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GUIA DE ACOLHIMENTO DA EJA

João Azevêdo Lins Filho


Governador do Estado da Paraíba

Claudio Benedito Silva Furtado


Secretário de Estado da Secretaria da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba

Gabriel dos Santos Souza Gomes


Secretário Executivo de Gestão Pedagógica da Secretaria

Elis Regina Neves Barreiro


Secretária Executiva de Administração de Suprimentos e Logística da Secretaria

Célia Varela Bezerra


Gerente Operacional de Ensino Fundamental e Médio da Educação de Jovens e Adultos –
GEEJA

Eliane Maria de Aquino


Coordenadora Estadual de Educação em Prisões - GEEJA
SUMÁRIO

1- APRESENTAÇÃO

2- QUEM SÃO OS ESTUDANTES DA EJA: SUJEITOS CARENTES OU SUJEITOS


PONTENTES?

3- ACOLHIMENTO ESCOLAR E EJA


3.1 – ACOLHIMENTO NAS CAMPANHAS DE CHAMADA PARA MATRÍCULAS DA EJA
3.2 – QUAL A VISÃO DE ACOLHIMENTO?
3.1.2 – OS PRINCÍPIOS DO ACOLHIMENTO

4- PROPOSTAS PARA A SEMANA DE ACOLHIMENTO


QUEM ACOLHE TAMBÉM É ACOLHIDO
4.1 – ACOLHIMENTOS NAS CAMPANHAS DE CHAMADA PARA MATRÍCULAS DA
EJA
1ª PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Corredor carinhoso
2ª PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Dificuldades e perseverança
3ª PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Linha do tempo – Trajetórias de Vida
4ª PROPOSTA DE ACOLHIMENTO A árvore dos desejos – efetivar direitos

5- CICLO PERMANENTE DE ACOLHIMENTO


METODOLOGIA SER EJA CIDADÃ
OS PRINCÍPIOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA EJA

6- REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO

“Tudo é encontro. Sem acolhimento e nutrição não há relações transformadoras”

João Vale, Sociólogo

Olá comunidade escolar que oferta Educação de Jovens e adultos!

A proposta desse Guia de Acolhimento da EJA em 2023, é de ser uma construção colaborativa,
por isso, na sua elaboração contamos com o apoio e trocas de experiências das Escolas que
ofertam EJA Presencial, EJA Semipresencial e EJA em prisões. Além disso, pesquisamos
diversos guias que se encontram nas referências.
São orientações e sugestões para futuras consultas e a prática contínua do acolhimento escolar
numa constante busca de aprimoramentos.
Por isso, vamos ampliando o nosso canal de interações e trocas de boas práticas educacionais no
campo da EJA para evidenciar que esta modalidade tem um lugar visível e de direito para todos
(as) os (as) estudantes jovens , adultos e idosos que nos provocam a realizar oportunidades
educacionais adequadas às suas necessidades em seus contextos socioculturais e econômicos.

Ficamos muitíssimos gratas (os) a cada um (a) por se somar a esta jornada coletiva!
Sigamos em diálogos.

Célia Varela Bezerra


Gerente Operacional do Ensino Fundamental e Médio da EJA
GEEJA- Gerência Executiva de Educação de Jovens e Adultos
Fonte: Arquivo 6ª GRE- Corrida do Bem em 2022 - ECI Monsenhor Manoel Vieira- 6ª GRE – participação dos(as)
estudantes da ECI e da EJA semipresencial.

QUEM SÃO OS ESTUDANTES DA EJA?


