Você está na página 1de 6

A REFORMA PROTESTANTE

Tentativa de restauração do verdadeiro cristianismo, um retorno às doutrinas dos


apóstolos. O corrido na Europa no séc. XVI (1517). Período de declínio espiritual e moral

1 - CENÁRIO HISTÓRICO:
Fator litúrgico:
No período que antecedeu a Reforma, a igreja passou por um processo chamado
clericalização da liturgia, onde o povo fora reduzido à condição de espectador, o que negava o
sacerdócio universal dos crentes (1 Pe 2:5).

Fator doutrinário:
Com o desejo desenfreado de converter as massas pagãs (encher os templos) houve um
relaxamento dos princípios bíblicos, começando a fazer parte, então, da liturgia, práticas idólatras
e profanas (adoração a anjos, santos, imagens e ídolos, assim como a transubstanciação e o
batismo de crianças, e ainda o poder de perdoar pecados, mediante a recomendação de
penitências).

Fator do declínio moral do clero:


Ocasionado pelo vínculo entre a Igreja e os governantes:

- Simonia – compra e venda de cargos eclesiásticos e benefícios espirituais

- Nepotismo – nomeação de pessoas a cargos eclesiásticos pelo parentesco

- Absentismo – cargos eclesiásticos em que as atividades são exercidas por


intermediários, e não pelo nomeado.

A iIgreja era vista como comércio e meio de produção de riquezas.

MOVIMENTOS PRÉ-REFORMISTAS (Idade Média – séculos 13-15):


- Valdenses - Pedro Valdo vendeu toda sua riqueza para viver como os apóstolos. Ensinava que
todos deveriam ler a bíblia, e que todos poderiam entendê-la e pregar. Seus seguidores foram
perseguidos e excomungados, fundaram seu próprio clero e mais tarde se uniram aos
reformadores.

- Cátaros- Combatiam o enriquecimento e corrupção do clero, viviam de forma simples. Foram


perseguidos e exterminados pela inquisição.

- Pré-reformadores

FATORES CAUSAIS DA REFORMA:


- Incapacidade da Igreja atender responder aos anseios do povo

- Desvios doutrinários do clero

Mudanças políticas:
- criação de nações – estado

- fim dos feudos

- a Igreja não era vista como a única instituição que unia o continente
- críticas ao montante de dinheiro enviado à Igreja, assim como a isenção de impostos
concedida por ela

- reivindicações de uma igreja não vinculada ao sistema papal, mas ao governo local

Mudanças econômicas:
- plantio para excedentes, que gerou os comerciantes

- construção de estradas e cidades, criação de sistemas bancários e comercial

- criação dos burgos (ponto de venda e compra de produtos), originando a classe burguesa

- troca do escambo pela moeda

- o Papa instituiu pesados impostos sobre os comerciantes, diminuindo a possibilidade de


lucros, onde buscar o enriquecimento era maldição e pecado

- migração da burguesia para regiões onde o apoio religioso permitisse os seus negócios,
ajudando assim a reforma

Mudanças intelectuais:
- crescimento das artes e ciências humanas, que possibilitou os cristãos a dedicar-se à
aquisição de conhecimentos gerais, como forma de aprimorar a interpretação das Escrituras

Desenvolvimento tecnológico:
- relógio mecânico (tempo/produção), óculos, papel vegetal (preço acessível para a
produção da bíblia) e a imprensa (produção de larga escala da Bíblia)

2 – OS ÍCONES DA REFORMA:

Personagens da pré-reforma
John Wycliffe (1324-1384)
Aluno e professor de Oxford, nascido na Inglaterra:

- Primeira Bíblia para o inglês

- Condenou a posse de propriedades pelos padres, o pagamento de indulgências e a


corrupção do clero

- Pregava a autoridade suprema das Escrituras

- Negava a condição do Papa como substituto de Pedro e cabeça da Igreja

John Huss (1369 – 1415)


Professor e reitor da universidade de Praga, influenciado pelos escritos de Wycliffe,
influenciou a vida de Lutero. Nascido na República Tcheca:

- Combateu o pagamento de indulgências e a corrupção do clero

- Pregava o sacerdócio universal dos crentes

Girolamo Savonarola (1452 – 1498)


Nascido na Itália desistiu da medicina para dedicar-se a vida religiosa.

- Atacou o mau-caráter do Papa Alexandre VI


- Se considerava um profeta

- Queimou obras de arte e livros (produtos da vaidade humana e de natureza imoral)

OS PINCIPAIS PERSONAGENS DA REFORMA:

Martinho Lutero (1483 – 1546)


Nascido na Alemanha, herdeiro de uma educação familiar rígida, sofrendo grande
influência de sua mãe. Considerado a voz profética da Reforma.

