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■ INTRODUÇÃO
Pacientes com doenças cardiopulmonares apresentam limitação da capacidade de exercício
em razão do desequilíbrio que ocorre entre os sistemas cardiovascular, respiratório, muscular
e metabólico.1,2 Dessa forma, a avaliação dessa limitação é de grande importância para essa
população.
Existem diversas maneiras de avaliar a performance e a capacidade funcional de pacientes
com doenças cardiopulmonares, sendo que o teste mais conhecido e frequentemente
aplicado é o teste de caminhada de seis minutos (TC6min). No entanto, sua aplicação
demanda amplo espaço e tempo, pois é necessário um corredor de 30 metros de
comprimento, além da recomendação para a realização de dois testes com período de
repouso entre eles.3 Portanto, novos testes funcionais, como o teste de levantar e sentar
(TLS), têm surgido como uma opção fácil e prática para avaliar a capacidade funcional.
O TLS é um teste simples e prático, que avalia a funcionalidade do indivíduo por meio de
um movimento comum do cotidiano, o de levantar e sentar.4 Recentemente, vários estudos
têm explorado esse teste em profundidade, principalmente na população com doenças
cardiopulmonares O presente artigo aborda os aspectos técnicos para sua execução as1/16
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cardiopulmonares. (home)
O presente artigo aborda os aspectos técnicos para sua execução, as
principais indicações, os diversos protocolos existentes na literatura, as propriedades
psicométricas, a aplicabilidade clínica e sua interpretação.
■ OBJETIVOS
Ao final da leitura do artigo, o leitor será capaz de
■ ESQUEMA CONCEITUAL
■ ASPECTOS BÁSICOS
O TLS é um teste prático que avalia a capacidade funcional e abrange uma atividade comum
no cotidiano: movimentos de levantar e sentar de uma cadeira. Em idosos saudáveis, a
incapacidade de realização desse movimento básico (levantar e sentar) na vida diária está
relacionada com institucionalizações, limitações de mobilidade e funcionalidade.5
Inicialmente, o TLS foi descrito como método alternativo para avaliar indiretamente a força
muscular de membros inferiores de idosos saudáveis por meio de uma atividade funcional. O
protocolo consistia na realização de 10 repetições dos movimentos de levantar e sentar de
uma cadeira o mais rapidamente possível, tendo o tempo de execução como desfecho. Dessa
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forma, o teste mostrou ser um método simples, rápido e reprodutível para avaliar a
funcionalidade em idosos.6
■ ASPECTOS TÉCNICOS
Alguns aspectos técnicos, como as características da cadeira (altura, apoio para os braços e
encosto), velocidade de execução, posicionamento de membros inferiores e de tronco e
movimentos de membros superiores, devem ser considerados ao realizar o teste, e serão
apresentados a seguir.
CARACTERÍSTICAS DA CADEIRA
As cadeiras utilizadas para a realização do teste devem ser fixas, sem apoio para os
membros superiores e não apresentar rodas ou movimentos giratórios dos assentos.
A altura da cadeira pode influenciar no resultado do teste, pois cadeiras mais baixas, que
não permitem o posicionamento de 90 graus de flexão de quadril, joelhos e tornozelos,
dificultam a realização do movimento.7 Há aumento da velocidade angular do tronco, quadril e
joelhos ao se levantar e maior necessidade de estabilização dos pés em cadeiras com alturas
menores. Assim, alterações na altura da cadeira resultam em mudanças na biomecânica
corporal e nas estratégias de estabilização.5
LEMBRAR
Chorin e colaboradores demonstraram que uma diferença de 19cm na altura da cadeira
aumenta em 12% o tempo despendido para o indivíduo levantar-se de uma cadeira
baixa. Isso reforça a ideia de que cadeiras baixas tornam o movimento de levantar e
sentar difícil, pois a angulação dos joelhos é mantida menor do que 90 graus.8
Nos estudos que utilizam o TLS em indivíduos com doenças cardiopulmonares, diferentes
alturas de cadeira são utilizadas, variando de 40 a 48cm, o que pode não permitir o
posicionamento adequado de 90 graus de flexão de quadril, joelhos e tornozelos. No entanto,
isso parece não comprometer a validade externa dos resultados encontrados nesses estudos,
pois não é possível encontrar cadeiras que permitam esse posicionamento ideal no
cotidiano.4
O apoio de membros superiores deve ser considerado, pois influencia na performance do
teste. O uso de cadeiras com apoio para os braços resulta em menor movimentação de
quadril e joelhos, sendo que há, nessa situação, redução de 50% de extensão de quadril ao
realizar o movimento de levantar e sentar.5 Além disso, o uso de cadeira com braços não é
recomendado, com o intuito de minimizar o uso dos membros superiores durante a realização
do teste.8
A utilização do encosto da cadeira torna possível a padronização do posicionamento inicial
do teste
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do teste.