Quando se fala do público que acessa alguma política de assistência social, de reparação de uma
violação de direitos, é comum a gente escutar que tal ação é para as comunidades carentes,
pessoas carentes. Esse termo pode trazer um estigma, no sentido de responsabilizar
exclusivamente a pessoa por tal situação.
No entanto, essa condição é resultado de um contexto de desigualdade social, de uma negação
de direitos, de políticas públicas inadequadas às realidades das comunidades.
No campo da educação, se enxergarmos exclusivamente a pessoa à sua carência, pode-se
rotular os estudantes da EJA como pessoas carentes e não dar visibilidade a outros marcadores:
intergeracionais - jovens, adultos e idosos, situações econômicas, origens étnico-raciais,
LGBTQIAP+, condição de trabalhador (a), nômades e outros processos identitários socioculturais.
O que isso pode representar na relação dialógica e de acolhimento? Uma possível tendência a
tutelar o seu protagonismo estudantil e não trabalhar a diversidade de sujeitos da EJA. Por isso, é
fundamental, ampliarmos o olhar e nutrir um acolhimento na ótica de uma educação para e em
direitos humanos, tendo como premissa que os estudantes da EJA são sujeitos de direitos,
potentes com vontade, autonomia, trajetória de vida, saberes e capacidade de agir e transformar o
mundo.
Portanto, temos o desafio da própria natureza constitutiva da modalidade da educação de jovens
e adultos, que é traduzir essa identidade própria (diversidade dos sujeitos e seus contextos)
numa proposta para o protagonismo dos jovens, adultos e idosos e sua capacidade de
compreensão de mundo, a partir de seus saberes, das experiências e trajetórias de vida, com
respeito às diferenças, singularidades, contextos e particularidades de cada indivíduo, visando
proporcionar situações educacionais que explorem suas potencialidades à plenitude de sua
dignidade humana.
ACOLHIMENTO NAS CAMPANHAS DE CHAMADA
PARA MATRÍCULAS DA EJA

Fonte: Arquivo GEEJ Foto dos (as) estudantes da EJA participando do FEST ARUANDA -2022

O primeiro ponto de partida para o acolhimento acontece antes mesmo do estudante chegar na
escola, são as campanhas de chamadas públicas para as matrículas do ano letivo na rede
estadual.

A linguagem inclusiva e o protagonismo dos estudantes revelam muito a concepção de escola.


Veja três edições destinadas para os estudantes da EJA. Material que pode ser utilizado nos
acolhimentos e no percurso formativo dos(as) estudantes.

ANO-2021 - As Histórias de superação de dois estudantes adultos, que superaram privações, a


vulnerabilidade social e de violações, retomaram e concluíram o ensino médio, venceram,
acreditaram nos seus objetivos e sonhos. Confira os depoimentos: http://bit.ly/3Y4s2vC

ANO 2022 - Depoimentos da diversidade de sujeitos da EJA, jovens, adultos da periferia,


mulheres cis, um cego, mulheres trans, pela primeira vez tiveram o direito do uso do nome social
(Resolução nº 01/2018/MEC/CNE, Lei Estadual 10.908/2017), superando preconceitos,
concluíram o ensino médio; sem renunciar a seus direitos e sonhos, escreveram um novo capítulo
na história de sucesso. Professor (a) confira cada depoimento inspirador: https://bit.ly/3Jk4wa3

ANO 2023 - Nesta campanha de matrícula da Educação de Jovens e Adultos (EJA), narra a força
de vontade de uma jovem estudante, para concluir o ensino médio e seguir seus objetivos. Confira
a história: https://bit.ly/3j3d0HX
QUAL A VISÃO DE ACOLHIMENTO?

Há tantos diálogos os mortos


as ideias
Diálogo com o ser amado o sonho
o semelhante o diferente o passado
o indiferente o oposto o mais que futuro
o adversário o surdo-mudo Escolhe teu diálogo
o possesso o irracional e
o vegetal o mineral tua melhor palavra
o inominado ou
teu melhor silêncio
Diálogo consigo mesmo Mesmo no silêncio e com o silêncio
com a noite dialogamos.
os astros
Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera

Consideramos que o acolhimento se faz necessário como prática urgente e contínua no


cotidiano escolar. Acolher é um processo crucial para cuidar das subjetividades inerentes ao
ser humano e ao processo permanente de garantir o seu contínuo desenvolvimento e
dignidade humana. Para isso, contamos com as vivências e potencialidades individuais dos
estudantes adultos, jovens e idosos para a escuta e o cuidado do outro de modo respeitoso
e solidário.

Segundo a coordenadora pedagógica Romselly, da ECI Monsenhor Manoel Viera (que


também oferta EJA semipresencial) o acolhimento é uma ação pedagógica, que tem por
objetivo dar as boas-vindas aos estudantes e às equipes docente e gestora, integrando os
estudantes entre si, com a escola, funcionários, e fortalecendo a conexão entre eles. Ela
destaca que:

