Você está na página 1de 2

Por que é importante sermos bons?

Nathaly Karitas Suleiman de Lima

Essa é uma questão que poucas vezes nos perguntamos. Simplesmente


aceitamos a ideia que nos é transmitida de que devemos ser bons. Bom para si mesmo,
para o próximo e para o mundo. Desse modo, somos ensinados, de uma maneira ou de
outra, a agir de maneira boa, para termos o retorno disso em nossas vidas. “Nunca faça
ao outro aquilo que você não quer que façam contigo”. Semeamos o bem então, para
nos precavermos de termos um mundo mal e para não sofrermos as consequências de
uma maldade que não queremos. Porém, algo especial é acionado em nós mesmos
quando somos bons, algo acontece e nos potencializa para uma vida mais plena.

Pois bem, em um país como o Brasil, em que 90% da população declara ser
cristã, independente do que se entende por ser cristão na prática, pode-se pensar que
as ideias de Cristo embasam a cultura e crenças que estão arraigadas na vida das
pessoas. Desse modo, ser bom é basicamente se aproximar ao caráter de Cristo, ou
seja, caráter daquele que sacrificou sua vida na cruz para remissão dos pecados dos
que vivem na fraqueza da carne e do mundo.

Portanto, viver no mundo mediante às fraquezas da carne implica que, para ser
bom é exigido de nós um empenho e um grande esforço. Não somos tão bons assim
naturalmente, do ponto de vista psíquico. Há sempre um embate psíquico que nos levam
a vivenciar uma constante militância entre bem e mal dentro de nós. E nessa luta, entre
ser bom ou mau, observamos que há um certo prazer na maldade, mas há também uma
satisfação em ser bom por outro lado.

Ser bom e altruísta pode nos gerar plenitude, pois há um reflexo de si e de suas
boas ações na vida do outro, nos causando uma completude narcísica de auto
satisfação. Vemos um resultado de nosso esforço na vida do outro. Assim, somos
aprovados socialmente. A cultura espera que sejamos bons e quando o fazemos, somos
aceitos e aprovados. Isso nos inclui nessa sociedade, nos faz nos sentirmos
pertencentes, nos completa e nos satisfaz narcisicamente. O meu Eu é aceito pelo
mundo, embora não necessariamente por mim mesmo.

A aceitação da minha bondade pelo mundo, pode não ser compatível com a
minha auto-satisfação, já que temos motivações obscuras que nos levariam a não
sermos tão bons assim. Porém, a via redentora da bondade nos distancia das
animalidades intrínsecas a que estamos sujeitos e nos conecta ao sobrenatural, de
alguma maneira. Através do exercício da bondade, o indivíduo possibilita que algo do
sobrenatural encontre no orgânico, ou seja, na carne, um meio de exercer sua ação
sobre a vida humana. Isso ocorre através de uma pré-disposição ao divino que nos é
intrínseca. Essa pré-disposição ao divino está relacionada à nossa fraqueza carnal, à
nossa condição de humanos frágeis e impotentes frente aos infortúnios do mundo e da
vida. Eis aí um dos mistérios da criação de tudo, pois é justamente na fraqueza humana
que somos compelidos a nos fortalecermos pela bondade e pelo amor, que nos conecta
ao outro e ao divino de maneira plena, edificando a si mesmo e aos outros.

Desse modo, o exercício da bondade na vida diária nos leva a comportamentos


altruístas que elevam nossos propósitos de vida a uma esfera mais nobre, acionando
nosso psiquismo a uma satisfação que ainda não podemos explicar, mas que é real,
experienciada e vivida na prática.

Você também pode gostar