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AS CONTRIBUIÇÕES DO MÉTODO TEACCH PARA O DESEMPENHO DE ATIVIDADES DE VIDA

DIÁRIA DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

THE CONTRIBUTIONS OF THE TEACCH METHOD TO THE PERFORMANCE OF ACTIVITIES OF


DAILY LIVING IN CHILDREN WITH AUTISM SPECTRUM DISORDER

LAS CONTRIBUCIONES DEL MÉTODO TEACCH AL DESEMPEÑO DE LAS ACTIVIDADES DE LA


VIDA DIARIA EN NIÑOS CON TRASTORNO DEL ESPECTRO AUTISTA

RESUMO

Introdução: O Transtorno do Espectro Autista é uma condição que tem como característica atraso
global no desenvolvimento que se manifesta na primeira infância. É de extrema importância analisar a
maneira como as crianças com Transtorno do Espectro Autista executam suas Atividades de Vida
Diária, principalmente aquelas relacionadas ao autocuidado. O profissional de Terapia Ocupacional tem
a possibilidade de intervir com a criança com Transtorno do Espectro Autista e ajuda-las em suas
Atividades de Vida Diária, por meio do Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Limitações
relacionadas à Comunicação. Objetivo: Analisar os estudos sobre as contribuições do método
Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Limitações relacionadas à Comunicação utilizado
pela Terapia Ocupacional no treinamento de Atividades de Vida Diária para crianças com Transtorno do
Espectro Autista. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo revisão narrativa da literatura.
Resultados: Os estudos encontrados identificaram as diferentes potencialidades e limitações no
desempenho funcional da rotina diária de uma criança com Transtorno do Espectro Autista, assim
como também, os estudos ressaltam que a moldura Tratamento e Educação para Autistas e Crianças
com Limitações relacionadas à Comunicação se faz benéfica e eficaz na melhora das habilidades
comunicativas e sociais das mesmas. Conclusão: O estudo contribuiu para compreensão dos
principais fatores que influenciam o desempenho das Atividades de Vida Diária, reforçando que a
comunicação social é um dos fatores de maior relevância. Com isso, a estratégia do método
Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Limitações relacionadas à Comunicação se
mostra adequada, pois por meio dela consegue-se obter resultados valiosos no desempenho das
Atividades de Vida Diária, nas intervenções terapêuticas ocupacionais, na qualidade de vida das
crianças com Transtorno do Espectro Autista e de seus familiares.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Atividades cotidianas. Terapia Ocupacional.

ABSTRACT

Introduction: The Autistic Spectrum Disorder is a condition characterized by global developmental


delay that manifests itself in early childhood. It is extremely important to analyze how children with
Autistic Spectrum Disorder perform their Activities of Daily Living, especially those related to self-care.
The Occupational Therapist has the possibility to intervene with the child with Autistic Spectrum
Disorder and help them in their Daily Life Activities, through Treatment and Education for Autistic and
Children with Communication Limitations. Objective: To analyze the studies on the contributions of
the method Treatment and Education for Autistic and Children with Communication Limitations used by
Occupational Therapy in the training of Activities of Daily Living for children with Autistic Spectrum
Disorder. Method: This is a qualitative research of the narrative literature review type. Results: The
studies found identified the different potentialities and limitations in the functional performance of the
daily routine of a child with Autistic Spectrum Disorder, as well as, the studies highlight that the frame
Treatment and Education for Autistic and Children with Communication-Related Limitations is made
beneficial and effective in improving their communicative and social skills. Conclusion: The study
contributed to the understanding of the main factors that influence the performance of the Activities of
Daily Living, reinforcing that social communication is one of the most relevant factors. Thus, the
strategy of the Treatment and Education for Autistic Children and Children with Communication
Limitations method is appropriate, because through it we can obtain valuable results in the
performance of Activities of Daily Living, in occupational therapeutic interventions, and in the quality of
life of children with Autistic Spectrum Disorder and their families.

Keywords: Autistic Spectrum Disorder. Activities of daily living. Occupational Therapy.

RESUMEN

Introducción: El Trastorno del Espectro Autista es una enfermedad que tiene como característica un
retraso global del desarrollo que se manifiesta en la primera infancia. Es extremadamente importante
analizar cómo los niños con Trastorno del Espectro Autista realizan sus Actividades de la Vida Diaria,
especialmente las relacionadas con el autocuidado. El profesional de Terapia Ocupacional tiene la
posibilidad de intervenir con el niño con Trastorno del Espectro Autista y ayudarle en sus Actividades
de la Vida Diaria, a través del Tratamiento y Educación para Autistas y Niños con Limitaciones en la
Comunicación. Objetivo: Analizar los estudios sobre las aportaciones del método Tratamiento y
Educación para Autistas y Niños con Limitaciones en la Comunicación utilizado por la Terapia
Ocupacional en el entrenamiento de las Actividades de la Vida Diaria para niños con Trastorno del
Espectro Autista. Método: Se trata de una investigación cualitativa de tipo revisión narrativa de la
literatura. Resultados: Los estudios encontrados identificaron las diferentes potencialidades y
limitaciones en el desempeño funcional de la rutina diaria de un niño con Trastorno del Espectro
Autista, así como, los estudios destacan que el marco Tratamiento y Educación para Autistas y Niños
con Limitaciones Relacionadas con la Comunicación es beneficioso y eficaz en la mejora de sus
habilidades comunicativas y sociales. Conclusión: El estudio contribuyó a la comprensión de los
principales factores que influyen en la realización de las Actividades de la Vida Diaria, reforzando que la
comunicación social es uno de los factores más relevantes. Por lo tanto, la estrategia del método de
Tratamiento y Educación para Niños Autistas y Niños con Limitaciones en la Comunicación es
apropiada, porque puede lograr resultados valiosos en el desempeño de las Actividades de la Vida
Diaria, en las intervenciones terapéuticas ocupacionales y en la calidad de vida de los niños con
Trastorno del Espectro Autista y sus familias.

