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Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

ESCOLA SUPERIOR DE ENGENHARIAS DE LISBOA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Curso: Mestrado em Engenharia Mecânica


Ano letivo: 2021/2022

Docentes responsáveis: Ivan Galvão


Carlos Leitão

UC: Processos de Ligação de Materiais,


1º ano, Semestre de Inverno

Trabalho de pesquisa
(Desenvolvimento das ligas de titânio no setor da medicina
dentária)

Grupo: Diurno
Aluno: João Filipe Gonçalves Alves, nº 49866

ISEL, dezembro de 2021, 17/12/2021

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1. Lista de abreviaturas e siglas


DLC- Diamonds like Carbon
EO- Eletrochemical Oxidation
HA- Hidroxyapatite
NPs- Nanoparticles
TO- Thermal oxidation

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Índice
1. Lista de abreviaturas e siglas………………………………………………………….2
2. Introdução…………………………………………………………………………......6
3. Metodologia de pesquisa…………………………………………………………...…7
4. Tratamentos superficiais……………………………………………………………....9
4.1. Tratamento superficial, revestimento por hidroxyapatite…………………….......9
4.2. Tratamento superficial, revestimento por oxidação térmica e eletroquímica
combinados……………………………………………………………………………....12

4.3. Tratamento superficial, revestimento por aplicação de DLC………………….....15

5. Discussão de resultados………..……………………………………………………..17
6. Conclusão…………………………………………………………………………….19
Referências Bibliográficas…………….…………………………………....…………..20

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Índice de figuras
Figura 1…………………………………………………………………………………..7
Figura 2…………………………………………………………………………………10
Figura 3…………………………………………………………………………………11
Figura 4…………………………………………………………………………………13
Figura 5…………………………………………………………………………………13
Figura 6…………………………………………………………………………………14
Figura 7…………………………………………………………………………………16
Figura 8…………………………………………………………………………………16

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Índice de tabelas
Tabela 1………………………………………………………………………………….8
Tabela 2………………………………………………………………………………...18

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2. Introdução
A utilização de ligas de titânio em implantes na medicina, tornou-se generalizada,
desde a sua primeira aplicação, pelo cirurgião sueco Per-Ingvar Branemark, que por sua vez
deu origem á descoberta da ósseo-integração, que revolucionou a implantologia, oferecendo
novas soluções à medicina dentária.
São inúmeras as qualidades das ligas de titânio usadas (Ti-13Nb-13Zr) (Ti6Al4V),
no ramo da implantologia, as suas propriedades mecânicas tornam-no em um material quase
perfeito e insubstituível, dessas pode-se realçar a sua boa resistência á corrosão, a sua não
toxicidade como os outros metais, a sua boa resistência mecânica, bem como uma boa
resistência ao impacto e á fadiga, propriedades essas bastante interessantes, na medicina
dentária. Ainda tem como dote ser extremamente leve, com uma baixa respostar alérgica do
corpo humano quando comparado com outros biomateriais metálicos.
Apesar de tudo, estas excelentes características, não são ainda suficientes para
satisfazer a exigência a que os implantes deste material vão estar sujeitos, o titânio apresenta
uma elevada inércia biológica, uma baixa indução óssea destinada á produção de osteoblastos
que promovem o crescimento e desenvolvimentos das células no tecido ósseo, uma baixa
ligação com os tecidos provocada pelo crescimento de uma camada de tecidos moles
(fibrose), prevenindo o contacto direto do implante com o osso, não é uma liga inerentemente
antibacteriana, havendo sempre o risco de adesão e infeção das bactérias e ainda possui uma
camada de óxidos que não confere uma proteção á corrosão conveniente para prevenir a
corrosão por parte dos fluidos corporais, que leva á sua oxidação e á sucessiva libertação de
partículas, tóxicas, para o sistema. Todos estes aspetos negativos referidos anteriormente
conduzem a irritação e abrasão dos tecidos á volta do implante, que em casos mais extremos
poderá levar á cura insuficiente dos pacientes, levando á rejeição da prótese, e consequente
necessidade de uma nova cirurgia. (1-5)
Como forma de ultrapassar as exigências que o corpo humano impõe ás próteses de
ligas de titânio, mas mantendo o equilíbrio quase perfeito das propriedades mecânicas desses,
começou-se assim a aplicar neste tipo de ligas, tratamentos superficiais, como forma de:
aumentar a resistência á corrosão, podendo esta ter origens diversas como por exemplo nos
fluidos corporais ou nas culturas bacterianas que se poderão acumular na região e provocar a
sua corrosão; a melhoria da rugosidade superficial, que juntamente com a propriedade de
molhagem, definida como o angulo de contacto de um liquido com uma superfície, irão
promover uma maior fixação de osteoblastos na superfície, promovendo assim a divisão das
células ósseas, responsáveis por manter toda a estrutura óssea coesa, e consequentemente a
não rejeição do implante por parte do corpo. Outros aspetos passiveis de melhorar são por
exemplo a biocompatibilidade que se define pela capacidade do material de desencadear uma
resposta apropriada do organismo, sendo controlada principalmente pelas características da
superfície do material, a bioatividade, que se exprime como a capacidade da prótese, de
impedir a acumulação de bactérias, na sua superfície evitando a formação de infeções e
consecutiva rejeição da prótese, a biofuncionalidade que está associada às propriedades
mecânicas que este deve apresentar para cumprir sua função corretamente pelo tempo
desejado, tendo relação direta com a sua estrutura, a osseocondutividade que irá definir a
quantidade de tecido ósseo que o corpo é capaz de regenerar, pós implantação e a
hemocompatibilidade que determina a usabilidade de um implante no corpo humano, dado
que baixos valores neste aspeto, aumentarão por consequência o risco de coágulos. (1-5)