“o ato de acolher tem o propósito de despertar nos estudantes o sentimento de


pertencimento, e, principalmente, permitir seu desenvolvimento integral. O
acolhimento como ato ou efeito de acolher expressa, em suas várias
definições, uma ação de aproximação, um “estar com” e um “estar perto de”, ou
seja, uma atitude de inclusão, não tem hora nem local específico para
acontecer. É uma postura que envolve duas vontades: a vontade de ser
acolhido e a vontade de acolher”
O espaço escolar tende a espelhar os valores e contradições da sociedade, porém é no afã
pedagógico, que assim buscamos, torná-lo o lugar de vida, transformação e formação de
vivência de respeito à diversidade e singularidades dos sujeitos. Portanto, concebemos que
o acolhimento deva contemplar o cuidado socioemocional e acadêmico e o direito de
aprender de todos os estudantes, com atenção especial e apoio àqueles que estão em
situação de vulnerabilidade e combatendo os preconceitos de gênero, raça, credo,
orientação sexual, capacitismo ou qualquer outra forma de discriminação.

OS PRINCIPIOS DO ACOLHIMENTO
Apresentamos, a partir da experiência de acolhimento a seguir, três princípios que
consideramos essenciais para o acolhimento e para guiar as ações na escola: a escuta
ativa, o cuidado e a equidade.
1º PRINCÍPIO: ESCUTA ATIVA
A escuta acontece no contato com o outro, na disposição em se doar para que o outro
possa, por meio de sua linguagem, expressar seus sentimentos, emoções, preocupações ou
necessidades. Além disso, a escuta permite ao outro um espaço para compreender e
organizar os pensamentos, estabelecer relações entre percepções diferentes que podem
ajudá-lo a encontrar novas possibilidades para sair de uma situação de conflito ou de
paralisação.
A escuta ativa é um momento de legítima doação, em que o sujeito sai de si para se colocar
em atenção ao outro, com uma intenção genuína de entender o que se quer dizer por outro
ponto de vista. Isso significa que essa escuta não julga, ela quer pensar junto, e seu maior
propósito é criar conexão.

2º PRINCÍPIO: CUIDADO
O cuidado abrange mais do que um momento de atenção, representa uma atitude de
solidariedade e de desenvolvimento afetivo contínuo com o outro. Nesse sentido, podemos
entender que cuidado é algo imprescindível para a vida e deve ser compreendido como fator
preponderante para uma relação saudável e bem estruturada, incluindo as relações na
escola.
Para que o cuidado promova uma atitude de corresponsabilização entre as instâncias e os
atores, é preciso que haja clareza quanto às expectativas para as ações propostas. A
corresponsabilização ocorrerá sempre que todos os envolvidos no processo estiverem
alinhados e cada um contribuir com a sua parte dentro da estrutura de funcionamento
hierárquico vigente.

3º PRINCÍPIO: EQUIDADE
Quando pensamos em acolhimento, consideramos escutar e cuidar em uma perspectiva
individual daqueles que demonstram necessidades socioemocionais e se encontram em
situação de vulnerabilidade. Nesse sentido, é importante destacar que as vulnerabilidades
presentes podem fazer parte de marcações estruturais e históricas que dizem respeito aos
processos de exclusão relacionados a raça/etnia, gênero/orientação sexual, condição social,
dentre outros.
A busca pela excelência pressupõe olhar para cada um e suas diferenças, étnico-raciais,
sociais, circunstâncias e trajetórias. Além disso, considerar a heterogeneidade territorial e de
perfis de escolas. Portanto, é fundamental realizar diferenciações para que não se perca de
vista que cada pessoa tem nome, história, singularidades, limites e potências implicados nos
desafios e resultados de aprendizagem buscados.
Assim, recomendamos que todas as estratégias e ações de acolhimento sejam direcionadas
a todos e combinadas/adaptadas para atender às diferentes necessidades, em especial o
mapeamento das necessidades da comunidade escolar e planejamento das ações de
acolhimento.

PROPOSTAS PARA A SEMANA DE ACOLHIMENTO


QUEM ACOLHE TAMBÉM É ACOLHIDO
Seguem alguns pontos que são base a organizar a agenda de acolhimento e a postura
interna e externa da equipe que irá facilitaras atividades.

