Você está na página 1de 16

Contextos Clínicos, 11(3):335-350, setembro-dezembro 2018

Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2018.113.05

Tornar-se família de uma criança


com Transtorno do Espectro Autista

Becoming the family of a child with Autistic Spectrum Disorder

Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira
Universidade Federal de Santa Maria. Av. Roraima, 1000, Prédio 74B, Sala 3206A, Camobi, 97105-900,
Santa Maria, RS, Brasil. monicasperb@hotmail.com, angelicadl2006@hotmail.com, carolinerrp@gmail.com

Resumo. Estudo qualitativo e exploratório que objetivou refletir sobre o


tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
a partir das repercussões do transtorno nas famílias, das características, das
perspectivas futuras destas e de como elas se reconhecem nesse contexto.
Participaram do estudo sete familiares de crianças com TEA atendidas em
um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi). Na coleta de dados,
utilizaram-se questionário sociodemográfico, grupo focal e entrevistas se-
miestruturadas. O grupo focal e as entrevistas foram gravados, transcritos e
submetidos à Análise de Conteúdo. Os resultados indicaram que o diagnós-
tico de TEA repercutiu nas famílias dos participantes, demandando altera-
ções na rotina, na dinâmica e nas relações familiares. As famílias se afastam
do convívio social, centram-se na criança, vivenciam falta de apoio e difi-
culdade no acesso aos tratamentos, possuem preocupações e perspectivas
diferentes das de outras famílias, reconhecendo-se como famílias unidas que
alternam entre tristeza e alegria e que investem na criança.

Palavras-chave: autismo, criança, família.

Abstract. This qualitative and exploratory study aimed at reflecting on be-


coming the family of a child with Autistic Spectrum Disorder (ASD) based
on the effects of the disorder in the families, their future characteristics and
perspectives as well as how they recognize themselves in this context. The
participants of the study were seven relatives of children with ASD attend-
ing a Children’s Psychosocial Care Center (CPCC). In the data collection, a
demographic questionnaire, a focus group, and semi-structured interviews
were used. The focus group and the interviews were recorded, transcribed
and subjected to content analysis. The results indicated that the ASD diag-
nosis has affected the participants’ families, demanding changes in routine,
dynamic, and family relationships. They move away from social interaction,
focus on the child, experience lack of support and difficulty in access to
treatment, and have concerns and different perspectives from other families,
recognizing themselves as united families alternating between sadness and
joy and investing in children.

Keywords: autism, child, family.

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo
permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

Introdução tura, pelas crenças, por conflitos, segredos e


sonhos, adquirindo inúmeras formas e que,
O autismo corresponde a um transtorno ao longo das fases de seu ciclo evolutivo vi-
do neurodesenvolvimento que se manifesta tal, sofre constantes mudanças (Groeninga,
precocemente e acarreta prejuízos ao funcio- 2003). Essas mudanças lhe afetam, implican-
namento social do sujeito acometido. Na Clas- do a necessidade de lutos e rearranjos, além
sificação Estatística Internacional de Doenças de gerarem crises consideradas esperadas e
e Problemas Relacionados à Saúde - CID 10 necessárias ao desenvolvimento dos mem-
(OMS, 2008), ele é descrito como “Autismo bros (Carter e McGoldrick, 2001).
Infantil” e se enquadra nos “Transtornos Glo- Uma dessas crises refere-se ao nascimento
bais do Desenvolvimento”, junto à Síndrome de um filho, evento que provoca intensas mu-
de Asperger e Síndrome de Rett. Já o Manual danças e demanda reorganização de papéis
Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos para atender às necessidades da criança que
Mentais (DSM-V; APA, 2014), em sua última virá. No entanto, o nascimento de uma crian-
revisão, propôs a denominação de Transtorno ça com necessidades especiais, como a criança
do Espectro Autista (TEA), passando a englo- com TEA, desencadeia uma crise familiar ain-
bar neste diagnóstico os transtornos que na da mais complexa, a qual altera o padrão de
versão anterior (DSM-IV; APA, 2002) eram ciclo de vida da família, podendo ser causado-
classificados como: Transtorno Autista, Trans- ra de intensa ansiedade e estresse. Esta crise
torno Desintegrativo da Infância, Transtorno deve-se, em parte, ao fato de que as famílias
Global do Desenvolvimento Não Especifica- desejam que a criança nasça com saúde. Neste
do e Síndrome de Asperger. A Síndrome de sentido, de acordo com Franco (2015a, 2015b,
Rett passou a ser considerada uma entidade 2016), pais e mães idealizam um bebê saudá-
própria, separada do espectro autista, mas po- vel, que virá ao mundo para concretizar muitos
dendo estar associada a ele. Ambas as classi- feitos. Ao nascer uma criança que, em algum
ficações, no entanto, reconhecem o fenômeno momento, apresenta-se diferente da esperada,
como caracterizado por: (a) déficits na comu- como a criança com um Transtorno do Desen-
nicação, interação e reciprocidade social; e (b) volvimento, os pais vivenciam um processo
por padrões restritos e repetitivos de compor- doloroso de luto pela perda da criança imagi-
tamentos, interesses e atividades. nada, em que sentimentos depressivos, como
As características do TEA são peculiares e dor e negação (dentre outros), são comuns.
afetam o modo de viver da criança que pos- Uma vasta literatura tem se ocupado de
sui o transtorno. Quando bebês, por exemplo, investigar as repercussões do TEA no contex-
podem se demonstrar apáticas e mais inte- to familiar (Andrade e Teodoro, 2012; Fávero,
ressadas nos objetos que nas pessoas (Mura- 2005; Fávero e Santos, 2005; Gomes et al., 2015;
tori, 2014). Com o tempo, as crianças tendem Madeira, 2014; Marques e Dixe, 2011; Pinto et
a apresentar outros prejuízos no desenvolvi- al., 2016; Smeha e Cezar, 2011). Fávero e Santos
mento, tais como a capacidade de interagir e (2005), por exemplo, destacaram a presença de
de se comunicar com o mundo, apresentando estudos sobre as intensas mudanças nas ati-
dificuldades na reciprocidade social. Além vidades diárias das famílias de crianças com
disso, frequentemente, demonstram compor- autismo, indicando a sobrecarga emocional, fí-
tamentos estereotipados ou rígidos, podendo sica e financeira, além do estresse e das incerte-
abanar mãos, enfileirar objetos, aderir excessi- zas em relação ao futuro dos filhos, em função
vamente à rotina, resistir à mudança, apresen- de sua grande dependência. Já Marques e Dixe
tar interesses limitados e fixos, além de outros (2011) revelaram que tais mudanças acarretam
sintomas (APA, 2014; Dumas, 2011). Tais ca- necessidades específicas com implicações psi-
racterísticas podem causar significantes pre- cológicas a níveis pessoal e familiar, diante das
juízos ao funcionamento social da criança, a quais os familiares precisam se adaptar, numa
qual pode se tornar dependente dos cuidados experiência complexa construída em direção à
de sua família, bem como fonte de intensas conservação de sua saúde mental.
preocupações aos familiares. No entendimento de Franco (2016), as re-
A família é, no entendimento de Borba et percussões são bastante negativas, uma vez
al. (2011), uma complexa unidade social for- que os familiares veem o seu próprio desen-
mada a partir de um conjunto de pessoas e volvimento ameaçado. Neste sentido, Laznik
suas ligações. Corresponde, dessa forma, a (2015) e Visani e Rabello (2012) referem que a
um sistema de relações perpassado pela cul- interação com um filho com características au-

