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Octávio Paz (1914-1998)

Nasceu na Cidade do México, no dia 31 de março de 1914. Durante a sua infância, morou com a
família nos Estados Unidos. Regressou ao México, estudou Direito e escreveu desde a adolescência,
convivendo com as maiores expressões da poesia hispânica.
Em 1933, Octávio Paz publica o seu primeiro livro, "Luna Silvestre". Em 1945, ingressa no serviço
diplomático do México. Morou em Espanha, em Paris, onde conviveu com os surrealistas, no Japão e na
Índia. Além de diplomata, destacou-se como poeta e por todo o seu trabalho de ensaísta, crítico literário,
agitador cultural e político.
Como pensador da modernidade, um dos temas centrais da visão crítica e literária de Octávio Paz diz
respeito à potencialidade da palavra poética, à sua resistência ou rebeldia, que tudo analisa, desconstrói e
recria. Paz acredita na palavra como ponte entre sujeito e objeto, que reduz (mas não anula) a distância
entre o sentir e o pensar, o ser e o falar, o homem e o mundo.

Escrito com tinta verde


A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde cantam as letras,
palavras que são árvores,
frases que são verdes constelações.

Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram


Como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, pescoço, seios,


A fronte pura como o mar,
A nuca de bosque no outono,
Os dentes que mordem um fio de erva.

Teu corpo constela-se de signos verdes


Como o corpo da árvore de rebentos.
Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:
Olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.

Octávio Paz
Seiva Verde = Palavras

Alimenta as plantas e flores (a vida) Poder de criar um novo mundo (belo)

o sujeito poético usa metaforicamente essa seiva como tinta para escrever os seus poemas.

1ª Estrofe - As palavras são comparadas com as árvores nas selvas e nos jardins.
Formam versos harmoniosos e cheios de vida e luz.
fortes Permanecem
São “verdes constelações” (v. 4)
no tempo
2ª Estrofe - sobreposição de ideias.

A apóstrofe “ó branca” pode adquirir um duplo sentido.

A folha branca: 3ª /4 ºEstrofes

 recebe as palavras do poeta que lhe dão vida: A mulher:


 são verdes como a natureza(frescura/vida);
 A sua beleza e pureza são de tal ordem que
 despertam sentimentos;
 quebram a frieza da brancura de uma folha de esta se confunde com elementos da
papel; natureza:
 podem mover a mulher amada a quem o  Corpo comparado a uma árvore;
sujeito lírico faz alusão neste poema e que  Pureza do mar;
pode ser vista como uma inspiração.  Corpo com signos verdes, vitalidade,
 têm o mesmo poder confortante que têm as fecundidade como os rebentos de
heras que cobrem o corpo branco e frio de uma árvore.
uma estátua.

Últimos dois versos “Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:


Olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.”
No entanto, este amor é mais do que físico, visto que na parte final o poeta faz referência ao céu, às
estrelas. Esta mulher não tem individualidade, é uma mulher que representa todas as mulheres e o
papel que tem na inspiração do poeta. Ele precisa de uma mulher para despertar a sua criatividade.

Intertextualidade
Octávio Paz Eugénio de Andrade
“ó branca, desçam e te cubram” “Essa folha, aí. Tão branca que nem a neve é assim fria
(…) vão deixando na neve sinais da sua presença
(…)”(Essa Folha)
Ambos os poetas fazem alusão à brancura da página onde o sujeito poético deixa o
rasto dos seus sentimentos. Contudo, sente-se uma certa agressividade nas palavras
de Eugénio de Andrade, pois na folha branca ficam marcas de uma fera dilacerada
que traduz uma certa ideia de morte, de sangue. As palavras de Octávio Paz são
escritas com tinta verde, com seiva, com amor e vida.
“Teu corpo constela-se de signos verdes/ “cresciam troncos dos braços/ quando os erguia do ar”
Como o corpo da árvore de rebentos.” (Green God)
“A fronte pura como o mar,” “Trazia consigo a graça/das fontes, quando anoitece./Era
o corpo como um rio(Green God)
Ambos os poetas retratam nos seus poemas uma natureza simples, pura, bela e
harmoniosa, sendo o poema o meio para exaltar um mundo verdejante e
extremamente belo, cheio de amor.
A mulher, no poema de Paz, e o deus em “Green god” são comparados com o
elemento água (fonte /rio, em “Green god”, e mar em “Escrito com tinta verde”).

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