• Acolhimento e segurança;
• Estar atento(a)/atenção, presença e escuta;
• Cultivar Calma/ tranquilidade;
• Inclusão;
• Estrutura (horário /arrumação);
• Tensões/ conflitos(resoluções);

Para realizar as ações, propomos à equipe de acolhimento as seguintes etapas de trabalho:


• Etapa 1 – Alinhamento das percepções de acolhimento
• Etapa 2 – Mapeamento das necessidades socioemocionais de estudantes jovens,
adultos e idosos da escola
• Etapa 3 – Ações contínuas de acolhimento (escuta coletiva e individual, busca ativa e
apoio acadêmico)
• Etapa 4 – Acompanhamento das ações
PROPOSTAS DE MOMENTO DE ACOLHIMENTO
1º MOMENTO
PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Corredor carinhoso
Peça a quatro estudantes que saiam da sala. Organize os que ficaram em duas fileiras,
todos em pé, distantes uns dos outros, formando um corredor por onde os colegas vão
passar quando voltarem. Oriente-os a receber os quatro com palmas, fazendo elogios e
dizendo palavras carinhosas e de valorização. Essa parte da atividade pode ser repetida até
que todos os estudantes tenham passado pelo corredor carinhoso. Depois disso, promova
um momento de conversa e pergunte aos estudantes como eles se sentiram ao dar e ao
receber afeto positivo. Para finalizar, você pode incentivar todos os estudantes a se dirigirem
a pelo menos três colegas e fazerem o mesmo: falar palavras gentis, carinhosas, bondosas
etc. Ao final, todos conversam novamente:
✓ “Como foi fazer elogios?”
✓ “Temos esse hábito no dia a dia?” “Sabemos receber carinho uns dos outros?”
✓ “Como podemos nos tratar aqui na sala de aula de agora em diante?”

2º MOMENTO
PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Dificuldades e perseverança
Para falar sobre perseverança nas dificuldades, você pode apresentar aos estudantes o
vídeo Famous Failures (Falhas famosas). Para isso, escaneie o QR CODE ou acesse o link
abaixo. Em seguida, proponha que analisem juntos as informações apresentadas no
audiovisual. Incentive-os a realizar um momento de reflexão com base nas seguintes
perguntas:
✓ O que ajuda uma pessoa a superar as adversidades?
✓ Que adversidades vocês já enfrentaram?
✓ Como foi? O que fizeram de positivo?
✓ O que fariam de diferente hoje em dia?
✓ Que lições para a vida puderam tirar disso?
Deixe todos à vontade, de modo que exponham suas opiniões e compartilhem suas
experiências pessoais. Ressalte a importância da escuta respeitosa e da empatia.
Acesse o https://ftd.li/f94via,
3º MOMENTO
PROPOSTA DE ACOLHIMENTO: Linha do tempo – Trajetórias de Vida
Para esta atividade, providencie antecipadamente pedaços de 3 m de barbante, fita adesiva
colorida ou giz, à sua escolha (um pedaço para cada grupo de três pessoas), e folhas de
papel sulfite (três para cada pessoa).
O objetivo desta proposta é trabalhar o compartilhamento de experiências e de situações
marcantes da vida. Solicite aos participantes que se organizem em trios. Cada trio deve
traçar uma linha de 3 m no chão utilizando o material disponível. Ela representará a linha do
tempo de cada integrante do grupo.
Nessa linha, cada um deve indicar nove momentos de sua vida: três do passado, três do
presente e três do futuro. Para isso, peça a eles que façam os registros desses momentos
em três folhas de papel, uma para cada período, analisando experiências, momentos de
crescimento, situações significativas, vivências que trouxeram emoções positivas – como
crescimento, paz, pertencimento –, entre outras memórias. Os registros devem ser
organizados da seguinte maneira:
✓ Folha 1: três lembranças do passado;
✓ Folha 2: três situações atuais, do dia a dia, que despertam emoções e sensações
positivas, alegres e de segurança;
✓ Folha 3: três sonhos, projetos, desejos e esperanças em relação ao futuro.
Concluída essa etapa, cada integrante do trio deve alocar seus registros na linha do tempo
traçada. Depois, um de cada vez, deve andar pela linha, parar por um instante na folha que
representa cada período e compartilhar com os colegas seus momentos significativos.
Quando todos tiverem feito isso, podem explorar juntos, que semelhanças e diferenças
perceberam em seus relatos.
Para nortear essa conversa, podem ser exploradas as questões a seguir:
✓ Como grupo, de que modo vocês podem vivenciar juntos emoções positivas?
✓ Que sonhos ou esperanças são comuns entre vocês?
✓ De que maneira podem colaborar uns com os outros na realização daquilo que é
importante para cada um?
4º MOMENTO
PROPOSTA DE ACOLHIMENTO A árvore dos desejos – efetivar direitos