336 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

tísticas pode desencadear nos pais o sentimen- mo no contexto familiar, destacando os aspec-
to de fracasso, frente às dificuldades viven- tos negativos de se ter uma criança com este
ciadas no contato com um bebê que aparenta transtorno na família. Contudo, entende-se
ignorar sua existência, não demonstrando in- que para além de identificar as dificuldades
teresse explícito pelas figuras parentais. Ade- encontradas por essas famílias ou compará-las
mais, Sprovieri e Assumpção Jr. (2001) res- com as famílias de crianças com o desenvol-
saltam a impossibilidade de, no contexto do vimento típico em termos de aspectos como
autismo, os pais cumprirem um papel social- nível de estresse, por exemplo, faz-se necessá-
mente esperado de educar suas crianças para a rio o investimento em pesquisas que focalizem
participação na sociedade de acordo com suas nos processos desenvolvidos pelas famílias
normas, o que pode interferir no desenvolvi- em busca de adaptação à situação, ressaltando
mento dos papéis familiares. suas potencialidades. Destaca-se, ainda, que
Diante do reconhecido impacto do TEA nas conhecer a experiência das famílias de crian-
famílias das crianças acometidas pelo transtor- ças com TEA é fundamental para qualificar as
no, destaca-se que muitas dessas famílias são intervenções destinadas a elas, bem como para
capazes de se reorganizar frente às mudanças, fundamentar as ações que incluam a família no
buscando estratégias que auxiliem em suas ne- trabalho com as pessoas com este transtorno.
cessidades. Nesse sentido, a literatura tem se Nesse sentido, este estudo possui o obje-
referido às “estratégias de coping” como for- tivo geral de refletir sobre o tornar-se família
mas encontradas pelas famílias para lidarem de uma criança com TEA, buscando, especifi-
com os desafios geradores de estresse, além do camente, o conhecimento das vicissitudes do
processo de resiliência familiar, no que encon- transtorno no contexto familiar, das caracterís-
tram formas saudáveis de lidar com a situa- ticas e das perspectivas futuras das famílias.
ção adversa sem sucumbir a ela (Fávero, 2005; Além disso, busca-se compreender como essas
Fávero e Santos, 2005; Ferreira, 2016; Franco e famílias se reconhecem e se organizam nesse
Apolónio, 2002; Gomes et al., 2015; Marcos e contexto, a fim de se constituírem e se desen-
Dixe, 2011; Schmidt et al., 2007; Sousa, 2014). volverem enquanto famílias de uma criança
Entre as possíveis estratégias estão, por com necessidades especiais, promovendo,
exemplo: a utilização de jogos para interação também, o desenvolvimento desta criança.
e comunicação da criança com os familiares e
a busca por aconselhamento informativo (Fá-
Método
vero e Santos, 2005); a avaliação positiva dos
conflitos e a procura por apoio social (Marques
e Dixe, 2011); bem como as iniciativas para re- Participantes
solução dos problemas (Schmidt et al., 2007).
Nesse sentido, de acordo com Ferreira (2016), Participaram deste estudo sete familiares
ao criarem estratégias para contornar as si- de crianças diagnosticadas com Transtorno do
tuações difíceis, os familiares podem adquirir Espectro Autista (APA, 2014), dentre os quais
a capacidade de superação das adversidades há três mães, dois pais, uma avó e uma irmã,
e, assim, terem implicações positivas em sua sendo representantes de três diferentes famí-
qualidade de vida. lias, de baixo nível socioeconômico e que fre-
No entanto, para que as famílias sobre- quentavam um Centro de Atenção Psicossocial
vivam diante da crise instaurada (podendo Infantil (CAPSi) de uma cidade do interior do
enfrentá-la o mais saudavelmente possível) Rio Grande do Sul. Os participantes foram sele-
e para que retomem seu curso de desenvolvi- cionados por meio de indicações dos profissio-
mento (podendo também auxiliar no desen- nais do serviço, caracterizando a amostragem
volvimento da criança), entende-se que devam como não probabilística e intencional (Marco-
receber adequado amparo e suporte. Confor- ni e Lakatos, 2002). As crianças possuíam entre
me Fiamenghi e Messa (2007), a adaptação das 5 e 6 anos e foi considerado o diagnóstico de
famílias depende da rede de apoio e dos servi- TEA contido nos prontuários da instituição,
ços disponibilizados para o acompanhamento que foram atribuídos por profissionais da área
delas e de suas crianças. Assim, o bem-estar da médica e confirmados pela equipe do serviço,
criança e o da família caminham juntos, sendo independente de avaliação realizada pela pes-
necessário investir esforços em sua promoção. quisadora. Ressalta-se que não participaram
De acordo com Franco (2016), são muitos do estudo familiares de crianças que possuíam
os estudos que abordam o impacto do autis- diagnóstico de outro transtorno ou síndrome

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 337


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

Tabela 1. Características sociodemográficas dos familiares participantes do estudo.


Table 1. Sociodemographic characteristics of the family members of this study.

Família 1 Família 2 Família 3


Config. Idade Ocupação Config. Idade Ocupação Config. Idade Ocupação
M1 40 Do lar M2 30 Estudante M3 45 Do lar
Projeção de
P1 57 Florista P2 35 P3 52 Construtor
móveis

I1 19 Estudante Avó 2 49 Costureira C3 6 Escolar

Posto de
C1 6 Escolar Avô 2 54 - - -
combustível
- - - C2 5 Escolar - - -

Nota: os familiares participantes do estudo estão destacados no texto em negrito.

para além do TEA, sendo este o único critério repercussões na família e as mudanças desen-
de exclusão da participação. A Tabela 1 des- cadeadas; e, por fim, (c) as percepções da famí-
creve os participantes, na qual há informações lia e suas perspectivas futuras. Tais temáticas
coletadas por meio de um questionário socio- contaram com algumas questões norteadoras,
demográfico respondido por eles. as quais também orientaram as entrevistas in-
dividuais realizadas. O grupo focal e as entre-
Delineamento e procedimentos vistas foram gravados e transcritos. O término
da coleta obedeceu ao critério de saturação
O estudo desenvolvido corresponde a uma dos dados (Fontanella et al., 2008).
pesquisa com delineamento transversal e ex- A técnica de grupo focal, que se caracteri-
ploratório de abordagem qualitativa. A pes- za como uma entrevista em grupo, propõe-se
quisa qualitativa envolve a compreensão da a investigar temas em profundidade através
dinâmica do ser humano e de suas relações, de um contexto interacional, em que pessoas,
a partir dos significados de suas experiências reunidas em local e tempo específicos, relatam
e valores (Minayo, 2014; Turato, 2005). O pre- suas experiências e interagem para a constru-
sente estudo possui caráter exploratório, pois ção de ideias em respostas aos questionamen-
visa aprofundar o conhecimento sobre a temá- tos em foco (Barbour, 2009; Minayo, 2014; Sil-
tica escolhida, possibilitando maior familiari- va e Assis, 2010). Já a técnica de entrevista com
dade com o problema (Gil, 2010). Foi realizado caráter semiestruturado permite a exploração
um grupo focal e três entrevistas individuais de um tema sobre o qual o entrevistado é con-
de caráter semiestruturado, que foram previa- vidado a discorrer, a partir da combinação de
mente agendados com os participantes e que perguntas abertas e fechadas pré-estabelecidas
ocorreram em uma sala disponibilizada por pelo pesquisador, sem, no entanto, necessida-
uma instituição pública de ensino superior. O de de restrição absoluta a estas (Minayo, 2014).
grupo focal contou com a participação da pes-
quisadora, uma observadora e cinco familiares Considerações éticas
de crianças com TEA (três mães, um pai e uma
irmã). Já as entrevistas foram realizadas com Em todas as etapas da pesquisa, foram con-
um pai, uma avó e uma mãe, sendo que a últi- siderados os preceitos da Resolução nº 510 de
ma também havia participado do grupo focal. 07 de abril de 2016, do Conselho Nacional de
O grupo focal seguiu um roteiro que en- Saúde (CNS, 2016), os quais regulamentam as
globava três temáticas consideradas relevantes condições da pesquisa com seres humanos em
para compreender o tornar-se família da crian- ciências humanas e sociais. Os responsáveis
ça com TEA: (a) a história da família, ou seja, a pela instituição que colaborou com o estudo
família antes e após a chegada da criança; (b) assinaram um Termo de Autorização Institu-
o momento do diagnóstico, englobando suas cional. Já os familiares assinaram um Termo

338 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual discordâncias ou dúvidas foram sanadas em


lhes garantia os direitos à privacidade e à li- conjunto e por consenso. A elaboração das cate-
vre decisão pela interrupção da participação gorias ocorreu a partir do modelo aberto, no qual
na pesquisa sem prejuízos. Ademais, os par- estas são definidas após a coleta de dados, tendo
ticipantes foram devidamente informados dos em vista a frequência e/ou relevância dos con-
riscos e benefícios da participação no estudo e teúdos manifestados (Laville e Dionne, 1999).
dos possíveis encaminhamentos deste. Ressal-
ta-se que o projeto de pesquisa foi encaminha- Resultados e discussões
do à apreciação pelo Comitê de Ética em Pes-
quisa de uma universidade pública de ensino A partir da análise de conteúdo realizada,
superior, tendo sido aprovado sob o número foi possível a identificação de seis categorias:
CAAE: 57996016.6.0000.5346. (1) o diagnóstico de Transtorno do Espectro
Autista e seu impacto nas famílias; (2) reper-
Análise de dados cussões do transtorno da criança na dinâmica
e nas relações da família; (3) a falta de apoio e o
Os dados coletados nas entrevistas, seja na empoderamento familiar; (4) a família no futu-
modalidade conjunta – grupo focal –, ou indi- ro: preocupações e perspectivas; (5) a criança
vidual, foram analisados através da Análise de no futuro: reidealização e a esperança no trata-
Conteúdo. Conforme Bardin (2009) e Minayo mento; (6) as famílias que se tornaram. Estas
(2014), ela corresponde à procura por sentidos serão apresentadas e discutidas a seguir.
e compreensões comuns aos dados coletados e
à identificação de categorias a serem analisa-
O diagnóstico de Transtorno
das e discutidas. Dentro desta proposta, des-
taca-se a modalidade de análise temática, na do Espectro Autista e seu
qual se busca descobrir os núcleos de sentido impacto nas famílias
significantes presentes numa comunicação,
por meio de diferentes etapas. Dessa forma, a A presente categoria aborda tanto a traje-
análise foi composta da pré-análise dos dados, tória das famílias até o diagnóstico de TEA (a
em que se realizou a leitura flutuante do mate- partir da percepção de que havia diferenças
rial coletado depois de retomados os objetivos na criança), quanto os sentimentos relaciona-
da pesquisa. A pré-análise possibilitou a iden- dos ao impacto do diagnóstico nos familiares.
tificação de núcleos de sentido, cuja presença Nesse sentido, o estudo demonstrou que, até
ou frequência de aparição correspondiam à determinado momento do desenvolvimento
representatividade e à pertinência dos dados. da criança, os familiares não percebiam sin-
A partir disso, foi possível a determinação de tomas. A maioria dos participantes começou
categorias que reduziram o texto às expressões a notar atrasos, principalmente na fala – mas
mais significativas. Por fim, os dados foram também no comportamento – entre o 2º e 3º
tratados com interpretações dessas informa- ano de vida da criança. A partir disso, inicia-
ções e inferências com outros achados teóricos. ram a busca por profissionais da área médica,
Destaca-se que, primeiramente, analisa- os quais fecharam o diagnóstico:
ram-se as entrevistas de forma individual na
medida em que foram sendo transcritas e, Com dois anos e meio eu tirei fralda, ele falava
posteriormente, analisou-se o grupo focal. En- [...] aí ele foi se fechando, se fechando, se fechando
tão, procedeu-se uma análise conjunta de todo e não falava mais! Voltou a usar fralda! E daí eu
material, entendendo-se que a combinação das parei de trabalhar e comecei a procurar médico
duas técnicas permite a complementação dos pra ver o que era... Daí veio a proposta de que
poderia ser autismo (M1, GF).
dados. Por sua vez, na discussão, optou-se por
apresentar as categorias contendo os resultados E veio assim, veio crescendo normalmente como
integrados, identificando as falas provenientes eu digo, né? Brincava, saia, passeava, interagia,
apenas de entrevistas com a letra E, e com as le- falava bem certinho o que ele queria [...] Com dois
tras GF as falas provenientes do grupo focal. A anos e oito meses é como se tivesse... Como se não
análise contou com dois juízes para a definição aumentasse nada. Como se tivesse parado! Daí eu
do conteúdo das categorias, a fim de conferir- procurei saber o que ele tinha (M3, GF).
-lhe maior credibilidade. Estes classificaram se-
paradamente o material transcrito em cada uma O estudo de Zanon et al. (2014) com pais
das categorias e, em um segundo momento, as de crianças pré-escolares com TEA evidenciou

