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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA

MULHER

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2

CAPITULO 1: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A MULHER NA GESTAÇÃO ------------------- 5

CAPITULO 2: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A MULHER NO PERÍODO DO TRABALHO


DE PARTO, PARTO E PUERPÉRIO. ---------------------------------------------------------------------------- 8

CAPITULO 3: ASSISTÊNCIA À MULHER COM ABORTAMENTO E NO PÓS-ABORTO---------- 13

CAPITULO 4: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE


VIOLÊNCIA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 18

CAPITULO 6: ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM A PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA---- 30

CAPITULO 7: ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM A CONSTRUÇÃO DE UM PROTOCOLO DE


CUIDADOS QUE ASSEGURE OS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DA MULHER------- 34

REFERENCIA-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 42

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
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INTRODUÇÃO

As mulheres são a maioria da população brasileira e as principais usuárias do Sistema Único


de Saúde (BRASIL, 2004). Dentro de um contexto histórico das lutas por direitos, o Ministério da Saúde
desenvolveu métodos de atenção à saúde da mulher a partir do século XX. Anteriormente adotava
uma visão mais restrita sobre o tema, onde se limitava à saúde materna ou à ausência de agravos
associados à reprodução biológica (BRASIL, 2008).

Deste modo, o Sistema Único de Saúde (SUS) traz recursos dos quais as mulheres possam
contemplar seus princípios, a equidade – princípio relacionado à justiça e igualdade social. Todos os
princípios apenas serão atingidos quando as barreiras forem rompidas e qualquer pessoa em
quaisquer situações ou condições tenham suas necessidades atendidas. (BRASIL, 2008).

Para isso a Política Nacional de Humanização (PNH), divulgada em 2004, tem papel
fundamenta neste aspecto, onde tem como principais diretrizes o acolhimento, a administração
participativa e a clínica ampliada e compartilhada buscando atuar a diante de recomendações clínicas
e políticas que direcionam os arranjos de trabalho. Neste sentido, no contexto da PNH, o acolhimento
é caracterizado como diretriz que norteia a construção de políticas de saúde e que instiga ofertar a
melhor qualidade de atendimento além de avanços tecnológicos, aperfeiçoando os ambientes de
cuidado e as condições de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004).

As mulheres fazem parte de um dos principais consumidores do Sistema Único de Saúde.


Informação essa bem logica quando utilizam tanto para resolver as próprias demandas como também
parte do cuidado que dispensam aos seus familiares, parentes, amigos e vizinhos (BRASIL, 2004a).

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Além disso o envelhecimento populacional afeta as mulheres de modo especial, uma vez que
a maior longevidade populacional é das mulheres, o que torna-se um fenômeno quase mundial
expressa na razão dos sexos dos idosos, que mostra que, no Brasil, em 2000, para 100 mulheres
existiam 81 homens de 65 a 69 anos, 72 de 75 a 79 anos e 60 de 85 ou mais anos. Já em 2020 essas
razões seriam, respectivamente, de 78 de 65 a 69 anos, 66 de 75 a 79 anos e 51 de 85 ou mais anos
(NESCON, 2009).

Tais mudanças rápidas na formação etária e nos padrões de envelhecimento populacional


evidenciam uma carga mais significativa para as mulheres haja vista que delas são os maiores
cuidados com os familiares, em especial, com os idosos, sem que tenha apoio efetivo em termos de
equipamentos sociais que possam assumir a responsabilidade de parte do trabalho resultante dessa
realidade.

Vamos refletir!

Quanto mais tempo viva, a mulher precisará de mais cuidados por parte da equipe, de mesmo
modo que e precisará utilizar por um período mais longo o apoio dos serviços de saúde para prestar
cuidado aos seus familiares envelhecidos. Aqui temos um gráfico onde podemos dimensionar tal fato,
levando em consideração o período de 1950 a 2040:

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Observe a figura a seguir em que exprime o envelhecimento populacional do Brasil, em uma relação
de homens e mulheres:

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CAPITULO 1: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A MULHER NA GESTAÇÃO

O processo de Assistência à gestante inicia com a 1ª consulta de pré-natal e continua por


todo o período de gestação. É necessário que a consulta médica primaria seja agendada com
brevidade e, após a confirmação da gestação de risco habitual, as consultas do médico e do enfermeiro
deverão ser intercaladas e, a qualquer momento que o enfermeiro considerar essencial, a avaliação
médica deverá ser solicitada. É de extrema importância a presença da gestante nos grupos de
orientação do pré-natal, deste modo, o enfermeiro deverá desenvolver práticas de em grupo, de forma
dinâmica e adequando ao perfil da usuária, estimulando a participação das mesmas.

Diante disso uma série de cuidados Pré- Concepcionais devem ser levados em consideração,
tais procedimentos a serem desenvolvidos devem incluir anamnese, exame físico geral e específico,
além de exames laboratoriais e aconselhamento genético, em caso de o casal apresentar
anormalidades reconhecidamente hereditárias e transmissíveis. (AFONSO, 2020)

Destes fatores, de acordo com Afonso, 2020 são relevantes:

 A Idade Materna Avançada: como condição de risco à malformação congênita, Síndrome


de Down e aborto espontâneo;
 A Idade Materna Baixa: como fator de risco a prematuridade e para algumas malformações
particulares como Gastrosquise e outros defeitos;
 A Ocupação: atentando-se sobre exposições a agentes tóxicos ambientais, como solventes
orgânicos: Exposição Materna e Paterna como fator de risco de aborto, morte fetal, parto de pré-termo,
baixo peso ao nascer e alguns defeitos congênitos;

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 A Etnia: perigo de malformações congênitas polidactilia, fenda palatina e hipospádia, em


crianças afro-americanas e uma maior incidência de cardiopatia em crianças de raça branca.
 O Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gravídico inferior a 20 kg/m2 ocasiona como fator de
risco maior o parto prematuro e baixo peso corporal do recém-nascido.
 As gestantes com IMC acima de 25 kg/m2 têm como fator de risco as malformações fetais,
diabetes, pré-eclâmpsia e tromboembolismo. É necessário realizar a profilaxia de defeitos abertos do
tubo neural inserindo de modo controlado ácido fólico. Diante disso, a dose necessária é de 0,4 mg via
oral diariamente, no intervalo de 60 a 90 dias antes da concepção e até 3 meses após. É recomendado
que as Gestantes com antecedentes de anencefalia meningomielocele e em uso de antiepilépticos
ingiram doses maiores.
 O tabaco tanto ativo como passivo como fator de risco a aborto espontâneo, peso inferior ao
recomendado ao nascer, limitação de crescimento fetal, risco de parto pré-termo, descolamento de
placenta, morte fetal e perinatal, aumento do risco de infecções do trato respiratório do recém-nascido.
 As Bebidas alcoólicas como fator de risco a morte intrauterina, peso abaixo do recomendado
ao nascer, alterações do sistema nervoso central e síndrome alcoólica fetal (SAF).
 A dependência de substancias entorpecentes ou alucinógenas ilícitas: como fator de risco
as malformações cardíacas e urológicas, e ainda de restrição de crescimento fetal e descolamento de
placenta.