- Inquietava-se com o texto de Rm 1:17 – “{...}o justo viverá pela fé”. Justificação pela fé.

- A comunhão com Deus a qualquer pessoa que O busque com sinceridade e devoção,
movido pela fé.

- As 95 teses na Catedral de Wittenberg

- Inefabilidade papal e as Escrituras como única fonte confiável da verdade revelada por
Deus

- Traduziu a Bíblia para o alemão

- Divergia dos ensinamentos baseados na Tradição (bulas, concílios, etc)

João Calvino (1509 – 1564)


Nascido na França, considerado o organizador da Reforma. Teólogo e pastor, graduado
em filosofia e direito.

- Escritor da obra “AS institutas da Religião Cristã”, que contém todo o sistema doutrinário
das igrejas reformadas.

- A soberania de Deus

Ulrico Zuínglio (1484 – 1531)


Teólogo suíço pregava contra as indulgências:

- Criticou o celibato eclesiástico, a devoção a Maria e aos santos, autoridade papal, o culto
a imagens e a missa como sacrifício

- Somente as escrituras possuem os ensinos necessários para a salvação

- Cristo como único chefe da Igreja

- Salvação pela Graça

- Combateu a intercessão dos santos e a existência do purgatório

- 67 teses

A SOTERIOLOGIA (SALVAÇÃO) DOS REFORMADORES:

- SOLA FIDE

- SOLA SCRIPTURA

- SOLUS CHRISTUS
- SOLA GRATIA

- SOLI DEO GLORIA

3 – A JUSTIFICAÇÃO UNICAMENTE PELA FÉ (SOLA FIDE)


A salvação, segundo a Igreja Romana, estava condicionada ao acúmulo de méritos diante
de Deus (segundo as obras)

- pagamento de indulgências

- ações de caridade

- piedade religiosa (preces diárias, devoção aos santos)

Paulo nos faz entender que não somos salvos pelas obras, mas, sim, salvo para as boas
obras.

4 – A SINGULARIDADE DAS ESCRITURAS (SOLA SCRIPTURA)


No entendimento romano, a igreja não pode ser guiada unicamente pela revelação escrita
(a Bíblia), mas também pela revelação oral, pois sem ela o texto bíblico não existiria do modo
como o conhecemos, uma vez que ele foi vivido, e apenas décadas depois, redigidas pela Igreja.

5 – A CENTRALIDADE DE CRISTO (SOLUS CHRISTUS)


O entendimento romano a respeito da co-mediação

- dogma da maternidade divina

- doutrina da intercessão dos santos

- sacramento das penitências (ou reconciliação)

Solus Christus

- tríplice ofício de Cristo (profeta, sacerdote e rei)

6 – A CENTRALIDADE DA GRAÇA (SOLA GRATIA)


O entendimento romano quanto à participação humana na salvação

- a doutrina das indulgências (uma vez que o pecado já é perdoado no sacramento da


confissão). As indulgências, então, seriam relacionadas não ao perdão de pecados, mas ao
perdão da pena causado pelo pecado (seria como se um ladrão, que conseguiu o perdão, tivesse
que restituir, equivalentemente,o que foi roubado).

- a doutrinado purgatório (crença pagã, onde os cristãos parcialmente santificados


passariam por uma espécie de purificação, para depois entrarem na comunhão eterna).

7 – A SOBERANIA DE DEUS (SOLI DEO GLORIA)


O entendimento romano acerca da veneração

- a doutrina da veneração aos santos – por imagens (estátuas ou iconografias)


- a doutrina da veneração a relíquias

8 – A SOTERIOLOGIA REFORMADA:
A soteriologia reformada aborda, como principais pontos:

a) O modo como a Trindade (Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo) atua na


salvação humana;
b) Como se recebe, rejeita ou perde a salvação;
c) Como manter a salvação;
d) Se ela depende só de Deus ou do homem também, ou ainda, de ambos.

Algumas escolas acreditavam que a salvação advinha de Deus, sem nenhuma


contribuição humana (monergismo), enquanto outros criam que a salvação dependia tanto de
Deus, quanto do homem, e tem ainda, os que criam que a salvação estaria condicionada à
participação nos sacramentos da Igreja, e a prática de boas obras (sinergismo). Sendo esse
último, o que vigorava na passagem da Idade Média para a Idade Moderna.