"O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá
viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.
(Mia Couto)

A árvore dos desejos tem uma representação de árvore em que, no topo, as pessoas
colocam frases ou palavras que dialoguem com desejos para um momento específico. Essa
atividade aberta pode ser uma boa ação de acolhimento por proporcionar que as pessoas
expressem suas expectativas e desejos para aquele momento ou um momento próximo.
O convite para canalizar os pensamentos para algo positivo e não para resolver problemas,
mas contribuir para uma sensação de bem-estar, e os desejos reunidos em uma árvore
simbolizam as expectativas que os unem.
A árvore pode ser montada em um espaço coletivo, como a entrada da escola, ou mais
reservado, como as salas de aula, a sala dos professores, a secretaria, a cozinha…
Para provocar a reflexão, no caule ou próximo a árvore pode ser colocada uma pergunta:
✓ “Como quero me sentir ou o que quero fazer durante o ano de 2023?”

Como toda árvore, essa também precisa de cuidados. Se ela ficar muito carregada, a
equipe de acolhimento pode retirar alguns bilhetes para dar espaço a outros. Caso isso
seja feito, é possível deixar ao lado da árvore uma caixa contendo esses bilhetes retirados,
com a plaquinha “Floresta de desejos”.
CICLO PERMANENTE DE ACOLHIMENTO NA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção. Paulo Freire

OS PRINCÍPIOS DA METODOLOGIA “SER EJA CIDADÔ NA PRÁTICA PEDAGÓGICA


Para a promoção de ciclo permanente de acolhimento, apresentamos, inspirada na
experiência dos círculos de cultura de Paulo Freire. A metodologia Ser EJA Cidadã tem
como aspecto principal a abertura de espaço de protagonismo dos estudantes, tendo como
alicerce a equidade, escuta empática e diálogo nas escolas, por meio de Fóruns Estudantis
e seguidamente das salas (rodas) de diálogos temáticos. Os Fóruns dão início ao percurso
pedagógico que possibilita aos estudantes a problematização e a escolha de temas que
serão fonte de estudo transdisciplinar durante um semestre do ano letivo. A escolha do
Tema Gerador oportuniza criar um campo para a resolução de problemas a partir da
capacidade dos próprios estudantes.
A primeira fase da metodologia deve ser guiada pelos seguintes objetivos:
• Reencantar toda a comunidade escolar, para traduzir a identidade própria da
EJA nas ações e projetos pedagógicos desenvolvidos durante o ano letivo,
exercitando as quatro competências transformadoras: empatia, o trabalho em
equipe, a criatividade e o protagonismo;
• Identificar como está a organização do tempo curricular na prática pedagógica
de jovens e adultos, visando mapear práticas pedagógicas e os desafios para
garantir as particularidades que compõem a EJA.
• Mobilizar a escola e os/as estudantes para a eleição de líder e vice-líder
estudantil;
• Proporcionar um ambiente de mediação pedagógica dos professores junto
aos líderes representantes dos estudantes, a partir da proposta de Fóruns
Temáticos no contexto da pedagogia de projetos.

Para fortalecer o olhar pedagógico às particularidades da Educação de Jovens e


Adultos, apresentamos os princípios que são a base da metodologia SER EJA Cidadã:

• Educação em e para os Direitos Humanos:


Numa abordagem da EJA para a educação em direitos humanos, destacamos que
um dos elementos fundamentais é a formação de sujeitos de direitos, em nível
pessoal e coletivo, que articulem as dimensões ética, político-social e as práticas
concretas (CANDAU 207 p.404).
• Comunicação não-violenta:
Para construir espaços de escuta empática, é fundamental o exercício de um novo
olhar que envolva um paradigma da apreciação da escuta do outro e de toda a
comunidade escolar. O desafio é aprendermos a “escutatória” - já apresentada por
Rubens Alves, e os quatro passos da comunicação não-violenta: observação,
sentimentos, necessidades e pedidos.
• Projetos de Vida e Trajetória de Vida na EJA:
O projeto de vida é construído ou ressignificado, tendo como ponto de partida a
trajetória de vida do estudante. Para isso, é importante identificar e relacionar os
saberes trazidos pelos estudantes, a partir de suas trajetórias de vida e
aprendizagens fora do ambiente escolar, em especial a do mundo do trabalho;

