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J A N E I R O 2 0 2 3

G a l a x i e
O g i g a n t e e l e g a n t e
Um sedã com 5,4 metros de comprimento e quase
2 metros de largura, com espaço para seis pessoas
acomodadas confortavelmente nos bancos traseiro
e dianteiro. Motor V8 de 164 cv movido por gasolina,
câmbio de três marchas e todos os itens de requinte e
luxo disponíveis no mercado. Essa podia ser a descrição
de um carro de luxo norte-americano ou europeu, mas
é o primeiro veículo brasileiro desta categoria até então
inédita no país.
O ponto negativo, embora o petróleo e o meio ambiente
não fossem temas de preocupação na época, seria a
tecnologia de emissões e consumo de combustíveis,
que beirava os 4 km/litro – essa média podia cair para

Ford Galaxie:
um gigante
beberrão e
luxuoso

2 km/litro se o motorista afundasse o pé no acelerador.


Esse histórico levou muitos consumidores a afirmar que
o Galaxie, que mais tarde ficou conhecido também como
Landau, foi - e ainda é - o carro com maior consumo de
combustível da nossa indústria automotiva.
Um gigante elegante e beberrão, que ainda hoje
habita na memória afetiva de muitos admiradores.
Esse é o Ford Galaxie, destaque em desfiles
de visitantes ilustres, autoridades, presidentes, no
deslocamento de papas em visitas ao Brasil e, ainda
hoje, visto em coleções raras e levando noivas para
cerimônias de casamento.
As diversas fases
do Ford Galaxie
ao longo dos 17
anos de fabricação
do mais luxuoso
automóvel do Brasil.
O VW Fusca era
o líder de vendas
num mercado com
poucas opções de
veículos fabricados
no país. Imagem: site
JS Autos Antigos.

A indústria automobilística nacional ainda estava dando seus primeiros passos e


boa parte da frota era formada por veículos importados, montados em sistema de
CKD. Apenas uma minoria de modelos era fabricada no país.
Lá pela metade dos anos 60, o compacto e econômico Fusca da Volkswagen
era disparado o modelo mais vendido, seguido pelo sedã Aero Willys, que já estava
em fim de carreira. Em seguida, vinha a utilitária perua VW Kombi e o também
compacto e pouco convencional Renault Dauphine/Gordini, também perto do fim
de sua produção.
Os demais ocupantes das ruas e estradas brasileiras eram, basicamente,
os mesmos modelos que trafegavam pelos Estados Unidos. A maioria deles,
contudo, tinha mais de 20 anos de defasagem em relação ao lançamento no
mercado norte-americano, como os Ford Mustang, os Chevrolet Bel Air e Impala e
os Mercury.
Com um mercado bastante restrito e baixa demanda, as montadoras não viam a
necessidade de diversificar os modelos. E a oferta ficava limitada a carros pequenos,
picapes de serviço ou sedãs médios.
Esse cenário começou a mudar com o surgimento de uma classe média com
melhor poder aquisitivo e um novo nicho de empresários e executivos desejosos de
modelos mais sofisticados e luxuosos. Um público que até se dispunha a importar
veículos maiores e com motores potentes.
Nessa época, a Ford buscou o que tinha de melhor em termos de luxo nos
Estados Unidos, trazendo para sua fábrica brasileira as matrizes de produção do
Galaxie 500. Este foi um marco na indústria automotiva nacional, pois era um sedã
de dimensões enormes e, basicamente, o mesmo modelo lançado um ano antes
para o mercado norte-americano.

O Ford Galaxie
500, lançado nos
Estados Unidos em
1965, foi a base do
modelo brasileiro
apresentado em
1966. Imagem: site
Canal da Peça.
Presente no Brasil desde 1919 com a montagem
de caminhões e utilitários, a Ford foi a responsável por
despertar as demais fabricantes. Estas logo se dariam conta
do crescimento da demanda do mercado brasileiro e diversificar
suas ofertas de modelos, surgindo os Ford Corcel e Maverick, os Chevrolet
Opala e Chevette, e o Dodge Dart.
A Volkswagen ainda demorou um pouco para diversificar sua linha de modelos,
permanecendo até quase o final da década apenas com os Fusca e Kombi em sua linha de
montagem no ABC paulista. Somente no finalzinho dos anos 60, seria incorporada a família 1600
- o TL, a Variant e o VW 1600 sedã.

O b e r ç o d o G a l a x i e

O maior carro já produzido no Brasil tem sua origem nos Estados Unidos, país sede da
Ford, a fábrica que criou e trouxe para o mercado a linha Galaxie. Em 1959, a marca anunciou
o nome Galaxie 500 como a versão topo de linha do sucesso Fairlane, até então o mais
cobiçado sedã da marca.

