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Henry Jenkins, autor do termo e pesquisador da área, explica no livro de mesmo nome

o seu conceito de convergência. Para ele, é a “palavra que define mudanças


tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa
cultura”.

A partir desse conceito, ele acredita que a movimentação de conteúdos por meio de
diferentes plataformas, geralmente envolvendo a união entre diferentes indústrias
midiáticas, acontece de maneira fluida e estratégica atualmente.

Jenkins explica que a convergência acontece a partir dos meios de comunicação, de uma
cultura participativa e da inteligência coletiva.

Convergência dos meios de comunicação

O diferencial, portanto, é que, neste caso, a relação de poder entre produtor de conteúdo
e consumidor está em uma linha tênue, sendo moldada a cada interação. A convergência
é um processo, que vai se adaptando a cada novidade tecnológica lançada ou a cada
novo modo de consumo de um conteúdo.

Ninguém imaginou que o celular, quando foi lançado, se tornaria um dispositivo capaz
de exibir séries, filmes, músicas e tantos outros tipos de conteúdos. Graças a isso, é cada
vez mais comum que as pessoas interajam com mais de um aparelho ao mesmo tempo,
ou seja, acompanham as novidades nas redes sociais enquanto assistem uma série na
TV.

As pessoas têm acesso a todo tipo de entretenimento na palma da mão, reunidos em um


mesmo aparelho, seja para jogar, ouvir uma música, ver vídeos ou tirar fotos.

Cultura participativa

É nesse âmbito da convergência que o poder do consumidor se torna mais claro. São
utilizadas estratégias que chamam os consumidores para uma ação, participando
ativamente da construção de novos conteúdos.

Isso é observado, por exemplo, em reality shows quando o público vota para decidir
algo, como a eliminação de um participante ou qual vai ser o próximo desafio.

Inteligência coletiva
O conceito cunhado por Pierre Lévy é utilizado dentro da cultura da convergência por
meio da percepção de que, sozinho, ninguém sabe todas as coisas. No entanto, quando
um grupo se reúne para discutir sobre determinado assunto, acontece a junção de
conhecimentos e, consequentemente, o aumento da capacidade intelectual. Isso se torna
bastante perceptível em fóruns de discussão.

Além desses conceitos, foi a partir da cultura da convergência que algumas vertentes
bem importantes surgiram, como a transmídia e o crossmedia.

Resenha — Cultura da convergência de Henry Jenkins

Cultura na convergência foi publicado pela primeira vez em 2006, nos Estados Unidos,
pelo professor de Ciências Humanas, Henry Jenkins, com o objetivo de investigar e
explicar, de maneira simples e compreensível — tanto para consumidores quanto
produtores de conteúdos midiáticos — como o fenômeno de convergência de mídias
afeta e transforma não só a maneira como o produto é recebido e consumido pelo
público, mas também exerce influência nas relações horizontais entre indivíduos de uma
audiência e as verticais entre audiência e produção num nível social e humano que por
muitos anos foi ignorada pelos pesquisadores de comunicação.

Jenkins define a convergência como um processo tecnológico, mercadológico, cultural


e social, pois muda os canais de transmissão tradicionais de mídia, exige alterações no
mercado da indústria cultural para suprir com o desejo de seus espectadores e
transforma a maneira que a sociedade recebe, percebe e reage aos produtos, ao
incentivá-los a navegar por diferentes meios de comunicação em busca de informações;
e, por consequência, expõe a necessidade dos emissores de conteúdo repensarem a
maneira que enxergam o público e a relação incerta entre eles. “A convergência envolve
uma transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios
de comunicação” (P. 44).

