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EXPEDIENTE #30 // ANO 3 // DEZEMBRO ‘09_


DIREÇÃO: 
 Fernanda Grabauska Ana Luiza Bazerque
Kento Kojima fernanda@noize.com.br
 Billy Argel 
TIRAGEM:
Pablo Rocha Mely Paredes 30.000 exemplares
Rafael Rocha ASSESSORIA DE Carlos Eduardo Leite
COMUNICAÇÃO: Felipe Guimarães CIRCULAÇÃO

COMERCIAL:

 Mell Helade Eduardo Guspe NACIONAL
Pablo Rocha mell@noize.com.br
pablo@noize.com.br MOVE THAT JUKEBOX:
Leandro Pinheiro DISTRIBUIÇÃO: Alex Correa
leandro@noize.com.br Francisco Chaves Marçal Righi
chico@noize.com.br Neto Rodrigues
DIREÇÃO DE ARTE: www.movethatjukebox.com
Rafael Rocha FOTOGRAFIA: 

rafarocha@noize.com.br Felipe Neves 
ANUNCIE NA NOIZE:
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DESIGN: Marco Chaparro

Douglas Gomes 
ASSINE A NOIZE:
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ASSIST. DE CRIAÇÃO: Johnny Marco AGENDA:
Cristiano Teixeira Vicente Teixeira 
shows, festas e eventos Se Você
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 Não
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EDIÇÃO:
 NOIZE.COM.BR: 
 PONTOS:
Fernando Corrêa combr@noize.com.br
 Faculdades NOIZE
nando@noize.com.br Colégios Passe
COLABORADORES: Cursinhos Adiante
REDAÇÃO: Lucca Rossi 
Estúdios

Bruno Felin Henrique Lammel Lojas de Instrumentos
CONTEÚDO_ bruno@noize.com.br
Carolina De Marchi
Leonardo Bomfim
Thiago Piccoli

Lojas de CDs

Lojas de Roupas
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REVISÃO: Rafael Abreu Bares e Casas de Show

tic Killer Band // VizuPreza // FFW & REW // Reviews // 
João Fedele de Azeredo Daniel Sanes Shows, Festas e Feiras

Cinema // Shows // Fotos // Jammin’ jp@noize.com.br
 Ricardo Finocchiaro Festivais Independentes

Pééé! EDITORIAL | Forever 2000.


Na edição passada, a matéria sobre
Nick Drake teve
Há algo de diferente neste fim de década, e a gente acha que sabe o que é: o faça você mesmo venceu. Talvez
autoria do grande Alexandre Matias, conforme
o “punk” esteja “dead”, mas seu legado mais valioso impera, e é graças a ele que a banda de hoje pode ser
creditado. Mas faltou relembrar – e informar aos
facilmente soterrada pelas bandas de amanhã. A NOIZE #30 procura registrar alguns dos que acredita serem
desinformados que não sabem o que estão perdendo)–
os melhores artistas acontecidos em 2009, para que eles fiquem devidamente registrados – são, de certa
o endereço do blog do cara, o excelente Trabalho
forma, parte das coisas mais legais que ouvimos na década que se encerra. E o são porque conseguiram reunir
Sujo: www.oesquema.com.br/Trabalhosujo
o talento para a música e o “faça você mesmo” em um só trabalho.
Talvez o maior exemplo disso nesta edição seja Emicida. O rapper nunca mediu esforços, e sobre suas paixões
obstinadas, que vão muito além do rap, ele contou em um papo sereno e em closes sinceros. As outras três
entrevistas desta NOIZE não deixam por menos: o N.A.S.A. é a década de 90 renascendo no império DIY, com
o ex-Planet Hemp Zegon e Sam “Squeak E. Clean” juntando em um mesmo disco artistas de todas as matizes.
O Black Drawing Chalks é a grande banda de rock a surgir em terras tupiniquins em 2009, gestada e gerida
dentro do novo panorama de coletivos, que fizeram de sua Goiânia natal a grande cidade rock brazuca em
boa parte do século XXI. E a britânica Old Romantic Killer Band, a que louvamos e vimos acabar no mesmo
ano, é a prova real da falha no sistema: às vezes, a profusão de bandas, somada às tendências e preferências
momentâneas (o mainstream não morreu), podem soterrar uma grande banda de rock quando sua semente recém
germinou e soltou as primeiras folhas.

Mas folhas por folhas, eternizamos nas que seguem aquelas que talvez sequem, tão logo um novo ano venha
para renovar o gramado. E aí, mais uma vez, a música permanecerá eterna – esta edição será apenas o mapa para
alguns dos tesouros esquecidos nesse nosso recanto, em breve perdido, dos anos 2000.
_foto: felipe neves _dir arte: Rafael Rocha
life is music
NOME_ Carlos Gerbase
PROFISSÃO_
Cineasta e professor
UM DISCO_
Sex Pistols | Never mind
the bollocks, here’s the Sex
Pistols

“A música ouvida é uma


companhia que tem a ca-
pacidade fantástica de se
adaptar ao meu estado de
espírito. E, algumas vezes,
também tem a capacidade
de modificar (para melhor)
esse estado. Através da
música executada - como
baterista e vocalista - apren-
di muito sobre mim mesmo,
sobre meus limites, e acho
que consegui, nos melhores
shows dos Replicantes,
atingir uma entrega total ao
público e à própria música, o
que é a melhor catarse que
alguém pode pretender.”
8

LEIA ISTO
leia isto_

“O George Clinton nos ofe-


só no jeito que tocaríamos
e nos comportaríamos no
neira como nos vestiríamos.
palco, mas também na ma-

pensado. Não estávamos


O bigode, o cabelo, tudo foi
contando muito que o lance
mada, nós pensamos não
“Antes da banda ser for-

Dênis Pereira| Black Drawing Chalks


musical desse tão certo.”
receu a nave-mãe dele, fa-
lou ‘Vocês querem usar
esse lixo?’. Mas aí estraga-
mos a turbina e ficou mais
barato fazer uma nova.”
Zegon | do N.A.S.A., sobre a nave de Mr. George Clinton

“O problema é que o adolescen-

Nicolas Flamel [na Suíça]. E ele

dois vimos. Foi incrível. não vou


“Levei o Gilberto Gil na casa do

viu uma coisa lá que eu vi, só nós


te precisa gritar que o mundo

contar o que foi, mas vimos.”


Em entrevista maravilhosa para Pedro Alexandre Sanches
é uma merda, porque quando
você é adolescente o mundo É
uma merda. Mas quem quer gri-
tar hoje em dia que o mundo é
uma merda? Ninguém, porra!”
Marcelo Nova | Camisa de Vênus

“Entrei em contato com o rap em 93,


quando o Racionais lançou Raio X do
Brasil. Moleque da favela, quando ouviu
Jorge Ben Jor |

o bagulho, não sentia nem “aquele cara


canta minha vida”. Era uma coisa tipo
“esse cara sou eu, mano”. Emicida | Nesta edição.
_EMICIDA, ZEGON, JUlian casablancas,
marcelo nova,, jorge ben jor

“Uma vez eu vi uma entrevista do Zé

Killer Band, nesta edição.


Greg Holland | Old Romantic
para se empolgar.”
você não tem energia
tão desgastante que
ao seu redor, é tudo
com o que acontece
fícil ficar empolgado
“Algumas vezes é di-
Gonzales e ele falou de uma MPC,
falava da SR, dos teclados. aí eu
coloquei na cabeça que pra fazer
rap eu precisava de uma, então
com 19 anos eu comprei uma.”
Emicida | Ele e Zegon, 5 anos depois, têm entrevistas nesta edição.

“Nós somos bem estilosos, né? Tô brincando, não co-


loca essa citação. Quer dizer, olha pra mim. Eu fedo.”
Julian Casablancas | The Strokes, em algum NME do passado

“Parece que meu


Timbaland, e são na maioria euro-
tão. Sei que são 75% mulheres
“Depois do meu último álbum, eu
sei onde meu pão e manteiga es-

que amam Timbaland. Fiz a pesqui-

a Sex and the City, Desperate Hou-


sewives. As verdadeiras ‘mulhe-
sa. São as mulheres que assistem

res-que-vão-para-o-bar’ gostam de

twitter foi ‘hackeado’


ontem. Eu poderia
estar brava, se não
amasse em segredo o
peias.” Timbaland | teorizando...

quão psicoticamente
espertos são meus
fãs.” Lady Gaga | no Twitter

“Você não joga Guitar Hero se


você é um guitar hero.”
Billy Corgan | Smashing Pumpkins

9
noize.com.br
_Discos da decada, john frusciante, css,
10 pavement, pirate bay, blur

NEWS
ou oldies, depende do ponto de vista.

Reprodução
o som dos anos 2000
A década nem acabou (e dependendo de como você escolheu contar, ainda falta mais de um ano), mas as listas de melhores
discos já são muitas. Em geral, provocam uma sensação interessante de se estar solucionando uma dúvida mortal que muitos
tinham: afinal, qual será a grande música desta década? O que aconteceu de realmente bom no novo milênio? A resposta inclui
as poucas certezas que se tinha, como os nova-iorquinos do Strokes, escolhidos por alguns dos grandes veículos especializados,
e o Los Hermanos que, com frequência, encabeçam o top 5 com a dobradinha O Bloco do Eu Sozinho e Ventura.

Enfim, alguns títuolos citados como os melhores discos da década que queremos registrar foram Is This It, do Strokes (eleito
pelo NME o disco da década), Whatever people say I am, that’s what I’m not, do Arctic Monkeys, Funeral, do Arcade Fire, Turn on the
bright lights, do Interpol, e In Rainbows, do Radiohead, no campo internacional. Do Brasil, os dois discos dos Hermanos, Uhuuu!,
do Cidadão Instigado, Little Joy e CSS, das bandas homônimas, apareceram à beça nas listas virtuais.

Ademais, as listas mostram que não existe “o som dos anos 2000”, como o grunge poderia ser grosseiramente usado pra
definir os 90s, a new-wave para os 80s, o progressivo ou o punk para os 70s, a psicodelia para os 60s. Até porque essas defini-
ções eram feitas com bases roqueiras, e nos anos 2000 – o mashup está aí para provar isso – a música, sem a vigília de majors
paternalistas e controladoras, virou uma suruba no melhor dos sentidos.
_Sublime - 40 0z. to Freedom :: Dorival Caymmi - Canções Praieras :: Planet Hemp - Usuário :: NOFX - Punk in Drublic :: Lou Reed - Transformer

_ouca agora
´

Reprodução

Divulgação

Divulgação
__SONIC JACKSON| Não, __CSS LIVE IN USA | Não,
o chapeleiro de Moonwalker o CSS não deixou o Brasil de
não encontrou Sonic nas novo. Mas felizmente a longa
telas – mas na trilha sonora, temporada que a trupe fes-
sim. É o que garante o pro- teira de Lovefoxxx passou
dutor, arranjador e tecladista esbanjando hype em terras
Brad Buxer, que trabalhou estrangeiras rendeu um me-
com Michael Jackson em recido dossiê audiovisual. Será
Dangerous e HIStory e assina lançado em 12 de janeiro o
a trilha sonora de Sonic 3. Se- documentário CSS & Tilly and
gundo ele, foi de fato Michael the Wall Appearing LIve! Tonight,
quem compôs as músicas do __E O PAVEMENT TAM- no Central Park, de 21 a 23 que registra a turnê feita pelos
game da Sega, lançado em BÉM | Fãs de Pavement, de setembro. E o melhor: o brasileiros com os estaduni-
1994. Desapontado com a regozijai-vos. Depois de es- guitarrista Scott “Spiral Stairs” denses do Tilly and the Wall
qualidade da reprodução de perarem por quase uma dé- Kannberg contou em dezem- durante setembro de 2008. O
áudio nos consoles da época, cada, vocês foram agraciados bro ao site Stereogum.com DVD conterá, ao longo de 73
Jackson optou por abrir mão recentemente com a notícia que, se a turnê for proveitosa, minutos, dez canções do CSS
dos créditos, ficando estes de que Malkmus, Kannberg e é provável que o Pavement (divididas entre o debut, CSS, e
para Buxer e outros parcei- cia. fariam uma humilde turnê grave novas músicas – que o mais recente, Donkey) e oito
ros do cantor. Um velho bo- de reunião – que logo assumiu poderiam, naturalmente, re- do Tilly, além de extras com
ato que, enfim confirmado, proporções maiores. sultar em um novo disco de cenas do backstage. O longa
explica a trilha alucinante das Atualmente são quase 20 os inéditas.A avalanche de revivals tem direção de Rob Walters
aventuras do porco-espinho shows europeus, agendados não para, mas a do Pavement, e sai pela White Light Media.
azul. para ocupar todo o mês de felizmente, não corre o risco
maio de 2010, e três datas de cheirar a mofo.

ON THE ROAD | fabricio nobre, da mqn


_Melhor e pior coisa de sair em turnê 5 Discos Para Se Ouvir Na Estrada:
Anderson Brito /Divulgacão

Melhor é encontrar os amigos e aqueles 30 minutos de _Grand Funk Railroad - Grand Funk
barulho em cima do palco numa cidade que você nunca _Fu Manchu - King Of The Road
passou na vida. Pior: deixar Gabi, Ana e Lara em casa. _Rocket From The Crypt - Group Sounds
_Melhor comida e bebida de turnê _Jon Spencer Blues Explosion - Orange
Comida é aquela tipica da cidade, feita pela cozinheira _Walverdes - Anticontrole
mais foda! Bebida, para quem tá passageiro é cerveja.
11
noize.com.br
12 NEWS

Reprodução
__BLUR NO FIM DA LINHA | __FRUSCIANTE FORA? | Os
Dia 19 de janeiro será lançado boatos que invadiram a re-
No Distance Left to Run, do- dação durante o fechamento
cumentário filmado por Will desta edição apontavam para
Lovelace e Dylan Southern a saída do guitarrista John
que registra os ensaios para a Frusciante do Red Hot Chili
turnê de retorno que os bri- Peppers. Fontes seguras infor-
tânicos fizeram em 2009, bem maram ao Musicradar.com que
como os shows propriamente ele queria focar sua carreira
ditos.Além disso, virá recheado solo e já teria sido substitu-
de extras, entrevistas e tudo __LEGAL BAY | Na Suécia, o consumo de música legal (ou ído por Josh Klinghoffer, que
mais que os fãs possam que- não) de forma legal aumentou desde o caso do Pirate Bay. Os excursionou com o RHCP
rer. Dá uma olhada no trailer: fundadores do site foram condenados e uma nova lei de di- em 2007.
http://tr.im/HlyA. reitos autorais entrou em vigor no país, a IPRED, que autoriza

Divulgação
os detentores dos direitos autorais a obterem os endereços
www.brooklynvegan.com

IP de suspeitos, que podem ser investigados e processados.