Pré Natal

As relações entre mãe e filho tem início logo ao término da fecundação e permanecem por
toda a existência. A gestante e feto formam uma unidade fisiológica, deste modo o organismo materno
sofre várias transformações físicas, emocionais e psicológicas, essas alterações são necessárias para
que inicialmente o embrião e depois o feto tenham um desenvolvimento dentro dos parâmetros de
normalidade. Esta experiência é vivenciada de forma única por cada mulher.

O Pré-natal é o acompanhamento de saúde da gestante desde início da gravidez até o parto,


para a prevenção com qualidade as doenças e situações de risco que repercute o nascimento de uma
criança saudável e o bem-estar materno.

O desenvolvimento e crescimento no ambiente intrauterino é a fase de vital importância para


o ser humano, esse é o momento onde habitamos dentro do útero das nossas mães e vivemos diversas
transformações em um período aproximado de 280 dias, podendo variar de 38 a 42 semanas
gestacionais até o nascimento.

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Esse processo de desenvolvimento se dá em 3 estágios: Germinário, Embrional e Fetal.


Vamos agora conhecer um pouco mais de cada um deles:

ESTÁGIO GERMINAL

Este é o período que decorre da fecundação até duas semanas completas. Onde, o óvulo
fertilizado divide-se e torna-se mais complexo, já o organismo, em crescimento, é implantado na
parede do útero. Nesta fase, observa-se também que algumas partes do blastocisto começa a
desenvolver-se em órgãos que irão alimentar e proteger o futuro bebê: a placenta, o cordão umbilical
e o saco amniótico.

ESTÁGIO EMBRIONÁRIO

Este é o período que decorre da segunda até a oitava semana. Inicia a formação dos sistemas
internos e externos, órgãos e partes do corpo. Mesmo que seja de forma simples, esse período é muito
vulnerável às influências de fatores como doenças maternas, uso de medicamentos ou de drogas, em
consequência deste rápido crescimento. Esta é a fase que ocorre a grande parte dos defeitos
congênitos como: fenda palatina, membros incompletos ou ausentes, cegueira, surdez entre outros.

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ESTAGIO FETAL

Nosso último estágio, é o período que vai da 8° semana até o nascimento, durante esse
período ocorre basicamente o rápido crescimento do corpo e a diferenciação dos tecidos, órgãos e
sistemas. Esse é o momento em que o feto cresce rapidamente para aproximadamente 20 vezes o
seu comprimento prévio e os órgãos e sistemas corporais tornam-se mais complexos.

CAPITULO 2: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A MULHER NO PERÍODO


DO TRABALHO DE PARTO, PARTO E PUERPÉRIO.

Ações de bons cuidados no período tanto da gravidez quanto no parto mantêm relação
fundamental com a diminuição de riscos para a mãe e o para o bebê.

É compromisso fundamental do Ministério da Saúde Assistir às mulheres no momento do


parto e nascimento com respeito, segurança e dignidade. Para tal, a existência do Programa de
Humanização no Pré-natal e Nascimento determina os princípios das precauções que devem ser
prestadas e incentiva estados, municípios e serviços de saúde a cumprirem seu papel, propiciando a
cada mulher o direito de cidadania mais fundamental, dar à luz, recebendo uma assistência
humanizada e de boa qualidade.

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Neste Pensamento, o objetivo de se obter ao fim de uma gestação, é um recém-nascido


saudável, com plena capacidade para o desenvolvimento biológico e psicossocial e uma mãe com
saúde e sem traumas pelo processo do qual acabou de passar. O que incrivelmente é mais difícil de
se alcançar do que pode parecer à primeira vista. Mas para isso é necessário além do preparo da
equipe de saúde, o preparo da gestante, de seus familiares, além de envolver determinantes biológicos
e sociais, assim como a adaptação da instituição ou local onde acontecerá o parto e a capacitação
técnica do profissional envolvido, além é claro, da atitude ética e humana desse profissional. (FREIRE,
2019)

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Para que os profissionais da saúde respeitem os aspectos fisiológicos do processo do parto


e nascimento é necessário uma humanização durante a assistência, além das intervenções de forma
criteriosa e o reconhecimento dos aspectos sociais e culturais da mulher, oferecendo portanto, uma
assistência baseada no respeito à sua dignidade e autonomia. (FREIRE, 2019)

É de fundamental importância que a equipe de enfermagem, durante a assistência ao pré-


natal informar às futuras mamães de baixo risco que o parto normal é, de forma geral, bastante seguro
tanto para a mulher quanto para o bebê, mas também é compromisso da enfermagem garantir o direito
de escolha da usuária em relação a via de parto, caso a mulher decida pelo parto operatório. No
momento do parto, em grande parte, nota-se que a maior necessidade das mulheres é de apoio
emocional (FREIRE, 2019). Logo,

[...]faz-se necessária a aquisição de profissionais qualificados e comprometidos de forma


pessoal e profissional, que recebam a mulher com respeito, ética e dignidade, além de
poder incentivá-la a exercer a sua autonomia no resgate de seu papel ativo no processo parturitivo,
como também ser protagonista de sua vida e repudiar qualquer tipo de discriminação e violência
que possa comprometer os seus direitos de mulher e cidadã (ANDRADE et al.,2017, p. 2577).

Podemos compreender, que o conceito de assistência envolvem vários fatores, onde,


recursos físicos, materiais e humanos devem ser adequados e suficientes para que o centro obstétrico
se transforme em um ambiente hospitaleiro e favorável à prática de ações que são recomendas das
pela política de humanização. Outros procedimentos, como a autorização da presença do
acompanhante e da família no processo de parturição; respeito a privacidade da mulher; realização de
métodos seguros; impedir práticas intervencionistas desnecessárias, favorecendo a passagem natural
do parto; além de orientar e informar a mulher visando à sua autonomia em relação às condutas e
procedimentos.

Diante de todas as medidas a gestante consegue desenvolver maior confiança no processo,


fazendo com que sua ansiedade diminua, reduzindo ainda suas dores e sensações físicas, pois
desenvolverá um vínculo de familiaridade nas pessoas que estarão ao seu lado. (ANDRADE et al.,
2017)

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O processo do puerpério é um estágio crítico e de transição na vida das mulheres, esse


período se inicia logo após o parto e tem uma duração que pode variar. No puerpério, ocorrem os
ajustes fisiológicos fundamentais ás manifestações evolutivas de recuperação e de adaptações ás
modificações sofridas pelo organismo e seu estado pré-gravídico (LOWDERMILK, 2002).

O Puerpério é um período crítico onde a mulher requer uma atenção especial, devido a seu
organismo está em transformação, voltando ao seu estado fisiológico anterior e é por isso que os
profissionais de saúde devem realçar alguns cuidados específicos para a melhoria da qualidade da
assistência, com propósito de diminuir ou evitar que as intercorrências graves aconteçam como
hemorragias, hipotensão, hipertensão que são complicações graves que pode levar a morte.

Então, visando esse momento tão importante do ciclo de assistência a mulher, vamos definir
qual seria o conceito de Puerpério?

Podemos dizer que o puerpério o período do ciclo grávidopuerperal em que as mudanças


locais e sistêmicas, causadas pela gravidez e parto no organismo da mulher, retornam à situação do
estado pré-gravídico. Estas transformações que se iniciam no puerpério, com o objetivo de
restabelecer o organismo da mulher ao cenário não gravídico, acontecem não somente nos aspectos
endócrino e genital, mas no seu todo. A mulher neste período, como em todos os outros, deve ser vista
como um ser integral, não excluindo seu componente psíquico.

