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Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo

Relator – Dr. MAURICIO FIORITO

SERGIO FERNANDO MORO, já devidamente qualificado nos autos do recurso contra


o deferimento da transferência de domicílio eleitoral, autuado sob o nº 0600053-
16.2022.6.26.0005, interposto pelo PARTIDO DOS TRABALHADORES – DIRETÓRIO MUNICIPAL
DE SÃO PAULO e ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA, vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, apresentar memoriais de julgamento, com o intuito de
enfatizar alguns pontos relevantes do caso para melhor compreensão da
controvérsia.

I. SÍNTESE DO RECURSO: Foi interposto o presente recurso contra o deferimento da


transferência do domicílio eleitoral do RECORRIDO, sob o fundamento de que não
estaria apto a realizá-la, por não residir no Estado, o que seria comprovado pela
ausência de menções à cidade em suas redes sociais, por possuir somente inscrição
na subseção da OAB do Paraná, além de ter sido constituído como vice-presidente
do órgão estadual do PARTIDO PODEMOS no Estado do Paraná.

II. MÉRITO: Inobstante os argumentos apresentados, o que motiva a transferência


de domicílio são os múltiplos vínculos do RECORRIDO com a cidade e o Estado de São
Paulo. São vínculos políticos, profissionais e afetivos, tornando in questionável à
possibilidade de SP como seu domicílio eleitoral, diante do que dispõe a legislação
eleitoral:

Art. 42. (...) Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar
de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma,
considerar-se-á domicílio qualquer delas.
2.1 Portanto, com o devido respeito, não subsiste qualquer controvérsia sobre a
manutenção do domicílio primário em Curitiba, tampouco a argumentação sobre a
condição de vice-presidente do Podemos no Paraná – função verdadeiramente nunca
exercida, em que pese indicada na composição do órgão partidário – na medida é
que desimportará, nesta avaliação da transferência domiciliar, os vínculos que
possuíra no PR, mas tão somente aqueles que construiu em São Paulo, respeitado o
prazo de 90 dias antecedente, nos termos da Resolução 23.659/2021:

Art. 38. A transferência só será admitida se satisfeitas as seguintes exigências:


(...) III - tempo mínimo de três meses de vínculo com o município, dentre aqueles
aptos a configurar o domicílio eleitoral, nos termos do art. 23 desta Resolução, pelo
tempo mínimo de três meses, declarado, sob as penas da lei, pela própria pessoa
(Lei nº 6.996/1982, art. 8º);

Art. 23. Para fins de fixação do domicílio eleitoral no alistamento e na


transferência, deverá ser comprovada a existência de vínculo residencial,
afetivo, familiar, profissional, comunitário ou de outra natureza que justifique
a escolha do município.

2.2 E, nos exatos termos da legislação acima, demonstrou-se os vínculos


residenciais, afetivos, profissionais e políticos com a cidade e o Estado de São Paulo,
considerado: (i) o recebimento da Grã-Cruz da Ordem do Ipiranga (28/06/2019), a
mais alta condecoração do Estado de São Paulo, destinada somente aqueles cidadãos
“que se houverem distinguido por serviços de excepcional relevância prestados ao
Estado de São Paulo e seu povo”, conforme Decreto Estadual 52.064/1969; (ii) a
contratação pela consultoria ALVAREZ & MARSAL, com sede em São Paulo/SP; (iii) os
títulos de Cidadão Honorário de diversas cidades paulistas, como o recebido em
Sorocaba e outros concedidos em Rio Grande da Serra e Itaquaquecetuba; (iv) mais
recentemente, desde dezembro/21, quando estabeleceu a cidade de São Paulo como
sua residência primária e base política, com presença física semanal e a realização
de dezenas de reuniões políticas, conforme documentos anexos, demonstrando a
opção indiscutível pela realização de política em SP, como inclusive, bem destacado
pelo HOTEL INTERCONTINENTAL:

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“(...) Sergio Fernando Moro (...) utilizou-se das estruturas deste hotel, por meio de
locação de quartos e salas de reunião, desde dezembro de 2021, até o mês de março
de 2022, hospedando-se pessoalmente, com sua esposa e com profissionais da sua
equipe.”

