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A Intriga Principal

O par romântico Carlos e Maria Eduarda tem o seu primeiro


encontro não em Sintra mas em Lisboa, quando Carlos se desloca
à casa onde Maria se encontra, a pedido desta, pois Miss Sara, a
sua governanta, adoecera. Como Castro Gomes estava ausente,
estas personagens começaram a encontrar-se mais
frequentemente e tornaram-se amantes. Carlos chega mesmo a
instalar a sua amada numa grande mansão.
A relação é marcada por alguns dissabores, nomeadamente, o
comportamento de Dâmaso em relação à união de Carlos com
Maria Eduarda, o qual chega a publicar coisas ofensivas na “A
Corneta do Diabo” e também a escrever uma carta a Castro
Gomes, quando este estava ainda no Brasil, denunciando os
encontros dos apaixonados, o que acabou por provocar a
descoberta do passado de Maria.
Com a revelação da relação com a irmã, sem que esta saiba de
nada. O avô de Carlos, Afonso da Maria, ao descobrir que o neto
continua a encontrar-se com Maria, morre de desgosto. Mais
tarde, Ega, a pedido de Carlos, conta a verdade a Maria e dá-lhe
dinheiro para ir para o estrangeiro. Carlos vai viajar com o amigo
pelo mundo com o fim de se distrair.
Dez anos após a morte de Afonso da Maria, Carlos volta a
Portugal e descobre que o país está praticamente na mesma.
Encontra vários amigos e Ega põe-no a par de tudo o que se tem
passado nos últimos tempos, principalmente da vida das outras
pessoas.
A Intriga Secundária
A paixão de Pedro por Maria é aquilo que poderíamos designar
por romântica. Por um lado, Maria surge envolta de um
ambiente de mistério (a sua origem) e marcada pelos traços da
beleza física e da transgressão («toilettes excessivas e teatrais»).
Por outro lado, trata-se de uma paixão súbita / à primeira vista
(uma paixão fatal), seguida de um namoro "à antiga", com a
escrita diária de duas cartas febris de seis folhas de papel (de
Pedro para Maria) e a oferta de ramos das mais belas camélias
dos jardins de Benfica. Em terceiro lugar, não poderia faltar a
oposição paterna a este romance, resultante do conhecimento
dos pormenores hediondos sobre a família de Maria por parte de
Afonso. Por último são inúmeros os presságios disfóricos que
marcam as personagens e a paixão em si.
À paixão segue-se o casamento. A lua-de-mel, inicialmente, é
apresentada como uma «felicidade de novela». Passa por Itália e
Paris, havendo a destacar a vida faustosa e luxuosa de Maria, os
ciúmes causados em Pedro e a primeira gravidez. De regresso a
Lisboa, instado pela esposa, ele escreve ao pai tentando a
reconciliação, recusada por Afonso. Segue-se a descrição
das soirées mais alegres de Lisboa, em Arroios, num ambiente
festivamente romântico, até que tudo muda após a chegada do
misterioso Tancredo, por quem Maria se apaixona e com quem
foge.
E tudo culmina com o desenlace trágico da intriga secundária.
O adultério e a fuga de Maria (com a filha) encontram as suas
causas, por um  lado, na ociosidade de Maria, uma personagem
dominada pelo luxo, pela ostentação, sem uma ocupação que
lhe preencha utilmente a vida, daí que se entregue aos prazeres
e caia no adultério, e, por outro, na literatura romântica, uma
literatura idealista e desvinculada da vida real que origina
condutas anómalas e desvarios no leitor: a fuga de Maria com
Tancredo tem o caráter de um episódio de novela romântica.
Com efeito, o percurso amoroso e biográfico de Pedro só é
explicável à luz de fatores naturalistas: a raça / hereditariedade,
a educação e o meio social. Quanto à hereditariedade, o
romance salienta o paralelismo de identidade entre a mãe e o
filho (cap. I, p. 20); relativamente à educação, recebe a que a
mãe escolhe, tendo o padre Vasques por orientador, uma
educação que impede o desenvolvimento físico, moral e
intelectual, tornando-o «um fraco em tudo»; quanto ao meio,
Pedro, após a morte da mãe, frequentou um ambiente
moralmente baixo. Eis, pois, Pedro lançado no trilho que o levará
inexoravelmente à destruição. Ficava provada a tese de que o ser
humano é um produto desses fatores naturalistas, que o
condicionam irrefreavelmente. Pedro torna-se, em suma, um
herói romântico, sem heroísmo, com uma solução romântica.
Por último, refira-se que a intriga secundária se carateriza por
um ritmo rápido de novela e é narrada por um narrador
omnisciente. As duas personagens centrais têm como função
maior (além da demonstração das teses atrás enunciadas)
evidenciar os paralelismos de comportamento de Carlos e Maria
Eduarda (vide intriga principal).

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