O Ford Fairlane
foi o antecessor
do Galaxie 500.
Imagem: Wikipedia.
O nome tinha como referência a corrida espacial entre os
EUA e a União Soviética, que disputavam o pioneirismo de
levar um ser humano ao espaço. O nome remetia à palavra
inglesa galaxy, em português galáxia. O número 500 fazia
referência à vitória do piloto Shorty Rollins, que, com seu
Ford Fairlane Skyliner, foi o vencedor da primeira corrida no
Daytona International Speedway, dois dias antes da realização
da prova das 500 Milhas de Daytona.

A Ford lançou diversas versões para o Galaxie nos Estados Unidos, com
modelos conversíveis, picapes e peruas. No Brasil, apenas o sedã foi
oferecido, com opções de acabamento, mas sem diferenças nas
carrocerias. Imagem: Site Maxicar.
Em 1960, o Galaxie 500 torna-se o sucessor natural da família
Fairlane no mercado norte-americano. E ganha diversas opções de
carrocerias, entre elas: Sedan com quatro portas e três volumes;
Sport Sedan com três volumes, quatro portas e sem coluna; Coupé
com duas portas e sem coluna; Conversível; Pick-Up - que era uma
caminhonete com acabamento sofisticado; Ranchero - também
uma caminhonete, mas com acabamento rústico; Station Wagon – a
versão perua com quatro portas; e Ambulance – que era a versão
alongada da Station Wagon usada em socorro médico*.
“Corra no domingo e venda
na segunda”. O Ford Galaxie Mas sem dúvida alguma, o mais representativo para o mercado
500 7 litre era sucesso nas
pistas da Nascar, o que se norte-americano foi o Galaxie 7 litre, que podia sair tanto na versão
refletia na venda do modelo conversível, quanto na coupé e opção de motores 427, 428 ou 429, os
aos motoristas norte- maiores da época.
americanos, sendo uma
das razões do sucesso do
sedã nos Estados Unidos.
Imagem: Site Curbside
Classic.

Essas versões foram as responsáveis pelo sucesso do automóvel


na Nascar e em diversas competições, popularmente chamadas de
“corra no domingo e venda na segunda”. Os Galaxie 7 litre eram
vendidos por preços acessíveis aos pilotos de final de semana, com
o compromisso de participarem de um número pré-determinado
de corridas.
O sucesso com as vitórias nas categorias era tanto que, nas
segundas-feiras, as concessionárias Ford lotavam de pedidos para
toda a família Galaxie.

*Os nomes das versões do Ford Galaxie norte-americano,


estão escritos como eram oferecidos nos catálogos da marca.
G r a n d ã o , p o t e n t e
e p i o n e i r o
Nessa página e na anterior,
detalhes do Ford Galaxie,
que foi o destaque no
estande da marca no 5º
Salão do Automóvel de O Ford Galaxie foi apresentado no 5º Salão do
São Paulo, em 1966. Automóvel de São Paulo, em 1966, pouco tempo
Imagens: Acervo digital da depois de o presidente mundial da empresa,
Revista Quatro Rodas.
Henry Ford II, visitar o Brasil e anunciar que a
marca produziria o modelo
O Galaxie brasileiro era baseado no Ford Galaxie 500. A sua fabricação teve
início em janeiro de 1967, com uma cerimônia de lançamento realizada no mês
seguinte nas instalações da Ford no bairro do Ipiranga, zona sul da capital paulista.
Houve, ainda, uma segunda cerimônia no Edifício Lúcio Costa, no Rio de
Janeiro, sede do Banco do Estado da Guanabara. Na ocasião, um Galaxie 500
foi içado por guindaste até o heliponto do edifício, onde ocorreu o coquetel
de lançamento.
Para causar ainda mais impacto, a Ford preparou uma campanha publicitária
que teve como ponto alto o curta-metragem promocional “Uma Visão Fantástica”,
produzido pelo cineasta e documentarista Jean Manzon. A peça era exibida antes
dos filmes nas salas de cinema do país.
Assista em: https://youtu.be/FeGd8qkOs5Y ou clique na imagem abaixo.

Vídeo de lançamento do Ford Galaxie criado pelo cineasta Jean Manzon.


Imagem extraída do portal Youtube.