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Variações anatômicas e fisiológicas no puerpério

Em casos em que a puérpera ficou principalmente sem hidratação adequada em longos


períodos, é natural o estágio de sonolência e exaustão. Posteriormente a esse processo e a
necessidade de um descanso, ao despertar e receber alimentação adequada, sem restrições, a mulher
poderá deambular e dedicar-se aos cuidados com o filho.

A puérpera pode apresentar rápido aumento da temperatura axilar (36,8° - 37,9°) nas
primeiras 24 horas, sem necessariamente ter um quadro infeccioso instalado. Há a possibilidade de
ocorrer calafrios, nas primeiras horas após o parto. Estas mudanças podem ocorrer sem traduzir perigo
à saúde da mulher, mas necessita do examinador cautela, pois também podem corresponder a
processos mórbidos, como a infecção puerperal. Em relação ao sistema cardiovascular, nas primeiras
horas pós-parto, pode ocasionar um aumento do volume circulante, que se traduz pela presença de
sopro sistólico de hiperfluxo.

Sobre seu processo respiratório, também neste período a puérpera tem seu padrão
restabelecido, passando o diafragma a exercer ações que haviam sido limitadas pelo aumento do
volume abdominal. É notável a presença de traumas que podem ocorrer à uretra, gerando desconforto
à micção e até mesmo retenção urinária, situação suavizada pelo aumento da capacidade vesical que
ocorre normalmente neste período. A puérpera pode sentir nos primeiros dias pós-parto um aumento
do volume urinário, pela redistribuição dos líquidos corporais. Já o útero atinge a cicatriz umbilical logo
após o parto e posteriormente retoma em torno de 1 cm ao dia, embora de forma irregular.

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Alta hospitalar

Diante do conhecimento da classificação sanguínea da mãe, existe a avaliação da


possibilidade de alta à puérpera desde que, o fator Rh seja negativo, não sensibilizadas e com recém-
nascido Rh positivo e Coombs negativo, usando a imunoglobulina anti-D nas 72 horas iniciais. Vale
ressaltar que conhecer o resultado da sorologia para sífilis também é importante. Uma vez que o
resultado foi positivo, inicia-se o tratamento, se este não foi realizado de imediato, e comunicar ao
médico responsável pela assistência do recém-nascido. Nas puérperas que não estão neste quadro e
não se detectam anormalidades, a alta pode ser consentida após as primeiras 24 horas, e nas
submetidas a cesárea, com 48 horas.

CAPITULO 3: ASSISTÊNCIA À MULHER COM ABORTAMENTO E NO PÓS-


ABORTO

O aborto, assunto delicado em discussões científicas e políticas e excluído até bem pouco
tempo atrás, é, na atualidade, uma das principais questões da agenda internacional, no que diz respeito
à saúde e direitos reprodutivos.

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Medidas assistencialistas necessárias à redução da gravidez não planejada ou indesejada


engloba orientações seguras na atenção pós-abortamento, na orientação anticoncepcional, divulgação
e oferta da importância da anticoncepção de emergência e garantia de apoio psicológico e social
quando necessário.

Afinal, quais seriam as medidas utilizadas para que esse processo seja desenvolvido de forma
saudável emocional e fisicamente para a mulher? Para compreender isto, devemos ter uma cautela a
qualidade da atenção ao abortamento e pós abortamento. Conceituando-os, temos que a qualidade
da atenção envolve um esforço simultâneo de todos os níveis gestores para a oferta de serviços que
garantam: acolhimento, informação, aconselhamento, competência professional, tecnologia
apropriada disponível e relações pessoais pautadas no respeito à dignidade e aos direitos sexuais e
reprodutivos.

Nestes pilares, vamos nos aprofundar em cada um deles de forma a compreender a sua
importância.

1- ACOLHIMENTO: Antes de entrar neste mérito, vamos refletir sobre algumas questões.

Como acolher uma mulher que aborta? Com qual atitude? Qual a melhor maneira de
desenvolver auxilio e orientação a não repetir a situação em que se encontra? A evitar os perigos de
um abortamento em condições inseguras

Para a resposta a essas perguntas é preciso de um momento de reflexão sério e que continuo,
de modo extremamente ético e profissional, excluindo qualquer tipo de comentários desrespeitosos e
conclusões precipitadas, banindo-os do dia a dia dos serviços.

2- INFORMAÇÕES E ACONSELHAMENTO: em grande maioria dos casos de


abortamento, a mulher não tem o desejo de outra gravidez em curto prazo, logo, e a orientação sobre
anticoncepção é absolutamente necessária. Do mesmo modo, a equipe deve estar apta para orientar
aquelas mulheres que desejam outra gravidez, seja naquele serviço ou encaminhando-a para unidades
de referência. O diálogo realizado durante o atendimento possibilitará às mulheres condições para
prováveis decisões em relação a sua saúde, em especial ao seu futuro reprodutivo.

3- COMPETÊNCIA PROFISSIONAL: Além da habilidade na técnica utilizada para o


esvaziamento uterino, a competência se permite ao bom uso de equipamentos, instrumental e
medicamentos, de mesmo modo na definição de rotinas e métodos não evasivos, visando ao bem
estar da mulher e permitindo sua atuação na escolha dos procedimentos mais apropriados para

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resolução do problema. Vemos também a necessidade de uma boa qualificação para estabelecimento
de um alto padrão de relacionamento interpessoal, abordagem social e psicológica para cada mulher,
sua família ou acompanhante

Nem sempre os Abortamentos são executados apenas sobre escolha da mulher, existe uma
classificação que pode caracterizar cada caso e seus sintomas. Estes são chamados de Ameaças de
Abortamento e podem ser nomeados como completo, retido, incompleto, infectado e inevitável, para
uma melhor memorização destes tipos vemos o quadro a seguir:

Das Classificações

1. AMEAÇA DE ABORTAMENTO: Neste caso o sangramento genital ocorre em pequena


intensidade, com ou sem dores (cólicas) que variam em intensidade.

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. O exame especular indica que o sangramento ocorre através da cérvice, e esta apresenta o
orifício interno fechado. O Útero tem o tamanho correspondente ao esperado e não há indícios de
infeção. Ao realizar o exame de ultrassonografia, nota-se que está tudo em plena normalidade. Nestes
casos, não há necessidade de internação hospitalar e a mulher deve ser orientada a utilizar
analgésicos se apresentar dor, repouso e retornar ao ambulatório de pré-natal. Nos casos de
sangramento intenso, devem-se avaliar os níveis de hemoglobina, é preciso identificar o tipo
sanguíneo, e oferecer sorologias para sífilis e HIV.

2. ABORTAMENTO COMPLETO: Geralmente em gestação com período gestacional menor


que 8 semanas. Neste estágio o sangramento e as dores tem uma diminuição considerável logo após
a expulsão do material ovular. O útero tem proporções inferiores ao esperado para a idade da
gestação. No caso de ultrassonografia, o exame mostra cavidade uterina vazia ou apenas com
imagens que insinuem a presença de coágulos.