Nos primeiros nove meses de 2009, as vendas legais de música
cresceram em 18%. As vendas de música digital cresceram
80%, e as vendas físicas, 9%. O site com serviço de streaming
Spotify teve um aumento de 17% em seu volume de membros
premium. Outra pesquisa diz que 60% das pessoas entre 15 e
74 anos pararam ou diminuíram o uso de programas p2p e de
compartilhamento de arquivos nesse período.
Divulgação

__VENDE-SE O NIN | Após prá-los. “Nós já terminamos a


fazer o último show da car- turnê do NIN e tudo que tí-
reira em novembro, o Nine nhamos que fazer no estúdio,
Inch Nails decidiu colocar por isso estamos nos livran-
seus equipamentos à venda. do de uma grande seleção de
Isso mesmo, guitarras, baixos, equipamentos que a banda
violões e teclados, que foram não precisa mais”, diz o texto
utilizados durante a turnê, fo- no site oficial do NIN. Isso
ram publicados no Ebay para que é extrair até a última
os fãs interessados em com- gota de potencial rentável de
uma turnê de retorno.
SHOW EXTRA SÃO PAULO - 31 DE JANEIRO

REALIZAÇÃO meio de pagamento


preferencial

28 DE JANEIRO - POA 30 E 31 DE JANEIRO - SP


ISENÇÃO DE TAXA para clientes dos cartões
DE ENTREGA*
credicard, citibank e diners.

4003-8282
ESTÁDIO ZEQUINHA
Av. Assis Brasil, 1200 – Porto Alegre/RS
MORUMBI
Praça Roberto Gomes Pedrosa, s/n. - São Paulo/SP

Na ocasião da compra, verifique a classificação etária. *Válido para compras realizadas com até 72 horas de antecedência ao show.
14
bandas que voce
nao conhece mas deveria conhecer_
M. WARD

Ieve Holthausen
Origem:
Portland, EUA

Som:
M. Ward já tocou no
Bright Eyes, tem a
companhia da gracinha
Zoey Deschannel no
projeto She & Him e integra o Monsters of
Folk. Enfim, o folk dos anos 2000 é com ele.

Escute:
Rave On, Sad Sas Song, Chinese Translation
myspace.com/mward

NAIVE NEW BEATERS


Origem:
Paris, França

Som:
Transitam com destre- filipe catto
za pelo terreno mais
mainstream do pop Ao ouvir Filipe Catto, é coerente pres- comparações a Ney Matogrosso, é só
(que engoliu o rap e o supor que a musicalidade da voz afinada eventualmente que a semelhança de
rock alternativo em medidas semelhantes), e provenha da longa trajetória musical, fato aparece. Por outro lado, as letras,
têm clipes fodas como cereja do bolo. que se iniciou muito cedo, e foi bem inspiradas em experiências pessoais, ca-
Escute: nutrida por Elis Regina, Maria Bethânia beriam muito bem na voz de Ney. “Na
Live Good, Get Love, Can’t Choose e Clara Nunes. É fácil, também, atribuir época eu lia muito Hilda Hilst, mas não
myspace.com/naivenewbeaters a dramaticidade e a pungência do ins- acho que tenha nada explícito dela nas
trumental à paixão pelo tango e seus letras, talvez uma intensão, mas mera-
bandoneónes. Mas foi uma estadia no mente isso”, explica. A mesma drama-
THE GOLDEN FILTER
Brooklyn, em 2007, o inusitado gatilho ticidade da poeta paulista, sem dúvida,
Origem: para que Filipe derramasse as canções marca presença nos trabalhos de ambos
Nova York, EUA que deram origem a Saga, EP que o mú- os cantores. Ela corresponde à “cor”, a
sico gaúcho gravou e lançou em 2009. influência latina e tangueira com que
Som:
No Brooklyn, Catto teve os sentidos Catto enrubesce a música brasileira.
Entre o electro pop
e o disco, nasce mais estimulados por todo tipo de manifes- “O produtor Sergio Guidoux e eu ti-
um duo multinascio- tação musical, e por causa da saudade, vemos uma preocupação grande com o
nal, que firma bases reaproximou-se de suas raízes. “Voltei a discurso e com a coerência do album
em Nova York. Além de remixadores natos, o escutar coisas que havia anos não escu- como um todo. Queríamos propor esse
Golden Filter tem single na área. tava, música brasileira tradicional, coisas universo boêmio, luxurioso e passional”
até bem antigas. Isso acabava me aproxi- – que é o que faz a experiência de Saga.
Escute: mando de casa, inevitavelmente”, conta. Escute: Saga inteiro, em especial a
Thunderbird,We are the people (Empire of the Sun) faixa-título e “Ascendente em Câncer”.
Apesar de a voz feminina ter rendido
myspace.com/thegoldenfilter
Convidado Especial
meio de pagamento realização
preferencial

28 de fevereiro 2 de março
apoteose - rj morumbi - sp
COBERTURA OFICIAL: www.showcoldplay.com.br
ISENÇÃO DE TAXA para clientes dos cartões
credicard, citibank e diners.
4004 2060 DE ENTREGA*

Na ocasião da compra, verifique a classificação etária.


*Válido para compras realizadas com até 72 horas de antecedência ao show.
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bandas que voce
nao conhece mas deveria conhecer_
SLAVIC SOUL PARTY!

Gorila Vs. Bear/C.C.


Origem:
Nova York, EUA

Som:
Uma festa balcã
em que participam
jazzistas das décadas
de 1950 e 60, acom-
panhados de metais funkeiros até o osso. É o
Brooklyn à toda.

Escute:
Taketron, Baltika, Real Simple
myspace.com/slavicsoulparty

YOUNG WIDOWS
Origem:
Kentucky, EUA

Som:
Barulhentos, os Young girls
Widows formam a
parte instrumental de A nova aposta da Matador (que é na o osso—e por vezes dá até em baladas
outra banda da cena
verdade o berçário do alt-rock yankee) (“Hellhole Ratrace”, linda). A principal
hardcore de Kentucky. Mas no YW, ao hardco-
é um duo de rapazes chamado Girls. referência na música é mesmo o fluxo
re deles somam-se fortes ecos de noise rock.
Trata-se da banda menos afetada de emocional de Ariel Pink, que Owens diz
Escute: que você ouvirá falar como “a aposta” cultuar. Semelhanças do vocal com Elvis
The Heat is Here, Old Skin, Formerer do ano que chega ao fim. O nome inusi- Costello, Joe Strummer e até Pete Do-
myspace.com/youngwidows tado reflete as músicas e o jeitão junkie herty diminuem a distância geográfica
do vocalista Christopher Owens, que entre Estados Unidos e Reino Unido,
lembra um Kurt Cobain sincero e desi- que se encontram nas melodias simples
LULINA
ludido no amor. E deve fazer referência e no jeito tocante do cantar de Owens.
Origem: às garotas que transitam nas calçadas Depois de terem feito o que eles consi-
Recife/São Paulo californianas, onde o repé de loucas ma- deraram, mesmo, um “disco de drogas”,
drugadas é atenuado pela combinação os caras disseram que botaram o pé no
Som:
de sol e brisa marinha.Consta que J.R. freio. Esperamos que não espetem em
Anticonvencional até
o osso, liricamente White, a outra metade do Girls, foi o nenhuma seringa.
psicodélica e ingenu- responsável por viabilizar que as ideias Escute: “Lust for Life”, que começa
amente desbocada, de Chris dessem origem ao repertório remetendo a Peter, Bjorn & John, mas
Lulina faz música como poucos mortais: lo-fi do também inusitadamente intitulado descamba para o mesmo alt-rock mata-
ao extremo, tosco, mas hipnotizante. Album, début que os caras lançaram em dor de “Laura”. A surfmusic aditivada de
setembro. Ora depura o som de ban- “Big bad mean mother fucker” expande
Escute: das clássicas do catálogo da Matador, os horizontes do ouvinte e do que se
Meu Príncipe, Fugas pelo miojo,Tapas na cara pode esperar da banda.
como Pavement, ora é californiano até
myspace.com/lulina
18

online
a nata do que rola no mundinho virtual .

_grooveshark.com
Uma biblioteca imensa de músicas ao seu dispor, OK GO | WTf?
um iTunes lotado acessível em qualquer lugar.
Aproveite enquanto não tiram o site do ar. _No clipe de “WTF?” os membros do OK Go perma-
necem intactos, enquanto deixam rastros que fazem dese-
_holytaco.com nhos e causam explosões de cores e padrões na tela. Um
Um blog completo de verdade. Sem palavras dos clipes legais que surgiu desde a revista passada, e uma
para descrever o humor que transborda deste ideia a menos a ser realizada na era da tecnodemocracia.
taco sagrado.
Tags: ok go wtf

mp3
A Song for a Son | Smashing Pumpkins
Bem observado em comentário do Stereo-
gum: por um momento, lembra Elliott Smith
auto-tune kids
a nova empreitada de Billy Corgan.
_Quem não gosta de auto-tune, bom sujeito não é. Depois
We share de same skies | The Cribs de ver as estrelas de “Charlie Bit Me” e outros pequenos su-
Quanto mais oitentista a essência, melhor cessos virais mandando ver acompanhados de Kanye West,
pode ser uma música do Cribs. Esta é boa. ou você concorda com a frase acima ou começa a ficar com
medo – saber cantar já é mero detalhe.
Bee on the Grass | Mallu Magalhães
Mallu Magalhães brinca de Mutantes nessa Tags: auto tune kids
bela e psicodélica canção de seu novo disco
auto-intitulado.

tiny urls
from dub to dubstep
tinyurl.com/softfocus3
_No vídeo indicado pelo @trabalhosujo, “Blackboard Jun-
Soft Focus, ótimo programa de entrevistas daVBS.TV.
gle”, produção monstruosa de Lee Perry e King Tubby,
é convertida em dubstep por Subatomic Sound System,
tinyurl.com/antecipando2010
Dubblestandart e Jahdan Blakkamoore. Para quem não
Os 25 discos mais aguardados de 2010,
saca muito de algum dos dois gêneros, é um bom começo.
pelo Stereogum.

tinyurl.com/mapadorock Tags: dub to dubstep


Os caminhos e descaminhos do rock diagramados.

pixies debaser fallon marilyn monroe marijuana automatic mario queen


cokie the clown lula filho da jamaica them crooked jonathan ross axl rose paparazzi
comfort wipe phoenix concerts emporter touch dj iphone them crooked vultures
yeasayer ambling alp slash duff steven charlotte beck heaven
_norah jones, kinks,
20 brandon flowers

move that jukebox


movethatjukebox.com

moving

Divulgação

Divulgacão
_Vivian Girls
Eu costumo achar bandas formadas
exclusivamente por meninas grandes
merdas. Não é machismo, por favor, mas
é que – salvas exceções - eu nunca tive
exemplos de grupos que funcionavam
assim e faziam um som legal – vide, sei lá,
T.A.T.U.,Veronicas ou Girls Aloud. Quan-
do o Vivian Girls apareceu, começou
toda uma nova fase na minha vida, sem
exagero. Lá no início de 2008, quando
__TODO MUNDO JUNTO | Beastie __THE KINKS DOCUMENTADO |
saiu o primeiro disco das moças, levei Boys, Santigold e Beck concretizaram Agora sim! Uma das bandas mais legais
um baita choque: “Nossa, essas garotas uma improvável união para remixar um dos anos 60, o The Kinks, deve ganhar
realmente sabem o que estão fazendo”, par de faixas do novo álbum de Norah seu próprio documentário em 2010. A
pensei. E essa sensação se repetiu com o Jones, The Fall. Enquanto os Beastie Boys produção é assinada por Julien Temple,
lançamento do segundo álbum do Vivian ficaram com a regravação de “That’s idolatrado pela criação de There’ll Always
Girls, no mês passado, inevitavelmente. What I Said”, Santigold trabalhou em Be na England, sobre o Sex Pistols. Ray
Everything Goes Wrong, que atingiu nota cima de “Chasing Pirates”, que também Davies, considerado um dos responsáveis
8 em sites e revistas especializadas e
foi remixada pelo coletivo musical de pela separação da banda pelas inúmeras
conceituadíssimas, mostra três meninas
bonitinhas fazendo um indie-rock ex-
Beck, o Droogs. As músicas estão dis- brigas com seu irmão (Dave, vocalista e
perimental, meio lo-fi, puxado pra um poníveis em rcrdlbl.com, stereogum.com e guitarrista), está colaborando no projeto.
shoegaze de garagem. Coisa fina. artistdirect.com, respectivamente.

Thomas Hawk/C.C.
enquete __BRANDON FLOWERS GO SOLO
| O fofoqueiro www.HolyMoly.com le-
vantou a informação de que Brandon
__Qual foi o melhor festival de Flowers, vocalista do The Killers, estaria
música do ano?
se preparando para lançar o primeiro
_Planeta Terra
_Maquinária álbum solo de sua carreira, sem o me-
_Goiânia Noise nor envolvimento com a banda.
_Indie Rock Festival Prontamente, o semanário britânico
_Just a Fest NME desmentiu o boato após entrar
_Outro? Comente em contato com o assessor da banda:
vote em movethatjukebox.com Assim como os Killers, Flowers não
pretende lançar um disco tão cedo.
__Resultado da Enquete de
Novembro Shame on him. A resenha da passagem
_Arctic Monkeys: 31% do grupo pelo Brasil você confere logo
_Kings of Leon: 24% mais, no final da revista. Aproveite.
_Foo Fighters: 10%
_Yeah Yeah Yeahs: 9%
_Them Crooked Vultures: 9%
_Outros:17%
black drawing chalks
22
_texto _FOTOS
LUCCA ROSSI THIAGO PICCOLI
Riffs, suor, cerveja…
e muito trabalho.

