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A obra de Primo Levi, “Se isto é um homem” é um relato verídico de um período que marcou

a história da pior maneira possível. Primo Levi representa todos aqueles que foram vítimas de
um regime fascista e que foram perseguidos, pelo facto de serem judeus ou por, como a
personagem afirma cultivar “um moderado e abstracto sentido de rebelião” contra o regime
de Benito Mussolini.

O relato de Primo Levi, que acaba por ser deportado para o campo de concentração de
Auschwitz, é o de um homem que perdeu a liberdade e individualidade. De facto passou a ser
apenas um número, ou melhor, como o militar referiu uma peça (“as peças eram seiscentas e
cinquenta”). No “Lager”(campo) de Auschwitz o Homem tem como único objetivo a
sobrevivência, mesmo sabendo que esta raramente ultrapassava os três meses. Durante este
período toda a máquina poderosa que o dirige o campo cumpre o objetivo de aniquilar todos
aqueles seres enquanto homens (”a decisão alheia de nos aniquilarem primeiro enquanto
homens para depois nos matarem lentamente”).

Considerando que a obra escrita por José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, abarca
o tempo histórico anterior à eclosão da guerra civil em Espanha e da segunda guerra mundial,
diria que retrata perfeitamente um período que fazia antever este ataque à humanidade de
que nos fala Primo Levi. Os jornais que Ricardo Reis lê ao longo da obra descrevem o
ambiente político vivido na Europa e fazem referência à ascensão de Mussolini em Itália e à
expansão nazi na Alemanha. A estes ditadores acrescenta-se Salazar apologista de um estado
todo-poderoso, e das ideologias fascistas que começavam a dominar a Europa. Na verdade, as
suspeitas lançadas sobre a personagem Ricardo Reis, a chegada da contrafé e o interrogatório
feito pela polícia política denuncia a opressão e a ausência de liberdade que se vivia então.

De facto, Primo Levi e Daniel, irmão de Lídia, marinheiro de guerra que se revolta contra o
totalitarismo foram vítimas destes regimes. Daniel morre fisicamente, Primo Levi morre
psicologicamente (“em cujos olhos não se pode ler qualquer sinal de pensamento”) enquanto
está no “Lager”.

Em jeito de conclusão, refiro que enquanto Ricardo Reis, seguidor do epicurismo e estoicismo,
não afirma a sua posição política, resigna-se e finalmente desaparece, outros posteriormente
como é o caso de Primo Levi sofreram, e alguns por não se terem contentado com “o
espectáculo do mundo”.

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