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Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não no Candomblé, o

Babalorixá ou Iyalorixá consulta o jogo de búzios no merindilogun onde terá


as respostas. Essa é uma das formas de saber, a outra é quando uma pessoa
vai assistir uma festa de candomblé e entra em transe profundo, esse transe é
chamado de "Bolar no Santo" é a declaração em público do Orixá que quer a
iniciação de seu filho, nesse caso o babalorixá vai consultar o jogo de búzios
para saber qual é o Orixá e suas condições, se pode esperar ou se caso de
urgência. Normalmente são feitos acordos com os Orixás para que aguardem
até o filho ter condições financeiras e de férias para poder se recolher.
A primeira fase da iniciação ou feitura de santo na nação Ketu é de 21 dias,
onde a pessoa fica em retiro longe da vida profana e da família, devendo
desligar-se de tudo e dedicar-se totalmente aos ritos de passagem,
salientando-se que todo o ritual da iniciação não é público. Salientando
também que essa iniciação só pode ser feita por uma pessoa iniciada, segundo
as normas do candomblé só pode transmitir o Axé quem os recebeu de alguém
iniciado na obrigação de odu ejé.
Quanto ao fato da pessoa ser recolhida para ser Iaô, Ogan ou Ekedi, essa questão só é
resolvida durante a iniciação, se a pessoa entrar em transe será um Iaô elegun, se não
entrar em transe e for homem, será um Ogan, se for mulher será uma Ekedi.

Barco de Iaô
A iniciação pode ser de apenas um Iaô ou pode ser de muitos nesse caso
recebe o nome de "Barco de Iaô". Quando entra para fazer o santo sozinho
será chamado de Dofono (homem) ou Dofona (mulher), por ser o primeiro e
único.
No caso do barco o primeiro Iaô será chamado de Dofono, o segundo
dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho,
quinto de Gamo, sexto de Gamutinho, sétimo de Vimo, Oitavo de Vimutinho,
nono de Gremo, decimo Gremutinho, decimo primeiro de Caçula e daí por
diante, essa sequência de nomes são usadas na maioria das casas de
candomblé de cultura Jeje-nagô.
Já houve barcos com quinze Iaôs que se tem notícia, mas isso é muito raro,
pois implica muito trabalho e dedicação de muitas pessoas para cuidar dos
Iaôs, a maioria das casas recolhem no máximo três ou quatro. Existem Orixás
que não podem ser iniciados junto com outros nesse caso será recolhido
sozinho.
 Iniciação
Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza que serão
apurados no jogo de búzios, e tomando banhos com folhas sagradas e abô, ficará recolhida
no roncó (quarto específico de recolhimento), próximo ao peji e será feita a primeira
obrigação que é o bori, no final dos três dias é suspenso o bori e passa para as fases
seguintes.
Em seguida começa a contar o período de 16 dias, aí tem início o longo aprendizado das
rezas, costumes, práticas, lendas, histórias e a iniciação propriamente dita, que consiste em
raspar a cabeça, fazer curas (pequenos cortes), assentamento do orixá, serão oferecidos
animais, comida ritual, flores e frutas.
 Saída de Iaô
 
Segunda saída de Iaô, pintura colorida. No final tem a festa que é chamada de
"saída de iaô", essa festa é dividida em 4 partes: A primeira saída no barracão
é interna sem a presença do público, somente os membros da casa estarão
presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para nação,
uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.
Inicia-se o candomblé normalmente despachando o Padê (pode ser
despachado durante o dia também, depende da casa) e canta-se algumas
cantigas para cada um dos Orixás, enquanto isso os Iaôs estão sendo
preparados para a primeira saída no barracão de festas.
Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó (nome dado ao quarto onde
ficam recolhidos) para o barracão todo vestido de branco, essa saída é em
homenagem a Oxalá, trás na testa uma pena vermelha chamada Ekodidé e na
parte superior da cabeça o adoxu e pintado com efun, ele vem acompanhado
de sua mãe pequena, do Babalorixá ou Iyalorixá e todos que ajudaram na
feitura. Nessa saída o Iaô deverá saudar a porta, os atabaques o Axé do centro
do barracão onde estar o fundamento da casa e a Iyalorixá. Em seguida é
recolhido para mudar de roupa.
A segunda saída pública do Iaô no barracão as roupas são coloridas em
homenagem à todos os orixás e a pintura é feita com o pó azul wáji, branco
efun, e vermelho osùn. O Iaô sendo de oxalá ou determinados orixás funfuns
a roupa não pode ser colorida, predominando o branco, todavia a pintura
colorida seja relevante em quantidade discreta.
 Momento mais esperado da iniciação (Orunkó)

