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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTES - ICHCA


Curso de Licenciatura em História (2021.2)

Professor(a): Clara Suassuna Fernandes


Discente: Clevson Barros da Silva Filho
Disciplina: Educação e Estudos Étnico-raciais

Resenha

Afroetnomatemática, África e Afrodescendência. Henrique Costa Júnior

Em todas as civilizações, a matemática tem o seu devido impacto de forma primária para as
ramificações de diversas outras disciplinas da ciência, e pelo seu caráter crucial na
composição educacional de todos os seres humanos, devemos sempre dispor do sistema
educacional de forma igualitária para o processo da culminação de tal aprendizado, que
sucede áreas importantíssimas para o processo evolutivo da espécie humana, como
arquitetura, astronomia, engenharia, economia, e diversas outras. Porém essa disseminação do
ensino da matemática configura um retrocesso no que se diz respeito à igualdade da
disposição de práticas e métodos eficazes da aprendizagem, ou mesmo a amputação desse
ensino em sua totalidade, em algumas civilizações, pela condição preconceituosa e racista dos
setores de propagação da educação matemática, em geral, motivada pela cultura eurocêntrica
carregada por um complexo de superioridade.

Podemos ver a veracidade desses relatos através de pesquisas históricas, nas relações do
ensino da matemática e das sociedades afrodescendentes que sempre foram alvo principal de
credos esdrúxulos que carregam a cultura de que o negro não possui competência para as
ciências da matemática, inferiorizando a integridade e incentivando o medo da rejeição para
com o ensino dos povos afrodescendentes, o que corrobora para um desempenho matemático
baixo, que por consequência reafirma os objeitvos primários da cultura racista que
menospreza esses povos e sua cultura. Em muitos territórios, de sua maioria afrodescendentes,
inexiste o ensino da matemática e quando ele está presente, o ensino é ineficiente,
improvisado e com aulas descontínuas, além de não utilizar meios e métodos adequados. Tais
condições recaem sobre o próprio negro, uma vez que os testes de desempenho são
relacionados a questão genética.

Com este cenário, faz-se de extrema importância a propagação de um estudo especializado


que afirme a competência dos afrodescendentes, com sucessos históricos nas áreas da
matemática e das ramificações da mesma, dessa forma deu-se origem a Afroetnomatemática,
que surge no Brasil através da elaboração de práticas pedagógicas do Movimento Negro, e se
preocupa em validar de forma científica, os valores culturais do negro em suas tangentes
matemáticas, analisando as evidências em variadas vertentes históricas africanas, como
religião, mitos populares, artes, danças, jogos, astronomia, a própria matématica e
construções. Um exemplo da presença da arquitetura africana dado pelo professor Günter
Weimer, da PUC-RS, é o famoso telhado em forma de "V" invertido, chamado ´´duas águas``
que era comum nas casas mais simples, por influência da arquitetura desenvolvida no
noroeste de Angola e da costa de Guiné Bissau.

1.1 - AFRO-DESCENDENTES EXPOENTES NA ENGENHARIA E NA


ARQUITETURA

Reconhecer as bases de nossa identidade e da ancestralidade africana presente em nossa


cultura, que culminaram em grandes feitos na arquitetura e engenharia brasileira, é de extrema
importância para que se torne material inspirador no processo da formação de diversos
engenheiros e arquitetos afrodescendentes, e mais importante ainda dar o devido
reconhecimento às grandes influências que contribuíram para a construção histórica de toda
essa ancestralidade, são histórias muito ricas e que necessitam de suas devidas divulgações,
para que não se torne mais um dos alvos da invisibilidade do processo racista, bastante
comuns, mesmo na atualidade.

Alguns dos grandes exemplos afrodescendentes da engenharia brasileira, que apesar de


carregarem grande peso de resistência às facetas racistas de suas épocas, realizaram grandes
contribuições e se tornaram figuras históricas de extrema relevância. São eles: Mestre
Valentim, arquiteto, escultor e gênio do urbanismo, que inaugura o urbanismo no Brasil;
Theodoro Sampaio, engenheiro, professor, deputado federal e fundador da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo; Os irmãos André Rebouças e Antônio Rebouças, engenheiros,
físicos e matemáticos, abolicionistas e ativistas em defesa dos direitos sociais dos africanos e
afrodescendentes; e Manoel Quirino, artista plástico, arquiteto, vereador, professor de
desenho, artesão, jornalista, pesquisador da cultura de base africana, político e sindicalista,
fundou em 1874, a Liga Operária de Artesãos da Bahia e morreu em 1923 deixando vários
livros sobre a cultura africana no Brasil.