Ele nomeia o falecido cientista político Ithiel de Sola Pool como o pioneiro em trazer a
visão de convergência como uma transformação da indústria midiática. Jenkins traz uma
atualização do antigo conceito de convergência, que remetia ao paradigma da revolução
digital e do que ele chama de “Falácia da Caixa Preta” — novos meios de mídia
substituindo os antigos e que, em certo ponto, todo conteúdo midiático seria controlado
a partir de uma única caixa preta universal na sala de estar de cada espectador — para
trazer a ideia de Pool de uma coexistência, se não pacífica ou estável, ao menos
interdependente dos produtores: se após um longo período de transição todos os setores
midiáticos se unissem e trabalhassem em conjunto, eles conseguiriam sobreviver
praticamente intactos as mudanças. Em meados dos anos 2000, aponta o autor, a
quantidade de caixas pretas numa só sala de estar, cada uma com sua própria função e
numerosos fios que as separavam do consumidor, enfatizam essa incompatibilidade
entre as diversas mídias, que muitas vezes abordam essas transformações de divergentes
maneiras dentro de uma mesma empresa. O autor deixa claro o que almeja com seu
livro:

“Quero descrever algumas das formas pelas quais o pensamento convergente está
remodelando a cultura popular americana e, em particular, como está impactando a
relação entre públicos, produtores e conteúdos de mídia. […] Meu objetivo é ajudar
pessoas comuns a entender como a convergência vem impactando as mídias que elas
consomem e, ao mesmo tempo, ajudar líderes da indústria e legisladores a entender a
perspectiva do consumidor a respeito dessas transformações. […] Meu objetivo aqui é
documentar, e não criticar, perspectivas conflitantes sobre a transformação das mídias”
(P. 39–40)

Jenkins também faz uma importante distinção entre meio de comunicação e ponto de
distribuição — o primeiro é “um conjunto de ‘protocolos’ associados ou práticas sociais
e culturais que cresceram em torno dessa tecnologia”, enquanto o segundo abrangeria os
dispositivos tecnológicos propriamente ditos. Embora os pontos de distribuição mudem
com o passar dos anos — de vinil para CDs que se tornaram arquivos MP3, por
exemplo — os meios de comunicação, ao fornecerem ao público satisfação a
determinadas necessidades, nunca realmente morrem, simplesmente se renovam e se
aprimoram.

Ele nomeia de “convergência corporativa” as mudanças que acontecem na forma em


que os produtos midiáticos são produzidos e emitidos e na maneira que o produtor
interage com seu espectador; e de “convergência alternativa” o aprendizado dos
consumidores a respeito das novas tecnologias e o exercício de sua interação ativa com
o que está assistindo/ouvindo/lendo. Esses dois polos, que podem ocasionalmente entrar
em conflito um com o outro, estão definindo os novos parâmetros da cultura. O que a
indústria chama de extensão — “tentativa de expandir mercados potenciais por meio do
movimento de conteúdos por diferentes sistemas de distribuição” — , sinergia —
“oportunidades econômicas representadas pela capacidade de possuir e controlar todas
essas manifestações” — e franquia — “empenho coordenado em imprimir uma marca e
um mercado a conteúdos ficcionais” — acarreta, então, na criação de narrativas
transmídia, a criação de um universo ficcional que depende quase que exclusivamente
da relação ativa entre consumidores e produtores e das interações de diferentes meios de
comunicação com um objetivo comum.

Diretamente ligado a essa convergência alternativa está a “inteligência coletiva”,


conceito criado pelo cyberteórico francês Pierre Lévy, que Jenkins se utiliza como parte
vital das novas relações localizadas nas emergentes comunidades de fãs, que ele nomeia
de comunidades de conhecimento. Esse conceito de Lévy se baseia na ideia de que o
conhecimento reside na humanidade, não em indivíduos. Ninguém é capaz de saber de
tudo, cada um possui sua área de conhecimento específica e juntos se alcança a
totalidade. Assim se apresentam as comunidades de conhecimento; cada fã aplica seu
conjunto de saber particular, cada um sendo igualmente importante para o resultado
final, pois suas habilidades se completam e se misturam. Um grande exemplo disso, é a
Wikipedia, um site onde o conteúdo é feito exclusivamente por uma equipe de
voluntários de diversos países do mundo com o objetivo de compartilhar informações e
dados sobre os mais diferentes assuntos; isolados, nenhuma dessas pessoas conseguiria
conter o conhecimento que o grupo possui. O autor ressalta a importância dessas
comunidades num sentido mais utópico ao enfatizar que, nessa fase de adaptação e
desbravamento desse novo sistema, esses grupos aplicam suas habilidades em produtos
midiáticos pelos quais possuem interesse, mas que tal capacidade poderia ser facilmente
transferida para situações diferentes, “mais sérias”, como a política. Isso ocorreria como
ramificações dessa cultura participativa, onde consumidores não só interagem com os
meios de comunicação, como tem um importante papel na descentralização de poder
das grandes mídias e na exigência por diversidade.