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3. Metodologia de pesquisa
A metodologia de pesquisa, assenta sobre um conjunto de processos e objetivos com
o propósito de chegar a um trabalho final de pesquisa bem estruturado, com um seguimento
lógico coerente, a partir da figura 1 é possível compreender o que precedeu á construção do
trabalho, tendo este sido dividido em 5 objetivos principais.

Figura 1-Processo de desenvolvimento do trabalho

Na página seguinte, na tabela 1, foram referenciados os principais aspetos, que


contribuíram para pesquisa dos artigos científicos, entre estes estão aspetos como: a base de
dados utilizada, as palavras chaves empregues para a procura e os filtros utilizados com o
intuito de refinar o número de resultados.

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Tabela 1- Processo de pesquisa

Objetivos: Número de Base de dados: Palavras chaves usadas na procura: Filtros:


artigos cientificos:
1º 451  Science Direct  “Titanium alloys in dental  2021
medicine, surface treatments”  2020
 2019
 2018
 2017
 2016
 Research articles

2º 22 ----------------------- ----------------------------------------- --------------------------

3º 7 ----------------------- ----------------------------------------- --------------------------

4º 13  Science Direct  “DLC surface treatmen in  Research articles


 Springer Link titanium alloys”
 MDPI  “Hidroxyapatite surface
treatment”,
 “Thermal oxidation surface
treatment in titanium alloys”
 “Electrochemical oxidation
surface treatment in titanium
alloys”
 etc…

5º 13 ----------------------- ----------------------------------------- --------------------------

