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De seu auto-exílio, Guido Marlière recebe por 18 anos cargos militares cada vez mais
elevados. Participa da sociedade fraternal da maçonaria, escreve textos combativos e
divulga os costumes e lendas dos indígenas nos jornais “O Universal” e “A Abelha do
Itacolomi”, de Ouro Preto.
A corrupção geral irrita o rígido militar e o torna persona non grata entre os colegas
coniventes com a prática que já era consensual desde aqueles tempos. A insistência em
se bater pela moralidade e punir subordinados corruptos míngua o número de seus
amigos e incrementa os de seus desafetos.
Muitos viam nele um homem estranho e excêntrico, crítico irônico dos dogmas religiosos.
À imagem do soldado severo, sobrepõe-se a do comandante generoso que oferece
banquetes aos índios e soldados em sua fazenda, quando então divulga suas idéias
abolicionistas e projetos sociais.
Acusado de impiedade religiosa, abatido pela malária e magoado por não ter recebido o
título de Barão do Rio Doce, retira-se em 1830 para sua fazenda Guido Wald, no antigo
Sapé de Ubá, de onde se corresponde com naturalistas e viajantes e escreve dois
dicionários de línguas indígenas. Em 6 de junho de 1836, dona Maria Vitória chora a morte
de Marlière, tendo como coadjuvantes índios de tribos variadas. Acredita-se que o militar
tenha sido enterrado sentado, à moda indígena, segundo seu próprio desejo. Na sepultura,
a viúva planta uma figueira e corta uns cachos de cabelos do esposo para anexar ao
medalhão que traz a única reprodução conhecida do semblante do Coronel Guido
Marlière.
GERAÇÃO MARLIÈRE
Assunto obscuro é a descendência deixada pelo militar, famoso por sua rigidez moral.
Talvez a máxima da época “não existe pecado abaixo do Equador”, talvez a influência dos
indígenas livres de culpas sexuais, talvez a incapacidade de dona Maria Vitória de
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engravidar ou a possibilidade menos provável de um casamento moldado por um amor
isento dos prazeres físicos, o certo é que Marlière teve apenas filhos avulsos, homens e
mulheres. Nenhum com dona Maria Vitória. Seu filho Leopoldo Guido Marlière (1816-
1863), único registrado com seu sobrenome, é aceito pela esposa na fazenda. Dona Maria
Vitória o educa e participa também da educação de seus netos postiços. Tem especial
afeto pela mais velha, Maria Flávia Marlière. Leopoldo, mais conhecido pelo apelido jocoso
de Cadete, é responsável pelo sobrenome Marlière manter-se até os nossos dias.
Algumas filhas do militar ainda viviam e os depoimentos que ouve descrevem Guido
Marlière como portador de um nariz muito afilado e retilíneo, olhos azuis e pomos faciais
salientes, mais parecido ser de origem germânica que francesa. Tenta conseguir para os
Arquivos Históricos de Minas Gerais a pequena medalha bem deteriorada de Marlière,
herdada por Maria Flávia Marlière como presente de sua avó, mas a neta se nega a
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separar-se da lembrança, que continha ainda mechas de cabelos do Coronel e de seu
filho. Tempos depois, a mesma medalha possibilitaria ao Arquivo Público Mineiro obter
em 1904 cópia do busto de Marlière em pintura do artista Horácio Esteves.
Em 1927 foram exumados os restos mortais de Guido Marlière, por iniciativa do ex-
senador e governador de Minas, Levindo Eduardo Coelho, quando vice-presidente da
Câmara Municipal de Ubá. No ano seguinte, na presença do Presidente de Minas Gerais,
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, houve a inauguração solene do Monumento do Guido,
no entroncamento rodoviário de Cataguases, Ubá, Rio Pomba e Rio Branco.
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E a última face:
“À memória de Guido Tomás Marlière, o desbravador das selvas e civilizador dos índios,
abrindo estradas e semeando núcleos de população, as Câmaras Municipais de Ubá,
Cataguases, Rio Branco e Pomba fizeram erigir este monumento, símbolo de gratidão ao
pioneiro do progresso de Minas”.
BIBLIOGRAFIA
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Fontes: "Marlière, o Civilizador" de Oiliam José. Editora Itatiaia Ltda – Belo Horizonte –
1958
Tese sobre Guido Thomaz Marlière e os Índios Botocudo nos Sertão do Leste. Thiago
Henrique Mota Silva – Universidade Federal de Viçosa
Revista do Arquivo Público Mineiro, fascículos I, II, III e IV do ano XI, “Notícias e
Documentos sobre sua Vida”, em 1906.
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