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Barco de Iaô
A iniciação pode ser de apenas um Iaô ou pode ser de muitos nesse caso
recebe o nome de "Barco de Iaô". Quando entra para fazer o santo sozinho
será chamado de Dofono (homem) ou Dofona (mulher), por ser o primeiro e
único.
No caso do barco o primeiro Iaô será chamado de Dofono, o segundo
dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho,
quinto de Gamo, sexto de Gamutinho, sétimo de Vimo, Oitavo de Vimutinho,
nono de Gremo, decimo Gremutinho, decimo primeiro de Caçula e daí por
diante, essa sequência de nomes são usadas na maioria das casas de
candomblé de cultura Jeje-nagô.
Já houve barcos com quinze Iaôs que se tem notícia, mas isso é muito raro,
pois implica muito trabalho e dedicação de muitas pessoas para cuidar dos
Iaôs, a maioria das casas recolhem no máximo três ou quatro. Existem Orixás
que não podem ser iniciados junto com outros nesse caso será recolhido
sozinho.
Iniciação
Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza que serão
apurados no jogo de búzios, e tomando banhos com folhas sagradas e abô, ficará recolhida
no roncó (quarto específico de recolhimento), próximo ao peji e será feita a primeira
obrigação que é o bori, no final dos três dias é suspenso o bori e passa para as fases
seguintes.
Em seguida começa a contar o período de 16 dias, aí tem início o longo aprendizado das
rezas, costumes, práticas, lendas, histórias e a iniciação propriamente dita, que consiste em
raspar a cabeça, fazer curas (pequenos cortes), assentamento do orixá, serão oferecidos
animais, comida ritual, flores e frutas.
Saída de Iaô
Segunda saída de Iaô, pintura colorida. No final tem a festa que é chamada de
"saída de iaô", essa festa é dividida em 4 partes: A primeira saída no barracão
é interna sem a presença do público, somente os membros da casa estarão
presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para nação,
uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.
Inicia-se o candomblé normalmente despachando o Padê (pode ser
despachado durante o dia também, depende da casa) e canta-se algumas
cantigas para cada um dos Orixás, enquanto isso os Iaôs estão sendo
preparados para a primeira saída no barracão de festas.
Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó (nome dado ao quarto onde
ficam recolhidos) para o barracão todo vestido de branco, essa saída é em
homenagem a Oxalá, trás na testa uma pena vermelha chamada Ekodidé e na
parte superior da cabeça o adoxu e pintado com efun, ele vem acompanhado
de sua mãe pequena, do Babalorixá ou Iyalorixá e todos que ajudaram na
feitura. Nessa saída o Iaô deverá saudar a porta, os atabaques o Axé do centro
do barracão onde estar o fundamento da casa e a Iyalorixá. Em seguida é
recolhido para mudar de roupa.
A segunda saída pública do Iaô no barracão as roupas são coloridas em
homenagem à todos os orixás e a pintura é feita com o pó azul wáji, branco
efun, e vermelho osùn. O Iaô sendo de oxalá ou determinados orixás funfuns
a roupa não pode ser colorida, predominando o branco, todavia a pintura
colorida seja relevante em quantidade discreta.
Momento mais esperado da iniciação (Orunkó)
Orunkó. Hora do nome do Iaô candomblé. A terceira saída do Iaô é a mais
esperada por todos da comunidade, nota-se um momento de tensão muito
grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada
iniciação, que pode ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem
feito ou não, com o grito triunfal do seu nome. Novamente o Iaô é trazido ao
ile axé, desta vez sem a pintura geral, só com uma pintura de wáji no centro
da cabeça (cuia de wáji) ou borilé (ritual feito com ejé do pombo branco) e
ornado com penas do mesmo. O Orixá dirá seu Orunkó para todos ouvirem,
nesse caso é escolhida uma pessoa (normalmente um Babalorixá ou Iyalorixá
de outra casa) presente para tomar o nome do Orixá, são feitas algumas
cerimônias onde a pessoa pergunta por três vezes o nome do Orixá e na
terceira ele grita em voz alta seu Orunkó para todos ouvirem. Depois do nome
dado o Iaô é recolhido novamente para trocar a roupa.
A quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e
ferramentas características de cada Orixá, para dançar e ser homenageado
por todos os presentes. No final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.
Ajeum ou Banquete
Banquete no ritual de candomblé. Quando é encerrado o candomblé todas as
filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do
banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Esse
banquete é composto de cabritos assados ou cozidos, galinhas, patos, pombos,
canjica, milho cozido, inhame, pipoca, acaçá, acarajé, toda comida ritual
servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não
permitem bebidas alcoólicas nesse caso é servido o Aluá, nas casas que
permitem é servido refrigerante e cerveja.
Algumas casas atualmente não servem comida de santo para os presentes,
dependendo das posses do iniciado poderá se contratar um Buffet para o
banquete onde serão servidos aos convidados todos os requintes contratados.
Porém a Iaô ainda não terminou as obrigações terá ainda que cumprir um
resguardo normalmente de três meses e continuar usando o kelê (uma
gargantilha de contas) que foi colocada em seu pescoço no início da feitura de
santo. Durante esses três meses o Iaô continuará dormindo numa esteira,
usará roupas brancas e seguir uma série de restrições denominada de ewo.
Terminado o período de quelê, é feita a retirada do mesmo e outra festa é feita
para comemorar a comumente chamada "caída de quelê".
É o período mais difícil para o Iaô que precisa voltar a trabalhar, muitos se
iniciam no período de férias do trabalho e quando termina as férias precisam
voltar para um ambiente onde sem dúvida será notado por todos,
discriminado por alguns e terá que se manter calado, terá muitos problemas
na hora das refeições, pois está proibido de entrar em bares e restaurantes,
terá que levar uma marmita e aceitar os olhares de curiosidade.
Algumas casas atualmente por esse motivo têm feito alguns acordos com os
Orixás para que o Iaô que precisa trabalhar já saia da roça sem o kelê, mas
terá que cumprir todos os itens do resguardo nos mínimos detalhes. Nesse
caso não precisará usar somente branco, poderá usar roupas de cores bem
claras como azul, rosa, beje, cinza, tudo para não chamar muito a atenção.
Existem casos de firmas que o uniforme é preto, marrom, azul marinho,
nesses casos o Orixá permite, não vai querer que seu filho perca o emprego.
Obrigação de um e três anos
Complexidade
Neste ritual complexo e exaustivo, tem início até mais de um ano retroativo,
pois é necessário a construção de um ile axé com a preparação devida de
onile, fundação de um peji e vários outros assentamentos de orixás, iniciação
ritual dos atabaques, Agogô, adjá etc.
Petrechos
Rumgebe.Afro brasileiro.candomblé.No dia propriamente dito da entrega do
Oyê, um grande cabaça denominada de igbá, também chamada de cuia de axé
é recheada com vários objetos sagrados, que o novo sacerdote vai utilizar
durante muito tempo de sua vida sacerdotal, até mesmo na sua ultima
obrigação chamada de axexê, contendo obi, orobô, aridan, ekodidé, navalha,
faca, tesoura, efun, limo da costa e o importante fio de conta mais cobiçado do
povo nagô o Humgebê.
Desfecho
Meridilogun.Sob o igbá encontra-se um opon merindilogun, "Peneira de
palha" ornada com búzio e palha da costa, onde está depositado o mais
precioso e poderoso instrumento de consulta aos Deuses africanos, chamado
de merindilogun. A entrega da cuia de axé geralmente é feita no barracão na
presença de todos presentes, logo em seguida o orixá do novo sacerdote
responde, confirmando à aceitação, todavia o mesmo é submetido a teste de
aprendizado tendo que jogar os búzios na presença dos sacerdotes mais
velhos, inclusive de outros terreiros.