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4. Tratamentos superficiais
4.1 Tratamentos superficial, revestimento por hidroxyapatite
Um dos tratamentos mais interessantes e que tem sido muito alvo de estudo nos
últimos anos trata-se do revestimento das ligas de titânio com hidroxyapatite (HA), este
composto é uma parte importante na composição inorgânica do osso natural, ocupando cerca
de 60 a 70% do osso e 98% da constituição do esmalte do dente, e ainda por coincidência tem
uma aderência excelente ás ligas de titânio, promovida pela existência de espaços livres com
moléculas de oxigénio entre a estrutura cristalina da camada antioxidante do implante, que
vai ser responsável por uma enorme quantidade de reações á superfície, promovendo por
exemplo, a desionização da água, e a consecutiva formação de iões de OH- , que irão conduzir
á fixação de iões de cálcio (Ca2+), provocando assim o crescimento e manutenção da camada
de HA. Todos estes factos levaram a que ao longo dos anos as suas aplicações sejam das mais
variadas, principalmente no ramo da implantologia, onde para além de servirem como
revestimento para as ligas de titânio serve também como revestimento para outros implantes
metálicos (1-2) (6).
A HA possui várias propriedades que irão completar as lacunas das ligas de titânio,
como por exemplo uma boa porosidade que tem como resultado, uma boa capacidade de
absorção, uma excelente biocompatibilidade para tecidos duros como ossos e dentes, uma
admirável bioatividade, boa condutividade e integração óssea, ainda possui boas
características superficiais que favorecem a ancoragem de osteoblastos e de minerais de
Cálcio (Ca) e ainda é estável termicamente. Contudo a resistência mecânica da HA é fraca,
quebradiça, e possui também uma baixa resistência á fadiga, levando a que a sua aplicação
seja limitada na aplicação de cargas. Felizmente devido ás propriedades excelentes das ligas
de titânio, o uso da HA torna-se bastante viável, ocorrendo a majoração das propriedades
menos favoráveis do tratamento superficial aplicado nos implantes (1-2) (6).
Em relação ao modo de aplicação, este composto inorgânico, pode ser colocado na
superfície do Ti6Al4V ou do Ti-13Nb-13Zr por: spray plasma, método muito utilizado na
fabricação comercial de HA, mas que apesar de tudo apresenta por vezes alguns problemas
associados á temperatura excessiva que conduz á decomposição do revestimento superficial.
Outros formas de aplicação são por exemplo através da sinterização por imersão, por pressão
a quente isostática, por tratamento hidrotérmico, por deposição eletroquímica, por deposição
assistida por um raio iónico, ou ainda mais inovador por combinação do tratamento
hidrotérmico + deposição eletroquímica, que contrariamente á adição por spray plasma, é
feita a relativamente baixas temperaturas, e ainda é possível manter uma deposição constante,
o que permite o controlo da microestrutura e da espessura da capa altamente cristalizada.
Neste trabalho será abordada com mais detalhe a aplicação de HA a partir do tratamento
hidrotérmico. (1) (6)
O estudo realizado pelos investigadores Jiawei et al. (1) teve como objetivo perceber
as características que a HA, aplicada na superfície através de um tratamento hidrotérmico,
conferiria ao implante. Começou-se por polir a superfície do material com uma lixa, tendo
como objetivo melhorar a aderência do revestimento na liga, retirando assim qualquer tipo de
impurezas que se poderiam encontrar nesta, de seguida mergulhou-se o Ti6Al4V, numa
solução combinada contendo Ca(NO3)2·4H2O, e (NH4)2HPO4, e terminou-se o processo
com a colocação num reator sob uma temperatura de 180 ºC e após 24h, o cálcio e o fosfato
proveniente das soluções descritas anteriormente, tornaram-se no revestimento de HA.

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Com o objetivo de tornar o tratamento superficial antibacteriano e aproveitando a porosidade


da camada de hidroxyapatite, foi embutido nesta, um antibiótico denominado de levofloxina,
que ainda por adição reduz a toxicidade sistemática. (1)
O próximo passo na investigação, consistiu na caracterização e comparação das
propriedades mecânicas e biológicas dos implantes sujeitos ao tratamento superficial.
Em relação ao risco de adesão de bactérias á superfície, foram colocadas duas culturas
bacterianas diferentes, para perceber de forma mais genérica como irá ser o comportamento
do implante perante bactérias de naturezas diferentes. A Escherichia coli, classificada como
Gram negativa, ou seja, bactéria constituída por uma parede celular mais fina e por outra
membrana extra. E a Staphylococcus aureus, que é uma bactéria classificada como Gram
positiva, uma vez que na sua constituição se encontra uma membrana celular de grande
grossura, a envolver a membrana citoplasmática. (1)