Palabras clave: Trastorno del espectro autista. Actividades de la vida diaria. Terapia Ocupacional.
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1 INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um Transtorno global do desenvolvimento que tem como
característica, atraso no desenvolvimento que se manifesta na primeira infância, antes dos três anos de
idade. Apresenta uma desordem característica no funcionamento de três áreas: comportamento
repetitivo e focalizado, interações sociais e comunicação. Percebe-se também outras manifestações
como estereotipias, distúrbios do sono, crises de birra e autoagressividade, seletividade alimentar, que
crianças com TEA podem vir a ter, que dificultam o convívio social
(Leal, & Gradim & Souza, 2017).
O TEA é identificado por meio de avaliações comportamentais, pois verifica-se no indivíduo
características de déficits na comunicação social, no processamento sensorial, na interação, nos níveis
de atenção e coordenação motora, com a presença de complicações no desempenho e realização de
atividades básicas. Em contrapartida, geralmente, os casos de autismo variam de intensidade em suas
diversas características (Carvalho-Filha Et Al., 2018).
Atualmente, este transtorno do desenvolvimento mostra-se predominante e observou-se um
aumento de 15 % relacionado aos dados de prevalência de casos de crianças com TEA nos
EUA se comparado com os dados anteriormente referentes ao
ano de 2014 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA, (CDC) (Almeida,
2020). De acordo com os dados de 2022, 1 em cada 30 crianças com idade entre 3 a 17 anos estão
incluídos no Espectro do Autismo, com isso sendo de muita relevância pesquisas na área de
desempenho funcional dessas crianças (Júnior, 2022).
Sabe-se que as crianças com TEA possuem dificuldades de planejar, organizar e encarar mudanças,
nesse sentido terminam por causar consequências negativas em seu desenvolvimento, independência e
autonomia das ocupações, assim como também na aquisição de habilidades de desempenho, e o cuidador
tem papel essencial no desenvolvimento dessa criança (Almeida, 2020).
A capacidade de autonomia e independência na realização de Atividade de Vida Diária (AVD) é o
marco mais importante no desenvolvimento infantil, pois é essencial para que a criança tenha melhorias
nas competências nas esferas sociais mais amplas. Neste sentido, não é diferente para crianças com TEA,
mesmo que elas tenham dificuldades para elaborar e executar essas ações, suas competências, precisam
ser estimuladas (Penteado, 2020).
Dentre os profissionais que atuam com este público em específico, se encontra o profissional de
Terapia Ocupacional, que no qual é capacitado em analisar e observar as habilidades de desempenho e
compreender a relação de fatores fundamentais que alteram a ocupação envolvida com o desempenho
ocupacional das crianças (Leal, & Gradim & Souza, 2017). Nesse sentido, dentre as possibilidades de
atuação do terapeuta ocupacional com pessoas diagnosticadas com TEA, existem diferentes formas e
abordagens de intervenção, uma delas está centrada na intervenção pelo método TEACCH.
Optou-se, portanto, por investigar o método TEACCH, sendo este umas das estratégias promissoras
para o tratamento e organização dessas crianças. A moldura TEACCH, possibilita um atendimento
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estruturado que beneficia a criança de maneira individual, objetivando uma melhor qualidade de vida em
diferentes contextos sendo eles familiares e sociais. Em contrapartida, neste método, a participação dos
pais é de fundamental importância, para auxiliar no tratamento, observar e analisar a criança em
diferentes ambientes e estímulos (Moares, 2018).
Em vista disso, acredita-se que o método TEACCH é uma abordagem eficaz, por ser um modelo de
intervenção organizado e estruturado que pode proporcionar uma aprendizagem mais acelerada, como
também pode ser aplicado no treinamento de AVD. Desta forma, este trabalho tem como objetivo expor
com dados e detalhes as contribuições positivas da abordagem TEACCH para o ensino de habilidades de
autocuidado para crianças com TEA.
Ademais, acredita-se que a pesquisa possibilitará novos conhecimentos a respeito da intervenção,
pois observa-se poucas publicações acadêmicas sobre o assunto. Assim essa pesquisa aumentará as
evidencias cientificas, aos profissionais de terapia ocupacional no tratamento de crianças com TEA, assim
como também essas informações ajudaram as próprias crianças e seus familiares.
A pesquisa tem como objetivo descrever as contribuições do método TEACCH utilizado pela Terapia
Ocupacional no treinamento de Atividades de Vida Diária (AVD) para crianças com TEA.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo revisão narrativa da literatura. A presente revisão
narrativa teve como questões norteadoras: quais as contribuições da utilização do método TEACCH
para a Terapia Ocupacional no treinamento de Atividades de Vida Diária (AVD) para crianças com TEA.
Bem como esclarecer quais são as principais repercussões na vida da criança ao ter acesso ao ensino
estruturado e organizado do método.
Neste sentido, foi realizado um levantamento bibliográfico no período entre agosto de 2021 a
novembro de 2022. Para a seleção de produções foi realizada pesquisa bibliográfica, por meio de
artigos e trabalhos acadêmicos publicados em língua portuguesa nas seguintes bases de dados
selecionadas na Biblioteca Eletrônica Científica Online (Scielo), Revista Interinstitucional Brasileira de
Terapia Ocupacional (RevisbraTO), Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a
elaboração da estratégia de busca, serão utilizados três descritores extraídos dos Descritores em
Ciência da Saúde (DeCS), sendo estes: Terapia Ocupacional, Transtorno do Espectro do Autismo e
Atividades cotidianas. Serão selecionados estudos empíricos publicados em língua portuguesa e que
estejam inseridos no escopo da pesquisa. Foram excluídos estudos teóricos e em língua estrangeira.