A PREDESTINAÇÃO:

No século IV, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) fez a antítese de Pelágio da


Bretanha, que dizia que o ser humano podia se arrepender e buscar sua salvação por meios
próprios, por não ser o pecado original (Gn 3) um mal de nascença, sendo assim, o homem
nascia bom, e o pecado só lhe era atribuído com o passar do tempo; dependendo da conduta que
ele levava. Para Pelágio a Graça era apenas a opção de se fazer a coisa certa, obedecendo aos
mandamentos divinos.

Agostinho, por outro lado, cria que o homem estava caído desde sua nascença, por conta
do pecado original, o que o impedia de ter anseio por buscar a Deus, sua presença, assim como
arrependimento e redenção. Para ele a salvação advém da graça, que é um favor imerecido sem
qualquer interferência humana. Com base no livro de Romanos (9-11), Agostinho inferiu que
Deus elegeu uns para o inferno e outros para o céu (presciência de Deus), segundo a Sua
vontade. Com esse pensamento, Agostinho instituiu o monergismo no Ocidente.

A SOTERIOLOGIA CALVINISTA:

Calvino foi o reformador que mais trabalhou na temática da predestinação. Sua maior e
principal obra foi “As Instututas da Religião Cristã”, dividida em quatro volumes. Nessa obra são
abordados os grandes temas da fé cristã. Calvino aponta que Deus escolheu os justos para
serem salvos, sem que neles houvesse motivo algum para tal. Em outras palavras, para Calvino,
sobre a visão de Timothy George, a salvação é Absoluta, pois depende unicamente da boa e
agradável vontade de Deus, e nada fora Dele pode mudar isso. Para ele, a salvação também é
Particular, pois pertence a indivíduos e não a grupos, onde Jesus morreu somente para os
eleitos. E ainda, a salvação é Dupla, pois Deus escolhera uns para a salvação e outros para a
perdição.

Dessa forma, podemos separar a conceitos dos calvinistas, uma vez que não foi o próprio
Calvino que os formulou, em cinco pontos:

 Depravação total do homem.


 Eleição incondicional
 Expiação particular (ou Expiação Limitada)
 Vocação eficaz (ou Graça Irresistível)
 Perseverança dos santos
A SOTERIOLOGIA ARMINIANA:

Embasada em uma doutrina calvinista, do cunho de Jakob Harmensen (1560-1609), nome


latinizado para Jacobus Arminius; Contrário à predestinação na visão calvinista, seus ideais só
obtiveram repercussão após sua morte, difundindo-se através de seus discípulos, que se
organizaram teologicamente, divulgando um protesto, através do qual expunham suas
concepções em cinco artigos (1610). Os cinco pontos (remonstrância) do arminianismo são:

 A eleição (e condenação no dia do julgamento) foi condicionada pela fé racional ou não-fé


do homem;

 A expiação, embora qualitativamente suficiente a todos os homens, só é eficaz ao homem


de fé;

 Sem o auxílio do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade de


Deus;

 A graça é resistível;

 Os crentes são capazes de resistir ao pecado, mas não estão fora da possibilidade de
cair da graça.


O CONTRASTE ENTRE A SOTERIOLOGIA CALVINISTA E A ARMINIANA
Equiparando-se as duas doutrinas da soteriologia calvinista e arminiana, pode-se distinguir
os pontos em que cada um deles defendem e divergem.
Sobre a eleição, para os calvinistas ela é decidida por Deus (incondicional), que escolhe os
eleitos e aqueles que vão padecer na eternidade, enquanto os arminianos dizem que ela é
condicionada pela fé, ou pela falta dela.
Sobre a expiação, os calvinistas acreditam que ela é somente para os eleitos (particular),
enquanto para os arminianos ela é para toda a humanidade, mas só tem efeito para os que têm
fé.
Para os calvinistas os eleitos e os que perecerão no juízo, fazem a vontade de Deus, tanto
para o bem, quanto para o mal, podendo um ou outro fazer o bem e o mal, que tudo estará sobre
a vontade de Deus, e que não têm como se mudar isso, não podendo interferir. Os arminianos
acreditam que sem o auxílio do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade
de Deus, que sozinhos não podem alcançar a comunhão com o Pai.
A Graça de Deus seria irresistível para o homem, do ponto de vista calvinista, não podendo
ser negada de nenhuma forma, enquanto para os arminianos é o contrário, sendo resistível,
podendo ser negada.
E por último, na concepção calvinista, aqueles a quem Deus chamou para a salvação, e
depois, à comunhão eterna com ele não podem cair em desgraça e perder sua salvação. Mesmo
que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé. Os arminianos por outro
lado creem que os crentes são capazes de resistir ao pecado, mas não estão fora da
possibilidade de cair da graça.

Você também pode gostar