Após uma análise detalhada dos implantes de controlo, ou seja, onde não foi aplicado
nenhum tratamento superficial, não foram encontradas nenhumas zonas de inibição, tendo
como consequência a proliferação quer da cultura bacteriana Escherichia coli quer da cultura
bacteriana Staphylococcus aureus. Por outro lado, no caso dos implantes onde foi aplicado o
revestimento de HA, devido á capacidade de este estabelecer ligações com moléculas
orgânicas de diferentes tamanhos, foram encontradas zonas excecionais de inibição, tendo
sido concluído que a HA é capaz de absorver e libertar o antibiótico por um período de 24h,
tendo sido atingido, durante este período, um ambiente antibacteriano. (1)

No caso da resistência á corrosão esta foi medida através do valor da impedância das
amostras com e sem revestimento, e seguidamente foram analisados os resultados como
podemos ver na figura imediatamente abaixo, sendo concluído que a impedância do implante
revestido com a HA, é razoavelmente superior á impedância do implante sem revestimento,
assim foi possível concluir que o tratamento melhora a resistência a corrosão e tem como
impacto, uma redução da libertação de iões metálicos, e um aumento da biocompatibilidade,
estes dois fatores irão reduzir os efeitos colaterais provocados pela libertação de iões
metálicos para o organismo humano e a probabilidade de rejeição, respetivamente. (1)

Figura 2- Espetro de impedância de ambos os implantes, revestido e não revestido (1)

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No que diz respeito á textura dos implantes, é possível distinguir facilmente a


diferença entre os que foram submetidos ao tratamento superficial por HA e os que não foram.
De todos os aspetos este foi o que apresentou uma maior demora para se tirar qualquer tipo
de conclusões não devido ao aspeto da superfície, mas sim devido aos seus efeitos. (1)

Figura 3- Imagens da textura dos implantes: a) sem revestimento; b),c),d) com revestimento (1)

Como podemos observar na figura imediatamente acima, para os mesmos valores de


observação microscópica, ou seja, a imagem a) e c) conseguimos ver uns pontinhos
distribuídos uniformemente que nada mais são do que os cristais de hidroxyapatite, estes vão
contribuir com um aumento de rugosidade, que ao fim de 8 semanas contribuiu para um
acréscimo da percentagem de novo osso em volume, em relação ao grupo de controlo. Tendo
sido assim concluído, que o implante revestido promove a formação de novos tecidos ósseos,
e por tanto, maior interligação entre o implante e a estrutura óssea. (1)

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4.2 Tratamentos superficial, revestimento por oxidação térmica e