Eles têm cara de bons moços, falam com o sotaque arrastado característico do
Centro-Oeste, mas em cima do palco tocam para o público balançar a cabeça e
sair com zumbido no ouvido. Com sua mistura de influências—do metal de bandas
como Black Sabbath, passando pelo hard rock, até o stoner rock de nomes como
Queens of the Stone Age—a Black Drawing Chalks é a sensação do indie brasileiro
em 2009, com um dos melhores discos e, sem dúvida, o melhor videoclipe do ano,
da música “My Favourite Way”.

A temperatura batia a casa dos 30° quando o estreia do grupo em solo gaúcho. Na entrevista, a dupla
quarteto goiano desembarcou em Santa Maria no final falou também sobre sua identidade sonora e visual, dos
da tarde de sábado, 5 de dezembro, para a apresentação planos para o ano que vem e da importância de uma
que faria dali a algumas horas no último dia do Macondo postura profissional para uma banda se firmar no cenário
Circus – Música & Cultura Urbana, festival organizado pelo independente. Confira:
Macondo Coletivo e que em sua 6ª edição consolidou-se
como um dos mais importantes do cenário independen- Vocês são o grande nome de cenário alter-
te brasileiro. Às 2h10min do domingo, quando a banda nativo de Goiânia e do Brasil esse ano. Como
subia ao palco para aquele que seria um dos shows mais está sendo tocar país afora e percorrer o cir-
comentados do evento, o calor era quase o mesmo nas cuito de festivais?
dependências do Macondo Lugar, onde o público abarro- Renato: Está sendo muito legal levar o nome da cidade
tava o segundo andar da casa. pelos locais que passamos. Acho que o diferencial do Bla-
Em pouco mais de 45 minutos, o Black Drawing ck Drawing Chalks foi o de ser uma das primeiras bandas
Chalks provou que os elementos de um bom show de a realmente sair de lá para tocar bastante fora, pagando
rock continuam os mesmos: riffs muito bem executados, para viajar, colocando a cara à tapa.
vocais afinados, presença de palco, muito suor e cerveja Denis: Desde cedo compramos a ideia de banda e acre-
gelada. ditamos muito no que queríamos fazer.
A impressionante competência de uma banda
com apenas quatro anos de estrada é fruto de um tra- Além dos shows por aqui, em março vocês
balho muito bem planejado, como contou à NOIZE o estiveram no Canadá, tocando no Canadian
baixista Denis Pereira, que ao lado do guitarrista Renato Music Week, em shows muito elogiados. O [+] Lucca Rossi viajou a
Santa Maria a convite do
Cunha conversou com nossa reportagem horas antes da que dá pra trazer da experiência lá fora que Macondo Coletivo.

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black drawing chalks

sirva de lição para as bandas daqui darem con- Vocês vêm de Goiânia, cidade que produz
seguirem crescer e viver de música? ótimas bandas há mais de uma década e tem
Renato: Tem que cair na estrada. Algumas bandas se dois grande festivais. O sucesso da cena da ci-
negam a tocar sem cachê, mas para os que estão come- dade se deve a quê?
çando o cachê é o público. Hoje em dia nós consegui- Renato: A galera se ajuda bastante. Mas mesmo assim
mos viajar sem gastar e pagar a banda, mas quem está ainda existem algumas bandas que se excluem um pou-
começando precisa fazer valer cada centavo que pede co…
para tocar. Denis: Essas são as bandas que não aceitam o que está
acontecendo, o formato que uma banda precisa seguir
Os contatos lá fora renderam convites para atualmente. Hoje a coisa funciona quase como uma em-
uma volta? presa, você não pode fazer o seu show, guardar os instru-
Denis: Estamos fazendo todos os trâmites para vol- mentos e ir embora. Independentemente se você gosta
tar no ano que vem, vendo toda a papelada de vistos ou não das bandas com as quais você divide o palco, é
e petições para entrar nos Estados Unidos e também necessário construir uma rede de contatos, trocar figu-
marcando os shows.Voltaríamos no meio do ano, mas eu rinhas com as outras bandas. Claro que existem bandas
o Renato estamos nos formando na faculdade e acabou que não estão inseridas nesse formato e que também
não acontecendo. Mas 2010 vai ser o ano da banda para dão certo, fazem sucesso em lugares como Japão ou na
todos. Europa. Mas o caminho é mais difícil.
Renato: Os dois maiores selos de Goiânia (a Monstro e
Há previsão de um disco novo já para o ano a Fósforo) trabalham juntos. Isso é um exemplo de como
que vem? o trabalho precisa ser feito em conjunto para o negócio
Denis: Nesses quatro anos de banda já lançamos dois dar certo.
discos (Big Deal+1, de 2007 e Life is a big holiday for us+2,
de 2009, ambos pela Monstro Discos) e entre um e outro Resumindo, o formato atual exige que a ban-
disponibilizávamos os singles, geralmente com três músi- da se preocupe com muitas outras coisas para
cas, na internet. Pretendemos continuar com o mesmo que o resultado dê certo.
processo. Até as dez ou onze músicas que compõem um Denis: Com certeza. Hoje o Fabrício Nobre (vocalista
álbum ficarem prontas, o processo é muito longo, por da MQN, banda goiana ícone do cenário independente
isso sempre optamos por disponibilizar o material aos brasileiro e um do sócios da Monstro Discos) é o nos-
poucos. so manager. Na verdade, devemos a gravação do nosso
primeiro single a ele, em uma época em que o Vitor e
Vocês acham que o CD perde um pouco o o Douglas já faziam trabalhos gráficos para a Monstro.
sentido hoje com a internet? Ele foi a um dos nossos ensaios, gostou do som e nos
Denis: Para nós não, porque não estamos vendendo o levou para tocar no estúdio do Gustavo Vásquez (tam-
[+1]
CD só pela música, mas sim o álbum. Nossa música é bém integrante da MQN). Foi quando fizemos nossas
muito ligada à imagem, o Vitor e o Douglas trabalham primeiras gravações. Começamos uma parceria a partir
com design e desenvolvem toda a identidade visual da daí. Mas para chegar no estágio em que estamos hoje,
banda (as artes de capa dos CDs e a animação do vide- trabalhamos muito de graça e nos metemos em muita
oclipe de “My favourite way” foram criadas pelo coletivo roubada, também.
Bicicleta Sem Freio, que tem a dupla entre seus integran-
tes. O clipe é uma parceria com estúdio Nitrocorpz, res- Todas as composições de vocês são cantadas
[+2] ponsável por uma série de vinhetas da MTV). em inglês. Faço a velha pergunta: não têm al-
guma pretensão de escrever algo em portu-
Pretendem lançar algo em vinil? guês?
Denis: Temos bastante vontade de lançar algo em vinil Denis: Para ser sincero, nenhuma. E eu explico porquê.
sim. Talvez o próximo single. Antes de a banda ser formada, ela foi idealizada. Nós
sentamos e pensamos não só no jeito que tocaríamos e
nos comportaríamos no palco, mas também na manei- lecada bem nova, mas que está fazendo um som muito
ra como nos vestiríamos. O bigode, o cabelo, tudo foi bom. Há outras também já mais conhecidas, como o Jo-
pensado antes da banda se formar. Valorizamos desde o hnny suxxx n’ the Fucking Boys, que em seguida vai lançar
início a ideia de cuidar muito bem da parte gráfica e do um disco muito bem produzido pelo Gustavo Vásquez.
visual da banda, que é a melhor maneira de se vender Goiânia é um grande celeiro de bandas, mas algumas in-
hoje em dia. Claro que a música tem que ser bem fei- felizmente têm um laço muito forte com a cidade e não
ta, mas nós não estávamos contando muito que o lance conseguem sair.
musical desse tão certo, contávamos muito com a parte
visual, acreditávamos mesmo que uma coisa levaria à ou- E as bandas novas de lá tem essa mesma visão
tra. Graças a Deus a música ficou legal também. Por tudo de vocês, de colocar o pé na estrada?
isso, não vai ter música em português da gente, nossas Denis: Algumas bandas estão tendo, apenas não conse-
influências são outras. Não teria sentido. guiram, ainda, os contatos necessários para sair. No ano
que vem pretendemos fazer uma turnê com o Mugo aqui
Que bandas novas de Goiânia vocês destaca- pelo sul. Mesmo nosso som sendo tão diferente—eles
riam? são essencialmente uma banda de metal—pretendemos
Denis: Muita coisa boa tem surgido. O Mugo é uma levar adiante a idéia para que as duas bandas possam se
delas. Tem o Hellbangers, que é uma banda de uma mo- apresentar para públicos diferentes dos seus.
_texto _FotoS
n.a.s.a.
28
BRUNO FELIN RAFA ROCHA
O que Zé Gonzales, Squeak E. Clean, Amanda Blank, Barbie Hatch, Chali
2na, Chuck D, The Cool Kids, David Byrne, Del Tha Funkee Homosapien, DJ
AM, DJ Babao, DJ Swamp, DJ Qbert, E-40, Fatlip, George Clinton, Ghostface
Killah, Gift of Gab, John Frusciante, Kanye West, Karen O, Kool Keith,
Kool Kojac, KRS-One, LovefoxXx, Lykke Li, Method Man, M.I.A., Nick
Zinner, Nina Persson, Ol’ Dirty Bastard, Ras Congo, RZA, Santogold,
Scarface, Seu Jorge, Sizzla, Slim The Kid, Spank Rock, Tom Waits e Z-Trip
têm em comum? N.A.S.A. music.

Adentrar uma nave é sempre uma experiência um número de colaborações incrível, que leva a nave
interessante, no mínimo incomum, e o nome N.A.S.A. para além das possibilidades deste planeta.Afinal a maior
(sigla para North America-South America) entrega: essa, estrela deste céu – a música – é universal.
em especial, é capaz de muita coisa diferente. O Spirit Encontramos Zegon e Squeak no hall de um ho-
of Apollo, primeiro disco da dupla, se comunica com vá- tel em Porto Alegre, primeira parada da tour brasileira
rios mundos porque é feito pelo que cada um deles tem que fizeram em novembro. Com o som de um violão ao
de mais positivo, segundo define o próprio Sam “Squeak fundo, tocado por ninguém menos que o diretor Spike
E. Clean” Spiegel, parceiro de Zé Gonzales (ex-Planet Jonze (irmão de Squeak), embarcamos na nave enquan-
Hemp) no projeto. Se para os mais céticos o som não to Zé mostrava orgulhoso o seu Nike Dunk, edição do
é hip-hop, nem é eletrônico para os mais exigentes, uma De La Soul: “Os caras falam que eu fiquei mais contente
parte está explicada: a mistura é homogênea. quando chegou a remessa de tênis que tinha encomen-
Depois de se conhecerem numa festa lá em 2003 dado do que quando ganhamos o VMB+1, conta.
e começarem a fazer música no dia seguinte, os dois DJs
chamaram alguns convidados para gravar participações O disco tem muitos convidados e vocês não [+1] O N.A.S.A. ganhou
o prêmio da MTV de
no que viria a ser Spirit. Com a música falando por si, o podem contar com eles no palco. Qual o con- 2009 na categoria “Música
conceito do álbum foi se formando, a ponto de reunir ceito do show? Eletrônica”.

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Sam: Cada show é diferente. Pra alguns a gente traz Zé: Só entre nós. Haha.
artistas convidados, outros são só eu e o Zé, mas é sem- Sam: Os convidados se divertiam e nós discutíamos
pre diferente e sempre uma grande festa, algo um pouco para fazer algo realmente muito foda.
inesperado.
Zé: O álbum é diferente do show. Começou a ser feito Nenhum prolema com nenhum convidado?
em 2003, e até 2007 o nosso som ganhou mais peso e Sam: O único cara que era realmente muito louco e que
corpo pra show, então a gente toca basicamente os remi- acabou não entrando no disco foi o Bushwick Bill, o anão
xes do álbum feitos pela gente, remixes de músicas que a do Geto Boys. Ele foi o único cara difícil de trabalhar e
gente gosta dos outros, remixes de músicas que a gente acabou não participando.
fez pros outros, e tudo com audiovisual, controlado por Zé: Foi aquela vez que ele tava transando com a namo-
vinil. O formato mais simples é o DJ set com audiovisual, rada?
aí pode ser com convidados que encontramos em cada Sam: Não, aquilo foi outra noite, ele é uma boa pessoa,
cidade ou o Fatlip e o Ras Congo, que são os que viajam mas é meio doido. Tava sempre com uma mina diferente.
com a gente mundialmente. Mas aonde a gente tem sem- Mas foram bons momentos. As pessoas que escolhemos
pre uma gangue que viaja junto. eram positivas e foi uma experiência positiva.

