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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIENCIAS E EDUCAÇÃO


FACULDADE DE EDUCAÇÃO
BORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DO ENSINO DE GEOGRAFIA

HADRYA MAYLLA MUNIZ DA SILVA


MYLENA TRINDADE DE JESUS SILVA

AS REFORMAS NEOLIBERAIS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA


INFLUÊNCIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Belém- PA
2023
HADRYA MAYLLA MUNIZ DA SILVA
MYLENA TRINDADE DE JESUS SILVA

AS REFORMAS NEOLIBERAIS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA


INFLUÊNCIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia


como trabalho curricular na disciplina de
Abordagens Teórico – Metodológicas do Ensino
de Geografia, ministrada pela Prof.ª Dr. Adolfo
da Costa Oliveira Neto, na Faculdade de
Educação, no Instituto de Ciências da Educação,
da Universidade Federal do Pará.

Belém- PA
2023
RESUMO
O artigo apresentado, de cunho teórico bibliográfico, buscar analisar e
refletir sobre como o Neoliberalismo vem influenciando na educação no Brasil e como
esse modelo afeta o ensino de Geografia. Este trabalho acadêmico tem o intuito de
mostrar como o Neoliberalismo surgiu, como as suas reformas tem impactado na
educação, sendo uma estratégia para transformas os indivíduos em empreendedores e
não como seres críticos, analisando as propostas marcadas no setor educacional,
destacando a BNCC. Esta pesquisa está estruturada em duas (2) etapas. Primeiramente,
se apresenta a história do Neoliberalismo desde o seu surgimento na década de 70, em
qual contexto e como suas reformas vem impactando a educação; as principais
mudanças e como esse modelo pode alterar o ensino da Geografia. Espera-se que o
assunto aqui apresentado, possa impulsionar para reflexão sobre a realidade do Brasil
em frente ao discurso Neoliberal.

A educação brasileira vem pouco a pouco ganhando destaque, onde a


sociedade está passando a ser mais ativa no processo de reconhecer que o setor
educacional necessita de uma melhor qualidade, pois ela é um fator importante para o
desenvolvimento do país. Entretanto podemos observar que o modelo chamado
Neoliberalismo vem interferindo no Brasil, fazendo com que a educação fique
estagnado. Para compreendermos como o Neoliberalismo.
Neoliberalismo nada mais é do que um modelo socioeconômico que surgiu
na década de 70 se caracterizando baseado no Liberalismo, com intuito de orientar as
políticas dos países fundamentando no capitalismo acreditando que haja uma progressão
da economia o Estado não deve ter direito de interferir (Estado Mínimo). LIBÂNEO (et
al, 2012, p.110) conceitua o neoliberalismo:
Denominação de uma corrente doutrinária do liberalismo que opõe ao social-
liberalismo e/ou novo liberalismo (modelo econômico keynesiano) e retoma algumas
das posições do liberalismo clássico e do liberalismo conservador, preconizando a
minimização do Estado, a economia com plena liberação das forças de mercado e a
liberdade de iniciativa econômica (apud ALVES et al, 2020, p. 3)