eletroquímica combinados
Os tratamentos por oxidação térmica (TO) e por oxidação eletroquímica (EO), são
tratamentos já convencionalmente usados, a TO é um dos tratamentos mais simples de
modificação superficial, melhorando as propriedades da liga de titânio através da criação de
uma camada de óxidos. Este tipo de tratamento é feito através de gases “secos”, a uma
temperatura entre os 400ºC e os 1100ºC, levando a uma dissolução do oxigênio na fase
metálica, e á formação de produtos sólidos de óxidos em forma de escamas. Este tipo de
tratamento por si só apresenta várias virtudes, começa por reduzir para pelo menos metade a
libertação de iões metálicos, derivados da corrosão dos implantes e promove também uma
boa adesão das células ao implante, que tem por consequência uma maior fixação e
proliferação de osteoblastos que irá acelerar o metabolismo ósseo, levando a uma reparação
mais rápida da matriz deste tecido, favorecendo também o contacto entre implante e osso que
conduz a uma longevidade mais perlongada. Contudo após este tratamento a tensão na
camada de óxidos aumenta, podendo levar a espaços vazios e á fraturas na superfície,
principalmente quando é aplicado a temperaturas demasiado altas. Por outro lado, a oxidação
EO é mais sofisticada, permitindo uma apropriada escolha de parâmetros como por exemplo
a tensão e a corrente elétrica, a frequência e o tempo de processamento, que irão provocar,
variadíssimas alterações nos nanotubos de óxidos, alterações essas que ocorrem ao nível da
sua porosidade, da sua espessura, da sua rugosidade e ate mesmo da sua dureza e a resistência
á corrosão. É ainda importante de revelar que estas nano-estruturas por si só têm uma textura
muito semelhante á dos tecidos ósseos, possuindo assim uma excelente bioatividade e
biocompatibilidade, uma excelente óssea integração, e ainda promove uma boa adesão e
proliferação dos osteoblastos. Todavia apesar das suas boas características químicas e
biológicas, estes tubos apresentam fracas propriedades mecânicas, sendo bastantes
quebradiços. (3) (7) (8)

O grupo de investigadores, Agnieszka et al. (3) decidiram examinar qual seria a


melhoria das propriedades mecânicas, biológicas e químicas de um implante, quando
submetido á combinação de dois tratamentos superficiais, TO+EO. Assim o implante será
presenciado por duas camadas de oxido, uma primeira que terá como objetivo aumentar a
resistência á corrosão, tendo também como consequência um aumento da biocompatibilidade
a longo prazo. Enquanto que a segunda camada constituída por nanotubos terá como objetivo
melhorar a bioatividade do implante. (3)
O ensaio foi levado a cabo usando 6 implantes constituído por Ti-13Nb-13Zr. O
primeiro passo compreendeu o uso de uma lixa, com o objetivo de retirar as impurezas de
maior dimensão, seguido do uso de uma câmera ultrassónica e de um mergulho em etanol,
água destilada e isopropanol, com o propósito de garantir uma superfície livre de qualquer
contaminação que poderia interferir na análise correta dos valores. (3)
Posteriormente, 4 das ligas de titânio foram colocadas num forno tubular, rodeado por
uma atmosfera de ar, duas a 700ºC, uma a 800ºC e uma a 900º C, durante 4 h. Como o objetivo
era de estudar as propriedades obtidas por um duplo tratamento de oxidação, apenas um dos
implantes foi sujeito a um tratamento por oxidação eletroquímica que neste caso foi um dos
implantes tratados por TO a 700 ºC. Tratamento este que teve uma duração de 30 min, a uma
tensão de 20V, com um cátodo de paládio (Pt). (3)

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Em relação ás propriedades, a primeira a ser analisada foi relativamente á resistência


á corrosão, e depois de um estudo detalhado dos valores, foi concluído que a maior resistência
á corrosão se destinava ao revestimento pela dupla camada de oxidação (TO 700ºC + EO).
Á cerca da dureza e do módulo de Young também é possível apreciar algumas
melhorias, é de notar que a dureza do duplo revestimento de óxidos encontra-se algures entre
os valores da superfície originada por oxidação térmica, e os valores da superfície originada
pela oxidação eletroquímica, tal fenómeno deve-se á presença de cristais, formados pela
oxidação térmica, que irão contribuir imensamente para o aumento de dureza do implante, e
consecutiva redução do seu desgaste. Por outro lado, o valor do Módulo de Young é
visivelmente superior para a dupla camada de óxidos, tendo-se registado, dentro dos
implantes tratados superficialmente, o menor valor para a TO. (3)

Figura 4- Dureza e Módulo de Young para as diferentes amostragens (3)

Perante a propriedade de molhagem apercebemo-nos que quanto menor o valor do


ângulo, melhor a propriedade, desde que os seus valores se enquadrem numa gama entre os
35º e os 80 º, visto isto, os melhores contactos com os tecidos duros, de acordo com a figura
4 serão os implantes submetidos á TO e á TO+EO, tendo a amostragem com dupla oxidação
menor ângulo entre os dois. (3)

