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TIAGO AZEVEDO

MÉTODO SÊMIO-DISCURSIVO

DEZEMBRO DE 2021
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 2
Impedimentos de Leitura da Bíblia 2
A Bíblia é um Livro Diferente 2
Estrutura do Método 3
Eficácia do método 3
Toda Escritura é Útil 4
FASES 5
Fase Preliminar 5
Introdução 5
Leitura do texto 5
Interpretando Usando Traduções 5
Interpretando Usando as Línguas Originais 6
A Importância das Línguas Originais 6
Anotações 7
Datação 7
Fase Preparatória 7
Introdução 7
Pequenos Trechos 8
Fase Final 9
Síntese 9
Dimensão Espaço-temporal 9
Dimensão Teológica 9
Percurso Temático 10
Interdiscursividade 11
Intertextualidade 12
Dimensão Sociocultural 12
Exemplo 12
Dimensão Psicossocial 12
Dimensão Missional 13
Exemplo 13
REFERÊNCIAS 14
INTRODUÇÃO

Impedimentos de Leitura da Bíblia

Seja qual for a dificuldade, nenhuma deveria nos impedir de estudar a Bíblia com
afinco, disposição, disciplina, prazer e fidelidade ao Senhor das Escrituras.

A Bíblia é um Livro Diferente

A Bíblia não é um livro, mas uma pequena biblioteca de 66 livros (no cânon
protestante) ou 73 (no cânon católico romano). Uma biblioteca de duas religiões:
judaica e cristã; de dois mundos culturais: oriental e ocidental; de livros provenientes
de lugares e épocas diferentes; de livros escritos em três idiomas distintos
(hebraico, aramaico e grego) e traduzidos para inúmeros outros idiomas.

Fonte: https://www.biblianva.com.br/mast

Uma biblioteca sem as primeiras edições — não temos nenhum manuscrito original,
apenas cópias antigas também manuscritas, que serviram de base para as edições
impressas dos textos nas línguas originais e nas traduções.

As edições impressas da Bíblia são muito recentes. Durante muitos séculos, os


livros da Bíblia eram manuscritos, copiados geração após geração, circulando em
vários lugares e sofrendo pequenas alterações no processo de cópia.

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Uma biblioteca de livros com os mais variados gêneros literários e temas: narrativas,
leis, cartas, interpretações da história do povo de Deus, profecias, exortações,
canções litúrgicas, canções de amor etc.

Os livros bíblicos em relação às nossas práticas de escrever livros é que boa parte
deles não foi escrita pela mesma pessoa, nem num curto período.

Não deveríamos chamar os livros da Bíblia de “livros”, pois isso já nos faz pensar
em um tipo muito específico de obra. Veja o “livro” de Salmos — não se trata
realmente de um livro, mas de uma coletânea de orações, poemas e hinos
litúrgicos, escritos por pessoas diferentes, em épocas e lugares distintos, e usados
em diversas liturgias e festividades cúlticas ao longo da história de Israel.

A chamada “literatura paulina” se compõe exclusivamente de cartas, assim como as


“obras” de Pedro e Judas, e há um livro do Novo Testamento que não é nem livro,
nem carta, nem sermão: a epístola (carta) aos Hebreus.

Essas características da biblioteca que chamamos de “Palavra de Deus” exigem,


consequentemente, um trabalho interpretativo disciplinado. Mesmo se o objetivo da
leitura for devocional, não podemos abrir mão de interpretar o texto a partir de suas
características literárias e linguísticas, nem podemos deixar de ler o texto à luz do
próprio contexto.

Estrutura do Método

A proposta está baseada em duas vertentes do pensamento contemporâneo: a


semiótica e a discursiva.

O método é dividido em 3 (três) fases:

● Preliminar
● Preparatória
● Final

Eficácia do método

A eficácia do método depende da pessoa que o utiliza. No caso da interpretação da

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Bíblia, mais importantes que o método que usamos são: os conhecimentos que
temos da própria Bíblia e do mundo no qual foi escrita; os conhecimentos que temos
da história da interpretação da Bíblia e seu uso nas igrejas e academias; os
conhecimentos que temos de nosso mundo e de nós mesmos nesse mundo; os
hábitos que já desenvolvemos e as certezas que já temos.