2.3 Vê-se, assim, ter cumprido rigorosamente o que determina a legislação,


conforme ampla, mansa e pacífica jurisprudência desta Corte e do TSE:

“É ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NA CORTE SUPERIOR ELEITORAL QUE OS


CONCEITOS DE DOMICÍLIO CIVIL E ELEITORAL NÃO SE CONFUNDEM, SENDO ESTE
ÚLTIMO MAIS AMPLO E FLEXÍVEL, AMOLDANDO-SE COMO O LUGAR ONDE O
ELEITOR POSSUI VÍNCULOS PROFISSIONAIS, FAMILIARES, PATRIMONIAIS, SOCIAIS
OU COMUNITÁRIOS COM O MUNICÍPIO, AINDA QUE NELE NÃO RESIDA DE FORMA
DEFINITIVA. (...) (TRE-SP. RE nº 66-48. Data: 29/08/2017)

“O conceito de domicílio eleitoral (art. 42, parágrafo único, do Código Eleitoral) é


mais amplo do que aquele estabelecido pelo art. 70 do Código Civil. Isso porque, na
linha da jurisprudência desta Corte, ao contrário do domicílio civil, a condição de
elegibilidade prevista no art. 14, § 3º, IV, da Constituição pode ser preenchida
não apenas pela residência no local com ânimo definitivo, mas também com a
demonstração de vínculos políticos, econômicos, sociais ou familiares. Nesse
sentido: AgR-AI nº 7286, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5.2.2013; REspe nº 37481, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 18.2.2014; e REspe nº 8551, Rel. Min. Luciana Lóssio, j.
8.4.2014.” (TSE. RO nº 0602388-25.2018. Rel.: Min. Luís Roberto Barroso.
04/10/2018)

2.4 Em conclusão, desde que comprovada a existência prévia de qualquer espécie


de vínculo do eleitor com a localidade, pelo prazo mínimo de três meses
antecedentes, nos termos do artigo 55, § 1º, inciso III, do Código Eleitoral,
comprovado, por igual, a residência atual, é plenamente possível a realização da
transferência o novo município, desimportando se mantém residência primária ou
mesmo relações políticas e sociais naquele, uma vez que o eleitor poderá escolher
segundo código eleitoral e doutrina:

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“O Código Eleitoral conceituou domicílio eleitoral como o lugar de residência ou de
moradia do requerente, facultando-lhe a prerrogativa de escolher uma delas se
houver mais de uma (art. 42, parágrafo único). A densidade substancial de seu termo
expressa o lugar a que o eleitor tenha vínculos – políticos, sociais, profissionais,
afetivos, patrimoniais –, na circunscrição em que exerça seu direito de voto.” 1

2.5 Por fim, sobre a locação do imóvel em que reside o RECORRIDO, referente ao
apartamento nº 159 do prédio situado à Rua João Cachoeira, 292, Itaim Bibi, São
Paulo/SP, assinado em 28/03/2022, sua utilização se deu para apenas demonstrar o
endereço atual do RECORRIDO, satisfazendo o requisito documental do endereço
atualizado – como poderia ter se dado, se houvesse, contas de água ou luz –, e não
objetivando a comprovação de sua prévia relação com o Estado de São Paulo, em
prazo além dos 3 meses, mediante outras provas apresentadas em contrarrazões,
como, inclusive, bem recepcionado no parecer da PRE, ao pontuar que:

“os elementos de prova são suficientes para comprovar o vínculo de forma


satisfatória com a municipalidade para a qual pretende transferir o seu domicílio
eleitoral, não tendo os argumentos trazidos pelos recorrentes o condão de obstar a
transferência eleitoral já deferida.”

III. CONCLUSÃO: Esses eram os elementos necessários ao desprovimento do recurso


e manutenção do deferimento da transferência de domicílio do RECORRIDO.

Atenciosamente,

GUSTAVO BONINI GUEDES


OAB/SP 439.254

1VELLOSO, Carlos Mário da Silva.; AGRA, Walber Moura de. Elementos de Direito Eleitoral. 7. ed. São Paulo:
Saraiva: 2020. p. 218.

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