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DELINQUÊNCIA JUVENIL

CASOS PRÁTICOS

CASO 1:

O Carlos tem 14 anos e vive com a mãe, o pai e um irmão de 1 ano de idade. A mãe está
desempregada e o pai trabalha na construção civil. Até ao 4º ano de escolaridade foi um bom
aluno, embora adotasse frequentemente um comportamento agressivo na relação com os
pares. Nesta altura, o Carlos foi sinalizado pela primeira vez à CPCJ porque aparecia
regularmente na escola com “nódoas negras”. Quando confrontada com esta situação, a
progenitora começou a chorar e referiu que o pai era muito trabalhador mas, aos fins-de-
semana, costumava “abusar” da cerveja, chateava-se no café, chegava a casa e descarregava
em si e no filho. O pai referiu que o Carlos não lhe obedecia e tinha sempre as “costas
quentes” da mãe, tinha que lhe dar educação senão ia dar num “desgraçado”.

No 6º ano, o Carlos começou a faltar às aulas, foi alvo de vários processos disciplinares,
foi apanhado diversas vezes a furtar em hipermercados e esteve envolvido num rebentamento
de uma bomba de água na escola, situação que foi alvo de um processo judicial.

Atualmente, diz a mãe, as coisas estão mais calmas porque o pai está a trabalhar em Espanha e
só vem aos fins-de-semana. Mas o Carlos tem vindo a demonstrar uma escalada em termos do
seu comportamento desviante na rua e em casa: abandonou a escola, pratica pequenos furtos
à porta da escola, furtou ainda todas as peças de ouro e uma elevada quantia de dinheiro à sua
mãe, bem como o valor que esta guardava em casa relativo à administração de condomínio.

A mãe diz que não aguenta a situação – “Já não sei o que posso fazer mais, já basta a
falta de dinheiro, eu digo-lhe «estás a estragar a tua vida e a minha, um dia destes alguém vai
contar o que andas a fazer ao teu pai e aí quero ver, levas mais uma coça (…) não posso
protege-lo toda a vida”.

Entretanto, o Carlos integrou um Curso de Educação e Formação e foi expulso na


sequência de episódios de agressões a colegas e alegado consumo e tráfico de
estupefacientes.

CASO 2

A Sara tem 15 anos e foi sinalizada pelo centro de saúde. De acordo com a informação
remetida, a menor foi mãe há cerca de 15 dias e não comparece às consultas de saúde infantil
com o seu filho. Já tentaram contactar para o número de telemóvel disponibilizado mas o
número não está atribuído. Já se deslocaram ao endereço referenciado mas «disseram que
não vive lá».

A mãe da Sara encontra-se divorciada do progenitor da menor desde há cerca 5 anos –


“Aquilo não era vida para mim, eu é que ganhava para a casa, ele passava a vida no café e na
borga com os amigos e ainda me batia e insultava quando chegava a casa como se fosse uma
galdéria, os meus filhos andavam sempre na rua porque eu trabalhava até tarde e não tinha
ninguém que me ajudasse, o meu filho chegou a fazer-se a mim, já não aguentava mais”. Nesta
altura, todos os menores foram institucionalizados, inclusivamente a Sara – “A Sara também
foi para o colégio mas nunca se deu lá, fugiu aí umas seis vezes até que o tribunal disse para
ela ficar com o avô, que tinha na altura 70 anos de idade, essa sempre fez o que queria, nunca
tive mão nela”.

No momento, o pai encontra-se emigrado em paradeiro incerto e nunca mais contactou ou viu
os filhos. A D. Adelaide vive num quarto alugado e trabalha por turnos na limpeza de um
cinema e raramente vê a filha. Desde que o seu neto nasceu, nunca mais a viu, referindo – “Eu
soube que ela andava grávida, nem sabe de quem, ainda lhe dei umas coisas para o bebé, só o
conheci no hospital e nunca mais lhe pus a vista em cima, deve andar escondida, ouvi dizer que
anda outra vez metida no «mico»”. A mãe gostaria de ajudar a Sara e o neto mas reconhece
que não tem condições económicas, profissionais e habitacionais para assumir a
responsabilidade – “Eu gostava muito de ajudar a minha filha mas não tenho condições. E,
com o meu neto ainda ficava, mas com ela, era para ter a polícia sempre à porta” . Atualmente,
a Sara não tem paradeiro certo, ora está na casa do avô, ora está na casa de uma amiga, ora
fica com o atual namorado (David, de 20 anos) na casa dos pais deste. A Sara está envolvida
em vários roubos de automóveis cometidos em várias cidades, suspeita-se que está envolvida
num gang que atua na zona do Porto, sendo vista frequentemente de madrugada na
companhia de homens mais velhos.

CASO 3:

O António tem 13 anos e foi sinalizado inicialmente pela escola por demonstrar
problemas de comportamento: comportamento desafiante e oposicional (desobediência
perante figuras de autoridade), conduta desviante e manipuladora (alegado envolvimento no
consumo de drogas, furtos), comportamento agressivo e associação a pares com
comportamentos desviantes.

Os pais do António divorciaram-se acerca de um ano, tendo este sido entregue aos
cuidados da mãe. A mãe apresenta um desgaste psicológico decorrente da rutura conjugal e
demonstra manifesta incapacidade para lidar com os problemas do António – “Estou farta
dele, já me basta o que estou a passar ainda me passam a vida a chamar aqui e ali por causa
dele, ele é assim, eu sempre o disse, foi por ele que o meu casamento acabou, eu já disse que
só há uma solução, metam-no num colégio ou entreguem-no ao pai, ele só nos faz mal a mim e
à minha filha mais nova”.

O pai refez a vida com outra companheira e planeia um novo filho – “Eu tenho o direito de
recomeçar a minha vida, o meu filho até me respeita mas eu não tenho tempo para ele, sou
camionista de longo curso, a mãe é que provocou isto tudo, agora que resolva”.

Entretanto, o António abandonou a escola, já frequentou vários cursos de educação e


formação, sendo expulso recorrentemente. Os motivos apontados relacionam-se com a sua
inadequação comportamental (ex.: irresponsável, canta nas aulas, insulta os professores e
funcionários, não acata as ordens, desrespeita os colegas, já agrediu um professor), furtos,
consumo e tráfico de estupefacientes, e com a venda de material roubado. A progenitora
manifesta total desresponsabilização do seu papel parental delegando sistematicamente a
responsabilidade da mudança às entidades envolvidas - “Tirem-mo daqui, ou vêm buscá-lo ou
ponho-o na rua”, “resolvam-me o problema”. O progenitor revelou maior capacidade para
gerir o comportamento do menor mas demonstra grande ambivalência neste processo, ora
evidencia envolvimento, ora demite-se completamente da sua responsabilidade parental -
“não tenho vida para isso”; “Não quero saber mais do meu filho”; “a mãe que o ature”.

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