Vocês tinham um conceito do disco desde o Voces têm muitas influências diferentes, mas
começo? Como reuniram todos esses artis- falam muito sobre funk brasileiro. Você co-
tas? nheceu através do Zé?
Sam: Primeiro era só a gente curtindo, fazendo música. Sam: Sim, muito. Eu estava recém conhecendo [a música
Não tínhamos um conceito para o álbum. brasileira] quando encontrei o Zegon. Ele me educou.
Zé: Começamos a trabalhar com uns à capellas. Zé: Primeiro ele foi conhecer o samba-rock, e aí, fazendo
Sam: E aí pensamos: “ah, deveríamos chamar uns amigos o disco, a gente entrou no rock dos anos 50, 60, depois
para colaborar”. Fizemos algumas coisas com Ol’ Dirty jazz, jazz brasileiro e o tempero do disco reflete essas
Bastard, Karen O e Fat Lip, e foi quando nós realmente influências. Antes eu estava em Los Angeles e tocava mui-
sacamos esse conceito tipo: “wow, esse disco deveria tra- tos brakes brasileiros, assim como os gringos fazem com
zer pessoas de mundos totalmente diferentes, parcerias o funk no hip hop, eu fazia do meu jeito. Mas depois a
inesperadas e combinações doidas em cada som, com a gente começou a ouvir muitas trilhas de filmes antigos,
ideia de derrubar barreiras entres as pessoas através da dos anos 70, de novela. Coisas obscuras.
música”. É algo maior que nós, é meio espiritual, olhando
o mundo sem divisões, somos todos seres humanos, sim- Muita gente está fazendo remixes de músi-
plesmente, fazendo música. cas de vocês. O que vocês vão fazer com todo
esse material?
Como vocês se sentem em ter feito a última Sam: Estamos fazendo um álbum de remixes, e fizemos
música do Ol’ Dirty Bastard+2? uma competição em que o melhor remix vai entrar no
Zé: Quando aconteceu, a gente não sabia explicar. disco. O disco está pronto, só falta essa música. São 50%
Sam: Foi muito inesperado! remixes nossos e o resto de outras pessoas. É bem louco,
Zé: Tivemos o ODB como um dos primeiros convi- é mais como o que estamos tocando hoje, mais uptempo.
dados, sabíamos que ele era muito difícil de convencer, Zé: O formato que junta estilos hoje em dia é o sam-
quase impossível, todos diziam “boa sorte”, e nós con- ple. Pode chamar de rap, de eletrônica, une rótulos todos
seguimos. num lugar através de um tipo de batida. É um formato
Sam: Nós não o conhecíamos antes da gravação. que os DJs da nossa geração estão aplicando para expan-
dir seu público.
No trailer do documentário que vocês farão
[+2] Ol’ Dirty Bastard sobre o disco parece que todos estão felizes, Zé, você pode falar um pouco sobre o Serato?
morreu algumas
semanas após a
se divertindo. Foi assim mesmo? Rolou algu- Zé: O Serato é uma ferramenta que veio para mudar
gravação, em 2004 ma briga? completamente o jogo do DJ, mudou o estilo de tocar de
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n.a.s.a.

todo mundo. Veio para acrescentar. Antigamente o má- Não rolou alguma oportunidade de trabalhar
ximo que podíamos carregar pra uma festa, eu, o Sam e com alguém daqui que você já tinha trabalha-
mais quatro amigos, por exemplo, eram 300 discos. Hoje do na época do Planet Hemp?
em dia a gente leva todos os nossos discos. Zé: O Seu Jorge tá no disco, mas eu não pensei em nin-
Sam: Eu nunca usei tantos assim...(risos) guém como MC, cantando em português, porque o alvo
Zé: As possibilidades são muito maiores, a velocidade era os EUA e não ia encaixar. O Seu Jorge é mais univer-
que você toca, dá pra pensar sempre na próxima músi- sal e é família, um irmão meu. Eu tenho relacionamento
ca, e os loops ficam perfeitos. Mixamos quatro músicas com todo mundo do Planet Hemp ainda, nunca fechei
ao mesmo tempo, fazendo o loop, coisas impossíveis de nenhuma porta. Mas [não convidei] até porque ia rolar
fazer em vinil. [O que acho de] quem tá tocando em vi- uma cobrança depois, dos que não entrassem. E mesmo
nil ainda? Clássico, estilo, bonito. Quem tá tocando em para os que cobram por não ter artistas do Brasil, eu digo
Serato e já tocava bem, tá a 300 por hora, e o resto tá que eu represento o Brasil. Toda a fonte inspiradora é o
tentando subir a serra. Brasil. Seria um trabalho legal fazer [parcerias] com os
artistas daqui, eu tenho vontade de fazer.
Mas tem o outro lado da moeda, que até te
motivou a começar o #vocênãoédj no Twit- Voces conhecem o Sellaband? O Public Enemy
ter+3... aderiu a pouco e é como os fãs financiando o
Zé: O ponto é: quem já começou aí, pegou a técnica e os álbum, ganhando diversas vantagens (eu ex-
vícios. É uma geração – não todos, claro – estragada de plico melhor e Zé interrompe)...
DJs. Gente que não sabe mixar de verdade, não mixa com Zé: Enquanto você falava o Sam foi abrindo o sorriso
o ouvido, mixa com o olho. Não tem pesquisa, baixa tudo, (risos).
mas nunca sujou a mão num sebo. Uma geração que tem Sam: Cara, eu acho uma ótima idéia. Muito bom. Pa-
tudo mastigado, sem raiz e sem base. Várias cópias, uns rece um modelo muito legal a aproximação com os fãs
dos outros, porque pegam material dos mesmos sites. diretamente.
Então só é original quem produz sua própria música ou Zé: É a nova indústria. Tem que fazer o esquema com
aquele cara que tem um toque a mais – que busca, digita- a galera.
liza, monta, edita, que tem mais o feeling de tocar. De cada Sam: Gostei muito cara, é bem direto com os fãs, sem a
100 DJs, tem efetivamente três hoje em dia. merda de selos e gravadoras.

Há muita diferença entre DJs, produtores, Especialmente com grupos como Public Ene-
beat makers e etc.? my, que tem fãs endinheirados que gostariam
Zé: Há muita diferença entre os beat makers, os produ- de ter um contato maior com a banda.
tores e entre um DJ de alma e um DJ de laptop. Claro Zé: Eu daria uma grana pro Public enemy.
que não é uma regra, mas pra mim só é DJ quem mixa e Sam: é, eu também, com certeza.
[+3] Zegon inaugurou
uma hashtag no faz a mixagem encontrando a batida de uma música e a Zé: Chuck D era um cara que a gente queria muito tra-
Twitter que usava para da próxima. Quem não faz pode ser um seletor, nenhum balhar. Precisávamos dele no disco.
ironizar os “DJs” que
proliferam pela noite problema com isso, existem grandes seletores que des-
apenas colocando troem numa festa sem serem DJs. Mas se tivesse um teste E tem algum artista que vocês queriam muito
CDs para tocar – sem
conhecimento da pra ser DJ, vários não iam passar. Com o #vocênãoédj eu e não conseguiram?
cultura DJ, tampouco
entendendo a técnica
também queria dar uma agulhada, e surgiu o lance do Je- Zé: Muitos.
envolviva na arte. sus Luz+4 uma semana antes, então foi muito comentado. Sam: O principal foi James Brown. Tentamos o tempo
[+4] Jesus, namorado
todo, de muitas maneiras, ele é meu músico favorito de
de Madonna, mostrou Então não é uma coisa só do Brasil? todos os tempos.
ser um DJ dos bons ao
discotecar com dois Zé: É mundial, com certeza. Não fui eu que inventei não, Zé: O meu também, com certeza. Tentamos também o
notebooks que apenas só fiz em português. Tem o #youcantdj e é muito doido. Andre 3000, o David Bowie, que respondeu e foi legal.
faziam a fachada para
um CD pré-mixado. Um melhor que o outro. To me divertindo no Twitter. Lou Reed também.
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_texto _FotoS
emicida
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BRUNO FELIN e fernando correa rafa rocha
EMICIDA
Na janela do oitavo andar, a vista para a cidade grande, suas
construções e mazelas, alimenta a rima. Vidrado na imagem,
incorporando a visão da metrópole, está um cara tranquilo
que descobriu muito cedo a satisfação de criar sua própria
versão das coisas.

Se as dificuldades financeiras impunham barreiras, te disco em casa e os equipamento ficavam lá nos fins
ele passava por cima erguendo os próprios tijolos. Sem de semana. E acho que isso foi um primeiro passo pra
medo de dar a cara a tapa, chegou no freestyle e, mais rolar um interesse pela coisa, mas não algo de “vou ser
tarde, no rap. músico”, ou [de perceber] uma afinidade pra parada. O
Mas este cara, com quem coversamos nas próxi- interesse era mais de estar na festa, tá ligado? De ver
mas páginas, foi ainda mais longe – e só assim, nós che- o baile acontecendo. Eu sou totalmente autodidata. O
gamos até ele. Espírito independente, foco e dedicação que eu tenho de formação é o que eu conhecia daque-
trouxeram o reconhecimento que lhe galgou uma posi- les bailes, muito soul, funk, disco, o samba, que sempre
ção de destaque na música brasileira. Revisitamos com foi presente na favela, o começo do funk carioca, todas
ele os momentos dessa caminhada e conhecemos de essas paradas fizeram parte do meu aprendizado. Fora
perto Leandro Roque de Oliveira, rapaz da favela que isso tinha o lance de ir na igreja com a minha coroa, ir
ainda criança inventou zines, histórias em quadrinhos e na macumba.Você acaba pegando o lance do sentimento
músicas autorais sem saber que tudo isso existia, e hoje, mesmo, da forma como os caras falam as coisas, o jeito
aos 24 anos, é Emicida – um dos rappers mais celebrados de persuadir. Hoje eu sou uma exceção, é um luxo fazer
de 2009. o que gosto e viver disso.

Como foi a sua caminhada desde a infância Mas você chegou a trabalhar em outras coi-
até chegar na música? sas?
Minha infância nem foi tão musical quanto a de vários Cheguei, sim, até na época da escola. Fui carregador do
caras que tiveram pai que tocava. Meu pai era DJ, mas eu mercado, eu já roubei uns mercado também, tá ligado?
lembro muito pouco dele exercendo isso. Tinha bastan- Era carregador de feira, fiz vários bico de pedreiro, pin-

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emicida

a gente fez um lance que nem o Governo

tor, fiz um corre como cobrador de lotação. E aos 15 Sobre esse lance da poesia. Você curte lite-
anos eu consegui um trabalho de artesão, fazia umas ces- ratura?
tinhas de vime, e foi o que eu mais gostei, por que era Curto muito, leio pra caralho. Tenho muito livro, discos,
perto de casa e não tinha muito compromisso. De lá eu principalmente samba. Mas o livro que mais me influen-
fui pra um estúdio porque me chamaram pra ser dubla- ciou na minha vida foi o Hagakure: O código do Samurai.
dor de desenho animado, pelo fato de eu já fazer freesty- Tenho até uma tatuagem com a capa do bagulho (mostra
le e tal, acabei me envolvendo nisso e eles me chamaram a tatuagem). Me marcou pelo lance da conduta, da dis-
pra ser estagiário do estúdio. ciplina. Mas eu não me prendo muito a isso, é um livro
mais de filosofia. Eu leio muito quadrinhos, sou fã do Will
Quando você descobriu o tino pro freestyle? Eisner, e também algumas biografias, tipo do Louis Arms-
Eu improviso mesmo desde criança. Não no rap, mas eu trong, Elizeth Cardoso.
fazia minhas próprias músicas. Eu ouvia um samba, eu fa-
zia um samba meu, eu ouvia um rock e fazia o meu, como De onde você tirou essa história com os fan-
se fosse uma paródia. Ia gravando nas fitinhas K7. O rap zines? Chegava algum nas suas mãos?
chegou um tempão depois, foi lá em 1993 que eu tive Não, nunca chegou não. O que aconteceu é que eu gosta-
meu primeiro contato sério, quando o Racionais MC’s va de música, mas não tinha dinheiro pra comprar disco,
lançou o Raio X do Brasil. Eu tinha 8 anos, e todo moleque e eu tinha umas fitas K7 de sertanejo do meu pai que eu
da favela, quando ouviu o bagulho, sentiu o que era aqui- não curtia e fazia minhas músicas em cima.A mesma coisa
lo. Não era a parada de “aquele cara canta minha vida”, com histórias em quadrinhos. Eu conheci, mas não tinha
era uma coisa tipo “esse cara sou eu, mano, essa porra grana pra comprar as revistas, então eu fazia as minhas
é minha vida mesmo”. Foi um boom que há tempos não próprias histórias. Eu tinha esse lance de fazer as coisas
acontece com o rap. Mas eu não sabia que tinha mais por mim mesmo. Bem depois eu fui saber que existia
discos, eu era bem trancafiado no meu bairro, mesmo, fanzine e que tinha esse nome. Pra mim tinha o Batman, o
não saía de lá. Super Homem e os meus quadrinhos, tá ligado? E eu tava
numa fase zoada, que eu tava indo pra um caminho muito
Foi o freestyle que te levou a um trabalho ruim. Eu conhecia uns moleques que roubavam os mer-
mais sério com as rimas? cado e comecei a colar com eles, pedir esmola no centro,
Pelo fato de escrever histórias em quadrinhos, eu fazia eles até roubavam umas tiazinhas. E eu tava ali junto. Tava
muitos fanzines, não de publicar e vender, mas fazia pra na rua direto, parecia que não tinha família. Repeti de ano,
mim.Tinha séries inteiras que eu fazia e guardava. Fazia os e no ano seguinte uma professora viu que eu gostava e
personagens, os roteiros. Eu tinha o hábito de escrever. começou a passar as lições em história em quadrinhos, e
Por isso, eu tinha um leque de palavras maior, mas ain- eu comecei a ir todo dia pra aula. Ela me levou pra visitar
da não saia arriscando fazer rima. Comecei a fazer umas a editora Abril, e aí eu tinha o sonho de ir pra gringa
poesias e conheci uns caras do hip hop mesmo, que fa- desenhar o Batman, o Homem Aranha.
ziam grafite na zona norte. Os caras faziam freestyle e eu
comecei a fazer com eles. Foram os primeiros caras pra Ia perguntar isso, qual era seu plano de vida?
quem eu rimei. Durante um bom tempo eu não tinha idéia, tipo, “se ti-