Diante disso, a conduta deve ser de cautela, com atenção à persistência do sangramento que
pode sugerir restos ovulares, e com a aparição do quadro infeccioso pélvico. Nestes casos,
recomenda-se AMIU ou curetagem uterina. É necessário solicitar tripagem sanguínea e sorologias
para sífilis e HIV, após consentimento. Se for Rh negativo e não houver ainda sensibilização, torna-se
obrigatória a administração da imunoglobulina antiD.

3. ABORTAMENTO INEVITÁVEL E INCOMPLETO: Esta Classificação nos permite a


compreensão de que quando a perda sanguínea é maior que na ameaça de abortamento, existe a
possibilidade de ocorrer a eliminação de coágulos. Esta perda diminui, em geral, após a eliminação do
material ovular, principalmente se for completa. As dores têm maior intensidade que a ameaça, e o
orifício cervical interno encontra-se aberto.

Para a gestação com periodo menor que 12 semanas, indica-se a aspiração manual intra-
uterina (AMIU). Em casos que o serviço de saúde não conter deste procedimento, pode-se realizar a
curetagem uterina. Vale ressaltar mais uma vez a importância de coletar o tipo sanguíneo da mulher.

Nos casos de gestações acima de 12 semanas, com concepto na cavidade uterina, é


recomendado a infusão de ocitocina para possibilitar sua expulsão ou a colocação do misoprostol no
fundo de saco vaginal, na dose de 200 mg a cada 6 horas. Após expo procedimento, deve-se realizar
a curetagem uterina.

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4. ABORTAMENTO RETIDO: O abortamento retido pode não ser antecipado de ameaça de


abortamento. OS sinais e sintomas da gravidez regridem. O orifício cervical encontra-se fechado e não
há hemorragia, na maioria dos casos.

Quando a gestação tem periodo menor a 12 semanas, é prudente ações de esvaziamento


pela técnica de aspiração manual intra-uterina e, caso necessário, realizar dilatação cervical com
dilatadores, ou curetagem uterina, atentando-se sempre para não provocar acidentes, principalmente
perfuração uterina. Quando a gestação é de período maior que 12 semanas, é importante promover a
dilatação cervical e expulsão do produto conceptual.

5. ABORTAMENTO INFECTADO: Geralmente ocorre após manipulação para induzir a


interrupção da gravidez além de más condições técnicas. Considera-se também que as infeções são,
polimicrobianas e de modo geral, em grande parte dos casos com bactérias da própria flora vaginal.
Este tipo de quadro é grave e requer cuidado imediato.

6. ABORTAMENTO EM SITUAÇÃO DE RISCO PARA A GESTANTE - ABORTO


TERAPÊUTICO: Após a avaliação de obstetras, as gestantes que estão sendo atendidas em
ambulatório ou procuram o hospital com doenças graves deverão ser avaliadas, caso não disponha de
um obstrita, essa analise pode ser feita por um especialista na patologia que está motivando a
interrupção da gestação.

Diante da inevitável realização do aborto ou antecipação do parto, é obrigatório que a mulher


e/ou seus familiares estejam informados, tenham quaisquer dúvidas esclarecidas e autorizem o
procedimento. É de extrema importância que uma equipe multiprofissional preste atendimento a esta
mulher de modo sinérgico, posto que no interrupção da gravidez motivada pelo agravamento do seu
estado de saúde, o apoio psicológico é indispensável no atendimento.

7. ABORTAMENTO PÓS-ESTUPRO: Diante da situação de estupro, na ocasião em que a


gestante procura o hospital, deverá acontecer a avaliação pela equipe de plantão, que deverá estar
habilitada a realizar o atendimento de rotina para esta circunstância, conforme norma especifica do
Ministério da Saúde, ou por uma equipe de referência para atendimento a mulheres em situação de
violência. No caso em que a mulher desejar interromper a gravidez, ela deverá apresentar o Boletim
de Ocorrência Policial (BOP), obtido na Delegacia de Polícia ao prestar queixa. No caso em que a
mulher não tenha tomado a providencia, ela deverá ser orientada, pelo serviço, a fazê-lo
imediatamente.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
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Após isso é prudente que a gestação deve ser interrompida até a 12° semana, porém, com
suporte adequado, até 20 semanas. Em casos de estrupros envolvendo crianças, a anestesia deve
ser geral e o processo realizado com aspiração da cavidade uterina, de forma que haja um menor
traumatismo do colo uterino durante o processo de dilatação.

8. INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ EM CASOS DE MALFORMAÇÃO FETAL GRAVE OU


INCOMPATÍVEL COM A VIDA: Em casos de patologia fetal grave ou que caracteriza
incompatibilidade com a vida, onde a gestante demanda interrupção de gravidez ao ser diagnosticada,
para que o pedido seja atendido, é necessária a autorização judicial. Neste caso faz-se imprescindível
a atuação de um assistente social ou outro membro da equipe para a orientação da gestante e
familiares que procurem o Ministério Público de seu município, para que haja uma autorização a
realização do procedimento. Dentro deste processo, ainda é preciso que a equipe descreva uma
justificativa para a realização do procedimento onde haja a explicação da das condições da gravidez,
assim como possíveis danos à saúde tanto física como mental da mulher caso a gestação de
continuidade.

CAPITULO 4: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AS MULHERES EM


SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

A violência de gênero é identificada como um problema de saúde pública, compreende-se


assim que em relação as desigualdades de gênero, no Brasil e no mundo, é uma violação dos direitos
humanos (KRUG et al., 2002).

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

De acordo com Krug et al. (2002), a violência então, assume classificações diversas segundo
a sua tipologia (auto infligida, interpessoal e coletiva) e a essência dos atos realizados (violência, física,
sexual e psicológica).

O quadro acima (Quadro 1), nos mostra a classificação adotada pela Lei Maria da Penha, que
determina a violência de gênero em um quadro mais amplo das diversas situações vivenciadas de
forma violenta, sejam elas física, psicológica, sexual, moral e patrimonial (BRASIL, 2006).

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

A violência contra a mulher (ou violência de gênero) ainda é oculta do ponto de vista da
atenção à saúde nos mais diferenciados cenários dos métodos assistenciais. Embora o assunto tenha
sido alvo de muitos estudos científicos e discussões técnicas, ainda se mostra uma problemática para
o qual o arsenal convencional, baseado na sintomatologia e queixa-conduta ainda não reproduz a
efetividade desejada (PORTO et al., 2014).

Ao tratarmos de violências física e sexual, é perceptível mediante estudos constatar que se


apresentam alta magnitude entre as mulheres da Atenção Básica de saúde, onde seus principais
agressores são os parceiros íntimos e outros familiares. Esta proporção identificada varia entre 38,9%
a 49,8% quando se trata de violência física, ao falar sobre violência sexual temos de 8,0% a 14,9%
entre mulheres adultas. A dimensão de casos de violência doméstica foi de 34,1% nos casos de
agressões físicas e de 7,1% entre as agressões sexuais (SCHRAIBER et al., 2007a; SCHRAIBER et
al., 2007b; OSIS et al., 2012). “Dentre essas mulheres, 6,5% disseram ter procurado ajuda em um
posto/unidade de saúde” (OSIS et al., 2012, p. 354).

Os serviços de saúde desempenham o papel de lugar privilegiado para identificar e referir as


vítimas de violência, compreendendo as condições propícias para a abordagem do problema:
privacidade, sigilo, escuta e abordagem de sinais e sintomas relacionados a agressões (HEISE, 1994;
MILLER & MCCAW, 2019).