O Ford Galaxie passou a ser o objeto de desejo de muitas pessoas. Não


havia nada tão confortável e luxuoso no país até então. A carroceria tinha
incríveis 5,4 m de comprimento por 1,99 m de largura, o que permitia que
uma pessoa ficasse comodamente deitada e com as pernas estendidas no
banco traseiro.
Aliado ao luxo e ao conforto interno, o Galaxie contava também com
rádio, sistema de climatização com três velocidades (ainda não era um
sistema de ar condicionado, que só seria oferecido no final dos anos 60),
bancos inteiriços que podiam acomodar seis pessoas, assentos em couro
ou vinil, com opções nas cores preto, bege, azul ou vermelho.
A tapeçaria era considerada um show de beleza à parte. Os bancos
inteiriços podiam ser revestidos em vinil ou combinar a forração de tecido
com vinil. Enfeites no tecido com faixas decoradas conferiam requinte
à tapeçaria, tudo desenhado em relevo (chamado de costura eletrônica).
Os assentos combinavam com as forrações de porta, que ostentavam
filetes cromados.
Muito luxo, acabamento
sofisticado e espaço
interno no gigante
Ford. Bancos inteiriços
e abundância de peças
O interior era cheio de cromados, sendo que o painel tinha cromadas eram o
mostradores com ponteiros horizontais para velocímetro e nível destaque do Galaxie 500.
Imagem: Clube do Galaxie.
de combustível. A temperatura da água era indicada por duas
luzes – uma apontava motor frio e outra superaquecimento.
Vinha com detalhes em madeira no painel de instrumentos e direção
mecânica, com opcional para direção hidráulica. O enorme volante de dois
raios, com buzina em um aro meia-lua, era projetado para se deformar em
caso de batida.
A alavanca de câmbio cromada ficava na coluna de direção e os
três pedais (acelerador, freio e acionamento da embreagem) tinham
frisos cromados. Havia, ainda, um pedal extra para o freio de
estacionamento, que era liberado por meio de uma alavanca na
lateral do painel.
O limpador de para-brisa tinha duas velocidades e havia
outros itens diferenciais e não disponíveis em outros modelos.
Possuía, por exemplo, porta-luvas iluminado, chave de
segurança para partida nos dois lados – o convencional era
que a chave de partida tivesse uma posição única para
entrar no cilindro - e relógio analógico elétrico.
Muito grande, ele mantinha o equilíbrio das formas
dos sedãs norte-americanos e vinha com capô
e porta-malas bem longos. O capô possuía poucos
vincos e ostentava o símbolo do luxo da Ford,
trazido da Lincoln, devidamente posicionado
na frente.
Detalhe da grade fontal e lanternas
do Galaxie. Abaixo, vista lateral do
modelo, onde ficam evidentes as
dimensões do carro. Essas fotos são
do Galaxie nacional mais antigo do
Brasil, fabricado no primeiro dia de
produção, em 16 de janeiro de 1967.
Imagens: site História do Galaxie.

A grade frontal tinha longos cromados horizontais e pronunciados, com exceção da parte
mais próxima dos faróis. Estes eram duplos e colocados em posição vertical, como era o
estilo do Ford Galaxie 500 e do Fairlane vendidos nos Estados Unidos.
Havia peças cromadas em toda a lataria, envolvendo para-brisa, janelas e colunas. O
porta-malas, de 541 litros, era bem grande e sua tampa ia até a base do para-choque traseiro,
também cromado. Uma moldura com o nome Ford ocupava toda a largura da tampa.
As rodas de aço com calotas cônicas e ornamentadas chamavam muita atenção, e se
destacavam ainda mais com pneus diagonais de faixa branca e sem câmara. As rodas eram
pintadas na cor da carroceria do veículo e podiam ser equipadas com duas opções de calotas.
Uma era pequena e cobria o conjunto de porcas e prisioneiros. Feita em metal cromado
com pequenos detalhes em preto fosco vinílico, trazia a inscrição Ford marcada três vezes
no centro. A outra opção eram as chamadas “supercalotas”, que cobriam as rodas por
completo, feitas em alumínio polido com os rebaixos pintados em preto fosco vinílico e com
o miolo em acrílico com fundo refletivo em vermelho.
A carroceria vinha em oito tons de cores sólidas, cujos nomes faziam alusões a elementos
espaciais: Vermelho Marte, Bege Terra, Verde Júpiter, Preto Sideral, Cinza Cósmico, Azul
Infinito, Azul Ágena e Branco Glacial. Opcionalmente a capota poderia vir na cor Branco
Glacial, criando, assim, o efeito “saia e blusa”.
O Ford Galaxie não era feito em monobloco, mas numa carroceria de aço montada sobre
um chassi de longarinas. Partes dele, como motor, câmbio, suspensão e eixo cardan, eram
devidamente cobertas por proteções e batentes plásticos para reduzir o ruído, assim como
as forrações no acabamento interno. O ruído a bordo deveria ser o mínimo possível, pois, os
clientes eram exigentes e o padrão de qualidade da Ford tinha de ser mantido.
Já as suspensões eram convencionais e bem macias. Independentes, com braços
sobrepostos na frente e eixo rígido atrás, possuíam molas helicoidais e amortecedores
hidráulicos. Havia barras estabilizadoras nos dois e os freios eram a tambor.
O motor era um Ford V8 Y-Block 272 de 4,5 litros (4.458 cm³) que rendia 164 cv brutos,
emprestado da linha de caminhões Ford (usado principalmente nas picapes F-100).
A diferença estava nos cabeçotes e seus coletores integrados de escape e admissão, tudo
fundido em alumínio. Com bloco em ferro fundido e comandos OHV - Over Head Valves
(válvulas no cabeçote), o V8 272 tinha carburador de corpo duplo e gerava 164 cavalos a
4.400 rpm, com 33,4 kgfm a 2.400 rpm.