A convergência está acontecendo, mas nem sempre sua intenção é o avanço cultural. Na
verdade, em sua maioria, ela tem início por questões econômicas dos conglomerados
midiáticos, que por inúmeras razões precisam abraçar as mudanças e dar espaço ativo ao
consumidor, aceitar a comunidade de consumo onde, segundo Jenkins, está localizada
as maiores mudanças derivadas da convergência: não mais se consume sozinho, se
consume em grupo, seja ele sua família e amigos ou outros membros da rede, que por
sua vez influenciam a maneira que cada indivíduo irá consumir. Nessa cultura de fãs
reside a capacidade de moldar o conteúdo das mídias, ainda não alcançado plenamente,
pois essa nova cultura dá voz aos nichos mais isolados que procuram na mídia
alternativa satisfação para seus interesses particulares que são ignorados na tradicional.
Jenkins aponta um último conceito, o de “adhocracia” do autor de ficção científica Cory
Doctorow, oposto ao da burocracia, caracterizado pela ausência de hierarquia, sendo
assim uma liderança fluida, de acordo com a necessidade da tarefa.

Jenkins finaliza indicando um outro obstáculo nessa jornada da cultura da convergência,


a lacuna participativa. Nem todos tem acesso à rede e às comunidades de conhecimento,
nem todos sabem como interagir nesses novos meios. O autor, então, destaca que para
isso é preciso que a educação estimule e forneça o conhecimento necessário para que
mais pessoas entrem na cultura participativa e criem relações construtivas e ativas com
as mídias.

A Cultura da Convergência é um fenômeno da Cibercultura

Loja de departamento com camisetas da franquia de filmes Star Wars — Reprodução

A crença de que a tecnologia ao longo dos anos anularia a importância e até o consumo
das mídias percursoras, como o rádio, não vem de hoje. O aparelho que conectava e
aproximava pessoas antes dos smartphone teve sua sentença de morte prevista assim
que a televisão se firmou como elemento fundamental na sala da casa das pessoas.

Entretanto, hoje os podcasts reafirmaram o local de importância e o papel democrático


do rádio, pela simplicidade dos elementos vitais para a sua produção. Ouvir rádio no
celular, assistir televisão no carro, ler livros digitais. As mídias não deixaram de ser
consumidas, mas passaram a ser vistas em outro formatos diferentes do inicialmente
proposto pelo meio.

O chamado Darwinismo Midiático é o termo usado pelos estudiosos da comunicação


para analisar esse fenômeno. Mesmo que os meios digitais estejam aglutinando certos
recursos de outros dispositivos, cada um deles mantém ainda desempenha a função
principal para o qual foi criado.

Esse processo de aproximação das mídias, é visto por Bolter (2001) como um “ciclo de
homenagens e rivalidade entre tecnologias de comunicação.” Isso, baseado na ideia de
que novas mídias incorporam características dos seus antecessores, mas também inovam
em seus formatos. E isso torna-se um movimento repetido a cada nova tecnologia
lançada, segundo o autor. O constante aperfeiçoamento das técnicas da comunicação.
Essa mistura dos gêneros comunicativos também reflete em uma convergência no fluxo
de conteúdo através de diferentes plataformas. Para o autor, esse conceito de ação
continua também pode ser compreendido como parte da “cooperação entre múltiplos
mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de
comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de
entretenimento que desejam” (p. 29).

