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A partir desse conceito, ele acredita que a movimentação de conteúdos por meio de
diferentes plataformas, geralmente envolvendo a união entre diferentes indústrias
midiáticas, acontece de maneira fluida e estratégica atualmente.
Jenkins explica que a convergência acontece a partir dos meios de comunicação, de uma
cultura participativa e da inteligência coletiva.
O diferencial, portanto, é que, neste caso, a relação de poder entre produtor de conteúdo
e consumidor está em uma linha tênue, sendo moldada a cada interação. A convergência
é um processo, que vai se adaptando a cada novidade tecnológica lançada ou a cada
novo modo de consumo de um conteúdo.
Ninguém imaginou que o celular, quando foi lançado, se tornaria um dispositivo capaz
de exibir séries, filmes, músicas e tantos outros tipos de conteúdos. Graças a isso, é cada
vez mais comum que as pessoas interajam com mais de um aparelho ao mesmo tempo,
ou seja, acompanham as novidades nas redes sociais enquanto assistem uma série na
TV.
Cultura participativa
É nesse âmbito da convergência que o poder do consumidor se torna mais claro. São
utilizadas estratégias que chamam os consumidores para uma ação, participando
ativamente da construção de novos conteúdos.
Isso é observado, por exemplo, em reality shows quando o público vota para decidir
algo, como a eliminação de um participante ou qual vai ser o próximo desafio.
Inteligência coletiva
O conceito cunhado por Pierre Lévy é utilizado dentro da cultura da convergência por
meio da percepção de que, sozinho, ninguém sabe todas as coisas. No entanto, quando
um grupo se reúne para discutir sobre determinado assunto, acontece a junção de
conhecimentos e, consequentemente, o aumento da capacidade intelectual. Isso se torna
bastante perceptível em fóruns de discussão.
Além desses conceitos, foi a partir da cultura da convergência que algumas vertentes
bem importantes surgiram, como a transmídia e o crossmedia.
Cultura na convergência foi publicado pela primeira vez em 2006, nos Estados Unidos,
pelo professor de Ciências Humanas, Henry Jenkins, com o objetivo de investigar e
explicar, de maneira simples e compreensível — tanto para consumidores quanto
produtores de conteúdos midiáticos — como o fenômeno de convergência de mídias
afeta e transforma não só a maneira como o produto é recebido e consumido pelo
público, mas também exerce influência nas relações horizontais entre indivíduos de uma
audiência e as verticais entre audiência e produção num nível social e humano que por
muitos anos foi ignorada pelos pesquisadores de comunicação.
Ele nomeia o falecido cientista político Ithiel de Sola Pool como o pioneiro em trazer a
visão de convergência como uma transformação da indústria midiática. Jenkins traz uma
atualização do antigo conceito de convergência, que remetia ao paradigma da revolução
digital e do que ele chama de “Falácia da Caixa Preta” — novos meios de mídia
substituindo os antigos e que, em certo ponto, todo conteúdo midiático seria controlado
a partir de uma única caixa preta universal na sala de estar de cada espectador — para
trazer a ideia de Pool de uma coexistência, se não pacífica ou estável, ao menos
interdependente dos produtores: se após um longo período de transição todos os setores
midiáticos se unissem e trabalhassem em conjunto, eles conseguiriam sobreviver
praticamente intactos as mudanças. Em meados dos anos 2000, aponta o autor, a
quantidade de caixas pretas numa só sala de estar, cada uma com sua própria função e
numerosos fios que as separavam do consumidor, enfatizam essa incompatibilidade
entre as diversas mídias, que muitas vezes abordam essas transformações de divergentes
maneiras dentro de uma mesma empresa. O autor deixa claro o que almeja com seu
livro:
“Quero descrever algumas das formas pelas quais o pensamento convergente está
remodelando a cultura popular americana e, em particular, como está impactando a
relação entre públicos, produtores e conteúdos de mídia. […] Meu objetivo é ajudar
pessoas comuns a entender como a convergência vem impactando as mídias que elas
consomem e, ao mesmo tempo, ajudar líderes da indústria e legisladores a entender a
perspectiva do consumidor a respeito dessas transformações. […] Meu objetivo aqui é
documentar, e não criticar, perspectivas conflitantes sobre a transformação das mídias”
(P. 39–40)
Jenkins também faz uma importante distinção entre meio de comunicação e ponto de
distribuição — o primeiro é “um conjunto de ‘protocolos’ associados ou práticas sociais
e culturais que cresceram em torno dessa tecnologia”, enquanto o segundo abrangeria os
dispositivos tecnológicos propriamente ditos. Embora os pontos de distribuição mudem
com o passar dos anos — de vinil para CDs que se tornaram arquivos MP3, por
exemplo — os meios de comunicação, ao fornecerem ao público satisfação a
determinadas necessidades, nunca realmente morrem, simplesmente se renovam e se
aprimoram.