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 339


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

que o atraso na fala é, em geral, o aspecto mais sim, né?”(M2, E); “Eu não queria aceitar que
frequentemente observado pelos pais e o que ele tivesse aquele problema. Então foi bem...
leva a buscarem o auxílio de profissionais, Porque ele era meu único filho, né? Esperado,
ainda que percebam precocemente outros sin- né? Então pra mim ele tinha que ser normal!
tomas, como dificuldades no comportamento Daí isso foi bem difícil pra mim assim... Foi
social. A partir dessas percepções, os familia- bem difícil pra família toda!” (M3, GF).
res da criança iniciam uma busca incansável Percebe-se que as características do TEA
em serviços e profissionais de saúde até ob- expõem os familiares ao luto pela perda da
terem o fechamento do diagnóstico, processo criança saudável idealizada por eles. De acor-
que pode demorar, dificultando a detecção do com Franco (2015a, 2015b, 2016), no início
precoce (Ebert et al., 2015; Fávero, 2005; Gomes da constituição da parentalidade, está presen-
et al., 2015). te a idealização de um bebê saudável, bonito e
De acordo com os participantes, o diagnós- competente que virá ao mundo para concreti-
tico foi sentido como um momento de deses- zar muitos feitos. No entanto, quando se apre-
pero e tristeza, o qual desencadeou dúvidas senta uma criança que não seja a esperada,
relacionadas ao futuro da família e da criança: como uma criança com um Transtorno do De-
“Ai olha, parece que o chão some! (M1, GF); “O senvolvimento, tem-se um doloroso processo
dia que eu descobri, assim, eu fiquei chorando de luto, no qual sentimentos depressivos são
acho que uns 3 dias. Levantando chorando e esperados e inevitáveis. No entanto, o autor
indo dormir chorando” (M2, GF); “Ah eu sen- destaca a necessidade desses pais continuarem
ti uma tristeza. Eu senti assim, não sei nem te o seu desenvolvimento após a crise, esforçan-
explicar [...] Como eu te falei, eu conhecia, mas do-se em serem pais amorosos à sua criança
eu nunca tinha visto uma criança com este pro- e superando as dificuldades a fim de não se
blema, nunca! (A2, E); “Mas assim, quando te tornarem pais funcionais e utilitários, que ape-
falam que teu filho é autista parece que te caiu nas correspondem às necessidades básicas dos
o mundo! [...] Falava assim, ‘o que vai ser dele? filhos, sem, no entanto, reinvesti-lo.
O que vai ser de nós também que vamos ter que
cuidar dele pro resto da vida?’” (M3, GF). Repercussões do transtorno da criança
O recebimento do diagnóstico de TEA da
na dinâmica e nas relações da família
criança é um momento bastante discutido na
literatura, sendo entendido como um pro-
Esta categoria aborda as repercussões do
cesso difícil, em que os familiares vivenciam
TEA da criança no cotidiano da família e dos
sentimentos de tristeza, dúvida e desamparo
membros, incluindo as mudanças na rotina,
(Fávero, 2005; Madeira, 2014; Miranda, 2015;
nas relações entre os membros e na relação
Pinto et al., 2016; Smeha e Cezar, 2011). As
da família com o social. Neste estudo, pode-
mães estudadas por Fávero (2005), por exem-
-se observar que a realidade do transtorno le-
plo, sentiram revolta e dificuldades na aceita-
vou à necessidade de alterações na rotina dos
ção, vivenciaram choro e sofrimento, além do
membros da família, principalmente no âm-
sentimento de estarem perdidas, em vistas das
bito do trabalho: “E a gente, como eu te falei,
incompreensões pelo que estava acontecendo
eu trabalhava antes e agora tô trabalhando em
e da insuficiência das informações recebidas.
casa, né? Ele (Avô2) também parou, saiu do
Pinto et al. (2016) e Madeira (2014) também
trabalho, né?” (A2, E); “E eu parei de trabalhar
identificaram tristeza, sofrimento e negação
quando ele tinha 4 anos!” (M3, GF); “Ela (M3)
nos familiares de crianças com TEA, sendo
trabalhava, eu trabalhava, aí até que a gente
que o desconhecimento sobre o transtorno
descobriu isso aí né? Desse transtorno aí... Daí
contribuiu para a dificuldade desse momento.
ela teve que ficar em casa pra cuidar dele, né?”
Percebeu-se, a partir das falas dos partici-
(P3, E).
pantes, que o sofrimento evidenciado estava
muito relacionado à perda da criança ideali- Mudança do horário do meu pai do trabalho pra
zada: “A gente sonha tanto pra um filho, né? trazer ele pra fono, pra trazer ele pro CAPS, né?
E depois... A gente pensa assim, o que vai ser A minha mãe não trabalha fora para poder rece-
dele assim? [...] Porque né? Como foi nascer ber ele da escolinha, eu troquei de trabalho pra
uma criança tão linda assim?” (M1, GF); “Eu poder ter o sábado com ele (M2, GF).
achava que eu era dona da razão, que com 3
anos o meu filho ia falar inglês já, que ele ia No presente estudo, percebe-se que, frente
fazer tal esporte, que ele ia... Então, não é as- às demandas características do transtorno, fo-