O motor era um Ford V8 Y-Block 272 de 4,5 litros


(4.458 cm³) que rendia 164 cv brutos, o mesmo que
era usado pela Ford nas picapes F-100. Imagem:
ilustração extraída de arquivo digital de motorizações
publicado pela Ford nos Estados Unidos.
Movido a então chamada “gasolina pura”, o Galaxie
trabalhava com alternador (algo raro na época) e
sistema elétrico de 12V. A taxa de compressão era
baixa (7,3:1) e, segundo a Ford, o consumo era de 6,3
km/l em condições “normais”. Na prática, o consumo
real ficava entre 4 km/l na cidade e 6 km/l na estrada.
Com esse motor, o Ford Galaxie alcançava uma
velocidade final de 150 km/h e aceleração de 0–100
km/h em 14,9 segundos.
Pelo tamanho e peso, o luxuoso sedã tinha
relativamente pouca potência, mas compensava com
uma taxa de torque espetacular. Com um câmbio
manual de três marchas na coluna de direção, conseguia
fazer a retomada de velocidade partindo de 30 km/h
na última marcha em uma leve subida.
O preço médio do Ford Galaxie na época do
lançamento era cerca de 17 milhões de cruzeiros, valor
mais que suficiente para comprar dois Volkswagen
Fusca ou três Renault Gordini, o que o colocava como
o automóvel mais caro do Brasil. Apesar disso, o
lançamento foi um sucesso, e, oito meses após o início
da produção, a Ford anunciou a fabricação da unidade
de número 5.000.
No mesmo ano, o Galaxie foi eleito pela conceituada
revista da época Mecânica Popular como o Carro
do Ano de 1967. Ainda hoje, é considerado pelos
antigomobilistas o carro mais luxuoso do Brasil.
Fac-símile da capa da Revista Mecânica Popular, em que o Ford Galaxie foi
destaque na edição de dezembro de 1966. O sedã ainda acabou sendo eleito pelo
júri da publicação como o Carro do Ano em 1967. Imagem: site Pinterest.