Sua origem se deu a partir da crise Keynesiano que baseava na alta


arrecadação de impostos que por consequência acarreta em altos gastos públicos em
benefícios sociais (Bem-estar social). O cenário dos países desenvolvidos se tornou
propício para as instituições financeiras internacionais que seguem esse modelo
neoliberal, passando a determinar ou impor normas de mercado, determinando em todos
os âmbitos as políticas governamentais visando o rendimento elevado que possuirá
desses países.
 Esse modelo teve como autores principais, o austríaco Friedrich August
Von Hayek e o Norte – americano Milton Friedman, ao qual publicaram 3 obras que
foram importantes para esse marco; “Capitalismo e Liberdade”, “O caminho da
servidão” e “Liberdade de escolher” que iniciaram o pensamento liberalista pela
América do Norte logo após a segunda guerra mundial. Esse modelo critica o papel do
Estado enquanto responsável do bem-estar social, para isso ele propõe a privatização de
diversos setores sociais e diminuição dos direitos da população. Como esse modelo
surgiu após a segunda guerra mundial teve bastante influência por um contexto da
guerra fria que foi uma corrida armamentista e tecnológica que envolveu uma parte dos
países do mundo.
A crise colocou o mundo em uma recessão muito duradoura ao qual
proporcionou condições ideais para a atuação do neoliberalismo, consequentemente o
preço da gasolina elevou imensamente e as crises acabaram aumentando o preço dos
alimentos e de vários produtos. 
Com o surgimento do Neoliberalismo na crise do Petróleo (anos 70), Hayek
e Friedman defendiam que as causas das crises foram os movimentos operários e
reivindicações por melhores salários, ou seja, os operários pressionavam o Estado para
que para que desembolsar mais no bem-estar social e passaram a destruir as margens
necessários de lucro das empresas. A proposta era a redução dos gastos da saúde e com
a educação que consequentemente permitia a redução dos impostos de empresas e
matérias sendo assim para os autores uma “saudável desigualdade social”.
O principal mecanismo para o Neoliberalismo atuar é através das
instituições financeiras internacionais, como o Banco do Brasil que vem trazendo
grandes marcos em vários países, aqui no Brasil por exemplo, atuando com grande
importância na conjuntura das políticas educacionais levando em conta a ideia de que a
educação é um instrumento essencial para redução das desigualdades e proporcionar um
crescimento econômico. O Banco Mundial vem sugerindo a países a centralizar recursos
na educação básica como forma de diminuir a pobreza já que é cumpridor dos
benefícios sociais e econômicos e que faz empréstimo a países em desenvolvimento
tendo caráter liberal presente desde a fundação do modelo por meio de comércio e a
libertação do protecionismo estatal. Conforme LIBÂNEO (2012, p. 112) determinados
atributos do modelo Neoliberal já é uma realidade em países da América Latina e do Sul
que fecharam parcerias com o Banco Mundial, FMI, Bird e outros órgãos, como por
exemplo
Desregulamentação estatal e privatização de bens e serviços; abertura
externa; liberação de preços; prevalência da iniciativa privada; redução das
despesas e do déficit públicos; flexibilização das relações trabalhistas e
desformalização e informalização nos mercados de trabalho; corte dos gastos
sociais, eliminando programas e reduzindo benefícios; supressão dos direitos
sociais; programas de descentralização com incentivo aos processos de
privatização; cobrança dos serviços públicos e mercantilização dos benefícios
(LIBANEO, 2012, p.112)