Cultura dos fãs

O estudioso Henry Jenkins, ao estruturar a chamada Teoria da Convergência, construiu


um conceito usando tanto no meio cientifico como pela própria industria cultural, a
chamada Cultura dos fãs. Nesse contexto, um espectador de um filme da franquia Star
Wars, por exemplo, ao sair do cinema, deseja dar continuidade a sua experiência com a
história. Por isso, compra camisetas, chaveiros, mochilas e continua acompanhando o
lançamento na expectativa de novos filmes.

Os fãs são comunidades organizadas na web. Eles promovem encontros, eventos,


produzem textos inspirados na obra ficcional de repercussão com finais alternativos.
Lévy (1998, p. 28) acredita que mobilização em tempo real caracteriza uma forma
explícita de inteligência coletiva na internet.

Conceitos de Henry Jenkins — Cultura da Convergência

Esse produto dos fãs movimenta outra face da web, a “User-Generated Content”. O
conteúdo gerado pelo consumidor de um produto cultural alimenta sites voltados para a
isso, como por exemplo, o site Wattpad que possui como conteúdo principal as
fanfiction, textos publicados por fãs de determinado produto.

Para Surowiecki (2006), essa “sabedoria das multidões” está também por trás da seleção
e publicação colaborativa de notícias e produtos culturais. Esse processo pode ser
chamado de gatewatching (Bruns, 2003), de jornalismo participativo (Gillmor, 2005) e
está presente na teoria da Agenda Setting, em que basicamente as audiências têm papel
ativo na escolha e construção das notícias por meio da atividade de curadoria e
avaliação das informações fornecidas.

Arquitetura de participação

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade
dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e
consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-
los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que
nenhum de nós entende por completo. (Jenkins, 2009, p. 30)

A autonomia dos espectadores na expressão cultura participativa contrasta as noções


mais antigas das primeiras teorias da comunicações sobre a passividade dos
“receptores” dos meios de comunicação.

Antes podíamos nos referir aos produtores e os consumidores de mídia como figuras
de mundos diferentes. Entretendo, agora podemos considerá-los como participantes
interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que ainda não foram
compreendidas por completo.

Alex Primo alerta em seu texto “Crítica da cultura da convergência: participação ou


cooptação?” que a popularização da internet não “gera” cultura participativa e
convergente. Para o autor, a internet criou tanto a cultura participativa quanto foi criada
por ela.

“Tal relação de causa e efeito aproximar-se-ia de uma perspectiva de determinismo


tecnológico. É também o espírito de época, os relacionamentos da pós-modernidade, o
histórico de atritos com a hegemonia da indústria cultural, as utopias hippies e
acadêmicas presentes na criação da internet, entres outros aspectos sociais e políticos
que fomentam a consolidação dos processos antes listados. Trata-se, na verdade, de uma
relação recursiva.”

Sociedade “pós-massiva”

Alex conta ainda que a “as utopias libertárias da cibercultura” anunciava que a livre
publicação na internet deixaria o “receptor” livre das amarras de consumo e das
imposições da grande mídia. As produções independente destruiriam as audiências da
televisão nos programas mais “engessados.”

Por outro lado, produtos culturais industrializados de alcance global (como Lost,
Simpsons, Big Bang Theory) não são necessariamente vistos por todos blogueiros e
tuiteiros como nocivos e um alvo a ser destruído. Outro ponto são os próprios fãs, vistos
como objeto de “reinvenção da produção lucrativa daquelas indústrias.”
A análise de que esta sociedade é pós-massiva não parece precisa. Os grandes grupos do
capital midiático não estão minguando, a mídia de massa não se tornou mero
coadjuvante. A produção midiática tornou-se sim mais acessível com a participação de
criadores independentes, mas esta nova produção que ocorre longe da mídia de
referência não pode ser entendida como mídia radical (Downing, 2004) em sua
totalidade.

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