3 RESULTADOS

Com intuito de sistematizar os dados da pesquisa, os artigos selecionados foram retratados e


organizados no quadro a baixo, apresentando informações sobre o título, autores, ano e o tipo de
pesquisa.
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Quadro 1 – Apresentação dos principais dados extraídos nos artigos selecionados

ARTIGOS TÍTULO AUTORES ANO TIPO

A1 O método TEACCH e suas Cunha, E. & Lira, M. 2021. Artigo


técnicas para o desenvolvimento
das habilidades comunicativas
em estudantes autistas.

A2 Evidências de diagnóstico Fernandes, C. S. & 2018. Artigo


diferencial entre Transtorno do Fichman, H. C. &
Espectro Autista (TEA) e Barros, P. S.
Transtorno do desenvolvimento
intelectual (TDI): análise de
casos.

A3 Criança com transtorno do Mapelli, L. D., et al. 2018 Artigo


espectro autista: cuidado na
perspectiva familiar

A4 Habilidades de vida diária e Penteado, L. A. 2020 Monografia


autismo: revisão de literatura.

A5 AMERICAN OCCUPATIONAL 2015 Documento.


THERAPY ASSOCIATION.
Estrutura da prática da Terapia
Ocupacional: domínio &
processo-traduzida

A6 Terapia Ocupacional. Finger, J. A. O. 1986 Livro.

A7 A intervenção da terapia Zampieron, A. A. & 2016 Artigo.


ocupacional na doença de Almeida, F. C. &
Parkinson. Gasparini, G. C.

A8 Análise das intervenções de Guerzoni, V. P. D. 2021 Artigo.


terapia ocupacional no et Al.
desempenho das atividades de
vida diária em crianças com
paralisia cerebral: uma revisão
sistemática da literatura.

A9 Manual para vigilância do Figueiras, A. C. et 2005 Documento


desenvolvimento infantil no
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contexto da AIDPI. Al.

A10 Sobre a criança e seu processo El-Khatib, U. 1996 Artigo


de desenvolvimento.

A11 Avaliação e gerenciamento das Christiansen, C. H. 2002 Livro.


necessidades de cuidados & Ottenbacher, K. J.
pessoais diários

A12 Ocupação e Desenvolvimento: Humphry, R. 2011 Livro.


Uma Perspectiva Contextual.

A13 A prática do ensino estruturado Bastos, R. P. & 2019 Artigo


no modelo TEACCH face à Souza, D. C.
inclusão escolar do educando
com TEA

A14 Inclusão de crianças com Pascoal, C. S. G. 2017 Tese de


perturbações do espectro do doutorado.
autismo que usufruem de
metodologia TEACCH.

A15 Influência dos métodos de COSTA, G. C. P. et 2021 Artigo.


ensino pecs e teacch sobre o Al.
desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças
com transtorno do espectro
autista.

A16 A terapia ocupacional e o Rolim, C. S. & Ayres 2016 Artigo


método TEACCH no tratamento De Souza, L. S. &
do portador de autismo. Gasparini, G. C.

Fonte: Elaborado pelos autores (2022)

Desse modo, a partir da análise dos artigos selecionados buscou-se investigar quais as
contribuições do método TEACCH para o ensino de habilidades de autocuidado para crianças com TEA.
Neste sentido os 16 artigos selecionados, contemplam em detalhes a temática proposta.
Os estudos encontrados identificaram as diferentes potencialidades e limitações no desempenho
funcional da rotina diária que uma criança com TEA, pode vir a ter, assim como também, os estudos
ressaltam que a moldura TEACCH se faz benéfica e eficaz na melhora das habilidades comunicativas e
sociais da criança.
Portanto, a partir da leitura e da análise dos artigos, elaboraram-se três categorias que abordam
os principais pontos desenvolvidos por este estudo: Diagnósticos e as dificuldades das crianças com
Transtorno do Espectro Autista; Atividades de Vida Diária (AVD); Método de Tratamento e Educação
para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação (TEACCH).
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3.1 Diagnósticos e as dificuldades das crianças com transtorno do espectro autista