1.2 - AFRICANOS NO USO DA MATEMÁTICA

A supremacia do eurocentrismo permite que a disseminação do racismo se torne algo natural


no campo científico, tendo origem no século X1X e perdurando até os dias de hoje por muitos
educadores, educadores esses que não possuem informações consistentes para explanar
práticas sociais e educacionais das bases da cultura e do conhecimento africano.

Grande parte do crédito do conhecimento matemático era restrito ao Egito, porém as


extensões de tais conhecimentos sempre se expandiram por extensas regiões do continente
africano, muitas das práticas do sistema matemático foram inclusive transmitidas de povos
africanos para o Egito. É de extrema importância que reconheçamos os conhecimentos, desde
os científicos aos tecnológicos, por todo o continente.
As diversas bases numéricas e geométricas do continente africano, foram em suas origens
elaboradas em lógicas e formas de exposição de difícil interpretação da cultura ocidental
brasileira, o que contribuiu para teorias errôneas sobre a existência de conhecimentos
matemáticos importantes nestas culturas.
Porém o continente africano não se delimita aos conhecimentos básicos da geometria
euclidiana, um grande exemplo de uma das diversas aplicações práticas do campo
matemático, é a Geometria Fractal, frequentemente utilizada na construção de vilas de casas
numa cidade, em formas de penteados de cabelos, em padronagem de tecidos ou em paredes
acústicas em cabanas.

Na matemática ocidental, esse estudo ainda é muito recente, mas já se apresenta muito eficaz,
tendo grande utilidade nas áreas de produção de circuitos semicondutores, no campo da
informática e na reconstrução de formas complexas. A importância maior dessa geometria
difundida na região africana, para a matemática, é permitir uma demonstração prática do
Teorema de Pitágoras.

1.3 - MATEMÁTICAS NOS TERREIROS

Uma das leis mais importantes do Universo que cerca quase todas as explicações, é a Teoria
do Caos, onde uma mudança quase que insignificante, poderia através de uma sequência de
eventos, dar início à consequências gigantescas e desconhecidas no futuro. Esta teoria ganhou
ares científicos, por uma representação matemática específica em diagramas circulares
mostrando as trajetórias caóticas das variáveis observadas, no início da década de 1960,
quando o meteorologista americano Edward Lorenz descobriu que fenômenos aparentemente
simples têm um comportamento tão caótico quanto a vida, como consequência através de suas
equações, formulou o tão conhecido ´´Efeito Borboleta``.

Porém o que temos de fascinante em toda essa teoria, é que ela já existia muito antes das
formulações de Edward Lorenz, há séculos atrás na representação da Deusa Oya, nas religiões
africanas, em diversas partes da África, representações relacionadas à cultura de terreiro, com
os fenômenos de turbulência atmosférica de grandes ventos. Deduzimos então, que o recente
conhecimento do efeito borboleta e da Teoria do Caos na ciência Ociental, já era disseminado
e exemplificado como conhecimento religioso africano, em diversas vertentes.

Outro exemplo prático da matemática na cultura africana, são os cálculos binários,


desenvolvidos pela álgebra de Boole, Neste sistema, os números de elementos 2, 4 e 16 são de
grande significado. Observamos então, que os jogos africanos seguem essa mesma lógica,
como por exemplo, o jogo de Búzios, bastante conhecido no Brasil, onde os elementos de
partida são 16 e as probabilidades de ocorrência do búzios, são 0 e 1 (abertos e fechados), em
uma estrutura de 16. Esse conhecimento equivalente à Álgebra de Boole, data de mais de
3.000 anos, de acordo com os estudos do professor Dr. Africano Muleka.

Essas e diversas outras representações da matemática na cultura africana, como também


notamos o jogo Aware (encontrado em muitas regiões africanas com diferentes nomes. Adi,
no Daomé, Andot no Sudão, Wari ou Ouri, no Senegal e Mali), vêm se tornando bastante
comuns para que possamos entender a importância do respeito em relação à
Afroetnomatemática, a África e a Afrodescendência em toda sua totalidade.

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