A partir dos anos 70, o Banco Mundial passa a concentrar seus


investimentos em questões sociais, investindo no incremento da produção, fazendo a
educação ter créditos da agência, desde que seja desenvolvida nos moldes do Banco
Mundial. Além disso, podemos ver outras consequências carreadas pelo Neoliberalismo,
como o foco na produção de mão de obra, a ênfase nos processos de alfabetização e
domínio de 4 operações, onde demonstra um caráter compensatório da educação. Para o
Banco do Brasil, o foco da educação deve estar voltado para preparar o indivíduo ao
trabalho, dessa forma, o caráter de preocupação social para a formação crítica de um
cidadão é deixado de lado.
Já na década de 80, a situação não apresentou mudanças; de acordo com
ALMEIDA; DAMASCENO (2015) “ às escolas enquanto instituição social passa a ser
pensada como uma empresa produtiva e é com essa concepção que são planejadas as
estratégias que direcionam as políticas educacionais”. Em decorrência da necessidade
de mão de obra especializada para o trabalho, houve um grande índice de ingressos de
sistemas educacionais, porém havia um déficit no fornecimento de um ensino de
qualidade que supria as necessidades de formação do indivíduo para a vida em
sociedade.
A diminuição de custos e investimentos em educação foram obtidas através
da restrição do teto de gasto e a setorização dos problemas escolares pelo
FUNDESCOLA, onde trata os problemas de forma setorizada. E a educação teve
sempre como parâmetro de análise as avaliações externas como por exemplo o ENEM e
a prova Brasil, ao qual consideram os processos educacionais. 
O Neoliberalismo atua através de restrições da atuação do estado e
contribui para o aumento da desigualdade social, sendo notório que a implantação do
modelo Neoliberalismo no nosso país desvaloriza o capital e humano e apenas foca no
capital financeiro, mostrando que esse modelo não promove uma educação para todos e
nem democrática. A educação em nosso país está longe de ser instrumento de mediação
entre os indivíduos, as práticas sociais e os conhecimentos historicamente produzidos
pela humanidade. Ela está a serviço de políticas de favorecimento liberal, fornecendo
aos trabalhadores brasileiros apenas aquilo que necessitam para integrar o mercado de
trabalho capitalista.
As principais mudanças e reformas começaram a partir da concessão da
política brasileira a pactos de proporção mundial, no âmbito da economia e educação
que se iniciou na década de 90. E também a eleição de diplomatas afeiçoados ao modelo
neoliberal. No início as primeiras tentativas de políticas educacionais, para manipular a
permanência da escola e do trabalho docente, foi a criação de avaliações de larga escala.
A avaliação em larga escala tem como finalidade avaliar a aprendizagem da educação e
sua evolução.  Outro dispositivo político educacional foi a criação de currículos
padronizados. Os currículos padronizados negam e desrespeitam as diversidades
culturais e são ao contrário à proposta de construção através de diálogos e de reflexão
crítica.
 As ideias de Neto (2016) que afirma que o currículo nunca pode ser
compreendido como um conjunto imparcial de conhecimentos que são inseridos em seu
interior sem conexão com a realidade na qual ele está sendo construído. O currículo é
um artefato histórico que possui uma tradição seletiva, isto é, existe alguém que opera
essas mudanças e essa pessoa possui intenções. Contudo, é preciso levarmos em conta
que mudanças dessa magnitude não são feitas por um único indivíduo, mas sim por
grupos historicamente organizados e que possuem interesses em comum. E essa
coalizão de pensamentos expressam suas intenções e compreensões sobre o que pode e
o que não pode ser considerado importante para ser incluído dentro do currículo. 
Ressaltamos que ele é um produto de uma disputa de forças e poder, sendo resultado de
conflitos, concessões culturais, econômicas e políticas que regem a população.  
O mito da neutralidade científica pode ser aplicado aqui também, pois a
constituição do desenho curricular de âmbito nacional não é um fato histórico sem
sentido e muito menos espontâneo. É um acontecimento vinculado a vários conjuntos de
pessoas. A força estatal por meio de seus representantes também exerce impacto durante
esse processo de criação.  Tanto em regimes de governos autocráticos como nos
democráticos acontecem movimentos de convergência em certo momento da história
para realizar mudanças nos currículos escolares.  (NETO, p. 32)    

(...) O currículo (...) está longe de ser uma unidade construída


desapaixonadamente e é, de fato, um terreno de grande contestação,
fragmentação e mudança, sendo a disciplina escolar construída social e
politicamente com os autores envolvidos empregando uma gama de recursos
ideológicos e materiais para levar a cabo as suas missões individuais e
coletivas. (NETO, 2016, p. 47)