O Transtorno do Espectro Autista apresenta-se como uma síndrome comportamental que engloba
uma tríade de sintomas, sendo eles: padrões restritos e repetitivos, déficits na comunicação verbal e\
ou não verbal e déficits na interação social, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V) (Cunha & Lima, 2021). Sendo assim, logo após o entendimento desta
tríade, observa-se que as dificuldades na comunicação de crianças com TEA, interferem no
desenvolvimento de capacidades de conhecimentos, seja eles na esfera escolar como também social,
pois é necessário que o indivíduo entenda informações transmitidas implícita ou explicitamente (Cunha
& Lima, 2021).
De acordo com Fernandes, Fichman & Barros (2018) para o diagnóstico de TEA a cognição e o
aparecimento de manifestações significativas de comportamento são os aspectos mais observados. De
forma assertiva, observa-se no TEA: inadequação de comunicação e interação social, alterações em
Teoria da Mente (ToM) e inflexibilidade comportamental (interesses restritos, variação de rotina e
padrões repetitivos). As crianças têm dificuldades nos aspectos de perfil neuropsicológico, como
funções executivas, rigidez cognitiva e processos de regulação própria, a chamada memória de
trabalho.
São várias as repercussões na vida da criança com TEA, algumas delas que integram evidencias
do diagnóstico são consideradas pouco toleradas e estão relacionadas ao desconforto na presença de
barulhos intensos em espaço de convívio social e mudanças na rotina. Neste sentido, destacam-se
também aqueles relacionados à alimentação, pois está presente desde a amamentação no cuidado das
mães com o bebê, e este ato de se alimentar é destacado como sendo um marco importante nas fases
de crescimento (Mapelli et al., 2018).
A família desempenha um papel fundamental no diagnóstico também, pois a trajetória
diagnóstica da criança depende da interação com a família. E esta interação próxima com a criança
permite a percepção de comportamentos incomuns, em certos momentos agressivos, quando
contrariada, e por opiniões diferentes de pessoas do seu entorno social. A dificuldade de interação
social da criança com TEA é notável, pois geralmente emitimos símbolos de maneira intencional como
forma de se comunicar, e falta destes símbolos na comunicação, direciona o olhar do familiar
paracriança com TEA e facilita o diagnóstico (Mapelli et al., 2018).
O diagnóstico de TEA causa repercussões no convívio social da família ao qual a criança está
inserida. O isolamento social da família é constante, isso ocorre devido a várias situações: adequação
de medicamentos, reação positiva face às dificuldades no funcionamento da família, o temor do novo,
ligado ao preconceito, a insegurança e a fase de descoberta da doença (Mapelli et al., 2018).
Ademais, segundo Cunha & Lima (2021), a criança que tem TEA, necessita de uma compreensão
e aprendizagem diferenciada, pois apresenta uma mente distinta dos demais. Com isso, é essencial
uma metodologia de tratamento também diferenciada e distinta, exigindo profissionais que
compreendam a divergência do processo de aprendizagem desses indivíduos. As estratégias serão
definitivamente adequadas à realidade das crianças com TEA quando o profissional entender as
especificidades desses transtornos, assim, ele poderá “trabalhar” buscando o desenvolvimento
necessário e possível, respeitando os limites e potencialidades de cada criança.
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Além da tríade de sintomas do TEA, esses indivíduos possuem características bem particulares
que, ao entendê-las, poderão conduzir o profissional que muitas vezes se sente desamparado. Esses
déficits na cognição o farão compreender as dificuldades e com isso ajustar a metodologia aplicada a
criança com TEA (Cunha & Lima, 2021).

3.2 Atividades de vida diária (AVD) da pessoa com TEA


De acordo com Penteado (2020), as AVD são atividades voltadas para o autocuidado, sendo
essas de extrema importância para viver no mundo social, permitindo a sobrevivência básica e o bem-
estar. Podemos citar como AVD as atividades como banho, uso do vaso sanitário e higiene intima,
vestir, deglutir/comer, alimentação, mobilidade funcional, cuidado com equipamentos pessoais, higiene
pessoal e cuidados com cabelo, corpo, pelos, unhas e dentes e atividade sexual (AOTA, 2015).
Para que as AVD sejam realizadas, precisamos ter habilidades de desempenho necessárias para
executar essas tarefas. Habilidades de desempenho são definidas como o desenvolvimento de ações
necessárias para alcançar objetivos finais de atividades que compões as ocupações da vida diária. Elas
são aprendidas e desenvolvidas ao longo do tempo e estão situadas em contextos e ambientes
específicos que categorizam as habilidades de desempenho como habilidades motoras, habilidades de
processos e habilidades de interação social (AOTA, 2015).
Segundo a resolução do COFFITO, nº 316, de 19 de julho de 2006, é de competência exclusiva
no âmbito de atuação do profissional de Terapia Ocupacional, elaborar programas terapêuticos
ocupacionais, avaliar as diferentes habilidades funcionais dos indivíduos e realizar o treinamento de
Atividade de Vida Diária (AVD) e Atividades Instrumentas de Vida Diária (AIVD) para áreas
comprometidas.
De acordo com Finger (1986) devido as atividades da vida diária serem consideradas aspectos
exclusivos de responsabilidades da terapia ocupacional, estes profissionais tem por objetivo
proporcionar ao indivíduo com algum tipo de deficiência uma vida menos dependente, e estimula-lo a
alcançar o nível máximo de independência tanto nas atividades relacionadas aos cuidados consigo
mesmo como também de sua vida doméstica e social.
De acordo com Zampierom (2016) o papel da Terapia Ocupacional no ambiente domiciliar, vida,
realizar modificações, que possam favorecer maior autonomia ao paciente. As condutas que
comumente são enfatizadas no ambiente domiciliar estão relacionadas com mobiliários e modificações
que proporcionem maior segurança e comodidade ao paciente.
a) Alimentação: o Terapeuta Ocupacional deverá analisar os utensílios de cozinha assim como as
habilidades que são necessárias para manusear talheres e outros utensílios, além das habilidades que
o usuário já possuí e quais precisarão ser desenvolvidas. Ainda, o terapeuta poderá e adequar os
utensílios à necessidade do paciente (Zampierom, 2016).
b) Higiene: Segundo Zampierom (2016) Além dos treinamentos para execução das atividades,
muitas adequações podem ser realizadas a fim de favorecer maior independência no auto cuidado.
Fixador ou engrossadores nos cabos da escova de cabelo e de dente, deverão ser introduzidos, se for
necessário. Ao usar a pia do banheiro, o paciente poderá fazer uso de bancos, para facilitar a higiene.
Por fim, poderá ser colocado programadores visuais para auxiliar na memorização dos encadeamentos.
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c) Vestuário - as roupas e calçados deverão ser adequados para proporcionar maior