340 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

ram principalmente as figuras femininas que função do C3. O C3 é a atenção da casa. [...]
deixaram de trabalhar para se dedicarem in- Então a família é toda em função do C3. [...]
tegralmente aos cuidados para com a criança. Como eu digo assim, eu não tenho vida. Mi-
Isso corrobora os achados dos estudos brasilei- nha vida é o C3.” (M3, GF); “Ele é o centro das
ros de Pinto et al. (2016) e Smeha e Cezar (2011), atenções né? Ele é sempre! Por mais que a gen-
os quais destacam que, diante da necessidade te não queira, ele é, sabe? A gente vive só pra
de adaptação a novos papéis e tarefas cotidia- ele!” (M2, E); “Mas tudo o que eu faço é por
nas, as responsabilidades pelos cuidados para ele, né? Eu não me arrependo que tudo o que
com o filho geralmente recaem sobre as mães, eu faço é por ele! Porque ele precisa. Precisa
as quais frequentemente se sentem sobrecar- muito de nós!” (A2, E); “É, a gente tá fazendo
regadas ao se dedicarem exclusivamente à de tudo por ele. Só em torno dele! Nem minha
criança. Madeira (2014), em seus estudos com cerveja eu não tomo mais (risos)” (P3, E).
pais e mães de crianças com TEA de Portugal, Assim, entende-se que as famílias se depa-
também encontrou as mudanças na rotina e na ram com intensas mudanças em suas ativida-
conciliação de horários, assim como as neces- des diárias em vista das demandas da criança
sidades dos familiares, como mudanças signi- e encontram a necessidade de responder a isso
ficativas após o diagnóstico. se voltando à criança. Minatel e Matsukura
No que tange às relações entre os membros (2014), ao estudarem experiências e deman-
da família, o estudo revelou que as famílias das cotidianas no contexto de cuidados de
tiveram que se unir ainda mais frente à pro- filhos diagnosticados com TEA em diferentes
blemática da criança com TEA: “A gente se etapas do desenvolvimento humano, identi-
uniu muito por este problema do C2” (A2, E); ficaram que as famílias organizam sua rotina
“A gente se une, nossa casa nossa família!” em função deste membro, tanto no que diz
(M1, GF); “Eu acho que unida!” (I1, GF). respeito à rotina interna (domiciliar) quanto
à externa (social), independentemente da fase
Depois que veio o C3 a gente teve que ficar me- desenvolvimental, de possuírem outros filhos,
lhor ainda pra poder dar aquela... Se unir mais trabalharem ou estudarem. Já Fávero (2005) e
pra poder dar aquela segurança pra ele, pra ele Fávero e Santos (2005) discutem a sobrecarga
poder ficar mais tranquilo e mais seguro! [...] emocional que pode advir disso, sendo que,
Então o que eu vou dizer, minha família entrou em geral, são as mães da criança quem mais se
nessa luta comigo (M3, GF). envolvem com ela e se deparam com tais con-
sequências. No presente estudo, percebeu-se
Na visão de M2 e P2, que se separaram que as figuras femininas (mães e avó) também
antes do diagnóstico, uma reaproximação são as que mais se voltam à criança.
também foi necessária e sentida como positi- Através deste estudo, ainda percebeu-se
va: “Se uniu mais também né? Se não tivesse que o TEA repercutiu de formas diferentes em
sido esse diagnóstico acho que eu e o pai do cada membro. No entanto, tais vicissitudes
A. a gente não teria essa relação que a gente revelaram-se comuns quando relacionadas
tem agora, a gente estaria bem distante um do a perdas e frustrações por momentos básicos
outro” (M2, E). da vida de uma criança, como as primeiras
A união da família revela-se, portanto, de palavras, as experiências na escola, a creche
grande importância na adaptação dos mem- ou a festas infantis: “Ele nunca tinha falado
bros ao transtorno, possibilitando apoio co- ‘mamãe’, ele não falava ‘mamãe’! Ele simples-
mum e atenção às demandas da criança. mente não falava!” (M2, E); “A tristeza de ele
A aceitação pela família pode amenizar o im- não poder ir numa festa infantil, não ir numa
pacto e tornar as relações mais sólidas ou, em apresentação do colégio nos dias de mãe, dias
outras palavras, unir mais a família (Pinto et de pai...” (M1, GF); “O que eu sinto assim uma
al., 2016). Com relação aos casais, apesar das necessidade é quando ele chega da escolinha
repercussões do diagnóstico, eles podem se ele falar o que ele fez na escolinha sabe? Isso
aproximar ou se afastar, dependendo do grau é, parece que isso deixa uma falta assim, sabe?
de investimento e aceitação de cada cônjuge (M2, GF); “Ele travou [...] Daí ele não se apre-
(Madeira, 2014). sentou e a gente teve que vir pra casa. Aí fui
No entanto, os participantes do estudo com a expectativa de ver ele vestido de Shrek
também relataram que suas famílias vivem em e não... Mas ao mesmo tempo eu fui pra casa,
função da criança, dedicando-se integralmente mas pensei assim: ‘não, se é pra ser assim,
a ela: “A minha família é toda... Toda assim em sabe? Eu vou aceitar, sabe?’” (P2, E).

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 341


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

Pode-se refletir que as características da das da família e da criança com TEA: “Eu acho
criança com TEA, como suas dificuldades na que a gente assim, é mais a gente mesmo...
interação e comunicação com o mundo e seus A gente não tem tanto apoio do resto” (I1):
comportamentos estereotipados e repetitivos,
geram dificuldades no desempenho de tarefas Eu vi também assim que as pessoas só se inte-
que são comuns e esperadas de outras crian- ressam pelo assunto quando acontece na família
ças. Assim, a família pode acabar isolando-se né? [...] Mas nem as minhas irmãs, as pessoas
de casa... Que a gente considera assim, não mo-
em relação ao convívio social quando as carac-
ram com a gente, mas que são da família, querem
terísticas da criança com TEA não correspon- se interessar ou fazer alguma coisa pelo C2, ou
dem ao socialmente esperado, uma vez que os tentar aprender alguma coisa, ou tentar colabo-
comporatamentos da criança poderiam oca- rar com alguma coisa... Não! Elas vivem a vida
sionar estranhamento por parte das pessoas delas, os filhos delas! (M2, GF).
que não compreendem suas peculiaridades.
Neste sentido, Sprovieri e Assumpção (2001) Ele é uma criança bem quista assim quando ele
discutem a impossibilidade, frente às dificul- chega... Mas né, como cada um tem a vida de-
les... [...] Eu acho que tu tem que tá ali vivendo
dades da criança com deficiência, de ela se
aquilo pra ti entender, sabe? [...] A necessidade,
adequar às normas e aos valores da sociedade, o dia a dia, acaba passando despercebido eu acho
o que tem impacto no convívio social da famí- (P2, GF).
lia e no desenvolvimento dos papéis de pais e
cônjuges. As famílias precisam conviver com o Nossa família é a nossa casa! Só! Tem vó, tem tio,
desgaste e a tensão de, por exemplo, optarem mas ninguém quer saber. Entra uma criança com
a todo o momento pelos lugares possíveis de problema os outros querem distância. Não que-
frequentar ou por quanto tempo devem per- rem aquela criança baguncenta, que grita, que
bate nos outros... (M1, GF).
manecer (Minatel e Matsukura, 2014).
A forma como Rolland (2001) discute a
necessidade de, no contexto de uma doença De acordo com Madeira (2014), o apoio
crônica, a família se voltar ao seu centro, per- da família extensa tende a contribuir com a
mite a melhor compreensão desses aspectos. adaptação ao TEA. No entanto, não é inco-
De acordo com o autor, a fim de dar conta das mum os familiares negarem ou terem difi-
culdades em aceitar o diagnóstico da crian-
demandas, a família se envolve em um mo-
ça. Minatel e Matsukura (2014) e Pinto et al.
vimento centrípeto no qual os cotidianos dos
(2016) destacam, para além disso, as vivências
membros e da família enfatizam a vida fami-
de preconceito por parte da própria família
liar interna, sendo que as fronteiras para o so-
em relação ao diagnóstico de TEA da criança
cial são estreitadas, ao passo que as fronteiras
e suas características.
entre os membros da família são afrouxadas,
Essa falta de apoio desencadeou, nas fa-
permitindo maior união e trabalho em equipe.
mílias participantes do presente estudo, um
Este é um movimento esperado no momento
sentimento de desamparo. Tais famílias indi-
do ciclo de vida familiar em que há crianças
caram a necessidade de possuírem espaços de
pequenas e, no entanto, pode ser amplificado
orientação e escuta: “Um apoio assim. [...] Por-
no contexto de uma doença crônica, podendo
que assim, a gente se sente uma família bem
levar a uma paralisação da família nesta fase
solitária, né? [...] É, maior apoio psicológico
do desenvolvimento.
assim pras famílias, sabe? Pra, assim, pra de-
sabafar, pra se sentirem bem, seja individual,
A falta de apoio e seja em grupo...” (M2, E); “Porque não é fácil
o empoderamento familiar assim ter que aprender praticamente sozinha,
sem orientação de ninguém!” (A2, GF).
A presente categoria propõe-se a abordar A literatura refere que os familiares de
o sentimento de desamparo das famílias par- crianças com TEA possuem necessidades de
ticipantes do estudo frente à insuficiência de apoio emocional, para lidar com as repercus-
apoio recebido, o que demanda que desenvol- sões do transtorno no cotidiano familiar, e
vam algumas estratégias que podem ser dis- profissional, para receberem orientações sobre
cutidas a partir da noção de empoderamento como agir com a criança. Em relação ao apoio
familiar. Os familiares, em sua maioria, relata- emocional, a literatura sugere, em geral, a dis-
ram falta de apoio relacionada à família exten- ponibilização de suporte formal, como gru-
sa, a qual não parece compreender as deman- pos de apoio e escuta nos serviços de saúde.

