimou uma proprietária de terras na
localidade denominada Catequese. A mulher foi enforcada e enterrada em
uma cova aberta por Mário, vaqueiro de Zé Leite ou Alírio. Segundo
contam, as terras atualmente são fazendas dos Leite em Catequese, onde
o vaqueiro Mário trabalhava. Joaquim Ferreira da Costa, um dos
companheiros de Albino, foi morto por Antônio "Roseteiro" e depois
assassinado pelo pistoleiro Albino, a mando dos Leite, por vingança.

Foram citados os homicídios de Ademir Quintino Santos e Geraldo do


Crispim (1968), Emídio Gonçalves, Galileu, e Stael. "Geraldo de Sérgio
Alegre" era pistoleiro e foi morto por José Antônio, filho de Artur Eustáquio
Leão, como queima de arquivo, por que sabia demais sobre os Leite. "João
da Donata", morto por Hélio "Tizilim", com arma e munição fornecidas por
Toninho Leite e Albino, sendo o último, pivô da chacina de Malacacheta.
Vicente Matias, também pistoleiro dos irmãos Leite, foi assassinado pelo
“Zinho” e seu irmão, dentro de um bar, quando ia receber dinheiro de
Aldécio.

Pedrelino está na lista de assassinatos, cujo corpo foi jogado em frente à


cadeia de Malacacheta. Juca Peão e família também foram mortos, crime
que teve seu início em Capelinha, com a morte de Antônio Campeiro.
Mesmo fugindo para Imperatriz, Maranhão, a família foi perseguida e
dizimada naquele estado.

São também computadas a família Leite as mortes de Joel, pistoleiro morto


no hospital de Poté. João "Bundão", Benedito "Preto", "Zé Pretinho" e Davi
Campeiro, cuja fazenda de Jacutinga foi tomada com o uso de violência.

José Bernardino Pereira (1983), Santos Ferreira de Araújo (1984), José


augusto de Andrade e família (1990), João Ferreira de Araújo (1990),
Djalma Alves dos Santos, Elvércio Alexandrino Augusto (1992), João
Batista dos Santos e seu filho de sete anos (1981), Wander Campos
(1974), Antônio Benedito dos Santos, o Benedito "Preto", em 6 de maio
(1969), Felisberto Monteiro Silva (90), Galileu Vidal de Oliveira (1980), José
Isac de Souza e seu filho Edil Geraldo de Souza (1987), João Maria Pereira
de Souza (1985), José Antônio de Souza, Humberto Cordeiro (1990) e
inúmeros outros crimes que não foram citados, talvez por terem caído no
esquecimento, ou simplesmente por que foram enterrados em cemitérios
clandestinos, carbonizados ou de alguma forma os corpos não foram
encontrados ou identificados.

Um detalhe interessante que se constata na vida da família Leite é que


vários nomes são citados primeiramente como matadores e depois surgem
como vítimas. A explicação é simples. Os irmãos Leite usavam e sugavam
o que podiam dos pistoleiros, em seguida como queima de arquivo ou para
o não pagamento de empreitadas, mandavam outros matadores
exterminá-los, como mercadoria descartável.

A execução de Adélcio

No dia 17 de julho de 2020, Adélcio Nunes Leite, com 69 anos, foi


executado com dois tiros, quando saía de uma barbearia em Lagoa Santa,
na Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG.

O crime teve relação com as execuções executadas por Adélciono Vale do


Mucuri.Testemunhas disseram que ele havia acabado de cortar o cabelo e
quando estava saindo da barbearia, um veículo passou e um homem atirou
contra ele.

Ele que foi condenado a 229 anos de prisão, por diversos crimes de
execuções, em 2013, conseguiu um indulto, um perdão da pena, e por isso
estava em liberdade. Segundo a polícia, desde 2017 ele vivia num bairro
nobre de Lagoa Santa e na hora do crime ele estava armado, mas não
conseguiu se defender.

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