independência ao paciente. Deve-se escolher sapatos fáceis de calçar, que contenham velcro para
facilitar o manuseio, enquanto a criança não alcançar a independência mediante a treinamento. Os
botões das roupas, devem ser treinadas, levando em consideração suas aptidões manuais, além disso
poderá utilizar-se um adaptador para abotoar para facilitar o alcance da independência da criança.
Algumas adaptações para colocação de meias, também poderão ser introduzidas. É importante que o
paciente execute esta atividade o mais independente possível, pois se trata de um bom exercício, e
também favorecerá, para aumentar sua autoestima. Deve-se sempre levar em conta, o tempo, o
alcance e as etapas para facilitarem o manuseio das atividades da vida diária. O paciente deverá ser
conscientizado do seu limite e buscar, aprimorar a cada dia as suas ações, assim levará uma vida mais
agradável e produtiva. (Zampierom, 2016).
As Atividades de Vida Diária (AVD) que fazem parte do cotidiano infantil incluem tarefas de
automanutenção e comunicação. O desempenho de tais atividades é importante para que a criança
seja capaz de satisfazer suas necessidades básicas, garantindo-lhe maior independência e participação
em seu ambiente domiciliar (Guerzoni et al., 2008).
A atenção às necessidades básicas e a conquista de uma vida com independência desde os
primeiros anos de vida são aspectos fundamentais ao desenvolvimento humano (Figueiras & Souza &
Rios, 2005). Nessa perspectiva, por mais rica que seja a herança genética que a criança receba de
seus pais, a vivência segura e gradual de uma maior autonomia na vida diária em relação ao cuidador
primário, a influência do meio social e a história emocional da criança são determinantes no modo
como as pessoas se desenvolvem.
Conhecer estes e outros aspectos do desenvolvimento da criança é condição necessária para todo
aquele que busca acompanhá-la em suas atividades diárias poder intervir com competência. Para El-
Khatib (1996), essa é a condição para que o desenvolvimento se realize de forma tão plena quanto for
possível, mesmo em crianças que apresentam limitações para uma vida com liberdade de movimentos
e maior autonomia nas tarefas da vida diária.
A importância da independência na rotina diária para o desenvolvimento integral da criança
torna-se primordial. À medida que a criança adquire independência nas atividades próprias do
cotidiano, supõe-se que seja capaz de participar em áreas sociais mais amplas com ou até sem
acompanhantes, vivenciando privilégios pessoais e sociais dessas situações (Christiansen &
Ottenbacher, 2002).
Segundo a American Occupational Therapy Association, o termo que melhor expressa a extensão
das atividades que fazem parte da vida cotidiana é ‘ocupação’. O termo definido refere-se a [...] tudo
que as pessoas fazem para ocupar-se, incluindo cuidar de si mesmo, aproveitar a vida, e contribuir
para a fábrica social e econômica de suas comunidades (American..., 2008, P. 629).
Para Penteado (2020) a criança apresenta esse desempenho ocupacional através do aprendizado
das habilidades de desempenho que surgem por meio das relações entre a criança e o ambiente que
está inserida, incluindo sua motivação e/ou o que se espera que ela faça. O ambiente é composto de
pessoas, materiais, tempo e espaço que têm significado em relação às ocupações potenciais das
crianças.
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Dessa maneira, o desempenho ocupacional das crianças emerge tanto de suas capacidades de
agir como de suas interpretações destes significados. As motivações para se engajar em ocupações
pode ser de interesse da criança de chegar ao resultado, ou elas podem engajar-se em ocupações
porque outras pessoas criam situações que tornam significativo o engajamento. (Humphry, 1998 apud
Willard & Spackman, 2011, P.77). Participar das atividades de vida diárias é fundamental para que as
crianças adquiram habilidades e competências valiosas para a vida, sendo um fator importante no
desenvolvimento, saúde e qualidade de vida.
Embora a participação em atividades diárias seja considerada rotineira para a maioria das
crianças pequenas e suas famílias, muitas vezes é mais desafiadora para crianças com transtorno do
espectro do autismo. Assim caracteriza ser de extrema importância pesquisas na área principalmente
de desempenho funcional dessa população (Penteado, 2020). Portanto, o objetivo deste estudo foi
realizar revisão de literatura para compreender melhor a relação do Transtorno de espectro do Autismo
e as dificuldades relacionadas à participação nas AVD.