ta ligado? Noiz nao diminuiu o valor da


faz, que e dar valor pras notas de R$ 2,
ver outro dia amanha, tá bom”, tá ligado? E a parada foi ção também?
acontecendo, a vida que eu vivo hoje eu nunca imaginei. Eu não sei nada de produção, as pessoas acham que eu
Morar sozinho, ter as coisas que eu gosto. Eu sempre me sei, mas não sei porra nenhuma. Eu sou chato, eu tenho
imaginei sendo o que todo mundo é onde eu moro, “vou uma ideia na cabeça e vou atrás. Uma vez eu vi uma en-
ser motoboy até os 90 anos, fazer uns bico e me manter trevista do Zé Gonzales+1 e ele falou de uma MPC, falava
dessa maneira”. Nunca tive uma perspectiva longínqua, de da SR+2, dos teclados, aí eu coloquei na cabeça que pra
ter uma carreira, uma profissão. Uma parada que sempre fazer rap eu precisava de uma MPC, então com 19 anos
me tocou foi ser carteiro, que eu acho do caralho até eu comprei uma.
hoje, tanto que eu tenho um rap que fala disso, uma his-
tória como se eu tivesse sido carteiro. Como começou o lance da gravação da mix-
tape?
Quando foi que voce sentiu que com o rap A gravação foi depois. De todo esse processo que eu tô
você poderia chegar a algum lugar? te falando, eu sempre fui escrevendo e guardando. Quan-
Eu nunca quis colocar esse peso do rap ter que pagar do fui ver eu tinha um acervo monstruoso de letras. Al-
minhas contas. O que aconteceu foi que o rap começou gumas eu achei que não faziam justiça ao que eu penso
a tomar tanto tempo que eu comecei a ter que faltar hoje, mas boa parte era válida, e tem várias músicas da
no trabalho, e aí eu tomei essa decisão de começar a mixtape, tipo “Sozim”, “Só isso”, que são músicas de mui-
cobrar grana pros shows, porque eu ficava a noite toda to tempo, tipo uns 4, 5 anos. Mas eu coloquei por que elas
lá e eu não podia ir trampar no outro dia. Eu vi que eu funcionam como uma foto, guardam um momento que ia
movimentava um público, principalmente nas batalhas. Eu acabar se perdendo.
percebi que tinha um público do lugar, da batalha, mas
eu vi que eu tinha o meu público. É muito louco ter o E os produtores e MCs que participaram da
público do rap, mas esse público consome o gênero, e eu Mixtape, você conheceu nas batalhas mesmo?
quero que as pessoas consumam a minha música. Quero Nem nas batalhas. O Felipe Vassão, que produziu “Triun-
que estudem o que eu faço, prestem atenção no que eu fo”+3, eu conheci quando eu trabalhava no estúdio. Foi o
to dizendo, que achem o Emicida dá hora. primeiro maluco que me explicou várias coisas de música
que eu guardo até hoje, ele é meu mestre mesmo. Fora
Foi ai que você começou a escrever as suas isso, conheci Marechal, Slim, nos rolê de rap, onde a gen- [+1] Zé Gonzales
integra o N.A.S.A.,
próprias músicas? te já se trombava, se cumprimentava, mas não trocava que aparece em outra
Eu já escrevia umas coisas antes, mas não mostrava, não muita ideia, tá ligado? E aí a gente se conheceu e acabou entrevista nesta mesma
edição.
gravava. Então eu fui com uns amigos brincar no estúdio, tendo esse vínculo, e eu comecei a pegar uns instrumen-
numa garagem, pirando. Eu tinha o contato do estúdio em tais com os caras. O som com o Slim eu gravei [com [+2] MPCs foram
equipamentos que
que eu trabalhava, que era bonzão, então eu fazia umas ele] mesmo. Mas aí eu peguei todos instrumentais e fui permitiram a execução
de samples e de batidas
coisas lá, mas a maioria era na casa dos camaradas, numas pro estúdio e gravei tudo de novo, foi no começo desse eletrônicas ao vivo.
garagens. ano, entre janeiro e março. Porque mesmo que as letras
[+3] “Triunfo” revelou
fossem antigas, eu tinha uma forma nova de cantar elas, Emicida em 2006, e tem
E chegou a aprender alguma coisa de produ- hoje eu entendo tudo de uma outra forma, tenho umas clipe no YouTube:
http://tr.im/Hxsi

musica, noiz aumentou o valor do dinheiro!

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36
garage fuzz

divisões diferentes na minha cabeça, tá ligado? Regravei Não é nem o lance de ser independente pra sempre, eu
todas as letras, chamei algumas pessoas pra cantar um gosto da ideia de ser independente pra sempre, se eu
refrão ou outro, peguei instrumental com mó galera, co- tiver uma estrutura que supra a demanda de trampo que
nheci o Nave, e a gente acabou formando uma família eu tenho, que é o que a gente tá tentando fazer, construir
mesmo, quando você encontra seu pessoal e vê que são toda uma rede de trabalho, sabe? Para a coisa andar.
as pessoas com quem você gosta de compartilhar esse
tipo de energia, sabe? Eu vou na casa do Nave, eu faço Isso tá rolando muito no rock, também, os
três, quatro, cinco músicas, tá ligado? Que é uma parada coletivos, a galera se organizando…
tranquilona, é um lugar que me inspira, um clima que me É, então, é disso que eu ia falar, a galera se organiza nos
faz escrever. Fora de lá, mano, só na minha casa pra eu coletivos pra fazer a coisa crescer e fazer o mercado in-
escrever desse jeito. dependente deixar de ser visto como um estágio, e po-
der ser visto como o auge da sua carreira, “pô, quero
Tem todo esse lance do faça você mesmo na ser independente”, tá ligado? A melhor parada é você
sua mixtape. Isso é um reflexo das paradas não depender de ninguém, eu gosto pra caralho de ser
que você já fazia desde criança? livre, eu faço minha parada do jeito que eu gosto. A coisa
Então, eu vejo dessa forma. Eu gostava de música e não ti- tá se redefinindo, as grandes movimentações da música
nha onde comprar disco – eu fiz minha música; eu queria brasileira vêm de cantos independentes. Já não tem um
ler e não tinha dinheiro pra comprar história em quadri- grande artista que é estouro e faz as outras bandas não
nhos – eu fiz minha revista. Eu queria uma mixtape com o aparecerem. Quem fez mais barulho esse ano, fomos nós,
tipo de rap que eu gosto, eu fiz o tipo de rap que eu gos- Móveis Coloniais de Acaju, são bandas que não vêm de
to. Eu queria que essa parada desse certo. Fiquei pirando, uma gravadora, podem até ter assinado depois…
queria saber como eu podia baratear os custos, porque
CD tá foda, não vende mais. Comprei uma copiadora de E ainda tem um impacto muito grande o re-
CD, comprei papel, tesoura, cola, tipo um trabalho de es- conhecimento como o de uma premiação da
cola, tá ligado? Recortei as capinhas, fiz a capinha e falei MTV+5, dá um boom?
pro meu irmão: “mano, dá pra vender o bagulho a R$ 2 Coloca a gente num patamar de igual pra igual com os
porque a gente finalizou o preço dele a R$ 1, essa parada outros, porque a gente tava concorrendo com Skank e
aí vai ser o maior estouro. CD é caro pra caralho, vai dar com O Rappa, que têm de carreira o que temos de vida.
pra encher a mochila e sair pra rua e levar pra várias pes-
soas que vão comprar só porque custa R$ 2”. E aí essas Quais são seus planos, além de seguir tocan-
pessoas vão escutar o CD quando chegarem em casa e do pra divulgar a mixtape?
vão se surpreender… Cara, eu quero voltar a fazer minhas histórias em qua-
drinhos. Sério! (risos). Eu gosto pra caralho de desenho,
Devem até pensar que pagaram bem menos gosto de desenho animado, tenho vontade de fazer. E eu
do que valia! quero fazer as coisa virarem, fazer tudo isso aí andar igual
Então, a gente usou essa aí, falar que a gente fez um ba- eu faço com as músicas. Fazer uma revista em quadrinhos,
gulho que nem o Governo fez, que é dar valor pras notas porque a cultura de ler aqui é pobre pra caralho, né? Não
de dois, tá ligado? Noiz (sic)+4 não diminuiu o valor da tem, não existe.
música, noiz aumentou o valor do dinheiro! (risos)
É, e gravar? Você tem ideia de gravar um dis-
[+4] Não é a Noize,
mas uma expressão E como é a realidade brasileira das gravado- co oficial?
comum, usada pelo ras em termos de rap? Tem, tem, mas a gente tem repensado isso até, porque eu
rapper inclusive para
denominar seu site Tirando a Cosa Nostra, do Racionais, não tem outra, ou- não sei se eu pego uns apoios com umas marcas, porque
noiz.com.br tro selo tão significativo quanto esse. esses caras são enrolados, acham que o negócio é dar um
[+5] Emicida concorreu par de tênis pra você e tá tranquilo, então eu tô pensando
nas categorias “Rap”,
“Clipe do Ano” e
Porque você falou que não tem a intenção de seriamente em trabalhar mais e fazer meu bagulho andar
“Aposta”. ser pra sempre independente… sozinho, como sempre foi, tá ligado?
_texto
the old romantic killer band
26
42
Fernando correa
O Exorcismo de The Old Romantic Killer Band

O demônio venceu. Havia sido esta a con- nossos, também. A entrevista a seguir foi provavelmene a
dição imposta por Harry Johns, guitarrista última que Greg Holland deu, na mesma semana em que
e vocalista, para que sua banda parasse de anunciaram a separação. É o nosso tributo a dois dos
tocar. O baterista Greg Holland confirmou a responsáveis por lembrar-nos de que o rock é raivoso,
triste vitória: “A música da The Old Roman- transgressor e tão efêmero quanto permanente.
tic Killer Band foi muito importante para a
gente, mas nós sacrificamos tudo por isso – A abertura de The Swan resume muito da mú-
agora queremos tudo de volta”. sica de vocês, flui entre blues suave e explo-
sões agrressivas que arrematam a mistura.
A declaração partiu um coração que batia desde Como cada um contribuiu para esse som?
abril. Na época, resolvemos fazer uma matéria à procura Bom, acho que as músicas começaram a ficar mais pe-
de ecos recentes do grunge, e o duo inglês tomou nosso sadas, longas e agressivas quando eu entrei para a banda
ar. Do mar de sintetizadores oitentistas e resgates da [depois do lançamento do EP You don’t know how to love,
psicodelia, The Old Romantic Killer Band emergiu como em 2008]. Nosso som já estava lá; esses sons blueseiros
uma promessa de distorções e berros do fundo da alma. de amor, sobre corações partidos e espera. Eu permiti
[+1]
Mas depois de gravarem um EP repleto de referências a que a música crescesse, o amp e os vocais do Harry ti-
demônios pessoais em pleno exorcismo, Greg e Harry nham que equiparar o volume e a presença da minha ba-
decidiram acordar do sonho cansado que pouca gente teria. Então os shows imediatamente ficaram mais altos
teve a chance de compartilhar. e preenchidos, e também mais raivosos. Então acho que
Muito disso talvez se deva à personalidade forte essa parte pode ser atribuída a mim.
de Johns, característica de gênios talentosos como o que
ele demonstrou ser ao longo de uma trinca de lançamen- You don’t know era bem mais ligado ao indie [+2]
tos. O primeiro single, You don’t know how to love+1, ainda rock e parece mais instintivo que The Swan.
exibia uma banda que engatinhava para se distanciar das O que amadureceu na banda no ano que se
texturas do indie rock. No único álbum full, The Swan passou entre o single e o álbum?
With Two Necks+2, incorporaram tanto feeling e desespe- Acho que You don’t know tinha um clima indie devido à
ro ao longo das dez faixas, que confundiram o ouvinte: cena de Leeds na época e ao que estava acontecendo ao
poderia ser obra de um bluesman talentoso ou de uma redor da banda. O feeling blues do The Swan veio quan-
[+3] “Lovers Pass” é
banda de rock bem conduzida, mas apenas guitarra, ba- do eu entrei, e a gente realmente soube o que queria. o single de The Swan
teria e voz darem um fruto como aquele? Agora que de- Fomos felizes por criar um álbum com uma simplicidade e uma das canções de
maior apelo pop do duo:
cidiram “libertar seus fantasmas”, nós exorcizaremos os blueseira, que parecia oferecer um grande potencial a ser http://tr.im/HB2V

25 >>
noize.com.br
28
the old romantic killer band

explorado. Passamos o ano seguinte [ao lançamento de mente não entendo. Nunca compro MP3, mesmo, só vinil.
You don’t know] em turnê com bandas grandes, tocando
para os fãs deles em lugares maiores. Então passamos a A Old Romantic é parte de uma cena under-
escrever músicas que atrairiam mais sua atenção – con- ground em Leeds? Vocês alguma vez se senti-
sideravelmente mais pesadas, mas com uma maior sensi- ram parte de algo especial acontecendo, algo
bilidade pop. que fosse ficar grande?
Há uma cena muito grande em Leeds. Muitas bandas, mui-
A música de vocês parece ter uma matriz ta gente que toca em várias bandas e uma porção de ba-
norte-americana. O que vocês extraíram de res e casas para dar suporte a isso tudo. Algumas vezes é
cada país para o som que fizeram? difícil ficar empolgado com o que acontece ao seu redor,
Bem, o blues é americano, e seria muito rude da nossa é tudo tão desgastante que você não tem energia para
parte chupar tudo de lá sem dar nada em troca. Da Ingla- se empolgar. A geografia de Leeds leva todos estudantes
terra, no entanto, a gente pegou a crueza, que contribuiu e músicos a morarem em um raio de 1km, todo mundo
para a nossa agressividade. Existe também uma grande acaba morando meio amontoado. Isso, entretanto, resulta
vocação para a música no norte da Inglaterra, de bandas em shows sempre lotados e com muita energia no ar.
como The Cribs, Elbow, Sunshine Underground, Gentle-
man Pistols. Essas bandas existem há anos e mantém o Como rolou o convite para tocar com o Gaz
pique, de verdade. Isso é muito inspirador. Coombes (Supergrass, The Hot Rats)? Vocês
desperdiçaram essa oportunidade?
Vocês ficaram conhecidos por apresentações Nós chegamos a tocar com eles, três datas no Reino
caóticas que geralmente terminam com equi- Unido, foi incrível. Eles entraram em contato com nosso
pamentos arremessados longe. Como um duo agente e aconteceu uma semana depois. Eles tinham um
independente arca com essas despesas? set ainda mais caótico que o nosso, quebravam e detona-
Bom, a gente não tem como arcar com isso, nosso equi- vam equipamentos, faziam a gente parecer muito profis-
pamento passou por tempos difíceis mas foi capaz de sionais. Mesmo assim, são caras muito legais (risos).
aguentar. A Telecaster que o Harry usa é conhecida pela
estabilidade: desde que você não bata com o braço, tudo E (os festivais) Leeds e Reeding, como foram?
bem. É a guitarra mais simples do mundo. Minha bateria Foram enlouquecedores. Com certeza estavam na lista
sobreviveu a enchentes e a plateias inteiras pulando e de coisas que eu queria fazer antes de morrer. Aparen-
passando por cima dela. Meus pratos quebraram, mas é temente nós fizemos o melhor show naquele palco em
só encontrar ou roubar pratos novos (risos). todo o fim de semana. O público exigiu bis. Mas depois
do buzz de tocar em tudo aquilo, nada aconteceu, nin-
Como fazer a música soar atual sem parecer guém deu a mínima, e foi só. Acho que pensamos que
um revival precoce dos anos 90? Vocês se pre- seria nosso estouro, mas todo mundo foi para casa de-
ocuparam com isso? pois do festival e nenhuma palavra foi dita. Achamos que
Na verdade, não. Não acho que alguma vez tenhamos atingimos o topo, tocamos no festival que costumávamos
pensado que precisávamos fazer qualquer coisa para dife- ir quando crianças. Era hora de desistir desse fantasma.
renciá-la de um revival. Era o que era, muito orgânica, surgia
quase tão rápido quanto era tocada. Não houve tempo de E finalmente, o que vocês vão fazer daqui para
parar e pensar, simplesmente aconteceu muito rapidamente. frente? É um fim definitivo para o TORKB?
Nenhum de nós sabe. Somos tão duros que não temos
Vocês chegaram a vender faixas pelo Ama- dinheiro para levar nossas namoradas para jantar, nem
zon? A venda de MP3 funciona para bandas para pagar nossas contas. Acho que teremos que cair na
como o Old Romantic aí na Europa? real e ver como nos sentiremos levando a vida em outras
[+] Na foto: Greg Para ser honesto, nenhum de nós sabe nada sobre essa áreas. A música do The Old Romantic Killer Band foi mui-
Holland (bateria) e parte das coisas. A gente lançou o disco pela Bad Sne- to importante para a gente, mas nós sacrificamos tudo
Harry Johns (vocais e
guitarra). akers Records e eles lidam com a parte de MP3, eu real- por isso – agora queremos tudo de volta.
29
noize.com.br
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x
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48 zines