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LEMBRAR
Recomenda-se a utilização de cadeiras com encosto para os testes de levantar e sentar
que proporcionem apoio para a região dorsal e lombar.
VELOCIDADE DE EXECUÇÃO
As duas velocidades podem ser utilizadas, sendo a velocidade rápida mais recomendada
para avaliação e a velocidade usual para treinamento. Embora alguns autores tenham
realizado o TLS com velocidade rápida, ou ditada por um metrônomo ou autosselecionada
pelo indivíduo, a melhor escolha é a velocidade rápida para avaliação. Isso porque a
velocidade usual fornece dados subjetivos, pois o avaliado pode ajustar a velocidade para
uma condição confortável, o que não acontece com a velocidade rápida.5,8
POSICIONAMENTO
O posicionamento dos pés, do tronco e dos membros superiores também é importante para a
execução do teste. Quando os pés estão posicionados posteriormente à linha anterior da
cadeira, observa-se menor tempo exigido para a realização do movimento.5,9
A posição ideal para a realização do teste é sentada com 90 graus de flexão de quadril,
joelhos e tornozelos.
Quando os membros superiores estão livres, a propensão dos idosos é utilizá-los para auxiliar
no movimento. Por isso, é necessária a padronização da posição de membros superiores,
para que não sejam utilizados com esse objetivo.5 A melhor opção, demonstrada por Chorin e
colaboradores, é mantê-los cruzados sobre o tórax.5,8
A representação do TLS pode ser observada na Figura 1.
Algumas vantagens podem ser observadas no TLS como uma ferramenta de avaliação
em pacientes com doenças cardiopulmonares. O teste é considerado rápido, ao
contrário do TC6min e do incremental shuttle walking test (ISWT), que necessitam de
corredores maiores e um tempo maior para avaliação; é acessível, pois necessita
somente de uma cadeira e um cronômetro, e requer pouco espaço, possibilitando a sua
realização tanto em clínicas como na beira dos leitos de hospitais. A avaliação de
levantar e sentar também pode ser utilizada como um complemento para estratificação
de pacientes com capacidade de exercício reduzida.10
capacidade de exercício;10,11,14
força muscular periférica;10,13,16,17
qualidade de vida;10,14
mobilidade;18
atividade física de vida diária (AFVD).19
É possível verificar, ainda, que pacientes com DPOC possuem maior déficit de controle
postural para a execução do teste em relação a indivíduos saudáveis. Esse dado foi
confirmado por Janssens e colaboradores, que compararam dois grupos (DPOC versus
idosos saudáveis) enquanto realizavam o movimento de levantar e sentar da cadeira durante
cinco repetições, posicionada em cima de uma plataforma de força. Os indivíduos com DPOC
demandaram maior tempo para realizar o teste em comparação aos idosos, o que foi
explicado pelo maior tempo na posição em pé e em pé para sentado, fases que requerem
maior controle postural.20
A avaliação funcional pelo TLS é de extrema importância, visto que a atividade de
levantar e sentar faz parte do cotidiano de muitos indivíduos. O teste tem se mostrado prático
e simples, capaz de refletir a capacidade funcional de pacientes com doenças
cardiopulmonares. Adicionalmente, o teste pode ser utilizado para triagem de pacientes com
capacidade funcional prejudicada, sendo um forte preditor de mortalidade, com a vantagem
de poder ser utilizado em situações com limitação de espaço, como à beira do leito de