  A construção do currículo se deu por secretarias e ministérios sem a


participação da comunidade escolar e das IES. Que passaram a definir os rumos da
construção dos objetivos e conteúdo que deveriam constar nos currículos. Currículos
que se constituíram a partir da elaboração de instrumentos legais como; LDB , PISA,
SAEB, ENC, FUNDEF, DCN’S, FIES, ENEM e BNCC. Todos esses instrumentos
estariam ligados a uma proposta do Banco Mundial e interesse empresarial. Para o
controle sobre escola e trabalho docente foram criados indicadores de qualidade do
ensino com promessa de bonificação por mérito. Assim com esse fenômeno passaram a
ser utilizados para distribuição de recursos, evidenciando as desigualdades e através
desses indicadores   tornaram a educação como mercadoria e produção de valor.
A hegemonia liberal ganhou força depois do impeachment da presidente
Dilma, e o principal dispositivo legal criado pelo neoliberalismo e a BNCC, que foi
patrocinada por grupos como a Fundação Lemann juntamente com instituições públicas
e privadas, discutiu-se o direcionamento político educacional brasileiro com objetivo de
desenvolver um projeto curricular homogêneo para a educação. Desse modo, alguns
críticos mais radicais ressaltam que a implementação da BNCC é uma maneira de
sucatear a educação pública e que possui caráter de privatização, isso tudo por meio do
controle. Apesar do documento fazer parte de uma política educacional do Estado, as
avalanches de críticas surgiram devido todo o processo de desenvolvimento ser
patrocinado por grupos empresariais com apoio do Movimento pela Base. 
Outra forte crítica à grande influência empresarial no processo se dá pelo
fato do documento se caracterizar como um meio de efetivar um projeto de nação liberal
e burguês, possibilitando o favorecimento e controle à elite econômica. Desse modo, a
crítica afirma que a BNCC objetiva o controle total do sistema educacional por meio da
mercantilização da educação (provas, apostilas, livros, seminários, consultorias, kit
pedagógicos), ocasionando dessa maneira um ensino fragmentado ou um retorno do
caráter tecnicista, reduzindo a formação dos indivíduos a uma dimensão pragmática. 
Apoiando-se então nessa crítica, estudiosos ressaltam que a BNCC acaba
por limitar o conhecimento, reduz conteúdos importantes, elimina disciplinas do
currículo, dificulta o acesso à universidade, formar mão de obra para trabalhos
precários, ou seja, observando de forma crítica o documento, percebe-se que o processo
de escolarização é reduzido, uma vez que o sistema fica focado na adaptação do homem
às demandas do capital. 
Uma questão bastante criticada que se fez valer durante a promulgação da
Base Nacional Comum Curricular, é a que se refere que o documento não faz jus ao
papel democrático que promete isso se deve ao fato dela não levar em consideração toda
a diversidade existente no território brasileiro e nem atende a grande complexidade
existente nas múltiplas realidades do país
No ensino de geografia na BNCC, que está nas ciências humanas, são
estudos completamente esvaziado de crítica da sociedade em que se vive, ao ressaltar a
experiência, os direitos humanos, a autonomia e a responsabilidade coletiva com meio
ambiente, sem confrontá-los com a sociedade desigual e ambientalmente destruidora
atual, que são objetos de estudos para essa disciplina. A organização da BNCC em
objetivos de aprendizagem não favorece a compreensão da proposta e, sobretudo,
dificulta a avaliação e análise dos objetivos e conteúdo do ensino de geografia. O
documento tem objetivos de aprendizagem que dificultam o exercício indispensável de
vincular os propósitos do ensino de geografia na escola e a relação conteúdo-método,
com os critérios de eleição dos conteúdos essenciais a serem ensinados no atual
momento histórico. Ausência de clareza quanto ao papel dos temas e dos conteúdos nas
relações de ensino-aprendizagem e positiva principalmente o agronegócio e despolitizar
os conteúdos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde a década que o neoliberalismo se estabeleceu na economia política
brasileira, o seu objetivo foi transformar direitos em mercadoria, orientando a relação do
estado com a sociedade, a política econômica e as políticas educacionais. E a educação
por sua vez não ficou de fora dessa expansão com precarização das condições, que no
mínimo deveria ser feito e dar um padrão mínimo de trabalho e estudo para
funcionamento da BNCC nas escolas públicas do país. E sobre o ensino de geografia na
BNCC, não houve debate sobre o processo, mas sobre o conteúdo de geografia. A
Comissão de especialistas somente informou o seria trabalhado nas modificações da
proposta de geografia. 

Referências 

COUTO. Marcos Antônio Campos. Base Nacional Comum Curricular -


Bncc Componente Curricular: Geografia. Revista da Anpege, V.12, n.19, jul-dez, 2016,
p. 183-203.
NETO. Alfredo Viega. Crise da modernidade e inovações curriculares: da
disciplina para o controle. Sísifo, 2016.
LIBÂNEO, J. C. et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização.
10.ed. rev. e apl. São Paulo: Cortez, 2012.
ALMEIDA, Alberto Alexandre Lima; DAMASCENO, Maria Francinete. O
neoliberalismo e a educação brasileira: a qualidade total em questão. Universidade
UNG. Revista Educação. v.10, n.2. 2015

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