3.3 Método de tratamento e educação para autistas e crianças com déficits relacionados com
a comunicação (TEACCH)
O método TEACCH foi desenvolvido no ano de 1966, pelo doutor Eric Schopler, na Universidade
da Carolina do Norte (EUA), por meio de projetos e pesquisas no período da graduação (BASTOS;
SOUZA, 2019). Durante uma investigação que tinha como objetivo desenvolver técnicas que
auxiliassem os pais com filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) a intervir diretamente no
processo de recuperação das suas crianças, tendo como base o conhecimento do perfil de
desenvolvimento individual de cada criança (Pascoal, 2017).
No ano posterior, a moldura foi implementada oficialmente na Universidade da Carolina do
Norte, como um dos primeiros programas educativos para crianças com TEA (Pascoal, 2017). A
aprendizagem das crianças com Transtorno do Espectro do Autismo, as metodologias de tratamento e
a participação ativa dos pais tornaram-se os objetivos que conduziam os estudos e as pesquisas do
doutor Eric Schopler (Bastos & Souza, 2019).
Pode-se afirmar que o princípio fundamental desta moldura é o ensino estruturado, o qual tem o
propósito de organizar e sistematizar o ambiente, das atividades e da rotina como uma forma de
ensinar novas habilidades funcionais e orientar a criança (Bastos & Souza, 2019).
Segundo Costa (2021), a moldura TEACCH é um plano transdisciplinar, por relacionar
intervenções tanto educacionais quanto clínico, configurando um atendimento psicoeducativo. Este
programa tem por embasamento a teoria comportamental e a psicolinguística. Os princípios do
TEACCH são de desenvolver habilidades educacionais, buscando compreender os déficits e procurar
compensa-los. Ademais, o plano procura expor com clareza as habilidades desenvolvidas, assim como
os aspectos que estão sendo desenvolvidas e ainda mostrar as habilidades ainda não iniciadas pela
criança.
Na perspectiva da intervenção por meio do TEACCH, ele se concentra no tratamento de crianças
com TEA ou aquelas com transtornos relacionados à comunicação. O mesmo envolve a esfera de
atendimento clínico e educacional. Quanto ao atendimento clínico, se converge na intervenção de
âmbito comportamental disfuncional, muitas vezes apresentados pelas pessoas com TEA. Na esfera
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educacional, o método TEACCH focaliza-se nas habilidades psicopedagógicas, incentivando a


organização, comunicação e também a interação social. Busca-se auxilio necessário para o
desenvolvimento das crianças, pois focalizar-se nas áreas fortes que os sujeitos com TEA se
caracterizam (processamento visual, interesses restritos e memorização de rotinas). No entanto deve-
se sempre adaptar, de acordo com os níveis de funcionamento, necessidades individuais e faixa etária,
identificadas após a avaliação (Bastos & Souza, 2019).
De acordo com Rolim, & Souza & Gasparine (2001) o TEACCH proporciona a quem recebe a
intervenção, um atendimento extremamente estruturado, no qual esse plano de tratamento é mais
eficaz quando aplicada de forma individualizada, porém pode ser executada em grupo, buscando à
melhoria da qualidade de vida, dentro de um contexto familiar e social. Essa abordagem precisa da
cooperação dos responsáveis pela criança, pois estes são agentes essências de ajuda no tratamento,
observação e análise dos autistas em diferentes lugares e variações de estímulos.
O TEACCH tem por princípio fundamental, a aprendizagem por meio da visualização, pois a
aquisição de conhecimentos e experiências de crianças com TEA ocorre de forma mais acelerada por
meio de visualização de figuras, e esta aprendizagem, orienta-se por rotinas e não por ideias. Desta
maneira, essas crianças valorizam mais o aprendizado estruturado que enfatiza a visualização de
rotina. Assim, há necessidade de tornar o ambiente mais simples e organizado, minimizando estímulos
sensoriais, o que possibilita um olhar mais atento a situações mais relevantes do dia (Bastos & Souza
& 2019).
As estratégias de trabalho do TEACCH têm como objetivo desencadear um desenvolvimento
adequado e compatível a cada indivíduo e com sua faixa etária, proporcionar a sua independência e
promover a sua interação das prioridades da família com a prática terapêutica. Essas estratégias
partem de uma avaliação criteriosa com um plano terapêutico individual com inúmeras avaliações nas
quais se buscam favorecer condutas que ainda não estão completamente adquiridas mais apresentam
uma proximidade com ação separada (Robim & Souza & Gasparine, 2011).
Esse método buscar explorar áreas de maior habilidade, pontos de interesse, independência nas
atividades diárias, processos de aprendizagem, educacionais e profissionais. Tudo isso através de um
ambiente organizado para que o autista possa compreender suas tarefas e assim podendo ser avaliado
seu nível de organização, atenção, motivação e independência (Robim & Souza & Gasparine, 2011).
Pascoal (2017) afirma que por meio do ensino estruturado é possível: Fornecer uma informação
simples e clara das rotinas do dia a dia, manter um ambiente tranquilo 19 e previsível, atender à
sensibilidade da criança e aos estímulos sensoriais, propor atividades diárias que a criança tem
capacidade de executar, promover a autonomia e independência. Ainda segundo Pascoal (2017), as
crianças com TEA que usufruem da metodologia TEACCH não deverão ser, em hipótese alguma, mais
uma turma da escola. A estrutura física do ambiente de ensino e aprendizagem deve ser clara e com
limites bem definidos.
Segundo Rolim & Souza & Gasparini (2001) no tratamento do autista, precisa ficar claro desde o
início para o profissional envolvido com o paciente e seus familiares, que até os dias de hoje não há
possibilidade de cura para esse quadro e sim uma evolução muito significativa. O tratamento da
criança ou até mesmo de um adulto autista deve procurar não sua normalização, mas a atenuação
possível dos prejuízos apresentados para que ele possa usufruir da melhor qualidade de vida possível.
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Logo, o objetivo básico deste ensino estruturado é aumentar a independência, avaliando de


forma individualizada cada criança. A partir do que foi citado, entende-se que a moldura TEACCH traz
contribuições ao processo de inclusão e desenvolvimento de crianças com TEA.