• Pedagogia de Projetos:
Ter como prioridade a problematização do cotidiano de jovens e adultos e a
construção de processos pedagógicos que suscitem a elaboração de soluções
criativas e inovadoras. Desenvolver a responsabilidade e a autonomia dos jovens é
essencial. Nesse cenário, o projeto surge da escolha dos estudantes e se estrutura
de forma transdisciplinar, envolvendo toda a escola no processo de cooperação
entre todos os componentes curriculares. Em geral, é realizada em equipe, motivo
pelo qual a cooperação está também quase sempre associada ao trabalho.
• Mediação pedagógica:
É a mediação que responde mais adequadamente à complexidade da Educação de
Jovens e Adultos – cria condições de desenvolver uma escuta transformativa do
professor para as necessidades do estudante e processos para o pensamento
crítico e a práxis educativa nessa modalidade de ensino;
• Protagonismo Estudantil:
Trata-se de despertar e valorizar o protagonismo estudantil dos (as) jovens e
adultos da EJA, aproveitando suas trajetórias de vida, através da mediação
pedagógica, considerando a interação geracional que caracteriza essa modalidade
de ensino
• Pedagogia da Presença:
Manifesta-se como uma importante estratégia para favorecer a permanência do
estudante, em sala de aula, na busca pela erradicação da evasão escolar
(SANTOS, 2016, p.15)
• Educação Interdimensional:
Diz respeito às práticas educativas presentes na educação, com destaque para a
valorização do ser, em todas as dimensões: cognitiva, espiritual, afetiva e da
corporeidade (SANTOS, 2016).

Nesse sentido, as diretrizes metodológicas que orientam a realização de Fóruns


Temáticos SER EJA Cidadã, vêm promover essa abertura e espaço de escuta apreciativa e
mediação pedagógica que visa ao protagonismo estudantil, compreendido como uma base
para construção coletiva, que envolve todos os estudantes nas soluções dos desafios de
aprendizagem e problemas do cotidiano escolar.

Sendo assim, o desenvolvimento dos Fóruns Temáticos parte das escolhas dos
estudantes, tendo como base a problematização da sua realidade, e, portanto, pode se
conectar com os processos de elaboração do Projeto de Intervenção da Escola (PIP). A
relação dos Fóruns Temáticos e os projetos desenvolvidos nas escolas potencializa a
abertura de espaços transdisciplinares que valorizam os diálogos entre todos os
componentes curriculares, contemplando a bagagem e a diversidade cultural dos
estudantes.
Para desenvolver a metodologia SER EJA Cidadã, seguimos a linha de compreensão
apontada por Barcelos (2014) de que para melhorar a qualidade de ensino na EJA, não é
suficiente apenas a diversidade de práticas ativas, visando ao protagonismo estudantil, mas,
sobretudo, promover situações de aprendizagens em que possam emergir o
reconhecimento dos estudantes como um sujeito potente de saberes e aprendizagens.
Para estimular essa mudança de atitude, a gestão escolar deve criar espaços, no
formato de círculos de diálogos, para ir além dos conteúdos escolares e proporcionar a
relação destes com as experiências da trajetória de vida dos estudantes. Assim, nos
remetemos a Freire (2005) para uma educação libertadora e problematizadora como um
processo de vivência e compartilhamento de experiências entre professores e estudantes
que aprendem juntos.
Para aprofundar o tema acesse as Diretrizes Operacionais de 2023 e o Guia da EJA
2020, neste último há um detalhamento do passo a passo da metodologia.
REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel Gonzalez (org.) Da Escola Carente à Escola Possível. São Paulo:
Editora Loyola, 6 Ed. Março de 2003.

____________________. Educação de Jovens Adultos: um campo de direitos e de


responsabilidade pública. In: SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria Amélia G. C.;
GOMES, Nilma Lino (orgs.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005. p. 19-50.

PLANNER ANUAL PLANEJE SEU NOVO ANO 2023 – Acesse o link:


https://bit.ly/3wA4NOl
Protocolo Acolhimento: Ações Híbridas e Contínuas - Acesse o link:
https://bit.ly/3DmCDdr
Guia de acolhimento Parte I, Leo Fraiman, FTD Educação/OPEE – Acesse:
https://bit.ly/3wAyXRy
SANTOS, Maria de Fátima. Pedagogia da Presença: uma estratégia para o sucesso
escolar. Dissertação Mestrado Profissional. Universidade Federal da Paraíba, 2016. 124
páginas.

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