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Diante de todo esse cenário a equipe de enfermagem desempenha um papel de extrema


importância na identificação e principalmente no acolhimento dos casos que surgem em buscam dos
diversos serviços oferecidos pela Unidade Básica de Saúde. Os profissionais de enfermagem são
fundamentais neste processo, pois a Sistematização da Assistência representa a ferramenta primordial
para estabelecer um plano de cuidados continuado das mulheres vitimadas (MOURA et al., 2011). O
estabelecimento de vínculo de confiança com a mulher em situação de violência é o primeiro passo
para que seja iniciado o processo de cuidado que incluirá um protocolo de atenção em rede.

ENTREVISTA E EXAME FÍSICO

Para que seja possível uma boa organização para como cuidado às mulheres em situação de
violência, é preciso uma Sistematização da Assistência de Enfermagem, com abordagem integral e
focada nas necessidades individuais e singulares de cada uma delas. Por se tratar de uma
problemática delicada, que envolve a diversidades de fatores de natureza física, psicológica, sexual,
social, cognitiva, afetiva e familiar, decorrentes das desigualdades de gênero que acontecem de forma
significativa no sistema de crenças das usuárias e dos próprios profissionais, o acolhimento ético, digno
e solidário é indispensável para o estabelecimento de vínculo de confiança com o profissional e cuidado
efetivo.

Deste modo, é proposto o rastreamento de rotina para violência, onde possibilita que os
auxiliares ou técnicos de enfermagem além dos enfermeiros, uma abordagem inicial dos atendimentos
em saúde da mulher, além dos grupos educativos e visitas domiciliares. Isto é, se refere a uma
conversa introduzida durante a entrevista quando são questionados os antecedentes pessoais e/ ou a
história sexual e reprodutiva da mulher, de modo a não ser conciliada a um caráter interrogativo.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Algumas situações não são percebidas pelas mulheres como violência. Ou seja, ações,
comportamentos, atitudes por parte do(a) companheiro(a), marido, namorado(a) ou de alguém da
própria família podem ser mencionados pela mulher no decorrer da entrevista ou do atendimento como
um todo deste modo, os profissionais devem estar atentos, assim como a sinais e sintomas sugestivos
de exposição a situações de violência (quadro 2).

Quadro 2: Roteiro sugestivo para avaliação e identificação de situações de violência


vivenciadas por mulheres.

Critérios de avaliação

Atribuição
Perguntas sugeridas
profissional
• E o seu companheiro (a), marido, namorado(a), vocês estão ou se dão
bem?
• Você está com problemas no relacionamento familiar?
• (nome da mulher), alguma vez na vida ou recentemente você foi
insultada, se sentiu humilhada por alguém da sua própria família? Por
quem?
• Você acha que estes problemas afetaram ou estão afetando sua saúde?
• Você e seu marido (ou filho, ou pai, ou familiar) brigam muito?
• Auxiliares de
• Quando vocês discutem, ele fica agressivo?
Enfermagem
• (nome da mulher), me conte... você sente medo de alguém?
• Técnicos de
• Como você deve saber, hoje em dia não é raro escutarmos sobre pessoas
Enfermagem
que foram agredidas física, psicológica ou sexualmente ao longo de suas
vidas, e sabemos que isto pode afetar a saúde mesmo anos mais tarde.
• Enfermeiros
Isto aconteceu alguma vez com você?
• Já vi problemas como o seu em pessoas que são fisicamente agredidas.
Isto aconteceu com você?
• Alguém lhe bate? Você gostaria de me dizer quem?
• (nome da mulher), alguma vez, o seu atual marido/companheiro(a), ou
qualquer outro companheiro(a), ou alguma pessoa conhecida ou estranha,
a forçou fisicamente ou mediante ameaça, a manter relações sexuais
quando você não queria?

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Ocorrências, comportamentos e atitudes


• Ataques a entes queridos, objetos pessoais ou animais de estimação;
• Restrição de liberdades individuais: impedimento de trabalhar fora;
estudar; ou sair de casa, ameaças de agressão ou brigas verbais
associadas às saídas; privação de dinheiro para necessidades básicas;
• Humilhação; maus tratos, desqualificações públicas ou privadas;
xingamentos e ofensas por conhecidos e/ou familiares;
• Discussões, ameaças de agressão; ameaças com armas ou • Auxiliares de
instrumentos de agressão física e brigas verbais frequentes; Enfermagem
• Agressão física de qualquer espécie (incluindo atos como bater,
empurrar, puxar cabelos, beliscar, estapear, espancar, agredir com • Técnicos de
objetos, queimar, tentar estrangular, ameaçar, o uso de, ou efetivamente Enfermagem
usar, armas de qualquer tipo);
• Enfermeiros
• Relações sexuais forçadas ou submissão a práticas sexuais indesejadas
• Companheiro demasiadamente atento, controlador e que reage se for
separado da mulher durante os atendimentos nos serviços de saúde;
• Dificuldade no estabelecimento da maternidade e da paternidade; •
Dificuldade no contato com a rede de apoio social;
• Dificuldade para cuidar do recém-nascido;
• Diminuição na prática do aleitamento materno.

Sinais e sintomas

• Transtornos crônicos, vagos e repetitivos;


• Depressão;
• Ansiedade;
• Nervosismo;
• Insônia;
• Transtorno do estresse pós-traumático;
• História de tentativa de suicídio ou ideação suicida;
Enfermeiros
• Entrada tardia no Pré-Natal; Complicações em gestações anteriores;
• Abortos de repetição;
• Lesões físicas que não se explicam como acidentes;
• Síndrome do intestino irritável;
• Transtornos na sexualidade;
• Infecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada);
• Dor pélvica crônica.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Exame físico
• Realizar exame físico geral, segundo sistemas, seguimentos corporais
ou de acordo com as necessidades humanas básicas;
• Ofertar o exame ginecológico mediante aconselhamento prévio;
• Atentar para recusa ou dificuldade no exame, principalmente Enfermeiros
ginecológico de rotina;
• Atentar para lesões físicas que não se explicam como acidentes;
• Avaliar a gravidade da violência e sua repercussão na saúde física.

Testes e exames laboratoriais

• Infecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada);


• Testes rápidos positivos para HIV, sífilis e hepatites;
• Teste de gravidez positivo; Enfermeiros
• Exames laboratoriais confirmatórios para HIV, sífilis e hepatites, outras
ISTs e gravidez;
• Demais exames compatíveis com alterações identificadas no exame
físico.

Fonte: Adaptado de D’OLIVEIRA et al., 2009; SCHRAIBER et al., 2007a; GEROMINI, 2019;
SCHRAIBER et al., 2012; GARCIA-MORENO et al., 2015; BRASIL, 2016.

Destaca-se, portanto, que a realização destes procedimentos deve ser feita de forma
empática, deve ainda ser compreensiva, sigilosa, em meio privado, não opressora ou restritiva e livre
de julgamentos por parte do profissional, deve em geral, proporcionar alívio do sofrimento e a
abertura de possibilidades de apoio e superação, como podemos ver a partir do planejamento das
ações de enfermagem descritas nos quadros 3.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Quadro 3: Planejamento das ações no atendimento às mulheres nos diferentes ciclos


de vida, adolescentes e população LGBTQI+ em situação de violência doméstica.