4 DISCUSSÃO

Em 1944, o pediatra austríaco Hans Asperger, interessado em educação especial, descreveu


quatro crianças que apresentavam incapacidades de interação social, nomeando-as como Asperger,
com características de "psicopatia autística", que manifestavam isolamento social e definiu como sendo
um transtorno estável de personalidade. (Varela & Machado, 2016)
Em 1978, a classificação do transtorno avançou e os estudos de Michael Rutter apresentaram que
o autismo é caracterizado através de quatro particularidades, sendo estas: 1) desvios e atrasos
sociais; 2) dificuldades de comunicação; 3) comportamentos atípicos, tais como estereotipias e
maneirismos; e 4) início precoce, antes dos trinta meses de idade, sendo todas essas características,
não só associadas a função de deficiência intelectual. (Varela & Machado, 2016)
Em 1994, tendo como base o tripé - comportamentos repetitivos e restritos, deficiência de
interação social e déficit de comunicação – seleciona e classifica os vários tipos de autismo em:
Síndrome de Asperger, Autismo clássico, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e
Transtornos Invasivos de Desenvolvimento Sem Outras Especificações (TID-SOE). (Almeida &
Albuquerque, 2017).
A partir do DSM-V (2013) o autismo passa a ser reproduzido como Transtorno do Espectro
Autista (TEA) - um transtorno espectral, dimensional, em que os seus sinais ou sintomas podem se
fazer presentes em diversas condições, em qualquer pessoa, em quadros leves ou moderados. Além do
mais, a Síndrome de Rett foi retirada e atribuiu-se nova nomeação para a Síndrome de Asperger, que
no qual passou a ser chamada de Transtorno do Espectro Autista leve. (Almeida & Albuquerque, 2017).
Com isso é possível afirmar que o TEA se caracteriza pela dificuldade na comunicação, interação
social e comportamentos repetitivos e estereotipados. Além do mais, é importante enfatizar que o
atraso no comportamento adaptativo que inclui o desempenho nas Atividades de Vida Diária (AVD), é
uma situação observada pelos pais dessas crianças, desde a primeira infância.
Conforme Oliveira et al. (2021) o comportamento adaptativo que inclui a socialização, a
comunicação, a mobilidade, a participação social e principalmente o desempenho nas Atividades de
Vida Diária (AVD), é uma questão que os pais percebem que há um atraso, logo nos primeiros anos de
vida da criança.
O comportamento adaptativo de Atividade de Vida Diária é um dos comportamentos que os pais
mais observam no cotidiano da criança, pois os mesmos estão presentes nas tarefas do dia a dia e
supervisionando-as em boa parte do seu tempo. De acordo com Oliveira et al. (2021) não se sabe
certamente o que influência e quais os fatores do atraso no comportamento adaptativo, mas há
estudos que afirmam que há uma relação com a habilidade de comunicação.
Observa-se que qualquer indivíduo precisa realizar suas AVD, sendo elas básicas ou
instrumentais, pois a realização de cada atividade tem um valor, significado, assim como também
ajuda o indivíduo a conviver socialmente. Nesse sentido, é de extrema importância que as crianças
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com TEA consigam realizar suas AVD. Os autores Oliveira et al. (2021) considera que as tarefas de
autocuidado são as mais dificultosas para realizar, pois requerem habilidades motoras, percepto-
sensoriais e práxicas. Com isso, por meio da análise do mesmo foi constatado que, de modo geral, as
dificuldades destacadas pelas crianças avaliadas, eram nas atividades de higiene pessoal e de toalete,
compondo, lavar as mãos e escovar os dentes e, principalmente na área de função social.
De acordo com os autores Elias & Assumpção & Francisco (2006) há déficits funcionais em
crianças com TEA, independentemente do nível de funcionamento cognitivo. Essas crianças têm
inabilidade de interagir com o outro e este déficit social afeta o desempenho cotidiano e adaptável
dessas crianças. Profissionais da área da saúde podem intervir neste cenário, onde crianças com TEA
manifestam dificuldades na realização das AVD de autocuidado. Segundo Oliveira et al. (2021) o
objetivo principal da profissão de Terapia Ocupacional, neste caso, é possibilitar o aumento da
participação nas AVDs nos variados contextos e ambientes.
Quando falamos sobre AVD e seus treinamentos, segundo a AOTA (2015), é importante destacar
que estas são desenvolvidos levando em consideração três principais fatores, que são os fatores dos
clientes, as crianças no caso deste artigo, habilidades desempenho, como habilidades motoras, de
processo e interação social, além de padrões de desempenho, que diz respeitos a hábitos, rotinas,
rituais e funções.
Já Humphry (2011) afirma que para realizar o treinamento de AVD pode-se fazer uso de métodos
de instrução (grupal ou individual) para a orientação do cliente e do cuidador, entre os diversos que
são disponíveis para este tipo de treinamento. No entanto, o método precisa ser selecionado para
melhor atender às necessidades da pessoa.
Ainda de acordo com Murphry (2011) os métodos grupais são recomendados quando uma
instituição conta com uma população de clientes homogênea, tendo em vista que a orientação de um
grupo tem bom custo benefício e, quando bem estruturada, pode facilitar o aprendizado por meio da
interação com os colegas. Já a orientação e o treinamento individual do cliente possibilitam que o
terapeuta ocupacional obtenha retroalimentação imediata da pessoa à medida que a sessão progride e
modifique a intensidade e o foco do aprendizado de modo apropriado, já que a mesma possibilita
adaptada para atender a necessidades específicas e únicas de cada pessoa. Partindo desta afirmativa e
destes aspectos citados a cima que a moldura TEACCH pode intervir de forma positivas nos
treinamentos de AVD, tendo em vista que esse método se mostra muito eficiente, como método de
instrução individualizado
Segundo Fernandes (2010), por meio do modelo TEACCH, há a possibilidade de modificar
tendências inatas do comportamento e assim poder diminuir os sintomas e fazer com que o indivíduo
consiga lidar com mais tolerância as atividades que antes lhes pareciam confusas, uma vez possibilita
aprimorar o entendimento da criança que, após a avaliação inicial que destaca suas potencialidades,
déficits e seus interesses, constrói um plano de intervenção individualizado respeitando a singularidade
e complexidade de cada indivíduo.
Gauderer (1993) afirma que o método TEACCH tem por princípio básico que o autista aprende
melhor por visualizações, orienta-se por rotinas e não se mostra receptivo a surpresas. Deste modo,
valoriza o aprendizado estruturado, realça a rotina e a importância visual. Assim, faz-se necessário
simplificar e organizar o ambiente, reduzindo ao mesmo tempo os estímulos sensoriais. O que
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possibilita o foco atencional em detalhes relevantes. O objetivo básico é aumentar a independência,