O G a l a x i e n o B r a s i l
Foto da linha de
montagem do Galaxie na
fábrica da Ford no bairro
do Ipiranga, na capital
paulista. Imagem: site
História do Galaxie. O Galaxie caiu como uma luva na fábrica da Ford no Brasil. A
sua produção aproveitava a mecânica dos utilitários da marca
que já eram fabricados por aqui, bastando algumas adaptações
nas áreas de montagem dos chassis e carrocerias. Isso permitia
ganhar agilidade e economia em escala industrial, além de atender as demandas dos
consumidores.
Com o sucesso do lançamento, em 1968 o carro manteve-se praticamente inalterado.
Houve algumas mudanças no painel, que deixou de ter gomos “retos” e ganhou gomos
“acolchoados”, além da substituição do friso polido estriado por um liso.
No ano seguinte, o sedã trouxe pequenas alterações, como a antena passando a ser fixada
no paralamas dianteiro esquerdo. Além disso, a Ford apresentou o Galaxie LTD, uma versão
ainda mais confortável, com direito a teto de vinil. Um dos acabamentos mais lembrados e
emblemáticos da linha, o teto de vinil seria associado ao Galaxie até o final de sua jornada.
Neste mesmo ano, a Ford passou a oferecer dois opcionais para a família que já tinha
dois modelos: o sistema de ar-condicionado e o câmbio automático. O Galaxie foi o primeiro
veículo nacional a oferecer esta opção de câmbio.
O Ford Galaxie LTD estreava a transmissão automática, a Cruise-o-Matic com três
velocidades. Com conversor de torque, essa caixa oferecia mais conforto ao dirigir e tinha
sua alavanca agregada à coluna de direção, com um indicador de marcha no painel.
A nova mudança ocorreu no motor. Embora a Ford tenha mantido o 272 no Galaxie 500, o
modelo LTD ganhou um novo V8 292 de 190 cv. Com esse propulsor, o LTD tornou-se ainda
mais rápido que o Galaxie 500, acelerando de 0 a 100 km/h em 13 segundos e velocidade
final de 160 km/h.
O consumo urbano, no entanto, se deteriorava, fazendo 3,5 km/l na cidade e
7 km/l na estrada. Isso porque a relação da Cruise-o-Matic era mais longa que a
caixa manual de três marchas.
O Galaxie alcançou um sucesso inédito, mas seu valor era inacessível para
a maioria dos consumidores. Enquanto o salário-mínimo da época era 130
cruzeiros, o preço de lançamento do veículo chegava a 17 milhões de cruzeiros.
Mas o interesse despertado pelo novo modelo permitiu que a Ford investisse em
um novo segmento. Em 1970, então, chega ao mercado uma versão básica, o
Galaxie (sem o número 500). Este acabou sendo conhecido como Standard.
O carro era bem convencional para um automóvel de suas dimensões. Não
possuía direção hidráulica, rádio, relógio ou ar-condicionado. As calotas eram
pequenas e cobriam apenas o conjunto de parafusos das rodas. A maioria dos
frisos cromados desapareceu e a tapeçaria era obrigatoriamente na cor preta.

A partir de 1970, o Ford Galaxie passou a contar com três versões de acabamento.
Imagem: Site Maxicar.
Com mais esse integrante, a Família Galaxie
seguiu com três veículos sobre a mesma plataforma,
diferenciando-se apenas no acabamento e nos
itens de conforto. Existiam agora o Galaxie, o
Galaxie 500 e o Galaxie LTD. No modelo LTD,
abaixo do friso de contorno da carroceria, as
chamadas “caixas de ar”, a pintura era em preto
fosco vinílico, o que lhe valeu o apelido de “faixa
preta” para o sedã luxo da Ford.
Em 1971, os carpetes foram diferenciados nas
três versões. O modelo básico ficou com o
revestimento mais simples e os Galaxie 500 e
o LTD receberam de volta o mesmo material
oferecido até 69. Na versão topo de linha, o
Galaxie LTD perdeu sua “faixa preta” e passou a
se chamar LTD/Landau.
O carro ganhou ainda mais conforto, a vigia
A partir de 1971, toda a linha
traseira ficou menor e ele recebeu um adorno em
ganhou novas lanternas traseiras,
formato de “S” na coluna traseira (Coluna “C”). substituindo as tradicionais
Segundo os estudiosos do modelo, esse adorno lentes e molduras quadradas
com uma mira no centro por
era uma referência às elegantes carruagens outra com três gomos. Esse tipo
francesas de luxo, chamadas de Landau (em de lanterna recebeu o apelido
francês, pronuncia-se “landô”, mas no Brasil, de capelinha. Acima, o modelo
anterior e abaixo o novo modelo
o modelo ficou conhecido como landau mesmo). das lanternas.
Imagens: Site História do Galaxie.
Toda a linha teve as lanternas traseiras
modificadas. As tradicionais lentes e molduras
quadradas, com uma mira no centro, foram
substituídas por outro modelo, de igual tamanho,
mas com três gomos cada. Era uma alusão a
outros modelos famosos da Ford americana
como, por exemplo, o Mustang. Esse tipo de
lanterna recebeu o apelido de capelinha.
Em 1972, a Ford abandonou a ideia de oferecer
uma versão mais despojada e popular do Galaxie.
Portanto, permaneceram somente o Galaxie 500
e o Galaxie LTD/Landau. É deste ano, também,
a traseira mais alta com lanternas quadradas e,
assim, o desenho capelinha saiu de fabricação.
O ano de 1973 trouxe um novo estilo para o luxuoso sedã. Reprodução
digitalizada de
O conjunto óptico dianteiro ganhou a seta adornada por uma moldura
anúncio da Ford
cromada com desenho retangular, o que conferia ainda mais requinte sobre o lançamento
ao modelo. da nova linha
1974 do Ford LTD
O capô recebeu um novo desenho: um ressalto ao centro se abria Landau. Imagem:
reprodução de
em forma de funil no sentido do para-brisa. Na traseira, a tradicional
publicidade Ford
lanterna quadrada foi substituída por uma retangular e de perfil extraída do site
inclinado. Propagandas
Históricas.
Nos anos seguintes poucas modificações foram feitas no Galaxie
500 e no Galaxie LTD/Landau. Ainda assim, o modelo continuava
sendo o carro mais caro e de maior luxo oferecido pela Ford do Brasil.
Para os colecionadores e apaixonados pelo Ford Galaxie, o ano
de 1975 é considerado o final de uma época de ouro. Isso porque no
ano seguinte a montadora reestilizou o modelo, deixando de lado
a chamada frente em pé com o conjunto ótico disposto na vertical.
Em resumo, abandonou o desenho apresentado em 1966 ao mercado
norte-americano
Em 1976, novamente, um novo desenho chega à linha Galaxie.
Dessa vez, não eram apenas pequenas alterações, mas uma revolução
de estilo e um verdadeiro divisor de águas entre o carro tradicional e
o novo projeto nacional para o sedã de luxo.
Embora as alterações de carroceria tenham ocorrido somente na
dianteira e na traseira do carro, elas foram suficientes para dar uma
aparência totalmente nova. Os faróis foram dispostos na horizontal
com lanternas nas extremidades, semelhante ao design adotado no
Lincoln da época, considerado o “Top” da Ford nos Estados Unidos.
A traseira ficou mais baixa e o conjunto de luzes diferenciado
dos demais veículos da época. Três pequenos retângulos vermelhos
formavam as lanternas, freio e piscas. Todas acendiam ao mesmo
tempo em lâmpadas de dois filamentos. Um para freio e outro para
luz noturna. Quando acionado, somente o pisca do lado que indicava
a mudança de direção ficava intermitente. As luzes de ré continuaram
no para-choque traseiro.
A família foi desmembrada em três modelos: o Galaxie 500, mais
simples e com grade dianteira na horizontal; o Galaxie LTD, uma
versão intermediária; e o Landau, que continuava a ser o topo de
linha. Este era muito parecido com o LTD, mudava apenas a vigia
traseira da carroceria, pequena no Landau e grande no LTD.