pacientes hospitalizados, em clínicas e consultórios.4
DIVERSIDADE DE PROTOCOLOS
Assim como em estudos com idosos saudáveis, existe uma variedade de protocolos
propostos para avaliação da capacidade funcional em indivíduos com doenças
cardiopulmonares. Os protocolos descritos na literatura incluem a atividade de levantar e
sentar da cadeira com número fixo de repetições (cinco) e com período de tempo fixo (30
segundos, 1 minuto ou 2 minutos).4
O teste de cinco repetições de levantar e sentar considera o tempo (em segundos) gasto
pelo indivíduo para levantar e sentar cinco vezes de uma cadeira. Por outro lado, nos
protocolos de 30 segundos, 1 minuto e 2 minutos, é necessário realizar o mesmo movimento
durante 30, 60 e 120 segundos, respectivamente. Assim, o desfecho avaliado é o número de
repetições obtido nos intervalos de tempo supracitados. Os testes mais utilizados
internacionalmente são o de cinco repetições, 30 segundos e 1 minuto. Apenas dois estudos
brasileiros utilizaram o protocolo de 2 minutos.4
Quando diferentes protocolos foram comparados em pacientes com DPOC, o TLS de 1
minuto mostrou ser a melhor opção, pois é o teste que melhor correlaciona-se com variáveis
clínicas comumente avaliadas, como a capacidade funcional de exercício, atividade física de
vida diária e estado funcional.21 Embora o teste com duração de 1 minuto apresente maior
demanda hemodinâmica e sintomatológica, este protocolo se mostra como a melhor opção
para avaliar essa população
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para avaliar essa população.
(home)
PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS
Validade
O TLS de cinco repetições pode ser considerado válido na população com DPOC. Um estudo
recente mostrou correlação do teste com variáveis, como:10
Reprodutibilidade
se em medidas(home)
repetidas ocorre a obtenção dos mesmos resultados.23
Responsividade
O TLS de cinco repetições tem a sua responsividade comprovada em pacientes com DPOC e
em cardiopatas após programas de reabilitação pulmonar e cardiovascular, respectivamente.
Foi observada redução de 1,4 segundos no tempo de realização do teste após intervenção na
população com DPOC (effect size= 0,32)10 e 3,12 segundos em cardiopatas.15
Em pacientes com fibrose cística, o teste de 1 minuto mostrou-se responsivo com valor de
effect size= 0.97.14
■ INTERPRETAÇÃO DO TESTE
A interpretação do TLS pode ser entendida de acordo com valores de referência para cada
tipo de protocolo proposto ou pelo valor de mínima diferença clinicamente importante
(MDCI) obtido após intervenções.
VALORES DE REFERÊNCIA
Valores de referência foram propostos para o TLS a fim de proporcionar melhor interpretação
da capacidade funcional. Os protocolos que possuem esses valores estabelecidos são os de
cinco repetições, 30 segundos e 1 minuto.25–27
Bohannon propôs valores de referência para a população de idosos saudáveis e determinou
um intervalo do tempo gasto para levantar e sentar em cinco repetições, de acordo com a
idade. Os indivíduos que excedem o limite de tempo estabelecido podem ser classificados
com um desempenho ruim no teste (Tabela 1).25
Tabela 1
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VALORES DE REFERÊNCIA
(home) PARA O PROTOCOLO DO TESTE DE LEVANTAR E
SENTAR DE CINCO REPETIÇÕES
Idade (anos) Tempo para realizar cinco repetições (segundos)
60–69 11,4
70–79 12,6
80–89 12,7
Fonte: Adaptada de Bohannon (2006).
