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Porque o paulista nunca diz “Não”????

Se um paulista não quiser aceitar um convite, ele respoderá:-


“Pode ser. A gente vai conversando”. Quando ele não concorda
com aquilo que se está dizendo, ele responde: -“É complicado, né,
Véio?”. Partir dele uma afirmação negativa é sempre algo raro.
Não podemos estabelecer com precisão a origem desse
comportamento, mas se analisarmos o nosso passado poderemos
perceber que esse posicionamento que o afasta da controvércia é
muito antigo.
Nossas bases étnicas coloniais são a indígena e o branco
predominatemente português.
Ao estudarmos a cultura do nosso índio guaianá percebemos, nela,
que a região que hoje corresponde ao centro velho de São Paulo,
“Inhapuambuçu”, como era conhecida, correspondia talvez, ao
mais sagrado sítio dos indígenas do sul da América do Sul. Para cá
vinham, em peregrinação, índios de várias etnias que viviam ao
longo do ‘Caminho do Peabirú”, uma rota de mais de 3000km que
atravessa a América do Sul de São Vicente ao oceano Pacífico.
Peabiru para quem seguia de São Vicente para o Perú, mas recebia
outro nome que era usado por aqueles que vinham de lá para cá: ”
Yvy marã e’y”, “Caminho para terra sem mal”, uma espécie de
Paraiso, ou até mais propriamente “Jardim do Éden” indígena,
pois nele as pessoas podiam ingressar ainda em vida. No fim desse
percurso estava seu ponto mais sagrado, o “Inhapuambuçu”, uma
montanha que espelhava os raios solares e reluzia como um
espelho. Sua localização ficava exatamente atrás do Mosteiro São
Bento. O que se presume é que essa montanha fosse coberta de
sílica que se vitrificou com a ação dos raios e o que se sabe é que
ela foi destruida pelos Jesuítas.
Em função desse fato, como uma missão religiosa, nosso índio
guaianá, era obrigado a receber qualquer viajante que lhe pedisse
hospedagem, mesmo que fosse seu inimigo. Contudo não bastava
hospedá-lo e alimentá-lo. Para que o visitante se sentisse bem,
cabia ao anfitrião e a sua famíla, ouvi-lo. Redes era colocadas em
toras no centro da aldeia, uma fogueira era acesa, as crianças,
mulheres se acomoddavam no chão e, após o jantar, o hospede
poderia desfiar suas bravatas, mesmo aquelas em que ele descrevia
como matou os familiares do anfitrião.
Hoje é comum, em São Paulo, ouvirmos imigrantes muito bem
recebidos por aqui, falando mal das pessoas da nossa terra.
Contudo, raramente retrucamos, nós apenas ouvimos placidamente
as críticas, como nossos ancestrais fizeram durante milênios.
O outro pilar da nossa base étnica foi o branco português. Muitos
deles pertencentes a “Ordem de Cristo” e todos governados por
ela.
Essa era uma ordem monástica, embora mais flexível que a
“Ordem do Templo”, surgiu para absorver seus cavaleiros quando
está foi perseguida e desconstruida pelo Papa.
Os templários foram homens nobres que, muitas vezes abriam
mão de todo o seu patrimônio para passarem a uma vida
monástica e espartana.
Quando lemos as cartas de seus sucessores, nossos homens da
Ordem de Cristo e de seus filhos, nossos bandeirantes, mais do
que se portarem como homens simples, pareciam desejar serem
vistos como pessoas que se manifestavam com humildade, da
forma que esperamos que se comportem os devotos de Cristo.
Mas não é só isso. Ao observarmos seus descendentes tropeiros
percebemos que eles dependiam da camaradagem das famílias que
os abrigavam e recebiam suas mulas durante seu caminho. Serem
formais e gentis, para nossos ancestrais era uma questão de
sobrevivência.

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