Toda Escritura é Útil

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente preparado para toda boa obra”. (BÍBLIA, 2 Timóteo 3.16-17)

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FASES

Fase Preliminar

1. Ler o texto bíblico até ficar amplamente familiarizado com ele.


2. Anotar suas primeiras impressões e dúvidas sobre o texto (revisá-las a cada
ciclo da leitura).
3. Ler o livro, ou seção do livro, ao qual o texto pertence, notando as principais
inter-relações (vocabulário, pessoas, lugares, assuntos).
4. Definir, provisoriamente, a época em que o texto foi escrito e conhecer o
máximo que puder sobre ela.

Introdução

O início da interpretação é a familiarização com o texto a ser interpretado em seu


contexto literário.

Leitura do texto

Leia e releia as perícopes, pelo menos o capítulo onde se encontram, de preferência


sem a numeração dos capítulos, versículos e títulos.

A prioridade é fazer a leitura do texto no original (hebraico, aramaico ou grego).


Caso não tenha conhecimento das línguas originais, usar uma versão a sua
escolha.

Zabatiero fala que devemos ler o texto 50 (cinquenta) vezes para que ele possa
ser realmente entendido.

Hernandes Dias Lopes fala que o texto deve ser lido entre 5 (cinco) a 20 (vinte
vezes), se possível até que ele seja decorado.

O texto deve ser lido até que seja entendido e decorado.

Interpretando Usando Traduções


Temos ótimas traduções da Bíblia para o português (e outros idiomas

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contemporâneos), que podem ser usadas com segurança para a interpretação da
Palavra de Deus. Se você não conhece as línguas originais da Bíblia, procure usar
bem a bibliografia técnica disponível e, se tiver vontade, tente aprender grego ou
hebraico, ou ambos os idiomas.

Interpretando Usando as Línguas Originais


Ao fazer a exegese usando o texto original da Bíblia, deve-se trabalhar a partir do
sistema verbal do idioma em questão (hebraico, aramaico ou grego), uma vez que
cada idioma tem sua própria maneira de encarar e descrever a temporalidade.

Fonte: o autor

Continue estudando as línguas originais, até ser capaz de ler e interpretar o texto
bíblico sem a necessidade de consultar léxicos, analíticos, interlineares e
dicionários.

A Importância das Línguas Originais

“Desconhecer as línguas originais para o pregador e para o teólogo é como um


médico que não estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Cálculo e

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Geometria de lado”1

Anotações
Anote as principais inter-relações de:
● vocabulário
● pessoas
● lugares
● assuntos

Datação
Conhecer o máximo que puder sobre essa época.

● Definir a data do texto.


● Defina provisoriamente a época da escrita.
● Para esta primeira definição, use a bibliografia acadêmica.
● A datação de livros bíblicos não é um processo “exato”.
● As datas sugeridas pelos estudiosos, na maior parte, são aproximações.

Fase Preparatória

1. Qual é o texto a ser interpretado?


2. Como o texto está delimitado, segmentado e estruturado?
3. Que elementos do plano de expressão contribuem mais intensamente para a
produção do sentido?

Introdução
A exegese sêmio-discursiva possui uma fase preliminar e enfatiza, em sua última
fase, cinco dimensões da ação: dimensão espaço-temporal, dimensão teológica,
dimensão sociocultural, dimensão psicológica e a dimensão missional. Sendo, essa
última, a responsável pela aplicação das dimensões anteriores no contexto atual.

1
SAYÃO, Luiz. Pregação com Qualidade. Disponível em:
https://luizsayao.com.br/pregacao-com-qualidade. Acesso em: 24 dezembro 2021.

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Pequenos Trechos
Um dos hábitos de leitura da Bíblia, compartilhado pelas leituras devocionais e
acadêmicas, é o de selecionar pequenos trechos para a interpretação. Na
linguagem não técnica, chamamos esses trechos de passagens, que usamos para
meditar, preparar estudos bíblicos, sermões, homilias etc.