342 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

Já com relação ao apoio profissional, sugere suas demandas, sendo agentes protagonistas
programas de orientação e educação aos pais, em suas vidas e demonstrando capacidade de
por exemplo, além de melhor qualificação e construir formas de enfrentamento das vicis-
integração dos profissionais que atendem as situdes relacionadas ao transtorno, ainda que
crianças com TEA e suas famílias (Andrade e carentes de amparo e suporte externo.
Teodoro, 2012, Fávero e Santos, 2005; Gomes
et al., 2015; Lopes, 2015; Marques e Dixe 2011, A família no futuro:
Sousa, 2014).
preocupações e perspectivas
Diante da falta de acesso aos recursos ci-
tados, os familiares participantes do estudo
Nesta categoria são apresentadas as preo-
buscaram respostas às suas questões e alterna-
cupações e perspectivas dos familiares da
tivas às suas necessidades através da internet
criança com TEA em relação ao futuro da fa-
e do estudo: “Eu não sabia como lidar. Então,
mília. Nesse sentido, o estudo revelou que
quando a gente descobriu aí sim que eu fui
preocupações com o futuro da família e da
pra internet procurar vídeos, depoimentos
criança com TEA são recorrentes e inevitáveis
de mães, ver como é que era né o dia a dia da
aos familiares participantes. No entanto, a fim
criança com esse problema” (A2, E); “A gente
de lidar com as frustrações que as preocupa-
já tem pós-graduação em autismo de tanto que
ções geram, os familiares realizam esforços em
a gente já pesquisou de teorias sobre, tudo!”
(I1, GF); “Aí eu fui pra biblioteca da minha fa- não pensar no futuro, ainda que seja uma di-
culdade e procurei ler mais né? (M2, E); “Tanto fícil tarefa: “Eu procuro não pensar muito. [...]
que, quando nós tivemos esse diagnóstico, ela Porque quando eu começo a pensar assim me
(I1) começou a estudar pra passar em psicolo- entristece, porque a gente não sabe também o
gia justamente pensando nele” (M1, GF). dia de amanhã. Ninguém, nenhum de nós, né?
Essas buscas dos familiares por maiores Então, procuro nem pensar” (M1, GF).
entendimentos sobre o autismo, por meio de
Aí sabe, eu quando eu começo a pensar assim vem
leituras, bem como em espaços online para
um sentimento assim de tristeza, sabe? De sei lá,
compartilhamento de experiências, podem ser uma angústia de ter acontecido isso e a gente
caracterizadas como estratégias para lidar com fica perdido e não saber como... Né? Então, bá...
as inúmeras dúvidas e com a falta de apoio A gente se preocupa. A gente sente muita preo-
vivenciada. Madeira (2014), em seus estudos cupação. Então às vezes assim eu procuro nem
com famílias de crianças com TEA, também pensar muito, se não fica bem complicado... É,
evidenciou que essas famílias necessitam de não é fácil (A2, E).
apoio, orientações e espaços de trocas de in-
formações e vivências, e as que buscam o fa- Buscar não pensar o futuro, evitando so-
zem em profissionais da saúde e em grupos frimento, parece ser também uma alternativa
de apoio. No entanto, muitas vezes, frente à criada pelos familiares para serem capazes de
dificuldade de acesso aos profissionais e aos se empenharem no hoje e dar conta das de-
grupos, as famílias encontram nas redes so- mandas imediatas: “A gente pensa no futuro,
ciais alternativas para terem tais experiências. pode ser mil coisas, entendeu? ‘N’ coisas. Daí
Entende-se que essas estratégias podem ser se tu for parar pra pensar, aí tu vai criar um
entendidas sob a ótica do empoderamento fa- universo que nem existe, um futuro que nem
miliar. O termo “empoderamento” tem origem existe, entendeu? Tem que ir criando conforme
inglesa, “empowerment”, e corresponde a um as coisas vão acontecendo, eu acho” (P2, GF).
conceito que vem sendo discutido em diversos
âmbitos, possuindo diferentes entendimentos Porque daí eu penso assim, se eu ficar pensando
e aplicações. No que tange à sua relação com como que vai ser daqui a 10, 11 anos, vou dei-
famílias, pode ser entendido, por exemplo, xar de viver o agora pra ele, vou deixar, vou me
como um processo que objetiva torná-las mais entristecer e eu não vou conseguir ficar ali em
capazes de construir formas saudáveis de lidar volta dele brincando com ele. Então, às vezes, é
melhor não pensar! Embora seja inevitável, né?
com as suas problemáticas, sem dependerem
(M2, GF)
exclusivamente de amparo técnico (Souza et
al., 2006). Nesse tocante, pode-se refletir que A gente sabe que é preocupante o futuro dele, mas
as estratégias desenvolvidas pelos familiares não, não... Às vezes na hora assim a gente não
do estudo parecem demonstrar movimentos quer ficar desesperado, né? Porque não adianta.
das famílias de se empoderarem diante das A gente tá fazendo o possível, né? (P3, E).

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 343


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

É compreensível a dificuldade dos fami- famílias do estudo possui em sua constituição


liares em pensar no futuro de suas famílias e uma irmã, a qual é tida como grande fonte de
da criança com TEA, visto que este é incerto apoio, uma vez que auxilia nos cuidados com
e ameaçador. Conforme Franco (2015b), é co- a criança: “Pra ela (I1) o C1 é como se fosse o
mum que pais de crianças com transtornos filho dela, sabe? É uma super proteção dela...”
do desenvolvimento vivam intensamente o (M1, GF). Ressalta-se, no entanto, que a pre-
presente (um dia de cada vez), diante de um sença deste apoio não exclui o desejo de que a
futuro que gera angústias, preocupações e criança desenvolva o máximo de independên-
frustrações. No entanto, o autor defende que cia: “Eu tenho ela, mas eu não quero que ela
isso pode conduzir os pais a sentimentos de pense o dia de amanhã ela vai ter que cuidar o
incapacidade e melancolia. Neste sentido, irmão dela como se fosse uma criancinha. Eu
sugere que, ainda que os pais não possam quero que ele cresça!” (M1, GF).
prever o que está no seu futuro ou no de Já nas famílias em que não há presença de ir-
seus filhos, é necessário que sejam capazes mãos, no entanto, evidenciou-se um desejo pela
de pensar no futuro com esperança e desejo, adoção: “A gente pensa em adotar futuramente,
buscando possibilidades. mas só para o C3 ter aquele apoio que ele preci-
Percebe-se que as preocupações dos fami- sa e a gente não é pra sempre” (M3, GF).
liares em relação ao futuro da criança demons-
tram-se muito atreladas ao quanto ela conti- Como ele é o único um dia meus pais vão ir,
um dia eu vou ir, um dia o pai dele vai ir, sabe?
nuará dependente de cuidados, visto que pais
Quem vai ficar? Sabe? Aquela necessidade de ter
e avós, em algum momento, irão se ausentar. um irmão, alguém muito próximo que cuide. [...]
Assim, os familiares desejam à criança o má- Eu gostaria e até pensei mais tarde, depois que eu
ximo de independência: “Eu e meu marido, estude, depois que eu me formar, que eu tivesse
um dia a gente morre, né? Um dia a gente já uma vida financeira um pouco melhor, eu adotar
não vai tá mais aqui. Então, aí eu me preocupo pra alguém ficar cuidando do C2, sabe? (M2, E).
muito com ele, sabe? [...] Que ele possa fazer
tudo sozinho por ele mesmo né? Eu espero, Destaca-se que o desejo por adoção nessas
né? Espero que aconteça isso!” (A2, E). famílias se deve tanto à idade avançada de
algumas mães, quanto ao fato de terem estu-
A gente pra o futuro, pra ele o que a gente espera, dado sobre o papel da genética no transtorno
é que ele consiga o máximo de independência pos- e entendido que poderiam ter outra criança
sível, que ele seja feliz. E eu já fiquei assim muito com TEA. Ressalta-se ainda que os familiares
preocupada com o que vai ser do C3 futuramen- consideram a adoção, embora entendam que
te? Porque o C3 é filho único né? Daí eu penso a criança adotada entraria para a família com
assim, a gente não é pra sempre né? (M3, GF). uma função determinada: “Mas eu não queria
aquela carga pra aquela pessoa, ‘adotar pra
Tais preocupações são discutidas no estudo cuidar do meu filho’ (M3, GF); “Porque hoje
de Madeira (2014), cujos participantes, fami- querer adotar uma criança também só pra fi-
liares de crianças com TEA, também revela- car, pra formar uma família pra mais tarde,
ram receios sobre como será a vida da criança pra ter, é complicado também hoje né” (P3, E).
na fase adulta, visto que os pais não estarão Entende-se que, para as famílias deste es-
sempre presentes e encontram pouco auxílio tudo, diante da falta de apoio comumente
com o qual possam contar futuramente. Dian- encontrada e das preocupações futuras, uma
te disto, a dinâmica familiar desenvolve-se estratégia para lidar com a situação é a bus-
para promover o máximo de desenvolvimento ca por apoio dentro da própria família, seja
na criança, a fim de garantir sua maior inde- na presença atual ou planejada de um irmão
pendência de cuidados. Fávero e Santos (2005) que possa vir a assumir os cuidados do mem-
também mencionam as incertezas dos pais em bro com TEA. Estudos voltados à investigação
relação ao futuro dos filhos, em função de suas de vivências e impacto do TEA nos irmãos de
dificuldades em adquirir autonomia, confor- pessoas com o transtorno têm revelado o re-
me identificaram em sua revisão da literatura conhecimento dos irmãos como importantes
sobre autismo e estresse familiar. fontes de apoio nos cuidados com a criança,
A presença de irmãos na família revelou- sendo que muitas vezes assumem papéis que
-se, no presente estudo, como um fator impor- excedem os comuns ao relacionamento frater-
tante diante das preocupações relacionadas nal. Quanto ao impacto disso nos irmãos, rela-
aos cuidados futuros com a criança. Uma das cionar-se-ia a um distanciamento da vida so-

