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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

LETRAS - PORTUGUÊS/LATIM E SUAS RESPECTIVAS LITERATURAS

HIEDRO ONO

UMA ANÁLISE POLÍTICA DAS OBRAS DE CÍCERO E DE VIRGÍLIO

RIO DE JANEIRO
2023
A literatura latina possui grandes influências na própria literatura grega. Por conta do contato
cultural entre elas a influência na forma de produção e reprodução das obras se assemelhavam, Culto
às divindades e aos mitos de formação da sociedade era os mais frequentes produzidos entres as
civilizações. Porém algo de diferente aconteceu para Roma, o fato de sua enorme expansão mudou a
percepção do que se havia como literatura, ao longo das tomadas de terras, novas culturas e
conhecimentos eram obtidos pelos povos romanos; esse processo nomeado de romanizacao, e dentro
dele a cultura e obras dos demais territórios foi adquirida pelo império, assim, deus-se a cultura da
tradução das demais línguas para o latim. Por tanto, as duas modalidades de escritas convergiam e
eram o cerne do escrever e da leitura romana.
Dentro das inúmeras produções ao longo do grande império, é possível estabelecer diferenças
estruturais, linguísticas e de gêneros entre as obras. Além dos gêneros principais citados de exemplos
dos textos, há outros dois de extrema importância e que até hoje são estudados e considerados a forma
que podemos estudar, compreender como o Império operava.
Como na época a boa horatória e o falar eram extremamente importantes, as obras em geral
eram elaboradas para serem contadas; seja em um coreto na praça pública, seja no senado para outros
magistrados ouvirem. A prática da escrita e leitura era considerada tão importante que um dos
políticos percebeu essa relevância e decidiu se aproveitar de alguns desses escritores que já tinham
alguma relevância no império.
Caio Cílnio Mecenas foi esse político de grande confiança do imperador Augusto que iniciou
a incentivar algum desses escritores por meio de proteção política e bens materiais, e assim foi
considerado o patrono das letras. Horácio, Propércio e Virgílio; Foram esses escritores patrocinados
por Mecenas, e desses patrocínios convergiu o termo "mecenato". O ato de financiar algum artista
com trocas materiais ou políticas pelo seu trabalho.
Essas trocas não partiam de uma pura benevolência de Mecenas, e muito menos de Caio Júlio
César. César observou essa troca com os artistas como algo benéfico para a divulgação e dos seus
ideais e forma de governar o império. Os textos desses escritores, escritos sobre a tutela e rigor
exigido pelos mandatários, tinham como função a exaltação à forma de vida e regime de Roma.
Virgílio, por exemplo e um exime autor que domina inúmeras formas de produção literária, e
a pedido do imperador, teve como ordem a confecção de uma história que conte os acontecimentos
que deram origem a Roma que eles viviam, história essa que tem seu início anteriormente do famoso
conto dos gêmeos Rômulo e Remo. Com ele, Virgílio tece uma suposta árvore genealógica, indo de
Enéias, herói troiano, até Otavianos, a figura máxima do império.
O estilo empregado para a produção dessa obra é a epopéia, gênero que se usa de um
extenso poema lírico épico usado para descrever uma história, sendo fictícia ou não, de um
acontecimento importante vinculado a roma. Apesar de sua forma extremamente formal e polida, ela
foi uma obra de tentativa de superação da Odisseia de Homero. Seus Seis primeiros cantos exaltam
bem esse ideal enquanto a segunda parte faz referência a Ilíada. Um bom escritor com tanta vontade
de produzir um texto legitimamente inovador e marcante era tudo que César queria para demonstrar o
poderio Romano por meio dessa obra.

"Musa ! recorda-me as causas da guerra, a deidade agravada" (Eneida,1983, P. 11)


Clara referência a invocação das musas, assim como se inicia a Odisseia.