Na linguagem técnica, esses pequenos trechos são chamados perícopes


(literalmente, “cortado ao redor”), usadas para a organização dos comentários
exegéticos, preparação de sermões, dissertações, teses etc.

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Fase Final

Síntese
Analisar o texto em diferentes pontos de vista:
● Dimensão espaço-temporal da ação
● Dimensão teológica da ação
● Dimensão sociocultural da ação
● Dimensão psicossocial da ação
● Dimensão missional da ação

Dimensão Espaço-temporal
Separar pessoas e ações para entender quem está fazendo o que? Para que? Por
que? Para quem? Onde? E quando?

● Quem age, onde age, quando age, fazendo o que e a quem?


● Como são caracterizados os agentes, pacientes, tempo e espaço?
● Como o texto organiza essas ações e relações no tempo e no espaço?

Dimensão Teológica
Análise do discurso, leitura intertextual.

● Quais são as possibilidades de sentido teológico da ação e como elas


estão organizadas
i. intertextual (c/ outros textos, inclusive não bíblicos) e
interdiscursivamente (c/ outras ideias, inclusive não bíblicas e
contrárias),
ii. estilística (verso ou prosa?) e argumentativamente (o que é dito
sobre o assunto?), e
iii. sintática e tematicamente?

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Percurso Temático

"Os sentidos de um texto estão organizados em percursos, que são encadeamentos


de palavras e sentenças todas subordinadas a um tema mais abstrato. Todo
percurso, portanto, é temático" (ZABATIERO, 2016, p. 206).

No percurso temático a gente identifica os percursos temáticos que organizam as


figuras2 e temas3 do texto, nomeando o tema de cada percurso e identifica o tema
principal do texto, ou seja, o grande percurso que unifica os percursos menores e dá
coerência ao texto como um todo. (ZABATIERO, 2016, p. 205).

Segundo Zabatiero (2016, p. 207), segue a seguir, algumas definições:

● Figuras: palavras que se referem a coisas que existem no mundo, seja o


mundo real, seja o mundo imaginário do texto. Também chamadas de termos
concretos. Sozinhas, as figuras não têm sentido, mas na forma de percursos,
ocultam temas, ou seja, revestem ideias abstratas de formas concretas.
● Temas: palavras que explicam, classificam ou categorizam as figuras.
Também chamadas de termos abstratos. São as ideias, os conceitos, as
noções que organizam e classificam as figuras, bem como as indicações dos
sentidos presentes no texto. Os temas do texto também são encadeados em
percursos, que são “temas de temas”, ou seja, explicam, classificam ou
categorizam os temas do texto.
● Percursos temáticos e figurativos: todo texto é composto por figuras e
temas. Um percurso é o encadeamento das palavras que compõem o texto,
definido por uma recorrência temática que dá unidade e coerência ao
conjunto. Se o texto é predominantemente figurativo, o percurso é
figurativo-temático; se predominantemente temático, apenas percurso
temático. Analisar semanticamente um texto exige a identificação, a
nomeação e o detalhamento dos percursos em que o texto está organizado.
Para simplificar, usa-se apenas o termo percurso.

2
"Figuras são palavras concretas que se referem a coisas que existem no mundo real ou imaginário
do texto." (ZABATIERO, 2016, p. 205)
3
"Temas são palavras abstratas, que explicam ou categorizam as coisas que existem no mundo."
(ZABATIERO, 2016, p. 205)

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Leia as figuras a seguir e note o que elas têm em comum: janela, porta,
fechadura, sala de estar, quarto, banheiro. O que dá coerência a essa lista de
figuras é o tema da moradia. Se, porém, a lista fosse a seguinte: janela,
porta, fechadura, caixa registradora, sala de estar, quarto, banheiro – não
haveria coerência, moradias não se caracterizam por possuir caixas
registradoras. O mesmo ocorre com textos temáticos. Leia Gálatas 5,19-21 e,
depois, Gálatas 5,22-23. São textos temáticos que já nos sugerem a
definição dos percursos. Nos primeiros versículos, as obras da carne; nos
demais, o fruto do Espírito. O que dá unidade e coerência às listas de ações
e valores nesses versículos são, respectivamente, a impiedade e a
santidade.