A partir da esquerda em sentido horário, o 500, a traseira do LTD e a frente do


Landau. Montagem com fotos da linha 1976 dos modelos Ford Galaxie e detalhes dos
veículos. Diferente das outras alterações feitas pela marca, o sedã luxuoso sofreu uma
reestilização total em suas linhas. Imagens: Site Auto Livraria.
A versão Landau trazia, ainda, novas calotas herdadas
dos Lincoln norte-americanos com o tradicional desenho da
marca (a mira retangular) no centro. Esta mesma mira também
virou enfeite de capô, mas, enquanto no modelo americano
a disposição era vertical, no Brasil ela ganhou o desenho
horizontal.
Outra mudança foi na oferta de cores. Enquanto nas
versões Galaxie 500 e LTD havia certa variedade, o Landau era
oferecido somente na cor Prata Continental, com o teto de vinil
acompanhando o tom da carroceria.
A versão LTD possuía um leque maior de cores e permitia
combinar o teto em vinil nas cores areia, marrom ou preto. Já
para o Galaxie 500 não era oferecido de fábrica o teto de vinil.
Alguns proprietários optavam pela colocação na concessionária.
Internamente, as versões Galaxie 500 e Galaxie LTD vinham
com a tapeçaria em uma malha preta 100% poliéster, conhecida
como Jersey. Já no modelo Landau, o interior possuía uma
combinação em courvin preto (couro sintético) com detalhes
em casimira desenhada. Pequenos adornos nas forrações de
portas criavam um desenho sinuoso.
Em 1976, o Ford Maverick* emprestou ao Galaxie o V8 302,
4.9 litros de 199 cavalos a 4.600 rpm e 39,8 kgfm a 2.400 rpm.
O propulsor tinha comandos no bloco acionados por corrente e
permitia ao Galaxie ir de 0 a 100 km/h em 13 segundos na versão
manual, e em 15 segundos na automática, alcançando até 165
km/h. O consumo era semelhante ao dos modelos anteriores.

