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RESENHA DO ARTIGO: ESTRATÉGIA DE CORRIDA EM MÉDIA E LONGA DISTÂNCIA:

COMO OCORREM OS AJUSTES DE VELOCIDADE AO LONGO DA PROVA?

Henrique Santos Lima

CARMO, E. C. et al. Estratégia de corrida em média e longa distância: como ocorrem os ajustes de
velocidade ao longo da prova?. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. 2012, v. 26, n.
2, pp. 351-363.

Em “Estratégia de corrida em média e longa distância: como ocorrem os ajustes de


velocidade ao longo da prova?”, o autores têm como preocupação central a discussão a respeito
de estratégias adotadas por atletas de alto nível no atletismo que os permitam terminar suas provas
no menor tempo possível com o melhor aproveitamento de suas reservas fisiológicas, destacando,
de maneira objetiva e clara, diversos tipos de estratégias que podem ser adotadas pelos mais
variados atletas das modalidades de média e longa distância.
O artigo é escrito de maneira analítica e descritiva, e são utilizados inúmeros estudos que
demonstram exemplos históricos para demonstrar diferentes usos das mais variadas estratégias.
Para contextualizar, os autores primeiramente explicam que elas podem ser classificadas em quatro
diferentes tipos: constante, onde se mantém ou varia pouco a velocidade; decrescente, onde a
velocidade é diminuída ao longo da prova; crescente, na qual a prova é iniciada em baixa velocidade
e esta é aumentada gradualmente; e por fim, variável, onde não há um padrão de variação da
velocidade. Algo bastante curioso e interessante relatado no artigo, é que todas as estratégias
possuem um ponto em comum: em todas elas acontece o “sprint final”, que é o rápido aumento da
velocidade ao final da prova.
Para começar a explicar quais estratégias são mais adotadas, os autores trazem uma
pesquisa feita em 2006, onde foram feitas análises das corridas de 800m, 5000m e 10000m feitas
entre os anos de 1921 e 2004 que tiveram recordistas mundiais. Neste estudo, foi observado que
estratégias variáveis (sem um padrão estabelecido de variação de velocidade) foram utilizadas pela
grande maioria dos recordistas. Nesse contexto, várias outras pesquisas foram apresentadas e
todas levavam à conclusão de que estratégias variadas com início rápido demonstraram os
melhores resultados, uma vez que quando o início da prova não é realizado em velocidade alta,
parece não ser possível compensar o tempo perdido no restante da prova. No entanto, é
prontamente citado pelos autores que essas velocidades iniciais não devem ser muito altas, pois
isso pode causar um prejuízo metabólico no começo da prova, prejudicando o atleta
prematuramente. É assim que os autores entram em um assunto que talvez seja o de maior
importância no artigo: a individualidade biológica. De maneira bastante responsável e competente,
eles explicam que essa velocidade não será a mesma para todos os atletas, e a generalização em
relação à adoção de estratégias pode ser algo perigoso. Isto posto, os autores são extremamente
sensatos e prudentes com seu leitor no momento em que citam que “não podemos estipular a
melhor estratégia de corrida pela distância da prova, mas sim a melhor estratégia de corrida para
cada indivíduo”, trazendo à tona sua preocupação com um fator tão importante que é a
individualidade biológica.
Ademais, é apresentada uma pergunta que define uma nova seção no artigo: “Como os
ajustes da estratégia de corrida são realizados ao longo da prova?”. Para apresentar uma resposta,
de imediato os autores apresentam alguns modelos utilizados para entender os mecanismos
responsáveis por estes ajustes. Entre eles, é citado o modelo da “tele-antecipação”: informações
aferentes são levadas ao sistema nervoso central, que decodifica tais informações e controla a
intensidade do exercício para evitar que níveis críticos sejam atingidos. Sucessivamente, é
explicado que esse modelo foi adaptado para provas de resistência, sendo denominado como
“modelo do governador central”, que propõe que as variáveis fisiológicas são constantemente
monitoradas pelo sistema nervoso central, o que faz com que controles de velocidade durante a
prova sejam feitos de forma contínua para que o organismo se mantenha seguro.
Por fim, os autores explicam que esses ajustes são realizados de maneira subconsciente,
sendo percebidos por atletas por meio da percepção subjetiva do esforço (PSE), que é um
mecanismo básico que os próprios atletas utilizam para ajustar a estratégia durante a corrida
conforme o esforço percebido: se este esforço estiver muito alto, o atleta reduz a intensidade, e
vice-versa. Assim, para identificar se um esforço percebido é alto ou baixo, é sugerido que os ajustes
de velocidade não dependem apenas da PSE momentânea, mas da PSE esperada, que é
determinada antes da prova de acordo com a experiência do atleta e da duração restante da prova.
Dessa forma, os autores explicam de maneira clara que a comparação constante entre a PSE
momentânea com a PSE esperada é que faz o atleta ajustar a intensidade, permitindo o melhor
aproveitamento de suas reservas fisiológicas com o melhor desempenho possível para um
determinado momento.

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