Figura 5- Resultado do ângulo de contacto médio (3)

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Por fim outra propriedade estudada durante a investigação foi a fixação de


osteoblastos na superfície, era esperado uma maior quantidade destes para os implantes
tratados através da EO e da TO+ EO, embora que este prossuposto não se tenha vindo a
verificar não tendo havido uma grande alteração da concentração de osteoblastos nas
superfícies, independentemente dos tratamentos, como se poderá averiguar na figura 6. (3)

Figura 6- Concentração de Osteoblastos na superfície: a) Liga de titânio; b) EO; c) TO; d) TO + EO (3)

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4.3 Tratamentos superficial revestimento por aplicação de DLC


O DLC (Diamons like Carbon) ou em português diamantes do tipo carbono, trata-se
de uma forma metastável de carbono amorfo (não cristalino) e tem sido alvo de intenso estudo
em várias áreas desde 1970, principalmente no ramo da engenharia biomédica, devido á sua
grande capacidade de adesão, resultado da sua rugosidade superficial levando á sua
aplicabilidade a uma extensa gama de materiais, como por exemplo: metais, plásticos,
polímeros, até mesmo células, proteínas e ainda pode ser aplicado sobre camadas de óxidos,
com o propósito de provocar uma dupla camada de revestimento, e a consequente
maximização de algumas propriedades. (9)
No caso do ramo da implantologia, esta excelente rugosidade na superfície promove
também a adesão de várias proteínas e células, na mesma, incluído os osteoblastos, que como
referido ao longo do texto, a presença destes é uma mais valia para todo o processo de
implantação. Contudo esta não é a única propriedade que merece destaque, este composto
apresenta, entre outras, uma elevada dureza, boa energia superficial , elevada inércia química
e alta resistência á corrosão, independente do fluido corporal, sangue, urina ou saliva, o que
ainda conduz a uma reduzida libertação de iões metálicos provenientes da decomposição da
liga de titânio, tendo sido sucessivamente repetido em vários artigos a adição que este
tratamento traz á já propriedade anticorrosiva dos óxidos de titânio (TiO2). A adicionar ainda
possui um baixo risco de resposta tóxica, alterosa biocompatibilidade muito devido á
constituição carbónica do DLC, que é bastante semelhante á composição celular humana e
ainda apresenta uma boa hemocompatibilidade. (9-11)

Em relação á sua aplicação na superfície pode ser feita através de várias técnicas,
como por exemplo: eletrodeposição simples e eletrodeposição pulsada, revestimento laser,
através de “thermal sparying”, ou por deposição química ou física através de vapor. Se bem
que todas estas opções envolvem algum tipo de “bombardeamento” iónico, com recurso a
elevadas quantidades de energia e a necessidade da existência de uma fonte de carbono,
contudo a grande maioria dos tratamentos por DLC são habitualmente aplicados através da
deposição física por meio de vapor. (12)
Alguns dos experimentos feitos a este composto visam maximizar a adequação deste
ao uso no ramo da implantologia, um dos estudos realizado pelos investigadores Sascha et al.
(13) incidiu na adição de uma camada polímeral ao implante de Ti6Al4V, com o propósito
de ser posteriormente transformada numa camada de DLC, este método inovador teve como
finalidade melhorar especificamente as propriedades antibacterianas, reduzindo a
probabilidade de adesão e proliferação das bactérias. Aderente a este método está a adição de
NPs (nanoparticles ou em português nanoparticulas) de metal, á camada polímeral, e a sua
consecutiva libertação gradual, que por consequência do seu tamanho terá uma rápida
dissolução, e o seu elevado rácio entre superfície-volume, irá provocar interações entre estas
e as membranas dos microrganismos. As NPs podem ser constituídas por prata (Ag) que tem
demonstrado uma grande eficácia antimicrobial enquanto que a citotoxicidade se demonstra
reduzida, semelhantes propriedades também são apresentadas pelo cobre (Cu), dai a sua
utilização, e por fim temos também o uso de óxido de zinco (ZnO) onde os alvos são
maioritariamente sistemas procarióticos, e a sua atuação se foca maioritariamente na adesão
e viabilidade do microrganismo. (13)