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o Ford Maverick, baixe
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modelo. Clique
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Essa configuração de motor, acabamento e outros
diferenciais, permaneceu inalterada em 1977. Somente
o modelo Landau perdeu o teto de vinil prata de série,
que passou a ser preto. A cor prata viria apenas como
opcional de fábrica.
No ano seguinte, o Landau ganhou uma nova cor: o
Cinza Executivo. Mais escuro que o Prata Continental,
o topo de linha ficou mais sóbrio e elegante. O ano de
1978 trouxe também mais duas mudanças em períodos
diferentes, as chamadas “Fase 1” e “Fase 2” do veículo.
Na primeira fase, somente a cor o diferenciava do
modelo 1977. Na segunda, a tapeçaria passou a ser em
veludo, o volante passou de dois raios a quatro, com o
acionamento da buzina em formato quadrado. O veículo
perdeu também diversos cromados. Opcionalmente, o
interior passou a ser oferecido na cor cinza claro.
Em 1979, para comemorar os 60 anos da presença
da Ford no Brasil, a marca apresentou a primeira e
única série especial do Landau — a “Edição Especial
60º Aniversário Ford”. Foi lançada no início do ano e
denominada SE (Série Especial). Foram produzidas
Ford Galaxie Landau SE
– Série Especial. Foram apenas 300 unidades, todas na cor Vermelho Scala.
produzidas apenas 300
unidades desta versão
comemorativa aos 60
anos da Ford no Brasil.
Imagens: Site Maxicar.
Sequência de imagens
do Ford Galaxie Landau
SE – Série Especial.
Imagens: Site Maxicar.

Ícone da classe “A” nos anos 1970 e responsável


por trazer para nosso mercado o mesmo padrão
de luxo e qualidade automotivo dos Estados
Unidos, o Galaxie 1979 pouco mudou no design.
No entanto, recebeu importantes modificações no
interior, acabamento e motorização.
A saída do ar-condicionado deixou de ser
fixada logo abaixo do painel e passou a integrá-lo.
Isso dava ao interior do veículo um aspecto mais
luxuoso. Uma vez que o espaço ficava otimizado e
a aparência mais limpa.
A elétrica do carro também mudou e agora
utilizava um sistema de ignição eletrônica,
em substituição ao tradicional condensador e
platinado. Melhorava, assim, a faísca das velas de
ignição e o rendimento do carro.
Reprodução de anúncio Outra inovação do ano foi a produção dos primeiros
publicitário da Ford apresentando
a nova tecnologia de motores
veículos movidos a álcool no mundo. Em uma época
a álcool para seus veículos, de crise mundial na indústria petrolífera, a Ford
incluindo o Galaxie. Imagem: site passou a oferecer também o Landau a álcool. O fato
História do Galaxie.
histórico ficou marcado com a entrega de um Landau
a álcool ao então presidente da República, o general
João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Um dos primeiros Ford Landau


Nesse mesmo ano também foi encerrada a
movido a álcool foi entregue produção do Galaxie 500. Sua última edição ganhou
ao general Figueiredo, então uma nova pintura da grade, agora só contornada com
presidente da República.
Reprodução de anúncio publicitário a cromação na cor prata, o restante pintado em preto
da Ford. Imagem: site Pinterest. fosco vinílico.
Ao longo de 1980, somente o Galaxie LTD e o Galaxie
Landau seguiram no mercado. Ambos modelos ganharam
um novo retrovisor lateral com controle interno por cabos.
Os tradicionais “olhos de gato” dos paralamas traseiros
receberam um novo desenho. Também passaram a ter uma
lâmpada interna, acionada junto com as lanternas do veículo.
O Ford Landau ganhou novas forrações de porta e mais
opção de cores: Azul Clássico, Preto Bali, Branco Nevaska II,
Cinza Granito e Verde Astor. Ao mesmo tempo, deixou de
ser oferecido o modelo com câmbio manual, permanecendo
apenas a versão com câmbio automático.
O ano de 1981 traz mais um corte na linha e o LTD sai
do catálogo Ford. A linha Galaxie fica restrita ao modelo
Landau. A carroceria ganhou pequenos detalhes e o para-
choque dianteiro passou a ter uma pequena grade que
acompanhava o desenho da grade principal, enfeitando o
vão de abertura abaixo do borrachão.
O para-choque traseiro passa a ser liso e a luz de ré
muda de posição novamente, ficando próxima das lanternas
traseiras (e não mais na parte central). Ainda na parte traseira
do veículo, o centro do conjunto ótico teve sua régua preta
substituída por uma cinza clara, parecida com a dos modelos
76 e 77, mas de tamanho maior, abrangendo as luzes de ré.
Esse desenho é chamado de traseira branca.
Embora ainda tivesse a opção de motor a gasolina, em
1981, a maioria dos Landau saiu com o propulsor movido a
álcool.
Pouca coisa mudou no ano seguinte. O Landau recebeu
apenas duas pequenas alterações: a perda das garras dos
para-choques traseiros (na metade do ano) e o desenho
da mira (símbolo do veículo) incorporado no painel entre o
marcador de combustível e o velocímetro.
D e i x a a s r u a s e e n t r a
p a r a a h i s t ó r i a