• Por responsabilidade e ética profissional, a abordagem da violência só


deve ser conduzida quando e se o profissional tiver ciência de quais
condutas adotar nas situações de violência, tanto em relação ao pronto-
acolhimento das necessidades de saúde da mulher, quanto no
conhecimento da rede intersetorial necessária para a produção do
cuidado e, principalmente, para evitar vitimização da mulher;
• O atendimento deve ser descrito em prontuário, com dados sobre a
entrevista, do exame físico, orientações, condutas e construção do plano
de cuidados;
Como realizar a • Compreender que nesta situação é esperado que a mulher sinta
abordagem dificuldade de se expressar verbalmente e para tanto, necessitará de um
tempo particular para conseguir relatar as vivências de violência;
• Respeitar o tempo da mulher para tomar decisões sobre seu itinerário
terapêutico e para construção conjunta do seu plano de cuidados, caso
ela aceite;
• Sugere-se durante as consultas de enfermagem a construção do plano
de cuidado com a utilização de algumas ferramentas, tais como: ecomapa
para e identificação das relações com pessoas ou instituições que
poderiam funcionar como apoio; o mapa mínimo da rede social pessoal
ou institucional e o Projeto Terapêutico Singular.

• Providenciar consulta médica imediata e/ou acionar Serviço de


Atendimento Móvel de Urgência para remoção à Unidade de Urgência do
Território, em caso de suscetibilidade a lesão física de início e gravidade
súbitos que exija atenção imediata;
• Providenciar coleta de exames laboratoriais, testagens conforme as
necessidades individuais;
• Estabelecimento de plano de segurança para mulheres com risco de
vida (quadro 7);
• Avaliar risco de violência, segundo Formulário Frida (Anexo 2);
Plano de cuidado
• Administrar medicamentos prescritos e orientar sobre possíveis efeitos
e cuidados pós uso;
• Notificar caso ao Sinan (Anexo 1);
• Acionar Conselho Tutelar e/ou Vara da Infância e da Juventude em
situações de violência envolvendo menores de 18 anos;
• Proceder registros em prontuário. Intervenções Opcionais Adicionais -
Síndrome de abstinência de substâncias aguda:
• Acionar psicólogo / assistente social da UBS ou Nasf;

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

• Efetuar o preenchimento das fichas de notificação violência e


intoxicação exógena;
• Referenciar ao CAPS-AD;
• Nos casos de síndrome de abstinência de substâncias aguda (00258)
que apresentem sinais de confusão aguda (00128); náusea (00134); risco
de desequilíbrio eletrolítico (00195) ou risco de lesão (00035), solicitar
avaliação médica e/ou acionar Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência para remoção à Unidade de Urgência do Território;
• Acionar o centro de controle de intoxicações (CCI);
• Orientação antecipada;
• Prevenção do suicídio;
• Supervisão: segurança.

INTERVENÇÕES OPCIONAIS ADICIONAIS RISCO DE SUICÍDIO:

• Providenciar atendimento médico imediato;

• Acionar equipe de saúde mental do Nasf e/ou CAPS;

• Notificar caso ao Sinan (Anexo 1);

• Acionar conselho tutelar e/ou vara da Infância e da juventude em situações de violência


envolvendo menores de 18 anos;

• Avaliar risco de violência, segundo formulário Frida (Anexo 2);

• Proceder registros em prontuário.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Mapear risco e estabelecer o plano de segurança:

• Identificar um ou mais vizinhos para o(s) qual(is) a mulher pode contar sobre a violência, para que
ele(s) a ajude(m) se ouvir(em) brigas em sua casa, fazendo acordos com algum(a) vizinho(a) em
quem possa confiar para combinar um código de comunicação para situações de emergência, como:
“Quando eu colocar o pano de prato para fora da janela, chame ajuda” ou “Quando eu apitar, chame
ajuda”;

• Se a briga for inevitável, sugerir que a mulher se certifique de estar em um lugar onde possa fugir
e tente não discutir na cozinha ou em locais em que haja possíveis armas ou facas

• Orientar que a mulher tenha um plano de fuga seguro, e o local para onde ela poderia ir nesse caso;

• Orientar que a mulher tenha um lugar seguro para manter um pacote com cópias dos documentos
(seus e de seus filhos), dinheiro, roupas e cópia da chave de casa, para o caso de ter de fugir
rapidamente.

Fonte: D´OLIVEIRA et al., 2009; SCHRAIBER et al., 2012; GARCIA-MORENO et al., 2015;
BRASIL, 2016

CAPITULO 5: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A MULHER EM SITUAÇÃO


DE CÂNCER DE COLO DE ÚTERO

O câncer do colo do útero, pode ser chamado também de câncer cervical, é causado pela
infecção persistente por alguns tipos do Papiloma vírus humano (HPV) (chamados de tipos
oncogênicos) (INCA, 2019).

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

O câncer de colo uterino é a quarta forma de neoplasia mais frequente no mundo na


população feminina. É o responsável pelo terceiro lugar no Brasil em mortes, sendo responsável por
6.385 óbitos em 2017, assumindo a quarta posição no número de mortes ocasionadas por câncer em
pessoas do sexo feminino (INCA, 2019).

Haja vista que o câncer cervical é uma doença que pode-se prever e, em muitos casos,
sintomática, as ações de rastreamento são primordiais para a detecção de lesões precursoras do
câncer do colo do útero. O papel do enfermeiro é fundamental para estabelecer a cobertura adequada
do exame de prevenção do câncer de colo uterino, uma vez que é um dos responsáveis pela realização
deste durante as consultas ginecológicas que realiza.

Fatores de risco de câncer de colo do útero

O HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) é fator de risco fundamental em mais
de 90% dos casos do câncer de colo de útero, precisando de co-fatores, contribuem para a formação
de lesões antecipadas e a invasibilidade como baixa imunidade, aumento da virulência, tabagismo,
multiplicidade de parceiros, sexarca precoce, multiparidade, baixo nível sócio econômico, dificuldade
de acesso aos serviços de saúde, parceiro sexual de risco, primeira gestação precoce, uso de
contraceptivos.

Mulheres que sejam portadoras de HPV necessitam realizar exames com maior frequência e
com preferência em períodos curtos a fim de detectar quaisquer alterações sugestivas no colo, para
assim aumentar suas chances de cura. Na maioria dos casos a infecção cervical pelo HPV é transitória
e regride naturalmente, entre seis meses a dois anos após a exposição.

Diagnóstico do câncer de colo do útero

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

O diagnóstico para o câncer de colo de útero é, predominantemente, clínico. Com a coleta


periódica do exame citopatológico do colo do útero (Papanicolau) possibilita o diagnóstico precoce,
tanto das lesões precursoras e da forma invasiva.

A mulher que exerce o exame ginecológico rotineiro, participa dos processos além da coleta
do citopatológico, da realização do Teste de Schiller, que consiste em colocar uma solução iodada
para detectar lesões no colo e útero. As áreas não coradas são consideradas suspeitas. Já a
colposcopia auxilia na avaliação de lesões suspeitas, e permite a realização de biópsia dirigida,
necessária para o diagnóstico de câncer. (INCA, 2009).

Posteriormente a confirmação diagnóstica de câncer de colo do útero, são executados


exames complementares: cistoscopia, retossigmoidoscopia, urografia excretora e, em alguns casos, a
ultrassonogafia transretal para realizar o estadiamento do tumor (rotina INCA).