ffw & REW


FFW >> A VOLTA DO VELVET UNDERGROUND
Ainda que roqueiros tendam a ficar menos transgressores à medida que suas peles
enrugam, o Velvet Underground é uma exceção que reafirma sua singularidade até
na hora do revival. Enquanto dezenas de dinossauros extintos nas últimas quatro
décadas ensaiam seus comeback specials como caça-níqueis declarados, Lou Reed e
cia. fizeram uma volta diferente: na terça-feira, 8 de dezembro, Reed, a baterista Moe
Tucker e o baixista Doug Yule encontraram fãs da banda na Biblioteca Pública de
Nova York parta uma sessão de perguntas e respostas. Talvez este seja um tipo de
evento tão insubstituível quanto a experiência de assistir a um show – até porque,
40 anos depois, o Velvet já foi tão copiado que talvez seja melhor apenas escutar seus
discos do que arriscar o encanto mítico que resta. Bem mais receptivo com fãs do
que costumava ser com jornalistas (vide http://tr.im/Hf8Q), Lou não poupou elogios a
Tucker,Yule e o padrinho Andy Warhol (“Warhol era nosso cão de guarda”).

FFW >> O ÓCIO CRIATIVO DO POMPLAMOOSE


“Talvez nós devêssemos publicar um vídeo ensinando bandas a trabalhar a inter-
net”, disse Nataly Dawn, do duo californiano Pomplamoose. A afirmação, feita ao site
Examiner.com, veio sustentada pelos três pilares que o Pomplamoose ergueu: o de
conseguir, com certo jogo de cintura, desviar do estereótipo de duo indie cute-cute;
o de publicar no Youtube interpretações em vídeo de covers e músicas próprias, em
que toda a nota tocada vem de um instrumento ou músico que aparece na tela – mo-
dalidade cunhada de videomusic; e daí, Nataly e o parceiro Jack Conte conseguiram a
atenção de fãs que hoje lhes possibilitam viver de sua música. Isso mesmo: uma dupla
de quem você possivelmente nunca ouviu falar tem como único trabalho compor,
gravar as “videomúsicas”, publicá-las no YouTube e vender as canções pelos serviços
iTunes e E-Junkie (http://ejunkie.com). E os shows? Acontecem, mas dá para contá-los
em duas mãos. Confira o myspace da dupla (http://myspace.com/pomplamoose).

rewind

<< ZINES
Informação diferenciada para um público exigente e muitas vezes destribuída gratuitamente. Não, não estamos
falando da própria NOIZE, mas dos fanzines. Este formato de jornal que não segue as duras regras dos
diários foi usado e abusado pelos punks e por muita gente que sentia falta de um conteúdo específico e de
qualidade onde vivia - ou simplesmente queria falar o que pensava. Antes da internet (lembra?), os conteúdos
musicais que não eram contemplados o suficiente na TV, nas rádios ou nos jornais precisavam circular, afinal
o mainstream é apenas um espectro limitado da música. Eles faziam a cena underground dos mais diferentes
estilos ganhar voz e comunicar-se consigo mesma, já que as próprias bandas trocavam informações, fitas e todo
tipo de material com os seus responsáveis.
qualquer coisa minha colecao
André Peniche

Divulgação
JÚPITER MAÇÃ FALA SOBRE...

THAMES - part one .


.: VINICIUS BRUM_
Baixista da Rinoceronte

Não consigo parar de ouvir o disco do


Them Crooked Vultures. É impressinante
Às Margens do Thames, como os três conseguiram unir suas
atirando pedras de médio porte no amigão rio, particularidades de forma perfeita. Dave
parceirão, eu Grohl chega muito perto dos timbres de
Bonham e o delírio do baixo de Jones
íntimo da mini praia,
dispensa comentários.
das docas, flertivo com a outra margem...
parei com as pedras... o rio não se move,
o pássaro, o dia nublado...
canto “Lovely Riverside”, à capela.
redescoberta

Música de corsário. Thames agradece movimentando ondas que vinham do centro até
a margem num quase desesperado anseio por me agradar... Sim eu chequei, no boat on!!!

Mágico.

Porto Alegre, cais do Porto, chuva fina, pizzo/terninho, câmera, clicks, cigarro.
Cafés na rua da praia, conceito.
Hamburgo/Porto Alegre/Liverpool/São Paulo/London/Pampas do Rio Grande através .: MARCOS VALLE_
_MUSTANG COR DE SANGUE (1969)
da janela de uma Van/Chuva Fina/Dia Nublado/Cavalo Solitário.Mixing...!!!!!
“Só perdendo o juízo eu acho a cabe-
Tendência, yes I am. ça”. A emblemática frase que Marcos
Valle canta em “Os Dentes Brancos do
Às vezes me esqueço de prestar atenção no primeiro sopro do vento, acabo me Mundo” tornou-se lema de sua carreira
ligando na respiração próxima. Duro de aquariano,Yoko Onno.Vi Mick Jagger hoje, na durante a década de 1970, em que o
compositor enfileirou uma sequência de
televisão com 21 aninhos de idade, cabelo duro de oleoso. Actually softly greasy.
inventivas obras-primas. Mustang Cor
de Sangue é o primeiro passo. Se não
Filme, Apartment Jazz.Casa de Cultura Mário Quintana.Café Doppio.Bob Dylan é tão experimental quanto os discos
eletrificando.Mixing...Conceito! posteriores, agrega sonoridades como
Artista, yes I am. Pop music. Four on the floor.Vidrado. Amigo do baterista. Do bossa nova, soul, frevo e a Pilantra-
guitarrista. Do baixista. Moog and organ: Astronauta Pinguim. gem de Simonal, soando autêntico
Estilo próprio.Yes I have. e sofisticado. Já as letras, de autoria
do irmão Paulo Sérgio Valle, versam
Amo as artes e todos aqueles que as admiram e logicamente básico/praticamente a
sobre o filósofo “anárquico” Diógenes,
minha. Também aqueles que virão... 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Bíblia,
maconha, masturbação, publicidade,
Beijos, ternura, frisson, tendência do instinto básico... consumismo e naves espaciais. Para
completar, há ainda o groove visionário
Love do piano de Marcos Valle. Essencial é
Júpiter Maçã pouco. Leonardo Bomfim
49
noize.com.br
reviews _THEM CROOKED VULTURES, ARCTIC MOnkeys,
sapatos bicolores, animal collective
LADY GAGA ARCTIC MONKEYS
The Fame Monster Cornerstone

Difícil acreditar que Fame Monster seria “Cornerstone” é o hit de Humbug. Nela, Alex
lançado junto com o primeiro álbum de Turner narra a profunda saudade de uma su-
Gaga – embora ouvi-lo sob essa perspectiva posta ex-namorada, com uma sinceridade
maximize suas qualidades. O single “Bad Romance” explicita a salada de que faz da balada uma música digna de dar nome a um CD. Foi isso,
influências pop que vem pela frente, em que se destaca o empréstimo de fato, que os Monkeys fizeram. O EP Cornerstone junta à faixa-título
do potencial dançante quase tosco dos anos 1980. Se o single equivale três canções que, por motivos diversos, ficaram de fora de Humbug.
a “Poker Face” de Fame, a excelente “Monster” corresponde a “Just “Sketchead”, ainda que carregue as texturas metaleiras do Monkeys
Dance”. A explosiva “Dance in the Dark” é um dos vários momentos de 2009, está mais para um exemplar sombrio da new-rave que ainda
em que se pensa em Madonna, apesar de lembrar, também, sua habita Turner. “Catapult” poderia fazer parte de um disco anterior dos
colega Little Boots. Enquanto a parceria com Beyonce traz frescor ao Monkeys, com um verso à Last Shadow Puppets. Por fim, em “Fright
conjunto, as guitarras da tragável balada “Speechless” quebram com Lined Dining Room” a bateria inicial te diz Black Sabbath—mas o que
sua sinteticidade. Trata-se apenas de uma compliação de hits – talvez segue é um Monkeys com cara de folk western. Cornerstone é o talento
mais facilmente esquecíveis que os anteriores. Maria Joana Avellar que sobra para Alex Turner e cia. Fernando Correa

THEM CROOKED VULTURES


Them Crooked Vultures

Quando três dos maiores representantes do rock produzido em suas épocas se juntam
para a gravação de um disco, um clássico desponta no horizonte. Them Crooked Vultures,
álbum de estréia do supergrupo homônimo formado por Josh Homme (Queens of the
Stone Age) nos vocais e guitarras, John Paul Jones (ex-Led Zeppelin) no baixo e Dave
Grohl (Foo Fighters) na bateria, confirma que o conflito de gerações não vale para a
música. “No One Loves me & Neither do I” dá o pontapé às 13 faixas que unem de
forma perfeita os riffs inteligentes e o timbre sombrio da voz de Homme ao peso da
cozinha Jones-Grohl. Na sequência, o stoner rock impera até “Scumbag Blues” resu-
mir quatro décadas de rock em pouco mais de 4 minutos. O resto apenas confirma
que em alguns anos você vai contar aos pequenos em casa que viu tudo isso surgir.
Lucca Rossi

50 CENT Animal Collective


Before I Selfdestruct Fall be Kind

Before I Self Destruct é mais 50 Cent e menos Abrindo o ano com o excelente e
o cara que quer derrubar Kanye West – elogiadíssimo Merriweather Post Pavillion, os
mas não conseguiu –, como foi em Curtis, caras do Animal Collective não precisavam
seu último disco. Esperava que ele se auto-destruísse de vez neste de mais nada para acabar no topo das listas – não só de 2009
novo álbum, mas de certa forma um pouco do que lhe deu destaque como da década. Mas, insatisfeitos, resolveram lançar as cinco faixas
está de volta: um quê de obscuridade, peso e gangstarismo. As letras redondas, bem produzidas e criativas de Fall Be Kind. A esquizofrenia
não possuem nada que valha a pena ouvir, e o fato de 50 assumir um é a de sempre, porém mais bem trabalhada, como nas cordas
papel de inimigo de todo mundo o torna ainda mais repetitivo, por suntuosas de “Graze” ou na summer-jam em que “What Would I
vezes insuportável. Talvez se tivesse soltado Before I Selfdestruct (que, Want Sky” desemboca. “I Think I Can”, melhor faixa do EP, mostra
segundo rumores, estava pronto há 2 anos) ao invés de Curtis, não a recém encontrada maturidade do grupo: há tanto espaço para o
teria apanhado tanto de Kanye West. A verdade é que ele não empolga pulso sinistro de sintetizadores elásticos e vocais viajantes quanto
faz tempo. Vale a pena ouvir “Death to my Enemies” e “Psycho” com para a cantiga psicodélica que conclui a faixa num tom mais leve,
Eminem. Bruno Felin descontraído. Rafael Abreu
51
noize.com.br
OS ZÉMARIA CFCF
EFERVESCENTES The Space Ahead Continent
Os Efervescentes

Mesclando a sono- Mike Silver, DJ/pro-


Os Efervescentes ridade de diversas dutor canadense,
estreiam no universo bandas européias, trabalha ambiências
dos discos físicos – aqueles com 10 faixas ou como Soulwax e New Young Pony Club, à es- e texturas eletrônicas em faixas que não sa-
mais, capinha, encarte e toda aquela atmosfera sência que definiu Zémaria como “pai” da cena bem bem se servem para a pista de dança
quase extinta. A iniciativa pode ser considera- independente de Vitória (Espírito Santo), The ou para o fim de uma festa (provavelmente
da parte da coerência que o trio mantém no Space Ahead carrega uma sonoridade leve e, ao para os dois). “Big Love”, do Fleetwood Mac,
figurino, performance de palco, letras, e agora, mesmo tempo, energizante, válida tanto para bem transformada em seis minutos de balea-
lançando um álbum, como nos velhos tempos, começar um dia de trabalho quanto para ter- ric disco, o space funk de “Half Dreaming” e o
pelos quais eles tanto prezam. A fórmula rock- miná-lo. Revezando-se entre vozes masculinas e techno sensual estilo Junior Boys de “Come
dançante faz qualquer pezinho bater no chão femininas, nenhuma das faixas do disco parece Closer” são destaques, mas o que Conti-
com a abertura “Não Demore”. O disco não se repetir. Os destaques vão para “Any Distan- nent mostra é que o CFCF ainda promete
apresenta novidades, mas quase tudo em ter- ce”, em que os sintetizadores se sobressaem um pouco mais que cumpre. Mesmo que o
mos de música já foi feito antes, certo? Então sobre guitarra e bateria, e para “Hit do Porto”, projeto não seja redondo como se gostaria,
(“Por Que Não Relaxar?”), fiquemos com o que realmente tem a pegada grudenta dos hits. Continent é um bom disco para se ouvir meio
que foi feito de melhor. Ana Luiza Bazerque Alexandre Corrientes dançando, meio sonhando. Rafael Abreu
Escute também: ...AND JUSTICE FOR ALL, LOAD, RIDE THE LIGHTNING.