344 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

cial, vivências de preconceito, falta de atenção feliz cuidando dele!” (M1, GF); “A gente pen-
provinda dos pais, situação de possuírem seus sa o melhor pra um filho, mas não precisa ele
desejos voltados ao irmão com TEA e não a si cursar uma graduação e coisa, mas que ele seja
mesmos, além de preocupações com o futuro, feliz e conviva assim, consiga se encaixar no
no que possuem a consciência de que deverão mundo e fazer as coisas dele também, sabe?”
assumir os cuidados para com a criança com o (M2, GF).
transtorno (Cardoso e Françoso, 2015; Cezar e
Smeha, 2016; Miranda, 2015; Rodrigues, 2015). Ah, eu escuto muito assim, tem que aprender a
ler e escrever; tem que aprender a fazer assim...
Mas eu até não me preocupo muito com isso. Eu
A criança no futuro: reidealização me preocupo com a independência dele [...] Essa
e esperança no tratamento independência eu acho até mais importante do
que saber ler e escrever (M3, GF).
Esta categoria aborda as expectativas dos
familiares para a criança com TEA, revelando As imagens positivas sobre a criança e a
como a percebem e a pensam para o futuro, idealização para o seu futuro, realizadas pelos
além de abordar a importância que atribuem ao participantes deste estudo, podem ser fatores
seu tratamento. O presente estudo demonstrou que contribuem para o fortalecimento de suas
que os familiares possuem expectativas futuras famílias e do vínculo delas com a criança com
positivas relacionadas ao desenvolvimento da TEA. Nesse sentido, Franco (2015a, 2015b,
criança. Essas expectativas estão relacionadas à 2016) refere-se ao processo de reidealização da
aceitação da criança em sua condição: criança, o que possibilita o restabelecimento
do desenvolvimento da relação dos pais com
Eu sempre pensei positivo, sabe? Vamos esperar seu filho com deficiência ou Transtorno do
como ele vai... O desenvolvimento dele! Mas eu Desenvolvimento. Essa reidealização significa,
acredito que, espero que e acredito que vai me- portanto, empenhar-se no estabelecimento de
lhorar. [...] Pra mim ele é do jeito que é e pronto, um vínculo com a criança real, diferente da
sabe? Eu gosto dele assim, sabe? E eu vou, né? idealizada inicialmente, a partir do investi-
E eu acredito que ele vá se tornar uma criança né
mento emocional na criança e do pensamen-
talvez com alguma limitação né? Mas quem não
tem também? (P2, GF). to em como realmente pode ser e não como
poderia ter sido. Para o autor, três dimensões
Ainda, uma forma positiva de pensar a são necessárias neste processo: a da estética, a
criança é reconhecendo suas pequenas con- das competências e capacidades e a do futuro.
quistas, as quais, de acordo com os participan- Assim, os pais precisam olhar a criança real e
tes do estudo, parecem conferir forças para achá-la bonita, ver potencial na criança e cen-
os membros da família: “Também a evolução trar-se no que ela é capaz – além de pensar o
dele dá forças, sabe? (M2, E); “Cada supera- futuro, visto que está relacionado à esperança.
ção, cada coisa que ele aprende, pra nós, pra Percebe-se, ainda, a importância atribuída
pelos familiares participantes do estudo ao tra-
mim, é a maior alegria” (A2, E); “Então parece
tamento da criança com TEA e o entendimen-
que cada dia uma coisa diferente, cada pas-
to de que este não significa a cura, mas sim a
so que ele dá pra mim é uma, como é que eu
busca do melhor desenvolvimento da criança:
posso dizer, é uma medalha digamos da olim-
“Por isso a gente pensa no dia de amanhã as-
píada!” (P2, GF). Assim, a própria criança e o
sim! Se eles não tiver um bom tratamento hoje,
investimento emocional no cuidado com ela
o dia de amanhã eles tão perdido! [...] E busca
podem promover resiliência na família, per-
tratamento desesperado em tudo que é lugar!
mitindo lidar melhor com a situação. Em ou-
De psicologia, de TO...” (M1, GF).
tras palavras, o vínculo afetivo é fundamental
tanto para aceitação e valorização da criança,
A gente não mede esforços pra colocar ele nas te-
quanto para encarar os aspectos difíceis da si- rapias. [...] Isso não tem cura! Não tem cura, mas
tuação (Franco e Apolónio, 2002). com o tratamento ele pode melhorar, ele pode ter
Entende-se que as formas positivas de pen- uma vida quase que normal... Não digo normal,
sar a criança podem se constituir em maneiras porque hoje em dia o que é normal, né? (M3, GF).
de idealizá-la novamente, considerando suas
reais possibilidades: “A gente não quer que ele No entanto, para os familiares, a dificul-
seja um doutor, um médico, sabe? Que ele seja dade do acesso aos tratamentos é fonte de
simplesmente cuide dele, que ele consiga ser preocupações constantes. Eles relatam o quão

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 345


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

demorado pode ser conseguir atendimentos né? [...] Então era uma família de pai, mãe, fi-
gratuitos em serviços públicos e a sobrecarga lho, avós, tios, madrinha, era uma família né,
financeira que vivenciam quando precisam re- cotidiana” (M2, E).
correr a atendimentos particulares: “Se tives- A partir do convívio com as demandas
se oportunidade dele ir mais vez (no serviço relacionadas ao TEA e suas características na
gratuito) e não precisar pagar tanto...” (P3, criança, tais famílias descrevem-se como fe-
E); “Alegria de ver que ele é feliz, do jeitinho lizes, mas que cotidianamente dividem mo-
que ele é muito feliz, mas a tristeza de ver que mentos alegres com frustrações e tristezas: “A
ele poderia ser muito mais feliz. Se ele tivesse família do C3 é uma família assim feliz e tam-
mais atendimento, mais recursos, mais interes- bém se frustra de vez em quando com alguma
se público, sabe? Que ele não tem” (M1, GF). coisa também em função do C3, né?” (M3, GF).

Se for falar de dificuldades da família de uma A nossa casa é a nossa família! É baguncenta,
criança autista é a dificuldade de conseguir os berrona, grituda, mas é uma família feliz dentro
tratamentos, as terapias... A gente tem que correr do possível. [...] A gente fica da felicidade a tris-
muito! [...] Então o que mais frustra também é teza ao mesmo tempo. Assim como a gente fica
correr atrás das terapias e demorar tanto, sabe? muito feliz pelo um sorriso, por uma palavra que
[...] E se a gente vai gastar a gente gasta o que não eles dão em um dia que eles tão bem, a tristeza de
tem né? (M2, GF). ver eles pulando, no caso do meu, pulando e se
batendo (M1, GF).
Outros estudos também evidenciaram as
dificuldades financeiras e de acesso aos tra- A partir dos relatos, entende-se que as famí-
tamentos vivenciadas por famílias de crian- lias das crianças com TEA participantes deste
ças com TEA (Gomes et al., 2015; Marques e estudo se reconhecem como semelhantes a ou-
Dixe, 2011; Miranda, 2015; Sousa, 2014). De tras, mas encaram demandas diferentes daque-
fato, é possível compreender as preocupações las que não convivem com as repercussões do
e os sentimentos de frustração diante essas transtorno. Tais demandas possuem aspectos
dificuldades, na medida em que os familia- tanto positivos quanto negativos. Isso porque
res atribuem grande importância e esperança os familiares, neste contexto, são capazes de
aos tratamentos da criança. No entanto, cabe identificar possibilidades de crescimento pes-
lembrar que a promoção de desenvolvimento soal, além de sentirem como positiva a maior
da criança vai além da atuação de técnicos e união entre os membros da família. Contudo,
profissionais, incluindo o papel do próprio existe a alternância entre momentos de feli-
contexto relacional em que a criança se en- cidade e tristeza, sendo que consideram suas
contra inserida. Conforme Franco (2015a, famílias como fortes e perseverantes, mas não
2016), portanto, faz-se necessário o reconheci- completamente felizes. Essas ideias são exem-
mento e fortalecimento das famílias enquanto plificadas e sintetizadas nas palavras seguintes:
protagonistas no desenvolvimento da crian-
ça, investindo esforços em suporte e recursos Então quando veio o autismo, veio tudo isso, mas
para que tenham condições de incluí-las num veio também uma, um novo modo de ver as coi-
sas, sabe? [...] Quando vem uma criança e uma
contexto familiar e relacional saudável, am-
criança especial, a gente vê o mundo e as pessoas
pliando suas potencialidades. de um modo bem mais diferente, de um modo
mais amplo, mais né, humilde. [...] Eu sei que a
As famílias que se tornaram minha família, a gente se tornou uma família for-
te, sabe? Uma família perseverante. [...] A gente
Esta categoria aborda as formas como os se tornou uma família mais forte, de autoconheci-
familiares participantes do estudo percebem mento também, da gente ser... Se uniu mais tam-
bém, né? [...] Então eu acho que a gente se tornou
suas famílias e as descrevem enquanto famí-
uma família mais forte, mas não mais importante
lias de uma criança com TEA. Nesse tocante, ou mais feliz. Mais feliz não, mais forte sim! Mas
evidenciou-se que os familiares das crianças feliz por completo, eu acho que só quando a gente
com o diagnóstico de TEA se percebiam como ver mesmo, acho que isso só os anos vão dizer,
comuns antes de começarem a conviver com como a gente conseguiu transformar o C2, né?
as vicissitudes do transtorno: “A gente era (M2, E).
uma família que tinha muitos planos né? Pla-
nos positivos, planos comuns pra uma família De fato, a presença de uma criança com
né? [...] A gente não esperava nada de anormal, Transtorno do Desenvolvimento pode interfe-