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Neste estudo foram usadas 3 amostras de uma liga de titânio (Ti6Al4V), onde cada
um foi mergulhado dentro de uma solução de NPs, de prata, cobre ou de oxído de zinco,
dando assim origem á pretendida camada polímeral. Seguidamente para completar o
tratamento as amostras foram deixadas secar ao ar, e submetidas a um tratamento por plasma
constituído por árgon (Ar), néon (Ne) e metano (CH4), que teve como resultado final 3
amostragens revestidas por (DLC), na figura 7 encontra-se representado esquematicamente o
processo. (13)

Figura 7- Sequência de formação da camada de DLC (13)

O próximo passo na investigação foi comparar e validar a influência dos NPs na


camada de DLC, tendo sido medida a dureza do espécie, onde o seu valor encontrava-se entre
os valores normais, estando assim garantida a sua integridade, por outro lado em relação aos
NPs, foi medida a libertação destas partículas ao longo do tempo, tendo-se verificado uma
evolução do gênero logarítmica, onde o composto que apresentou uma maior taxa de
libertação de iões foi o zinco como podemos observar da figura 8. (13)

Figura 8- Taxa de libertação dos diferentes iões metálicos (13)

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5. Discussão de resultados
Após uma descrição detalhada dos 3 tipos diferentes de tratamentos superficiais,
percebe-se a magnitude que estes têm na melhoria das propriedades, sendo irrefutável a
necessidade da sua aplicação nas ligas de titânio, utilizadas na medicina dentária, tendo os 3
melhorado com sucesso pelo menos algumas das propriedades fundamentais que o titânio
necessitava de apresentar para o ramo da implantologia.
No caso do tratamento superficial por aplicação de uma camada de HA conseguimos
encontrar um ambiente antibacteriano por um período de 24h, um aumento da resistência á
corrosão que tem como precedentes uma redução da libertação de metais iónicos e um
aumento da biocompatibilidade do implante e ainda um aumento da rugosidade da superfície
que conduziu a um ganho na osseocondutividade do mesmo. Apesar de todos estes aspetos
positivos, é de salientar que a HA por si só não possui nenhuma proteção antibacteriana,
sendo necessário a aplicação de um antibiótico para manter esta ativa.
Outro tratamento inovador descrito anteriormente foi a aplicação de TO e EO
combinados. Também este apresentou resultados satisfatórios em vários parâmetros, como
por exemplo um visível aumento da resistência á corrosão, que tal como o tratamento anterior,
esta propriedade promove contingentemente o melhoramento de outras características, e foi
verificado um aumento do módulo e Young e da dureza da amostra. Por outro lado, esta dupla
oxidação peca pela não melhoria da fixação de osteoblastos, nem pela existência de uma
superfície antibacteriana, característica importantíssima para uma prótese em contacto com o
tecido ósseo.
Por fim também foi vista a aplicação de DLC com a adição de NPs, o DLC por si só
traz inúmeras características benéficas para os implantes já mais que comprovadas. Durante
a experiência a adição de NPs teve os resultados pretendidos, tendo sido conquistada a
pretendida zona antimicrobiana, através da libertação de iões metálicos.
Comparando agora os 3 métodos entre si, podemos perceber que o que menos sucesso
teve com os resultados, foi o tratamento combinado por oxidação térmica e eletroquímica,
havendo características do ponto de vista das propriedades biológicas, que não foram
majoradas satisfatoriamente, não havendo uma grande vantagem entre aplicar
individualmente cada uma destas oxidações, ou combiná-las, levando a uma baixa
aplicabilidade prática deste estudo. O mesmo não aconteceu nos restantes dois métodos, os
resultados obtidos seguiram razoavelmente o expectável, havendo realmente uma boa
melhoria das características insuficientes das ligas de titânio. Em relação ao custo dos dois
tratamentos é difícil de perceber qual será eventualmente o mais dispendioso, pelo menos a
curto prazo, pode se sim concluir qual trará maior adição ás ligas de titânio. Através da análise
detalhada dos documentos, tanto a HA como a camada de DLC trazem propriedades bastante
interessantes para os implantes, sendo que a HA peca pela duração da característica
antibacteriana, o que não acontece para a camada de DLC, podendo-se mesmo observar a
libertação de NPs durante pelo menos duas semanas. É de salientar que no presente estudo
descrito no trabalho, não foram testadas algumas das propriedades biológicas da camada de
DLC, foi sim testada a sua integridade, e como estava intacta partiu-se do pressuposto que a
adição das NPs não iria alterar o comportamento habitual da mesma, o que poderá não ser
completamente verdade.