 
Orunkó. Hora do nome do Iaô candomblé. A terceira saída do Iaô é a mais
esperada por todos da comunidade, nota-se um momento de tensão muito
grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada
iniciação, que pode ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem
feito ou não, com o grito triunfal do seu nome. Novamente o Iaô é trazido ao
ile axé, desta vez sem a pintura geral, só com uma pintura de wáji no centro
da cabeça (cuia de wáji) ou borilé (ritual feito com ejé do pombo branco) e
ornado com penas do mesmo. O Orixá dirá seu Orunkó para todos ouvirem,
nesse caso é escolhida uma pessoa (normalmente um Babalorixá ou Iyalorixá
de outra casa) presente para tomar o nome do Orixá, são feitas algumas
cerimônias onde a pessoa pergunta por três vezes o nome do Orixá e na
terceira ele grita em voz alta seu Orunkó para todos ouvirem. Depois do nome
dado o Iaô é recolhido novamente para trocar a roupa.
A quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e
ferramentas características de cada Orixá, para dançar e ser homenageado
por todos os presentes. No final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.

 Ajeum ou Banquete
 
Banquete no ritual de candomblé. Quando é encerrado o candomblé todas as
filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do
banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Esse
banquete é composto de cabritos assados ou cozidos, galinhas, patos, pombos,
canjica, milho cozido, inhame, pipoca, acaçá, acarajé, toda comida ritual
servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não
permitem bebidas alcoólicas nesse caso é servido o Aluá, nas casas que
permitem é servido refrigerante e cerveja.
Algumas casas atualmente não servem comida de santo para os presentes,
dependendo das posses do iniciado poderá se contratar um Buffet para o
banquete onde serão servidos aos convidados todos os requintes contratados.

Seguimento da iniciação chamado Urupim.


No mesmo dia ou não, dependendo do costume da casa, as luzes elétricas são
desligadas, e inúmeras velas são acesas, ouve-se um cântico tristonho como
nos rituais fúnebres axexê, o Iaô cercado dos mais velhos, Iyaefun, Iyadagan,
iyamorô, Iyabassê Iyakekerê e puxada pelo Babalorixá ou Iyalorixá é trazido
do peji ao ile axé com um alguidá ou balaio coberto com pano branco e ornado
com flores brancas e mariwô, contendo inumeros objetos, comida ritual e o
cabelo rapado no inicio da obrigação. Este ritual é denominado pelo povo do
santo de carrego de urupim e pode ser assistido por alguns membros da
comunidade, mas não chega a ser uma festa pública, fechando um ciclo do
rito de passagem de abiã "não nascido" para iaô "noviço ou recém nascido".
Passada a festa o Iaô ficará mais uns dias na roça dependendo do jogo de
búzios e a confirmação no merindilogun, depois será levado para sua casa
pela Iyalorixá que a entregará a sua família.
 Ritual do Panã.
O iaô ainda desorientado devido ao longo período de transe e clausura, com
os movimentos ainda trôpegos, recebe orientação do seu Babalorixa ou
Yalorixa para executar as tarefas que serão usadas em seu dia a dia, tais como
varrer, costurar, lavar, passar, sentar-se à mesa, cozinhar, etc. Numa
dramatização muito divertida onde todos da comunidade tem um grande
prazer de participar, rindo e até mesmo ajudando o novo iniciado. O ritual de
apanã tem a finalidade de fazer com que o noviço reaprenda as atividades do
mundo profano e cotidiano, para que nada lhe seja prejudicial no futuro e
também entenda que já é hora de voltar à sua vida normal, apesar de
aproveitar mais um pequeno período do seu mundo sobrenatural,
estabelecendo neste momento o ewo temporário ou permanente, que o noviço
terá a responsabilidade de obedecer, finalizando este ritual com outro rito
chamado Kàrô (juramento feito diante do obi e uma quartinha).
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Caída de kelê

