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Alexander Gerschenkron | O atraso econômico em perspectiva histórica e outros ensaios
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Pós-escrito sobre a industrialização europeia
artadas,
ais observações não são ignoradas nem desc
Quando tais para
a pesquisa
como se tem 10 costume de fazer, elas orientam
o uso de quais recursos
uma nova questãc »: de que maneira e com
requisitos faltantes? Esta
os países atrasados substitu íram os pré-
ceito de
o
pergun
“pré-requisitos” da industrialização moderna”, gerou respostas im-
õ
pré-requi-
portantes. Por um lado, parece que alguns dos supostos
ialização que
sitos não foram necessários em processos de industr
vez formula-
ocorreram em condições diferentes. Por outro, uma
variadas al-
da a pergunta, tornaram-se visíveis séries inteiras de
ternativas que puderam ser organizadas num padrão significativo,
conforme o grau de atraso econômico. Voltando mais uma vez
ao exemplo da tabela anterior, é fácil conceber que o capital for-
necido às primeiras fábricas, nos países avançados, proveio da ri-
queza previamente acumulada ou da reaplicação paulatina dos
lucros; ao mesmo tempo, a ação dos bancos e do governo nos paí-
ses menos avançados representou um conjunto de tentativas bem-
-sucedidas de criar, no curso da industrialização, condições não
criadas nos períodos “pré-industriais”, exatamente em decorrência
do atraso econômico das áreas em questão.
“Reflexões sobre o conceito de “pré-requisitos” da industrializa-
ção moderna” mostrou que a oferta de capital é apenas um dos
casos de substituição de pré-requisitos faltantes. Ao examinarmos
os vários padrões de substituição nos diferentes países, levando
em conta os efeitos da diminuição paulatina do atraso, ficamos
tentados a formular mais uma proposição geral. Quanto mais
atrasado era o país às vésperas de seu grande surto de desenvolvi-
mento industrial, maior foi a probabilidade de que os processos de
industrialização exibissem um quadro rico e complexo, propician-
do um curioso contraste com sua própria história pré-industrial,
que, não raro, foi relativamente estéril. Nos países avançados, ao
contrário, a riqueza da história econômica nos períodos pré-in-
dustriais possibilitou um curso relativamente simples e direto de
sua história industrial moderna.
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E
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Notas
1. A “grande arrancada” tem estreita relação com a “decolagem” de W. W.
Rostow (The Stages of Economic Growth, Cambridge, Massachusetts, 1960,
cap. 4) [Etapas do desenvolvimento econômico: um manifesto não-comunista,
trad. Octavio Alves Velho, Rio de Janeiro, Zahar, 1961]. Os dois conceitos
frisam o componente de descontinuidade específica do desenvolvimento
econômico; entretanto, as grandes arrancadas restringem-se às áreas da ma-
nufatura e da mineração, ao passo que as decolagens se referem à produção
nacional. Infelizmente, no estado atual de nossas informações estatísticas
sobre o crescimento a longo prazo da renda nacional, praticamente não há
como estabelecer, muito menos testar, a hipótese da decolagem.
. Ver, por exemplo, Bruno Hildebrand, Die Nationalóôkonomie der Gegenwart
und Zukunft und andere gesammelte Schrifien, I (Jena, 1922), p. 357.
Ver Rostow, The Stages of Economic Growth, p. 118ss [Etapas do desenvolvi-
mento econômico, op. cit.].
Rostow, cap. 7 e p. 162. Numa gentileza à memória de Thomas Mann, con-
vém mencionar que Os Buddenbrook é um romance que versa sobre a de-
cadência biológica de uma família cuja vitalidade declina de geração para
geração.
Ver a discussão deste ponto em “O atraso econômico em perspectiva his-
us
tórica”
Rostow, cap. 3. O autor exclui expressamente de suas generalizações os Esta-
dos Unidos e os domínios britânicos, mas isso não tem qualquer interesse no
Presente contexto, que se restringe à história industrial da Europa.
Ibid.
Nesse sentido, a discussão do espírito empreendedor no desenvolvimento
económico, em “Atitudes sociais, espírito empreendedor e desenvolvimento
econômico”, pode ser considerada uma contribuição para o problema dos
Pré-requisitos do crescimento industrial.
Esses capítulos foram escritos antes de “Reflexões sobre o conceito de “pré-
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10. Não admira, portanto, vermos Rostow, a certa altura (p. 49), Mist
urar com
muita liberdade condiçoes e precondiçoes do desenvolvimento industrial
n Ver os ensaios “O atraso econômico em perspectiva histórica” e “Rús
padrões e problemas do desenvolvimento econômico, 186]- 1958”
Hirschman, cu criHoje
e
tendo sido influenciado pelos estudos de Albert
ria que os bens de capital dotados de complexos “encadeamentos para à
frente” têm especial importância nos países muito atrasados, nos quais q
mercado interno é pequeno e a existência de circuitos ativos de “investi.
mento pelo investimento” pode ser de suma importância para sustentar
a
grande arrancada. Albert O. Hirschman, The Strategy of Economic
Develop-
ment (New Haven, 1958), cap. 6 [A estratégia do desenvolvimento econômico
,
trad. Laura Schalaepfer, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1961]
12 Curiosamente, numa explicação desse tipo, seria preciso dar muito peso a
um fator que costuma ser negligenciado: as relações entre o Ministério da
Fazenda e o Ministério do Interior.
13. Recentemente, alegrei-me ao deparar com uma passagem, num pequeno
livro esquecido do grande sociólogo alemão Georg Simmel (Der Krieg und
die geistigen Entscheidungen, Munique/Leipzig, 1917, p. 22-23), que con-
tém uma concepção muito semelhante do desenvolvimento industrial ale-
mão. Simmel fala explicitamente da imensa acumulação de wirtschafiliche
Spannkráfte [tensões econômicas] que, durante muito tempo, não puderam
ser liberadas.
14. Ao se lidar com a visão otimista do futuro do mundo no século XIX, em
geral tinha-se menos disposição para considerar a contingência das reduções
da tensão resultante de guerras destrutivas ou da legislação anti-industrial.
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