A convergência está acontecendo, mas nem sempre sua intenção é o avanço cultural. Na
verdade, em sua maioria, ela tem início por questões econômicas dos conglomerados
midiáticos, que por inúmeras razões precisam abraçar as mudanças e dar espaço ativo ao
consumidor, aceitar a comunidade de consumo onde, segundo Jenkins, está localizada
as maiores mudanças derivadas da convergência: não mais se consume sozinho, se
consume em grupo, seja ele sua família e amigos ou outros membros da rede, que por
sua vez influenciam a maneira que cada indivíduo irá consumir. Nessa cultura de fãs
reside a capacidade de moldar o conteúdo das mídias, ainda não alcançado plenamente,
pois essa nova cultura dá voz aos nichos mais isolados que procuram na mídia
alternativa satisfação para seus interesses particulares que são ignorados na tradicional.
Jenkins aponta um último conceito, o de “adhocracia” do autor de ficção científica Cory
Doctorow, oposto ao da burocracia, caracterizado pela ausência de hierarquia, sendo
assim uma liderança fluida, de acordo com a necessidade da tarefa.
A crença de que a tecnologia ao longo dos anos anularia a importância e até o consumo
das mídias percursoras, como o rádio, não vem de hoje. O aparelho que conectava e
aproximava pessoas antes dos smartphone teve sua sentença de morte prevista assim
que a televisão se firmou como elemento fundamental na sala da casa das pessoas.
Esse processo de aproximação das mídias, é visto por Bolter (2001) como um “ciclo de
homenagens e rivalidade entre tecnologias de comunicação.” Isso, baseado na ideia de
que novas mídias incorporam características dos seus antecessores, mas também inovam
em seus formatos. E isso torna-se um movimento repetido a cada nova tecnologia
lançada, segundo o autor. O constante aperfeiçoamento das técnicas da comunicação.
Essa mistura dos gêneros comunicativos também reflete em uma convergência no fluxo
de conteúdo através de diferentes plataformas. Para o autor, esse conceito de ação
continua também pode ser compreendido como parte da “cooperação entre múltiplos
mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de
comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de
entretenimento que desejam” (p. 29).
Esse produto dos fãs movimenta outra face da web, a “User-Generated Content”. O
conteúdo gerado pelo consumidor de um produto cultural alimenta sites voltados para a
isso, como por exemplo, o site Wattpad que possui como conteúdo principal as
fanfiction, textos publicados por fãs de determinado produto.
Para Surowiecki (2006), essa “sabedoria das multidões” está também por trás da seleção
e publicação colaborativa de notícias e produtos culturais. Esse processo pode ser
chamado de gatewatching (Bruns, 2003), de jornalismo participativo (Gillmor, 2005) e
está presente na teoria da Agenda Setting, em que basicamente as audiências têm papel
ativo na escolha e construção das notícias por meio da atividade de curadoria e
avaliação das informações fornecidas.
Arquitetura de participação
A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade
dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e
consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-
los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que
nenhum de nós entende por completo. (Jenkins, 2009, p. 30)
Antes podíamos nos referir aos produtores e os consumidores de mídia como figuras
de mundos diferentes. Entretendo, agora podemos considerá-los como participantes
interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que ainda não foram
compreendidas por completo.
Sociedade “pós-massiva”
Alex conta ainda que a “as utopias libertárias da cibercultura” anunciava que a livre
publicação na internet deixaria o “receptor” livre das amarras de consumo e das
imposições da grande mídia. As produções independente destruiriam as audiências da
televisão nos programas mais “engessados.”
Por outro lado, produtos culturais industrializados de alcance global (como Lost,
Simpsons, Big Bang Theory) não são necessariamente vistos por todos blogueiros e
tuiteiros como nocivos e um alvo a ser destruído. Outro ponto são os próprios fãs, vistos
como objeto de “reinvenção da produção lucrativa daquelas indústrias.”
A análise de que esta sociedade é pós-massiva não parece precisa. Os grandes grupos do
capital midiático não estão minguando, a mídia de massa não se tornou mero
coadjuvante. A produção midiática tornou-se sim mais acessível com a participação de
criadores independentes, mas esta nova produção que ocorre longe da mídia de
referência não pode ser entendida como mídia radical (Downing, 2004) em sua
totalidade.
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