Porém a Iaô ainda não terminou as obrigações terá ainda que cumprir um
resguardo normalmente de três meses e continuar usando o kelê (uma
gargantilha de contas) que foi colocada em seu pescoço no início da feitura de
santo. Durante esses três meses o Iaô continuará dormindo numa esteira,
usará roupas brancas e seguir uma série de restrições denominada de ewo.
Terminado o período de quelê, é feita a retirada do mesmo e outra festa é feita
para comemorar a comumente chamada "caída de quelê".
É o período mais difícil para o Iaô que precisa voltar a trabalhar, muitos se
iniciam no período de férias do trabalho e quando termina as férias precisam
voltar para um ambiente onde sem dúvida será notado por todos,
discriminado por alguns e terá que se manter calado, terá muitos problemas
na hora das refeições, pois está proibido de entrar em bares e restaurantes,
terá que levar uma marmita e aceitar os olhares de curiosidade.
Algumas casas atualmente por esse motivo têm feito alguns acordos com os
Orixás para que o Iaô que precisa trabalhar já saia da roça sem o kelê, mas
terá que cumprir todos os itens do resguardo nos mínimos detalhes. Nesse
caso não precisará usar somente branco, poderá usar roupas de cores bem
claras como azul, rosa, beje, cinza, tudo para não chamar muito a atenção.
Existem casos de firmas que o uniforme é preto, marrom, azul marinho,
nesses casos o Orixá permite, não vai querer que seu filho perca o emprego.
Obrigação de um e três anos

Até fazer um ano de feitura ou pagar sua obrigação de um ano (odú


Kíní), ainda terá algumas restrições (ewo temporário. como cortar cabelo,
tomar banho mar e outros. Será feita a obrigação de um ano de feitura, uma
nova festa para comemorar a data onde serão oferecidos comida ritual, frutas
e flores.
Outra obrigação é feita aos três anos de feitura (odú kétà), algumas casas ou
nações fazem também uma de cinco anos, mas no candomblé ketu considera-
se um ano, três e sete anos. Ele ou ela permanecerá como Iaô até completar os
sete anos de feitura e fazer a obrigação de sete anos (odu ejé).
 Obrigação de sete anos (odu ejé)
Só quando fizer a obrigação de sete anos Odu ejé é que será considerado um
Egbomi.
A obrigação de sete anos é tão grande e importante quanto a feitura, nessa
obrigação é que será definido se o Egbomi irá abrir uma casa ou não. A
Iyalorixá entregará para o Egbomi no ato da festa seus pertences (jogo de
búzios, pembas, favas, sementes, tesoura, navalha, tudo que vai precisar para
iniciar Iaôs) no Ketu é chamdo Odu Ijê com Oyê, em outras nações é chamado
de Deká, Peneira, Cuia, etc.
Caso o Orixá da pessoa não queira abrir uma casa e queira continuar na roça
da Iyalorixá, o Orixá depositará os objetos recebidos nos pés da Iyalorixá e
sua filha não abrirá uma casa, continuará na roça onde normalmente
receberá um posto para ajudar a Iyalorixá.
Quando o Orixá aceita a Egbomi receberá todas as homenagens dos presentes
pois está sendo consagrada como uma nova Iyalorixá se for homem
Babalorixá. Nesse caso terá que providenciar uma casa para onde será levado
seu Orixá e iniciar um novo Ile axé.
Odu ejé, orò odún kéje ou odum ejé são nomes pertinentes a obrigação de sete
anos, que pode ocorrer a partir dos sete anos de feitura de santo de um
elegun, iaô ou outro iniciado, desde que estes tenham pago suas obrigações de
um (1) ano odú Kíní e três anos odú kétà.
Esta obrigação é uma das mais significativas e impotantes na vida de um
iniciado, pelo fato de marcar um novo ciclo, adquirindo posição ou statos na
hierarquia familiar do candomblé, pois é um rito de passagem de iaô para
ebonmi.
Dependendo do espírito de iniciativa, liderança e aptidão, que esta pessoa
tenha no ciclo de convivência do povo do santo, pode ser pronunciada a
comunidade, pelo seu babalorixá ou iyalorixá a continuar no ile axé de
iniciação, agora como sacerdote ou sacerdotisa, ocupando cargos como
iamorô, iyalaxé, sarapembê, iyaefun etc. Ordinariamente se ouve dizer que
"fulano de tal" recebeu o cargo na obrigação de sete anos.
Neste sagrado ritual, o novo ebonme estará apto também a tornar-se um
Babalorixá ou Iyalorixá para fundar o seu próprio ile axe, dependendo da
confirmação no jogo de merindilogun consultado previamente. Daí a
obrigação de odu ejé é programado e feito com outro ritual chamado de Oyê.

