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História de Vera Cruz de Minas

O povoado de Vera Cruz de Minas, um dos atuais distritos de Pedro Leopoldo, é muito mais antigo do
que a cidade que pertence. Enquanto Pedro Leopoldo surgiu na década de 1890, a região de Vera Cruz já era
povoada desde a década de 1710, no alvorecer do século XVIII. Em seus trezentos anos de existência, Vera
Cruz de Minas teve três nomes diferentes.
Nos primeiros duzentos anos, de 1710 até 1900, era conhecida pelo nome de Pindaíbas. Em dezembro de
1873, a lei Provincial n.2041 elevou a povoação à situação de distrito de Pindaíbas, pertencente ao município
de Sabará. Essa mudança de status refletia o fato de que a localidade havia, então, adquirido relativa
importância. Em abril de 1900, nova lei alterou o nome da localidade para Vera Cruz, mas ela permaneceu
vinculada a Sabará. Em agosto de 1911, a lei Estadual n. 556 criou o município de Contagem e Vera Cruz
tornou-se um de seus distritos.
Em 1923,com a emancipação política de Pedro Leopoldo, Vera Cruz deixou de pertencer a Contagem e
tornou-se distrito do recém-criado município, situação que perdura até hoje. Porém, em dezembro de 1943,o
decreto da lei n.1.058 alterou o nome do povoado de Vera Cruz para Pindaré. Dezenove anos depois, a lei
n.2.764 de dezembro de 1962,alterou novamente o nome do distrito para Vera Cruz de Minas.
Por volta de 1711, havia grandes propriedades dedicadas a produção mercantil de alimentos no entorno de
Vera Cruz. Um exemplo era a sesmaria de José Rodrigues Betim (entre o rio Paraopeba e a estrada que ia de
Ribeirão das Abóboras, situado em território hoje pertencente a Esmeralda). Outro era a sesmaria do capitão
João Souza Souto Maior (no sítio das Abóboras, em Contagem). Havia ainda a fazenda do mestre de campo
Jacinto Bessa da Costa (onde havia a capela de Nossa Senhora das Neves, que deu origem a pequeno
povoado) e a fazenda do Sobrado, pertencente a Dona Mariana Joaquina da Costa. Ao lado dessas unidades
produtivas escravistas, havia muitas propriedades camponesas. A produção da área era escoada por tropeiros
principalmente para o mercado de Sabará.
Em meados do século XVIII, a poucas léguas de distância de Pindaíbas ficavam Venda Nova, Curral
D`el Rei (hoje Belo Horizonte), São Gonçalo de Contagem das Abóboras(hoje Contagem),Capela Nova Betim
(hoje Betim), Santa Quitéria(hoje Esmeralda)e Arraial do Capão(hoje Vespasiano). Em todas essas povoações,
os negócios de gado geravam as maiores fortunas locais.
Por volta de 1860, as principais fazendas situadas em áreas vizinhas ao povoado de Pindaíbas eram a
do Casado, a do Sobrado, a do Quilombo, a do Bananal e a do Açafrão. A Fazenda do Quilombo media mais
de 500 alqueires de terras. Seu proprietário, Teodoro Barbosa da Silva, possuía mais de uma centena de
escravos, os quais plantavam lavouras de cana e fabricavam aguardente, além de criarem gado. Outros
grandes fazendeiros da região eram os irmãos Antônio Alves Ferreira da Silva e Tibúrcio Alves Ferreira da
Silva. Suas terras, com mais de vinte léguas quadradas, abrangiam áreas dos atuais municípios de Pará de
Minas e Esmeraldas, terminando próximo aos limites da Fazenda do Quilombo. Os dois irmãos possuíam
plantações de cana, engenhos que fabricavam açúcar, alambiques para fabricação de cachaça e criavam
gado. Sua escravaria era de cinquenta cativos.
Em 1870, Pindaíbas pertencia a Paróquia de Curral D’el Rei. Sua Igreja do Rosário não possuía padre
responsável. Mas a Capela de Nossa Senhora das Neves, situada na Fazenda do Capitão Jose Luis de
Andrade, a poucos quilômetros de Pindaíbas, era dirigida, nessa época, pelo padre José Maria de Andrade.
Como as demais povoações mineiras, Pindaíbas ficava movimentada nos domingos e dias santos, ocasiões
em que os moradores das fazendas e sítios ocorriam para acompanhar novenas, missas, procissões e festas
religiosas, como a Festa do Rosário, tradição de aproximadamente duzentos anos em Vera Cruz.
Até ao final do séc. XIX, o povoado de Pindaíbas conservou certa tradição de autonomia econômica e
social, uma vez que ficava relativamente distante de núcleos urbanos mais avantajados (Sabará e Ouro Preto).
A localidade tinha seu próprio ritimo de vida, seus hábitos, suas festas, suas canções, seu jeito de falar que
não era necessariamente igual aos dos vilarejos e cidades vizinhas[3]. Havia trocas comerciais com outros
lugares, mas, do exterior Vera Cruz tomava apenas o indispensável, mantinha suas reservas e não se abria
totalmente. Provas disso era o fato de que seus moradores dificilmente viajavam e geralmente casavam entre
si.
Essa situação, todavia, iria mudar radicalmente com a construção da nova capital de Minas Gerais
(Belo Horizonte) e com o crescimento da cidade de Pedro Leopoldo. Bastante próximas do velho povoado, as
duas cidades começaram a absorver a produção agropecuária e atrair muitos de seus trabalhadores jovens,
provocando a decadência dos estabelecimentos comerciais na localidade.
Esse movimento não ocorreu, contudo, de uma hora para outra. Até a década de 1940, Vera Cruz
manteve certo dinamismo e “independência”. No setor agropecuário, as principais atividades eram, na primeira
metade do século XX, o cultivo de milho, feijão, arroz e cana de açúcar, a criação de gado (de leite e de corte)
e porcos. Com técnicas tradicionais, eram fabricados na localidade açúcar, rapadura, fubá, farinha de
mandioca e cachaça. As maiores fazendas empregavam a maior parte da produção de Vera Cruz. Nos seus
quintais, as famílias de Vera Cruz plantavam e criavam animais, garantindo, assim, boa parte de seu
abastecimento. O excedente da produção domestica era comercializado em Belo Horizonte, produzindo
pequenos rendimentos em dinheiro, compensando, em parte, os baixos salários recebidos nas fazendas. A
renda das famílias, por sua vez, sustentava o giro do comércio local.
As principais casas comerciais instaladas em Vera Cruz em meados do séc. XX, eram os
estabelecimentos de João Vieira Valadares, José Salomão ( o “Zé Turco) e Joaquim Antonio Costa ( o
“Quincas”). Típicos armazéns de secos e molhados. Negociavam fazendas (tecidos), conservas, bebidas,
cigarros, sabão, papel, balas e doces, utensílios domésticos, sal, vassoura, querosene, instrumentos agrícolas
etc. Até a década de 1940 faziam compras em Vera Cruz os moradores do Sobrado, Maravilhas, Tapera,
Ribeirão das Neves e até mesmo do Matuto (Santo Antonio da Barra). O Distrito possuía, nos anos de 1940,
posto de Correio, Telefônico e Posto Policial.

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