346 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

rir no ciclo de vida da família, atingindo sua percebem a si e à criança, bem como sobre suas
estrutura e representando um desafio ao seu perspectivas futuras.
desenvolvimento, em virtude dos desafios que Evidenciou-se que os familiares partici-
surgem ao longo do tempo com o aumento pantes do estudo, em sua maioria, começaram
dos problemas no que diz respeito a sua gra- tardiamente a notar dificuldades na criança,
vidade. Na visão de Franco e Apolónio (2002), o que impediu um diagnóstico precoce. Tam-
quando uma criança com deficiência nasce, bém, foi possível perceber que o diagnóstico
toda a família é atingida, abalada na sua iden- desencadeou sentimentos de desespero e tris-
tidade e funcionamento. Para lidar com essa teza na unidade familiar, além de gerar inú-
situação, dois aspectos são fundamentais: (1) meras dúvidas. Entende-se que parte deste
força e resistência psicológica pessoal; e (2) a sofrimento esteve relacionado a um processo
coesão familiar. Este olhar remete à necessi- de luto pela perda da criança que havia sido
dade de observar famílias que vivem em um idealizada como saudável pelos familiares.
contexto de adversidades sob as lentes da re- O diagnóstico trouxe repercussões nas vi-
siliência familiar, ou seja, evidenciando seu das dessas famílias, no que tange às mudan-
potencial ao crescimento. ças na rotina familiar e de trabalho, sendo que
A resiliência define-se como a capacidade principalmente as figuras femininas deixaram
de superação das adversidades diante de um seus empregos para assumirem os cuidados
momento de crise, buscando encontrar recur- com a criança. Também foram identificadas
sos que promovam fortalecimento, reestrutu- repercussões nas relações familiares, pois os
ração e crescimento (Walsh, 2005). No que se participantes entendem como fator positivo a
refere ao contexto familiar, pode-se conside- maior união da família diante das dificulda-
rar que famílias resilientes são aquelas que des cotidianas. No entanto, um aspecto nega-
são capazes de desenvolver competências tivo consiste em se centrarem integralmente
para enfrentar os problemas existentes. Con- na criança, num movimento que as afastam
tudo, para que as famílias sobrevivam dian- do social. Ainda, destacam-se as perdas rela-
te da crise instaurada, podendo enfrentá-la cionadas a momentos comuns na vida de uma
da forma mais saudável possível, e para que família com crianças pequenas, como a criança
retomem seu curso de desenvolvimento, po- se apresentar em festividades escolares.
dendo também auxiliar no desenvolvimento A maioria das famílias participantes do es-
da criança, entende-se que devam receber tudo experienciam a falta de apoio por parte
adequado amparo e suporte (Fiamenghi e da família extensa, além de vivências de pre-
Messa, 2007; Sousa, 2014). conceito e incompreensão por parte dela, o
Nas palavras de Walsh (2005, p. 12) “não que desencadeia sentimentos de desamparo.
basta encorajar a resiliência de crianças e famí- Neste tocante, as redes sociais e os livros cons-
lias em risco para que elas possam ‘vencer obs- tituíram-se como estratégias para lidar com as
táculos’; devemos também lutar para mudar dúvidas e necessidades de amparo, as quais
os obstáculos que são colocados para elas”. podem ser entendidas a partir do empodera-
Assim, entende-se que o bem-estar da criança mento familiar.
e o da família caminham juntos, e a adaptação Sobre perspectivas futuras, os participantes
delas depende em grande parte da rede de do estudo destacam as preocupações com o fu-
apoio e dos serviços disponibilizados para o turo da família, visto que na ausência de pais e
acompanhamento das famílias e de suas crian- avós e diante da fragilidade de apoio, as crian-
ças. Para isso, é necessário que se empenhem ças poderiam se encontrar desamparadas.
na compreensão de suas fragilidades, e que, Diante disso, ressaltam-se suas tentativas de
principalmente, dirijam esforços visando ao evitar pensar o futuro e a grande importância
seu fortalecimento. que conferem a presença de irmãos da criança
com TEA, sendo que nas famílias em que não
Considerações finais há irmãos existe o desejo de adoção, para que
alguém assuma as responsabilidades futuras.
O presente estudo buscou refletir sobre o Quanto à visão dos familiares sobre a
tornar-se família de uma criança com Trans- criança com TEA, eles a percebem positiva-
torno do Espectro Autista. Para isso, foram mente, revelando tanto uma adaptação à sua
realizadas compreensões sobre as vicissitu- condição, quanto à capacidade de reidealiza-
des do transtorno no contexto dessas famílias, rem a criança de acordo com suas reais possi-
suas características e funcionamento, como bilidades e tendo em vista que sua evolução

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 347


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

gradual confere forças para a família. Nesse da família neste estudo pode ser apontada
contexto, os familiares atribuem ao tratamen- como uma limitação, embora se entenda que
to da criança as chances das expectativas po- a percepção de cada um dos membros que
sitivas relacionadas ao seu progresso se con- convivem como família (avós, irmãos...) é tão
cretizarem, mas encontram dificuldades no importante quanto à dos pais e mães para a
acesso ao tratamento. compreensão do modo como as famílias se
Por fim, o estudo pode evidenciar o reco- percebem e lidam com o contexto vivenciado.
nhecimento dos familiares de que suas famí- Por fim, espera-se que o estudo possa con-
lias possuem características comuns às de ou- tribuir para pensar estratégias de apoio em
tras famílias, mas que vivenciam demandas serviços frequentados por famílias de crianças
distintas daquelas em que não há uma criança com TEA, a partir da compreensão das fragi-
especial. Diante dessas demandas, os familia- lidades e especificidades delas, mas princi-
res relatam a alternância entre momentos de palmente do entendimento de seu funciona-
alegria e tristezas, mas também a união, a de- mento, desenvolvimento e potencial para o
dicação e a perseverança da família. crescimento. Sugere-se, por exemplo, a maior
Pode-se refletir, a partir deste estudo, que inclusão dos familiares nos atendimentos de
o tornar-se família de uma criança com TEA suas crianças, o reconhecimento de que neces-
parece demandar adaptação do contexto fa- sitam suporte para dividir os cuidados práti-
miliar a uma nova realidade e a uma nova cos com suas crianças, bem como o aumento
criança. A uma nova realidade, no sentido da oferta de apoio psicológico no contexto dos
de que o contexto do transtorno desencadeia serviços e instituições, seja por meio de grupos
repercussões ao cotidiano familiar, frente de familiares ou atendimentos individuais.
às quais as famílias precisam, por meio de Isto porque entende-se que a atenção às famí-
diferentes estratégias, buscar a adaptação. lias e seus membros pode contribuir tanto para
E adaptação a uma nova criança, no sentido o bem-estar deles quanto ao de suas crianças.
de que a criança com TEA apresenta-se dife-
rente da esperada inicialmente por sua famí- Referências
lia e precisa ser novamente idealizada dentro
de suas reais possibilidades. Entende-se que, ANDRADE, A.A.; TEODORO, M.L.M. 2012. Famí-
para isso, movimentos de reequilíbrio e reto- lia e Autismo: Uma Revisão da Literatura. Con-
mada do desenvolvimento da família sejam textos Clínicos, 5(2):133-142.
https://doi.org/10.4013/ctc.2012.52.07
necessários, num processo de resiliência, e
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA
que tais movimentos podem ser facilitados se (APA). 2014. Manual diagnóstico e estatístico de
as famílias puderem receber adequado apoio transtorno (DSM-5). 5ª ed., Porto Alegre, Art-
e suporte, voltados ao fortalecimento de suas med, 948 p.
competências e possibilidades. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA
Considera-se que este estudo é relevante no (APA). 2002. Manual diagnóstico e estatístico de
que enfoca reflexões sobre o tornar-se família transtorno (DSM IV). 4ª ed., Porto Alegre, Art-
med, 880 p.
de uma criança com TEA, a partir do conheci-
BARBOUR, R. 2009. Grupos focais. Porto Alegre, Art-
mento de suas dificuldades, porém atentando med, 216 p.
às formas como se organizam para lidar com BARDIN, L. 2009. Análise de conteúdo. Lisboa, Edi-
estas. Neste sentido, amplia-se o foco para ções 70, 281 p.
além da identificação do estresse elevado nos BORBA, L.O.; PAES, M.R.; GUIMARÃES, A.N.; LA-
familiares das crianças com TEA, amplamen- BRONICI, L.M.; MAFTUM, M.A. 2011. A famí-
te corrente na literatura, a fim de destacar as lia e o portador de transtorno mental: dinâmica
e sua relação familiar. Revista da Escola de Enfer-
potencialidades das famílias para reorgani- magem da USP, 45(2):442-449.
zarem-se neste contexto, a partir de suas pró- https://doi.org/10.1590/S0080-62342011000200020
prias percepções. CARDOSO, M.F.; FRANÇOZO, M.F.C. 2015. Jo-
Sugere-se a realização de novos estudos vens irmãos de autistas: expectativas, sentimen-
que ampliem a discussão da temática, a par- tos e convívio. Saúde (Santa Maria), 41(2):87-98.
tir de amostras maiores, que permitam maior https://doi.org/10.5902/2236583415338
generalização dos resultados e que possam CARTER, B.; McGOLDRICK, M. 2001. As mudan-
ças no Ciclo de Vida Familiar: uma estrutura
englobar famílias com características socio- para a Terapia Familiar. In: B. CARTER; M. Mc-
demográficas e culturais distintas, pois essas GOLDRICK, As mudanças no Ciclo de Vida Fami-
foram limitações do presente estudo. Também liar: Uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed.,
a escolha pela inclusão de diferentes membros Porto Alegre, Artmed, p. 7-29.