Oyê, oyè ou ipò. (Deka) cargo de santo ou Àwon Ipò Òrìsà.


Oyê, oyè ou ipò são nomes consernentes a um tipo de cargo especifico na
cultura Jeje-Nagô, outorgado por um sacerdote do candomblé, babalorixá ou
iyalorixá a um elegun, geralmente na obrigação ou depois do odu ejé.
Igualmente chamado de Àwon Ipò Òrìsà e Deka no candomblé de angola .

 Complexidade
Neste ritual complexo e exaustivo, tem início até mais de um ano retroativo,
pois é necessário a construção de um ile axé com a preparação devida de
onile, fundação de um peji e vários outros assentamentos de orixás, iniciação
ritual dos atabaques, Agogô, adjá etc.
Petrechos
 
Rumgebe.Afro brasileiro.candomblé.No dia propriamente dito da entrega do
Oyê, um grande cabaça denominada de igbá, também chamada de cuia de axé
é recheada com vários objetos sagrados, que o novo sacerdote vai utilizar
durante muito tempo de sua vida sacerdotal, até mesmo na sua ultima
obrigação chamada de axexê, contendo obi, orobô, aridan, ekodidé, navalha,
faca, tesoura, efun, limo da costa e o importante fio de conta mais cobiçado do
povo nagô o Humgebê.
 Desfecho
 
Meridilogun.Sob o igbá encontra-se um opon merindilogun, "Peneira de
palha" ornada com búzio e palha da costa, onde está depositado o mais
precioso e poderoso instrumento de consulta aos Deuses africanos, chamado
de merindilogun. A entrega da cuia de axé geralmente é feita no barracão na
presença de todos presentes, logo em seguida o orixá do novo sacerdote
responde, confirmando à aceitação, todavia o mesmo é submetido a teste de
aprendizado tendo que jogar os búzios na presença dos sacerdotes mais
velhos, inclusive de outros terreiros.

Iniciação ou confirmação de Ogans e Ekedis.


Para os cargos ou postos de Ogan e Ekedi normalmente são pessoas
escolhidas pela Iyalorixá ou por algum Orixá da casa, serão pessoas de sua
inteira confiança, pois ficarão com a responsabilidade de zelar da casa e da
festa enquanto a iyalorixá estiver em transe.
Uma vez que não entram em transe, Ogans e Ekedis passam por todos os
preceitos que passam os Iaôs inicialmente e até um determinado momento,
mas durante o desenrolar da obrigação constatado que não entrará em
transe, é confirmado através do jogo de búzios no merindilogun o Orixá que
trará o Orunkó do Ogan ou da Ekedi na festa.
Se foi escolhido pelo Orixá da Iyalorixá ou Babalorixá ou pelo Orixá de uma
das Egbomis da casa, o Orixá que o escolheu é que sairá no barracão
acompanhando o iniciado. Nesse caso a festa não terá tantas saídas como as
saídas de Iaô. Mas no final terá o mesmo banquete de confraternização entre
todos presentes.
Quanto ao resguardo e ewo também não será igual ao do Iaô, será de acordo
com o jogo de búzios, mas geralmente é de 21 dias de Quelê e normalmente
cumpridos na roça, no caso de impossibilidade por motivo de trabalho, sai de
manhã para trabalhar e vem dormir na roça até terminar o período de Quelê.

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