O valor de MCDI estabelecido para o protocolo do TLS de cinco repetições em pacientes com
DPOC é de 1,7 segundos após programas de reabilitação pulmonar.10
Para pacientes com doenças cardiovasculares, uma melhora de 3,12 segundos foi
considerada como favorável após tratamento.15 Nos pacientes com fibrose cística, uma
melhora de cinco repetições no teste de 1 minuto é considerada como sendo clinicamente
importante.14
ATIVIDADES
2. O TLS é um teste simples, prático e rápido, que pode ser utilizado em pacientes com
doenças cardiopulmonares para
A) avaliar a força muscular de membros inferiores, substituindo o método de uma
repetição máxima.
B) avaliar a capacidade funcional por meio de um movimento comum no cotidiano, o
de levantar e sentar.
C) prescrever um programa de treinamento físico para fortalecimento de membros
inferiores.
D) avaliar a capacidade máxima de exercício por meio do movimento de levantar e
sentar.
Confira aqui a resposta
A) Apenas a I, a II e a III
B) Apenas a I, a II e a IV
C) Apenas a I, a III e a IV
D) Apenas a II, a III e a IV
Confira aqui a resposta
A) V – V – F – F
B) V – F – V – F
C) F – F – V – V
D) F – V – F – V
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D) F – V – F(home)
–V
Confira aqui a resposta
A) 1 – 3 – 2
B) 1 – 2 – 3
C) 2 – 3 – 1
D) 2 – 1 – 3
Confira aqui a resposta
8. Quais as variações que existem nos protocolos do TLS em pacientes com DPOC?
Qual parece ser a melhor opção?
■ CASOS CLÍNICOS
CASO CLÍNICO 1
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Paciente M.A.S.,
(home)sexo masculino, 79 anos de idade, com diagnóstico de DPOC
(VEF1/CVF: 42%; CVF: 56%; VEF1: 31%), IMC de 29,1kg.m-2, procurou o serviço de
reabilitação pulmonar para iniciar sua participação no programa. Foi submetido à
avaliação física por meio do TC6min e TLS de 1 minuto, obtendo os seguintes valores:
342 metros (65% do predito) para o TC6min e 21 repetições no TLS.
ATIVIDADES
10. Qual o número de repetições no TLS esperado para este paciente? E qual a
porcentagem do predito atingida neste teste?
11. É possível afirmar que este paciente apresenta limitação da capacidade funcional?
Por quê?
CASO CLÍNICO 2
ATIVIDADES
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13. Houve melhora da capacidade funcional da paciente após o programa de reabilitação
cardiovascular? Justifique a resposta.
■ CONCLUSÃO
O TLS é um teste prático, simples e rápido para avaliação da capacidade funcional em
pacientes com doenças cardiopulmonares. O movimento utilizado no TLS pode indicar
limitações na mobilidade e na funcionalidade dos indivíduos avaliados.
Alguns aspectos técnicos, como as características da cadeira, a velocidade de execução, o
posicionamento de membros inferiores e tronco, devem ser considerados para a correta
aplicação do teste de sentar e levantar. Além disso, é importante conhecer as propriedades
psicométricas, como validade, reprodutibilidade e responsividade de cada protocolo existente,
para que se faça uma adequada aplicação e interpretação desse importante teste.
(home)
Atividade 12
Resposta: Sim, pois a paciente teve desempenho de 12,13 segundos no TLS de cinco
repetições, ou seja, mais lentamente do que o esperado para a sua idade (11,4 segundos).
Atividade 13
Resposta: Sim, pois a paciente apresentou melhora de 5,57 segundos no TLS, o que
corresponde a um valor acima da melhora clinicamente relevante de 3,12 segundos. Além
disso, o relato de melhora na realização de atividades de vida diária é um indicativo de
melhora da capacidade funcional.
■ REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol.
2005 Maio;84(5):431–40.
2. Sue DY, Wasserman K. Impact of integrative cardiopulmonary exercise testing on clinical
decision making. Chest. 1991 Apr;99(4):981–92.
3. Holland AE, Spruit MA, Troosters T, Puhan MA, Pepin V, Saey D, et al. An official European
Respiratory Society/American Thoracic Society technical standard: field walking tests in
chronic respiratory disease. Eur Respir J. 2014 Dec;44(6):1428–46.
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