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No caso de O Guarani, vale a pena ler o que diz o autor sobre

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AULA 
as primeiras edições publicadas. Mais de 150 anos após a publicação,
são tantas as suas edições que é impossível registrá-las, em virtude da
diversidade de lugares e de editoras em que elas eram e continuam sendo
– bem e mal – preparadas, na maioria das vezes sem nenhum respeito
pelo seu criador e autor. Publicado, inicialmente, em folhetim, no Diário
do Rio de Janeiro, de 1º de janeiro a 20 de abril de 1857, o romance
teve, em vida do autor, 4 edições em livro:
• a 1ª, que sai no mesmo ano de 1857, aproveitando a composição dos
folhetins, pela Empresa do Diário do Rio de Janeiro;
• a 2ª em 1864, pela Garnier (B. L. Garnier Editor);
• a 3ª, pela mesma editora, em 1865;
• a 4ª em 1872.
Da 3ª não conseguimos encontrar nenhum exemplar, nem mesmo
na Biblioteca Nacional. A 4ª e última em vida é cópia da 2ª, donde se
pode inferir que o autor não fez, da 2ª para a 3ª, nenhuma modificação.
Na 1ª edição e no folhetim, Alencar coloca, sob o nome de
“Prólogo”, a seguinte carta:

Minha prima – Gostou da minha história, (provavelmente estaria


se referindo a Cinco Minutos, que publicou, também em folhetim,
antes de O Guarani) e pede-me um romance; acha que posso fazer
alguma cousa neste ramo da literatura.
Engana-se; quando se conta aquilo que nos impressionou pro-
fundamente, o coração é que fala; quando se exprime aquilo que
outros sentiram ou podem sentir, fala a memória ou a imaginação.
Esta pode errar, pode exagerar-se; o coração é sempre verdadeiro,
não diz senão o que sentiu; e o sentimento, qualquer que ele seja,
tem a sua beleza.
Assim, não me julgo habilitado a escrever um romance, apesar
de já ter feito um com a minha vida.
Entretanto, para satisfazê-la, quero aproveitar as minhas horas de
trabalho em copiar e remoçar um velho manuscrito que encontrei
em um armário desta casa, quando a comprei.
Estava abandonado e quase todo estragado pela umidade e pelo
cupim, esse roedor eterno, que antes do dilúvio já se havia agar-
rado à arca de Noé, e pôde assim escapar ao cataclisma.
Previno-lhe que encontrará cenas que não são comuns atualmente;
não as condene à primeira leitura, antes de ver as outras que as
explicam.

CEDERJ 103

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