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DO EFEITO À CAUSA:
A CIÊNCIA COMO MINISTÉRIO APOSTÓLICO DA
COMPANHIA DE JESUS ENTRE OS SÉCULOS XVI E XVIII
Resumo
A Companhia de Jesus se destacou por sua participação no meio científico nos
séculos XVI, XVII e XVIII. O objetivo deste artigo é analisar em que medida as
atividades científicas exercidas pelos jesuítas estavam de acordo com os
objetivos da própria ordem estabelecidos em suas Constituições, ou seja, salvar
as almas próprias e as almas do próximo. Para isso, analisamos documentos
produzidos por membros da Companhia de Jesus tendo em vista verificar qual o
posicionamento dos mesmos em relação à investigação científica sobre
fenômenos naturais.
Palavras-chave: Companhia de Jesus; História da Ciência; História Moderna.
Abstract
The Society of Jesus excelled for its participation in the scientific milieu in the
sixteenth, seventeenth and eighteenth centuries. The purpose of this article is
analyse how scientific activities exercised by the Jesuits were in accordance with
the objectives of the Order as set forth in their Constitutions, that is, to save your
own souls and the souls of the next. For this, we analyze documents produced
by members of the Society of Jesus in order to verify their positioning in relation
to scientific research on natural phenomena.
Keywords: Society of Jesus; History of Science; Early Modern History.
Resumen
La Compañía de Jesús se destacó por su participación en el medio científico en
los siglos XVI, XVII y XVIII. El objetivo de este artículo es analizar en qué medida
las actividades científicas ejercidas por los jesuitas estaban de acuerdo con los
objetivos del propio orden establecidos en sus Constituciones, o sea, salvar las
almas propias y las almas del prójimo. Para ello, analizamos documentos
producidos por miembros de la Compañía de Jesús para verificar cuál es el
posicionamiento de los mismos en relación a la investigación científica sobre
fenómenos naturales.
Palabras clave: Compañía de Jesús; Historia de la Ciencia; Historia Moderna.
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Introdução
O
s membros da Companhia de Jesus desempenharam um
papel proeminente no meio científico nos séculos XVI,
XVII e XVIII2, foram partícipes da constituição da ciência
moderna e não espectadores. No entanto, quando se entende as
ciências como um fenômeno essencialmente secular, os jesuítas
podem ser interpretados como personagens que atuavam em dois
campos distintos, ora no campo religioso, ora no campo científico.
Essa visão promove uma ruptura inadequada ao período em
questão, pois a atividade científica não era antagônica à atividade
religiosa, ambas estavam imbricadas de tal forma que um jesuíta
enquanto fazia ciência, estava também protagonizando seu papel
de religioso.
Devido a essa imbricação, Bento XVI considerou a
Companhia de Jesus uma ordem da fronteira “entre a fé e o saber
humano, entre a fé e a ciência moderna”, que não deixou de
“assumir lealmente o dever fundamental da Igreja, de se manter
fiel ao seu mandato de aderir totalmente à Palavra de Deus, e da
tarefa do Magistério de conservar a verdade e a unidade da
doutrina católica na sua integridade” (RATZINGER, 2008).
Pensar a Companhia como uma ordem de fronteiras contraria a
ideia de trânsito entre os campos científico e religioso e coloca os
jesuítas na interseção deles.
O objetivo deste artigo é discutir essa posição fronteiriça
por meio da concepção que os próprios jesuítas tinham a respeito
desta imbricação. O desempenho simultâneo dos papéis de
cientista e religioso na Companhia de Jesus não foi acidental, mas
uma consequência da disposição da ordem para promover uma
ação missionária ampla. A atividade científica era coerente com a
atividade religiosa, pois permitia a presença da ordem em
determinados setores da sociedade, sendo, portanto, um de seus
ministérios.
2 A Companhia de Jesus foiaprovada pelo papa Paulo III em 1540, suprimida por
Clemente XVI em 1773 e restaurada por Pio VII em 1814.
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3A bula de Paulo III determinava o caráter provisório dessa regra e dizer que era
caberia aos jesuítas “estabelecer entre si livre e licitamente as Constituições
particulares, que julguem conformes ao fim desta Companhia, à gloria de Jesus
Cristo nosso Senhor e à utilidade do próximo"
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JESUS, 1952).
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Nosso conhecimento natural se origina nos sentidos. [...] a partir dos objetos
sensíveis nosso intelecto não pode alcançar a visão da essência divina;
porque as criaturas sensíveis são efeitos de Deus que não se igualam ao
poder da causa. [...] como são efeitos que dependem da causa, podemos ser
por eles conduzidos a conhecer de Deus se é; e a conhecer aquilo que é
necessário que lhe convenha como à causa primeira universal, que
transcende todos os seus efeitos. Por isso, conhecemos sua relação com as
criaturas, a saber, que é causa de todas elas, e a diferença das criaturas com
relação a Deus, a saber, que ele não é nada do que são seus efeitos (I, q.12,
a.12) (TOMÁS DE AQUINO, 2003: p. 280-281).
1952).
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17A obra foi publicada no ano de 1615 em latim com o título De Ascensione mentis in
Deum per scalas rerum Creatarum. No entanto, utilizamos uma tradução para o
português de 1618.
18 No quinto livro da Metafísica, Aristóteles elenca as quatro causas que
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19 Clávio também faz referência a outras duas passagens bíblicas: “desde a criação
“cognoscibiliter”.
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Conclusão
A doutrina aristotélico-tomista enquanto repertório
cultural da Companhia de Jesus consistiu em uma marca
identitária da ordem, pois não foi modificada ao longo dos três
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Referências
Fontes primárias
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
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Bibliografia
BOEHNER, Philotheus & GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã: desde as
origens até Nicolau de Cusa. Trad. Raimundo Vier. 11ª ed. Petrópolis: Vozes,
2008.
CAMPOS, Fernanda Maria Guedes de. A ordem das Ordens Religiosas: roteiro
identitário de Portugal (séculos XII - XVIII). Lisboa: Caleidoscópio, 2017.
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