Tratamento do câncer de colo do útero

Para o tratamento do câncer de colo uterino é indicado de acordo com a classificação de


estadiamento da FIGO com base no tipo histológico, condição clínica, desejo e possibilidade de
procriar, idade da mulher e pode variar desde procedimentos conservadores como a retirada de lesões
pré-neoplásicas até tratamentos radicais e complexos como histerectomia e / ou radioterapia. (Pazza
et al, 2002). Veja abaixo os tipos de histerectomia que podem ser realizados de acordo com cada caso.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Nas últimas duas décadas têm sido utilizadas a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e as
associações destes tratamentos, porém existem controvérsias sobre o melhor tratamento para o
câncer de colo uterino (NCI, 2004). Apesar de os procedimentos técnicos e científicos estarem cada
vez mais sofisticados, o que favorece melhores taxas de sobrevida e de remissão do câncer de colo
uterino. No entanto os tratamentos destinados à cura, ao controle ou a paliação provoca uma série de
sinais e sintomas relativos aos efeitos adversos, principalmente à radioterapia, que é o tratamento
comumente utilizado em 70% dos tumores sólidos.

Diante das quimioterapias utilizadas para o tratamento do câncer de colo uterino que podem
causar vários e diferentes efeitos no organismo, percebe-se que cabe aos profissionais de
enfermagem, além de ações terapêuticas, dar suporte às pacientes oncológicas para o enfrentamento
da doença, uma vez que o câncer requer tratamento prolongado e está sujeito a de efeitos adversos.

Deve-se ainda dar ênfase na prevenção de complicações, detectando previamente os efeitos


colaterais e adotando medidas para controle desses efeitos colaterais que venha aparecer no decorrer
do tratamento.

É indispensável também o cuidado diferenciado, especializado e que incorpore os aspectos


psicossociais da pessoa e sua família, alcançando assim um cuidado abrangente que responda a todas
as necessidades de cada paciente.

CAPITULO 6: ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM A PREVENÇÃO DO


CÂNCER DE MAMA

O câncer de mama é o que mais atinge mulheres em todo o mundo, considerado a maior
causa de morte por câncer nos países em desenvolvimento. No Brasil, é o segundo tipo de câncer
mais frequente entre as mulheres.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

O Rastreamento é a execução de testes ou exames diagnósticos em populações ou pessoas


assintomáticas, com o objetivo de diagnosticar precocemente, para reduzir a morbidade e mortalidade
da doença, agravo ou risco rastreado, ou seja, facilitar a identificação de indivíduos que têm a doença,
mas que ainda não apresentam sintomas. No Brasil, a estratégia recomendada para o rastreamento
de câncer de mama é a mamografia no período de dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos. Existe
também o autoexame das mamas, que foi muito estimulado, e proporciona a mulher mais uma
estratégia para a detecção de qualquer anomalia presente.

Autoexame das mamas

O Alto risco de câncer de mama está relacionado à forte predisposição hereditária diante das
mutações genéticas. Os genes BRCA 1 e 2 (síndrome de câncer de mama e ovário hereditários), são
os mais comumente diagnosticados e que representam de 30 a 50% dos casos.

Encontram-se outras mutações genéticas em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1,
ATM, RAD51C e RAD51D (Breast Cancer Association Consortium, 2021), TP53 (síndrome de Li-
Fraumeni) e PTEN (síndrome de Cowden) (Mitchell et al, 2017; Migowski et al. 2018a).

É importante evidenciar a necessidade de facilitar ao máximo o acesso de mulheres dentro


da faixa etária recomendada para as ações de rastreamento aos serviços de saúde. Neste sentido, o
objetivo é de que cada localidade deve planejar seus processos de trabalho, de modo a incluir
estratégias que podem envolver a flexibilização da agenda das equipes tanto para as ações de
rastreamento, a realização de busca ativa nos domicílios e espaços comunitários, assim como a
solicitação de mamografia de rastreamento por parte de médicos e enfermeiros.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Nos quadros abaixo podemos ver a síntese de prevenção do câncer de mama:

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
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CAPITULO 7: ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM A CONSTRUÇÃO DE UM


PROTOCOLO DE CUIDADOS QUE ASSEGURE OS DIREITOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS DA MULHER

Como já estudamos diversos percursos onde a Assistência de enfermagem deve estar


presente e toda a trajetória das mulheres ao longo do tempo nos seus estados de saúde, doenças e
longevidade de vida, vamos refletir sobre a produção de um protocolo onde os direitos sexuais e
reprodutivos sejam garantidos.

Essa reflexão é importante pois ela gera os debates sobre as lutas das mulheres em diversos
tempo pela garantia desses direitos, onde influenciam diretamente não apenas o planejamento do
tamanho de suas famílias, mas também o próprio modo como levam a vida.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

A Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996 (BRASIL, 1996), assegura os direitos reprodutivos


das mulheres, além de proporcionar que haja um controle próprio de suas vidas, porém existe um
profundo abismo entre os direitos e a possibilidade de exercê-los de fato por meio da utilização e do
acesso aos métodos anticonceptivos assim como ao tratamento da infertilidade.

Neste sentido temos que:

 O direito das pessoas decidirem, de maneira livre e responsável, se querem ou não ter
filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas;
 O direito à informação, aos meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos;
 O direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e
violência;
 A garantia dos direitos sexuais significa, também, o direito de escolher
 O parceiro ou parceira sexual e de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha,
culpa e falsas crenças, bem como escolher se quer ou não ter relação sexual. Indica o direito ao sexo
seguro com prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS, aos serviços de saúde que
garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação e à informação e à
educação sexual e reprodutiva (BRASIL, 2008b).

Um breve histórico dos direitos sexuais e reprodutivos

No ano de 1948, foi firmada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Desde então,
várias convenções internacionais acontecera, onde foram estabelecidos os estatutos comuns de
colaboração mútua e mecanismos de controle para garantir um índice de direitos considerados básicos
para uma vida digna (BRASIL, 2005a).

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Já em 1994, em decorrência da Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas


(ONU) abordando a temática População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, provocou
profundas mudanças no debate populacional, onde deu prioridade às questões dos direitos humanos
e, de modo especifico, ao conferir à saúde, aos direitos sexuais e reprodutivos um caráter primordial.
(BRASIL, 2005a). A Plataforma de Ação do Cairo, então definiu direitos reprodutivos de modo que:

Os direitos reprodutivos abrangem certos direitos humanos já reconhecidos em leis nacionais,


em documentos internacionais sobre direitos humanos, em outros documentos consensuais. Esses
direitos se ancoram no reconhecimento do direito básico de todo casal e de todo indivíduo de decidir
livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de ter filhos e de ter a
informação e os meios de assim o fazer e o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde sexual
e reprodutiva. Inclui também seu direito de tomar decisões sobre a reprodução, livre de discriminação,
coerção ou violência (BRASIL, 2005a).

Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil incorporou os problemas decorrentes da


gestação e do parto às políticas nacionais da saúde. Apenas em 1984 é que foi produzido um programa
que incluiu um novo aspecto às políticas públicas direcionadas para a saúde da mulher, abordando
globalmente todas as fases do seu ciclo vital e não apenas no ciclo gravídico-puerperal.