Segundo Zabatiero (2017, p. 130), analisando a perícope de Isaías 1:21-26, a


estrutura do texto nos ajuda, na medida em que os percursos temáticos seguem a
própria ordem dos versos: (1) a infidelidade da cidade e seus líderes v. 21-23; (2) a
fidelidade justa de YHWH v. 24-25; e (3) a fidelidade da cidade restaurada v. 26. Ao
nomear os percursos, já conseguimos notar o fator temático unificador de toda a
perícope: a fidelidade. Na forma do quadrado semiótico4 temos, então:

INFIDELIDADE FIDELIDADE

ENGAJAMENTO REBELDIA

"Temos como polo eufórico5 a fidelidade (logo, o disfórico6 é o da infidelidade), e o


movimento temático do texto vai da infidelidade (descrita como a mudança do
passado implícito) passando pela rebeldia (o hábito dos líderes) e culminando na
fidelidade restaurada por YHWH." (ZABATIERO, 2017, p. 131).

Interdiscursividade

Interdiscursividade é o termo que explica o uso que um texto faz de discursos, a


ele anteriores, ou contemporâneos.

4
Quadrado semiótico é a notação do nível discursivo (FIORIN, 1989, p. 20).
5
Eufórico é o valor positivo (FIORIN, 1989, p. 20).
6
Disfórico é o valor negativo (FIORIN, 1989, p. 20).

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Há 2 (duas) maneiras de uso de outros discursos: a citação, quando um texto copia
percurso(s) temático(s) de outro(s); e a alusão, quando um texto se apropria mais
livremente de percurso(s) temático(s) de outro(s). (ZABATIERO, 2016, p. 123, 194).

Intertextualidade
Intertextualidade é o termo que explica o uso que um texto faz de outros, a ele
anteriores, ou contemporâneos.

Há 3 (três) maneiras de uso de outros textos: a citação, quando um texto copia


literalmente partes ou o todo de outro(s) texto(s); alusão, quando um texto se
apropria não literalmente de partes ou do todo de outro(s); e estilização, quando um
texto imita o estilo de outros. (ZABATIERO, 2016, p. 123, 194).

Dimensão Sociocultural
Impacto social e pessoal. Levantar a condição social, étnica, status, condição
econômica, etc.

● Como o texto, em interação com o mundo-da-vida, dá sentido à ação


sob os pontos de vista da sociedade, da cultura e da religião?

Exemplo

Corinto era marcada por preconceitos derivados da condição étnica. Sua divisão
social era baseada no status e na condição econômica…

Dimensão Psicossocial

● Como o texto, em interação com o mundo-da-vida, descreve as


relações passionais do texto?
● Como o texto, em interação com o mundo-da-vida, constitui a
identidade dos agentes a partir de seus objetivos, motivos, de suas
competências e relações passionais?

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Dimensão Missional
Aplicação é a proposta missional, ou seja, a proposta para a prática da Igreja
(comunidade de fé).

ATENÇÃO: situações que não devem ser aplicadas na atualidade, ou/e que
precisam ser relidas com cuidado devido à época do texto e escrita.

● Que possibilidades de ação e do sentido da ação e do texto constitui


no diálogo conosco?
● Como podemos praticá-las e/ou reescrevê-las em nossa realidade?

Exemplo

O autor sagrado esperava do seu público alvo, que abandonassem o legalismo e se


aplicassem a uma vida de devoção e obediência a Deus, pela fé em Jesus…

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REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada NVI. Nova Versão Internacional. 1.ed. Santo
André, SP: Geográfica, 2020. 976p.

FIORIN, José L. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto &


EDUSP, 1989.

SAYÃO, Luiz. Pregação com Qualidade. Disponível em:


https://luizsayao.com.br/pregacao-com-qualidade. Acesso em: 24 dezembro 2021.

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Métodos e Interpretação Bíblica. Maringá-Pr.:


UniCesumar, 2016, 278 p.

______. Métodos de Estudos Bíblicos no Antigo Testamento. Maringá-Pr.:


UniCesumar, 2017, 255 p.

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