avaliando de forma individualizada.
Com um ambiente estruturado e com organização das atividades (rotina determinada e pistas
visuais) a compreensão torna-se mais eficiente facilitando o processo de aprendizagem, além de
diminuir o período de tempo da mesma. Em concordância com as estratégias expostas pelo Método
TEACCH, preliminarmente, a estruturação do espaço físico, visto que os TEA necessitam de “dicas”
para que o ambiente “informe” quais atividades serão realizadas (comer, tomar banho, vestir), por
quanto tempo e sua sequência (Leon, 2016).

5 CONCLUSÃO

O surgimento do interesse pela temática apresentada partiu de uma experiência dos estudantes
na intervenção de crianças com TEA em um estágio não obrigatório, que reproduzia princípios do
método TEACCH em seus atendimentos. Diante disso, o presente estudo buscou identificar as
contribuições do método TEACCH para o ensino de habilidades de autocuidado para crianças TEA. Por
meio dos estudos foi possível conhecer mais sobre a intervenção da Terapia Ocupacional na utilização
desta moldura. Ademais, este estudo propiciou investigar as contribuições desta intervenção para
promover a autonomia e independência de crianças com TEA nas Atividades de Vida Diária (AVD).
Percebeu-se que a leitura dos estudos selecionados, foi de extrema importância para assimilar
quais características reais de uma criança com TEA. Neste caso, foi encontrado que o Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno que se define como critérios diagnósticos que contém
dificuldade e alterações em diferentes áreas sendo elas da interação social e da comunicação. Por meio
das pesquisas, entendeu-se que a socialização é a área mais desafiadora para as crianças com TEA,
pois é a área onde a criança tem mais dificuldades. Neste caso o maior objetivo dos profissionais de
saúde, principalmente dos terapeutas ocupacionais é de promover a aprendizagem dessas crianças,
desenvolvendo nelas capacidades, habilidades e competências para a melhoria dos comportamentos na
comunidade.
A intervenção dos profissionais de Terapia Ocupacional mostra-se de fundamental importância,
pois buscam por meio das atividades cotidianas a integração das crianças no meio social. Neste caso, a
escolha por investigar o método de Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits
Relacionados com a Comunicação (TEACCH), propiciou o entendimento das estratégias promissoras
desta moldura para o tratamento e organização dessas crianças na comunidade.
Percebeu-se que moldura TEACCH, possibilita um atendimento estruturado que beneficia a
criança de maneira individual, objetivando uma melhor qualidade de vida em diferentes contextos
sendo eles familiares e sociais. Em contrapartida, observou-se que neste método, a participação dos
pais é de fundamental importância, para auxiliar no tratamento, observar e analisar a criança em
diferentes ambientes e estímulos.
Neste sentido a Terapia Ocupacional utiliza este método por meio de apoios visuais onde são
indicadas as sequencias da atividade cotidiana que criança deve realizar. O treinamento das Atividades
de Vida Diária (AVD) por meio dessas figuras proporciona as crianças uma vida menos dependente e
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estimula a independência nas atividades de auto cuidado, assim como também nas atividades
relacionadas a vida familiar e social.
Logo, os resultados deste estudo preconizaram que a abordagem da moldura TEACCH, é um
processo eficaz, estruturado e que propicia um impacto positivo no desempenho e participação nas
Atividades de Vida Diária (AVD), em especial nas atividades de autocuidado. Os estudos também
permitiram comprovar que a intervenção da Terapia Ocupacional utilizando o Método TEACCH é capaz
de promover a evolução do desempenho funcional de crianças com TEA.
Entretanto, apesar de ser uma intervenção valiosa para o tratamento dessas crianças, mediante
a estratégia de busca adotada pelos pesquisadores, verificou-se que há uma escassez de pesquisas
acadêmicas recentes sobre a eficácia da moldura TEACCH como um método de intervenção da Terapia
Ocupacional para crianças com TEA. Neste sentido há necessidade de haver mais publicação e
sugestões de estudos futuros nesta área para detectar as dificuldades e promover o conhecimento
desta intervenção na melhora no desempenho funcional dessas crianças.
Por fim, o estudo contribuiu para compreensão dos principais fatores que influenciam o
desempenho das Atividades de Vida Diária (AVD), reforçando que a comunicação social é um dos
fatores de maior relevância e que não deve ser ignorado nas intervenções dos profissionais de Terapia
Ocupacional. Com isso, a estratégia do método TEACCH se mostra adequada, pois por meio dela
consegue-se obter resultados valiosos no desempenho das AVD, nas intervenções terapêuticas
ocupacionais, na qualidade de vida das crianças com TEA e de seus familiares.

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