Deste modo, o planejamento familiar começou a fazer parte de um grupo mínimo de ações
recomendadas pelo Programa. De mesmo modo que os métodos anticoncepcionais passaram a ser
distribuídos aos estados pelo Ministério da Saúde, porém de maneira descontinua, e apenas na
segunda metade da década de 80 (BRASIL, 2005a).

Já em 2001, no mês de outubro, o Ministério da Saúde se responsabilizou pela aquisição de


métodos anticoncepcionais reversíveis, porém ainda com distribuição descentralizada e trimestral para
e apenas aos municípios que atendessem a um dos seguintes critérios:

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

1- Ter pelo menos uma equipe do Programa de Saúde da Família habilitada,


2- Estar com o termo de adesão ao Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento
aprovado ou contar com pelo menos uma equipe do Programa de Interiorização do Trabalho em
Saúde.

Foram então criados dois tipos de kits oferecidos aos municípios, sendo eles: o kit básico,
onde compunha-se de pílula combinada de baixa dosagem, pílula apenas de progesterona, minipílula
e o preservativo masculino. O segundo era o kit complementar composto de dispositivo intrauterino
(DIU) e anticoncepcional injetável trimestral.

No período de 2005, a responsabilidade seria aplicada agora a cunho federal para que os
anticoncepcionais e medicamentos estivessem dentro da esfera de atenção básica. Entretanto, o que
observava-se no cotidiano das equipes de Saúde da Família era a irregularidade na oferta desses
insumos, e ainda, o governo municipal atuando com desobrigação na aquisição dos mesmos.

Podemos compreender então que a ampliação do acesso de mulheres e homens à


informação e aos métodos contraceptivos é imprescindível para que se possa ter a garantia ao
exercício dos direitos reprodutivos.

Contudo, para que essas ações sejam efetivadas, é preciso manter a oferta de métodos
anticoncepcionais na rede pública de saúde incluindo profissionais capacitados para auxiliar as
mulheres e/ou homens que decidem sua opção contraceptiva em momentos da vida diferentes.

Então, Quais são as bases que devem ser lavadas em consideração para que a equipe de
Saúde da Família tenha para elaboração ou revisão de um protocolo que garanta os direitos sexuais
e reprodutivos? Vamos explorar alguns aspectos!

1- A comunidade conhece as atividades de planejamento familiar desenvolvidas pela


equipe de Saúde da Família?

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Programações escolares, associações comunitárias e outros locais que a equipe considere


estratégicos podem ampliar a participação de adolescentes e homens, que normalmente são menos
presentes na unidade de saúde, esses métodos facilitam a divulgação e facilitam que as pessoas
possam participar das atividades do planejamento familiar. É fundamental que as Inscrições para os
grupos operativos ou orientações sejam abertas a todos os interessados e em horários variados.

2- Como têm sido desenvolvidas as práticas educativas relativas ao planejamento


familiar?

Mais uma vez vamos enfatizar no quão é importante o acesso a informação sobre saúde
reprodutiva para que as pessoas consigam fazer suas escolhas sobre contracepção e concepção.
Porém, apenas a informação não se faz suficiente, é preciso utilizar outras práticas que facilitem e
possibilitem às pessoas pensar sobre as suas condições concretas de vida e com superá-las. É
fundamental a utilização de ações educativas desenvolvidas pela equipe, tanto de forma individual
quanto coletiva.

Em momentos de dinâmicas de grupo, na realização de oficinas de trabalho podemos


proporcionar um momento interativo para que as pessoas possam refletir sobre suas vidas de maneira
lúdica. A utilização de cartazes, álbuns seriados e kits com exemplares são complementos de grande
importância para o desenvolvimento desses grupos educativos.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

3- Como tem sido a participação da equipe profissional multidisciplinar nas


atividades relativas aos direitos sexuais e reprodutivos?

Uma equipe multiprofissional é extremamente necessária, nela conta-se com a participação


de: médicos, enfermeiros, odontologistas, assistentes sociais, psicólogos, agentes comunitários de
saúde, etc. A diversidade de saberes enriquece a atividade e a capacidade operacional da equipe.
Sendo assim, a elaboração do protocolo para tal atividade deve ter a participação de vários
profissionais assim como os usuários do serviço, que poderão contribuir com questões diversas em
relação à operacionalização da proposta.

4- Como os usuários participam da escolha dos métodos contraceptivos?

São geradas discussões sobre cada método, e nessas a equipe enfatiza as características de
cada um dos métodos, sempre dando ênfase de que impressões pessoais não venham a influenciem
nessa abordagem. Após conhecer os métodos assim como suas vantagens e desvantagens, o usuário
terá melhores possibilidades de escolher qual se enquadra melhor na sua própria vida.

5- Como é realizada assistência nos casos de infertilidade conjugal?

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

Na rede pública ainda são poucos os serviços especializados para tratamentos de casais
inférteis e os custos são altos. Mesmo que o apoio e orientação para casais que tenham dificuldades
para engravidar também seja uma atividade do programa de planejamento familiar, cabe-se enfatizar
que ambos os parceiros devem ser avaliados, para a coleta de evidências e comprovação ou não de
alteração em algum deles. Cabe frisar que estas avaliação são direcionadas a casais que após um a
dois anos de vida sexual sem proteção contraceptiva, não obtiveram resultados positivos em relação
a concepção de uma criança.

6- Como é tratada a contracepção de emergência por sua equipe?

Entende-se como Contracepção de emergência (CE) como um método anticonceptivo que


pode evitar a gravidez após a relação sexual. Toda pessoa que tenha tido falha no método utilizado,
em até 72 horas, como por exemplo, ruptura do condom, esquecimento da pílula ou que tenha tido
relação sexual não-protegida.

Deve-se atentar que a informação sobre os CE é assegurada pelas Políticas de direitos


sexuais e que sua distribuição faz parte da política pública federal onde seu envio se dá dos estados
para os municípios.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

7- Existe disponibilidade contínua dos métodos contraceptivos para os usuários de


seu território e /ou município?

Essa disponibilidade é de grande importância e está diretamente ligada ao sucesso do


programa, além de, contribuir para que a escolha pelos métodos irreversíveis (vasectomia e ligadura
de trompas) não seja a única maneira de contracepção continuada. Em resumo, o usuário deve ter
garantia da continuidade da oferta do método escolhido e o planejamento e/ou implantação da ação
de planejamento familiar sob a forma de projeto, seja realizada no sentido de influenciar e impactar os
órgãos competentes.

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA
MULHER

REFERENCIA
Manual técnico: saúde da mulher nas Unidades Básicas de Saúde / Secretaria da Saúde, Coordenação
da Atenção Básica/Estratégia Saúde da Família. – 2. ed. - São Paulo: SMS, 2012.

Assistência à Saúde da Mulher e da Criança [livro eletrônico] / Shirley da Rocha Afonso (autora e
organizadora), Claudia Palhano Castanho, Ligia Ribeiro da Silva Tonuci, Maria Rita Braga, Marisa
Ramos e Zilda Lopes. – 2.ed. – 3. vol. --- São Paulo : Centro Paula Souza, 2020.

FREIRE, Letícia; SILVA, Geísa. A falta do protagonismo da mulher no trabalho de parto-parto e


nascimento. Revista Pró-UniverSUS, v. 10, n. 1, p. 34-37, 2019.

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