Em fevereiro de 1983, o último


Ford Galaxie Landau deixou a linha
de montagem e se juntou aos outros
124 veículos produzidos naquele ano,
todos idênticos aos modelos 1982.
Encerrava-se ali mais uma página
da história automotiva brasileira e o
Galaxie ocupava seu espaço como o
primeiro e mais luxuoso automóvel
fabricado no país.
Em quase 17 anos de mercado – de
16 de janeiro de 1967 a 3 de fevereiro No alto da página
de 1983 -, o Ford Galaxie teve um e acima, detalhes
de um dos últimos
total de 77.647 unidades produzidas, Landau a sair da linha
entre as quatro versões criadas pela de produção. O carro
montadora norte-americana – Galaxie, da foto foi fabricado
em 3 de fevereiro de
Galaxie 500, LTD e Landau. 1983. Imagens: Site
História do Galaxie.
Oficialmente, o carro foi substituído
pelo Ford Del Rey, também luxuoso
e confortável. Era um veículo mais
próximo da realidade da época, porém
sem o estilo e a paixão do Galaxie,
que continua sendo o preferido
dos apaixonados pelas “barcas
beberronas” dos anos 70.
C u r i o s i d a d e s
s o b r e o G a l a x i e

• Desde o início de sua produção, o Galaxie possuía em sua carroceria áreas de


deformação programada na frente e na traseira, como proteção aos seus ocupantes.

Imagem: site Pinterest.

• Em 1969, surgiu uma perua Ford Galaxie em versão aambulância. Foram


produzidas apenas duas unidades, para uso na fábrica e nas provas de Fórmula Ford.
• O Ford Landau movido a álcool hidratado foi o primeiro veículo no mundo a
ser produzido e vendido ao público com esse tipo de combustível.
• O sedan de luxo com o motor a álcool
entregue em 1979 ao presidente Figueiredo
tornou-se parte da frota da Presidência da
República.
• Um Ford Landau 1976 foi o Papamóvel
utilizado por João Paulo II em sua passagem
por Curitiba (PR) em 1980.

Imagens: site História do Galaxie.


• O Galaxie marcou presença nas telinhas
e telonas, sendo o carro dos milionários e
executivos em diversos filmes e novelas da época.
Mesmo após encerrada sua produção, podia ser visto no
horário nobre da TV brasileira, por exemplo, dividindo a cena
com o ator Tarcísio Meira na abertura da novela Araponga,
exibida pela TV Globo em 1990 e 1991.

Cenas abertura da novela Araponga, exibida pela TV Globo, mostrava o ator Tarcísio Meira contracenando
com um Ford Galaxie. Imagens extraídas de vídeo Memórias Globo no portal Globoplay. Clique na imagem
acima e assista à abertura.

• Sem concorrentes diretos, o Ford Galaxie


começou a pagar o preço de tamanha opulência
com as estreias do Chevrolet Opala, em 1968,
e do Dodge Dart, em 1969. Ambos eram mais
econômicos, baratos e não muito distantes no
quesito luxo.
• O Landau foi durante muitos anos o carro
destinado aos presidentes da República. O
exemplar de Juscelino Kubitschek (presidente
de 1956 a 1961), por exemplo, está exposto no
Memorial JK, em Brasília (DF).
• No começo dos anos 80, foi criada no Brasil
uma categoria de competição chamada Turismo
5000, na qual o Galaxie competia contra os
Dodge e os Maverick. O seu alto peso, contudo,
era uma séria desvantagem.

Imagens: site JK Memorial.

Imagem: site História do Galaxie.


• Em 1966, o Galaxie foi homenageado pela
Matchbox, na cor vermelha e branca. De uma
coleção de 59 modelos, o branco, de número
55, era do chefe de polícia e o vermelho, de
número 59, era do chefe dos bombeiros. Hoje,
existem centenas de réplicas em miniatura
dos modelos Ford Galaxie.

Imagens: Pinterest.

• Arno Henrique Berwanger (1927-


1997) ficou conhecido como o “Rei
do Galaxie”. O empresário gaúcho
montou o Museu do Galaxie, em 1988.
Ele possuía 22 modelos reunidos e sua
joia principal era um Landau ano 1983,
com somente 10 km rodados.
• Um Galaxie em bom estado pode
chegar a R$ 85 mil, dependendo
do modelo, segundo proprietários e
restauradores. Não é raro, contudo,
encontrar ofertas que ultrapassem os
R$ 100 mil.

Imagem: site
Maxicar.

Imagem: Anúncio de
venda extraído do
site Pastore, revenda
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