DiscografiaBásica por Ricardo Finocchiaro METALLICA


Kill ‘Em All

Este álbum é o marco principal do thrash metal surgido na bay area em San Francisco. Lançado no ano
de 1983, com sua formação original composta por James Hetfield (voz/guitarra), Lars Ülrich (bateria), Kirk
Hammet (guitarra) e Cliff Burton (baixo), o Metallica aparecia para o mundo com um álbum recheado de
hinos. Já na abertura do álbum, “Hit the Lights” começa como se fosse o início de um show, uma quebradeira
crescente. “The Four Horsemen” segue na mesma linha, com riffs e paradas que puxam o ouvinte pra dentro
do peso. Além dessas ainda temos “Seek & Destroy”, que chegou a ser incluída no clássico seriado televisivo
nacional desta década, Armação Ilimitada—responsável por fazer a criançada conhecer o Metallica “na marra”.

Master Of Puppets

O ápice da criatividade musical da banda se deu neste que foi seu terceiro álbum de estúdio. Lançado em 1986,
mostra a banda mais madura, com composições mais trabalhadas e, consequentemente, mais longas.Tido para
a maioria dos fãs como o melhor disco da banda, em várias músicas temos a alternância de melodias leves com
riffs pesadíssimos. Resultado disso foram as mais de 500 mil cópias deste álbum, que é outro divisor de águas
da cena metal. Na primeira faixa temos “Battery”, que começa com um estupendo dedilhado de cordas para
depois, claro, sentar a lenha. A música que dá o nome ao álbum, “Master of Puppets”, é uma das poucas que
não saem nunca do repertório da banda nos shows, mostrando o quanto ela é importante e querida pelos fãs.

Black Album

Muitos podem torcer o nariz, mas este álbum foi o que jogou o Metallica na estratosfera das grandes ban-
das do mundo. Se antes do Black Album eles já eram reconhecidos e famosos por suas composições, agora
definitivamente eles cravaram o seu nome entre as bandas mais importantes de todos os tempos. Já com o
baixista Jason Newsted, que entrou na banda após a morte de Cliff Burton, o disco possuí três sons que são
indiscutivelmente grandes hits do rock pesado mundial: “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters” e “Sad But
True”. Mais de 15 milhões de cópias vendidas, para não deixar dúvidas em relação à popularidade da banda
ou das músicas contidas neste álbum.
SAPATOS BICOLORES
Quando o Tesão Bater

Uma coisa está bem clara em Quando o tesão


bater (Senhor F Discos), segundo disco da ban- ta por vir
da brasiliense Sapatos Bicolores: o trio tem um
som para chamar de seu. André Vasquez (guitarra, voz), PC (baixo) e Caio .: 12/01/2010_ Ringo Starr | Y Not
(bateria) não reinventam a fórmula certeira da estreia (O clube quente dos Que bom que Paul e Ringo ainda vivem e se dão bem. Macca colaborou
Sapatos Bicolores), mas a aprimoram, a expandem. Mais entrosados, tiram em duas canções de Y Not, próximo disco de inéditas do Ringão. O
o melhor do formato power trio. A produção, mais uma vez de Gustavo single “Walk with me” e a faixa “Peace dream” terão participações de
Dreher, detalha o que eles têm de melhor: uma cozinha pesada e precisa, Macca no vocal e no baixo, respectivamente. “Aquilo foi tudo Paul
um guitarrista incrivelmente criativo, dono de técnica impecável e compo- McCartney, e não poderia ter sido melhor. O cara é um gê-
sitor de mão cheia. O disco bebe de rockabilly, Django Reinhardt, country, nio”, afirmou, para deixar os fãs ansiosos pelo 12 de janeiro de 2010.
Hendrix, power pop, Queens of the Stone Age, psicodelia, rock gaúcho…
mas faz tudo à sua maneira.“Febre alta”,“Sadie”,“Passagem pro Inferno” e
“Na caverna” são alguns pontos altos do CD. Pedro Brandt confira
Alessandra Leão BEAK> Mallu Magalhães
Dois Cordões Beak> Mallu Magalhães
ANNIE
___O samba, a ci- ___O projeto ___Pela época do
Don’t Stop
randa e o maracatu de Geoff Barrow lançamento, pode
aparecem com um (Portishead) é um passar despercebido
frescor delicioso. tanto inconsistente. o amadurecimento
Volta Annie, a norueguesa que ensinou muita Dois Cordões tem a Gravadas em 12 das composições,
gente a olhar menos torto pra qualquer coi- atualidade de um dias, as músicas têm que abandonam o
sa que seja, soe como ou simplesmente se manguebit guitar- introduções pedan- terreno seguro do
apresente por “pop”. Don’t Stop chega cinco anos depois de Anniemal reiro com a voz tes, que explodem folk pop e vão para
e seu maior problema é ter perdido um pouco do imediatismo de seu macia de Alessandra, em determinados a MPB modernosa e
antecessor. Há, sim, alguns poucos problemas de produção: “When The as texturas e os momentos. E aí pro rock britânico de
Night” é tão doce que deixa o ouvinte instantaneamente diabético, ritmos, os chocalhos tornam-se tão boas ontem e sempre.A
“Loco” é genérica demais pro próprio bem e “The Breakfast Song” e os chacoalhos ca- que cabe a você de- produção de Kassin
é um pouco... idiota. Mas o disco se salva por faixas como a impeca- rinhosos do Recife cidir se ama, odeia parece ter sido o
velmente produzida “I Don’t Like Your Band” e o eletropop de “My antigo. ou fica confuso. bolo da cereja.
Love Is Better”, com melodias tão boas, simples e feitas pra cantar
junto como nunca. Acessibilidade e qualidade andam juntas, de vez em
quando. Rafael Abreu DVDS

JOHN MAYER WANDER WILDNER


Battle Studies Aventuras de um Punkbrega

Em 2005, ao lado do baixista Pino Palladino Ora hardcore, ora brega, o eterno punk
e do baterista Steve Jordan, John Mayer for- Wander Wildner é uma figura mítica que
mou o John Mayer Trio e lançou Try!, disco confere mais significado a seu trabalho a cada
com releituras de clássicos do blues e do R&B que elevou o status reencarnação. Aventuras de um Punkbrega
do músico de revelação do pop a competente guitarrista e frontman. reinveste no título que o próprio Wander já
No ano seguinte, saiu Continuum, seu terceiro álbum solo, que trazia as demonstrou desgostar em entrevista à NOI-
mesmas influências do anterior – com direito a uma versão inspirada ZE, mas o importante são os 14 vídeos, que traçam uma retrospectiva
de “Bold as Love”. No recém lançado Battle Studies, Mayer volta às e tanto. Do Wander de “Jesus voltará!” em 1990, à versão Easy Rider
origens com um disco essencialmente pop. Para os acostumados com de “Hippie-Punk-Rajneeh”, de 2004. Performances ao vivo, de uma ca-
os timbres hendrixianos da era pós-Try!, um desalento. Nem o cover lorenta “La Playa”, no longínquo 1996, à curiosa “Rodando el Mundo”
da clássica “Crossroads” salva. O groove de “Perfectly Lovely” e a bela (parceria com Jimi Joe) acompanhada de uma orquestra de câmara.
linha de guitarra de “Edge of Desire” são a exceção de um disco que A obra “videoclíptica” completa de Wander por si só é irreverente
pouco anima. Lucca Rossi e inventiva como ele, mas sem a sinceridade flagrante dos shows ao
vivo, este DVD valeria pouco mais do que uma visita ao YouTube. F.C.
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54 cinema

500 DIAS COM ELA


Um menino e uma menina formam um os sorrisos e brincadeiras hipnotizan-
dos casais mais queridos que Los Angeles tes. Dentro dessa atmosfera romântica,
já viu, mas, enquanto ele se entrega por é fácil perder de vista que não se trata
inteiro, ela se contenta com a metade. de um filme sobre paixão, e sim, de um
Embora o enredo soe ordinário, ele di- filme sobre amor. Para sabê-lo, talvez seja
vide com as enaltecidas intervenções vi- necessário conhecer mais sobre aquilo
suais e narrativa não linear os méritos da que não é amor do que sobre aquilo é.
obra de Marc Webb. De relance, 500 Dias E compreender, também, a necessidade
com Ela pode parecer um filme sobre os e o dilema de ser sincero consigo diante
efêmeros e indolores relacionamentos de sentimentos tão divertidos e pare-
de verão. Como a usual ilusão dos que cidos com aquele idealizado – aqui, é a
se apaixonam rápido, e que bradam em renúncia a eles que representa a crença
tempo desproporcional ao sentimento no amor, ao mesmo tempo que ironiza
que morrer ao lado da amada é uma suas infinitas, semelhantes e repetitivas
forma adorável de morrer, o espectador referências. É com recursos artísticos
pode se deixar levar pelo encantamento encantadores e delicados e um texto
Diretor_ Marc Webb
instantâneo que os protagonistas provo- adorável, honesto, pop e singelo que 500
Elenco_Zooey Des-
chanel, Joseph Gordon-
cam. De fato, o longa Webb reúne todos Dias com Ela traduz sentimentos. De for-
Levitt os elementos de paixões fulminantes – a ma bem menos piegas que esta resenha.
Lançamento_ 2009 trilha sonora perfeita para se jogar de Maria Joana Avellar
Nota_ 5 de 5 cabeça, a pintinha em forma de coração,

LUA NOVA
Você bem que quis posar de cinéfilo e As atuações, no entanto, deixam a dese-
boicotar a sensação adolescente. Mas jar: por mais que Kristen Stewart mos-
não, por mais patético que seja fazer tre evolução em relação ao primeiro fil-
parte da geração que será lembrada me da saga, o bonitão Robert Pattinson
por gostar de vampiros que brilham parece prestes a vomitar a cada frase
no sol, Lua Nova não é tão ruim assim. que profere e Taylor Lautner, o lobiso-
As imagens apresentadas no filme (o mem, é muito melhor em sua versão
encontro de Bella com o lobisomem 3D do que em carne e osso. A histó-
transformado e sua vereda pela floresta ria é até bem amarrada, não fossem as
escura) podem ser encaradas como um vezes em que a personagem principal
bom começo no universo dos indie flicks aborrece o espectador por sua com-
para a turma de seu irmão mais novo. pleta falta de personalidade. A trama é
A fotografia de Javier Aguirresarobe é mais complexa do que na maioria das
colorida, luminosa e fantasmagórica. A produções destinadas a adolescentes, o
impressão é de estar sempre em cenas que faz o filme valer mais pela tentativa
Diretor_ de sonho. de cultura. De Lua Nova, o público mais
Chris Weitz
A trilha sonora também ganha pontos: se novo chegará a obras como Veludo Azul
Elenco_ Kristen
Stewart, Robert Pattin-
traz o som batido do Ok Go, também traz e Donnie Darko. Algo que seria impossí-
son e Taylor Lautner canção inédita (e maravilhosa) de Thom vel na instância de algo parecido com a
Lançamento_ 2009 Yorke, “Hearing Damage” e os veteranos sequência “American Pie” a que estamos
Nota_ 2,5 de 5 Editors com “No Sound But The Wind”. acostumados. Fernanda Grabauska
cinema livros

ADVENTURELAND 2012 CASH


de Reinhard Kleist (2009)
de Greg Mottola (2009) de Roland Emmerich (2009)