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A comparar de forma sucinta os diferentes tratamentos, encontra-se imediatamente


em baixo a tabela 2.

Tabela 2-Propriedades adquiridas após os respetivos tratamentos

HA TO + EO DLC

Propriedades 24h Nenhuma 2 semanas


antibacterianas:
Biocompatibilidade: Promove Promove Promove

Fixação de Promove Não promove Promove


osteoblastos:
Resistência á corrosão: Boa Boa Boa

Dureza: Baixa Alta Alta

Duração do processo: +/- 24h +/- 4:30h Indefinido

Módulo de Young Manteve-se Aumentou Manteve-se

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6. Conclusão
Após a discussão entre os resultados obtidos, e embora todos os tratamentos tenham
desenvolvido de alguma maneira as propriedades essências que as ligas de titânio precisam
de apresentar, como foi referido ao longo do texto, é possível tirar algumas conclusões acerca
de cada um dos tratamentos.
Em relação á dupla combinação de TO + EO, onde se pode encontrar uma menor
eficiência entre os resultados obtidos e os recursos despendidos, e uma menor eficácia quando
comparado aos objetivos referidos na introdução uma vez que como foi dito, esta dupla
oxidação não acrescentou grandes melhorias principalmente nas propriedades biológicas,
quando comparado com a oxidação individual de cada um destes processos, havendo um
maior gasto de recursos sem grandes ganhos em retorno, podendo ser uma boa alternativa
para o desenvolvimento desta investigação a análise de diferentes nanotubos, produzidos por
oxidação eletroquímica, com o propósito de perceber se é possível aumentar a fixação de
osteoblastos, bem como a adição de alguns elemento antibacterianos, para a obtenção de
superfícies livres de microrganismos.
Por outro lado, o tratamento por aplicação de HA, foi obtida uma boa relação entre
os recursos usados quando comparados aos resultados obtidos, bem como uma razoável
eficácia, quando relacionado com os objetivos inicias. Uma possível forma de melhorar essa
eficácia poderá vir no seguimento de aperfeiçoar a duração do ambiente antibacteriano,
podendo no futuro, este tipo de aplicação ser um possível tratamento generalizado na
medicina dentária.
Por fim temos a aplicação de DLC, de todos os tratamentos este foi onde se encontrou
a maior eficiência e eficácia, após o tratamento. Apesar de tudo não se revelou perfeito, uma
vez que não se sabe os efeitos que estas NPs podem ter a longo prazo, no sistema biológico
humano, sendo importante para aplicação generalizada deste tipo tratamento perceber os
efeitos destes iões a longo prazo para o sistema humano.

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Referências Bibliográficas
(1) Jiang J.; Han G.; Zheng X; Chen G.; Zhu P. Characterization and biocompatibility study of
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