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O fenômeno chamado slowbalization, termo do holandês Adjiedj Bakas, diz respeito

ao nosso processo de globalização, que acontece em um ritmo mais lento, devido


principalmente às crises e conflitos entre países, que desaceleram a integração econômica no
mundo todo. O ex-diretor da OMC, Lamy, diz que a slowbalization se relaciona à recessão,
crises econômicas e crise climática, que aceleraram a rejeição à globalização, pois
desaceleraram as cadeias produtivas globais e geraram conflitos cada vez mais expressivos
nas relações internacionais.
Parte desses conflitos é com a China, que na pandemia se mostrou responsável por
43% dos equipamentos de proteção individual do mundo, acendendo um alerta do quanto os
países estão dependentes do mercado chinês. Exemplo disso é o Brasil, que atualmente tem a
China como maior parceiro comercial e não mais os Estados Unidos. Também o conflito
Rússia-Ucrânia gerou preocupação na Europa, pois as sanções para compra da energia russa
levaram a um desabastecimento de energia com risco de apagão em diversos países.
Essa dependência de insumos de um único país gera preocupação e faz crescer a busca
por parcerias mais próximas, incentivadas sobretudo pela perspectiva do livre comércio.
Entretanto, não se pode esquecer que esse livre comércio, já existente principalmente nos
países chamados de terceiro mundo, decorre de acordos firmados de maneira forçada ainda na
época da colonização. Esses acordos geraram riqueza para os colonizadores e prejuízos para a
indústria nacional/local, que séculos depois ainda não se desenvolveu de maneira adequada
para controlar o retrocesso econômico.
Por outro lado, a ideia do livre comércio para a economia faz refletir se a geoeconomia
voltará a se impor sobre a geopolítica, que dominou nos últimos séculos. A geopolítica,
composta essencialmente pela econômica, tecnologia, ciência e pela rivalidade entre as
potências começa a dar lugar à geoeconomia, que estuda os aspectos espaciais e temporais
ligados à economia. Em abril de 2022, a secretaria do Tesouro dos EUA explicou que o
comércio deve ser livre, mas seguro, portanto, a integração econômica deve ocorrer entre
países aliados no cenário político. Além disso, os países deverão impor regulamentações mais
restritivas para investidores estrangeiros, e investir nas empresas locais, sobretudo nas áreas
estratégicas como commodities e energia.
Ocorre então uma dinâmica do alargamento da base geográfica dentro do sistema
capitalista, no sentido de criar alianças entre países próximos – tanto em ideologias políticas
quanto em proximidade geográfica. Resta saber qual será o papel dos países em
desenvolvimento, que ainda não possuem investimento adequado na indústria local, se terão
possibilidade de investir ou se continuarão a servir como livre comércio sem liberdade aos
países já desenvolvidos.

REFERÊNCIAS
CHANG, H. Economia: modo de usar – um guia básico dos principais conceitos econômicos.
São Paulo: Potfólio Penguin, 2015.

ESTADÃO. “Slowbalization”: por que a pandemia acelerou a rejeição à globalização. Jornal


Estadão, Seção Invest News, de 01 de junho de 2020. Disponível em:
<https://investnews.com.br/economia/slowbalization-por-que-a-pandemia-acelerou-a-
rejeicao-a-globalizacao/>. Acesso em 08/09/2022.

PIQSELS. Rumo a uma pequena “globalização entre amigos”? IHU Inusinos, São Leopoldo-
RS, de 12 de maio de 2022. Disponível em: <https://www.ihu.unisinos.br/categorias/618494-
rumo-a-uma-pequena-globalizacao-entre-amigos>. Acesso em 08/09/2022.

THE ECONOMIST. Globalisation has faltered. The Economist Journal, Seção Briefing
(The global list), de 24 de janeiro de 2019. Disponível em:
<economist.com/briefing/2019/01/24/globalisation-has-faltered>. Acesso em 08/09/2022.

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