348 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mônica Sperb Machado, Angélica Dotto Londero, Caroline Rubin Rossato Pereira

CEZAR, P.K.; SMEHA, L.N. 2016. Repercussões GROENINGA, G.C. 2003. Família: um caleidoscó-
do autismo no subsistema fraterno na perspec- pio de relações. In: G.C. GROENINGA; P.C.P.
tiva de irmãos adultos. Estudos de Psicologia, PEREIRA (orgs.), Direito de Família e Psicanálise.
33(1):51-60. Rio de Janeiro, Imago, p. 125-142.
https://doi.org/10.1590/1982-02752016000100006 LAVILLE, C.; DIONNE, J.A. 1999. A Construção do
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (CNS). 2016. Saber: Manual de Metodologia da Pesquisa em Ciên-
Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Brasí- cias Humanas. Porto Alegre, Artmed, 344 p.
lia, DF. Diário Oficial da União, nº 98, secção 1, LAZNIK, M.C. 2015. Diversos olhares sobre o autis-
p. 44-46. mo. In: A. JERUSALINSKY (org.), Dossiê autis-
DUMAS, J.E. 2011. Psicopatologia da infância e da ado- mo. São Paulo, Instituto Langage, p. 56-61.
lescência. 3ª ed., Porto Alegre, Artmed, 640 p. LOPES, A.F.S.P. 2015. As Necessidades e Redes de
EBERT, M.; LORENZINI, E.; SILVA, E.F. 2015. Mães Apoio de Famílias de Pessoas com Perturbação do
de crianças com transtornos autísticos: percep- Espectro do Autismo. Lisboa, Portugal. Disserta-
ções e trajetórias. Revista Gaúcha de Enfermagem, ção de Mestrado. Universidade Nova de Lis-
36(1):49-55. boa, 111 p.
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.01.43623 MADEIRA, H.I.B. 2014. Reações das famílias ao diag-
FÁVERO, M.A.B. 2005. Trajetória e sobrecarga emocio- nóstico da criança com Perturbações do Espectro do
nal da família de crianças autistas: relatos mater- Autismo: um estudo exploratório. Évora, Portugal.
nos. Ribeirão Preto, SP. Dissertação de Mestra- Dissertação de Mestrado. Universidade de Évo-
do. Universidade de São Paulo, 175 p. ra, 117 p.
FÁVERO, M.A.B.; SANTOS, M.A. 2005. Autismo MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. 2002. Técnicas de
infantil e estresse familiar: uma revisão siste- pesquisa. São Paulo, Editora Atlas, 277 p.
mática da literatura. Psicologia Reflexão e Crítica, MARQUES, M.H.; DIXE, M.A.R. 2011. Crianças e
18(3):358-369. jovens autistas: impacto na dinâmica familiar e
https://doi.org/10.1590/S0102-79722005000300010 pessoal de seus pais. Revista de Psiquiatria Clíni-
FERREIRA, A.C.S. 2016. Ansiedade, estratégias de co- ca, 38(2):66-70.
ping e qualidade de vida nos familiares de jovens com https://doi.org/10.1590/S0101-60832011000200005
PEA. Lisboa, Portugal. Dissertação de Mestra- MINATEL, M.M.; MATSUKURA, T.S. 2014. Famí-
do. Universidade Lusófona de Humanidades e lias de crianças e adolescentes com autismo:
Tecnologia, 95 p. cotidiano e realidade de cuidados em diferen-
FIAMENGHI, G.A.; MESSA, A.A. 2007. Pais, Filhos tes etapas do desenvolvimento. Revista de Te-
e Deficiência: Estudos Sobre as Relações Familia- rapia Ocupacional da Universidade de São Paulo,
res. Psicologia, Ciência e Profissão, 27(2):236-245. 25(2):126-134.
https://doi.org/10.1590/S1414-98932007000200006 https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134
FONTANELLA, B.J.B.; RICAS, G.; TURATO, E.R. MINAYO, M.C.S. 2014. O desafio do conhecimento:
2008. Amostragem por saturação em pesquisas pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed., São Pau-
qualitativas em saúde: contribuições teóricas. lo, Hucitec, 407 p.
Cadernos de Saúde Pública, 24(1):17-27. MIRANDA, P.A.T. 2015. Impacto da perturbação do
https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000100003 espectro do autismo na fatria: percepção dos irmãos
FRANCO, V. 2015a. Introdução à Intervenção Preco- e pais. Porto, Portugal. Dissertação de mestrado.
ce no desenvolvimento da criança: com a família, na Universidade Portucalense, 145 p.
comunidade, em equipe. Portugal, Edições Aloen- MURATORI, F. 2014. O diagnóstico precoce no autis-
dro, 154 p. mo: guia prático para pediatras. Salvador, Ed. Nú-
FRANCO, V. 2015b. Paixão-dor-paixão: pathos, luto cleo Interdisciplinar de Intervenção Precoce da
e melancolia no nascimento da criança com defi- Bahia, 89 p.
ciência. Revista Latinoamericana de Psicopatologia ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS).
Fundamental, 18(2):204-220. 2008. Classificação de transtornos mentais e de com-
https://doi.org/10.1590/1415-4714.2015v18n2p204.2 portamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes
FRANCO, V. 2016. Tornar-se pai/mãe de uma crian- diagnósticas. 10ª ed., São Paulo, EDUSP, 1200 p.
ça com transtornos graves do desenvolvimento. PINTO, R.N.M.; TORQUATO, I.M.B.; COLEET, N.;
Educar em Revista, 59:35-48. REICHERT, A.P.S.; NETO, V.L.S.; SARAIVA,
https://doi.org/10.1590/0104-4060.44689 A.M. 2016. Autismo infantil: impacto do diag-
FRANCO, V.; APOLÓNIO, A.M. 2002. Desenvol- nóstico e repercussões nas relações familiares.
vimento, resiliência e necessidades das famílias Revista Gaúcha de Enfermagem, 37(3):e61572.
com crianças deficientes. Revista Ciência Psicoló- https://doi.org/10.1590/1983-1447.2016.03.61572
gica, 8:40-54. ROLLAND, J. 2001. Doença crônica e o ciclo de vida
GIL, A.C. 2010. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª familiar. In: B. CARTER; M. McGOLDRICK. As
ed., São Paulo, Atlas, 200 p. mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma estrutu-
GOMES, P.T.M.; LIMA, L.H.; BUENO, M.K.G.; ra para a terapia familiar. Porto Alegre, Artmed,
ARAÚJO, L.A.; SOUZA, N.M. 2015. Autismo p. 373-392.
no Brasil, desafios familiares e estratégias de su- RODRIGUES, T.P. 2015. Relações familiares e a escola-
peração: revisão sistemática. Jornal de Pediatria, rização de irmãos adolescentes de pessoas com TEA.
91(2):111-121. Santa Maria, RS. Dissertação de Mestrado. Uni-
https://doi.org/10.1016/j.jped.2014.08.009 versidade Federal de Santa Maria, 91 p.

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 349


Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

SCHMIDT, C.; DELL’AGLIO, D.D.; BOSA, C.A. SPROVIERI, M.H.S.; ASSUMPÇÃO JR, F.B. 2001.
2007. Estratégias de Coping de Mães de Porta- Dinâmica familiar de crianças autistas. Arquivos
dores de Autismo: Lidando com Dificuldades de Neuro-Psiquiatria, 59(2-A):230-237.
e com a Emoção. Psicologia: Reflexão e Crítica, https://doi.org/10.1590/S0004-282X2001000200016
20(1):124-131. TURATO, E.R. 2005. Métodos qualitativos e quanti-
https://doi.org/10.1590/S0102-79722007000100016 tativos na área da saúde: definições, diferenças
SILVA, J.R.S.; ASSIS, S.M.B. 2010. Grupo focal e aná- e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde Pú-
lise de conteúdo como estratégia metodológica blica, 39(3):570-514.
clínica-qualitativa em pesquisas nos distúrbios https://doi.org/10.1590/S0034-89102005000300025
do desenvolvimento. Cadernos de Pós-Graduação VISANI, P.; RABELLO, S. 2012. Considerações so-
em Distúrbios do Desenvolvimento, 10(1):146-152. bre o diagnóstico precoce na clínica do autismo
SMEHA, L.N.; CEZAR, P.K. 2011. A vivência da e das psicoses infantis. Revista Latinoamericana de
maternidade de mães de crianças com autismo. Psicopatologia Fundamental, 15(2):293-308.
Psicologia em Estudo, 16(1):43-50. https://doi.org/10.1590/S1415-47142012000200006
https://doi.org/10.1590/S1413-73722011000100006 ZANON, R.B.; BACKES, B.; BOSA, C.A. 2014. Iden-
SOUSA, M.J.R. 2014. Necessidades das Famílias com tificação dos Primeiros Sintomas do Autismo pe-
Crianças com Autismo, Resiliência e Suporte Social. los Pais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(1):25-33.
Faro, Portugal. Dissertação de Mestrado. Uni- https://doi.org/10.1590/S0102-37722014000100004
versidade do Algarve, 113 p. WALSH, F. 2005. Fortalecendo a resiliência familiar.
SOUZA, A.I.J.; ALTHOFF, C.R.; RIBEIRO, E.M.; EL- São Paulo, Roca, 328 p.
SEN, I. 2006. Construindo movimentos para o
fortalecimento da família. Família, Saúde e Desen- Submetido: 31/01/2017
volvimento, 8(3):265-272. Aceito: 26/10/2017

350 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018

Você também pode gostar