O mérito da HQ de Reinhard Kleist é contar


Greg Mottola parece visitar sua adoles- Não se pode ir ao cinema esperando a história de Johnny Cash sem esquecer
cência no fictício 1987 de Adventureland. muita coerência do mesmo diretor de aquilo que ele fez de melhor: música. O autor
O plano pós-college de James Brennan Independence Day. A explicação científica produziu uma obra sonora, minando-a com
(Jesse Eisenberg) era conhecer a Europa que justifica a profecia do fim do mun- letras e ilustrações das canções que, na voz
e voltar para estudar Jornalismo. Mas o do marcado para 2012 é o de menos: potente de Cash, justificam sua posição de
dinossauro do rock.
dinheiro está curto na casa dos Brennan, queremos apenas ver o mundo acabar.
A história gira em torno do show que
e o garoto vê a chance de salvar seu so- Infelizmente, somos forçados a torcer o músico fez em 1968 na cantina da
nho nova-iorquino em um emprego de por John Cusack. Se você já viu O Infer- Penitenciária Estadual de Folsom e que,
verão em Adventureland, o parque de no de Dante, Impacto Profundo, e outros quatro meses mais tarde, virou o álbum
diversões de sua cidade natal. James faz filmes-catástrofe da última década, o filme Folsom Prison Blues. Quem reconstitui a
amizade com o esquisitão Joel (Martin traz pouca (ou nenhuma) novidade, mas vida do personagem é Glen Sherley, autor da
Starr) e conhece Emily (Kristen Stewart, é sempre divertido ver cidades afundan- música “Gleystone Chapel”, tocada por Cash
no show.
Crepúsculo), com quem começa um tí- do como pequenas maquetes. Um filme
Com um traço tão elegante quanto as
pico romance de descoberta rodeado catástrofe é um pouco como uma brin- roupas escuras que o músico usava, e tons
pelo turbulento momento por que cada cadeira de criança, desmanchar um formi- de preto que contrastam tanto com o branco
um passava. Mesmo os conflitos que gueiro e ver as formigas correndo de um quanto a voz grave de Cash com o silêncio,
poderiam atravancar o desenrolar da lado a outro. Se o filme tem um mérito a HQ explora principalmente os anos entre
história diluem-se na atmosfera colori- verdadeiro, é o de permitir que o resto 1957 a 1967, quando o cantor se vicia em
da que Mottola constrói com as idios- do mundo participe dessa brincadeira, an- anfetaminas. A década marca o ápice e o
declínio da carreira de Cash, que ruiu frente
sincrasias de cada personagem. Trata-se tes reservada quase exclusivamente aos
às boletas, em meio a uma maratona de
de uma experiência leve e emocional, americanos: assim, podemos ver também shows. Henrique Lammel
que se esvai como a própria nostalgia. o Cristo Redentor, o Vaticano ou o Hima-
Fernando Corrêa laia sendo arrasados. Samir Machado

games

BEATLES: ROCK BAND

The Beatles: Rock Band, lançado para Xbox 360 e Playstation 3, é diferente dos mais antigos da série.
Não somente por se tratar de uma das bandas que mais marcaram a história da música, mas tam-
bém no modo de jogar. O game traz a possibilidade de três vocalistas fazerem um show ao mesmo
tempo, permitindo assim, tocar títulos como “Paperback Writer” com perfeição. É muito difícil ter
a harmonia necessária para cantar Beatles com três pessoas, mas este jogo promete encantar até
os que não são fãs declarados da banda. Deixe as costeletas crescerem e espalhe a Beatlemania
pela sua casa. E não se esqueça das groupies! Rafael Borges - www.sopreocartucho.com.br

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fotos: 1 | Isaac Moraes Neto 2 | Thiago Piccoli 3 | Hick Duarte

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shows
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the killers
_MaCONDO CIRCUS, GOiania noise, ac/dc,
GOIÂNIA NOISE FESTIVAL do quinteto novaiorquino só confessou ministração municipal, por meio de lei
Goiânia, 25 a 29 de Novembro
seu DNA pop (tão bem oculto por trás de incentivo a cultura. Com a parceria,
Em 2009 o Goiânia Noise Festival ar- dos dedilhados de precisão matemática, um palco foi montado na Praça Salda-
riscou um novo formato, apostando dos grooves abortados e do constante nha Marinho, no centro da cidade, onde
numa descentralização que é tendência anti-clímax) depois de muita gente de- aconteciam os shows da tarde, em um
no mundo, porém relativa novidade no sistir e abandonar o teatro. clima de celebração e programa familiar.
Brasil. E seguindo seu slogan, o festival “Temecula Sunrise” e “Cannibal Re- Para quem o rock é sinônimo de ma-
invadiu a cidade integrando uma dúzia source” (junto com “Stillness Is The drugada, à noite, com as crianças já na
de clubinhos, teatros, cinema e galeria Move”) já teriam valido a longa espera, cama, todos se mudavam para o Macon-
de arte, numa ação inédita que ocupou mas o grupo liderado pelo guitarrista do Lugar – casa mantida pelo coletivo
boa parte da vida cultural da capital de Dave Longstreth estava satisfeito o su- que organiza o evento – local das apre-
Goiás, transbordando o gueto e cha- ficiente para não se deixar abalar pelo sentações da noite.
mando a atenção inclusive de quem não calor crepitante do interior do cúpula de Organização, público satisfeito e ótimas
acompanha a movimentação da música concreto, e ainda voltar ao palco para um bandas são o termômetro do sucesso
independente de perto.

Onde mais, se simpático bis. Hígor Coutinho de um festival. Mas nada melhor do que
não na programação de um festival de a frase de Victor, vocalista e guitarrista
MACONDO CIRCUS da Black Drawing Chalks, que logo de-
parabólicas abertas, Hermeto Pasco- Santa Maria, 2 a 5 de Dezembro

al conviveria harmoniosamente numa pois de deixar o palco, ainda encharcado


quarta feira com o hardcore humo- Porto Alegre é reconhecida como uma de suor e cerveja (leia entrevista nesta
rista d’Oscabeloduro, e a dupla Violas das capitais do rock do Brasil. A quanti- edição), celebrou: “o melhor show que
de Bronze coexistiria pacificamente, dade de boas bandas reveladas a cada já fizemos em nossas vidas”. De muitos
numa quinta, com a batucada indie da ano na cidade, as casas que abrigam um que ali estavam também. Lucca Rossi
The Name?

Mas depois de cumprir sua número considerável de shows por mês
e um público atento ao que acontece THE KILLERS
nova agenda durante a semana, o Goi- São Paulo, Chácara do Jockey, 21 de Novembro

ânia Noise vestiu sua clássica roupa de de novo são algumas das provas. Há, no
gala, e durante todo o fim de semana entanto, um problema – e um problema Era alagada e cheia de lama que a Chá-
fez do tradicionalíssimo Centro Cultu- que poucos admitem existir – que im- cara do Jockey se encontrava por vol-
ral Martim Cererê o melhor endereço pede uma terra com DNA roqueiro de ta das 17h, três horas antes do início
do Brasil para quem gosta de música, transformar-se, por exemplo, em o que do show do The Killers. Não demorou
onde as dobradinhas que reuniram ban- hoje é Goiânia. Vaidade demais e união muito para ver menininhas de um me-
das e artistas num mesmo palco foram de menos. tro e meio fazendo guerra de lama com
as grandes novidades: na sexta feira, o Pois para um grupo de produtores ogros enquanto, ao fundo, Kraftwerk e
Móveis Coloniais de Acaju recebeu o independentes de Santa Maria tal pro- Beastie Boys davam o clima de Glaston-
trombonista Bocato, e o MqN duelou blema não existe. Talvez seja esse o bury à tarde. Quem já havia assistido à
com o Walverdes; no sábado, o Porcas motivo de o mais importante festival banda no Tim Festival de 2007 esperava
Borboletas convidou o Paulo Barna- independente do Estado em 2009 – e mais um atraso colossal. Não houve.
bé – líder da lendária Patife Band, e o provavelmente o dos próximos anos Cerca de uma hora antes do programa-
Black Drawing Chalks chamou o ex- – acontecer a quase 300 km da capi- do, os instrumentos e enfeites de palco
Forgotten Boys Chuck Hipolitho, além tal. Com um line-up de primeira linha, começaram a ser revelados sob plásti-
do prodígio local Diego de Moraes, que, incluindo nomes como Black Drawing cos pretos: um piano espelhado, uma
no domingo, cometeu um dueto com o Chalks, Móveis Coloniais de Acaju, AMP, bateria pouco espalhafatosa e, claro, os
Astronauta Pinguim. 
 Superguidis, Pata de Elefante e o one sintetizadores de Brandon Flowers em
Mas, apavorando o teatro lotado com man band argentino Proyecto Gomez, forma de K, que simbolizam a turnê do
sua faceta mais radicalmente experi- o Macondo Circus chegou a sua sexta Day & Age. Por volta das 20:15 entravam
mental, foi o Dirty Projectors quem edição colocando a cidade definitiva- no palco Brandon, com um cavanhaque
merecidamente recebeu os aplausos mente no roteiro indie do país. Indie e inusitado, Dave Keuning, Mark Stoemer
mais empolgados do festival. Dividida um pouco mais. e Ronnie Vannucci, prontos para serem
ao meio pelo hit “Stillness Is The Move” Realizado até o ano passado nas cer- ovacionados.
– a canção que melhor revela os inacre- canias de Santa Maria, em um esquema A introdução veio emendada com “Hu-
ditáveis superlativos vocais de Amber Wood Stock do século XXI, o festival man”, carro-chefe da nova tour que, em
Coffman e Haley Dekle, a apresentação contou esse ano com o apoio da ad- poucos segundos, fez as 12 mil pessoas

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presentes esqueceram o que havia logo com as pequenas explosões controladas Depois de um breve temporal, Nasi su-
abaixo de seus pés: grotescas poças de no fundo do palco somadas a uma eter- biu ao palco para o show de abertura.
lamas preparadas para respingar sobre na chuva de faíscas. Com poucas composições próprias e
o corpo de todos a cada pulo dado. Os Foi nesse clima que Brandon Flowers alguns covers, o ex-vocalista do Ira! fez
telões reproduziam uma versão menos fez uma reverência ao público e deixou uma apresentação correta, mas que não
massiva da apresentação dos caras no o palco, acompanhado por Mark e Dave. despertou o interesse de muita gente.
EMA de 2008. Ronnie, o baterista, fechou a noite com A expectativa pela atração principal era
Nas três músicas seguintes, a banda mais algumas pancadas no bumbo e aí, imensa, e nem a presença de Andreas
mostrou que não pretendia tocar o finalmente, jogou as baquetas para o Kisser, do Sepultura, foi suficiente para
Day & Age na íntegra, mesclando todos público. E a marcha dos derrotados co- atenuá-la.
os seus álbuns de inéditas em um único meçou, em busca de um lugar coberto e Quando as luzes se apagaram e o vídeo
show. Dessa forma, vieram “This Is Your um banho quente. Alex Correa de introdução de “Rock’n’Roll Train”
Life”, de 2008, o eterno hit “Somebody rodou nos telões, o público já estava ga-
Told Me”, do Hot Fuss, e “For Reasons
AC/DC nho. A empolgação da massa era visível,
São Paulo, Morumbi, 29 de Novembro

Unknown”, do Sam’s Town. “Bones”teve mas havia também alguns malucos que
um papel de destaque, com as poéticas Quantas vezes você já leu, ao ver o não acreditavam no que estavam vendo
frases introdutórias sendo arremessa- anúncio de uma apresentação de algu- e, em vez de pular e cantar, acabaram
das ao público por Brandon. ma banda gringa, que aquele seria “o ficando em estado de choque. Perfeita-
Antes da épica “A Dustland Fairytale”, show do ano” no Brasil? E quantos des- mente compreensível. Amparados pelo
quem brilhou foi o saxofonista anônimo, ses shows realmente justificaram tanto competente background de Malcolm
que teve seu momento rockstar-com- burburinho, sem deixar ao menos uma Young, Cliff Williams e Phil Rudd, Brian
cabelos-ao-vento durante “Joyride”, pontinha de decepção? Bem, ao menos e o ídolo-mor, Angus Young, dividiam as
quando subiu no sobre-palco iluminado. um grupo justifica a badalação e cum- atenções das 65 mil pessoas que esta-
A nostalgia tomou conta em “Smile Like pre essa expectativa com folga: o AC/ vam no Morumbi – e era realmente im-
You Mean It”, do primeiro CD da banda, DC. A tão aguardada terceira passagem possível não acompanhar os movimen-
introduzida em uma versão quase acús- da banda australiana em solo tupiniquim tos dos dois. Enquanto o primeiro gru-
tica, somada às notas de um violino con- (as outras foram nos já distantes anos nhia, fazia gestos obscenos e dancinhas
vidativo. Como se construir um setlist de 1985 e 1996) prometia. Alardeada idem, o guitarrista tocava no ritmo de
fosse uma arte arquitetônica, a música como a provável última turnê do gru- seu impagável “duck walk” (que acabou
apareceu bem no meio do mesmo, cola- po – o que é bem plausível, conside- se tornando ainda mais memorável que
da com “Shadowplay” (um cover do Joy rando a idade dos caras e as recentes o de Chuck Berry). Angus é um show
Division recebido por imagens de Con- declarações do vocalista Brian Johnson à parte, a cara do AC/DC – tanto que
trol ao fundo) e “Spaceman”, outras duas sobre seu esgotamento físico –, a Bla- estampa 99% dos produtos ligados à
músicas de sucesso e, embora o piano ck Ice Tour trouxe toda a parafernália banda – e no palco ele mostra que tem
tenha falhado durante as notas de uma que os fãs esperavam: um palco que se méritos para tal. O hilário striptease
reprise clássica de “Human”, o público prolongava até o meio da pista, canhões, em “The Jack” e o solo endiabrado em
não desanimou. o sino de “Hells Bells”, a boneca inflá- “Let There Be Rock”, em que parece
Com uma breve releitura de “Can’t vel Rosie e uma gigantesca locomotiva, acometido por um ataque epilético, são
Help Falling in Love”, do Elvis, deu-se além de fogos artificiais e vídeos ba- apenas dois momentos em que o cara
início a uma série de hits que finaliza- canas no telão. Mas, mesmo se todos rouba a cena.
riam a primeira etapa do show: “Read esses recursos tivessem sido deixados É claro que mesmo tocando por duas
My Mind”, “Mr. Brighstide” e a maravi- de lado, ainda assim a apresentação no horas e apresentando clássico atrás de
lhosa “All These Things That I’ve Done”, Morumbi teria sido memorável. Em clássico (“Highway to Hell”, “For Tho-
que ficou ainda mais memorável com as uma época em que os efeitos especiais se About to Rock”, “You Shook Me All
bazucas de papel picado sobressaindo- às vezes são considerados prioritários Night Long” e “Back in Black”, só para
se sobre a chuva incessante. O bis foi em detrimento à própria música, o AC/ citar alguns), sempre fica faltando algu-
muito pedido, mas não durou – apesar DC consegue proporcionar um belo ma coisa. Mas, com tantas músicas ma-
da intensidade. A banda retornou ao espetáculo visual, mas sem esquecer do ravilhosas, somente tocando por umas
palco com “Jenny Was a Friend of Mine”, principal. O rock’n’roll, básico e vigoro- dez horas seguidas eles iriam agradar
mas ganhou até os mais céticos com o so, sem espaço para baladas românticas a todos. Parece meio cansativo, mas
poder de “When You Were Young”, ou melodias intrincadas, continua sendo duvido que alguém reclamaria se isso
transformada em um hino de Las Vegas seu principal trunfo. acontecesse.Daniel Sanes
_ilustra
maick seila
jammin’
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