Assim é justo dizer que a Eneida possui um padrão estético artístico que era e até mesmo hoje
em dia é desejável que um artista tenha o mesmo cuidado e empenho de confecção de uma obra tão
minuciosamente elaborada para enaltecer o império. por tanto, a soberania dele é totalmente
justificada e convertida nos versos de Virgílio ao retratar o difícil porém triunfante início de Roma.
Olhando por outros olhos e palavras, conseguimos analisar uma outra produção Romana com
peso tão valoroso quanto a epopeia falada. Porém, com uma temática e apresentação diferente. Roma
é famosa também pelos incríveis e marcantes discursos políticos, esses que são referenciados até os
dias de hoje, mostrando a extrema influência que eles causaram e causam. Assim, um outro autor que
possui essa influência é Cícero. Um advogado extremamente culto que carregava consigo
conhecimentos tanto gregos quanto latinos, visto que, em sua época uma pessoa culta deveria ter
como ferramentas a filosofia, literatura, escrita tanto grega quanto a própria latina.
Com sua grande influência no senado, Cícero consegue o título de cônsul no no ano de 63
a.c., juntamente com Caio Antônio Híbrida. Em seu governo ele descobre uma enorme conspiração
tramada por Catilina. Essa trama partiu do próprio Lúcio Sérgio Catilina, que tinha como objetivo
usar forças aliadas de outras regiões para derrubar o atual cônsul (o próprio Cícero) e tomar o poder
do império e governá-lo de forma soberana.
Ao notar tal possível feito o advogado se prepara com um enorme e poderosíssimo discurso
que desmascarou e tornou público as más intenções de Catilina, a primeira parte do discurso é
extremamente direto e direcionado ao golpista. o decorrer dela se comunica de forma mais aberta com
os demais políticos e a última parte põem a população como novo ouvinte do discurso, falando de sua
importante participação política.
O texto, por mais que traz um ar de ameaça e intimidamento para a defesa de nosso autor, é
extremamente polido, erudito e extremamente lapidado para fazer jus ao calibre autoral de seu autor.
O uso de referências filosóficas gregas demonstra a articulação de Cícero, mostrando mais uma vez, o
ideal de discurso que deve ser almejado por todos os demais que desejavam discursar no senado.
Assim, Cícero ergueu um forte pilar na preparação, elaboração e locução de como se deve
fazer um discurso. Apesar do cenário não o favorecer, ele se manteve firme com suas ideias e usou
apenas da retórica para tentar desmascarar um dos, possivelmente, maiores golpes políticos da
história. Segundo Michael Grant.
"a influência de Cícero sobre a história da literatura e das ideias europeias em muito excede a de
qualquer outro escritor em prosa de qualquer língua"

Ao analisar as duas obras é extremamente justo ressaltar as fortes intenções de enaltecimentos


empregados para engrandecer os ideias, crenças e poder de Roma. Os dois discursos apesar de
motivações contrárias acabam por reforçar um grande ideal que há na maioria das produções do
império. O poder, influência que ele possui em todo seu território.
Novamente, as motivações e interesses das obras eram totalmente diferentes, porém, o meio
em que elas surgiram era parecido com a alta aristocracia de roma. Portanto, não faltam as referências
clássicas, vocabulário extremamente lapidado, formas caras; tanto nos versos quanto na prosa. Essas
obras pautaram como os futuros autores deviam escrever e até hoje são referências de uma primazia
do ato de escrever. Os romanos definitivamente não falharam ao quererem mostrar ao mundo o seu
tamanho físico e intelectual.

Bibliografia
- Haskell, H.J.: This was Cicero (1964)p.300–301
- VIRGÍLIO. Eneida Brazileira. Trad. Odorico mendes. Paris: Typ. de Rignoux, 1854.
- PINHO, Sebastião Tavares de (1989). As Catilinárias, Cícero. Lisboa: Edições 70
- FERNANDES, Cláudio (n.d.). «O que são as Catilinárias de Cícero?». Consultado em 17
de abril de 2018

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